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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA LICENCIATURA PLENA RAQUEL DE LIMA ALVES EDUCAÇÃO NO CAMPO: avanços e desafios SANTO ANTÔNIO – RN 2021 RAQUEL DE LIMA ALVES EDUCAÇÃO NO CAMPO: avanços e desafios Artigo Científico apresentado à Universidade Estadual Vale do Acaraú, como resultado da Intervenção Socio escolar e requisito parcial para obtenção do título de licenciada em Pedagogia. Orientador: Prof. Dr. Francisco Anderson Tavares de Lyra Silva. SANTO ANTÔNIO – RN 2021 AGRADECIMENTOS A Deus, pelo dom da vida, pela força, saúde e coragem para concluir o presente artigo científico; Agradeço, em especial, aos meus pais, por terem me oferecido uma base sólida. Criaram-me com muito esforço e me ensinaram a ser uma pessoa humilde e dedicada em tudo na vida; As minhas irmãs, por sempre me darem forças, apoio, por serem pacientes e por me incentivarem a sempre seguir em frente; A todos os professores que ajudaram e contribuíram para um melhor aprendizado. Principalmente ao professor orientador Francisco Anderson Tavares de Lyra pela orientação fornecida durante a elaboração deste artigo científico, oferecendo total disponibilidade; Agradeço a todos os meus colegas de curso que durante esses quatro anos foram como uma segunda família; Aos meus amigos que me ajudaram de forma direta ou indiretamente, deram seu apoio e incentivo para realização desse artigo, contribuindo para o encerramento de mais um ciclo em minha vida de maneira satisfatória. EPÍGRAFE “Educação do Campo é um meio de formação que nasce de um compromisso em reconhecer os sujeitos, recuperar a sua identidade como trabalhador ou trabalhadora do campo. O campo como espaço vivido, dar visibilidade a diferentes vozes e experiências, enfim cria alternativas de comunicação um outro tipo de conhecimento e de prática emancipatórios”. (JESEUS, 2004, p. 126) A EDUCAÇÃO NO CAMPO: avanços e desafios ALVES, Raquel de Lima 1 LYRA, Francisco Anderson Tavares de 2 RESUMO O presente artigo busca compreender os avanços ocorridos na formulação das políticas de educação do campo e alguns obstáculos que limitam a efetivação do que está expresso nas diretrizes. Tendo como princípio as experiências vividas durante o estágio supervisionado IV no Núcleo Municipal de Educação do Campo Aureliano de Souza, localizado na comunidade do Góis zona rural da cidade de Serrinha-RN, além de leituras dos autores que discorreram acerca do tema. Tendo sua origem no processo de luta dos movimentos sociais para resistir à expropriação de terras, a Educação do Campo vincula-se à construção de um modelo de desenvolvimento rural que prioriza os diversos sujeitos sociais do campo, isto é, que se contraponha ao modelo de desenvolvimento hegemônico que sempre privilegiou os interesses dos grandes proprietários de terra no Brasil, e também se vincula a um projeto maior de educação da classe trabalhadora, cujas bases se alicerçam na necessidade da construção de um outro projeto de sociedade e de Nação. Em função dessa intrínseca vinculação, a Educação do Campo compreende os processos culturais, as estratégias de socialização e as relações de trabalho vividas pelos sujeitos do campo em suas lutas cotidianas para manterem essa identidade como elementos essenciais de seu processo formativo. Palavras-chave: Avanços. Obstáculos. Diretrizes. Educação do Campo. Sujeitos do Campo. Movimentos Sociais. EDUCATION IN THE FIELD: advances and challenges ABSTRACT This article seeks to understand the advances that have occurred in the formulation of rural education policies and some obstacles that limit the effectiveness of what is expressed in the guidelines. Based on the experiences lived during the supervised internship IV at the Municipal Education Center of Campo Aureliano de Souza, located in the community of Góis rural area of the city of Serrinha-RN, in addition to of readings by the authors who discussed the topic. Having its origin in the struggle process of social movements to resist the expropriation of land, Educação do Campo is linked to the construction of a model of rural development that prioritizes the diverse social subjects of the field, that is, that is in opposition to the model of rural development. hegemonic development that has always privileged the interests of the great landowners in Brazil, and is also linked to a larger project for education of the working class, whose bases are based on the need to build another project of society and nation. Due to this intrinsic linkage, Countryside Education understands cultural processes, socialization strategies and work relationships experienced by countryside subjects in their struggles to maintain this identity as essential elements of their formative process. Keywords: Advances. Obstacles. Guidelines. Rural Education. Field Subjects. Social movements. 