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CURSO GRADUAÇÃO EM DIREITO
TEORIA GERAL DO DIREITO 
ALESSANDRA LEMOS FERREIRA
ANA BELE MARQUES SEVALHO RODRIGUES
SABRINA AMORIM DE SOUZA
THALLYA MARIANA OLIVEIRA SANTOS
YARA LAIS ALMEIDA SILVA
RESUMO: ELES, OS JUÍZES, VISTOS POR NÓS, OS ADVOGADOS
AUTOR: PIERO CALAMANDREI
BOA VISTA-RR
2021
ALESSANDRA LEMOS FERREIRA
ANA BELE MARQUES SEVALHO RODRIGUES
SABRINA AMORIM DE SOUZA
THALLYA MARIANA OLIVEIRA SANTOS
YARA LAIS ALMEIDA SILVA
RESUMO: ELES, OS JUÍZES, VISTOS POR NÓS, OS ADVOGADOS
AUTOR: PIERO CALAMANDREI
Trabalho apresentado para obtenção de nota para a segunda avaliação sistemática na disciplina de Teoria Geral do Direito – Turma 1(c), segundo bimestre, turno noturno no curso de direito da Faculdade Cathedral.
Orientador(a): Professor Mauro José do Nascimento Campello.
BOA VISTA-RR
2021
Sumário
1.	INTRODUÇÃO	4
2.	DESENVOLVIMENTO	6
2.1	Da confiança nos juízes, primeiro dever do advogado.	6
2.2	Das boas maneiras (ou da discrição) nos tribunais	6
2.3	De algumas semelhanças e de algumas diferenças entre os juízes e advogados	7
2.4	Da pretensa eloquência do pretório	8
2.5	De certa imobilidade dos juízes durante a audiência	9
2.6	De certas relações entre os advogados e a verdade, ou da parcialidade obrigatória dos primeiros	10
2.7	De certas aberrações dos clientes, das quais os juízes se devem lembrar como atenuantes dos advogados	10
2.8	Considerações sobre a chamada “chicana”	12
2.9	Da predileção dos advogados e dos juízes pelas questões de direito ou pelas de fato	13
2.10	Do sentimento e da lógica das sentenças	13
2.11	Do amor dos advogados pelos juízes e vice-versa	15
2.12	De certas tristezas e de certos heroísmos da vida dos juízes	16
2.13	De certas tristezas e de certos heroísmos na vida dos advogados	18
2.14	De uma certa coincidência dos destinos dos juízes e dos advogados	19
3.	CONCLUSÃO	21
4.	BIBLIOGRAFIA	23
2
2
INTRODUÇÃO 
O autor desta obra Piero Calamandrei nasceu em 21 de abril de 1889, em Florença, Itália. Foi um jornalista, político, docente universitário e jurista renomado no processo civil, escreveu uma das obras mais conhecidas a respeito da magistratura.
Piero Calamandrei, escreveu esta obra que foi publicada pela primeira vez em 1936 e gerou demasiado reboliço dentro do meio jurídico da época, tendo em vista que, em sua tradução literal, o título da obra é “um elogio aos juízes, feito por um advogado”.
Em sua obra Eles os juízes, vistos por nós, os advogados, o autor, um homem com experiência quotidiana do rigor dos juízes, aborda de uma forma “descontraída” o relacionamento entre os juízes e advogados. Em momentos por uma visão pessimista, ora por uma proposta positiva de reflexão acerca do contato entre estes profissionais. Demonstra através de diversos relatos e analogias, em quatorze capítulos, formas de lidar com situações do dia a dia capazes de amadurecer a instituição judiciária. 
O advogado deve saber sugerir, de forma discreta, ao juiz os argumentos que lhe deem razão, de tal modo que este fique convencido de os ter encontrado por conta própria. Este livro nos mostra que o advogado dever ser sempre educado e mostrar respeito pelo juiz. Aquele que estiver, mais preocupado com sua oratória ou em mostrar que sabe mais que o juiz, apenas irá prejudicar seu cliente. A maneira, mas certa de ganhar uma causa, é com discursos breves e coesos. O autor enfatiza muito a questão da breviedade da oratória e da argumentação concisa e direta, para ele um bom discurso é construído com a inteligência de saber usufruir das palavras de modo que não torne a oratória em algo cansativo. É de se surpreender a constância com que os clientes, ao escolherem os advogados, procuram encontrar neles as qualidades opostas àquelas que são apreciadas pelos juízes. 
Os juízes não gostam dos advogados discretos e lacônicos e os clientes e os clientes os querem verbosos e prepotentes. Útil é o advogado que fala somente o necessário, que escreve clara e concisamente, que não estorva o pretório com a grandeza de sua personalidade, que não aborrece os juízes com sua prolixidade nem os coloca desconfiados com suas sutilezas. O advogado, na prática, deve considerar, dentro das fórmulas, os homens como seres vivos, isso de considerar a questão de direito como um teorema, que se demonstra por formulas abstratas, nas quais os homens são representados por letras e os interesses por números, é coisa que o jurista só pode fazer num estudo ou num curso.
 Normalmente, a lógica construída pelo juiz no pensamento pode mudar apenas um de seus ramos e pode produzir julgamentos poderosos. O juiz é responsável por não ouvir sua gentil voz sem antes analisar o argumento, para um juiz, não há nada mais doloroso do que não pensar que pode encontrar uma forma de provar seu julgamento e tomar uma decisão que lhe parece mais justa, um senso de razão não significa um senso de justiça, e nem todas as sentenças de justiça têm uma base suficiente. Para o autor, é preciso combinar a intuição humana com seu conhecimento. 
