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CURSO DE PEDAGOGIA EDUCAÇÃO DO CAMPO: DESAFIOS, POSSIBILIDADES E REALIDADES NO CAMPO. MANAUS 2016 KEILA CALIXTO DA ENCARNAÇÃO MARIA KEILA CARDOSO DE ANDRADE EDUCAÇÃO DO CAMPO: DESAFIOS, POSSIBILIDADES E REALIDADES NO CAMPO Artigo Científico apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Pedagogia, pela Faculdade Metropolitana de Manaus – FAMETRO. Orientadora: Profª MSc Rosa Eulália Vital da Silva Manaus 2016 2 EDUCAÇÃO DO CAMPO: DESAFIOS, POSSIBILIDADES E REALIDADES NO CAMPO Keila Calixto da Encarnação1 Maria Keila Cardoso de Andrade 2 Rosa Eulália Vital da Silva3 RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar como o educador tem se preparado para enfrentar as dificuldades da Educação no Campo, na escola e do homem rural, seu contexto, sua dimensão como cidadão participante dos direitos. E pensar como os professores estão sendo preparados para esse cenário educacional. Para isso, o texto estrutura-se em três partes: uma primeira identifica os desafios enfrentados pelos professores na Educação do Campo. O segundo Apresentar Políticas Públicas, para a Educação do Campo, sem políticas públicas é impossível ter direitos assegurados, e uma educação de qualidade para o povo do campo. A terceira parte fala da pratica pedagógica, ou seja, Evidenciar a Prática Pedagógica do Professor da Educação do Campo. PALAVRAS CHAVE: Educação do Campo, Políticas Públicas, Práticas Pedagógicas. ABSTRACT: This article aims to analyze how the educator must be prepared to face the difficulties of education in the field, therefore, think of rural education today is to think in school and in rural man, its context, its size and the rights participating citizen. Also, it is important to think about how teachers are prepared for this new educational setting for this, the text is divided into three parts: A first identify the challenges faced by teachers in education field. The second present laws and policies that favor such education, in which no public policy is impossible to have rights and one quality education for the people of the field. The third part speaks of teaching practice, ie to show how the educator in the field of education exerts its pedagogical practice. KEYWORDS: Field Education, Public Policies, Pedagogical Practices. 1 INTRODUÇÃO O referente artigo tem como tema “Educação do campo: desafios, possibilidades e realidades no campo”, buscamos primeiramente distinguir Educação do campo de Educação rural, pois apesar de estarem interligas, há diferenças que serão exploradas. Apresentamos, também, os desafios enfrentados pelo professor na educação do campo. Entre os desafios enfrentados estão às classes multisseriadas, os alunos matriculados na unidade escolar, independente dos níveis de aprendizagem, encontra-se na mesma sala, com um único professor, sendo responsável pela estruturação por série, ano e ciclo. 1 Acadêmica do 8º período, do Curso de Pedagogia, da Faculdade Metropolitana de Manaus. 2 Acadêmica do 8º período, do Curso de Pedagogia, da Faculdade Metropolitana de Manaus. 3 Professora Mestra, do Curso de Pedagogia, da Faculdade Metropolitana de Manaus. 3 Outro desafio enfrentado pelos mesmos se refere à falta de recursos pedagógicos, os quais nem sempre a escola disponibiliza, enquanto isso os professores precisam utilizar os poucos recursos existentes. Um terceiro desafio a ser enfrentado, se trata da formação dos professores para o campo, pois não estão preparados para enfrentar a realidade com a qual se deparam. Essas evidências demonstram que a formação do educador e da educadora do campo é elemento chave para a construção de uma educação de qualidade, e o último desafio a ser apontado é o transporte escolar, pois com a falta do mesmo acabam prejudicando professores e alunos. Na segunda seção apresentamos políticas públicas da educação do campo, pois através destas configura como demanda relativa à garantia do direito a educação para os trabalhadores do campo. Na terceira seção será abordada a prática pedagógica do professor da educação do campo. Pensar em Educação no Campo, desafios, possibilidades e realidade no campo, é pensar na cultura que deve ser resgatada, pois, a mesma está se perdendo por encontrar dificuldades no processo de ensino aprendizagem. Sendo assim procurou-se conhecer os desafios, possibilidades e realidades vivida por esse povo, tendo como objetivo principal mostrar como o educador se prepara para enfrentar os desafios da educação no campo. Este artigo caracteriza-se de cunho bibliográfico, embasado em teóricos como Miguel Arroyo, Molina e Caldart, dentre outros que defendem a ideia de uma educação de qualidade aos alunos da área campesina, em suas bibliografias buscam sensibilizar os responsáveis gerais a pensar com mais respeito em levar apoio educacional favorável às escolas do campo. 2 DESAFIOS ENFRENTADOS PELO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO DO CAMPO Para entendermos a educação no campo, é importante primeiramente fazer uma distinção do que seja educação rural e educação no campo. Conforme o dicionário da educação no campo (CALDART et al., 2012, p. 295) há algumas diferenças entre as mesmas, pois, educação rural se destina a população agrícola constituída por todas aquelas pessoas para os quais a agricultura representa o principal meio de sustento. Trata-se dos camponeses, daqueles que residem e trabalham nas zonas rurais e recebem os menores rendimentos por seu trabalho, 4 portanto a educação rural é responsável por formar o aluno em agricultor voltado um modo de ser. (Souza, 2006, p.16) ressalta que: “A Educação do Campo nasceu em contraposição à Educação Rural. O que a Educação Rural não fez durante quase um século. A Educação do Campo fez em uma década”. Na mesma obra, o autor afirma que: A Educação Rural nasceu da cabeça dos ruralistas como forma de subordinar os camponeses, de reservar a eles um controlado espaço nas polititicas de educação para “civilizar” e manter a subordinação. Assim por quase um século, a Educação Rural não promoveu políticas autênticas, não propôs o desenvolvimento educacional do campesinato. Já educação no campo nomeia como um fenômeno da realidade brasileira