7 INTRODUÇÃO O presente artigo busca compreender os avanços ocorridos na formulação das políticas de educação do campo e alguns obstáculos que limitam a efetivação do que está expresso nas diretrizes. Procurando superar uma leitura romântica sobre o campo, aprofundam-se elementos que o constituem na sua diversidade e complexidade. Tendo como princípio as experiências vividas durante o estágio supervisionado IV no Núcleo Municipal de Educação do Campo Aureliano de Souza, localizado na comunidade do Góis zona rural da cidade de Serrinha-RN, além de leituras dos autores que discorreram acerca do tema. Tendo sua origem no processo de luta dos movimentos sociais para resistir à expropriação de terras, a Educação do Campo vincula-se à construção de um modelo de desenvolvimento rural que prioriza os diversos sujeitos sociais do campo, isto é, que se contraponha ao modelo de desenvolvimento hegemônico que sempre privilegiou os interesses dos grandes proprietários de terra no Brasil, e também se vincula a um projeto maior de educação da classe trabalhadora, cujas bases se alicerçam na necessidade da construção de um outro projeto de sociedade e de Nação. Em função dessa intrínseca vinculação, a Educação do Campo compreende os processos culturais, as estratégias de socialização e as relações de trabalho vividas pelos sujeitos do campo em suas lutas cotidianas para manterem essa identidade como elementos essenciais de seu processo formativo. O acesso ao conhecimento e a garantia do direito à escolarização para os sujeitos do campo fazem parte dessas lutas. Discutir Educação do Campo sempre é uma tarefa que demanda um significativo esforço analítico, pois ela é feita da diversidade, de múltiplos olhares e sujeitos. E para compreender a perspectiva que hora se começa a delinear, sobre as bases da referida educação, faz-se necessário que se entenda as suas origens, a sua evolução e a sua construção conceitual. Dessa forma, o artigo possui a seguinte estrutura: a construção do conceito de educação do campo; submissão do campo à cidade; educação do campo e seus desafios; formação de educadores do campo; conquistas e reconhecimentos da educação no campo; políticas educacionais do campo e tece considerações finais. 8 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO EDUCAÇÃO DO CAMPO Na década de 1990, quando os movimentos sociais do campo ganharam forças e impeliriam o governo a debater com eles propostas de uma educação que fosse do, e não para o campo, uma vez que, até então, havia apenas se pensado oficialmente a educação camponesa conforme um “paradigma urbanocêntrico”, com vistas a dicotomia entre campo e cidade. Dessa forma, pode-seafirmar que a educação do campo, teve origem nos movimentos sociais pela terra, que precisavam da implantação de políticas educacionais voltadas para os assentamentos rurais, oriundos da Reforma Agraria. Assim sendo, os movimentos sociais são parte constituinte da educação do campo, e, assim, ela própria de certo modo, assume uma dimensão de movimento social. É possível entender, consequentemente, que o processo de construção da educação do Campo se traduz numa luta antiga dos sujeitos que vivem nas comunidades rurais do Brasil, na busca pelo direito à terra e a uma educação de qualidade voltada para as especificidades do campo, luta que percebemos desde as longínquas revoltas populares existentes na nossa história. A narrativa da educação do campo representa aspectos culturais, sociais e políticos e não há como não contar sua história sem se defrontar-se com os temas que envolvem as lutas sociais que sempre estarão presentes. Consequentemente a educação do campo se concebeu vinculada a luta dos movimentos sociais do meio rural. Segundo Arroyo: O movimento social no campo representa uma nova consciência do direito a terra, ao trabalho, à justiça, à igualdade, ao conhecimento, à cultura, a saúde e à educação. O conjunto de lutas e ações que os homens e mulheres do campo realizaram, os riscos que assumem, mostra quanto reconhecem sujeitos de direitos (ARROYO, 2004, p. 73). Ou seja, a institucionalização da Educação do Campo é uma dívida histórica com a população campesina. Dessa forma, as lutas sociais são movimentos encontrados pelos camponeses e camponesas como forma de protestar o sentimento de descaso, que perdura há décadas no que se refere às políticas públicas para o campo. 