Os advogados por muitas vezes agem como se enamorasse os juízes, muitas vezes chegando a ensaiar discursos em frente ao espelho, porém diferente de um namoro os advogados devem saber como reagir quando perdem uma causa, devendo revisar seus argumentos procurando seus erros cometidos. Não acreditem nos advogados que, depois de terem perdido uma causa, dizem mal dos juízes e fingem odiá-los e desprezá-los.
O autor apresenta também como são difíceis os uniformes dos juízes. Em termos de responsabilidades, ele os compara com médicos e outras profissões. “O drama do juiz” é a solidão, uma meditação diária sobre os momentos tristes, principalmente porque esse hábito o frustrava. De modo que é apenas rotina e rotina passar para ele a decisão de honra e a vida das pessoas. 
Há maneira mais bonita e mais humana de caridade que não seja ouvir? Bom, para Calamandrei, estas são duas qualidades que devem existir no íntimo de um advogado, o qual, mesmo com suas angústias e problemas pessoais, não deixa de amparar e escutar os lamentos do seu cliente. 
No 14º capítulo, existe um diálogo entre o advogado e o juiz, no qual cada um expõe a sua opinião sobre a natureza profissional do outro. No diálogo, foi promovido o argumento de que os dois lados mostravam semelhança. Esse setor tem seus altos e baixos, muitas vezes uma pessoa é considerada uma grande vantagem em outro setor, e a outra é ainda mais fraca no argumento por causa de sua eficácia e vice-versa. Eles encerram a conversa valorizando sua profissão e percebendo que uma é inerente à outra.
DESENVOLVIMENTO
Da confiança nos juízes, primeiro dever do advogado. 
Neste capítulo o autor traz a questão da confiança dos advogados na justiça. Para isso ele deve se dedicar e ao aceitar uma causa, lutar com dedicação, fervor e com fé na justiça. O termo utilizado de que a justiça é uma das coisas que não deve ser tomado a sério, foi inventado por quem desacreditou nos recursos que a justiça pode oferecer. Os advogados devem acreditar nas causas que defendem, pois a justiça somente aparece para quem nela crê. É através da utilização de boas e honradas razões, limitando-se a fazer compreender ao juiz que, contra as astúcias do seu adversário, não tens outra arma senão confiar no julgador.
Para encontrar a justiça é preciso ser lhe fiel. Ressalta que todo esforço empenhado ao cliente nunca é infrutífero. Com a certeza da razão do cliente, tanto pela lei quanto pela moral, que vale mais do que a lei, deve-se seguir com a defesa sem se intimidar com os melhores dotes ou eloquência do advogado adversário. 
Segundo o autor, o juiz possui poderes que mal exercidos podem fazer passar por justa a injustiça, mas que o juiz é a guarda e a garantia do que o direito promete. Nesse sentido, mesmo que todas as indicações levem a uma inevitável derrota, deve-se levar em conta que o juiz decidirá pela parte que tem a razão, e principalmente se é exposta com clareza e simplicidade.
No final do capítulo cita as palavras de seupai, questionando-as quando o pai diz que todas as suas sentenças nunca foram injustas, mesmo quando as perdia. Reconhece que talvez seja um pensamento ingênuo e reforça que é a partir dele que um advogado consegue manter a fé na justiça que permite a paz, e se afasta dos sentimentos de ódio que os caminhos da profissão podem proporcionar.
Das boas maneiras (ou da discrição) nos tribunais
Este capítulo inicia ressaltando que os processos não são como uma competição atlética, visto tratar-se de uma função séria e importante do Estado. Destaca que alguns advogados atuam durante os julgamentos deixando de lado a boa maneira, a discrição e educação que aplica em seu cotidiano. Para serem notados, os advogados acham que necessitam utilizar-se de meios para intimidar os juízes, com berros, gesticulações, entre outros e assim conseguir serem tomados mais sérios pelo júri e consequentemente tentar mudar o curso do julgamento. 
Não pode ser bom advogado aquele que não consegue resistir às pressões devido uma palavra contrária do adversário e se socorre da violência como forma de reação. Perder a cabeça quase sempre significa perder a causa de seu cliente.
O postulado “Iura novit curia”, não é somente uma regra processual, além de expressar o conhecimento do juiz a respeito do direito, adverte para o fato de que os advogados não devem se achar no papel de professores dos juízes, mas sim o contrário, devem tratá-los como mestres, ainda que se considerem grandes juristas, mas certamente péssimo psicólogos. Compara ainda a imprudência do advogado que contraria ou entra numa discussão com o juiz, a um examinando que arranja briga com o examinador. Não se deve combater o juiz por opinião contrária, ao contrário, deve-se fazer acreditar que está de acordo com ele.
Finalmente diz que o juiz deve lembrar da memorável defesa e argumentos do advogado e não das características de quem defendeu causa. Somente os argumentos bem construídos – e não a exibição da própria figura – tem força para fazer com que o defensor ganhe a causa. O defensor deve procurar a estratégia inteligente de projetar de forma muito discreta os argumentos e os fatos que lhe dão razão, se mantendo na sombra de sua pessoa. O advogado deve saber sugerir, de forma discreta, ao juiz os argumentos que lhe deem razão, de tal modo que este fique convencido de os ter encontrado por conta própria. Ao advogado cabe defender com afinco os interesses do seu cliente, na sua discrição e inteligência, contudo sem invadir a esfera do juiz, impondo-lhe a verdade e a razão. Assim como os advogado, o juiz também deve ser competente no exercício de sua função e não se deixarem corromper e tratar a todos com respeito.
