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DISSECÇÃO AGUDA DE AORTA Consiste na separação das camadas da parede da aorta, resultado da ruptura da camada íntima. Apesar de ser incomum, é muito grave, podendo evoluir com descompensação hemodinâmica rapidamente, o que torna essencial para a sobrevivência o diagnóstico e tratamento precoces A média de idade dos pacientes é de 60 a 70 anos, sendo mais comum em homens. Dissecções que acometem indivíduos mais jovens ( < 40 anos) têm mais associação com fatores hereditários e síndromes, como a síndrome de Marfan FATORES DE RISCO: ● HAS ● Exercício físico extenuante ou levantamento de peso de alta intensidade ● Distúrbios genéticos do colágeno (síndrome de Marfan, síndrome de Ehlers Danlos) ● Aneurismas aórtico pré existente ● Válvula aórtica bicúspide ● Cirurgia cardíaca ou cateterismo ● Síndrome de Turner ● Doenças inflamatórias que causam vasculite (artrite reumatoide) ● Gestação e parto ● Uso de fluoroquinolonas CLASSIFICAÇÃO: Na classificação anatômica, 2 sistemas são muito utilizados: o sistema de Stanford considera o envolvimento da aorta ascendente (podendo também envolver o arco aórtico e a aorta descendente) como tipo A e as demais como tipo B (não envolvem a ascendente). Por outro lado, o sistema DeBakey baseia no local de origem: tipo 1 na aorta ascendente até pelo menos o arco aórtico, com acometimento da aorta descendente; tipo 2 restrito à aorta ascendente; e tipo 3 na aorta descendente, podendo se estender distalmente As dissecções envolvendo a aorta ascendente ocorrem 2 vezes mais do que as envolvendo a aorta descendente Existem algumas variantes das condições da dissecção aórtica, como por exemplo: ● Hematoma intramural da aorta - presença de sangue na parede da aorta, sem ruptura da camada íntima (5-13% dos pacientes com quadro de dissecção aórtica). Provavelmente seja produzido pela ruptura do vaso vasorum no meio da parede aórtica e pode ser um precursor da dissecção ● Laceração da íntima sem hematoma - variante incomum, em que há ruptura da camada íntima, porém sem opressão ou separação das camadas médiais ● Úlcera aterosclerótica penetrante - a úlcera pode complicar com um hematoma intramural e levar à dissecção ou perfuração aórtica FISIOPATOLOGIA O primeiro evento que ocorre na dissecção aguda de aorta é a ruptura da camada íntima, fazendo com que o sangue passe através dessa ruptura alcançando a camada média e criando um lúmen falso. Este lúmen falso aumenta de volume ao longo do tempo, para que a parede se estenda e alcance a pressão necessária para comportar a pressão sanguínea aórtica. Ao mesmo tempo, a luz verdadeira do vaso colaba devido à diferença nas pressões De acordo com a extensão da lesão, ocorre má perfusão dos ramos da aorta toracoabdominal. Cerca de 50 a 65% das lesões acometem a aorta ascendente, sendo as que apresentam risco de ruptura aórtica A dissecção pode se estender distalmente ou proximalmente, envolvendo a valva aórtica e podendo entrar no espaço pericárdico ou em ramos arteriais. Nesses casos, podem ocorrer manifestações como regurgitação aórtica, tamponamento cardíaco ou isquemia (a depender do ramo acometido, pode ser coronária, cerebral, visceral ou espinhal) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Os sintomas dependem da extensão da dissecção, assim como das estruturas afetadas ● Dor é a queixa mais comum (90% dos casos), podendo ser torácica ou dorsal; geralmente intensa e abrupta, relatada como diferente de qualquer dor já sentida antes. A dor torácica ocorre de forma mais associada ao envolvimento da aorta ascendente, enquanto a dor nas costas está mais associada ao envolvimento da aorta descendente. Em pacientes que relatam dor no abdome, deve-se suspeitar de comprometimento vascular mesentérico ● A dissecção indolor é menos comum, e está mais associada a indivíduos mais velhos, diabéticos e com aneurisma aórtico; esses pacientes podem se apresentar apenas com síncope, IC ou AVC ● A má perfusão periférica resulta em déficit de pulso (em carótida, braquial ou femoral), devido à compressão pelo hematoma ou devido ao extravasamento para o falso lúmen ● A pressão sanguínea nos MMSS pode apresentar uma variação significativa (> 20 mmHg), principalmente se o acometimento for na aorta ascendente ou torácica. Pacientes com déficit de pulso apresentam maior taxa de complicações