9 Ao longo dos séculos a formação determinada as classes populares da zona rural, vinculou-se a um sistema “importado” de educação urbana. Os princípios presentes no meio rural, quando assemelhados ao espaço urbano, eram abordados com descaso, submissão e inferioridade. Em um campo qualificado pela sociedade brasileira, onde multiplicava-se, diariamente preconceitos e rótulos pejorativos. Na situação da educação para as autoridades e elites, o desprestigio da escola da zona rural se objetiva, uma vez que as políticas públicas tem estado desconsiderada quando crianças são encaminhadas para escolas na área urbana retirando-as do espaço-tempo do campo. Para Arroyo e Fernandes (1999), a articulação Nacional por Uma Educação Básica do Campo, enfatiza a educação do campo como desdobramento de lutas sociais. Mesmo com a mudança do termo rural para o campo, é claramente visível que o rural existe, permanecendo a serviço do latifúndio. Estudar a educação do campo remete ao passado, a toda uma negação com o campo como espaço-tempo de se viver com sua cultura (ARROYO, 2005, p. 47). Factualmente percebemos que a criação da concepção de educação escolar no meio rural esteve afeiçoada à educação “no” campo, descontextualizada, exclusivista e apresentada para uma minoria dos cidadãos brasileiros. SUBMISSÃO DO CAMPO À CIDADE Quando estamos proferindo sobre o campo, referimo-nos a um meio socialmente integralizado ao conjunto da sociedade brasileira e ao contexto contemporâneo desordeiro e contraditório do processo de globalização. As políticas brasileiras historicamente sempre se assentaram em uma visão dicotômica: rural x urbano. O entendimento do processo de urbanização do Brasil é norteado por uma regra que é única ao mundo. O país considera urbana toda sede de município (cidade) e de distrito (vila), sejam quais forem suas características estruturais ou funcionais. A partir dessa regra, definindo o que era cidade e o que era campo, a configuração territorial do nosso país foi se constituindo nas políticas públicas e no imaginário de nossa população. O Brasil é, portanto, mais rural do que se imagina. Além disso, predomina ainda a ideia de um rural como lugar de escassez. A escola é 10 um dos instrumentos de reprodução e fortalecimento desse imaginário: o campo como um lugar onde predomina escassez. Por isso, que um dos fundamentos da Educação do Campo, é resgatar o campo enquanto um lugar de vida, de morar, de trabalhar, de ser feliz, um lugar de construção de identidades (que tem particularidades e referências identitárias). A concepção de campo precisa ser entendida também a partir do conceito de território como local sinalizado pelo humano. No caso brasileiro, a tendência de valorizar mais o urbano em detrimento do rural fica evidente no conjunto das políticas sociais e educacionais implementadas, especialmente no período pós-1930, quando o urbano começava a tornar-se hegemônico, pelo menos do ponto de vista econômico-industrial (MARCON, 2012, p. 88). Percebemos que ao longo da história da educação do campo foi sempre de muita luta, pois o urbano sempre foi mais requisitado em questões de políticas sociais, mas tinha que se ter ações e transformações em curso não apenas a discernimento do campo, mas também a caracterização de políticas sociais e educacionais para dar conta da diversidade e das complicadas relações produzidas ao longo da história. A EDUCAÇÃO DO CAMPO E SEUS DESAFIOS A educação do campo encontra-se em construção, numa história marcada por disputas, conforme as contradições da realidade social onde ela se situa. Segundo Caldart (2008), a disputa na qual a Educação do Campo está envolvida é marcada pela busca de territórios concretos, isto é, a terra como comunidade de destino, como espaço para fazer a vida pela palavra e pela ação. Pelo espaço urbano ser sempre mais valorizado a educação do campo tem sido marginalizada na edificação de políticas públicas. Por preconceitos inúmeras vezes é analisada como política compensatória. Com todo seu histórico de exclusão, a educação para a população do campo é repassada a partir de discursos, identidades, perfis e currículos, marcados principalmente, por conceitos urbanos. Currículos geralmente deslocados das carências locais e regionais. 11 No âmbito das políticas públicas para educação do campo existem inúmeros problemas que precisam ser urgentemente encarados e resolvidos: 1) localização geográfica das escolas, em sua grande maioria, distantes da residência dos estudantes. 2) precariedade dos meios de transporte e das estradas. 3) baixa densidade populacional em alguns territórios rurais. 