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CONCEITO Leiomioma uterino é um tumor benigno, formado por fibras musculares lisas, entrelaçadas por tecido conectivo. EPIDEMIOLOGIA Fatores predisponentes: • Idade 35-50 anos. • Raça - 2 a 3 x mais em negras. • Antecedentes familiares 2 x mais. • Obesidade - aumenta a estrona pelo aumento da conversão da andostenediona pela ação da aromatase. Fatores de proteção: • Paridade. • ACO. • Tabagismo – hipoestrogenismo. FISIOPATOLOGIA Mutações somáticas no miométrio: • Levam à perda de controle do crescimento celular, culminando com um novo fenótipo. Hormônio dependentes: • Estradiol e progesterona promovem seu crescimento durante a menacme. LOCALIZAÇÃO DOS MIOMAS Submucosos: responsáveis por quadros de sangramento uterino irregular (metrorragia). Subserosos: em sua maioria assintomáticos. Quando volumosos, podem cursar com dor pélvica e sintomas de compressão extrínseca, como lombossacralgia, aumento da frequência urinária, noctúria, retenção ou incontinência urinária e até compressão ureteral, com comprometimento da função renal. Intramurais: podem cursar com aumento da intensidade e/ou duração do fluxo menstrual (menorragia ou hipermenorragia). QUADRO CLÍNICO Assintomáticas - 50 %. Sintomáticos - importante impacto na qualidade de vida. • Sangramento uterino anormal. • Dismenorreia secundária. • Sintomas compressivos gerados pelo aumento do útero. • Dor pélvica acíclica. • Dispareunia. • Sintomas urinários. • Sintomas gastrointestinais. • Infertilidade - 5% dos casos, em especial os submucosos, devido à distorção da cavidade uterina e à condição inflamatória hostil do endométrio. • Abortamento. • Anemia. • Fadiga. • Astenia. • Taquicardia. • Dispneia. • Dor. • Edema de membros inferiores. COMPLICAÇÕES CLÍNICAS • Degeneração. • Torção de nódulos pediculados. • Abortamento. • Trabalho de parto prematuro. • Restrição do crescimento intrauterino. • Apresentação fetal anômala. DIAGNÓSTICO Anamnese: história clínica da paciente. Exame físico: • Palpação: o Tumor no hipogástrio. o Bocelado. o Consistência fibroelástica. • Toque vaginal: útero com volume aumentado. EXAMES DE IMAGEM Ultrassonografia (principal exame): • Esclarecimento diagnóstico - nódulos hipoecogênicos. • Seguimento. • Programação terapêutica. Endovaginal: miomas intramurais e submucosos. Transabdominal: miomas subserosos volumosos. Ressonância nuclear magnética: • Método que possui melhor resolução. • Detalhada discriminação anatômica da pelve feminina. • Alto custo para execução. Indicação: • Diferenciar tumores pélvicos. • Avaliação pré-miomectomia. • Avaliação para embolização das artérias uterinas (EAU). • Avaliação de úteros volumosos (maiores que 375 cm3). • Miomas múltiplos (cinco ou mais). • Sarcomas costumam apresentar-se na ressonância como tumores volumosos, com limites mal definidos, áreas de tecido hemorrágico e necrótico e com sinal heterogêneo. Videohisteroscopia: • Introdução de uma ótica fina 5 mm pelo canal cervical, para avaliação da cavidade uterina. • Realizada, de preferência, na primeira fase do ciclo menstrual. • Sensibilidade de 88% a 100%. • Especificidade próxima a 100 %. Indicação: • Visão direta dos miomas submucosos. • Avaliar outras lesões. Classificação dos miomas submucosos: European Society of Gynecological Endoscopy. • G0 (totalmente intracavitário). • G1 (≥ 50 % intracavitário). • G2 (< 50 % intracavitário). FIGO: tipos 0, 1 e 2, respectivamente. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Adenomiose Adenomioma Pólipo endometrial Tumor anexial Endometriose Câncer de endométrio Sarcoma de útero Gravidez TRATAMENTO CLÍNICO Pacientes assintomáticas ou oligossintomáticas: • Acompanhamento clínico. • Acompanhamento por ultrassonografia. A indicação é individualizada conforme: • Sintomas. • Idade da paciente. • Número, tamanho e localização dos miomas. • Expectativa em relação ao futuro reprodutivo. • Desejo de preservar o útero. • Tratamentos prévios. • Coexistência de outras doenças. O tratamento clínico pode ser indicado para: • Controle do sangramento e da dor pélvica. • Tratamento inicial ou mesmo a longo prazo. • Pacientes que têm risco cirúrgico elevado. • Pacientes que não desejam ser submetidas a procedimentos. FORMAS DE TRATAMENTO CLÍNICO Não hormonal: Anti-inflamatórios não hormonais (AINE): diminui em cerca de 30% o sangramento menstrual, por inibir a síntese de prostaciclinas. Antifibrinolíticos, como o ácido tranexâmico: podem ser utilizados isoladamente ou associados aos AINE, inibindo a fibrinólise na superfície endometrial. Hormonal: Anticoncepcionais combinados. Progestagênios isolados. O dispositivo intrauterino liberador de levonorgestrel. Os análogos agonistas do GnRh levam à redução dos esteroides sexuais circulantes e podem causar amenorreia e reduzir temporariamente o volume dos nódulos e do útero em até 50%. TRATAMENTO CLÍNICO – ESTUDOS FUTUROS Tendo em vista o crescimento dos miomas estar relacionado à ação da progesterona, estudos recentes analisam o uso dos moduladores seletivos dos receptores de progesterona (SPRMs). Acetato de Ulipristal - 5 ou 10 mg por dia VO: • Redução significativa no volume do mioma. • Controle do sangramento excessivo. • Sem suprimir os níveis séricos de estradiol. • Reduz a incidência dos efeitos adversos observados com os a-GnRh. TRATAMENTO CIRÚRGICO – DEFINITIVO Histerectomia: Costuma ser acompanhada da remoção das tubas uterinas (salpingectomia oportuna). Remoção dos ovários? Situações de doença ovariana associada. Situações claras de risco, como histórico pessoal e familiar e/ou mutações BRCA 1 e BRCA 2, com risco elevado para câncer de ovário. Tipos de histerectomia: Total. Subtotal: • Menor tempo cirúrgico e sangramento. • Alta precoce. • 7% sangramento cíclico no período pós- operatório. • Câncer cervical em colo residual 0,3%-1,9%. Histerectomia total: Via: vaginal ou abdominal. Técnica: • Laparotômica. • Laparoscópica. • Laparoscópica robô-assistida (davinci surgical system®). • Associação de vias e técnicas. Histerectomia videolaparoscópica e laparoscópica robô- assistida: • Útero pouco móvel. • Menos acessível por via vaginal/fatores de risco. o Doença inflamatória pélvica. o Endometriose. o Aderências densas. o Doença anexial. o Importantes distorções anatômicas. Histerectomia abdominal aberta: Útero muito volumoso. Condições clínicas e cardiovasculares agravadas pelo pneumoperitônio. COMPARAÇÃO ENTRE TÉCNICAS CIRÚRGICAS O índice de complicações intraoperatórias da histerectomia, como trauma de ureter, vesical ou de alças intestinais, é baixo, cerca de 1% a 2%, independentemente da via cirúrgica. Vantagens da videolaparoscopia em comparação à cirurgia aberta: • Menor perda sanguínea. • Menor tempo de internação. • Menor tempo de recuperação pós operatória. • Menor taxa de infecção. • Maior satisfação da paciente. Histerectomia vaginal x histerectomia videolaparoscópica: • Menor tempo cirúrgico. • Não parece haver, entretanto, diferenças nas taxas de complicações intra e pós-operatórias imediatas ou tardias. • Uso de analgésicos, assim como a recuperação pós-cirúrgica, são semelhantes nas duas técnicas. TRATAMENTO CIRÚRGICO – CONSERVADOR Miomectomia: Taxa de recorrência - 25 % em 10 anos. Indicação de histerectomia - 8% das pacientes. Gestação pós-miomectomia em pacientes previamente inférteis situam-seao redor de 50%. 