intra hospitalares ● Dissecção de aorta ascendente causa mais hipotensão, síncope e ou choque, que está associado ao tamponamento cardíaco, regurgitação aórtica, isquemia miocárdica ou hemotórax/hemoperitônio ● Pode ocorrer o surgimento de um novo sopro diastólico associado a dor torácica aguda, o que sugere uma regurgitação aórtica. Pode ocorrer déficit neurológicos focais secundários à AVC (fluxo diminuído ou obstrução das carótidas). Quando há isquemia espinhal o paciente pode evoluir com paraplegia aguda (mais comum no acometimento mais distal da aorta) DIAGNÓSTICO É feito pelas características clínicas do quadro, mais aos fatores de risco do paciente, porém a confirmação é feita com imagens mostrando a dissecção (falso lúmen e o lúmen verdadeiro) - O ECG deve ser solicitado na emergência, para afastar os diagnósticos diferenciais. Se a dissecção não envolver os óstios coronarianos, o ECG não terá alteração isquêmica; se levar à isquemia miocárdica, pode apresentar ou não alterações - No RX de tórax, pode-se observar alargamento do diâmetro aórtico; em alguns casos pode haver derrame pleura, torção da aorta e, em casos de dissecção até a camada adventícia, pode-se verificar um hemotórax - D dímero é resultado da degradação da fibrina e reflete a ativação da via extrínseca da cascata de coagulação, secundário à exposição do tecido aórtico que sofreu ruptura, não é específico para dissecção de aorta, apesar disso é importante - A escala de risco de detecção de dissecção aórtica (ADD-RS) ajuda o profissional, levando em conta: presença de algum fator de risco, dor no peito, costas ou abdome e achados suspeitos no exame físico - Alguns tipos de exames podem ser utilizados para evidenciar a dissecção, como a angioressonância, angiotomografia e o ecocardiograma transesofágico - Em pacientes instáveis hemodinamicamente, ou com quadro que sugere acometimento da ascendente, dar preferência para o ecocardiograma transesofágico, por ser rápido, portátil, sensível e específico - Para pacientes estáveis e sem características de ascendente, angio TC e a primeira escolha - Aortografia permite a identificação do local de dissecção, assim como a relação com os ramos arteriais DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Inclui outras possíveis causas de dor torácica aguda ou dorsalgia, déficit de pulso e déficits neurológicos, como: síndrome coronariana aguda, embolia pulmonar, pneumotórax espontâneo, regurgitação aórtica sem dissecção, ruptura esofagiana, pericardite, hematoma aórtico intramural sem dissecção, aneurisma aórtico, doença arterial periférica e dissecção aórtica crônica TRATAMENTO Objetivo inicial é controlar a dor e limitar a extensão da lesão, normalmente com betabloqueadores e controle da PA A escolha da intervenção leva mais em consideração a classificação de Stanford em tipo A e tipo B - Tipo A (envolvendo a ascendente) - emergência cirúrgica - Tipo B - não necessita de cirurgia de emergência, exceto na presença de complicações, como má perfusão de órgãos, rápida expansão do lúmen falso, presença de ruptura iminente ou dor refratária A etiologia também influencia na escolha . Por ex, dissecções esporádicas podem ser tratadas com técnicas endovasculares, enquanto dissecção que envolvem síndromes genéticas preferencialmente tratadas com técnica aberta pela probabilidade de lesão aórtica adicional O tratamento cirúrgico inclui a excisão da ruptura da íntima; o fechamento da entrada do lúmen falso; reconstituição do lúmen da aorta por um enxerto vascular sintético; e o reparo ou substituição da válvula aórtica O tratamento com betabloqueadores ou outro anti-hipertensivo deve ser transferido para VO e mantido ao longo da vida, com o objetivo de minimizar o estressena parede aórtica. Evitar o estresse físico extenuante é uma recomendação comum dada aos pacientes para também diminuir o estresse na parede do vaso, embora sua eficácia não seja comprovada Os pacientes devem ser acompanhados com a realização de uma angio-RM ou angio-TC de seguimento após 3, 6 e 12 meses do evento inicial, continuando anualmente, mesmo se não houver sintomas Algumas complicações podem ocorrer: - Dissecção recorrente: mais associado a síndrome de Marfan - Vazamento interno, migração ou trombose devido a complicações na endoprótese - Reoperação
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