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1 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto HISTOLOGIA E ANATOMIA DO ESÔFAGO ➢ HISTOLOGIA: • O esôfago é um órgão histologicamente diferente de todo o restante do tubo digestivo, pois o esôfago é o único órgão que não tem a camada serosa, o que o torna um órgão mais fino e mais suscetível a perfurações, patologias e disseminação em pacientes oncológicos • Camadas do esôfago → do interior para o exterior: ▪ Mucosa ▪ Submucosa ▪ Musculares ▪ Adventícia ➢ ANATOMIA: • O esôfago é um órgão que está localizado pelo menos em 3 regiões do corpo: ▪ Esôfago cervical → na transição faringoesofágica, que normalmente se estende de 15 a 20cm da arcada dentária superior, tendo-se cerca de 5cm de esôfago cervical ▪ Esôfago intratorácico (é a maior parte do esôfago) → se estende, a depender da literatura, de 20 a 40cm da arcada dentária superior ✓ É a parte do esôfago que mais apresenta relações anatômicas importantes, pois ele: o Se localiza: ❖ Posteriormente à traqueia ❖ Anteriormente à coluna ❖ Lateralmente à aorta (do lado esquerdo do corpo) o Tem relação com grandes veias (Veia Ázigos, Veia cava superior e inferior...) ❖ A veia cava inferior desemboca no saco pericárdico, que está anteriormente ao esôfago ▪ Esôfago abdominal • Inervação: ▪ Nervo laríngeo recorrente e nervo laríngeo superior → estão relacionados ao esôfago cervical ▪ Nervo frênico → responsável pela inervação do diafragma ▪ Nervo vago → é o grande nervo parassimpático do tubo digestivo ✓ Desce anteriormente ao esôfago • O esôfago é um órgão que funciona única e exclusivamente como um “tubo”. Assim, se ele estiver colabado e não tiver nada passando por ele, não haverá problema algum. E quando se tem a distensão do esôfago, tem-se alguns pontos de constrição desse órgão, que são: ▪ Esfíncter esofagiano superior → à nível do esôfago cervical ▪ No momento em que os grandes vasos cruzam o esôfago ✓ Existem malformações geralmente congênitas que são chamadas de anéis vasculares do esôfago, os quais qualquer vaso pode circular o esôfago e determinar uma obstrução ▪ Esfíncter esofagiano inferior (passagem pelo hiato esofágico) → o esôfago entra no abdômen através de uma abertura das fibras do diafragma, denominado hiato esofágico. Esse também pode ser um ponto de constrição ACALÁSIA DO ESÔFAGO CARACTERÍSTICAS ➢ DEFINIÇÃO → a acalasia é a disfunção causada pelo relaxamento incompleto do esfíncter esofagiano inferior • Quando o esfíncter esofagiano inferior contrai, impede-se a passagem de comida e retém-se a comida no esôfago. Se o esfíncter relaxa, abre-se o esôfago e faz-se com que o alimento passe. Assim, a acalasia, que é o relaxamento incompleto do esfíncter, faz com que o esôfago não relaxe o suficiente para que a comida passe de forma adequada ➢ É uma doença crônica e progressiva • Assim, a acalasia de esôfago determina alterações ao longo do tempo, como: ▪ Perda da peristalse do esôfago → no paciente com acalasia, com o decorrer do tempo (mais de 10 a 20 anos, por exemplo) a região do esôfago próxima à área de acalasia torna-se disfuncional. Assim, perde-se a peristalse do esôfago e o alimento descerá única e exclusivamente com o auxílio da gravidade, pois o esôfago perde a capacidade de se contrair para que o bolo alimentar passe para o abdômen 2 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto ➢ QUADRO CLÍNICO: • Disfagia → é o principal sintoma ▪ É uma disfagia progressiva, que se inicia como incapacidade de deglutir sólidos, depois alimentos pastosos e por último líquidos • Dor retroesternal → causada por distensão e acúmulo de comida no esôfago • Regurgitação → principalmente de alimentos não digeridos ▪ Como esses pacientes ficam com restos alimentares praticamente decantando no esôfago, também é muito comum que essa regurgitação seja de extremo mau cheiro e que esses pacientes tenham uma halitose importante • Pirose ➢ ETIOLOGIAS: • Primária → no mundo em geral, em países desenvolvidos, a principal causa é a acalasia primária • Secundária: ▪ Doença de Chagas → no Brasil, o mais comum é a acalasia secundária à doença de Chagas ✓ O protozoário Trypanosoma cruzi tem uma preferência pelos plexos mioentéricos (plexos de Auerbach e plexos de Meissner), destruindo-os e causando uma disfunção esofágica e colonica ✓ É mais comum em países subdesenvolvidos e com clima tropical AVALIAÇÃO INICIAL ➢ A avaliação inicial de todo e qualquer paciente com disfagia tem que, necessariamente, descartar câncer de esôfago, por meio da realização de uma Endoscopia Digestiva Alta ➢ ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA): • A endoscopia sugere a acalasia, mas não dá o diagnóstico ➢ ESOFAGOGRAMA BARITADO: • É basicamente um raio-x do esôfago pós contraste • Serve para visualizar e classificar os graus a acalasia, sendo mais um exame prognóstico do que diagnóstico • Não precisa ser feito de rotina em todos os casos de acalasia, mas o esofagograma baritado pode fornecer informações importantes, principalmente do ponto de vista de resposta terapêutica ▪ Exemplo: submeteu-se um paciente com acalasia a determinado tratamento → antes de tratar ele apresentava 10cm de contraste no esofagograma baritado, depois de 5 minutos após tomar o contraste, e depois do tratamento ele apresentou apenas 3cm de contraste. Isso mostra que o tratamento foi efetivo • Classificação de Rezende: ▪ Acalasia grau A → dilatação esofágica pequena (< 4 cm) ▪ Acalasia grau B → dilatação esofágica entre 4 e 7 cm ▪ Acalasia grau C → dilatação esofágica entre 7 e 10 cm ▪ Acalasia grau D → dilatação esofágica > 10 cm ou uma quebra do eixo esofágico (esôfago não é mais reto, adquirindo um aspecto em L ou J) ➢ MANOMETRIA ESOFÁGICA: • É o exame diagnóstico da acalasia • Por endoscopia, tem-se um material com o qual se consegue medir a pressão no esfíncter esofagiano inferior. Assim, medindo-se essa pressão consegue-se afirmar com certeza o diagnóstico da acalasia ➢ MANOMETRIA ESOFÁGICA DE ALTA RESOLUÇÃO → é o exame padrão-ouro • É um exame de difícil interpretação e tem uma classificação mais avançada TRATAMENTO 1. AVALIAÇÃO DO PACIENTE: • Primeiramente, é necessário ter sempre em mente que o tratamento é individualizado, dependendo do paciente • O tratamento da acalasia vai desde um procedimento simples até um extremamente agressivo ▪ Tratamentos agressivos só servem para bons pacientes • Escalas importantes, principalmente quando se fala em câncer: ▪ Escala de Karnofsky → performance status ▪ ECOG → status funcional do paciente Na imagem vê-se o esôfago distendido com a ausência de relaxamento do esfíncter esofagiano inferior, o que sugere uma acalasia, mas não confirma o seu diagnóstico 3 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto ▪ Um paciente com Karnofsky de 50 a 60%, que não consegue mais cuidar de si, com ECOG a partir de 3, que está sempre em cama ou cadeira, não é candidato a qualquer tipo de tratamento agressivo • Como o paciente com acalasia não consegue comer, é necessário sempre ter em mente que pacientes que não se alimentam são desnutridos, com risco nutricional aumentado, e sabe-se que esses pacientes não toleram cirurgia. Assim, às vezes, para esses pacientes, menos é mais 2. TRATA-SE DE UMA DOENÇA PROGRESSIVA: • Assim, após o tratamento o paciente não ficará curado, pois após algum tempo a doença irá recidivar ▪ No momento da recidiva é importante saber como tratar esse paciente e ter em mente novas alternativas terapêuticas, avaliando individualmente ➢ TIPOS DE TRATAMENTO: • MEDICAMENTOSO: ▪ O tratamento medicamentoso é uma exceção! ▪ Indicação → pacientes que não podem ser submetidos a tratamentos invasivos, pois constituem alto risco ✓Exemplo: paciente há mais de 10 anos com acalasia por doença de chagas, cardiopatia chagásica e pesando 30kg → se submeter-se esse paciente a qualquer