70% para aquelas pacientes sem outros fatores de infertilidade. 33% a 45% para casais com outros fatores associados, femininos ou masculinos. 39% dessas gestações com o uso de reprodução assistida. Vantagem: • Manutenção do útero. • Preserva a função menstrual. • Possibilita gravidez futura. Desvantagem: • Miomectomia múltipla – procedimento complexo e de maior tempo cirúrgico do que a histerectomia. • Maior potencial de sangramento. • Mais formação de aderências. Vias e técnicas: Leiomioma submucoso – miomectomia histeroscópica: Leiomioma parido – miomectomia vaginal: Miomas intramurais e/ou subserosos, até 10 cm – laparotomia e a laparoscopia, convencional ou robô- assistida: COMPLICAÇÃO DA MIOMECTOMIA HISTEROSCÓPICA Sobrecarga hídrica – intravasão excessiva: Meio líquido de distensão da cavidade uterina é absorvido em grande quantidade e entra no sistema vascular rapidamente, em especial mediante cirurgias prolongadas ou quando se utiliza meio hipotônico, como manitol, sorbitol ou glicina, necessários para uso da corrente monopolar. Consequências: • Hiponatremia. • Hipo-osmolaridade. • Insuficiência cardíaca congestiva. • Edema agudo de pulmão. • Edema cerebral. • Arritmia cardíaca. Medida preventiva: Distensão com soro fisiológico- energia bipolar. Controle do balanço hídrico durante e após o procedimento, deve ser suspenso se o déficit estiver em 1500 mL para meio hipotônico ou 2500 mL para soro fisiológico. O uso de baixos níveis de pressão para distensão da cavidade (até 100 mmHg). Se detectada intoxicação, interrompe-se o ato cirúrgico e inicia-se restrição hídrica, administração de diurético de alça (furosemida), oxigenação e reversão do distúrbio hidroeletrolítico. OUTROS TRATAMENTOS PARA MIOMATOSE UTERINA Embolização das artérias uterinas (EAU): Técnica radiointervencionista endovascular. Tratamento conservador de leiomiomas sintomáticos. Oclusão da irrigação sanguínea para os miomas, por meio da injeção de micropartículas (microesferas, álcool polivinílico ou esponjas), resultados positivos, com alívio de sintomas a curto prazo em 75 % a 90 % dos casos. Apresenta 25% de reintervenções por recorrência em até 10 anos. Indicações: • Falha de tratamentos prévios. • Recidivas. • Pacientes sem condições para tratamentos cirúrgicos. • Pacientes com desejo reprodutivo. Seleção de candidatas à embolização: Miomas submucosos - expulsão pós-procedimento. Miomas subserosos - desprendimento do útero. Ligadura das artérias uterinas: Pode ser realizada por via vaginal, laparatômica ou laparoscópica, associada ou não à ligadura do pedículo útero-ovariano. Embora a ligadura das artérias uterinas, temporária ou permanente, seja uma alternativa para reduzir o sangramento em miomectomias, sua realização como procedimento exclusivo para tratamento conservador de miomas tem alguns resultados animadores. Miólise por ultrassom focalizado de alta intensidade (HIFU) guiado por ressonância magnética: Outra alternativa conservadora para o tratamento do mioma uterino é a aplicação de ultrassom focalizado guiado por ressonância magnética, método que emprega feixes ultrassônicos de alta intensidade (500 a 700 W/cm2) direcionados a um determinado ponto por poucos segundos, aumentando a temperatura no tecido alvo (de 55 a 90 C), com consequente necrose de coagulação. Alguns autores demonstram melhora significativa dos sintomas em 50% até um ano.
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