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1 CRANIOESTENOSES E HIDROCEFALIA Gizelle Felinto CRANIOESTENOSES RELEMBRANDO A NEUROANATOMIA ➢ SUTURAS CRANIANAS: • Funções → permitir: ▪ A deformidade do crânio durante a passagem no canal do parto ▪ O crescimento da calota craniana ➢ RADIOGRAFIA NORMAL: • A calota craniana é homogênea • Tem-se a presença das suturas cranianas ➢ Idade de fusão das suturas cranianas: • Metópica → 6 meses • Sagital, coronal e lambdoide → inicia-se em torno de 2 anos e progride até a fase adulta ➢ Idade normal do fechamento das fontanelas: • Anterior → 24 meses • Posterior → 3 meses • Esfenoidal → 6 a 24 meses CARACTERÍSTICAS DAS CRANIOESTENOSES ➢ Definição → a cranioestenose corresponde ao fechamento precoce de toda ou parte de uma ou mais suturas dos ossos do crânio ➢ A fusão precoce inibe o crescimento do crânio perpendicular à sutura afetada ➢ O crescimento ocorre na direção da sutura acometida com deformidades estéticas ➢ Ex: fechamento precoce da sutura sagital → o crânio irá crescer desproporcionalmente no sentido anteroposterior, formando um crânio alongado ➢ EPIDIOMIOLOGIA: • Incidência → 1:2100 a 1:2500 nascidos vivos em cranioestenose não sindrômica • 90% das cranioestenoses afetam apenas uma única sutura, sem nenhuma mutação genética identificada ➢ ACHADOS CLÍNICOS: • Hipertensão Intracraniana (HIC): ▪ É a alteração funcional mais grave que se pode observar ▪ Geralmente, a HIC ocorre quando há o envolvimento de várias suturas ▪ HIC crônica → causa danos irreversíveis no tecido cerebral, com déficits funcionais ▪ Sinais observados: ✓ Aspecto em “cobre batido” na superfície interna da calota ✓ Erosão do dorso selar CRANIOESTENOSE DIFUSA ➢ Caso clínico → criança que nasceu com todas as suturas cranianas fechadas. Assim, o cérebro se desenvolve, mas a calota craniana não consegue crescer. Dessa forma, inicia-se a formação dessas impressões digitiformes e tem como consequência um quadro de hipertensão intracraniana ➢ Características da imagem: • Impressões digitiformes na calota craniana → são os giros encefálicos promovendo impressão sobre a tábula óssea interna do crânio, fazendo um remodelamento e causando esse aspecto da imagem • Crânio em “Cobre Batido” (tem esse nome por se assemelhar ao aspecto de uma panela de cobre) → não representa um caso de cranioestenose, mas sim um quadro de hipertensão intracraniana ESCAFOCEFALIA ou DOLICOCEFALIA CARACTERÍSTICAS ➢ É a deformidade mais comum, correspondendo a 50% dos casos de cranioestenose ➢ Causa → ocorre por fechamento precoce da sutura sagital ➢ Epidemiologia: • Incidência → 1 caso a cada 5000 habitantes • É 4 vezes mais comum em homens ➢ Achados de imagem: • Ossificação da sutura sagital e da fontanela anterior 2 CRANIOESTENOSES E HIDROCEFALIA Gizelle Felinto • Deformidade com aumento do diâmetro anteroposterior e diminuição do diâmetro biparietal → crânio alongado e estreito ESCAFOCEFALIA ➢ Características da imagem: • Crescimento craniano no sentido anteroposterior, demonstrando fechamento precoce da sutura sagital • Esse quadro é chamado de escafocefalia ou dolicocefalia, no qual a criança apresenta a cabeça alongada e estreita • Sutura sagital fechada/ossificada (seta amarela) ESCAFOCEFALIA ➢ Fechamento parcial da sutura sagital ➢ Crescimento do crânio em AP (anteroposterior) TRIGONOCEFALIA CARACTERÍSTICAS ➢ Causa → fechamento precoce da sutura metópica ➢ Ocorre em crianças com até 6 meses de idade ➢ Epidemiologia: • Prevalência → 1 caso a cada 15.000 ➢ Raramente é sintomática, não estando associada a síndrome • Geralmente, é uma deformidade isolada, sem alterações de encéfalo e tem relação mais estética ➢ Achados de imagem: • Ossificação da sutura metópica e da fontanela anterior • Hipotelorismo → restrição do crescimento da cavidade orbitária, devido ao fechamento da sutura metópica • Proeminência óssea frontal TRIGONOCEFALIA ➢ Caso → criança de 3 meses de idade ➢ Características da imagem: • Fechamento precoce total da sutura metópica • Crânio “pontudo” = Trigonocefalia TRIGONOCEFALIA ➢ Fechamento precoce da sutura metópica BRAQUICEFALIA CARACTERÍSTICAS ➢ Causa → fechamento precoce da sutura coronal bilateralmente ➢ A deformidade é caracterizada pela redução do diâmetro anteroposterior com proeminência do frontal e regiões temporais ➢ Ocorre crescimento biparietal e o crânio fica globoso ➢ Epidemiologia: • É mais comum