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PPE RESUMO PARA P1 CAPÍTULO 1 – UMA ECONOMIA NACIONAL - O propósito de estudar escolhas coletivas decorre da necessidade de se incorporar na modelagem de política econômica aspectos centrais do processo político. Afinal, uma economia nacional pode sempre ser visualizada como a interação de agentes privados que operam nos mercados de bens e serviços e agentes públicos que estabelecem regulações que incidem sobre as variadas funções desempenhadas nesses mercados. - Fica claro que considerar o governo como um simples policy maker, um agente que busca promover o interesse geral maximizando uma função de bem-estar social, é uma simplificação por demais grosseira. A própria ênfase nos indicadores sumários (por exemplo, taxa de inflação) obscurece a extensão em que ocorrem intervenções governamentais. É preciso entender todas as relações e todo o processo decisório que está por trás dele. - Deve-se compreender que a interação de agentes públicos e privados é uma via de mão dupla. O processo decisório de fato tem suas decisões influenciadas pelos agentes privados, influência essa que pode ser via grupos de interesse e lobby, por exemplo. A contrapartida dessa relação é que as decisões do meio público são determinantes nas escolhas dos agentes privados. - Esta não-autonomia do agente privado, em suas escolhas nos mercados de bens e serviços, induz a que esse agente se confronte com a necessidade de desenvolver uma estratégia de atuação junto ao processo político, em complementação às suas estratégias convencionais de mercado. Cada agente privado, portanto, precisa coordenar dois tipo s de estratégias: (i) estratégia de mercado; e (ii) estratégia da ação coletiva (ou nonmarket strategy: tentativa de moldar uma determinada política pública segundo uma configuração mais próxima de suas preferências). GOVERNO NA ECONOMIA - O governo é muito mais do que um mero policy maker. É preciso incorporar, ao processo de decisão política, os diferentes entes federativos bem como as atividade dos agentes privados. Assim, nessa nova configuração institucional, ocorre um alongamento do processo decisório em que, entre a decisão política originária e a geração dos resultados finais da política, interpõem-se processos decisórios legislativos e gerenciais inerentes a esfera governamental, tanto quanto escolhas de agentes privados aos quais são delegados poderes, funções e recursos. - Decorre desse tipo de análise duas metáforas para tipificar essa face do governo: Governo de Intermediários: noção intuitiva de conexão eleitoral, o eleito vota e o reflexo desse ato manifesta-se diretamente nos resultados do processo político. Cada político tem seu reduto eleitoral, a que deve atender visto que é de lá que angaria seus votos para a futura eleição. Assim, este governo alongado tem uma relação primordial com os agentes privados (de fato, o governo está longe de ser uma máquina maximizando funções de bem-estar). Estado Oco: governo e setor privado estão densamente entranhado, de forma que, por trás de muitas ações governamentais estão entes privados. Muitas vezes, por trás do governo estão apenas interesses e instituições privadas. DETERMINANTES INSTITUCIONAIS E PADRÕES ECONÔMICOS - Embora seja reconhecido que do ponto de vista dos agentes privados o comprometimento do governo em relação a uma determinada política gera expectativas positivas nos investimentos, não se leva muito em conta o comprometimento institucional da mesma (a qualidade das regras das escolhas bem como sua credibilidade e estabilidade). Uma visão alternativa diz que as decisões de investimento das empresas privadas estão condicionadas pela qualidade do ambiente em que se definem as estratégias dos agentes públicos. - Assim, se torna necessário, por exemplo, entender as diferenças entre separação horizontal e vertical dos poderes, que é bastante relevante no estudo da geração de credibilidade das estratégias de política. Separação horizontal: amplia o número de pontos de veto na trajetória de uma política pública. Separação vertical: uma ou mais instâncias do poder executivo assumem poderes de formular ou operar uma política substantiva, ou