atual, protagonizado pelos trabalhadores do campo e suas organizações, q ue visa incidir sobre a política de educação desde os interesses sociais da comunidade camponesa, sendo responsáveis por levar ensino, recursos ou técnicas ao campo (CALDART et. al. 2012, p. 259). Assim o termo Educação no Campo foi cunhado na preocupação de construir um espaço teórico que se diferenciasse da Educação rural, que vinha e vem marcada como educação hegemônica da classe dominante. (Mançano, Arroyo, Caldart, Molina, 2004, p.142), sobre esta questão, afirma que: “Não basta ter escolas no campo, queremos ajudar a construir escolas do campo, ou seja, escolas com projeto-político-pedagógico vinculado às causas, aos desafios, aos sonhos, à história e à cultura do povo trabalhador do campo”. Freire (1982) também afirma que: Ao contrario da educação do campo, a educação rural sempre foi instituída pelos organismos oficiais e teve como propósito a escolarização como instrumento de adaptação do homem ao produtivismo e à idealização de um mundo do trabalho urbano, tendo sido um elemento que contribuiu ideologicamente para provocar a saída dos sujeitos do campo para se tornarem operários na cidade. A educação rural desempenhou o papel de inserir os sujeitos do campo na cultura capitalista urbana, tendo um caráter marcadamente “colonizador”. Contudo podemos refletir quepara se chegar ao conceito de educação no campo perpassa por vários momentos e mudanças, e agora se pode dizer que o surgimento da expressão “Educação do Campo”, nasceu primeiro como educação básica do campo no contexto da preparação da I Conferencia Nacional por uma educação do campo, realizada em Luziânia, Goiás, de 27 a 31 de junho 1998. Só 5 passou a ser chamada educação do campo a partir das discussões do seminário nacional realizada em Brasília de 26 a 29 de novembro 2002. As discussões de preparação da I Conferência iniciaram-se em agosto de 1997, logo após o I Encontro Nacional dos Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (Enera), realizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em julho daquele ano, com todos esses eventos desafiaram ainda mais a levantar uma discussão mais ampla sobre educação no meio rural brasileiro. Então depois desses movimentos e manifestações dos povos camponeses, a educação rural passa a ser educação do campo. Para Kolling, Nery e Molina (1999, p.26), Utiliza-se a expressão campo, e não mais meio rural, como o objetivo de incluir no processo de conferência uma reflexão sobre o sentido atual do trabalho camponês e das lutas sociais e culturais dos grupos que hoje tentam garantir a sobrevivência desse trabalho. Mas, quando se discutir a educação do campo, se estará tratando que se volta ao conjunto dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo, sejam os camponeses, incluindo os quilombolas, sejam as nações indígenas, sejam os diversos tipos de assalariados vinculados à vida e a trabalho no campo. De acordo com Caldar et. al. (2012, p. 263/267), a educação no campo como é uma prática social ainda em processo de constituição histórica, tem algumas características que podem ser destacadas para identificar, em síntese, sua novidade ou a consciência de mudança que seu nome expressa, pois, constitui-se como luta social pelo acesso dos trabalhadores do campo à educação (e não a qualquer educação) feita por eles mesmos e não apenas em seu nome. Assume a dimensão de pressão coletiva por políticas públicas mais abrangentes ou mesmo de embate entre diferentes lógicas de formulação e de implementação da política educacional brasileira. Conforme Caldart (2011, p.148) Educação do campo nasce das lutas sociais pelo direito à educação, configurada desde a realidade da luta pela terra, pelo trabalho, pela igualdade social, por condições de uma vida digna de seres humanos, contexto de uma sociedade capitalista, com as características especificas que assume a formação histórico-social brasileira. A educação do campo tem um padrão, uma categoria, e que vem sendo construída quando os movimentos sociais e sindicatos do campo em mobilização e 6 através de protestos criaram a Articulação Nacional por uma Educação do campo, para que viesse atender e que se identificassem com os sujeitos do campo, alguns estudiosos, como Caldart (2011) que demonstram as conquistas e os desafios na construção da pedagogia do MST; Arroyo que mostra uma pedagogia que vai além da escola, que é organizada através dos movimentos sociais, e na pratica social, se juntaram com outros movimentos conseguiram, então, inserir a educação do campo. Segundo Molina (2011, p.107): Educação do Campo não é somente um projeto educativo, uma modalidade de ensino, ela é uma perspectiva de transformação social, um horizonte de mudanças nas relações sociais não só no campo, mas na sociedade brasileira, projetada pelos sujeitos coletivos de direitos que a protagonizam. Molina (2011), afirma também que “Campo é o espaço/território de luta dos trabalhadores rurais, configura-se como dimensão central dessa tríade constituindo- se na especificidade e novidade da educação do campo”. Os sujeitos do campo lutam e se organizam no sentido de se construi r uma determinada compreensão de educação e de processos formativos que estão diretamente ligados às condições sociais da própria produção de sua força de trabalho a partir da relação com a terra, que nos faz refletir como um ponto central da discussão da educação do Campo. Então se pode dizer que são as condições materiais de vida e o trabalho no campo que compõem a identidade dessa educação. Para Caldart (2004, p.149) Uma identidade marcada pela “luta do povo do campo por políticas públicas que garantam o seu direito a uma educação que seja no e do campo”. Ainda, que as políticas públicas garantam o direito, reconheça e valorize o profissional da educação que atue na área do campo. Todavia precisa-se de uma educação que atenda e garanta o direito a um ensino de qualidade e contextualizado para formar a realidade do espaço em que esses sujeitos estão inseridos, para uma melhor qualidade de vida, um ótimo resultado na aprendizagem, pois há o desafio de se construir um grande movimento em torno da educação no campo, deve-se observar que a escola, ela é um espaço de transformação e precisa ter uma valorização maior do que historicamente tem, e mediante os inúmeros problemas, como classes multisseriadas, transporte escolar, falta de recursos pedagógicos, falta de energia, período da seca e da cheia. 