Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Adriana Oliveira AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICÍDIO www.institutomutatismundi.com.br facebook.com/institutomutatismundi APRESENTAÇÃO Avaliação do Risco de Suicídio Adriana Oliveira1 A presente obra, elaborada pela renomada psicóloga e professora Adriana Oliveira, é voltada aos profissionais de saúde, especialmente psicólogos e psiquiatras que, em sua rotina clínica, deparam-se com a triste realidade do aumento de casos de suicídio, o que torna sua atividade uma ferramenta fundamental para a compreensão dos parâmetros e a utilização de métodos positivos que influenciem direta e adequa- damente cada caso. Os conhecimentos, aqui expostos de maneira clara e objetiva, poderão ser aplicados pelos profissionais nos casos de pacientes com ideação suicida, notadamente nos casos de adolescentes e jovens em idade escolar, adultos com distúrbios psíquicos e demais pacientes nas clínicas de atuação, servindo também de base até mesmo nas relações interpessoais. As habilidades tratadas neste livro eletrônico terão papel indispensável para que o profissional saiba avaliar o risco de vida do paciente com ideação suicida, podendo atuar de forma segura e conquistando sua confiança, para que o tratamento clínico seja realizado, com a efetiva permanência do paciente sob os cuidados do profissional. Ademais, demonstra-se que a relação profissional/paciente envolve, principal- mente em casos de ideação suicida, o apoio de familiares próximos e amigos, pessoas que precisam compreender os problemas do paciente, com a conscientização de que o tema suicídio deve ser tratado em ambiente íntimo e publicamente, nas academias, inclusive deveria ser adotada como disciplina na grade curricular. Enquanto isso não ocorre, a Dra. Adriana Oliveira preocupa-se em externar seus conhecimentos nessa área tão sensível, desenvolvendo métodos para alcançar o maior número de profissionais possível, auxiliando-os a fazer avaliações e identificar graus de 1 Graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília (2004), Formação em Análise Comportamental Clínica - IBAC (2004), Pós Graduada em Gestão de Recursos Humanos - UCB (2006), Mestrado em Ciência do Comporta- mento na UnB (2012) e Doutorado em Ciência do Comportamento na UnB (2016). Experiência na área de Psicologia Organizacional, Clínica, docência e supervisão de estágio. Atualmente Professora do Centro Universitário de Ensino do Distrito Federal no curso de Psicologia e atua como Psicóloga Clínica. risco, consequentemente evitar intervenção inadequada e promover mais segurança na abordagem terapêutica. Com vasta experiência na área, tanto de clínica quanto de cátedra, a Dra. Adriana aborda o tema de forma específica, objetivando fomentar a discussão e disseminar informações que são essenciais na saúde mental e nos casos de ideação suicida, com enfoque no que há de mais consolidado na teoria e na prática, de forma totalmente acessível aos profissionais de saúde interessados em ampliar seus conhecimentos e atuar com segurança em seus diagnósticos e acompanhamentos. Luciana de Oliveira Matos Graduada em Pedagogia e Pós Graduada em Psicopedagogia SUMÁRIO INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 SUICÍDIO: AFINAL DO QUE ESTAMOS FALANDO? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 AVALIANDO FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICÍDIO BAIXO, MODERADO E ALTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 CONTATOS E LINKS ÚTEIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 ANEXO I – AVALIAÇÃO GERAL DO SUICÍDIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 AVALIAÇÃO DE RISCO DO SUICÍDIO SIMPLIFICADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 6 INTRODUÇÃO O suicídio é um fenômeno mundial e histórico, talvez até atemporal, tendo em vista que a história da humanidade é marcada por suicídios. Na Grécia antiga, o indivíduo era obrigado a pedir permissão ao Estado para se suicidar. O pedido era analisado e poderia ser permitido ou vetado. Na Idade Média, na cultura judaico-cristã, o suicídio foi condenado, não existindo, a partir de