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1 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto ANATOMIA DA ORELHA INTERNA ➢ A orelha interna é formada por: • Labirinto Membranáceo → contém endolinfa e fica localizado dentro do labirinto ósseo, que contem endolinfa. A movimentação desses líquidos permite a condução do som ▪ Contém o labirinto vestibular e o coclear • Labirinto Ósseo → é formado por 3 partes: ▪ Cóclea: ✓ Ducto coclear → estrutura responsável pela audição ✓ Órgão de Corti → contém as células ciliadas, que são os órgãos receptores finais, responsáveis por gerar impulsos nervosos decorrentes da vibração sonora ▪ Vestíbulo → é uma câmara oval que contém estruturas responsáveis pelo equilíbrio ➢ A orelha interna é uma estrutura membranosa revestida por um osso muito rígido denominado cápsula ótica ➢ Canais Semicirculares → são tubos com a função de manter o equilíbrio FISIOLOGIA DA ORELHA INTERNA ➢ A orelha interna é composta por: • Labirinto anterior (ou Cóclea) → responsável pela audição • Labirinto Posterior (ou Vestíbulo) → responsável pelo equilíbrio ▪ É composto por → sáculo, utrículo, canais semicirculares e suas respectivas ampolas ➢ Sáculo e Utrículo: • Possuem células ciliadas sensitivas que se localizam nas máculas e são envoltas pela membrana otolítica (onde se encontram os otólitos) ▪ Células ciliadas → possuem dois tipos diferentes de cílios: ✓ Estereocílios (curtos) ✓ Cinocílios (mais longos) • São responsáveis pela percepção de movimentos lineares da cabeça ➢ Vestíbulo → é responsável pela percepção dos movimentos lineares (sensação de movimento para frente e para trás, para cima e para baixo) ➢ Canais Semicirculares: • São responsáveis pela percepção das acelerações angulares (Ex: rodar a cabeça para a esquerda ou direita) • Existem 3 canais: ▪ Anterior ou superior → é sensível à movimentação da cabeça em rotação para cima e para baixo ▪ Posterior ou inferior → é sensível à movimentação da cabeça em rotação para cima e para baixo ▪ Lateral ou horizontal → é sensível à movimentação da cabeça em rotação horizontal • Os canais semicirculares têm nas suas extremidades uma região mais dilatada denominada ampola, que possui a crista ampular, região com células ciliadas com função sensitiva ➢ Nervo Vestibular: • O primeiro neurônio da via vestibular está localizado no gânglio vestibular ou de Scarpa • Existem 2 subdivisões desse nervo: ▪ A divisão inferior → parte do sáculo e do canal semicircular inferior ▪ A divisão superior → parte do utrículo e dos canais semicirculares lateral e superior ➢ Equilíbrio e Orientação: • Orientação espacial → decorre da associação de diversos sistemas (vestibular, oculomotor e proprioceptivo) que enviam informações ao Sistema Nervoso Central para que ele entenda que o indivíduo se encontra em repouso ou em movimento • Para que se tenha um equilíbrio perfeito é necessário o bom funcionamento: ▪ Do sistema oculomotor ▪ Do sistema vestibular ▪ Da propriocepção → principalmente das grandes articulações e da região dorsal • Quando se tem alguma alteração em um desses 3 sistemas o indivíduo terá vertigem • Idoso → é um grupo propenso a desenvolver queixas relacionadas à tontura ▪ Um paciente idoso, naturalmente, terá: ✓ Presbiacusia → envelhecimento natural da audição que se inicia por volta dos 40 anos de idade, manifestando-se, na maioria das pessoas, por volta dos 60 anos de idade ✓ Doenças oculares próprias da senescência/envelhecimento → presbiopia, catarata, degeneração da retina... ✓ Comprometimento da propriocepção → paciente idoso tem reabsorção óssea e muscular mais intensa, causando alterações na postura ✓ Isso tudo pode levar a alterações na orientação espacial, gerando alteração do equilíbrio 2 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto TONTURA ➢ Tontura → é um sintoma, e não uma doença • A tontura é a ilusão de movimento → ou seja, é a sensação de movimento, porém esse movimento não existe • Existem vários tipos de tontura e a vertigem é um deles • Vertigem → é uma tontura do tipo rotatória que cabe tanto ao neurologista quanto ao otorrino tratarem ➢ CLASSIFICAÇÃO DA TONTURA (segundo Drachmann, em 1998) → a tontura é dividida em 5 grupos principais: 1. Vertigem → tontura rotatória 2. Pré-Síncope → sensação iminente de desmaio ▪ Normalmente, surge em pacientes cardiopatas 3. Desequilíbrio → dificuldade de se movimentar ▪ Encontra-se principalmente em diversas doenças neurológicas 4. Flutuação (Light Headness) → é a mais comum ▪ Quando o paciente não sabe caracterizar adequadamente o seu tipo de tontura (Ex: paciente afirma que sente a cabeça leve ou pesada, quando vai pisar no chão sente que está flutuando ou que está pisando em algodão, sensação de embriaguez ou de ressaca...) 