4) fechamento de milhares de escolas do campo na última década. 5) formação dos educadores/as e organização curricular. 6) pouquíssima oferta de vagas para os estudantes do campo nas series finais do ensino fundamental e médio. 7) poucos recursos utilizados na construção e manutenção das escolas do campo. 8) recuo da agricultura familiar e avanço do agronegócio. 9) utilização cada vez maior de agrotóxicos. 10) investimentos em sementes transgênicas, em detrimento das sementes crioulas. Diante deste cenário é possível perceber que, historicamente, as políticas públicas para a chamada “educação rural” estiveram vinculadas aos projetos conservadores e tradicionais de ruralidades para o país (SANTOS, p. 213). Esses paradigmas direcionam as políticas e práticas educativas efetuadas no meio rural. São agentes da exclusão social e educacional, contribuindo para a negação dos direitos, histórias, sonhos, gestos, religiosidades e identidade dos sujeitos. Autoridades do município de Serrinha-RN alegam que a falta de alunos no campo tem provocado o fechamento de várias escolas no município. Além disso, como forma de evitar mais gastos, os alunos das comunidades rurais se deslocam para estudar na cidade ou em escolas que foram nucleadas, e as que ainda existem funcionam como classes multisseriadas. Além de terem sido fechadas, várias escolas da zona rural foram derrubadas, espaços esses que poderiam ser utilizados pela comunidade para reuniõesou sede de associação, encontros religiosos e festejos da comunidade. O baixo número de estudantes na zona rural é resultado da falta de políticas públicas voltadas para a permanência daqueles que vivem no campo. Por não terem condições de sobreviver da agricultura, nem emprego e renda e nenhum tipo de incentivo por parte das autoridades municipais, muitas famílias acabam indo morar em cidades circunvizinhas ou em cidades em busca de uma vida melhor, contribuindo assim para a saída dos povos da zona rural existente no município. Neste cenário, as crianças e os jovens que ainda se encontram em sua comunidade rural são expostos a uma educação com classes multisseriadas, ou seja, encontram-se em um mesmo ambiente escolar um único professor ensinando a inúmeras turmas com alunos de diferentes idades. Sendo assim, professores e 12 alunos defrontam-se com várias problemáticas como a falta de infraestrutura, alimentação, formação continuada, recursos e materiais didáticos. Em vista disso, percebe-se o quanto é difícil ser criança e jovem no campo hoje, pois inúmeros são os desafios que estes experimentam nas suas comunidades. CARACTERIZAÇÃO E HISTÓRICO DA ESCOLA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO IV A Escola Núcleo Municipal de Educação do Campo Aureliano de Souza está localizada na comunidade Gois, zona rural do município de Serrinha/RN. CEP: 59258- 000, Fone: (84) 98757-1478. Foi fundada em setembro do ano de 2002, com o objetivo de atender as necessidades das pessoas da comunidade, ocupa uma área média estruturada em 01 prédio com um só pavimento. Atende a cento e noventa e sete (197) alunos da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, distribuídos em 02 turnos matutino e vespertino, sendo quatro turmas atendidas nos respectivos horários. Tendo como Diretora a Sra. Lúcia Alves Pereira; e Vice-diretora a Sra. Kateuza Jeane Ribeiro da Silva. Os professores têm articulado os conhecimentos socialmente produzidos com experiências dos alunos, de modo que estes possam aprender os conhecimentos científicos e aplicá-los em situações do cotidiano. Em relação aos estudantes deste educandário, todos estão regularmente matriculados são oriundos da comunidade e de outras comunidades circunvizinhas. Muitas das famílias sobrevivem do Bolsa Família – Programa Social (o programa busca garantir as famílias o direito as famílias o direito à alimentação e o acesso à educação e à saúde). Ou tiram sua renda da agricultura, a escolaridade média entre os pais dos alunos são o fundamental menor. É aí que a dimensão ética se articula com a estética, de modo estreito. Escola bonita não deve ser apenas um prédio limpo e bem planejado, mas um espaço no qual se intervém de maneira a favorecer sempre o aprendizado, fazendo com que as pessoas possam se sentir confortáveis e consigam reconhecê-lo como um lugar que lhes pertence. O ambiente escolar – como um espaço público no qual grande parte de nossas crianças e jovens passam seu tempo – é um dos lugares que permitem exercitar tal convívio. A estrutura física da escola, 13 assim como sua organização, manutenção e segurança, revela muito sobre a vida