seja, essa delegação vertical serve para realocar esses pontos de veto ou mesmo para reduzi-los. Por exemplo, quando se argumenta em prol da autonomia da autoridade monetária, esse novo status decisório tem o significado de realocar integralmente um ponto de veto. Ou seja, a separação vertical por meio da instalação de uma agência reguladora independente pode induzir a estabilidade da política monetária, uma vez que a tomada de decisão sai da área de influência eleitoral-partidária para a área técnico-burocrática. O JOGO DE POLÍTICA ECONÔMICA - Não apenas os agentes públicos interagem uns com os outros, mas também com agentes privados. Tal ambiente analítico sugere que se associe à formação de políticas a noção de jogo de estratégias. - Nesse tipo de jogo, são reconhecidos seis classes de participantes: (1) políticos- legisladores: atuam nas decisões majoritárias e podem decidir quanto à mudança nas regras constitucionais; (2) Burocratas: distribuem-se por vários níveis de decisão, mantendo uma relação de monopólio bilateral com a legislatura; (3) Presidente da República: é sob sua autoridade que opera a burocracia governamental; (4) Juízes: fazem a revisão das decisões da legislatura, do presidente e da burocracia; (5) Grupos de interesse especiais; e (6) Cidadão: atuam como eleitores na representação legislativa e do presidente. - Na extensão em que as regras do jogo – as instituições políticas – afetam as escolhas de políticas, os agentes que participam desse jogo também têm preferências definidas no conjunto de instituições. - “Instituições e preferências se confundem inapelavelmente”. - Suponha a democracia constitucional em dois estágios. Primeiro, um jogo constitucional, e, depois, o jogo de política econômica propriamente dita (disso resultam os indicadores macroeconômicos). Quando no “jogo constitucional”, no qual se escolhe entre regras ou regimes de política alternativos, supõe-se que o político, por exemplo, é imparcial em sua escolha de estratégias, no sentido de que, ao escolher regras gerais (que definem a extensão de poder do governante, por exemplo) ele atua sob um véu de ignorância ou incerteza. - E por que ele assim o faria? Possivelmente porque está fazendo escolhas duráveis (regras constitucionais); nesse sentido, mesmo o agente motivado pelo auto-interesse percebe não apenas sua situação presente, mas como ela se desenrolará no futuro incerto. Assim, esse agente revela-se prudente em sua ação, como se ele não conhecesse sua posição corrente quando seleciona um código constitucional para coordenar e restringir o que são, de fato, indefinidas interações políticas, repetidas entre indivíduos como ele próprio. Pode-se, então, supor que, nesse estágio do jogo de políticas, os participantes cultivam a imparcialidade e optam por estratégias cooperativas. - Já no estágio do jogo de política econômica propriamente dita, escolhe-se entre resultados finais de política sob um conjunto de regras pré-acordadas. Aí prevalecem as escolhas majoritárias e mesmo a decisão gerencial dos formuladores de política. CAPÍTULO 2 – POLÍTICOS LEGISLADORES - A racionalidade do político é definida pelo critério de que eles têm interesse privado no resultado das escolhas públicas e, assim, atuam levando em conta o máximo de votos que tal resultado lhes possa trazer. As regras em sua decisão derivam-se de qualificações feitas à vigência da regra de maioria, e sua escolha de estratégias leva em conta os impactos distributivos das políticas públicas numa complexa “conexão eleitoral”, ou seja, as estratégias do político são diferenciadas segundo a visibilidade do benefício líquido dessaspolíticas em seus respectivos redutos eleitorais. - Esse jogo também pode ser caracterizado do ponto de vista dos partidos políticos. Por um lado, os partidos políticos provêm mecanismos de unificação de preferências e, desse modo, contribuem para reduzir os custos de transação para que se formem coalizões legislativas; por conseqüência, eles cumprem essencialmente uma função de resolver problemas de ação coletiva. - Por outro lado, eles operam como superagentes no jogo de política e, como tal, têm interesses próprios que podem divergir dos de