no sexo feminino ➢ Na maioria das vezes a braquicefalia é uma alteração sindrômica. Assim, existem várias síndromes que são associadas à braquicefalia, como: • Síndrome de Apert • Síndrome de Crouzon BRAQUICEFALIA ➢ Características da imagem: • Fechamento bilateral das suturas coronais • Sinal do Arlequim → órbita deformada em decorrência do fechamento precoce da sutura coronal (seta amarela) 3 CRANIOESTENOSES E HIDROCEFALIA Gizelle Felinto BRAQUICEFALIA ➢ Fechamento das suturas coronais, fazendo com que o crânio cresça no sentido das suturas, tornando-se globoso ➢ Crânio lacunar → alterações ósseas (círculo verde) ➢ Hipertelorismo → afastamento das cavidades orbitárias, devido ao crescimento lateral do crânio PLAGIOCEFALIA ➢ Causa → fechamento precoce da sutura coronal ou da sutura lambdoide unilateralmente • Fechamento unilateral da sutura coronal → plagiocefalia anterior • Fechamento unilateral da sutura lambdoide → plagiocefalia posterior ➢ Quando são sintomáticos, podem apresentar: • Hipertensão intracraniana • Comprometimento visual PLAGIOCEFALIA ANTERIOR ➢ Sinal do Arlequim (seta amarela) → indica deformidade da sutura coronal do mesmo lado (lado direito) PLAGIOCEFALIA POSTERIOR ➢ Fechamento da sutura lambdoide direita CRANIOESTENOSE DIFUSA COM HIPERTENSÃO INTRACRANIANA ➢ Crânio em cobre batido → indica presença de hipertensão intracraniana ➢ Paciente com fechamento de todas as suturas cranianas, correspondendo a uma cranioestenose difusa: HIDROCEFALIA RELEMBRANDO A NEUROANATOMIA ➢ O líquor é produzido no plexo coróide, que está localizado em todo o sistema ventricular, principalmente nos cornos occipitais a átrios dos ventrículos laterais, onde se consegue ver nos exames de imagem ➢ VENTRÍCULOS LATERAIS: • Forame de Monro → comunica o ventrículo lateral com o III ventrículo • Aqueduto Mesencefálico/Cerebral → comunica o III ventrículo com o IV ventrículo • O IV ventrículo está localizado no compartimento infratentorial • A partir do IV ventrículo o líquor irá para o espaço extra axial, para o espaço subaracnóideo, através dos forames de Luschka e de Magendie • As granulações aracnóideas são responsáveis por reabsorver o líquor CLASSIFICAÇÃO DA HIDROCEFALIA ➢ Hidrocefalia Obstrutiva (ou Não-Comunicante) → tem algum fator obstrutivo no sistema ventricular (ventrículos laterais, 3° ventrículo, forame de Monro, 4° ventrículo, aqueduto cerebral, forames de luschka e magendie...) que está impossibilitando a passagem e a comunicação do líquor com o espaço extra axial 4 CRANIOESTENOSES E HIDROCEFALIA Gizelle Felinto ➢ Hidrocefalia Comunicante → quando não há obstrução no sistema ventricular e o trânsito de líquor se encontra livre, mas há a presença de hidrocefalia ➢ Tipos especiais de hidrocefalia (que não são classificados como obstrutiva ou como comunicante): • Hidrocefalia por excesso de produção: ▪ Ex: Papiloma de plexo coróide → é um tumor que acomete principalmente crianças por volta dos 5 anos de idade e que se forma no plexo coróide, geralmente nos ventrículos laterais, sendo um tumor hiperprodutor de líquor ▪ Há uma grande produção de líquor e as granulaçõesaracnóideas não tem capacidade para reabsorver tanto líquor, o que faz com que se tenha acúmulo de líquor, causando a hidrocefalia por excesso de produção • Hidrocefalia de pressão normal: ▪ Pode ocorrer em pacientes idosos com a seguinte tríade: ✓ Déficit cognitivo (Ex: Alzheimer) ✓ Alteração da marcha ✓ Incontinência urinária ▪ Acredita-se que as granulações aracnóideas desses pacientes não conseguem reabsorver adequadamente o líquor, o que faz com que se acumule líquor no sistema ventricular ▪ Com o envelhecimento o cérebro também vai envelhecendo e perdendo volume. Os ventrículos tendem a dilatar para compensar essa perda de volume SISTEMA VENTRICULAR NORMAL DE UM PACIENTE JOVEM ➢ Seta azul → parte do ventrículo lateral ➢ Seta verde → 3º ventrículo ➢ Seta amarela → 4º ventrículo ➢ Seta vermelha → aqueduto mesencefálico ➢ Seta roxa → forame de Magendie HIDROCEFALIA COM SINAIS DE CRONICIDADE ➢ Tomografia computadorizada do crânio sem contraste em um paciente de 30 anos ➢ Características da imagem: • Ventrículos laterais dilatados ➢ Não há como saber qual a causa dessa dilatação, pois não há outros cortes para saber se há algum problema nos outros ventrículos HIDROCEFALIA NÃO-COMUNICANTE (OBSTRUTIVA) CARACTERÍSTICAS ➢ Existe um fator obstrutivo intraventricular ➢ Pode ser congênita ou adquirida ➢ O que pode obstruir a passagem do líquor: • Membranas → às vezes, durante a gestação pode ocorrer alguma infecção e, como sequela, pode haver a formação de algumas membranas que obstruem a passagem do líquor no bebê • Massas → como tumores no cerebelo ou no IV ventrículo, obstruindo a passagem do líquor ➢ Deve-se tentar determinar se a hidrocefalia obstrutiva é: • Aguda → há transudação do líquor ▪ Ocorre extravasamento do líquor dos ventrículos para o parênquima encefálico, que é chamado de edema transependimário ou transudação liquórica ▪ Na tomografia vê-se principalmente uma hipodensidade em volta dos ventrículos laterais, chamada de edema periventricular • Crônica HIDROCEFALIA NÃO-COMUNICANTE Plano axial (RM sequência T1) Plano Sagital (RM sequência T2) ➢ Imagem da esquerda (plano axial): • Dilatação dos ventrículos laterais ➢ Imagem da direita (plano sagital): • Ventrículos laterais dilatados (seta azul) • 3° ventrículo dilatado (seta amarela) • 4° ventrículo está normal (seta vermelha) • Estenose de aqueduto mesencefálico por membrana (seta verde) → é uma alteração relativamente frequente em crianças com hidrocefalia ▪ Não tem como se desfazer essa membrana ➢ DIAGNÓSTICO → Hidrocefalia não-comunicante (obstrutiva) secundária a estenose do aqueduto mesencefálico ➢ Só é possível ver essa alteração do aqueduto mesencefálico na ressonância, pois na tomografia não é possível 5 CRANIOESTENOSES E HIDROCEFALIA Gizelle Felinto HIDROCEFALIA NÃO-COMUNICANTE Tomografia Computadorizada Plano Sagital (RM sequência T2) ➢ Imagem da esquerda: • Dilatação dos ventrículos ➢ Imagem da direita: • Ventrículos laterais alargados (seta azul) • 3° e 4° ventrículos normais (setas amarelas) • Na topografia do forame de Monro → imagem ovalada com hiposinal em T2, representando um cisto coloide (seta vermelha) ➢ DIAGNÓSTICO → Hidrocefalia obstrutiva não comunicante causada por um cisto coloide no forame de monro ➢ Tomografia de um cisto coloide no forame de monro causando uma hidrocefalia obstrutiva: • Cisto coloide → imagem redonda, regular e hiperdensa HIDROCEFALIA COMUNICANTE CARACTERÍSTICAS ➢ É classificada como comunicante porque não tem nenhuma obstrução intraventricular ➢ O problema se encontra no espaço extra axial, no espaço subaracnóideo, constituindo uma obstrução extraventricular ➢ Mais de 50% dos casos não demonstram etiologia identificável ➢ O líquor passa pelo sistema ventricular, mas não é reabsorvido no espaço subaracnóideo ➢ Duas principais etiologias para hidrocefalia comunicante: • Hemorragia Subaracnóidea → o sangramento subaracnóideo obstrui as granulações, fazendo com que elas não consigam reabsorver o líquor • Acometimento meníngeo (Ex: meningite, processo inflamatório ou infeccioso, infiltração neoplásica...) → faz com que as granulações aracnóideas não consigam reabsorver adequadamente o líquor HIDROCEFALIA COMUNICANTE SECUNDÁRIA A HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA ➢ A hemorragia obstrui as granulações aracnóideas, dificultando a reabsorção do líquor e causando uma hidrocefalia comunicante HIDROCEFALIA POR EXCESSO DE PRODUÇÃO ➢ Caso clínico → criança de 5 anos com hidrocefalia é submetida a exame de imagem para investigação etiológica ➢ Características da imagem: • Plexos coroides (círculos azuis) • Papiloma de plexo coroide esquerdo (círculo amarelo): ▪ Presença de uma massa com densidade de partes moles no corpo occipital do ventrículo lateral esquerdo ▪ Esse papiloma faz uma hiperprodução de líquor e as granulações aracnóideas não conseguem reabsorver ▪ Essa massa não causa obstruções, pois não está localizada em nenhum forame ➢ DIAGNÓSTICO → Hidrocefalia comunicante por hiperprodução HIDROCEFALIA DE PRESSÃO NORMAL ➢ Caso clínico → idoso, 70 anos, déficit cognitivo, incontinência urinária e alteração da marcha ➢ Características da imagem: • Atrofia com proeminência dos sulcos e fissuras • Dilatação dos ventrículos laterais HIDROCEFALIA OBSTRUTIVA ➢ Caso clínico → feminino, 1 ano e 6 meses, atraso no desenvolvimento neurológico ➢ Obstrução de todo o sistema ventricular ➢ Persistência cística da bolsa de Blake (seta verde) → alargamento da região infracerebelar, semelhante a uma formação cística • Em indivíduos normais, a bolsa de blake é uma estrutura embrionária que dá origem ao forame de magendie
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