7 Segundo Rocha, Almeida e Martins (2012, p.15). Enxergamos diversos problemas; entretanto, lá no horizonte, vislumbramos as soluções, porém elas não estão nítidas, e, quanto mais caminhamos pela vastidão dos desafios, igualmente, as soluções se distanciam, segundo a linha do horizonte. Em nosso caminhar adentramos os campos dos desafios e plantamos resistências, persistências, esperanças e superações. O professor precisa também entender que durante sua trajetória deve lidar com alunos de variadas características, como os desinteressados, desmotivados, preocupados, irresponsáveis, tímidos, distraídos, impacientes, e etc. deve, contudo saber instigar a curiosidade de cada um deles, motivá-los para que suas turmas tenham maior encorajamento na realização de atividades e participação durante as aulas. Percebe-se então que muita das vezes se torna um desafio, pois, exige do professor uma postura diferenciada, diferente daquela do passado, devido às mudanças, ele deve estar atualizado e preparado para enfrentar os diversos problemas encontrados no seu dia a dia. Para se construir uma educação de qualidade para o campo, faz-se necessário que haja políticas, uma educação que atenda e garanta o direito a um ensino de qualidade e contextualizado para formar cidadãos que sejam capazes de transformar a realidade do espaço em que estão inseridos, para uma melhor qualidade de vida. A Educação do Campo, enquanto modalidade da educação básica brasileira caracteriza-se por diferentes formas de organizações metodológicas e de gestão das escolas, e, neste contexto, a pedagogia da alternância é reconhecida no âmbito da prática pedagógica, como uma forma apropriada de organização para as escolas do campo. A pedagogia da alternância é uma forma de organização escolar, que dialoga, sobretudo, com a realidade camponesa, onde os alunos alternam períodos de aprendizagens no espaço familiar e escolar. A Educação é, como outros, uma fração de modo de vida dos grupos sociais, que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, e em sua sociedade. Conforme (Arroyo, Caldart, Molina 2011, p. 104), Ela brota do desejo de não cortar raízes. É uma das pedagogias produzidas em experiências de escola do campo em que o MST se inspirou. Busca 8 integrar a escola com a família e a comunidade do educando. Permitindo uma troca de conhecimentos e fortalecimentos dos laços familiares e do vínculo dos educando com o assentamento ou acampamento, o MST e a terra. O Brasil possui mais de 70 mil escolas públicas localizadas nas zonas rurais, é o que aponta o senso escolarrealizado em 2013, e nessas escolas de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o sistema de ensino deve ser adequado às peculiaridades da vida rural, assegurando conteúdo e metodologias adaptados aos interesses da população do campo, no entanto essa é uma realidade distante, os alunos que estudam nas escolas do campo necessitam de uma forma de ensino diferenciada, sendo assim os educadores enfrentam alguns desafios quando começam a lecionar nas escolas do campo como a falta de recursos financeiros e pedagógicos, professores especializados e transporte público de qualidade, e um dos primeiro desafios a ser pontuado são as classes multisseriadas. 2.1 Classes multisseriadas Os desafios são diários, ou seja, é uma realidade que caracteriza as classes multisseriadas de forma geral, pois quando se fala nessa organização de ensino, sabe-se que é uma realidade visível que contribui muito pra desestruturação das escolas da área rural. Muitas das vezes não se tem uma boa aprendizagem, a criança finge que aprende e o professor finge que ensina, pois são alunos de idade e séries diferentes em uma mesma sala, com um único professor para atendê-los, no entanto outros fatores contribuem muito para que essa aprendizagem não seja de qualidade, tais como a estrutura física da escola, o ambiente muitas das vezes não é favorável, e o professor não está preparado para enfrentar essas situações, prejudicando ainda mais o ensino dessas crianças. Segundo Toledo (2005, p.6). Essa realidade tem gerado ao longo dos anos, a situação de precariedade em que viveu e ainda vive a escola do campo, seja em relação à estrutura física, seja pelo insuficiente grau de formação dos professores. Constituída essencialmente por sala multisseriada ou unidocente, essa escola se caracteriza por possuir uma sala e ter um só professor que ministra aulas para quatro séries iniciais do Ensino Fundamental e no mesmo local e ao mesmo tempo. 9 No entanto o professor precisa se desdobrar pra fazer um bom planejamento, e por ter tantos alunos e em séries diferentes, isso acaba prejudicando o processo de ensino. O planejamento precisa ser adaptado para trabalhar todas às séries, e na maioria das vezes ele tem quer ser o professor, o servente, o médico, psicólogo. De acordo com Ferri (1994, p. 67), ao pesquisar as classes multisseriadas nas áreas rurais, apresentam algumas limitações que os professores afirmam ter ao lecionarem em classes multisseriadas. São elas: O professor sente solidão e está, de fato, isolado; Há dificuldades de atendimento individual aos alunos; As crianças têm dificuldades em se adaptarem a 5ª serie; O professor acumula cargos: é também merendeiro, faxineiro, diretor, secretário; Existem dificuldades de acesso ao material didático e às bibliotecas; Atender quatro serie ao mesmo tempo é muito trabalhoso; As crianças da 1ª série, no processo de alfabetização, são muito prejudicadas, pois não têm a atenção de que necessitam; Planejar para quatro series, fazer quatro planos por dia é demais; A aprendizagem das crianças parece mais lenta, porque é muito dificultada pelo contexto em que elas vivem. Elas quase não têm acesso a livros, quase nunca saem da comunidade; O professor, que não mora na comunidade, não tem tempo de conhecer melhor a comunidade e seus alunos. Por isso, as classes multisseriadas são um grande desafio a ser superado, não apenas