seus eleitores-patrocinadores, o que pode ser muito danoso ao interesse geral, uma vez que, tendo os partidos assumido posições e tomado decisões em causa própria, eles podem arrastar consigo os políticos na mesma direção. Numa circunstância extrema, pode até ocorrer que, na mistura dos atendimentos provida pelo partido, parte do seu eleitorado acabe sendo prejudicada, contrariando o que esse segmento inicialmente reivindicava. - Considerando uma superdelegação política, a intermediação política pode deprimir a legitimidade das escolhas de governo representativo, na medida em que as intermediações criam outras conexões entre os entes envolvidos, suprimindo ou substituindo a relação do eleitor com o eleito. - Sabemos que os políticos e, conseqüentemente, os partidos políticos fazem política sempre se orientando pelo objetivo de vencer as eleições e, para isso, operacionalizam as suas políticas mais preferidas. Entretanto, políticos e partidos desempenham um papel muito mais complexo nas escolhas públicas no ambiente do governo representativo. - Primeiramente, a correspondência entre as ações do político e as preferências de seu eleitorado são ditadas por vários tipos de folga, como, por exemplo, as eleições que ocorrem a intervalos discretos e, assim sendo, os arrependimentos dos eleitores só poderão ser remediados na eleição seguinte. Com isso, a representação política será exercida com diferentes graus de folga, dependendo do quão próximo ou quão distante se esteja da uma data eleitoral – o que produz um ciclo na trajetória de políticas. Simplificadamente, existe uma convergência mais acentuada na direção de demandas e valores originados nos redutos eleitorais dos políticos. - Outro fator de folga é ditado por um atributo tecnológico: as políticas públicas são oferecidas em bloco, daí os políticos podem empreender muito mais o que seja do seu interesse, distanciando-se do interesse coletivo. Nessa situação, cada eleitor reconhece nessa oferta de políticas precisamente a parte que atende às suas preferências, mas essa oferta inclui muito mais do que ele demanda ou até mesmo políticas que ele nem se identifica. - As regras da escolha eleitoral (por exemplo, pluralidade, regra de maioria) induzem o político a necessariamente atender apenas uma parte da população, o seu reduto eleitoral. Essa conexão eleitoral faz com que o político opte por uma provisão de política pública em maior sintonia com os seus eleitores, principalmente (e muitas vezes apenas) quando ele percebe que o seu voto em determinada política envolve risco eleitoral. - Assim, os partidos políticos podem ser modelados como uma firma de corretagem. O objetivo desses intermediários é aumentar o seu valor para os políticos que atuam como seus clientes. Os partidos servem como árbitros que sinalizam para os políticos com as preferências dos cidadãos e, portanto, informam-lhes sobre como obter apoio político. Esse é um processo de acoplamento que reduz os custos da transação para que certos cidadãos possam entrar no processo político. - Esse papel desempenhado pelo partido político expande o conjunto de indivíduos que pensam que podem influenciar o governo, e, em conseqüência, o partido amplia a gama de interesses que encontra expressão através da ação governamental e expande o apoio político agregado disponível para os políticos [governo de intermediários]. A opção do partido político viabiliza que esses interesses não organizados de eleitores fora de grupos de interesses especiais encontrem expressão no processo político a um custo muito mais baixo. - De todo modo, os partidos detêm o importante papel de ser um mecanismo pelo qual os políticos podem fazer promessas com credibilidade aos diferentes segmentos da sociedade mais ou menos organizados. Essa relevância traduz-se pelo auxílio que os partidos prestam aumentando a durabilidade e a confiabilidade das barganhas que os grupos de interesses estabelecem com os políticos. Mesmo porque a filiação partidária oferece características de bem público, posto que o partido provê identificação ideológica e “marca” a seus membros, simplificando a articulação junto aos redutos eleitorais. Fora do partido político, tal