que ali se desenvolve” (MEC, 1996, p. 14). O trabalho educativo não se limita à sala de aula, mas, se a configuração desse ambiente for acolhedora, poderá contribuir para tornar mais prazeroso o trabalho que ali se faz. RELATO DA APLICAÇÃO DO PROJETO NA ESCOLA DO CAMPO O projeto foi aplicado na sexta-feira 26 de fevereiro de 2021, a aplicação ocorreu da seguinte forma chegando à escola as 13h, fui para a sala de aula esperar todos os alunos chegarem, primeiro momento me apresentei novamente a turma e comecei a aula seguindo a rotina da sala lendo os informes sobre o COVID-19 e explicando o motivo deles seguirem aquelas regras. Posteriormente iniciei uma conversa sobre como eles que descrevem a escola onde estudam, alguns disseram que é grande, outros falaram que era bonita e que gostavam de estudar ali. Levantei algumas hipóteses sobre outros tipos de escolas e se eles conheciam alguma, de princípio eles só conheciam a deles e da cidade, então mostrei por meio de imagens outros tipos de escolas como a quilombola e a indígena, expliquei que a escola que eles estudavam era uma escola do campo e a da cidade era urbana, sempre interagindo com eles. Após a conversa contei para as crianças a história (O RATO DO CAMPO E RATO DA CIDADE) quando acabei fiz alguns questionamentos sobre a história, “o 13 que vocês entenderam?” “O que a história quer nos passar?”. Depois dos questionamentos apliquei uma atividade referente a interpretação da história. Quando acabaram a atividade já era hora do lanche, atendendo as regras da escola saía de dois alunos por vez para lavar as mãos, pegar o lanche e retornar para sala de aula. As crianças não tem intervalo para não ter aglomerações, então após o lanche comecei um diálogo com eles a respeito da escola do campo e a urbana, e as crianças sempre participando da conversa, logo após passei outra atividade sobre o campo e cidade, onde seria observada as palavras dos quadros com suas respectivas faixas zona rural e zona urbana. Depois fazendo a correção no quadro com a ajuda de cada um. 14 Para encerrar a aula perguntei “Qual é a escola ideal para todos?” eles logo começaram a falar que seria a que tinha cadeiras, merenda, livros, etc. Expus para eles que uma escola precisava disso tudo e mais um pouco, precisava de respeito, de professores, de uma equipe, de amor entre outras coisas. Encerrei agradecendo a cada um e principalmente ao professor Marcos pelo carinho e receptividade, frisando que todos tinham um futuro brilhante pela frente era só se esforçarem e seguirem estudando. Tentando contornar os pontos negativos conseguimos oferecer aulas mais dialogadas e participativas, criando uma maior interação com os alunos e entre eles mesmos. Obteve realizar aulas que tivesse mais significativos para a realidade dos alunos, oferecendo a oportunidade de trabalhar com e reconhecer a realidade onde as mesmas convivem e passam o maior tempo. Ensinar que ajudar e apoiar os alunos a confrontar uma informação significativa e relevante no âmbito da relação que estabelecem com uma dada realidade, capacitando-o para reconstruir os significados atribuídos a essa realidade e a esse realizado (ANTUNES, 2007, p.30). Diante disso procuramos conhecer o processo desenvolvimento das crianças com as quais trabalhamos, estimulando a intervenção na sua zona de seu desenvolvimento, cativando os processos que foram favoráveis para as interações entre elas mesmas e dentre as crianças com os adultos. Desse modo, procurar compreender a criança na sua essência pode ser uma tarefa demorada mais proveitosa, uma vez que nessa fase surge o poder da imaginação, da fantasia, de criar inventar, do apoio e orientação dos professores e pais. A experiência do Estágio Supervisionado IV realizado no Núcleo Municipal de Educação no Campo Aureliano de Souza foi gratificante e de grande importância, de maneira que contribuiu para a prática pedagógica, pois foi possível colocar em prática todos os conhecimentos adquiridos durante o curso de pedagogia. Ao longo deste trabalho foram apoderados conceitos, aspectos, abordagens ações entre outras contribuições, observou-se principalmente como as escolas estão lidando com a Pandemia do COVID-19, toda cobrança, esforço, sobrecargas, para poderem dar uma aula com todo cuidado necessário, sempre pensando no bem dos alunos. Como toda escola a instituição tem pontos a serem melhorados como: a 15 coordenação ser mais ativa com os professores estabelecendo uma relação de parceria. FORMAÇÃO DE EDUCADORES DO CAMPO Ao defender uma proposta de formação diferenciada para os educadores, levando em consideração os aspectos