então, diferença entre o suicídio legal e ilegal. Matar-se era atentar contra a propriedade do outro e o outro, neste caso, era Deus (Tota, Barros & Assis, 1994). Em outras culturas, ao longo da história, o suicídio foi concebido como um ato heroico. Na cultura dos Vikings, o suicídio era o meio para chegar à imortalidade. Para que os guerreiros alcançassem Valhalla, era necessário morrer de forma brutal, em guerra ou tirar sua própria vida, pois era honroso nessa cultura morrer pelas suas mãos. Na cultura japonesa, por exemplo, Harakiri faz parte dos ensinamentos do Bushido. Significa, literalmente, “cortar a barriga” ou “cortar o estômago”. Consistia em ajoelhar-se e cravar um punhal em sua própria barriga, num ritual suicida. Isso era feito nos casos de desonra própria ou aos seus ancestrais, ou, ainda, por lealdade aos seus senhores (Kawanami, 2013). O lema dos samurais era que a vida é limitada, mas o nome e a honra podem durar para sempre. Essa filosofia persiste até hoje. E essa é uma das razões do Japão ser uma das nações com o maior índice de suicídios no mundo (em média, 30 mil mortes por ano, sendo a primeira causa de morte entre jovens/adultos de 15 a 39 anos). Na Segunda Guerra Mundial, o Japão convocou os Kamikazes para missões de combate. Os Kamikazes eram pilotos japoneses destinados a missões suicidas. Direcionavam seus aviões, carregados de explosivos, de encontro aos alvos de seus ataques (Hammerschmidt, 2018). Outra cultura que, até nos dias atuais mostra o suicídio como um ato heroico, é a dos radicais extremistas islâmicos, que acreditam estar participando de Fon te : w w w .h ok un in .d ev ia nt ar t.c om Avaliação do Risco de Suicídio 7 uma guerra santa e, com a prática do ato suicida, creem que irão ganhar o paraíso e receberão a vida eterna como recompensa pelo seu sacrifício em nome da Fé. Durkheim (1897), tratou o suicídio de uma forma social. Para ele, alguns dos fatores que acabam levando o indivíduo ao suicídio são as crises econômicas e as mudanças nas sociedades. Essas são rupturas de equilíbrio, que fazem com que o indivíduo não se ajuste ao ambiente, trazendo um sofrimento muito grande, com o qual o cidadão não consegue lidar. A questão social é um fator importantíssimo na compreensão do suicídio. Por exemplo, nos Estados Unidos, em 1929, muitos americanos em Wall Street se suicidaram depois da quebra da Bolsa, em 24 de outubro. Vários investidores cometeram suicídio pulando dos prédios do centro financeiro mais famoso do mundo. Em 1945, os soldados nazistas não acreditaram mais que era possível vencer a guerra e uma onda de suicídios tomou conta da Alemanha. Em Berlim, o pânico foi tão grande que, em 3 (três) dias, quase 1.000 (mil) militares se suicidaram. Outra história de suicídio impressionante, pela dimensão do número de mortes, foi em 1978, quando James Warren conduziu um dos maiores suicídios em massa já orquestrados nomundo. Foram cerca de 918 (novecentas e dezoito) pessoas mortas pela crença de que estariam perto de uma guerra nuclear. Acreditaram em seu Guru, que afirmou que, se morressem dessa forma, estariam livres da agonia e morreriam em paz e com honra. Independentemente da filosofia por trás do suicídio, e de quão antiga é tal prática, atualmente o ato de tirar a própria vida é considerado um problema de saúde pública e sua prevenção tem sido prioridade para a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em termos gerais, a mortalidade pelo suicídio aumentou 60% (sessenta por cento) nos últimos 45 anos (Botega, Werlang, Cais & Macedo, 2006). A estimativa da OMS é que, a cada 40 (quarenta) segundos, uma pessoa se suicida no mundo. Isso significa mais de 800.000 (oitocentos mil) suicídios por ano, dos quais 65.000 (sessenta e cinco mil) ocorrem na região das Américas (OMS, 2014). Para a OMS, 9 (nove) em cada 10 (dez) suicídios poderiam ser evitados, caso recebessem ajuda especializada. Isso equivale a uma taxa de 90% (noventa por cento). De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, a maior parte das pessoas que pensa em cometer suicídio enfrenta uma doença mental que altera, de forma radical, a percepção da realidade, interferindo gravemente no livre arbítrio. 