pelo o professor, mas por políticas públicas que garanta o direito fundamental a educação. O que impõe a necessária articulação dos movimentos sociais em exigir que se cumpra tal preceito constitucional. Isso é um direito que deve ser garantido aos alunos do campo, pois conforme a LDB – Lei nº 9394/96, em seu Art. 28 determina que: Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias a sua adequação as peculiaridades da vida rural de cada região, especialmente: I- Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas as reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural. II- Organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar as fases. III- Adequação a natureza do trabalho na zona rural. A lei ampara, porém muitas das vezes não acontece, permanecem somente no papel, mais propõe medidas de adequação da organização escola, das propostas metodológicas e curriculares a vida do campo. Porém mesmo assim se torna um desafio para qualquer professor ministrar aulas nessas classes. 10 Em relação aos sofrimentos por professores se pode observar que são inúmeras situações ocorrentes no cotidiano do mesmo, isto é, necessitam de mais atenção para que se possa desenvolver um ensino de qualidade, não basta ter só o professor na escola, se os responsáveis legais não oferecem aos alunos e docentes condições ao desenvolvimento de uma educação de qualidade. 2.2 Recursos pedagógicos De acordo com Vieira (2008, p.15) Os recursos pedagógicos são ferramentas utilizadas pelo professor para facilitar o processo ensino-aprendizagem, eles podem ser os mais simples como o pincel, a as atividades docentes, são os sustentos, pagador ou os mais sofisticados como computador, data show, câmera digital, e a capacidade que esses recursos têm de despertar e estimular os mecanismos sensoriais, principalmente os audiovisuais, faz com que o aluno desenvolva sua criatividade tornando-se ativamente participante de construção cognitiva e que a utilização de recursos consiste em uma mudança que abrange desde o próprio uso como também a postura do professor em abandonar práticas tradicionais que não se enquadram nos novos padrões educacionais. Porquanto com os recursos apropriados faz com que haja um maior número de alunos possa assimilar o conhecimento, dessa forma, quanto maior a diversidade de recursos, melhor é a aprendizagem. O professor tem se deparado com inúmeros problemas e um deles é também a falta desses recursos que é extremamente precária para o desenvolvimento da prática educativa, pois se sabem que os recursos pedagógicos são imprescindíveis para a culminância da prática pedagógica que abarca a linguagem verbal, não verbal, formas, cores, sensações com grande poder de transformar a aula em uma atividade prazerosa e menos rotineira quando se deixa de lado um pouco de recepção de conteúdos decorados e se parte para a síntese, abstração mediante elementos concretos e o raciocínio lógico das crianças. Não podemos esquecer que, mediante aos recursos, é possível que o aluno se torne mais próximo da realidade que estava distante de sua compreensão sobre a existência de vários recursos pedagógicos, embora, nem sempre a escola disponibiliza, pois para chegar às escolas ribeirinhas precisam passar por um longo processo. Enquanto isso os professores precisam uti lizar os poucos recursos que existe na escola, mais pensando por outro lado, existem os recursos naturais que fazem parte do cotidiano do aluno do campo, onde o professor poderá esta 11 trabalhando com vários objetos extraídos da natureza, podendo assim ajudar ainda mais o aluno no seu processo de aprendizagem. 2.3 Formação dos professores A formação dos professores é um campo muito amplo, assume dois modelos, a formação inicial e continuada. A inicial vem ao encontro das primeiras necessidades dos ingressantes em educação, e dos que almejam seguir nessa área, pois sabemos da sua flexibilidade e do vasto caminho que abrange, prioriza pelos conhecimentos básicos, por isso é a base, esses conhecimentos adquiridos pelos professores, são fortalecidos pela busca constante de coletar informações e transformá-las em conhecimentos e, estes, em experiência. A contribuição de Nóvoa (1992, p.18) entendemos que “a formação do professoré o momento-chave da socialização e da configuração profissional”. E nesse processo, compreendemos a formação inicial como momento ímpar para o desenvolvimento científico, cultural, social e pedagógico do professor (VEIGA, 2002). Desenvolvimento esse que, no caso do educador do campo ao seguir o pensamento de Arroyo (1999) apreendemos que precisa estar articulado e sintonizado com as matrizes culturais do campo. Para Gatti, Barretto e André (2011, p. 89), A formação inicial de professores tem importância ímpar, uma vez que cria as bases sobre as quais esse profissional vem a ter condições de exercer a atividade educativa na escola com as crianças e os jovens que aí adentram, como também, as bases de sua profissionalidade e da constituição de sua profissionalização. Veiga e Viana (2010, p. 19) compreendem “não é possível pensar e construir uma proposta formativa sem ter por base a clara concepção de formação e seus princípios fundantes”. Para pensarmos a fo rmação do educador do campo adotamos neste estudo a concepção de formação humana, por compreender a formação como um processo recíproco, de troca, de relações, coadunando assim com o pensamento de Freire (1996, p. 23) quando assegura que “quem forma se forma e reforma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado”. A formação docente como formação humana, no entendimento de Veiga e Viana (2010) envolve os seguintes princípios: 12 a) A prática é o ponto de partida e de chegada do processo de formação; b) A formação deve preparar o professor para a atualidade, isso envolve conhecer os conflitos e contradições que embasam a educação e a sociedade; c) a formação deve integrar-se ao processo de desenvolvimento da escola, isso reforça a ideia de Nóvoa (1992) quando enfatiza que a formação não deve se dar alheia ao território de atuação do educador; d) A formação deve ser entendida em seu contexto histórico. Os princípios em destaque nos permitem dizer que a concepção de formação humana é