culturais dos diversos grupos que serãosujeitos do processo formal de educação desenvolvido por estes professores, queremos com isso defender a ideia de igualdade e não, de dominação de um grupo sobre o outro. Em se tratando de Educação do Campo falar de uma formação docente diferenciada significa pensar em uma proposta que ajude a superar o estereótipo que acompanha a representação que se faz desse espaço. Ademais, na formação de professores, é primordial criar circunstancias para que o futuro profissional analise sobre os problemas sociais, mas também é significativo que ele seja capaz de sugerir alternativas para a sociedade, incrementando atividades de ensino que possibilitem aos alunos entender a construção de sua identidade cultural e os procedimentos socioculturais, chamando o interesse para o risco da homogeneização. Por Educação do Campo percebe-se uma educação específica e diferenciada, uma educação no sentido de vasto processo de constituição humana que compõe referências culturais e políticas para a interferência da população e dos sujeitos sociais na vivencia. No campo, há uma pluralidade de experiências com significados muito distintos e faz-se crucial refletir sobre esses significados (ARROYO, 2004). As comunidades do campo veem a educação mais á frente da escola, como maquinaria de novas formas de relações, diferentes das vivenciadas na vigente sociedade. Para as mobilidades do campo, a educação destaca-se como um relevante instrumento de luta pela terra e pela transformação social. A ausência de política de formação que contemple as especificidades do modo de vida no campo tem influenciado diretamente no cotidiano da sala de aula como também no processo de construção da identidade do estudante camponês. De acordo com os relatos dos professores, uma das dificuldades de desenvolver um trabalho diferenciado nas escolas do campo está relacionado à ausência de conhecimento sobre esse espaço. É preciso que os cursos de formação inicial e continuada leve em consideração os aspectos sociais e culturais, afim de que esses 16 educadores possam torna-se capazes de desenvolver uma prática pedagógica que ajude as classes trabalhadoras e desprivilegiadas construir uma proposta contra hegemônica de sociedade. Essa orientação dirigir-se ao encontro à expectativa de se reconsiderar os cursos de formação, instituídos em contextos diferentes, de modo que venham a apontar os professores para que sejam habilitados a desenvolver pedagogias contra hegemônicas e que possam consolidar os educandos das escolas do campo ao dar- lhes o conhecimento primordial para conseguirem agir como agentes críticos e renovadores da realidade, pois, como bem argumenta Freire (1997), a escola não transforma a realidade, mas pode ajudar a formar os sujeitos capazes de fazer a mudança da sociedade, do mundo, de si mesmos. CONQUISTAS E RECONHECIMENTOS DA EDUCAÇÃO NO CAMPO A educação do campo não surge no vazio, nem tão pouco, de iniciativas das políticas públicas verticais. Ela emerge dos movimentos sociais, da mobilização dos trabalhadores do campo da "luta" social. A educação do campo é, portanto, fruto da organização coletiva dos trabalhadores perante a precarização do trabalho e da ausência de condições de sobrevivência para todos no campo. A partir da década de 1980, no Brasil o Movimento dos Trabalhadores e Sem- Terra (MST) tornar-se o mais forte movimento social do campo e um dos mais atuantes na história das transformações sociais. A educação é um dos seus principais eixos de ação, pois está se constituiu como uma necessidade no processo de construção e reconstrução do movimento. Segundo Arroyo, a relação que o MST estabelece com a educação remete a outros momentos da história. Como afirma o autor: Penso em um dos capítulos tão fecundos na história da educação latino-americana: a educação popular e o pensamento de Paulo Freire. Eles nasceram colados à terra e foram cultivados em contato estreito com os camponeses, com suas redes de socialização, de reinvenção da vida e da cultura. Nasceram percebendo que o povo do campo tem também seu saber, seus mestres e sua sabedoria (ARROYO, 2000, p. 14). 