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RESUMO P2 GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Júlio César Furlan 18.1 MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS ● os métodos anticoncepcionais podem ser subdivididos em 5 categorias distintas: métodos comportamentais, métodos de barreira, contracepção hormonal, dispositivos intrauterinos e contracepção cirúrgica. Métodos Comportamentais: ● método da tabelinha (Ogino-Knaus) ● método da temperatura basal ● método do muco cervical (Billings) ● método sintotérmico ● coito interrompido Métodos de Barreira ● condom masculino ● condom feminino ● espermicida ● diafragma ● esponja ● capuz cervical Contracepção Hormonal ● oral: ACO (monofásico, bifásico ou trifásico), minipílula e pílula do dia seguinte ● injetável: mensal e trimestral Dispositivos Intrauterinos ● não-medicados ● medicados (Diu de Cobre e Diu hormonal) Contracepção Cirúrgica ● mulheres: laqueadura tubária ● homens: vasectomia Eficácia e Efetividade dos Métodos Contraceptivos ● a eficácia e efetividade dos métodos contraceptivos utilizada pela OMS é avaliada pelo Índice de Pearl, o qual avalia a quantidade de falhas a cada 100 mulheres que utilizaram o método por um ano, seja quanto ao uso típico ou quanto ao uso perfeito. ● uso típico: é o uso rotineiro, sujeito a erros, má utilização, diarréias e vômitos em caso de AC, medicamentos vencidos, entre outros. ● uso perfeito: é o uso teórico, sem erros. ● efetividade: índice de funcionamento do método quando do uso típico. ● eficácia: índice de funcionamento do método quando do uso perfeito. ● em geral, os métodos apresentam maior eficácia que efetividade. Classificação dos métodos quanto à sua categoria ● categoria 1: o método pode ser usado sem restrições. ● categoria 2: o método pode ser usado, porém com restrições, devendo-se ter precaução em situações restritas. ● categoria 3: os riscos costumam superar os benefícios. Porém o método pode ser utilizado como última escolha, quando necessário. Nesse caso, deve-se fazer um acompanhamento médico rigoroso. ● categoria 4: o método não deve ser usado pois apresenta risco inaceitável. ● ou seja, em geral, os métodos que podem ser usados são os métodos das categorias 1 e 2, embora alguns métodos da categoria 3 possam ser usados em situações extremamente específicas, em que não há outra opção. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS COMPORTAMENTAIS ● são os chamados métodos de abstinência, em que o casal deve permanecer em abstinência durante o período periovulatório do ciclo menstrual (3 a 4 dias antes da ovulação e 3 a 4 dias depois). Em mulheres com ciclo menstrual altamente irregular, não é recomendado a utilização do método. A taxa de falha no primeiro ano chega a 20%. Método da Tabelinha (Ogino-Knaus) ● a mulher deve ser orientada a avaliar a duração de seu ciclo menstrual por pelo menos 6 meses e, a partir daí, calcular a diferença entre o seu ciclo mais longo e o seu ciclo mais curto. Caso a diferença seja superior à 10, o método não deve ser utilizado. ● período de abstinência: o período fértil é calculado a partir da subtração de 11 do ciclo mais longo e da subtração de 18 do ciclo mais curto. Fora esse período, o ato sexual é permitido. ● Exemplo: Uma paciente registrou seus ciclos menstruais nos últimos 8 meses. O ciclo mais curto apresentou 26 dias, enquanto o ciclo mais longo apresentou 32 dias. A diferença entre os ciclos é menor do que 10, o que permite a utilização do método. ○ Subtrai-se 18 do ciclo mais curto: 26-18= 8 (início do período fértil) ○ Subtrai-se 11 do ciclo mais longo: 32-11= 21 (fim do período fértil) ○ Logo, o período de abstinência deve ocorrer entre os dias 8 e 21 do ciclo menstrual. Método da Temperatura Corporal Basal ● após a ovulação, ocorre um aumento da progesterona sérica, a qual atua no centro termorregulador do hipotálamo, elevando em 0,3 a 0,8 a temperatura corporal (em geral 0,3 ºC). Logo, essa elevação de temperatura indica o início do período ovulatório. ● o registro da temperatura corporal deve ser diário, pela manhã, após um período de 5 horas de repouso. A temperatura pode ser aferida via oral, retal ou vaginal, com termômetro comum. ● no entanto, a temperatura eleva-se normalmente no dia seguinte à ovulação e permanece elevada por 11 a 16 dias após, o que dificulta a