8 O tratamento da doença mental é a melhor forma de prevenir. Isso significa que a prevenção é factível. Para isso, é necessário saber para o que olhar. Cândido (2011), afirma que “a morte por suicídio é quase sempre sentida como inesperada e imprevisível. Apesar da existência de toda uma gama de sinais potencialmente preditivos do risco” (p. 137). O objetivo desse ebook será instrumentalizar você para conseguir realizar uma avaliação de risco do suicídio acurada. Se soubermos para o que olhar, podemos avaliar o risco que a pessoa corre no momento e, consequentemente, propor intervenções adequadas para cada caso. Avaliação do Risco de Suicídio 9 SUICÍDIO: AFINAL DO QUE ESTAMOS FALANDO? Uma das questões filosóficas que permeia a mente de muitas pessoas é o julgamento se a vida vale ou não a pena ser vivida (Camus, 1942). Segundo Botega, Werlang, Cais e Macedo. (2006), ao longo da vida, de cada 100 (cem) pessoas, 17 (dezessete) irão pensar em suicídio, 5 (cinco) irão planejar, 3 (três) irão tentar e 1 (uma) irá efetivamente se suicidar. ATENDIDOS EM PRONTO-SOCORRO TENTATIVAS DE SUICÍDIO PLANO IDEAÇÃO OU PENSAMENTO Aproximadamente a cada 100 habitantes Intenção suicida Tomada de decisão: medidas protetivas + terapêutica incisiva desfecho fatal desfecho não fatal Vetor de intervenção e prevenção17 5 3 1 Fonte: Botega, Werlang, Cais e Macedo (2006) . Para a OMS (1998), o suicídio é um ato deliberado, intencional de causar a morte a si mesmo, um ato iniciado e executado deliberadamente por uma pessoa que tem a clara noção (ou forte expectativa) de que dele pode resultar a morte. Assim, será necessário analisar a intencionalidade do ato para avaliarmos as tentativas de suicídio ou mesmo o suicídio consumado. A tentativa de suicídio pode ser definida como qualquer tipo de comportamento autolesivo não-fatal, com evidências − sejam elas explícitas ou implícitas −, de que a pessoa tinha a intenção clara de morrer. É importante atentar que nem toda violência autoprovocada caracteriza uma tentativa de suicídio. É necessário avaliar a intencio- nalidade do ato e o desejo de morte relacionado ao mesmo. (Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, 2016). Além de suicídio, a OMS (2014) definiu também o comportamento suicida. Este termo refere-se a um conjunto de atitudes que incluem: o pensamento de que uma 10 ação autoinfligida resulta em sua morte (ideação suicida); o planejamento; a tentativa; e o próprio suicídio. Para Werlang, Macedo e Kruger (2004), o comportamento suicida contempla, independentemente do ponto de vista pelo qual é analisado, uma dimensão central relacionada ao sofrimento. Por isso, quando falamos de prevenção, precisamos analisar o comportamento suicida, para assim identificar as variáveis relacionadas ao processo de ideação, planejamento e tentativas. Em estudo realizado por Kessler, Borges e Walter (1999), foi observada a relação entre a ideação suicida e o risco de tentativas de suicídio. Estima-se que 60% (sessenta por cento) dos indivíduos que se suicidam tinham previamente ideação suicida (Fawcette, Clark & Bush, 1993). Outro dado que chama atenção, é que, das pessoas que tiveram seus suicídios consumados, metade delas (50% por cento) foram a uma consulta médica em algum momento no período de 6 (seis) meses que antecederam a morte; e 80% (oitenta por cento) foram a um médico no mês anterior ao suicídio (Clark & Fawcett, 1992). Os autores apontam, ainda, que dois terços dos que cometeram suicídio comunicaram, claramente, essa intenção a parentes próximos, ou amigos, na semana anterior ao ato fatal. Botega, Mauro e Cais (2004), acrescentam que, em média, de 15 a 25% (quinze a vinte e cinco por cento) das pessoas que tentam o suicídio tentarão novamente no ano seguinte. E 10% (dez por cento) das pessoas que tentam o suicídio conseguem efetivamente matar-se nos próximos 10 (dez) anos. Os autores destacam ainda que, com base nas evidências proporcionadas por entrevistas com familiares e amigos, bem como por meio de documentos médicos e pessoais, um diagnóstico psicopatológico poderia ter sido feito em 93-95% dos casos de