De algumas semelhanças e de algumas diferenças entre os juízes e advogados
É necessário que o advogado adquira maturidade de conhecimentos, que seja ativo faça sua própria compreensão. O juiz deve ser sereno compreensível e imparcial. Ainda neste capítulo o autor cita um exemplo em que um juiz procura um advogado na posição de cliente, neste caso o juiz não deve se posicionar tecnicamente, para ele basta confiar na competência do advogado. Imparcial deve ser o juiz, que está acima dos contendores; mas os advogados são feitos para serem parciais, não apenas porque a verdade é mais facilmente alcançada se escalada de dois lados, mas porque a parcialidade de um é o impulso que gera o contraimpulso do adversário, o estímulo que suscita a reação do contraditor e que, através de uma série de oscilações quase pendulares de um extremo a outro, permite ao juiz apreender, no ponto de equilíbrio, o justo. 
O arrazoado da defesa, para ser verdadeiramente útil, não deveria ser um monólogo contínuo, mas um diálogo vivaz com o juiz, que é o verdadeiro interlocutor e que deveria responder com os olhos, com os gestos, com as interrupções. Interromper significa reagir, e a reação é o melhor reconhecimento da ação estimuladora. A objetividade do discurso do advogado deve orientar-se pela clareza, concisão e harmonia com seus ouvintes. 
Da pretensa eloquência do pretório
A importância do silêncio e da capacidade de observar as ações e expressões do juiz, além da capacidade de se expressar e desenvolver bons argumentos para discussão. Para o autor, não há castigo maior para um advogado do que um juiz que não o interrompe e fica inerte, à medida que o defensor amplifica sua argumentação, por esse motivo, um advogado não deve ficar chateado ou se sentir ofendido quando um juiz o interrompe, pois isso confirma que seu discurso está seguindo o rumo correto, não deixando com que o magistrado fique estático ou até mesmo desinteressado. 
Para Calamandrei, o momento em que o advogado inicia sua oratória causa alívio nos juízes, pois é neste instante que eles deixam sua postura e se permitem ser pessoas comuns, são como férias mentais. Para que os Juízes possam julgar outros cidadãos, este deve estar distante da emoção e agir conforme sua razão e de acordo com o que diz a lei. O juiz admira um advogado que fala e gesticula com clareza, que se beneficia da elegância das palavras de maneira sucinta e objetiva, principalmente, sem alteração em seu tom de voz quando é contrariado de alguma maneira, pois isso torna tudo mais difícil. 
Ainda que o advogado não consiga formular um discurso claro e conciso, este deve sempre optar pela breviedade, pois mesmo que o discurso não seja de fácil assimilação, o juiz vai compreender que tem razão, mesmo que ele não compreenda imediatamente o que se quis dizer. 
Um bom e verdadeiro advogado, é aquele que mesmo em meio a um tribunal, entrega a clareza e racionalização que apresentaria em uma conversa informal, mas sem perder sua postura. Quando o discurso do advogado é cheio de artifícios, ele se torna cansativo, e mesmo que seja uma boa oração, irá haver desconfiança, pois será tão bem planejado que este parecerá artificial, carregado de inverdades disfarçadas em palavras bonitas. 
De certa imobilidade dos juízes durante a audiência 
Para os juízes é grande o sacrifício de passar horas a fio ouvindo advogado proferir discurso muitas vezes inúteis, insensatos e cansativos. Alguns juízes se utilizam da prática de intervenção e interrompe o orador, já outro pode simplesmente deixar o discurso lhe cansar e adormece. Esse sono finda sendo uma opção que o magistrado encontra para não prejudicar uma ou outra parte, pelos deslizes do advogado que é prolixo.
Os advogados dedicados e comprometidos gostam de juízes atentos, que interrompem, dão atenção e demonstram compreensão e não a impressão de desgosto. Entendem também ser esse sono do juiz, uma forma de evitar ouvir um discurso que não interessa e deixar o advogado a vontade para um discurso desagradável. Os advogados não percebem, mas modulam suas frases tão cadenciadamente que propiciam o sono e o sono é a forma mais discreta que o juiz adota para sair na ponta do pé quando o discurso não interessa mais.
O capítulo trata de temas relacionados à consciência do advogado da sua função objetiva e clara ao defender o interesse do seu cliente. A diligência e competência do defensor devem se manifestar no decorrer de todo processo, sob pena de cansar o julgador e até mesmo prejudicar o interesse da parte.
Portanto cabe aos advogados, exercerem a função para a qual são designados com clareza, presteza e objetividade para que a causa de seu cliente não se torne algo cansativo e desestimulante para o julgador. O juiz, no exercício de sua função ao deparar-se com situações que ensejem que o desagrade relacionada a abusos dos advogados quanto ao alongamento desnecessário, deve exercer o poder que a legislação lhe confere a fim de frear e por limite a qualquer conduta que fira o direito da parte e, por consequência, postergue a prestação jurisdicional.
De certas relações entre os advogados e a verdade, ou da parcialidade obrigatória dos primeiros
Há o raciocínio que toda causa que possuem dois advogados um está certo e outro errado, sendo assim cinquenta por cento dos advogados seriam mentirosos. Claro queeste raciocínio se trata de uma falácia, primeiramente pelo fato de um advogado que perde uma causa ganha outras, mas principalmente pelo fato que na realidade o advogado deve demonstrar a verdade e tanto ele quanto seu adversário pretendem o mesmo. 
É comum que os advogados, apesar de defenderem lados opostos estejam de boa vontade, e acreditando na sua verdade, pois eles observam a causa através da visão do seu cliente. Neste combate a verdade a caba por vir átona revelando todos os argumentos necessários para um juiz tomar uma decisão. 