contracepção nos dias que precedem a ovulação. ● período de abstinência: inclui a partir do dia da elevação da temperatura até 4 dias depois, a fim de garantir a inviabilidade do óvulo. Método do Muco Cervical (Billings) ● o muco produzido pelo colo uterino modifica suas características de acordo com a fase do ciclo devido à variação hormonal. ● no período periovulatório, a maior secreção de estrogênio torna o muco mais elástico, filante e comparável à clara de ovo, de modo a mulher passa a perceber esse muco. Isso ocorre a fim de facilitar a relação sexual e a penetração dos espermatozóides no útero. Após a ovulação, o muco volta a ficar espesso, turvo e perde a distensibilidade, a fim de proteger o futuro embrião e o útero de infecções e outras condições. ● período de abstinência: da percepção do muco ou sensação de lubrificação vaginal até o quarto dia após a percepção máxima de umidade. ● esse método apresenta um índice de falha de até 39 em 100 mulheres por ano. Método Sintotérmico ● é a combinação dos métodos de tabelinha, muco cervical e temperatura corporal, a fim de aumentar a eficácia e efetividade do método. Coito Interrompido ● consiste na retirada do pênis antes da ejaculação ● deve ser desaconselhado, haja vista o alto índice de Pearl (>25%), além de que, antes da ejaculação, a secreção das glândulas bulbouretrais pode contar espermatozóides, aumentando o risco de falha. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS DE BARREIRA ● possuem como mecanismo de ação a interposição de uma barreira física ou química à passagem dos espermatozóides no trato genital feminino, impedindo a fecundação. Condom Masculino ● definição: consiste num tubo de látex utilizável apenas com o pênis ereto e que deve ser colocado no início da relação. ● vantagens: protege contra IST, não depende de controle médico e é de fácil acesso e utilização. ● desvantagens: requer motivação e manipulação durante o ato sexual, pode ocorrer roturas do preservativo, rompimento e reações alérgicas ao látex. ● apresenta uma boa eficácia e efetividade, com uma taxa de falha de aproximadamente 3% ● Índice de Pearl: 2-15%. Condom Feminino ● definição: consiste num tubo de poliuretano de 17 cm de comprimento por 8 cm de diâmetro, com uma extremidade fechada e a outra aberta e dois anéis flexíveis de poliuretano nas extremidades. ● a colocação do preservativo precede o ato sexual e pode ocorrer até 8 horas antes do ato e não necessita que seja retirado imediatamente após o coito, como deve ser feito com o preservativo masculino. ● vantagens: inserção fora do intercurso sexual, menos reação alérgica e mais resistência. ● desvantagens: pouco estética, de alto custo, pode provocar desconforto pelo anel interno e provocar ruídos durante o ato sexual. ● Índice de Pearl: 5-21% Diafragma ● definição: corresponde a um dispositivo circular flexível coberto por uma membrana de silicone ou látex. A utilização de espermicida (normalmente nonoxinol-9) associado ao método incrementa a sua eficácia e facilita a sua colocação. ● vantagens: pode ser introduzido até 2 horas antes da relação, no entanto o ideal é que seja introduzido um pouco antes da relação (cerca de 15 minutos), a fim de evitar o acúmulo de secreções. ● desvantagens: é necessário consulta médica antes da utilização, a fim de orientação e adequação do tamanho do dispositivo. Deve ser introduzido previamente e sua remoção só deverá ser realizada cerca de 6 a 8 horas após o coito, para garantir maior tempo de exposição do espermatozóide ao espermicida. Progete contra algumas IST, porém não contraHIV, e, ainda, o diafragma pode aumentar o risco de infecções geniturinárias. ● Índice de Pearl: 6-16% Esponja e Capuz Cervical ● definição: são métodos muito semelhantes ao diafragma, porém não disponíveis no Brasil, o que torna difícil seu uso, haja vista o alto custo de importação ● assim como diafragma, são utilizados associado a espermicidas. Geléia Espermicida ● definição: consiste em substâncias que recobrem a vagina e o colo do útero, imobilizando ou destruindo os espermatozóides por meio de lesão na sua membrana celular. O produto mais usado tem como base o nonoxinol-9 (mesmo utilizado no diafragma). ● vantagens: são aplicados antes da relação sexual e possuem duração de até 2 horas ● desvantagens: a paciente e/ou o parceiro podem apresentar