fundamental para pensarmos na construção da educação e da escola do campo. A formação humana contrapõe-se a ideia da fragmentação, da dicotomia entre teoria e prática, uma vez que valoriza a prática social coletiva e a formação como ação emancipatória e democrática (VEIGA; VIANA, 2010). Com isso defendemos um processo formativo inicial que possibilite ao educador do campo intervir e participar criticamente na produção do conhecimento. Ao referirmos à realidade do campo, nos indagamos que saberes devem permeia na perspectiva de Nóvoa (1992) a formação não se dissocia do saber e nem pode ser alheia ao território de atuação profissional, que é a escola. Essa não pode mudar sem o empenho dos educadores e educando, igualmente, esses não podem mudar sem a transformação das instituições. A mudança na formação dos educadores tem de estar articulada com a mudança de escola e projeto de sociedade. Esse entendimento nos ajuda a afirmar que a formação do educador do campo não pode se dar alheia à realidade da escola do campo em toda sua estrutura, que vai muito além do espaço físico. Trata-se de um território de cidadania e formação humana. Daí compartilhar do pensamento de Caldart (2000, p. 50) quando afirma que “olhar a escola como um lugar da formação humana significa dar-se conta de que todos os detalhes que compõem o seu dia a dia estão vinculadas a um projeto de ser humano, estão ajudando a humanizar ou desumanizar”. Com base nos autores acima evidenciamos que, a formação docente carece de um currículo que valorize também os saberes da experiência e da vivência tanto dos educando como dos educadores na relação com o contexto, neste caso, o campo. De acordo com Arroyo (2011, p. 128) “os currículos e seus conhecimentos para serem interessantes e instigantes têm de ser traduzíveis em experiências”. O 13 que não tem acontecido nos curso de formação docente, no âmbito das licenciaturas conforme relata Jesus (2010, p. 410), Os currículos oficiais dos cursos de licenciatura não têm destacado as questões pertinentes aos conhecimentos e práticas sociais oriundas do meio rural. São currículos que privilegiam conteúdos, ricos na sua especificidade, mas pouco sensíveis ao atendimento das reais necessidades de conhecimento e cultura dos diversos grupos étnicos como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e trabalhadores da agricultura, que historicamente foram excluídos como capazes de pensar e de agir. Essa constatação é corroborada por Arroyo (2011, p. 83) quando explica que “um dos conhecimentos não reconhecidos nos currículos de formação é aquele produzido nas experiências da docência, do trabalho docente, o que leva ao não reconhecimento dos professores como sujeitos de conhecimentos”. Além disso, esse currículo também não leva em conta os conhecimentos dos educando produzidos na relação com a família, com o trabalho, com a vida na comunidade. Essas expressões nos forçam a afirmar: enquanto a formação do educador se fizer distante da realidade de atuação, a formação pouco contribuirá com o desenvolvimento de uma prática educativa reflexiva em que os elementos teoria e prática sejam compreendidos e trabalhados de forma integrada. Toda essa discussão contribui para rec lamarmos que a formação do educador do campo não pode se dar de qualquer jeito, de qualquer forma, não pode se dar alheia ao movimento de construção do paradigma de educação do campo, que envolve como assinala Arroyo (2011), toda a dinâmica de tensão, contradição, conflito. Trata-se de uma formação que prescinde de elementos ontológicos, epistemológicos, metodológicos e axiológicos na relação com as matrizes históricas e culturais do campo. Dessa forma, definimos a formação inicial do educador do campo como um momento, uma etapa imprescindível para a construção da identidade sociocultural e da profissionalidade docente no e do campo. Formação continuada possibilita a construção de uma identidade profissional, renovar os saberes docentes, pois para exercer a profissão docente na atualidade, é preciso estar atento às novas transformações pelas quais passa o contexto escolar. Assim em sala de aula é preciso que o professor esteja atento as constantes mudanças, para que possa desempenhar seu trabalho de forma coerente. O professor vive em um processo contínuo de formação, portanto, a formação é, na verdade, autoformação, pois os professores elaboram os saberes em confronto 14 com suas experiências práticas. Percebe-se que, trabalhar a formação dos professores implica não apenas qualificá-los em uma área especifica, ou mesmo capacitá-los nas teorias e metodologias de sua área do conhecimento, que ele compreenda que trabalhar é fazer a diferença, é preciso refletir, pois a formação de professores pro campo tem que ser de qualidade, pois envolve muito mais do que os conhecimentos dos conteúdos necessários à prática educativa, mais sim a relação desses professores com o rural, os saberes, e forma de vida da população que constrói a sua existência e se constitui enquanto um sujeito da ação. 2.4 Transporte escolar De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9394/96 (Art. 4.§ VIII). Diz que tem que haver um “Atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático, transporte, alimentação e assistência à saúde”. No entanto se tratando do transporte escolar, percebe-se que há muitas dificuldades tanto para o professor quanto para o aluno do campo, relacionado ao acesso à escola, pois, os mesmos sofrem com a distância de casa para a escola, acabam percorrendo longos percursos em condições precárias. Entretanto como direito da criança, a Constituição Federal assegura que o ensino escolar será ministrado em “igualdadede condições para o acesso a permanência na escola” (Art. 206 § I). Sendo por isso criados leis, programas que visem auxiliar os alunos a chegar até a escola. De acordo com o Conae (2010) o transporte escolar deve atender as necessidades dos alunos, garantindo seu direito a educação. O MEC oferece alguns programas para ajudar como o transporte escolar, e um deles é o Programa Nacional de Apoio ao Transporte escolar, que garante o acesso e a permanência nos estabelecimentos escolares dos alunos do ensino fundamental público residente em área rural, que utilizem o transporte escolar. Desse modo, constata-se a necessidade de pesquisas sobre o transporte escolar público, pois há muitos alunos que utilizam todos os dias esse meio de locomoção, principalmente no campo, onde surgem diversas barreiras no transporte escolar, dificultando a garantia do direito de ir e vir dos alunos e a acessibilidade às 15 escolas, e compreende-se que o transporte escolar público é condição necessária para que seja cumprido o direito à educação para todos. 