suicídio. Notadamente, são transtornos do humor (40-50% dos casos de suicídio tinham depressão grave), dependência de álcool (em torno de 20% dos casos) e esquizofrenia (10% dos casos). Podemos dizer que estamos diante de um fenômeno mundial e complexo. Sabemos que, apesar de haver uma correlação entre transtornos mentais − principal- mente a depressão −, transtorno bipolar, dentre outros, esse é um fenômeno multide- terminado. Não podemos dizer exatamente quais as variáveis que levam alguém a tirar sua própria vida, porém podemos analisar os fatores de risco e os fatores de proteção, podendo, assim, avaliar o risco de alguém vir a cometer suicídio. Avaliação do Risco de Suicídio 11 AVALIANDO FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO Para fazer uma avaliação concreta sobre a possibilidade de suicídio, é preciso considerar um conjunto de fatores, incluindo os de risco e proteção. Deve-se considerar fatores sociodemográficos, psicossociais e vida familiar, bem como fatores psicológicos e psiquiátricos, dentre outros. Botega (2015), discorre sobre vários fatores de risco e de proteção, que necessitam de atenção especial ao fazer uma avaliação inequívoca de risco. Fatores que aumentam o risco do suicídio: 1. Fatores Sociodemográficos Fatores Sociodemográficos • Sexo Masculino • Adultos jovens (19 a 49 anos) e idosos • Estado civil, divorciado e solteiro • Orientação homossexual ou bissexual • Ateus e protestantes tradicionais (católicos) • Grupos étnicos minoritários 2. Fatores Psicossociais e vida familia Fatores Psicossociais • Abuso físico, sexual ou emocional • Perda ou separação dos pais na infância • Instabilidade familiar • Ausência de apoio social e Isolamento social • Pouca flexibilidade para enfrentar adversidades • Perda afetiva recente ou outro acontecimento estressante • Datas importantes (morte, aniversários etc) • Desemprego e Aposentadoria • Vergonha e humilhação (bullying) • Violência doméstica • Desesperança e desamparo 12 • Ansiedade intensa e Baixa autoestima • Rigidez cognitiva, pensamento dicotômico • Traços de personalidade: impulsividade, agressividade, labilidade do humor, perfeccionismo. 3. Fatores Psicológicos e Psiquiátricos Transtornos Mentais • Depressão, transtorno bipolar, abuso/dependência de álcool e de outras drogas, esquizofrenia, transtornos de personalidade boderline • Comorbidade psiquiátrica (vários transtornos mentais) • Histórico familiar de doença mental • Falta de tratamento ativo e continuado em saúde mental • Ideação ou plano suicida • Tentativade suicídio pregressa • História familiar de suicídio 4. Outros fatores Outros • Acesso a meios letais (arma de fogo e veneno) • Doenças físicas incapacitantes e terminais • Falta de adesão ao tratamento, agravamento ou recorrência de doenças preexistentes • Relação terapêutica frágil ou instável Avaliação do Risco de Suicídio 13 Além desses fatores descritos, é fundamental considerar os estados afetivos que estão associados a um maior risco de suicídio. Botega (2015), descreve como a presença dos 7 Ds. Ds Dor Psíquica Desespero Desesperança Desamparo Depressão Dependência química Delírio Fonte: Botega, 2015 . Fatores de proteção (diminuem o risco do suicídio): 1. Personalidade e estilo cognitivo Personalidade e estilo cognitivo • Flexibilidade cognitiva • Disposição para aconselhar-se em casos de decisões importantes • Disposição para buscar ajuda • Abertura à experiência de outro • Habilidade para se comunicar • Habilidade para solucionar problemas da vida • Capacidade para fazer uma boa avaliação de realidade 2. Estrutura Familiar Estrutura Familiar • Bom relacionamento interpessoal • Senso de responsabilidade em relação à família • Crianças pequenas na casa • Pais atenciosos e consistentes 14 • Apoio em situações de necessidade • Estrutura Familiar • Bom relacionamento interpessoal 3. Fatores socioculturais Fatores socioculturais • Integração e bons relacionamentos em grupos sociais (colegas, amigos, vizinhos) • Adesão a valores e normas socialmente compartilhados • Prática religiosa e outras práticas coletivas (clubes, grupos culturais) • Rede social que propicia apoio prático e emocional • Estar