reação alérgica. As substâncias podem provocar microfissuras na mucosa vaginal, com aumento do risco de transmissão de HIV, sendo considerado um método categoria 4 em pacientes com HIV/AIDS ou elevado risco para infecção. ● Índice de Pearl: 18-29%. DISPOSITIVOS INTRAUTERINOS ● são artefatos de polietileno com ou sem adição de substâncias metálicas ou hormonais, que exercem efeito anticoncepcional quando colocados dentro da cavidade uterina. Representam um dos métodos mais utilizados em todo o mundo. ● podem ser classificados em duas categorias: ○ DIUs não medicados (inertes): não contêm ou liberam substâncias ativas. São unicamente constituídos de polietileno. ○ DIUs medicados (ativos): além da matriz de polietileno contêm substâncias metais (cobre) ou hormônios, que exercem ação bioquímica local, aumentando a eficácia anticonceptiva. DIU de Levonorgestrel ● mecanismo de ação: previne a gravidez através do controle do desenvolvimento mensal do endométrio, de modo que este não fique suficientemente espesso para implantação embrionária. Além disso, ele promove o espessamento do muco normal do canal cervical e afeta o movimento dos espermatozóides. DIU de cobre ● definição: é feito de plástico com filamento de cobre enrolado na sua haste vertical. O modelo mais utilizado possui duração de cerca de 10 anos. ● mecanismo de ação: provoca uma reação inflamatória local no endométrio com alterações histológicas e bioquímicas (aumento de leucócitos, prostaglandinas e citocinas) que interferem na espermomigração, fertilização do óvulo e implantação do blastocisto. Além disso, os íons de cobre interferem na motilidade espermática e diminuem a sobrevida do óvulo no trato genital feminino. ● Índice de Pearl: 0,8%. ● frequentemente causa sangramento menstrual, como sangramento de escape ou aumento do fluxo menstrual e de cólicas. O período ideal para a sua colocação é o período menstrual, visto que nesse período o colo uterino encontra-se dilatado e, teoricamente, não há gravidez. DIU não medicado ● mecanismo de ação: depende de uma reação inflamatória de corpo estranho local para a sua ação contraceptiva. Produz lesão tecidual mínima porém suficiente para a sua ação espermicida. Benefícios dos DIUs ● método de longa duração (DIUs inertes nunca precisam ser trocados) ● uma única decisão leva à anticoncepção eficaz e duradoura ● muito eficaz ● não interfere nas relações sexuais ● não diminui o libido ● os DIUs com cobre e os inertes não apresentam os efeitos colaterais do uso de hormônios ● são imediatamente reversíveis ● não interferem na quantidade ou qualidade do leite materno ● podem ser induzidos imediatamente após o parto ou abortamento induzido ● pode ser usado até a menopausa ● não interfere com outras medicações DIU de Levonorgestrel (Mirena ® ) ● definição: consiste em um dispositivo intrauterino em forma de T com 52 mg de levonorgestrel, que libera 20 mcg do progestágeno diariamente e vai diminuindo de forma gradual (15 mcg do segundo ao quinto ano e 12 mcg do sexto ao sétimo ano). ● a taxa de falha no primeiro ano de uso é de 0,1%. ● a duração do efeito contraceptivo dura de 5 a 7 anos. ● mecanismo de ação: torna o muco cervical espesso e hostil aos espermatozóides, reduz o crescimento endometrial. Provoca anovulação em aproximadamente 25 a 50% das mulheres. Cerca de 50% das mulheres entram em amenorréia por atrofia endometrial. ● efeitos colaterais: sangramento irregular nos primeiros 3 a 5 meses (é a principal causa de descontinuação do método), cefaleia, náuseas e depressão, acne mastalgia e ganho de peso. Benefícios do uso de DIU de Levonorgestrel ● reduz a quantidade e duração do fluxo menstrual ● reduz a intensidade de dismenorreia ● previne anemia ferropriva relacionada à perda de sangue menstrual ● não possui efeitos sistêmicos ● promove o controle da menorragia (sangramento menstrual abundante) ● ação contraceptiva imediata ● fertilidade rapidamente restaurada após a retirada do dispositivo CONTRACEPÇÃO HORMONAL ● os contraceptivos hormonais são constituídos de um estrogênio e uma progesterona sintéticos. Podem ser utilizados via oral, vaginal, transdérmica, injetável e na forma de implantes. ● mecanismo de ação geral: agem inibindo o eixo hipotálamo-hipófise por meio da inibição da secreção de LH e FSH, o que promove anovulação. À exceção, alguns anticoncepcionais