tipo de tratamento invasivo esse tratamento será pior que a doença, podendo levar o individuo ao óbito ▪ Assim, se o paciente é de alto risco cirúrgico deve-se fazer um tratamento menos invasivo possível ▪ A resposta ao tratamento medicamentoso não é boa, mas é a única opção em casos de alto risco ▪ Utilizam-se medicações que são capazes de relaxar a musculatura lisa do esfíncter esofagiano inferior, como: BLOQUEADORES DO CANAL DE CÁLCIO NITRATOS INIBIDORES DA FOSFODIESTERASE ANTICOLINÉRGICOS • ENDOSCÓPICO: ▪ BOTOX → aplica-se botox no esfíncter esofagiano inferior ✓ O botox faz com que se tenha o relaxamento completo do esfíncter, não permitindo que ele se contraia ✓ É necessário mais de um procedimento, mas tem resposta em doentes de alto risco ▪ DILATAÇÃO PNEUMÁTICA POR BALÃO → destrói o esfíncter esofagiano inferior ✓ Como é feito → passa-se um fio-guia pelo esfíncter, insufla-se um balão e puxa-se esse balão, abrindo-se o esfíncter ▪ POEM (PERIORAL ENDOSCOPIC MYOTOMY): ✓ O esfíncter é um músculo e na acalasia ele se encontra contraído o tempo todo. Assim, ao se destruir essa musculatura, ele para de contrair, e faz-se isso de duas formas: o De dentro para fora → por meio do POEM o De fora para dentro → por meio do Heller ▪ Como o POEM é realizado: ✓ Entra-se no esôfago pela endoscopia, abre-se a mucosa e cria-se um “túnel” por meio da miotomia, que é a quebra da camada muscular. Assim, em relação às camadas do esôfago, o procedimento abre a camada mucosa e a submucosa, destrói a muscular e deixa apenas a camada adventícia ✓ Problema do procedimento → refluxo, devido à destruição do esfíncter • CIRÚRGICO: ▪ CARDIOMIOTOMIA A HELLER: ✓ É feito de fora para dentro, abrindo-se a camada adventícia e destruindo-se a muscular, ficando apenas a mucosa e a submucosa ✓ Como é feito → faz-se uma miotomia dos 3cm proximais do estômago e dos 6cm distais do esôfago ✓ Problema do procedimento → refluxo, devido à destruição do esfíncter o Para evitar o refluxo, na cirurgia de Heller associa-se um procedimento chamado de fundoplicatura (para as acalasias a fundoplicatura sempre deve ser parcial), na qual pega-se o fundo do estômago e envolve parcialmente o esôfago, criando-se um esfíncter um pouco mais relaxado do que o esfíncter na acalasia ▪ ESOFAGECTOMIA: ✓ É o tratamento mais agressivo e é realizado quando nenhum outro dos tratamentos citados anteriormente resolve o quadro de acalasia o Por que é mais agressivo → porque o esôfago encontra-se em 3 regiões do corpo (cervical, torácico e abdominal), tem vascularização duvidosa... ✓ É uma cirurgia pouco realizada e com uma alta taxa de complicações, mesmo sendo realizada por 4 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto cirurgiões mais especializados nesse tipo de procedimento ✓ Só é uma opção em pacientes extremamente graves ➢ 3 principais tratamentos da Acalasia: • Dilatação Pneumática por Balão • POEM • Heller ➢ De acordo com a classificação de Rezende: • Acalasia grau A → tratamento medicamentoso ou botox • Acalasia grau B → dilatação pneumática por balão e considerar se é necessária a realização de POEM ou Heller • Acalasia grau C → avaliar POEM ou Heller • Acalasia grau D → é o verdadeiro candidato à esofagectomia, desde que ele seja apto a fazer o procedimento ESÔFAGO DE BARRET CARACTERÍSTICAS ➢ DEFINIÇÃO → metaplasia intestinal do esôfago distal • É a transformação do epitélio colunar do esôfago em uma metaplasia intestinal por agressão, pois o esôfago não aguenta muito ácido. Assim, quando se causa injúria ácida ao longo de muito tempo no esôfago ele precisa se adaptar. Dessa forma, ele começa a mudar suas células para células intestinais ➢ FATORES DE RISCO (são principalmente aqueles que levam à doença do refluxo): • Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) • Tabagismo • Obesidade • História Familiar ➢ Atenção → o esôfago de Barret não é maligno, mas é o principal fator de risco