De certas aberrações dos clientes, das quais os juízes se devem lembrar como atenuantes dos advogados
Os clientes procuram muitas vezes qualidades no advogado que são opostas as qualidades apreciadas pelo juiz, o advogado deve falar estritamente o necessário sem abusar de sua personalidade mesmo que agindo desta forma não agrade o seu cliente pois agindo assim certamente terá grandes chances de agradar o juiz. Os juízes não gostam dos “habilidosos”, preferem o defensor que, na exposição da sua tese, conta com a excelência objetiva dos seus argumentos e não com o peso da sua autoridade pessoal, já os clientes veem na abundância de expedientes de habilidade a manifestação mais preciosa do gênio da advocacia, procuram seus defensores entre deputados e professores.
 Mas o seguinte: quando o juiz, por qualquer motivo pessoal, tem necessidade de recorrer à justiça e de ter um advogado, cai na mesma aberração dos clientes profanos e vai procurá-lo, de candeia acesa, entre aquela categoria de advogados da qual, como juiz, sempre desconfiou. Chamam de “grande advogado”, que é aquele que é útil aos juízes, para os ajudar a decidir de acordo com a justiça e útil ao cliente, para o ajudar a fazer valer suas razões. O advogado que fala estritamente o necessário, de forma clara e concisamente, que não aborrece os juízes com seu ego e grandeza da sua personalidade, é considerado útil, e isto é exatamente o contrário do que certo público entende por “grande advogado”.
 Certos clientes vão contar ao advogado seus males, na ilusão de que, ao contagiá-lo, fiquem subitamente curados. E saem sorridentes e leves, convencidos de que reconquistaram o direito de dormir sossegados a partir do momento em que encontraram quem assumiu a obrigação profissional de passar as noites agitadas por sua conta. Quando se é explicado para certos clientes que os advogados não são feitos para fraudar a justiça, ficam perplexos. Queixam-se os juízes de que os advogados escrevem demais, e quase sempre têm razão. Mas enganam-se se atribuem este excesso à verbosidade natural dos advogados ou, de preferência, ao seu desejo de um maior lucro. Os juízes não sabem quanta desta prolixidade é devida às pressões do cliente e qual a soma de paciência que o advogado deve ter para não ceder às insistências de quem avalia a excelência da defesa pelo número de folhas escritas.
 Certas pessoas julgam que os médicos não foram criados para ensinar a moderação que conserva a saúde, mas para descobrir remédios heroicos contra as doenças produzidas pelos excessos e dar, assim, aos seus fiéis clientes a receita para que possam beatamente continuar a exceder-se. Da mesma forma há quem pense que a função do advogado na sociedade não é a de manter seus clientes no caminho da legalidade, mas sim a de inventar expedientes para reparar a má fé dos espertalhões e para, deste modo, lhes permitir que continuem nas suas espertezas.
 Existe uma diferença entre os profissionais na advocacia cível: ao passo que estes se esforçam por encontrar nas leis as razões que permitam aos clientes violar legalmente a moral, aqueles procuram na moral as razões para fazer com que os clientes façam apenas o que as leis permitem. A tarefa de defender um cliente ingênuo é dura, completamente ignorante da complicada alquimia judiciária, quando se fala de prazos que não foram respeitados, quando se declara que tudo está perdido por causa da prescrição ou do pacto comissório, fica a nos ouvir de boca aberta, num misto de temor e de admiração. 
E hás de sentir-te, perante ele, na triste situação de quem, não querendo reproduzir o papel do mágico, se arrisca a passar, aos olhos do vulgo, por um impostor. Mais difícil ainda é defender o cliente que se acha um jurista de alto nível, aqueles que passam seu tempo em bibliotecas públicas catando as gazetas judiciárias, por exemplo. Este último, se for hoje parte em litígio, logo tirará do fundo das malas os poeirentos códigos e, triunfalmente, julgará ter encontrado sozinho a receita para seu mal.
Considerações sobre a chamada “chicana”
O advogado do cível deve ser o juiz instrutor de seus clientes, encarando a verdade frente a frente com o olhar desapaixonado do juiz: é aquele em que, solicitado pelo cliente para o aconselhar sobre a oportunidade de propor uma ação, tem o dever de examinar imparcialmente, tendo em conta as razões do eventual adversário, se pode fazer com que seja de justiça a obra de parcialidade que lhe é pedida. Um trabalho valioso do advogado cível é aquele que desenvolvem antes do processo, matando à nascença os litígios com sábios conselhos de transação e fazendo todo o possível para que eles não cheguem àquele estado mórbido, que torna indispensável o recurso à clínica judiciária. O advogado deve ser mais honesto que o clínico, o sanitarista da vida judiciaria e, atendendo a esta obra quotidiana e muda de desinfecção da litigiosidade, os juízes devem considerar os advogados como seus mais fiéis colaboradores.
O advogado, na prática, deve considerar, dentro das fórmulas, os homens como seres vivos. Deixemos aos professores o encargo de ensinarem nas escolas que a lei é igual para todos; a tarefa do advogado será depois explicar ao cliente que a legislação civil é feita principalmente para os bens situados, reservando-se aos outros a lei penal. Segundo Racine, os sessenta anos é a idade própria para litigar: le bel âge pour plaider. Mas todos os advogados conhecem clientes para os quais em qualquer idade, mesmo naquela em que outros sonham com o amor ou com a glória, o fim essencial da existência é o litígio, para o qual os impele não a maldade, nem a avidez, mas a exasperação mórbida daquela insaciável curiosidade dos domínios misteriosos, que todo o homem razoável sente acordar no fundo do seu coração, ao despertar todas as manhãs. 