progestínicos (mini-pílula) permitem a ovulação e agem por meio da atrofia endometrial e aumento do muco cervical. Anticoncepcionais Orais (ACO) Anticoncepcionais Orais Combinados ● consistem em uma associação de estrógenos e progestágenos que varia nas dosagens hormonais e no tipo de progestágeno ● existem três tipos de formulações contendo doses variadas de hormônios: monofásicas, bifásicas e trifásicas. ● as mais utilizadas são as monofásicas, que mantém a mesma dose hormonal durante todo o ciclo. As bifásicas e as trifásicas apresentam variações na quantidade hormonal, tentando mimetizar o ciclo. ● a primeira caixa deve ser utilizada no primeiro dia da menstruação. Caso se opte por iniciar em outra fase do ciclo, deve-se ter certeza da ausência de gravidez e associar método de barreira durante 7 dias após seu início. ● mecanismo de ação: além do efeito sobre as gonadotrofinas, os ACOs promovem alterações no muco cervical, tornando-o mais espesso, alterações no endométrio, tornando-o atrófico e desfavorável à implantação, e alteração no transporte ovular pelas trompas. O estrógeno utilizado atualmente pelos anticoncepcionais é o etinilestradiol. Os progestágenos variam em seus efeitos clínicos e podem ser derivados da progesterona (17-hidroxiprogesterona), da testosterona (19- nortestosterona) ou da espironolactona. Derivados da 17-hidroxiprogesterona (pregnanos) ● atividades no organismo: progestogênica, antigonadotrófica, antiestrogênica, antiandrogênica (acetato de ciproterona) e atividade glicocorticóide. ● nos ACOs combinados: acetato de ciproterona ou acetato de clormadinona ● nos injetáveis ou implantes: acetato de medroxiprogesterona, acetato de megestrol e acetofenido de dihidroxiprogesterona. Derivados da 19-nortestosterona ● atividades no organismo: progestogênica, antigonadotrófica, antiestrogênica, androgênica, glicocorticóide (gestodeno) e antimineralocorticóide (gestodeno). ● estranos: noretisterona, acetato de noretisterona, acetato de etinodiol, linestrenol e noretinodrel ● gonanos: levonorgestrel, desogestrel, gestodeno, norgestimato e norgestrel Derivados da espironolactona ● atividades no organismo: progestogênica, antigonadotrófica, antiestrogênica, antiandrogênica e antimineralocorticóide. ● drospirenona: é o único exemplo da classe *ANDROGENICIDADE* ● em geral, a androgenicidade pode ser resumida da seguinte forma: ○ derivados da 19-nortestosterona: efeito androgênico ○ derivados da espironolactona e 17-hidroxiprogesterona: efeito antiandrogênico (exceção do acetato de medroxiprogesterona que possui efeito androgênico) ○ efeito antimineralocorticóide: gestodeno e drospirenona Classificaçãodos ACOs combinados de acordo com a dose ● alta: > 50 mcg de etinilestradiol (em desuso) ● média: 50 mcg de etinilestradiol ● baixa: 30-35 mcg de etinilestradiol ● muito baixa: 15-20 mcg de etinilestradiol ● obs: dosagem de estrogênio maior que 35 mcg está relacionado com um aumento importante do risco de tromboembolia, enquanto dosagens muito baixas associam- se a maiores riscos de atrofia endometrial (ausência de estímulo trófico) e sangramentos de escape. Modo de uso dos ACOs combinados ● os mais comuns são os ACOs combinados compostos de 21 comprimidos, os quais devem ser iniciados no primeiro dia da menstruação. Após 21 dias de uso, deve-se fazer uma pausa de 7 dias, reiniciando uma nova cartela no oitavo dia. O ideal é tomar a pílula sempre no mesmo horário. Existem, ainda, pílulas de 22, 24 (pausa de 4 dias) e 28 (uso ininterrupto). ● se usada corretamente, oferece proteção já no primeiro ciclo de uso. Contraindicações para ACOs combinados (categorias 3 e 4 da OMS) ● mutações trombogênicas ● amamentação com menos de 6 semanas de parto ● tabagismo ● HAS, TEP, TVP, DCV, AVE, DM, DAC e LES ● imobilização prolongada ● enxaqueca sem aura (3) ● enxaqueca com aura (4) ● CA mamário ● cirrose, hepatite, TU hepático, doença biliar ● uso de rifampicina ou de alguns anticonvulsivantes Efeitos Colaterais do ACOs combinados ● estrógenos: cefaleia, tonteira, vômito, náusea, edema, irritabilidade e cloasma ● progestágenos: depressão, cansaço, alterações da libido, amenorreia, acne e ganho de peso. Anticoncepcionais de Progestágeno (minipílula) ● é composta por uma dose de progestogênio de metade a 1/10 dos ACOs combinados. É mais apropriada para a lactação, visto