empregado (gostar do trabalho) • Disponibilidade de serviços de saúde mental 4. Outros Fatores Outros • Gravidez e puerpério • Boa qualidade de vida • Regularidade do sono • Boa relação terapêutica Avaliação do Risco de Suicídio 15 AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICÍDIO BAIXO, MODERADO E ALTO Para realizarmos a formulação do risco de suicídio devem ser considerados todos os aspectos discutidos no capítulo anterior. É preciso considerar tanto os fatores de risco como os de proteção, para assim classificar corretamente. Além disso, na formulação do risco, temos que analisar a intencionalidade suicida. Tentativa de suicídio Pesquisa de como se matar Planos de como se matar Ideação suicída Ideias de morte Fonte: Botega, 2015 A análise da intencionalidade suicida é fundamental, pois 60% (sessenta por cento) das pessoas que se suicidam apresentam ideação suicida antes da tentativa (Fawcette, Clark & Bush, 1993). Para formulação, iremos classificar o paciente em risco baixo, moderado e alto. BAIXO Nunca tentou o suicídio Ideias de suicídio são passageiras e pertubardoras Não planeja como se matar Transtorno mental, se presente, com sintomas controlados Boa adesão ao tratamento Tem vida e apoio social 16 MODERADO Tentativa de suicídio prévia Depressão ou trasntorno bipolar Ideias persistentes de suicídio, vistas como solução Não tem um plano de como se matar Não é uma pessoa impulsiva Não abusa/depende de álcool ou drogas Conta com apoio social ALTO Tentativa de suicídio prévia Depressão grave, influência de delírio ou alucinação Abuso/dependência de álcool ou drogas Desespero, tormento psíquico intolerável, não vê saída Plano definitivo de se matar Tem meios de como fazê-lo Já tomou providências para o ato suicida Fonte: Botega, 2015 A análise proposta por Botega (2015) procura sintetizar os aspectos que o autor considerou mais importantes na formulação do risco de suicídio. Entretanto, recomenda-se uma análise clínica completa, além desses aspectos citados acima, devemos considerar todos os outros discutidos no capítulo anterior. Na avaliação do risco de suicídio, deve-se levar em consideração que um fator de proteção pode ser considerado de risco, dependendo de como a pessoa lida com aquele aspecto. Por exemplo, crianças pequenas em casa são consideradas um fator de proteção, porém, se a relação com as crianças for promotora de sofrimento, isso poderá ser considerado um fator de risco. Avaliação do Risco de Suicídio 17 A formulação clínica do risco de suicídio é fundamental para que o profissional de saúde, ou mesmo familiares e amigos, saibam que providências tomar, para, assim, evitar uma possível tentativa de suicídio (ANEXO I). CONSIDERAÇÕES FINAIS O suicídio tem sido visto como um problema de saúde pública pela Organização Mundial de Saúde, devido ao crescente número de casos registrados (aumento de 65% em 45 anos). A estimativa da OMS (2014) é que mais de 800.000 (oitocentas mil) pessoas se suicidam por ano. Para cada suicídio consumado, acredita-se que ocorreram, pelo menos, 20 (vinte) tentativas. Isso significa dizer que pelo menos 16.000.000 (dezesseis milhões) de pessoas fazem uma tentativa por ano. Esse número pode ser muito maior, considerando que muitas mortes por suicídio acabam sendo computadas de outras formas, como acidente de carro, intoxicação, ataque cardíaco etc. Outro dado importante a ser considerado é que cada suicídio consumado irá afetar diretamente entre 5 (cinco) a 10 (dez) pessoas, aumentando o risco que essas pessoas afetadas venham a se suicidar ou desenvolver algum tipo de transtorno mental (Bertolote, 2012). Isso significa dizer que, anualmente, de 4 a 8 milhões de pessoas são afetadas diretamente como consequência dessas mortes de familiares ou amigos. Mais assustador que esses dados é saber que 90% (noventa por cento) dos casos poderiam ser prevenidos, com intervenções clínicas dos profissionais da saúde (OMS, 2014). Por isso, é tão importante a capacitação dos profissionais da saúde para que consigam fazer análises acuradas do risco de suicídio e, assim, tomar as providências necessárias. Espero que este ebook possa ajudá-lo nessa árdua tarefa, como um instrumento que poderá auxiliá-lo nos diagnósticos clínicos. 