3 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO DO CAMPO Conforme Arroyo, Caldart, Molina (2011, p.49) afirma que: Um dos problemas do campo no Brasil hoje é a ausência de políticas públicas que garantam seu desenvolvimento em formatos adequados à melhoria da qualidade de vida das pessoas que ali vivem e trabalham. No contexto atual do nosso país, defender políticas públicas especifica para o campo não significa discriminá-lo ou pretender insistir numa postura dicotômica entre rural e urbano, ao contrario, no caso, precisamos de políticas especificas para romper com o processo de discriminação, para fortalecer a identidade cultural negada aos diversos grupos que vivem no campo, e para isso garantir atendimento diferenciado ao que é diferente, mas que não deve ser desigual. Há uma necessidade de valorizar uma educação que respeite a cultura e identidade dos povos do campo e a garantia da permanência das escolas existentes no campo, para assim resguardar o direito do povo do campo. Para que haja uma melhoria na educação, que tudo seja de acordo com suas necessidades. Para Caldart et. al. (2012, p.587) afirmam que na historia da educação do campo, o debate e a compreensão sobre o tema das Políticas Públicas tornam-se relevante porque, desde o seu surgimento, a Educação do Campo se configura como demanda relativa à garantia do direito a educação para os trabalhadores rurais: inicialmente, com a luta dos Sem Terra para garantir o direito à educação nas áreas de Reforma Agrária, com as exigências para a criação do Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (PRONERA) e, na sequência, com a ampliação das lutas pela garantia do direito a educação para todos os povos do campo. Caldart (2009, p.51) ressalta que: A Educação do Campo se construiu pela passagem da Política produzida nos movimentos sociais para pensá-lo, pressionar pelo direito do conjunto dos camponeses ou dos trabalhadores do campo. Isso implicou um envolvimento mais direito com o Estado na disputa pela formulação de Políticas Públicas especificas para o campo, necessária para compensar a historia discriminação e exclusão desta população do acesso a políticas de educação, com a tanta outras. No entanto falar em políticas públicas voltadas para o campo é colocar a educação do campo, no campo da política do Estado, podemos então indagar 16 porque colocar a Educação do Campo no campo do Estado, e não deixar po r conta dos movimentos será que o povo não é capaz de dar conta da Educação do Campo.Para Souza (2006, p.13): Colocar a Educação do Campo no plano dos direitos traz uma dimensão concomitante às propostas pedagógicas dos movimentos: exigir o dever do Estado seu compromisso com políticas públicas especificas para o campo. Resgatar a educação dita rural do jogo das barganhas politiqueiras, do jogo de interesses privatistas em que por séculos esteve atrelada. Tornar a escola do campo pública, regida por interesse e valores públicos. Escola do campo espaço de direitos. O campo precisa de uma Política Pública que parta dos diferentes sujeitos do campo, do seu contexto, sua cultura e seus valores, sua maneira de ver e de se relacionar com o tempo, a terra, com o meio ambiente. Pois para exigirem seus direitos precisam lutar por políticas que atendam suas necessidades. Conforme Arroyo, Caldart, Molina (2011) ressaltam que: Os movimentos sociais carregam bandeiras da luta popular pela escola pública como direito social e humano e como dever do Estado. Nas últimas décadas os movimentos sociais vêm pressionando o Estado e as diversas esferas administrativas a assumir sua responsabilidade no dever de garantir escolas, profissionais, recursos e políticas educativas capazes de configurar a especificidade da Educação do Campo. No vazio e na ausência dos governos os próprios movimentos tentam ocupar esses espaços, mas cada vez mais cresce a consciência do direito e a luta pela Educação do Campo como política pública. Na primeira conferência dos movimentos do campo, o tema era por uma educação do campo, já na segunda conferência mudou, já passou a se chamar por uma educação pública do campo, e quando eles foram às ruas lutaram por uma educação como dever, direito e dever do Estado. Diante do exposto, Molina (2012) afirma que “o tema das Políticas Públicas adquire ainda maior centralidade na historia da Educação do Campo, realizada em 2004, quando se consolida, com sua palavra de ordem, a expressão Educação do Campo direito nosso dever do Estado”. Ainda conforme a autora, o tema das Políticas Públicas e a luta por elas foram se ampliando, arregimentando apoiadores e opositores querem nos movimentos sociais camponeses, quer entre seus parceiros das universidades e demais instituições que trabalham com Educação do Campo. De acordo com Arroyo (2004, p, 101): 17 Falar em políticas públicas da educação do campo é equacionar novas posturas, novas estratégias, novas diretrizes e, sobre tudo, novas bases capazes de alicerçar o que o velho tratamento nunca garantiu; a educação com direito aos povos do campo. Porém é preciso explicitar que o debate sobre Políticas Públicas, na historia da Educação do Campo, relaciona-se sempre a ideia dos direitos, pois então se começa a entender a educação como direito, e não direito apenas dos militantes de cada movimento, mas de todos os povos do campo, direito e dever do Estado. Percebe-se que nesse momento é que se pode pensar em políticas de educação do campo. Arroyo (2012) diz que “o fato de ter colocado a educação do campo, no campo dos direitos é que nos leva a colocar a educação do campo dos deveres do Estado, consequentemente no campo das políticas públicas”. Pois se isso acontece, somente assim se pode exigir políticas