processo torna-se oneroso e ineficiente. - E além dessa relação difusa entre partido e eleitor, deve-se levar em conta também toda a variedade de comportamentos que é ditada pela busca por obter ganhos decorrentes da atuação do governo em certos temas preferenciais, o que é conhecido como rent seeking. - Uma questão que também é muito discutida é a relação dos partidos com os legisladores, uma vez que os legisladores tem objetivos individuais que às vezes se contrapõem aos interesses do partido, e assim nada nos garante que determinado partido irá sempre refletir as preferências dos seus eleitores. Daí a idéia de que o partido pode ser visto também como uma coalizão de votos no plenário, que depende muito da lealdade dos deus legisladores. - A modelagem do jogo dos políticos vai além da simples escolha majoritária dos N representantes eleitos para incorporar elementos típicos da estrutura legislativa, como as jurisdições em comissões, a atuação de partidos políticos e suas lideranças. Entretanto, deve-se levar em conta algumas questões quanto a essa estrutura legislativa, que é o condicionamento da representatividade das decisões dos políticos, além da transferência do poder decisório para um menor número de representantes, o que gera ainda mais problemas nessa relação entre políticos e seus eleitores-patrocinadores como, por exemplo, o fato de que um menor número de representantes passa a ter maior controle sobre a agenda da legislatura, bem como facilita a atuação de grupos de interesse na tentativa de influenciar o processo decisório (lobby). LOGROLLING - As escolhas majoritárias dos legisladores são qualificadas por um importante mecanismo institucional: a troca de votos (logrolling). - Na democracia, os eleitores não exprimem a intensidade de suas preferências, mas somente a ordenação preferida. Em conseqüência, seja essa preferência forte ou fraca, o eleitor simplesmente dá o seu voto em favor de sua opção preferida. - A idéia é de que quando os eleitores-patrocinadores de um determinado legislador não se importam com um dado tema de política pública, os políticos racionais se dispõem a trocar o seu voto nesse tema por um voto naquilo em que seus eleitores estão interessados. Sem logrolling,(ie. voto estratégico ou sofisticado) cada uma dessas votações resultaria na derrota do projeto apresentando. Mas, com logrolling, a coletividade pode ser mais bem atendida, uma vez que teremos mais projetos sendo aprovados. - Repare que, com voto sincero, o votante ou eleitor age como ele agiria na ausência de qualquer outra influência consoante o seu melhor entendimento pessoal do problema sob consideração. Já no voto sofisticado ou estratégico, há oportunidades para que esse mesmo eleitor ajuste sua posição na votação de modo a torná-la mais compatível com suas convicções gerais, enquanto falseia suas convicções quanto a aspectos específicos do tema ou da proposta sob votação. O participante de uma escolha coletiva logo descobrirá que, apoiando um resultado final ou ponto de vista com o qual discorda, ele pode impedir que seus paresvenham a optar por algum outro resultado que ele acredita ser pior em sua perspectiva individual. - Portanto, uma vez que se permita aos legisladores trocar votos, eles se darão conta do custo de oportunidade de votar. Assim, eles poderão votar apenas nos casos em que tenham forte motivação a fazê-lo. Eles atuarão transferindo o seu voto em políticas menos preferidas para trocá-los por mais votos nas políticas de seus interesses. - O logrolling maximiza o bem-estar da coletividade. CAPÍTULO 3 – PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Uma dimensão muito especial do jogo dos políticos é a interação que se estabelece entre os legisladores e o presidente da República. Comparativamente aos legisladores, o presidente tem menor indução ao clientelismo e ao oportunismo eleitoral em decorrência de sua base de representação ser mais ampla e heterogênea, assim como de ter mandato eletivo limitado, e, portanto, sua motivação eleitoral tende a ser mais atenuada, sobretudo no segundo mandato. - O objetivo do presidente é, assim, legar um conjunto de realizações ao longo de sua limitada estada no poder. - As