que sua eficácia menor pode ser compensada pelo método da amenorréia. ● a minipílula também pode ser utilizada por mulheres que não amamentam, principalmente em situações específicas, como proximidade com a menopausa. ● mecanismo de ação: promove espessamento do muco cervical e decidualização do endométrio. A anovulação não é um efeito esperado, visto que inibe apenas LH. ● composição: ○ noretisterona 0,35 mg (estranho, derivado de 19-nortestosterona) ○ levonorgestrel 0,030 mg (estrano, derivado de 19-nortestosterona) ○ linestrenol 0,5 mg (gonano, derivado de 19-nortestosterona) ● modo de uso: deve ser utilizada continuamente, diariamente, sempre no mesmo horário. Atrasos maiores que 3 horas já provocam uma taxa maior de falha. Efeitos Colaterais da Minipílula ● sangramento de escape ● amenorréia persistente ● fluxo abundante ou prolongado ● pode ocorrer cefaleia e sensibilidade mamária Indicações ● a maior indicação é na amamentação, de modo que pode ser iniciada em qualquer momento após o parto, mesmo que a paciente esteja amamentando, pois não prejudica a produção de leite e não há efeitos adversos ao RN. ● pode ser usada também quando ACOs combinados são contraindicados, como em caso de HAS, doenças mamárias benignas, coagulopatias e DCV e em mulheres tabagistas. Contraindicações ● TVP, TEP, DAC, DCV, AVE, LES ● cirrose e TU hepático ● CA mamário ● uso de rifampicina e alguns anticonvulsivantes Anticoncepcionais Injetáveis Trimestral ● entre as formulações injetáveis, a Depomedroxiprogesterona (acetato de medroxiprogesterona) é a mais utilizada. Uma dose trimestral de 150 mg IM suprime a ovulação por geralmente 14 semanas. ● a ação do método consiste em inibir os picos de estradiol e, consequentemente, os de LH, evitando, com isso, a ovulação, além de provocar espessamento do muco cervical, o que dificulta a passagem dos espermatozóides pelo canal cervical, e atrofia do endométrio. ● deve ser administrado até o 5º dia do ciclo via IM, e as doses subsequentes a cada 90 dias. Não se deve massagear ou botar bolsa de água quente no local, evitando acelerar sua absorção. Mensais ● são semelhantes aos ACOs combinados, com a diferença de que possuem um estrógeno natural em sua composição. Essa característica confere maior segurança quando comparada a pílula. ● a mulher deve tomar a injeção todo mês, com intervalos de 27 a 33 dias. Como medida prática, recomenda-se tomar a injeção sempre no mesmo dia do mês. Implantes Subdérmicos ● implante subdérmico de um bastão (comumente Implanon ® ) que possui ação comprovada por até 3. ● esse bastão consiste numa haste de 4 cm por 2 mm, contendo 60 mg de etonorgestrel, que libera diariamente uma pequena quantidade de progestágeno. É inserido na prega entre o m.bíceps braquial e o m.tríceps braquial. Adesivo Transdérmico ● são compostos de etinilestradiol e norelgestromina. ● devem ser aplicados em áreas limpas da pele, preferencialmente nos glúteos, face externa dos braços, abdome e tronco. ● é utilizado por 3 semanas, um adesivo por semana, com pausa na 4 semana, quando ocorre o sangramento de escape. ● possui ação, eficácia e efeitos adversos semelhantes aos ACOs combinados Anel Vaginal de etinilestradiol e etonogestrel ● o anel é posicionado na vagina, mais especificamente no fundo de saco posterior, pela própria mulher, e deixado no local por três semanas, quando deve ser retirado e descartado. Durante a 4 semana, o anel não deve ser usado, ocorrendo, então, o sangramento de escape. ● possui ação, eficácia e efeitos adversos semelhantes aos ACOs combinados. ● caso o anel fique fora da vagina por mais de 3 horas, um método auxiliar deve ser utilizado por 7 dias. Método da Lactação e Amenorréia (LAM) ● o LAM consiste no uso da amamentação como um método contraceptivo temporário ● baseia-se na inibição da ovulação, visto que a amamentação altera a taxa de secreção dos hormônios naturais ● três pré-requisitos são fundamentais para o uso do LAM: amenorreia, AME, e <6 meses após o parto ● possui uma taxa de falha de 0,5 em 100 mulheres quando do uso perfeito e 2 em 100 quando do uso típico. Contracepção de Emergência ● deve ser utilizada após intercurso sexual sem proteção e/ou falha de outro método, como ruptura de um condom. Suas indicações são: estupro, ruptura de condom, deslocamento de DIU e coito episódico não-protegido. Método