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bertolote, J. M (2012). O suicídio e sua prevenção. São Paulo: Editora Unesp. Botega, J. N. (2015). Crise Suicida: avaliação e manejo. Artemed, Porto Alegre. Botega, J.N., Werland, B.S.G., Cais, C.F.S., Macedo, M. M. K., (2006). Prevenção do comportamento suicida. Psic. v. 37, n.3, pp. 213-220. Botega, N. J., Mauro, M. L. F., & Cais, C. F. S. (2004). Estudo multicêntrico de intervenção no comportamento suicida – Supre-Miss – Organização Mundial da Saúde. In B. G. Werlang, & N. J. Botega. (Org.). Comportamento suicida. Porto Alegre: Artmed Editora. Botega NJ, Barros MBA, Oliveira HB, Dalgalarrondo P, Marín-León L. (2005). Suicidal behavior in the community: Prevalence and factors associated with suicidal ideation. Rev Bras Psiquiatr, 27:45-53. Camus, A. O mito de Sisifo. Rio de Janeiro: BestBolso. Cândido, A. M. (2011). O enlutamento por suicídio elementos de compreensão na clínica da perda (Dissertação de Mestrado). Universidade de Brasília, Brasília, DF. Clark, D. C., & Fawcett, J. (1992). An empiracally based model of suicide risk assessment for patients with affective disorder. In D. Jacobs (Ed.). Suicide and clinical practice (pp. 55-73). Washington: Merican Psychiatric Press. Durkhein, E. (1987). O suicídio. Editorial Presenca Lisboa. Kessler RC, Borges G, Walters EE. (1993). Prevalence of and risk factors for lifetime suicide attempts in the National Comorbidity Survey. Arch Gen Psychiatry; 56:617-26. Fawcett J, Clark DC, Bush KA. (1999). Assessing and treating the patient at risk for suicide. Psychiatr Ann, 23:244-56. Hammerschmidt, R. (2018). Kamikazes: quem eram, o que os motivava e qual era sua filosofia. Recuperado em 27 de setembro de 2018 de https://www.megacurioso.com. br/artes-cultura/105938-kamikazes-quem-eram-o-que-os-motivava-e-qual-era-suas- filosofias.htm acesso em 22/09/2018 as 21:46. Avaliação do Risco de Suicídio 19 Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (2016). Coleção guia de referência rápida:Avaliação do Risco de Suicídio e sua prevenção. Recuperado em 27 de novembro, 2018 de www.rio.rj.gov/web/sms Tota, A.P., Bastos P., Assis, P. (1994). História geral. Grécia antiga, nova cultural, p.14-23. Werlang, B. G. Macedo, M. M., Krüger, L. L. (2004) Perspectiva Psicológica. In N. Botega, B. S. G. Werlang (Org.). Comportamento Suicida (pp. 45-58). Porto Alegre: Artmed. WHO – World Health Organization. (1998). Health XXI: Na introduction to the health for all policy framework for the WHO European region (European health for all series n. 5). World Health Organization. (2014). Country reports and charts available. Recuperado em 30 de setembro de www.who.int/mental_health/prevention/suicide/country_reports/ en/index. html Kawanami, S. (2013). Os 7 princípios do Bushido. Recuperado em 30 de setembro de 2018 de https://www.japaoemfoco.com/os-7-principios-do-bushido/ 20 CONTATOS E LINKS ÚTEIS Centro de Valorização da Vida www.cvv.com.br - Telefone 188 (24 horas) Ministério da Saúde http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/suicidio Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio https://www.abeps.org.br/ Organização Mundial da Saúde www.who.int/mental_heath/en/ www.institutomutatismundi.com.br Avaliação do Risco de Suicídio 21 ANEXO I – AVALIAÇÃO GERAL DO SUICÍDIO FATORES DE RISCO SIM NÃO Sexo Masculino* Adultos jovens (19 a 49 anos) e idosos Estado civil, divorciado e solteiro Orientação homossexual ou bissexual Ateus e protestantes tradicionais (católicos) Grupos étnicos minoritários Sofreu abuso físico, sexual ou emocional Perda ou separação dos pais na infância Instabilidade familiar Ausência de apoio social e Isolamento social Pouca flexibilidade para enfrentar adversidades Perda afetiva recente ou outro acontecimento estressante Desemprego e Aposentadoria Vergonha e humilhação (bullying) Vivência ou vivenciou alguma violência doméstica Relata desesperança e desamparo Ansiedade intensa e Baixa autoestima Rigidez cognitiva, pensamento dicotômico Traços de personalidade: impulsividade, agressividade, instabilidade