estratégias do presidente para tantopodem influenciar o resultado legislativo através de duas formas: Informais: coattails ou efeitos de associação ao prestígio, à imagem e à popularidade do presidente; preenchimento de cargos na administração pública, etc. Formais: iniciação do processo legislativo e a marcação da agenda da legislatura; poder de veto ex post às decisões da legislatura. - O mais típico desses instrumentos formais é o poder de veto do presidente, que caracteriza-se como uma espécie de direito de propriedade no processo legislativo. Além disso, por sua efetivação ser posterior à decisão da legislatura, ele acaba por incidir sobre a totalidade do processo de formação legislativa, ainda que formalizado em relação ao resultado final desse processo. De fato, o poder de veto tem um inequívoco sentido condicionante no conjunto de escolhas dos legisladores posto que a simples sinalização do presidente da República em vir a recorrer ao veto pode levara que os legisladores se inclinem a fazer escolhas de maior sintonia com as preferências do Executivo. Esse é o atributo dissuasório do veto presidencial. - Os poderes presidenciais, de acordo com a tipologia Shugart-Carey, podem ser distribuídos em duas classes: Poderes legislativos: o veto presidencial (total e parcial), e com a possibilidade de sua apreciação pela legislatura, sob condições de votações especiais; a emissão de decretos com utilização em temas de política exclusivos; a iniciativa legislativa, isto é, sendo o first mover no jogo de políticas. Poderes não-legislativos: sujeitos a influência que se admite que a legislatura possa ter em escolhas do executivo e nos questionamentos de decisões executivas, com a autonomia das comissões legislativas. - No caso do Brasil o poder presidencial vai muito mais além dessa composição, especialmente porque o presidente detém substancial capacidade emissora de leis (medidas provisórias) que, ao longos dos últimos anos, foi algo exagerado. Por outro lado, a interferência informal do executivo nas tarefas da legislatura assume formas variadas em decorrência do intenso logrolling que o presidente pode ativar em matérias que são do seu interesse ver ou não aprovadas. - Muito importante nessa relação entre presidente e legisladores é o sistema constitucional de separação de poderes que estabelece a margem de cooperação em que pode se sustentar uma política. Para tanto, esse sistema confere aos participantes desse jogo um poder de bloquear uma decisão, condicionando, assim, a estabilidade da política pública. A interação do presidente com a legislatura nesse sistema de separação de poderes é comparável a um monopólio bilateral: como decorrência do logrolling, as propostas de política aprovadas pelos legisladores tomam a característica de blocos de escolhas que pressionam o orçamento público, o que traduz, ademais, a variedade de interesses preferenciais que essas leis acomodam em seu texto. Em face da coerção que tal procedimento pode impor as preferências do executivo, o presidente lança mão de seu instrumento de uso exclusivo, o veto, quando lhe aprouver. - É relevante notar também que a vantagem que o presidente detém em suas relação com o congresso, por meio do uso do veto parcial, por exemplo, leva a que as preferências do presidente fiquem mais bem atendidas comparativamente às dos legisladores. Entretanto, não é necessário que esse antagonismo prevaleça, uma vez que a maioria dos legisladores poderá antecipar a reação presidencial ao conteúdo do projeto de lei encaminhado à sanção do presidente, o que dá margem a barganha entre congresso e presidente. - Nos últimos tempos no Brasil, a conexão eleitoral que aloca esses atendimentos federais tornou-se cada vez mais paroquial, em que poucos obtêm os benefícios, enquanto os encargos incidem sobre segmentos muito mais amplos. Esse é, portanto, um dilema da ação coletiva, uma vez que boa parte desses redutos eleitorais ficaria melhor recebendo menores benefícios e, ao mesmo tempo, menores níveis de encargos. Mas isso é algo que não existe, pois nenhum legislador apoiaria tal mudança sem ter a certeza que os demais políticos fariam o mesmo. Sendo o presidente, entre