de Levonorgestrel ● 0,75 mg de levonorgestrel 12/12h ou 1,5 mg em dose única, devendo ser tomado até 5 dias após a relação. Quando antes for tomado, maior a eficácia. Método de Yuzpe ● 0,2 mg de etinilestradiol e 1 mg de levonorgestrel, dividida em duas doses iguais a cada 12 horas. Ou seja: 0,1 mg de etinilestradiol + 0,5 mg de levonorgestrel 12/12h, duas vezes. Diu de Cobre ● deve ser inserido em até 5 dias após o coito. Está contraindicado em casos de estupro com alto risco de DST. Apesar de recomendado pela OMS como método de contracepção de emergência, no Brasil ele ainda não está regulamentado para tal fim. Mecanismo de ação dos métodos contraceptivos de emergência ● atua sempre antes da fecundação, a depender da fase do ciclo ● mas de modo geral, atua espessando o muco cervical, inibindo a ovulação e interferindo na capacitação dos espermatozóides ● o melhor método hoje é o de levonorgestrel, com uma taxa média de falha de 2,7%. ● toda paciente deve ser orientada que não é esperado um sangramento logo após a utilização do método. A maior parte das pacientes terá sangramento no período esperado para o fluxo seguinte e menores parcelas terão o fluxo adiantado ou atrasado. ● caso ocorram vômitos após 2 horas da ingestão do comprimido, a dose deve ser repetida. Caso os vômitos persistam, deve-se optar pela via vaginal, com eficácia semelhante. CONTRACEPÇÃO CIRÚRGICA ● é o único método de contracepção definitiva, sendo definido como um método irreversível ● feminina: laqueadura tubária ● masculina: vasectomia ● só é permitido em homens e mulheres com capacidade civil plena, com mais de 25 anos de idade ou com 2 filhos vivos, desde observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestaçãoda vontade e o ato cirúrgico. Nesse período de 60 dias, deve ser oferecido ao paciente acesso a serviços de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce. É permitido também quando há risco à saúde da mãe ou do futuro concepto, testemunhado em relatório escrito e assinado por 2 médicos. VULVOVAGINITES, VAGINOSES E CERVICITES: AULA 01 Professor Hugo VULVOVAGINITES • vulvovaginites caracterizam-se como uma desordem na vulva e vagina causada por infecção, inflamação e/ou alterações da flora normal. Acomete o trato genital inferior (vulva, vagina, paredes vaginais e ectocérvix). • as vulvovaginites geralmente são causadas por fungos, enquanto as vaginoses geralmente são causadas por bactérias, desencadeando, portanto, um processo inflamatório maior quando comparado ao processo inflamatório das vulvovaginites. • mecanismos de defesa vaginal: o tegumento o pelos o integridade da mucosa vaginal o espessura e pregueamento das paredes vaginais o descamação cíclica da mucosa o barreira mecânica (muco cervical) e química (lisozimas) o competição bacteriana (flora vaginal) o muco endocervical o ação bactericida do muco cervical • importância dos lactobacilos: o principais produtores de H2O2, que é altamente tóxico para bactérias que causam vaginoses o produzem ácido láctico pela conversão do glicogênio, mantendo o pH vaginal 4,5, o que inibe o crescimento de anaeróbios. • secreção vaginal fisiológica: o a secreção vaginal fisiológica é constituída por muco cervical, células vaginais e cervicais esfoliadas, secreção das glândulas de Bartholin e Skene, transudato vaginal, proteínas, glicoproteínas, ácidos graxos orgânicos, carboidratos, pequena quantidade de leucócitos e microrganismos da flora vaginal. o possui, ainda, cor branca ou transparente, pH ácido (4,0 a 4,5) e volume variável. • flora vaginal normal: o 90% são lactobacilos o bactérias anaeróbias correspondem a menos de 1% da flora vaginal o presença de Candida spp. em pequena quantidade • principais fatores de risco para vulvovaginites e vaginoses: o uso de antibióticos: eliminação de bactérias residentes da flora vaginal o sabonetes vaginais: alteração do pH vaginal o ducha vaginal: lavagem da mucosa, retirando mecanicamente bactérias da flora vaginal e células de defesa ali residentes. o DSTs: imunossupressão e alteração do ambiente vaginal o Diu de cobre: processo inflamatório local que favorece a apresentação de antígeno e o desenvolvimento de uma resposta inflamatória contra o patógeno, gerando os sintomas característicos das vulvovaginites e vulvovaginoses. VAGINOSE BACTERIANA • definição: é um conjunto