 É preciso não classificar levianamente de chicaneiro o homem de bem que bate à porta do tribunal a pedir ajuda contra a prepotência ou a má-fé alheia, nem nos alegrarmos demasiadamente quando as estatísticas judiciárias dizem que a litigiosidade está em diminuição. Se algumas vezes a tendência para o litígio é reveladora de mórbidos instintos antissociais, outras vezes o recurso aos tribunais é prova de firme resolução de defender a ordem social contra os opressores e de sadia confiança na administração da justiça. Onde começa a santa vaidade, que ordena que não se dobre a espinha perante a superstição, e onde começa a baixa e petulante chicana, que despreza todo o senso de tolerância social e de compreensão humana?
É este um dos mais difíceis problemas que todos os dias atormentam a consciência do advogado, que sabe que trairia seu ofício se encorajasse o chicaneiro a litigar às cegas, mas sabe também que o trairia ainda mais gravemente se matasse no coração do justo a heroica intenção de se bater pela justiça, suportando os respectivos riscos.
A fé que certos clientes, especialmente gente humilde e inculta, têm na virtude dos advogados e na infalibilidade dos juízes é às vezes tão cega e absoluta que causa ao mesmo tempo dó e medo. Quando, perante as dúvidas honestas que se refere sobre o êxito de uma causa, ouço dizer ao cliente: “Se o doutor quiser, o tribunal há de dar-me certamente razão”, sinto vontade de abrir os olhos daquele iludido que não sabe por quantas veredas se dissemina o caminho do advogado.
Da predileção dos advogados e dos juízes pelas questões de direito ou pelas de fato 
No meio judiciário as questões mais úteis e relevantessão muitas vezes deixadas de lado, como por exemplo o médico que em visita aos pacientes esquece de auscultá-lo, dando atenção por exemplo a discursos metafísicos que nada adiantam na solução esperada pelo paciente. 
O operador do direito que deixa de se preocupar apenas em fazer sua imagem e passa a se preocupar com os fatos e procura a que é considerada mais justa daquele problema, é uma pessoa corajosa. Tanto juízes e quanto advogados tem tendência a descartar certos materiais sobre as questões e muitas vezes o que é debatido é irrelevante se analisado por um especialista.
Do sentimento e da lógica das sentenças 
Posto que continue a repetir-se que a sentença pode esquematicamente reduzir-se a um silogismo no qual, de premissas dadas, o juiz, por simples virtude de lógica, tira a conclusão, sucede às vezes que ele, juiz, ao elaborar a sentença inverte a ordem normal do silogismo, isto é, encontra primeiro o dispositivo e depois as premissas que o justificam. Esta inversão da lógica formal parece ser aconselhada oficialmente ao juiz por certos preceitos judiciários, como aquele que, ao passo que lhe impõe a obrigação de declarar no final da audiência o dispositivo da sentença, lhe permite que retarde em alguns dias a publicação dos fundamentos. Para frisar a diferença que existe entre a psicologia do advogado e a do juiz, costuma dizer-se que o primeiro é chamado a encontrar, em face de uma conclusão já conhecida, as premissas que melhor a justificam, ao passo que o segundo é chamado a tirar de premissas conhecidas a conclusão que logicamente decorre. Nem sempre, porém, a diferença é tão clara e sucede às vezes que o juiz se mata a conceber, a posteriori, os argumentos lógicos mais idôneos para fundamentar uma conclusão já antecipadamente ditada pelo sentimento. Mas ao passo que, quanto ao advogado, esta conclusão é fixada pelo cliente, pelo que toca ao juiz é fixada por aquela misteriosa e clarividente intuição, que se chama o sentimento da justiça.
 Todos os advogados sabem que, nas sentenças, as conclusões justas são muito mais frequentes que os considerados ou fundamentos dos quais não haja nada a dizer, de modo que frequentemente, após um recurso de revista por erro de direito, o juiz recorrido nada mais pode fazer em consciência do que reproduzir, com maior habilidade, a conclusão da sentença revogada. Isto sucede porque às vezes o juiz, no qual os dotes morais são superiores aos intelectuais, intuitivamente sabe de que lado está a razão, posto que não consiga depois encontrar os expedientes dialéticos que o demonstrem. Sob este ponto de vista é de desejar que o juiz tenha um pouco da habilidade do advogado, para que, ao redigir a sentença nos seus considerados, possa ser o defensor da tese já fixada de antemão pela sua consciência.
Pode ter-se como certo que não compreende a santa seriedade da justiça o juiz, que em vez de dar aos males das partes uma solução justa, se preocupa em entreter os leitores com um pedaço de boa literatura, esse magistrado que não passa de uma espécie de padre Zapata judiciário, discorrendo bem, mas julgando mal. 
Não digo, como tenho ouvido dizer, que a excessiva inteligência seja nociva ao juiz. Digo apenas que ótimo juiz é aquele no qual, sobre a cauta intelectualidade, prevalece a intuição humana. 
 
Do amor dos advogados pelos juízes e vice-versa 
Se, noite alta, ao regressar do teatro, aqueles que nada têm que fazer passam sob a janela do advogado, hão de vê-la iluminada, pois ele está sentado à secretária, a redigir para a dona amada, na calma da noite e contestado por um rival, cartas ardentíssimas, prolixas, enfáticas e aborrecidas como todas as cartas de amor. As cartas chamam-se “articulados” ou “minutas”, se virem numa biblioteca pública um advogado a tirar das estantes, entre nuvens de pó, velhos alfarrábios que mais ninguém consulta, saibam que ele procura certas fórmulas mágicas, concebidas em séculos idos por velhos cabalísticos, e que devem servir para vencer, por encantamento, a oposição da sua bem-amada: o tribunal.