todos os políticos, o que representa o maior e mais heterogêneo reduto eleitoral e, ademais, sendo ele o único que tem limite de tempo de permanência no seu posto, uma outra saída para o dilema mostrado por Calabresi, é promover essa complexa distribuição do atendimento de políticas por meio da legislação emitida pelo executivo. UMA CONJECTURA PARA A HIPERTROFIA DO EXECUTIVO - Ao longos dos anos, seja devido às crises econômicas, seja pela visão de mundo dos que se alçaram aos postos de mando na formulação das políticas econômicas, o executivo passou a deter substancial poder decisório nas escolhas públicas sem que o Congresso dê efetiva demonstração de estar descontente com o atual status quo. Essa é uma situação que não apenas dissipa o sistema de separação de poderes, como vai mais além: o contraponto da legislatura, a responsabilização pelas escolhas públicas e o vigor das instituições do governo representativo ficam deteriorados por essa hipertrofia do executivo. Um envolvimento sistemático e equilibrado do Congresso em apreciar os atos do executivo minimizaria tais vícios. - Identifica-se um regime de catraca e tranca que dificulta qualquer tentativa de limitar o poder do Executivo: catraca porque, diante da deferência na revisão judicial, os burocratas encontram vasta área de flexibilidade para instrumentar as políticas públicas,, estabelecendo seguidamente novos patamares de atuação; e tranca porque as ameaças de veto e a emissão de MP prestam-se à fixação dessas políticas, levando a maioria legislativa a transigir. - Percebe-se que, em meio às freqüentes referências a reformas (tributária, trabalhista, política, etc) que seriam necessárias na economia brasileira, perde-se de vista a deterioração que a longa convivência com a hipertrofia do executivo nas escolhas públicas tem provocado nas instituições do governo. Entre os muitos déficits habitualmente mencionados nos dias de hoje, o de democracia talvez seja o que mais fundamentalmente necessita ser reduzido ou eliminado. AMBIENTES CONSTITUCIONAIS DAS ESCOLHAS PÚBLICAS - Inicialmente, o governo foi definido como um jogo majoritário de N representantes eleitos. O arranjo decisório dos legisladores pode ser unicameral ou bicameral, e com a ativação ou não do mecanismo de logrolling. Complementarmente, há a descentralização por jurisdições de comissões legislativas. - Agora, o presidente é incluído nesse jogo ora interagindo com uma legislatura unicameral ora na decisão tricameral que envolve o presidente e os processosmajoritários de deputados e senadores. A introdução do presidente nesse jogo cria novas possibilidades de solução, uma vez que o presidente detém o poder de veto à decisão dos legisladores, sendo que tal veto é posteriormente trazido a voto na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. CAPÍTULO 7 – CIDADÃO ELEITOR - O envolvimento do cidadão nas escolhas públicas é definido pelos impactos de política pública na realidade socioeconômica e pelo decorrente uso do voto e de outros instrumentos de sua participação no processo político. Sua racionalidade é a minimização da coerção que ele percebe nesses impactos, isto é, no maior ou menos comprometimento dos níveis subjetivamente mais preferidos desses impactos. - Se P* é o nível preferido ou ideal da provisão de uma política, do ponto de vista de um cidadão, e P é o nível em que essa política lhe é provida, a diferença |P-P*| é conceitualmente o nível de coerção que ele percebe implícito nessa provisão. - As estratégias disponíveis ao cidadão podem ser classificadas em: Diretamente orientadas para influenciar políticos e partidos políticos: votos, adesão a grupos de interesses especiais. Outras estratégias: auto-regulação (controle da coerção através da restrição da exposição aos impactos das políticas públicas), provisão privada (transferência do atendimento pelo processo político para o atendimento via mercado). - Algumas dessas estratégias apresentam a característica peculiar de ter seu uso restrito a determinados pontos do tempo como, por exemplo, o voto, que só pode ser feito em períodos eleitorais. Mas as diferentes estratégias possuem custos variados: a opção mais barata é o voto e a mais