para o adenocarcinoma de esôfago DIAGNÓSTICO ➢ ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA) → sugere a presença da doença, mas não confirma o diagnóstico ➢ BIÓPSIA → confirma o diagnóstico • São várias biópsias de todos os quadrantes do Barret a cada 2cm de extensão da doença • Considera-se a partir da linha Z (transição esofagogástrica que fica ajustada ao hiato esofágico) → na endoscopia, quando se tem uma alteração 1 cm acima da linha Z começa- se a pensar no esôfago de barret e deve-se biopsiar para diagnosticar TRATAMENTO ➢ Se o paciente tem refluxo → deve-se tratar a DRGE e ficar monitorando ➢ A presença de displasia na análise histológica indica pré- malignidade ou que o esôfago de barret já está malignizando ➢ Após a avaliação do Esôfago: • Quando se tem apenas o Esôfago de Barret, sem displasia → essa metaplasia é fator de risco para adenocarcinoma, assim deve-se monitorar esse esôfago periodicamente • Quando não se sabe se tem displasia → deve-se avaliar logo esse esôfago por meio da biopsia • Quando se tem displasia → deve-se avaliar a gravidade dessa displasia Suspeita de Acalasia Endoscopia Com a Endoscopia consegue-se descartar: - Malignidade - Outras causas de estenose (péptica, por ingestão de substância alcalina, membranas esofágicas e anéis esofágicos...) Realizar Pode-se Realizar → Esofagograma Baritado Deve-se realizar → Manometria Manometria diagnostica e classifica a acalasia Alto risco cirúrgico Baixo risco cirúrgico *Não submeter o paciente a procedimentos mais invasivos Deve-se realizar um dos seguintes: BOTOX MEDICAÇÕES Deve-se realizar um dos seguintes: HELLER DILATAÇÃO PNEUMÁTICA POR BALÃO POEM As mesmas indicações de tratamento para os de baixo risco são alternativas de tratamento nos casos recidivantes (um procedimento é alternativa para a falha do outro). Exemplos: - Paciente que fez uma Heller e recidivou após 15 anos → realizar uma POEM - Paciente fez uma Dilatação e recidivou após 5 anos → realizar Heller Caso haja recidiva da acalasia após alguns anos do tratamento Em último caso, quando nada resolve → Esofagectomia Esôfago de Barret - O esôfago deixa de ter o aspecto com coloração rosa e passa a apresentar uma coloração salmão onde houve a metaplasia intestinal 5 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto ▪ Displasia de alto grau ou adenocarcinoma in situ → tratar de forma endoscópica • Quando se tem um Adenocarcinoma bem estabelecido → encaminhar para a oncologia e tratar como um câncer de esôfago NEOPLASIAS DO ESÔFAGO CARACTERÍSTICAS ➢ QUADRO CLÍNICO: • Disfagia Progressiva → quanto mais o tumor crescer, maior será a disfagia ▪ Não é uma progressão como a da acalasia, na qual o paciente não consegue ingerir sólidos e cerca de 2 anos depois, por exemplo, ele não consegue mais ingerir alimentos pastosos. Nas neoplasias do esôfago essa progressão é muito mais rápida ▪ Essa disfagia das neoplasias do esôfago tem uma rápida progressão, evoluindo de um mês para o outro, por exemplo: ✓ Ex: paciente não consegue ingerir alimentos sólidos, um mês depois não consegue mais engolir alimentos pastosos e mais um mês depois ele não consegue mais ingerir nada • Perda de Peso → pois a disfagia progressiva faz com que o paciente praticamente não coma • Sintomas locais: ▪ Rouquidão → ocorre quando há acometimento de Nervo Laríngeo ▪ Pneumonia Aspirativa → quando se tem uma obstrução alta ✓ Essas lesões neoplásicas podem ser tão graves ao ponto de fistulizar e criar um “caminho” do esôfago paraum brônquio ▪ Anemia: ✓ Pode ocorrer anemia por sangramento, pois essas neoplasias são lesões que sangram ▪ Tosse: ✓ Principalmente relacionada à broncoaspiração ou ao acometimento de brônquios ➢ DIAGNÓSTICO → sempre é feito com a: • ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA) com BIÓPSIA: ▪ Na endoscopia vê-se uma lesão ulcerada do esôfago ➢ ESTADIAMENTO: • Relembrando termos: ▪ T → tumor ▪ N → linfonodo ▪ M → metástase • Ultrassom Endoscópico (Ecoendoscopia): ▪ É um bom exame para avaliar T e N • Para estadiar o M: ▪ Esse estadiamento varia de acordo com a localização ▪ Tomografia contrastada do pescoço → principalmente se for em uma região mais alta do esôfago ▪ Tomografia contrastada do tórax e do abdômen (sempre se deve solicitar) • PET SCAN (ou PET/CT): ▪ É um exame de exceção, não sendo indicado em todos os casos ▪ Indicação → faz-se quando se tem dúvida ✓ A esofagectomia é um procedimento muito invasivo, por isso que sempre se deve ter muita certeza sobre a sua realização ✓ Exemplo → ao se fazer o Ultrassom Endoscópico e é uma lesão que dá para retirar e ao se fazer a tomografia e não se tem presença de metástase, deve-se fazer o PET scan para confirmar se realmente tem como remover esse câncer de esôfago, pois se houver qualquer lesão à distância o paciente não se beneficia quando se compara com os riscos da esofagectomia • Laparoscopia: ▪ Se o tumor se encontra mais no esôfago abdominal, convém-se que antes da realização da esofagectomia seja feita uma laparoscopia, pois, apesar dos exames acima citados serem excelentes, até 30% das doenças peritoneais não se consegue visualizar, sendo vistas apenas quando se faz a laparoscopia • Toracoscopia: ▪ Principalmente nas lesões torácicas, tanto para avaliar metástase torácica quanto para avaliar ressecabilidade ▪ Não é incomum, graças às múltiplas associações anatômicas do esôfago, que se tenha uma lesão que não seja ressecável devido ao acometimento de órgãos contíguos ao esôfago Como Monitorar o Esôfago de Barret Análise do Esôfago Esôfago de Barret (metaplasia intestinal) e sem displasia Apenas reavaliar o paciente com Biópsia Seriada a partir de alguns exames Quando não se sabe se tem ou não displasia Otimizar terapia antirrefluxo e repetir endoscopia Displasia de alto grau ou Adenocarcinoma in situ Repetir a biopsia e avaliar qual tratamento iniciar, se tratamento endoscópico ou oncológico, inclusive esofagectomia Adenocarcinoma de transição esofagogástrica Tratamento Oncológico 6 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto TIPOS DE NEOPLASIAS DO ESÔFAGO Carcinoma Espinocelular Adenocarcinoma Localização Esôfago médio TEG Fatores de risco Tabagismo, etilismo, radiação DRGE, esôfago de Barret Epidemiologia Menos comum Mais comum Metástases intratorácicas Abdominais ➢ CARCINOMA ESPINOCELULAR: • Outras nomenclaturas → Carcinoma de Células Escamosas ou Carcinoma Epidermóide • Localização → é mais localizado em: ▪ Esôfago médio ▪ Esôfago proximal • O carcinoma espinocelular se comporta como um câncer de cabeça e pescoço, estando relacionado a: ▪ Tabagismo (principalmente) ▪ Etilismo (principalmente) ▪ Radiação • Epidemiologia → esse carcinoma escamoso já foi considerado o tipo de câncer de esôfago mais comum, cerca de mais de 50 anos atrás, mas com a associação das mudanças de hábitos e do estilo de vida das populações essa epidemiologia tem mudado. Assim, hoje, ele ainda é mais comum em países subdesenvolvidos, mas no mundo ele é menos comum • Metástases → intratorácicas ou por contiguidade ➢ ADENOCARCINOMA: • Localização → Transição Esofagogástrica (TEG) ▪ O adenocarcinoma é uma lesão tipicamente mais distal • Fatores de risco: ▪ Doença do Refluxo Gastroesofágico ▪ Esôfago de Barret • Epidemiologia → atualmente o adenocarcinoma é mais comum do que o carcinoma espinocelular, devido aos hábitos de vida. A doença do refluxo gastroesofágico se tornou muito comum, devido ao aumento da obesidade e do tabagismo, por exemplo • Metástases → por estar localizado na área de transição esofagogástrica (distal), suas metástases são mais para o abdômen ➢ Exemplo de quadro clássico de neoplasia do esôfago → paciente etilista crônico que não consegue mais se alimentar e que está perdendo bastante peso ESTADIAMENTO E TRATAMENTO ➢ Relembrando sobre estadiamento: • Estadiamento T (tumor): ▪ T1a → quando o tumor