de educação do campo, escolas públicas, transporte, recursos e o que preciso. Percebe-se então que a escola do campo precisa de projetos votados para o desenvolvimento educacional e do campo, que valorize a cultura dos camponeses, por uma educação justa. Porquanto se cria o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - Pronera, que vem para garantir o direito na educação para todos, o programa foi criado em 16 de abril de 1998, por portaria do então Ministério Extraordinário da Política Fundiário (MEPF). Para Santos (2012, p. 631) afirma que: O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) é uma Política Pública do governo federal, especifica para educação formal de jovens e adultos assentados da Reforma Agrária e do crédito e fundiário e para a formação de educadores que trabalham nas escolas dos assentamentos ou do seu entorno e atendam a população assentada. Molina (2004) “entende o Pronera como uma política pública de Educação do Campo, a partirdas concepções fundamentais que sustentam sua ação”. É vinculado às práticas e às reflexões teóricas da educação do campo, pois ele busca fazer parcerias, e os principais aliados são os movimentos sociais e sindicais de trabalhadores rurais. Souza (2012) ressalta que os movimentos sociais do campo souberam bem aproveitar este ambiente favorável à Reforma Agrária para trazer a público outras pautas normalmente esquecidas ou desconhecidas pelas autoridades, entre elas a 18 situação da Educação no Campo, notadamente a falta de escolas, e a falta de educadores para as poucas que existiam o que impunha uma condição de acesso apenas aos anos escolares iniciais, reproduzindo nos assentamentos, a mesma lógica de negação histórica do direito, aos camponeses, de acesso aos níveis mais elevados de escolaridades. . Observa-se que há muito a ser feito para que a escola do campo possa desfrutar de todas essas leis que dão suporte a essa educação, é preciso que se tenha do poder público uma visão de mudança, ou seja, a construção de um novo campo de estudo que venha suprir a necessidade do educador e educando do campo. Conforme Fernandes (2002, p. 91), A aprovação das Diretrizes representa um importante avanço na construção do Brasil rural, de um campo de vida, onde a escola é espaço essencial para o desenvolvimento humano. Ainda referindo-se a respeito das Diret rizes como esperança e conquista, o autor evidencia suas argumentações sobre as questões do campo. O campo é lugar de vida, onde as pessoas podem morar trabalhar, estudar com dignidade de quem tem o seu lugar, a sua identidade cultural. O campo não é só lugar de agropecuária e agroindustrial, do latifúndio e da grilagem de terras. O campo é lugar de vida e, sobretudo, de educação, não há como justificar a existência de uma escola do campo a partir da visão do latifúndio ou como aquilo que sobre depois do perímetro urbano, essa visão é defendida por alguns estudiosos e ainda é a compreensão que muitos profissionais da educação e parte da população urbana têm do campo (FERNANDES, 2002, p.92). Arroyo (2004, p.126-127), afirma que, embora com os avanços ocorridos nos últimos 30 anos, não houve empenho suficiente para atender a educação rural. Esse atraso é condicionado por uma visão antiquada, amparada por políticas públicas de reprodução do atraso e barganhas políticas favorecendo uma educação precária, eximindo o direito dos povos do campo. Todavia, a Educação do Campo não se realiza a partir do Estado, ela exige um Estado articulado com o lugar do aprender a estabelecer novas relações com a sociedade, garantindo a ela um conjunto de ações de forma participativa e democrática. Desse modo, faz-se necessário, nesse processo, a busca pelos debates no sentido de se compreender e evidenciar que a Educação do Campo seja percebida 19 como um direito público e, para tal, é fundamental que: “O Estado assuma como seu dever a garantia à educação em todos os níveis, daqueles brasileiros (as) que vivem e trabalham no campo, pois, a garantia dos direitos sociais somente acontece quando assumidos como dever do Estado, como público” (ARROYO, 2004, p.105). Enfim, as autoridades competentes precisam se sensibilizar com a causa em prol de uma educação de qualidade para o povo do campo, levando a modernização ao meio rural, com recursos tecnológicos, capacitações, áreas recreativas, escolas bem estruturas e cursos profissionalizantes para que professores e alunos sintam-se capazes de desempenharem seus papeis com orgulho sem desigualdade. 4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO DO CAMPO Em se tratando de pratica pedagógica que se desenvolve no campo é preciso entender que esse processo ensino aprendizagem se constituirá em um meio diverso que há varias vivências e experiências na sua diversidade. Tem que entender também, que a educação se estabelece não só e puramente nos arredores escolares, mas no contexto familiar, nas relações humana, no trabalho, nos atos religiosos e outros. O professor precisa conhecer o cotidiano dos alunos para poder assim organizar os conteúdos e ministrar uma boa aula, juntando tanto tempo escola como tempo comunidade, trabalhando com a realidade das crianças. Para isso Arroyo, Caldart, Molina (2011) ressalta que: O tempo escola, onde os educando tem aulas teóricas e práticas participam de inúmeros aprendizados, se auto-organizam para realizar tarefas que garantam o funcionamento da escola, avaliam o processo e participam do planejamento das atividades, vivenciam e aprofundam valores; O tempo comunidade, que é momento onde os educando realizam atividades de pesquisa da sua realidade, de registro desta experiência, de práticas que permitem a troca de conhecimento nos vários aspectos. Percebe-se que a prática pedagógica não pode ser analisada deslocada no contexto social vivido pelos sujeitos que dela participam apesar de ser um desafio para os professores, ou seja, trabalhar com a diversidade de conhecimentos, informações e opiniões na sala de aula, o mesmo tem que se preparar e fazer um bom planejamento, pois, tem que estar de acordo com o cotidiano do aluno. 