 E se numa tarde de domingo o advogado sai sozinho, a pé, em direção ao campo, não julguem que vai distrair-se. Sigam-no, sem que ele dê por isso, e verão que quando julgar estar só, sua face há de tornar-se sorridente, sua mão há de mover-se, desenhando um largo gesto espontâneo, e seus lábios, dirigindo-se às ... árvores, confidentes habituais dos namorados, hão de repetir os murmúrios da paixão eterna: Meritíssimo Juiz presidente, Meritíssimos Juízes adjuntos.
Quando um juiz, ao fundamentar sua sentença, dirige à defesa de uma das partes os epítetos de “hábil”, “douta” etc., o faz quase sempre para adoçar o que diz a seguir, isto é, que não se deixa levar por aquela habilidade nem adere a tal doutrina. Se um advogado, ao ler os fundamentos de uma sentença que ansiosamente esperava, esbarra com semelhantes epítetos laudatórios a seu respeito, pode ter a certeza, sem necessidade de ler a conclusão, que perdeu a causa. Quando os espectadores profanos de uma audiência judiciária se aventuram a fazer, pela atitude dos juízes, horóscopos sobre o êxito da causa que se discute, é fatal predizerem o contrário do que vai suceder. Se os juízes ouvem com grande atenção o discurso de um advogado, tal não significa, como julga o profano, que sejam favoráveis à tese que sustenta, mas, pelo contrário, significa que, estando já dispostos a não lhe dar razão, têm, no entanto, a curiosidade de saber o que mais será capaz de imaginar para sustentar a tese que já tacitamente condenaram.
 Deve aprender o advogado principiante a alegrar-se quando é interrompido durante o discurso pelo juiz presidente, e que, ao esperar uma decisão que o apaixona, se o juiz presidente sorri docemente em retribuição aos cumprimentos feitos, esse sorriso é um prenúncio nefasto da decisão. Os juízes estão sempre dispostos a compensar com amabilidades pessoais, fora da audiência, os advogados a quem um minuto antes e no tribunal negaram razão. Para um juiz honesto, que tenha de decidir uma causa entre um amigo e um indiferente, é preciso maior força para dar razão ao amigo do que para lhe negar; é preciso maior coragem para se ser justo, arriscando-se a parecer injusto, do que para ser injusto, ainda que fiquem salvas as aparências da justiça.
De certas tristezas e de certos heroísmos da vida dos juízes
Na República, de Platão, médicos e juízes são tratados com certa desconfiança, como sintomas reveladores das doenças, físicas e morais, de que sofrem os cidadãos. Os juízes, como os médicos, apenas veem em seu redor chagas e lepra. Os juízes, como os médicos, respiram durante toda a sua vida um ar viciado, naqueles sombrios hospitais de toda a corrupção humana, que são os tribunais. Conheci um químico que, quando no seu laboratório destilava venenos, acordava às noites em sobressalto, recordando com pavor que um miligrama daquela substância bastava para matar um homem.
O bom juiz põe o mesmo escrúpulo no julgamento de todas as causas, por mais humildes que sejam. É que sabe que não há grandes e pequenas causas, visto a injustiça não ser como aqueles venenos a respeito dos quais certa Medicina afirma que, tomados em grandes doses, matam, mas, tomados em doses pequenas, curam. Até aquela hora de distração espiritual, que todo homem cansado pode encontrar à mesa se em redor se sentarem amáveis conversadores, é vedada ao juiz, a quem um artigo do Código, que o ameaça com o afastamento se tiver por comensal habitual um litigante, aconselha a que tome suas refeições em acética solidão. À noite, quando as entregam, faiscantes à força de polimento, a quem ansiosamente as espera, preparam serenamente, sobre aquela mesma mesa onde pesaram os tesouros alheios, sua ceia frugal e partem sem inveja, com as mãos que lapidaram os diamantes dos ricos, o pão da sua honesta pobreza.
O juiz também vive assim. Não conheço qualquer ofício em que, mais do que no do juiz, se exija tão grande noção de viril dignidade, esse sentimento que manda procurar na própria consciência, mais do que nasordens alheias, a justificação do modo de proceder, assumindo as respectivas responsabilidades. Talvez tenha sido esta a razão por que o juízo coletivo, que se considera como uma garantia de justiça para as partes, foi inventado a favor dos juízes, a fim de lhes permitir uma certa companhia na solicitude da sua independência.
Posso admitir que os magistrados sejam favoráveis ao sistema do juiz único, visto que lhes estimula o amor-próprio e os liberta de todas as perdas de tempo da resolução em conferência.
O horror de ter proferido uma sentença injusta podia ser para um juiz consciencioso tão inquietante, que o impedisse de dormir. O juiz que até o momento de a decisão não conseguir ter uma opinião segura, livra-se daquela tortura, convidando uma das partes a prestar juramento. Bem sabemos que advocacia e magistratura estão moralmente no mesmo nível e não é descer trocar a beca de juiz pela toga de advogado. O verdadeiro drama do juiz não é aquele que tantas vezes aparece com este título no romance ou no teatro e cujo enredo é quase sempre enfático entre o dever de ofício e as paixões do homem, como o que se dá quando o Ministério Público é chamado a acusar, sem que o saiba, o próprio filho, ou no caso, ainda mais extravagante, de o juiz instrutor vir a descobrir que o crime foi cometido por ele, em estado de sonambulismo.