acomete apenas a mucosa ▪ T1b → acometimento de lâmina própria e de submucosa ▪ T2 → vai apenas até a camada muscular, não chegando à camada adventícia ▪ T4 → quando há invasão de órgãos ✓ T4a → invade pleura (e é possível retirar) ✓ T4b → não se consegue retirar, pois ele invade coluna, pericárdio e coração, aorta... • N (linfonodo): ▪ N0 → ausência de linfonodo acometido • M (metástase): ▪ M0 → ausência de metástase ▪ M1 → doença metastática ➢ DE ACORDO COM O ESTADIAMENTO: • Lesão < 2cm, confinada à mucosa (T1a) e acometendo < 1/3 do esôfago → realizar RESSECÇÃO ENDOSCÓPICA ▪ Traduzindo → quando se tem uma lesão pequena que está confinada à mucosa e que acomete pouco o esôfago. Nesse caso, ela pode ser retirada por endoscopia • T1NOMO ou T2NOMO → considerar CIRURGIA ▪ Traduzindo → quando se tem acometimento apenas da mucosa ou apenas até a camada muscular, sem linfonodo acometido e sem metástase ▪ Esse é o paciente em que se tem a melhor chance de cura. Assim, talvez esse seja o indivíduo que mais se beneficie da esofagectomia, pois essa é uma lesão precoce/inicial e talvez esse paciente não esteja tão sintomático ainda (Ex: não está tão desnutrido). Dessa forma, ele pode ser curado com a cirurgia • M1 ou T4b → são lesões irressecáveis, devendo-se levar o paciente para a PALIAÇÃO ▪ Traduzindo → se o paciente já tem doença metastática ou se ele tem a invasão de órgãos que não se consegue retirar (coluna, coração, aorta...) ▪ Paliação → trata-se de dar a melhor qualidade de vida possível e o melhor controle de sintomas, para que esse paciente viva bem enquanto ele ainda está vivo ✓ Paliação para câncer de esôfago pode ser: o Prótese esofágica → passa-se uma prótese para abrir o esôfago, para, quando possível, o paciente consiga comer pela boca o Quimioterapia → caso seja factível • O restante (as lesões diferentes dessas citadas acima): ▪ Se não é um tumor agressivo ou uma cirurgia muito grande, pode-se diminuir esse tumor e melhorar a situação para o seu tratamento, por meio do seguinte procedimento: ✓ NEOADJUVÂNCIA → diminui o tumor o Se for uma Carcinoma Espinocelular → quimioterapia e radioterapia o Se for um Adenocarcinoma → quimioterapia ▪ Despois de realizada a neoadjuvância, faz-se o estadiamento novamente para ver como esse tumor se encontra para que se realize a CIRURGIA CIRURGIAS ➢ ESOFAGECTOMIA TRANSHIATAL: • Abordagem abdominal e cervical 7 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto • Linfadenectomia pior → esse é o grande questionamento dessa abordagem transhiatal • Como é feita → aborda-se o esôfago pelo pescoço e pelo abdômen. Assim, o esôfago é retirando por meio de incisões no abdômen e no pescoço, no qual o cirurgião introduz o dedo pelo hiato esofágico para retirar o esôfago. Após a retirada do esôfago, organiza-se o fundo gástrico e o leva mais para cima para refazer o trânsito. Porém, como a ressecção desse procedimento é realizada com os dedos, acaba-se não fazendo a linfadenectomia e deixando-se tumor • É um procedimento simples, mas tem uma linfadenectomia ruim ➢ ESOFAGECTOMIA DE IVOR-LEWIS: • Procedimento → consiste na combinação de toracotomia direita e laparotomia, seguida de anastomose esofagogástrica intratorácica• Tem uma ótima linfadenectomia, mas a anastomose é ruim e muito perigosa • Anastomose intratorácica → quando se reconstrói, faz-se isso dentro do tórax e se der qualquer problema após esse procedimento, isso ocorrerá na região intratorácica (presença de saliva e secreção, por exemplo), o que é bastante grave • Ruim para tumores altos → é um procedimento em que se aborda o tórax e o abdômen. Assim, se ele não aborda o pescoço, ele não pode ser utilizado para tumores altos ➢ ESOFAGECTOMIA EM “TRÊS CAMPOS” → é o padrão-ouro e pode ser feita por uma técnica minimamente invasiva • Abordagem cervical, torácica e abdominal • Procedimento → aborda-se o pescoço por uma cervicotomia lateral esquerda, o tórax por