de sinais e sintomas resultantes de um desequilíbrio da flora vaginal, que culmina com a diminuição dos lactobacilos e um crescimento polimicrobiano de bactérias anaeróbias obrigatórias e facultativas. • causa: ocorre a partir de um desequilíbrio da flora vaginal, com aumento do pH, e de um consequente crescimento polimicrobiano, normalmente com predomínio de Gardnerella vaginalis, uma bactéria presente em pequena quantidade na flora vaginal. • quadro clínico: corrimento vaginal branco-acinzentado, fluido, fino, homogêneo, de odor fétido, semelhante a “peixe podre”, sem dispareunia, disúria e irritação vulvar. O odor se agrava durante a menstruação e durante o coito. A alcalinização do pH facilita a volatilização das aminas (cadaverina, putrescina e trimetilamina) produzida pelos patógenos, o que explica o odor fétido. • fatores de risco: múltiplos parceiros sexuais, duchas vaginais, tabagismo e a não utilização de preservativo. • diagnóstico: presença de 3 dos 4 Critérios de Amsel. • Critérios de Amsel: o Corrimento vaginaal branco-acinzentado, homogêneo e fino o pH vaginal > 4,5 o Teste das Aminas (Whiff Test) positivo: adição de 1 ou 2 gotas de KOH 10% na secreção coletada do fundo de saco vaginal numa lâmina. Quando positivo, resulta no aparecimento imediato de odor desagradável devido à liberação de aminas voláteis produzidas pelos patógenos (isso ocorre pois o KOH alcaliniza ainda mais o meio, facilitando essa volatização). o Visualização de Clue Cells (Células Guia) no exame microscópico a fresco da secreção vaginal. As Clue Cells correspondem a células epiteliais vaginais com sua membrana recoberta por bactérias que se aderem à membrana celular e tornam seu contorno granuloso e impreciso. O exame microscópico a fresco identifica as células guia quando o conteúdo vaginal é misturado à solução salina. • tratamento: todas as mulheres sintomáticas devem ser tratadas, incluindo as gestantes. Entre os medicamentos, o de primeira escolha é o Metronidazol 500mg VO de 12/12h por 7 dias, seguido, como segunda opção, pela Clindamicina 300mg VO de 12/12h por 7 dias. Não recomenda-se rotineiramente o tratamento do parceiro. Acompanhamento desnecessário em caso de desaparecimento dos sintomas. Orientações gerais sobre higiene íntima e pode-se indicar o uso de probióticos via oral ou vaginal para recomposição mais rápida da flora vaginal. CANDIDÍASE VULVOVAGINAL • definição: a Candidíase vulvovaginal é a segunda causa mais comum de corrimento vaginal, ficando atrás apenas da vaginose bacteriana. Essa condição caracteriza-se como uma infecção da vulva e da vagina causada por um fungo comensal que habita a mucosa vaginal e digestiva, que cresce quando o meio se torna favorável para o seu desenvolvimento (mais ácido). • causa: proliferação do fungo Candida spp., principalmente Candida albicans, quando o meio se torna favorável ao seu desenvolvimento. Ocorre em desequilíbrios da flora vaginal, com queda do pH. • fatores de risco: gravidez, diabetes mellitus descompensada, obesidade, uso de contraceptivos orais de altas dosagens, antibioticoterapia, uso de corticóides ou imunossupressores, hábitos de higiene e vestuário inadequado, diminuindo a ventilação e aumentando a umidade e o calor local, o contato com substâncias alergênicas e/ou irritantes, como, por exemplo, talco, perfume e desodorante, e, por fim, alterações na resposta imunológica, como imunodeficiência e estresse. O uso de anticoncepcionais e a gravidez estão relacionados ao hiperestrogenismo, o que favorece a maturação e diferenciação do epitélio vaginal em células superficiais maduras ricas em glicogênio. Esse glicogênio é, então, metabolizado em ácido láctico pelos Lactobacilos, reduzindo o pH vaginal, o que, por sua vez, favorece a proliferação do fungo em questão. • quadro clínico: prurido vulvovaginal que piora à noite e com o calor, queimação vulvovaginal, disúria, dispareunia, corrimento branco, grumoso, inodoro e com aspecto caseoso em “leite coalhado ou queijo coalho”, hiperemia e edema vulvar, escoriações de coçadura, fissuras e maceração da vulva, e vagina e colo recobertos por placas branca ou branco acinzentadas aderidas à mucosa. O início do quadro é súbito e os sintomas podem decorrer de uma reação alérgica à toxina canditina, produzida pelo fungo, e tendem a se exacerbar na semana anterior à