Menos romanesca e mais humilde é a tristeza que alimenta o drama diário do juiz. O drama do juiz é a solidão, porque ele, que para julgar deve estar liberto de afetos humanos e colocado um degrau acima dos seus semelhantes, raramente encontra a doce amizade que requerem espíritos no mesmo nível e, se vê avizinhar-se, tem o dever de evitar com desconfiança, antes que tenha de aperceber-se que a movia apenas à esperança dos seus favores, ou antes que ela lhe seja censurada como traição à sua imparcialidade. O drama do juiz é a contemplação quotidiana das tristezas humanas, que enchem toda a sua existência, na qual não têm lugar as frases amáveis e descansadas dos afortunados, que vivem em paz, mas apenas os rostos doloridos, transtornados pelo calor do litígio ou pelo aviltamento da culpa. Contudo, principalmente, o drama do juiz é aquele hábito que, insidioso como uma doença, o consome e o desencoraja até ao ponto de lhe fazer sentir sem revolta que o decidir da honra e da vida dos homens passou a ser, para ele, uma prática de administração ordinária.
O juiz que se habitua a fazer justiça é como o sacerdote que se habitua a rezar a missa. Feliz o magistrado, que até o dia que precede o limite de idade, sente, ao julgar, aquela consternação quase religiosa, que o fez tremer, cinquenta anos atrás, quando juiz de terceira teve de dar sua primeira sentença.
De certas tristezas e de certos heroísmos na vida dos advogados 
Segundo Calamandrei, quando o réu encontra alguém que o defenda, ainda que se trate um acontecimento que venha a ferir os princípios mais obscuros do direito, significa que o advogado não tem apenas interesse no dinheiro ou sucesso, mas também tem compaixão, não permitindo que o inocente sofra sozinho com sua dor, ou o culpado com sua vergonha. Mas além disso, temos o termo “coragem moral” que se classifica quando há alguém disposto a se desafiar e enfrentar a face mais obscura e suja daquilo que ferem os princípios do direito, mesmo tendo a oportunidade de fingir que não está vendo, podendo seguir o seu percurso livremente, se faz presente e jamais hesita no que diz respeito a defender e guerrear pelo mais fraco, esta qualidade vai além da compaixão e é ainda mais rara que a caridade.
Para o autor, a maneira mais bonita e mais humana de caridade é aquela em que o advogado se dispõe a ouvir os lamentos de seu cliente, demonstrando interesse em sua narração e de certo modo trazendo conforto a ele, deixando claro que sua história e trajetória vão muito mais além que as paredes de um tribunal. 
Frequentemente os advogados praticam este ato de solidariedade humana e amor ao próximo, que é expresso principalmente no ato de fazer companhia a aquela pessoa que traz consigo uma história, na maioria das vezes carregada de dor.
Ainda que o cliente já esteja ciente da sua derrota, ele sente a necessidade de compartilhar sua causa, o que o faz pensar que não há ninguém no mundo que irá ouvi-lo com tanta atenção e compaixão quanto um advogado. Após este compartilhamento, o cliente se sente leve, como se tivesse retirado um peso de suas costas.
É comum que ao início da narrativa do cliente o advogado não se sinta totalmente interessado naquilo que lhe é dito, entretanto o interesse se faz presente e com ele vem o entusiasmo, de maneira que nem mesmo o próprio advogado percebe quando ele chega. É natural, o profissional do direito, com sua experiência e olhar crítico, perceber que existem lacunas que estão incompletas nas narrativas que lhes são contadas, e é neste momento que o papel do advogado se faz presente, com sua indagação e persuasão para que o cliente retorne ao contexto e conte tudo que se faz necessário. 
E são com essas experiências que o advogado pode, ao longo de sua trajetória, vir a se orgulhar de ter adquirido ensinamentos, sejam eles de vida ou profissionais, sempre retrocedendo e percebendo que aquele cliente que antes parecia chato e desinteressante, na verdade pode ser alguém frágil, um inocente precisando de defesa ou até mesmo um amigo precisando de consolo. 
Advogados são aqueles que mesmo em meio a conflitos pessoais e enfermidades, nunca deixam de ter compaixão e sensibilidade para com as causas do próximo, seja pelo amor ao seu trabalho ou por tudo que já viveu. 
De uma certa coincidência dos destinos dos juízes e dos advogados
Sabes que o verdadeiro advogado, aquele que dedica toda a sua vida à profissão, morre pobre, pois ricos ficam apenas aqueles que sob o título de “advogados” são, na verdade, comerciantes ou intermediários ou, como usam certos especialistas de divórcio, desenvoltos abelhudos. Quanto à glória e ao reconhecimento da clientela, deves ficar grato ao advogado que, colocando-se entre ti e os clientes, te evita que os vejas de frente. Conheces o mundo através da palavra do advogado, que te apresenta o caso com boas maneiras e belo estilo forense, despido já dos feios pormenores da realidade e traduzido em compreensíveis termos jurídicos. O advogado é para ti o purificador da realidade grosseira, é ele quem tira os fatos do lodo imundo onde jazem, para os colocar respeitosamente, com precisão e floridos, sobre tua banca.
Esta árdua tarefa de síntese e de clarificação, feita pelo advogado, nem sequer tem por recompensa o reconhecimento de quantos a ele recorrem. Se explicares delicadamente que o advogado não foi feito para servir de capa às mentiras do cliente, este zangar-se-á. Quando o advogado por seu esforço consegue ganhar uma causa que parecia perdida, o cliente dá-lhe a entender que isso se deve mais a certa recomendação de um amigo da casa, que em tempo oportuno interveio a favor do causídico, do que à excelência da defesa. Mas se a perder, o cliente convence-se de que o advogado estava feito com a parte contrária.