uma toracoscopia e o abdômen, normalmente, se faz uma cirurgia aberta, mas não há impedimentos sobre a sua realização por vídeo também • Esse procedimento tem uma excelente visualização e permite uma ótima linfadenectomia • Apesar de ter 3 abordagens, hoje é o padrão-ouro e o melhor método de se fazer esofagectomia para a maioria dos pacientes CLASSIFICAÇÃO DE SIEWERT ➢ É uma classificação para os tumores de junção esofagogástrica ➢ Quando se tem o tumor na transição esofagogástrica, praticamente dentro do abdômen, a margem apenas do esôfago pode não ser suficiente ➢ Classificação: • Siewert tipo I → tumor entre 1 a 5 cm da transição esofagogástrica ▪ Faz-se uma ESOFAGECTOMIA e retira-se o início do estômago • Siewert tipo II → ainda é uma lesão de esôfago, mas acomete também parte do estômago ▪ Ao invés de se fazer a esofagectomia toda a partir do pescoço, retira-se o estômago e o final do esôfago (faz- se uma ESOFAGECTOMIA DISTAL com uma GASTRECTOMIA) • Siewert tipo III → tumor acometendo também o estômago ▪ Realiza-se uma ESOFAGECTOMIA DISTAL com uma GASTRECTOMIA DIVERTÍCULO DE ZENKER CARACTERÍSTICAS ➢ O divertículo de Zenker é um divertículo falso esofágico, o qual não tem todas as camadas do esôfago ➢ Ele é uma protusão de mucosa e submucosa em uma zona de fraqueza muscular do pescoço, chamada de Triângulo de Killian: • Triângulo de Killian → é um triângulo formado inferiormente pelo músculo cricofaríngeo e superiormente pelos músculos tireofaríngeos, ao nível do esfíncter esofagiano superior ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Mais comum em homens idosos (a partir dos 70 anos de idade) ➢ Como se apresenta → o divertículo de Zenker aparece como uma massa cervical • Alguns pacientes ficam com uma massa no pescoço que aperta essa região cervical e provoca o retorno da comida, fazendo com que o paciente apresente: ▪ Halitose → devido ao alimento não digerido ▪ Massa cervical normalmente indolor 8 PATOLOGIAS CIRÚRGICAS DO ESÔFAGO Gizelle Felinto ▪ Tosse ▪ Broncoaspiração ➢ DIAGNÓSTICO: • É feito por Exame Baritado e por Endoscopia ▪ A endoscopia pode ser diagnóstica e terapêutica ➢ TRATAMENTO: • TRATAMENTO ENDOSCÓPICO → Ex: com um aparelho chamado de grampeador (ou por um procedimento parecido com a POEM, por exemplo) junta-se o divertículo com o esôfago, formando apenas uma cavidade ▪ Quando possível, é o tratamento mais indicado • TRATAMENTO CIRÚRGICO → pode-se fazer uma cervicotomia (faz-se uma incisão cervical e resseca-se apenas o divertículo) ▪ É pouco realizado, pois hoje em dia, na maioria dos casos, trata-se o divertículo de Zenker de forma endoscópica ANÉIS E MEMBRANAS ESOFÁGICAS CARACTERÍSTICAS ➢ Alguns pacientes apresentam constrições ao redor do esôfago, e essas constrições podem ser típicas do esôfago ou podem ser compressões extrínsecas (como por tumor ou por malformações vasculares) ➢ Anéis Vasculares do Esôfago → alguns dos grandes vasos da base, como a aorta e o tronco braquiocefálico, podem determinar uma compressão esofágica, e normalmente são alterações congênitas ➢ SÃO DOENÇAS ADQUIRIDAS: • ANEL DE SCHATZKI: ▪ Trata-se de um anel distal que se forma na mucosa do esôfago, que leva à constrição ▪ Quadro clínico: ✓ Disfagia ▪ É diretamente relacionado a (ao): ✓ Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) ✓ Hérnia de Hiato ✓ Esofagite Eosinofílica • SÍNDROME DE PLUMMER-VINSON: ▪ É uma membrana esofágica que fecha a saída do esôfago ▪ Está associada à Anemia, independentemente da causa dessa anemia ▪ Não se sabe explicar a fisiopatologia de como essa membrana se forma pela anemia ▪ Quando se tem anemia associada à disfagia, faz-se a endoscopia e o esofagograma baritado e vê-se a presença de uma membrana, configurando a síndrome de Plummer-Vinson ➢ TRATAMENTO → Tratamento Endoscópico • Pela endoscopia, passa-se um balão que abre essas estenoses no esôfago
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