cara é a atuação de grupos de interesses especiais. - O ponto é que pelo seu voto, pessoal e intransferível, e por sua eventual integração a uma coalizão majoritária que o cidadão eleitor pode materializar suas preferências por um grau menor de coerção na política econômica. - O paradoxo da votação: por que gastar tempo em votar se o resultado eleitoral não será afetado pelo voto individual? - Há que se ressaltar também que há uma certa gradação no conjunto dos cidadão eleitores, ou seja, pode-se separar os cidadãos eleitores em espécies de grupos, em que cada grupo é mais ou menos adepto à política pública, mais ou menos ativo, etc, e saber dessas características é bastante relevante para que os políticos e os partidos possam pensar nas suas estratégias de atuação. - Duas questões surgem dessa relação do político com o eleitor: A expertise não-transferível do eleitor, ou seja, que algumas questões que podem estar ocorrendo de errado no meio público podem não ser prontamente reconhecidas pelo eleitor, que não tem o know-how necessário para fazer essas avaliações. Voto aberto x voto secreto na decisão legislativa. - Essa última questão provoca uma intensa discussão entre os agentes. Antes de mais nada, é preciso comparar as vantagens dessa transparência decisória com os custos inerentes à abertura do processo de decisão política. Um processo de escolhas públicas opaco pode levar a boas deliberações, enquanto, em troca, a abertura limita a margem de negociação com grupo de interesses. A transparência tanto viabiliza a responsabilização do político perante seus eleitores-patrocinadores quanto facilita a sinalização que esse político pode direcionar a interesses desse grupos especiais. - Assim, temos que o eleitor dispõe de dois instrumentos de participação no processo político: (i) o voto individual; e (ii) a ação coletiva de lobby, financiamento de campanhas eleitorais e uso da mídia. - Para o política, essas duas vertentes têm implicações distintas na autonomia com que ele participa das votações no plenário. Em quase todas as votações puramente legislativas, o voto aberto é adotado por seu uma precondição para que se ponham em marcha acordos de troca de votos (logrolling) entre os legisladores. Com voto secreto, tais acordos só poderiam ir adiante em função do monitoramente do resultado final da votação. - Mas o voto aberto também precisa ser questionado, uma vez que por via de uso da mídia, o voto aberto pode condicionar publicamente o legislador às pressões de grupos de interesse, tornando o político muito menos autônomo em sua participação das escolhas majoritárias. - Portanto, não é correto pensar que o fenômeno da representação política é trivial, a ponto de que desvios verificados entre as preferências do político e de seus patrocinadores possam ser descontados ao comportamento pernicioso do político e que o antídoto para esse problema seja necessariamente o voto aberto. O ELEITOR COMPETENTE - O cidadão pode ser considerado competente em seu desempenho como eleitor, já que ele vota do mesmo modo que votaria caso tivesse tido toda a informação disponível sobre as conseqüências de políticas públicas decorrentes de sua decisão. - Deve-se considerar três fontes principais de provisão de informação para a tomada de decisão do cidadão eleitor. A própria capacidade cognitiva do cidadão, ou seja, que o cidadão entende as possíveis conseqüências do resultado de sua decisão e, conseqüentemente, da eleição. Políticos e burocratas também podem contribuir para aumentar a competência do cidadão caso aprimorem a estrutura de informação sob a qual o eleitor faz as suas escolhas. A própria informação contida no documento do voto pode ser expandida com o propósito de aumentar a informação relevante na decisão do eleitor. UMA VEZ MAIS, A SOBREVIVÊNCIA ELEITORAL DO POLÍTICO - A racionalidade do político é ditada, em última instância, por sua sobrevivência eleitoral e, portanto, política como o aumento de impostos não são um comportamento observável próximo a uma eleição. Entretanto, essa dependência é substancialmente qualificada pelo ambiente institucional em que ela possa ocorrer.
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