17 A menção à Educação do Campo nos discursos educacionais só veio a se fazer presente após a Constituição de 1988, através da voz dos movimentos sociais, dentre eles o MST. Isso, durante o encontro Nacional de Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (ENERA). Nesse contexto, as universidades passaram a ter novos olhares para essa conjuntura, com destaque para educação que se desenhava nos assentamentos rurais, passando a “a ver o campo como parte do mundo e não como aquilo que sobra além das cidades” (FERNANDES, 2002, p. 62). Portanto nos anos 1990 esse cenário educacional inicia a dar sinais de mudança, pois movimentos sociais e sindicais inicializaram a pressionar de forma mais planejada à construção de políticas públicas para os cidadãos do campo, procurando assegurar à universalização do ensino, bem como a edificação de propostas pedagógicas que considerassem esta realidade, as maneiras de produzir, de lidar com a terra, de viver e conviver dos povos do campo. Essa realidade encontra-se refletida na realização da Conferência Nacional Por Uma Educação do Campo na qual Fernandes (2002) aponta a influência dos sem-terra, no sentido de levarem os camponeses, quilombolas e indígenas e pensarem suas diferenças e saberes, no processo de construção de práticas pedagógicas de educação popular, com bases numa educação que tivesse uma escola do campo e não no campo. POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO CAMPO Um marco no cenário educacional na década de 1990 foi a LDB 9394/96, que trouxe uma nova normatização para a educação. A LDB foi de significativa relevância para a educação do Campo, pois foi a partir do Artigo 28, propondo adequação da escola à vida do campo, que foi embasado o Parecer n° 36/2001, tendo-se assim a aprovação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, num processo que resgata as mesmas da sua condição periférica no sistema nacional de educação (SILVA, 2002). O Artigo 28 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, instituída em 1996, nos incisos de I a III, trata dos conteúdos curriculares, bem como das metodologias apropriadas às necessidades e aos interesses dos alunos do campo, tendo em vista a organização do espaço e do tempo pedagógico, considerando a adequação do calendário escolar ao calendário de produção das comunidades rurais. 18 Já o Artigo 3° das Resoluções n° 01 e 02 de 2002 e 2008, trata da obrigatoriedade do Estado em garantir a universalização do acesso da população campesina a educação básica, reafirmamos os artigos 205, 23, 26 e 28 contidos respectivamente, na Carta Magna Brasileira de 1988 e na lei 9394/96 (MOLINA, 2012). No entanto, apenas em novembro de 2002, realização do Seminário Nacional de Educação do Campo, realizado em Brasília (DF), passa a se concretizar a expressão Educação do Campo, que envolve em torno de si os sujeitos e instituições, conceitos, demandas por políticas públicas, assim como os debates, relacionados à educação dos sujeitos do campo brasileiro. Nos primeiros anos da década de 2000, se desencadeiam várias ações na área da Educação do Campo. Destacam-se entre estas, a criação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, em 2002 e em 2003 a criação do Grupo Permanente de Trabalho da Educação do Campo. Em 2004 foi instituída a Secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECADI), da Coordenação Geral de Educação do Campo no Ministério da Educação. No mesmo ano foi organizada a II Conferência Nacional por uma Educação, com o objetivo de discutir a efetivação de políticas públicas para a Educação do Campo. Nestes últimos dez ano, muito se tem feito pela efetivação da Educação do Campo e pela construçãodo seu conceito, porém, sabemos que apesar das inúmeras regulamentações, leis e decretos criados, ainda precisamos analisar, discutir e refletir sobre essa concepção de educação, pois as políticas públicas estabelecidas até o momento, não são suficientes para atender a pluralidade e as necessidades dessa área tão abrangente que é a Educação do Campo. Concordamos com Fernandes (2002), compreendemos que a aprovação das Diretrizes representou um importante avanço no processo de construção da afirmação da Educação do Campo, na medida em que se reconheceu a sua legitimidade e foram delineadas as suas perspectivas norteadoras. O desafio doravante passa a ser a sua implementação. 19 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar de alguns avanços, a educação formal do campo ainda precisa avançar muito mais. São vários os indícios, alguns dos quais foram considerados no presente artigo, que demostram o domínio, superioridade do urbano sobre o rural. A implementação de políticas educacionais, efetivação das diretrizes, a formação dos professores, as políticas de nucleação, as políticas socio educacionais são alguns desses aspectos. Os avanços nas políticas enfrentam esses desafios ao reconhecer o campo como um espaço sociocultural com características próprias, com um povo que merece ser valorizado principalmente a sua cultura, sua realidade para que não haja essa predominância