Se a audiência é adiada, a culpa é do advogado, que dessa forma pretendeu avolumar sua nota de honorários. Não falemos, sequer, na impiedosa facilidade com a qual o cliente esquece que as forças do advogado têm limites e que é também um homem sujeito a estar cansado ou doente. Se, com um sorriso pálido, fazes o cliente notar que, pela décima vez, conta sua história, que já não podes continuar a ouvi-lo, visto te sentires doente, há de olhar para ti abismado e sem compreender e, a seguir, continuará o fio do discurso, pois se o advogado tem o dever de se interessar pelas coisas da sua vida, ele, cliente, não tem a obrigação de se interessar pelas coisas da vida do advogado. 
Ele, que sente como um homem que a causa que deve decidir é mil vezes menos importante que sua dor, deve considerar esta como uma coisa sem importância em comparação com a causa, ainda a mais fútil, que tenha de julgar. E ao passo que o homemsoluça interiormente ao pensar no filho que morreu na véspera, o magistrado tem de dar atenção ao advogado que, sem piedade, durante três horas lhe explica os motivos pelos quais um inquilino não pagou a renda. 
Procuram uma réstia de sol nos bancos dos jardins públicos e levam os dias a lembrar-se da multidão de amigos «dedicados» que os procuravam quando estavam em exercício, mas que, como por encanto, desapareceram com a reforma. Se, para arredondarem sua pensão e não abandonarem as salas de audiência a que estavam habituados, experimentam a carreira de advogado, a solidão desses velhos estreantes, perdidos entre a multidão dos advogados novos, é ainda mais profunda e triste. O ADVOGADO – Essa será a nossa vida, esse o nosso destino, se nos for dado envelhecer. O JUIZ – Nem eu, porque me parece que entre todas as profissões que os mortais podem exercer, nenhuma como a do juiz pode contribuir para manter a paz entre os homens, visto ele ser quem distribui aquele bálsamo para todas as feridas, que se chama Justiça.
É por isso que o fim dos meus dias pode ainda, apesar da solidão, ser doce e sereno. Nesta esperança, oh advogado, hão de encontrar-se nossos destinos ao findar sua missão na Terra. E por força dessa comunidade da nossa sorte, podemos abraçar-nos como irmãos.
CONCLUSÃO
Nesta obra, o autor faz uma série de considerações acerca da relação entre os advogados, os juízes e a respeito da própria justiça. É possível perceber no decorrer dos capítulos a tentativa clara do autor de humanizar os juízes e suas relações com os advogados. Ressalta a importância do advogado que crente na justiça, e crente de suas causas justas, tenha argumentos claros, objetivos e válidos, para assim convencer o juiz, confiando em sua sabedoria ao proferir a sentença, que deverá ser baseada nos fatos e seus argumentos, sem considerar a pessoa e sim a sua razão. 
Calamandrei destaca a necessidade de confiança entre juízes e advogados, tendo em vista que sua busca é a mesma, ainda que em posições diferentes dentro da sala de audiência, desempenhando papel de requerente, requerido e julgador, o objetivo de todos é a solução do conflito e a obtenção do direito. O autor expõe um diálogo entre o advogado e o juiz. Segundo ele é obrigação do advogado acreditar que ele obterá um resultado justo em suas causas.
MARIANA
Para o autor, de nada serve o dom da eloquência se não for utilizado com sabedoria, ao contrário do que muitos pensam, bons discursos não são aqueles muito bem planejados e ensaiados, estes se tornam exaustivos em um tribunal, além de serem muito mais dignos de desconfiança. Um bom orador é aquele que sabe entregar sua defesa de maneira tão natural quanto a que teria em uma conversa informal em um chá da tarde com um amigo de profissão.
Os juízes gostam de teses objetivas enquanto os clientes gostam de oratórias e discursos apelativos. A grande diferença entre um e o outro é que enquanto um procura argumentos e razoes o outro procura aparências. Existem pessoas que pensam que a função do advogado na sociedade não é de manter seus clientes no caminho da legalidade, mas sim a de inventar expedientes para reparar a má fé dos espertalhões e para, deste modo, os permitir que continuem nas suas espertezas. É difícil defender um cliente ingênuo, completamente ignorante da complicada alquimia judiciaria, mas é ainda mais difícil defender o cliente que se julga um jurista consumado. 
Ao aceitar o caso de um cliente, ainda que seja uma causa de mínima importância, o advogado encara a causa como algo digno e nobre. Na questão judicial o advogado disfruta aos poucos de um novo processo, porque lhe renova a ansiedade de espera, e mesmo quando derrotado pelo seu adversário, ao invés de perder a coragem, o advogado procura compreender onde houve falha. Uma expressão típica, não de degenerescência, mas de sublimação profissional, é a atitude de certos advogados que julgariam indecoro e deselegante litigiar em causa própria por poucas centenas de liras, mas sentem que patrocinar o cliente é um ofício sempre digno e nobre. Isso sucede porque, para o advogado que defende a causa alheia, o que está em jogo não é o valor econômico do pleito, mas a missão de honra pela qual se sente pessoalmente vinculado a quem teve tanta confiança nele que o encarregou da tutela do seu direito.
Se o juiz presidente corta deselegantemente a palavra de um advogado que está a falar, ou o convida a concluir, isto não quer dizer, como o profano pode julgar, que sua causa seja boa e que já esteja resolvida, mas apenas quer dizer que o tribunal não gosta de perder tempo a ouvir argumentos que ele próprio conhece e de que já está convencido. A amizade pessoal entre o juiz e o advogado não é, ao contrário do que julgam os profanos, um elemento que possa ser útil ao cliente, pois se o juiz é escrupuloso, tem tanto medo que a amizade possa inconscientemente levá-lo a ser parcial a favor do amigo que é naturalmente levado, por reação, a ser injusto com ele.
MARIANA
BIBLIOGRAFIA
CALAMANDREI, P. Eles, os juízes, vistos por nós, os advogados. ed. SP: Pillares, 2003.

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