20 Souza (2006, p. 11) afirma que: A prática pedagógica, entendida como uma dimensão da prática social é gerada no estabelecimento de relação entre os conhecimentos do processo de formação inicial dos profissionais da educação os conhecimentos adquiridos no conjunto das ações desenvolvidas no mundo da escola e da política local de educação. Percebe-se a preocupação com o sentido do conteúdo ou conhecimento para vida do aluno, pois, se sabe que quando as atividades pedagógicas são bem planejadas e colocadas em ação, se tem um bom resultado, ou seja, quando o professor procura se atualizar, vai à busca de vários conhecimentos, sua pratica pedagógica será bem aplicada em sala de aula, e terá êxito naquilo que faz. De acordo com Franco (2015, p. 605) afirma que: O professor, em sua pratica pedagogicamente estruturada, deverá saber recolher como ingredientes do ensino essas aprendizagens de outras fontes, de outro mundo, de outra lógica, para incorporar na qualidade de seu processo de ensino e na ampliação daquilo que se considera necessário para o momento pedagógico do aluno. O professor trabalha com os recursos disponíveis, a partir do ambiente em que está inserido aluno do campo, reunindo o espaço escolar com a comunidade. Em vista disto, Veiga (1988, p.16) afirma que a prática apresenta-se como: Uma prática social orientada por objetivos, finalidades e conhecimentos, inseridos no contexto da prática social. A prática pedagógica é uma dimensão da prática social que pressupõem a teoria-prática, e é essencialmente nosso dever como educadores a busca de condições necessárias a realizações. Os professores que atuam na educação do Campo, dão relevância aos aspectos da comunidade e da realidade local na comunidade, embora alguns utilizam o livro didático. Mesmo com os livros, os conteúdos são elaborados a partir da realidade dos alunos, da comunidade. Pois assim as crianças aprendem, no entanto é sempre bom pensar antes de fazer um planejamento. Conforme Freire (2011, p.24), de “criar possibilidades para a sua produção e a sua construção”. No entanto toda ação tem que ter uma reflexão, deve-se pensar antes de agir, para assim poder ter um bom resultado. Mestrado (2012, p.135) resalta que a prática deve compreender que a educação é um processo histórico e social, dando sentido a todo tipo relação que 21 emerge do contexto sócio/educacional a partir da interação estabelecida pelos sujeitos/momentos/espaço. Portanto é a partir das interações com o meio que a criança de se desenvolve, sua aprendizagem se torna mais significativa, porém cabeao professor elaborar um bom planejamento e que sua prática venha ser bem aplicada, envolvendo a criança socialmente. “Para Vygotsk, tanto o desenvolvimento quanto a aprendizagem decorem das condições sociais que o individuo está imerso”. (FONTANA e CRUZ, 1997, p.71). Mestrado (2012, p.134) afirma que: a construção de práticas educativas em escolas do campo deve se basear em diferentes iniciativas que vise uma melhor qualidade de vida, abordando o mundo do trabalho, buscando sempre elevar autoestima de ser agricultor ou agricultora e para tanto, que é importante que metodologia adotar. Deve se adequada a realidade do campo, resgatando os materiais disponíveis no meio ambiente, conhecimentos que os pais, os estudantes, os técnicos, as lideranças da comunidade possuem sobre as diferentes temáticas a serem trabalhadas. Nesse processo o professorado não é o único a ter conhecimento, embora tenha papel fundamental na aprendizagem. Então o educador precisa desenvolver atividades que forme cidadãos emancipados, ou seja, ir além dos conteúdos disciplinares. Porém exige uma reflexão quanto à postura e a prática pedagógica a ser ministrada pelo professor, diante das questões sociais que rodeia o meio social, tornando essencial relacionar teoria e prática, sempre ensinando na prática para que seus alunos aprendam e consiga se envolver no meio social. 22 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O professor para atuar na Educação do Campo deve ser preparado para tal exercício profissional, pois sua formação, ainda hoje, é pensada para o mundo urbano, a realidade da cidade e suas interfaces, enquanto que o campo mostra-se como uma realidade diferenciada com virtudes e dificuldades inerentes a este espaço. Ser professor no campo não é uma tarefa fácil, dificuldades, são muitas, desde as classes multisseriadas, o transporte escolar, a falta de material pedagógico, apoio das instituições, entre outros. O processo de sua formação deve ser específico para que compreendam estes problemas que irão enfrentar, além do que a formação continuada aos educando do campo deve levar em considerações os aspectos pessoais para que estes profissionais sintam-se amparados, que não estão sós quando realizam suas tarefas, pois o envolvimento da comunidade serve de apoio nas lutas em prol de uma educação de qualidade e, que estas que visem um melhor desenvolvimento no processo ensino aprendizagem. Os estudos nesta área mostram a perspectiva de construção de um novo caminho para a educação do campo, com o reconhecimento do campo como território educativo, respeitando as populações que habitam Nestes ambientes permitindo que lhes seja garantido o direito fundamental à educação, e que esta seja de qualidade. Como professores não podem permanecer de olhos vendados, precisa-se pensar em possibilidades e estratégias de ensino e aprendizagem para ir além dos conteúdos e do ambiente escolar, os alunos precisam mais, não somente ler e escrever são necessários que se tenham uma formação de qualidade, que atenda as suas reais necessidades, que os currículos e métodos e todo o planejamento seja voltado para o cotidiano do povo que residem no campo, nas zonas ribeirinhas, para que possam ser inseridos como sujeitos participativos da pratica educativa, e que a educação amplie seus horizontes, lutem pelos direitos através de movimentos organizados como já vem sendo realizado nos últimos tempos. 23 REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel González. A Educação Básica e o Movimento Social do Campo. In: FERNANDES, Bernardo Mançano. Educação Básica e o Movimento Social do Campo. Brasília, DF: Articulação Nacional por uma Educação Básica do Campo, 1999. ARROYO, Miguel González. 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