menstruação e no período pós-menstrual. • diagnóstico: na maioria dos casos, o quadro clínico e o exame a fresco são suficientes para o diagnóstico. O exame microscópico a fresco com KOH 10% revela a presença de pseudo-hifas em cerca de 70% dos casos. Sendo assim, o KOH 10% pode ser usado com dois objetivos na propedêutica das vulvovaginites. A primeira é no teste das aminas, caracterizando o quadro como uma vaginose bacteriana ou não, e na segunda aplicação é na identificação de estruturas fúngicas na lâmina ao microscópio, caracterizando o quadro como uma infecção fúngica ou não. • tratamento: a primeira escolha são as drogas azólicas, entre elas Butoconazol creme a 2%, 1 aplicador (5g) via vaginal por 3 dias, Clotrimazol creme e Miconazol creme. Pode-se utilizar, ainda, Fluconazol VO 150mg, 1cp dose única. Os antifúngicos podemser associados à corticosteróides, o que reduz rapidamente os sintomas vulvares. O tratamento do parceiro não é recomendado rotineiramente e o acompanhamento é desnecessário com o desaparecimento dos sintomas. TRICOMONÍASE • definição: o Trichomonas vaginalis é um protozoário aeróbio flagelado causador da doença sexualmente transmissível Tricomoníase, umas das DSTs não-virais mais comuns no mundo. Essa condição caracteriza-se como uma doença sexualmente transmissível de transmissão geralmente assintomática em homens e sintomática em mulheres. • causa: infecção por Trichomonas vaginalis via transmissão sexual. • fatores de risco: atividade sexual desprotegida. • quadro clínico: corrimento vaginal abundante, amarelo ou amarelo-esverdeado, bolhoso e de odor fétido, ardência, hiperemia e edema na vagina, dispareunia superficial e prurido vulvar. O pH vaginal na tricomoníase costuma ser maior do que 5,0 em 70% dos casos. Um achado específico da Tricomoníase é a colpite focal ou difusa, caracterizada por um “colo em framboesa” ou “colo em morango”. Ele ocorre devido à dilatação capilar e hemorragias puntiformes e é vista na colposcopia. A associação dessa condição com outras infecções como gonococcia e vaginose bacteriana é observada com certa frequência. Esse fato parece ocorrer devido à produção de hidrogênio pelo Trichomonas spp., o qual se liga ao oxigênio, promovendo a sua remoção do ecossistema vaginal e, por consequência, facilitando o crescimento de bactérias anaeróbias. Pode-se realizar, ainda, o Teste de Schiller (aplicação de iodo no colo vaginal) que revela um colo de aspecto “tigróide” ou em “pele de onça”. Esse teste tem por finalidade demarcar regiões ricas em glicogênio. Áreas pobres em glicogênio coram-se de amarelo suave, diferente do marrom escuro normal do colo, caracterizando o teste como positivo. • diagnóstico: história clínica com fatores de risco, achados do exame físico, medida do pH vaginal (alcalinizado), teste de Whiff e microscopia a fresco do conteúdo vaginal. A microscopia a fresco revela o protozoário livre, móvel com seus quatro flagelos anteriores característicos. Há também uma população bastante aumentada de leucócitos. • tratamento: deve ser sistêmico, pois o tratamento tópico não atinge níveis terapêuticos nas glândulas vaginais e na uretra. Os fármacos de primeira escolha são o Metronidazol 2g VO, dose única, e o Tinidazol 2g VO, dose única. Como tratamento alternativo, tem-se o Metronidazol 500mg VO 12/12h por 7 dias. Deve-se tratar os parceiros e orientar sobre a abstinência sexual durante o tratamento. É desnecessário o acompanhamento com o desaparecimento dos sintomas. VAGINOSE CITOLÍTICA • definição: trata-se de uma vulvovaginite não infecciosa decorrente de um estado de desequilíbrio do ecossistema vaginal caracterizado por diminuição do pH vaginal e elevação da população de lactobacilos. • causa: desequilíbrio da flora vaginal com queda do pH e proliferação de lactobacilos. • quadro clínico: corrimento vaginal branco, grumoso, acompanhado de prurido genital e ardor, que piora no período pré-menstrual. • diagnóstico: clínico e microscópico. Evidencia-se aumento do número de lactobacilos, pequeno número de leucócitos, evidências de citólise e ausência de Trichomonas, Gardnerella ou Candida. • tratamento: consiste na alcalinização do meio vaginal com duchas vaginais com 30 a 60 g de bicarbonato de sódio diluído em 1L de água morna, 2 a 3 vezes por semana.
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