do urbano sobre o rural. Pensar em uma proposta de formação docente para escolas do campo implica na necessidade de realizar uma série de mudanças no modelo de educação que estamos acostumados a estudar e a ouvir falar. Implica dentre outras questões, repensar a proposta de formação que tem sido oferecida aos professores que trabalham em escolas do campo. Sendo ela na atualidade como uma formação propicia ao meio urbano e não ao rural. Os educadores precisam estar preparados para que, conjuntamente com a disponibilidade de materiais didático-pedagógicos adequados, seja possível transformar a escola num espaço democrático e de cidadania. Trabalhando sua realidade, sua cultura, que a muito tempo vem sendo marginalizadas por elites que rotulam como algo escasso. É importante destacar que a formulação das políticas é um passo inicial. Esse passo já foi dado, pelo menos em linhas gerais. O desafio é passar do plano da formulação para prática e o aprofundamento de experiências. Ao lado desta extensão estruturante, há outra também relevante para oportunizar a permanência na escola: a ampliação da oferta de vagas nos anos finais do ensino fundamental, e, especialmente, no nível médio para os jovens da zona rural. Por conseguinte, estender a oferta da educação escolar em locais e condições acessíveis aos jovens é condição primordial para enfrentar o desafio de garantir o direito à escolarização para os sujeitos do campo. Ao finalizar o presente artigo, sai consolidada a convicção de que a educação do campo, na forma como está composta do ponto de vista legal, retrata um avanço político momentoso, mas apresenta imensos desafios do ponto de vista prático e 20 pedagógico. Porém, muitos são os desafios. Nada obstante das conquistas em marcos legais e em práticas em movimento, enfrenta-se também um grave seguimento de fechamento das escolas do campo. Coincidentemente em que se conquistam avanços que garantem legitimidade para experiências modernas em curso, em diversos locais, simultaneamente, se reduz cada vez mais o número de escolas no meio rural. Pode-se identificar uma série de ações nesse sentido, porém o caminho a ser vencido ainda é longo e cheio de obstáculos e, vencê-los não depende só da ação da Secretária Municipal de Educação ou da boa vontade dos educadores, ao contrário é preciso que essa ação seja conjunta incluindo também os sujeitos do campo que serão usuários dessa escola, onde todos se comprometam com a construção de uma educação que como diz Freire sirva para “desenevoar” os sujeitos. Faz-se necessário materializar políticas e ações para a educação do campo que sejam realmente concretizadas e perspicazes nas inúmeras localidades desse território nacional. À medida que se eleva a consciência do povo sobre seus direitos, novas políticas públicas são exigidas e, assim, se justifica o fato de serem os movimentos sociais os mais engajados nessa luta, uma vez que “são esses movimentos os grandes educadores coletivos da nova consciência política dos direitos” (ARROYO, 2004, p.60). Consideramos que a luta por uma educação do campo deve ir além do prescreve a Constituição de 1988, a LDB, Lei 9.394/96, o Pronera, as Diretrizes Operacionais. Essa peleja deve se constituir fundamentalmente pelos atores que nela estão envolvidos através de suas práticas educativas cotidianas, suas experiências e reais necessidades. Com base na discussão feita no presente artigo, a partir da bibliografia e do estágio, fica evidente que não se pode falar em educação do campo sem a presença e realidade da escola no campo. Municípios, Estados e União precisam se integrar melhor para implantar parâmetros necessárias para potencializar o uso dos recursos públicos e, principalmente, para construir habilidades que sejam capazes de considerar as especificidades da vida no campo, sobretudo, ao considerar estas condições, garantir o direito à educação aos sujeitos do campo, onde essa educação não seja mais considerada “compensatória”, mas sim uma educação que os representes em seu local de vivencia, sem essa comparação com o urbano. 21 REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. Professores e professauros: Reflexões sobre a aula e práticas pedagógicas diversas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. ARROYO, Miguel González. A escola do campo e a pesquisa do campo: metas. In: MOLINA, M. C. Educação do Campo e Pesquisa: questões para reflexão. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2006. p. 103-116. ARROYO, M. G.; CALDART, R. S.; MOLINA, M. C. (Orgs.). Por uma educação do campo. 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