do humor, perfeccionismo. Depressão, transtorno bipolar, abuso/dependência de álcool e de outras drogas, esquizofrenia, transtornos de personalidade boderline Comorbidade psiquiátrica (vários transtornos mentais) Fatores de Risco Falta de tratamento ativo e continuado em saúde mental História familiar de doença mental 22 FATORES DE RISCO SIM NÃO Ideação suicida (tem pensamentos de morte e desejo de morrer) Pensamentos de morte são fixos ao longo do dia Avalia que morrer é uma boa solução para o problema que vivência Planejamento suicida (tem pensamos de como desejaria morrer) Tentativa de suicídio anterior História familiar de suicídio Acesso a meios letais (arma de fogo, medicação controlado, veneno etc) Doenças físicas incapacitantes e terminais Falta de adesão ao tratamento, agravamento ou recorrência de doenças preexistentes Relação terapêutica frágil ou instável Tratamentos Psicológicos ou Psiquiátricos não concluídos Tem desesperança em relação a vida e ao futuro Relato dor psíquico ou sente-se desesperado em relação a vida É dependente químico Caso tenha filhos, sente que os filhos são um peso e se pudesse não os teria Total * Vale ressaltar que ser homem aumenta o fator de risco, pois os homens se matam 3 (três) vezes mais que as mulheres . Porém, não devemos desconsiderar o risco da mulher, uma vez que ela tenta 3 (três) vezes mais o suicídio do que o homem . FATORES DE PROTEÇÃO SIM NÃO Flexibilidade cognitiva (consegue pensar de maneira flexível) Disposição para aconselhar-se em casos de decisões importantes Disposição para buscar ajuda Abertura à experiência de outro Habilidade para se comunicar Avaliação do Risco de Suicídio 23 FATORES DE PROTEÇÃO SIM NÃO Habilidade para solucionar problemas da vida Capacidade para fazer uma boa avaliação de realidade Bom relacionamento interpessoal na família Senso de responsabilidade em relação à família Crianças pequenas na casa e tem bom relacionamento Pais atenciosos e consistentes Apoio em situações de necessidade Integração e bons relacionamentos em grupos sociais (colegas, amigos, vizinhos) Adesão a valores e normas socialmente compartilhados Prática religiosa e outras práticas coletivas (clubes, grupos culturais) Rede social que propicia apoio prático e emocional Estar empregado (gostar do trabalho) Disponibilidade de serviços de saúde mental Gravidez e puerpério Boa qualidade de vida e regularidade do sono Bom engajamento terapêutico com Psiquiátrico e Psicológico Total Quantos Fatores de Risco Quantos Fatores de Proteção 24 Avaliação de risco do suicídio simplificado SIM NÃO Nunca tentou o suicídio Ideias de suicídio são passageiras e perturbadoras Não planeja como se matar Transtorno mental, se presente, com sintomas controlados Boa adesão ao tratamento Tem vida e apoio social. Total Se responder sim às questões, então o risco do suicídio é BAIXO Lembre-se de considerar a quantidade de fatores de proteção e risco, pois isso irá afetar a classificação. SIM NÃO Tentativa de suicídio prévia Depressão, transtorno bipolar ou outro diagnóstico psiquiátrico Ideias persistentes de suicídio são vistas como solução Não tem um plano de como se matar Não é uma pessoa impulsiva Não abusa/depende de álcool ou drogas Total Se responder sim às questões, então o risco do suicídio é MODERADO Lembre-se de considerar a quantidade de fatores de proteção e risco, pois isso irá afetar a classificação. Avaliação do Risco de Suicídio 25 SIM NÃO Tentativa de suicídio prévia Depressão grave, influência de delírio ou alucinação Abuso/ dependência de álcool ou drogas Desespero, tormento psíquico intolerável, não vê saída Plano definitivo de se matar Tem meios de como fazê-lo Já tomou providências para o ato suicida. Total Se responder sim as questões, então o risco do suicídio é ALTO Lembre-se de consideração à quantidade de fatores de proteção e risco, isso irá afetar a classificação. Este instrumento não se constitui como um teste de avaliação psicológica e nem possui validação técnica. Ele visa auxiliar no processo de diagnóstico clínico do risco de suicídio da pessoa auxiliada. Adriana Oliveira AVALIAÇÃO DO RISCO DE SUICÍDIO
Compartilhar