5. Síndrome Multissensorial: ▪ Pode ocorrer em qualquer indivíduo ▪ É particularmente encontrada, em sua maioria, em pacientes idosos ✓ É multissensorial devido à alteração que os idosos tem em sua orelha interna, no sistema oculomotor e na propriocepção ✓ Idosos tem muitas comorbidades e fazem uso de muitas medicações para trata-las ✓ Assim, a polifarmacoterapia associada a essas alterações que surgem na senescência faz com que o paciente apresente uma síndrome multissensorial ▪ Dificilmente consegue-se estabelecer apenas uma única causa para essa tontura da síndrome multissensorial, pois sua causa pode ser multifatorial, como: ✓ Efeito colateral de alguma medicação ✓ Efeito de alguma dieta inadequada ✓ Falta de exercício físico... ➢ A vertigem pode ser tanto de origem periférica quanto de origem central → assim, é necessário fazer esse diagnóstico logo no primeiro atendimento do paciente • Esse diagnóstico pode ser clínico (história + exame físico), mas quem confirma esse diagnóstico é o teste vestibular, a Vectoeletronistagmografia • Essa distinção logo na primeira consulta é importante por que a vertigem de origem periférica (sintomas são mais exacerbados) é mais benigna do que a de origem central (sintomas são mais discretos), pois a vertigem de origem central pode ocorrer na ruptura de um aneurisma e na presença de um tumor cerebral, por exemplo, que são doenças graves VERTIGEM ➢ Esse sintoma foi descrito desde a época de Hipócrates ➢ O que é → trata-se da sensação que o paciente tem de estar girando em torno do ambiente ou sensação de que o ambiente está girando em torno de si • Vertigem Subjetiva (rotação do corpo) → quando o paciente se sente girando em torno do ambiente (na qual o sujeito está girando) • Vertigem Objetiva (rotação do ambiente) → Quando o paciente sente que o ambiente está girando em torno dele (na qual os objetos estão girando em torno do paciente) ➢ É um sintoma comum em pacientes de todas as idades, mas é mais frequentemente visto em paciente da terceira idade ➢ CARACTERÍSTICAS: • Tem início súbito • Geralmente, surge em forma de surtos (paciente entra em uma crise de vertigem e depois ela cessa) • É desencadeada por gatilhos: ▪ Ex: em uma paciente portadora de uma Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB), que ocorre devido ao deslocamento dos otólitos/otocônias (pedrinhas de carbonato de cálcio) dentro da orelha interna, o gatilho dessa doença é a movimentação brusca da cabeça ▪ Ex: paciente com uma vertigem de origem metabólica que é diabética e comeu muito doce ou um paciente sem doença alguma que comeu muito doce em excesso → Isso faz com que se libere muita insulina, causando um estado de hiperinsulinemia e insulina é tóxica para a orelha interna, fazendo com que o paciente fique tonto. Além disso, pode ocorrer uma queda brusca da glicemia, causando um quadro de hipoglicemia • É acompanhada por: ▪ Náuseas ou vômitos ▪ Desvio da marcha ▪ Oscilopsia (sensação de movimento dosobjetos) → é quase uma sensação de diplopia, na qual o paciente vê uma imagem real e outra que não é real, não sabendo distinguir qual é a verdadeira, o que acaba causando muito desconforto no paciente 3 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto ➢ CAUSAS: • Na maioria dos casos as vertigens são causadas por distúrbio vestibular periférico, que são mais benignos e mais fáceis de controlar, como: ▪ Distúrbio de origem metabólica → Hipertrigliceridemia, Hipercolesterolemia, Diabetes... ➢ Infelizmente, é um sintoma subvalorizado por parte de alguns médicos e pelo próprio paciente → muitos consideram a tontura como sendo uma única doença, a Labirintite • Labirintite → é uma doença infecciosa rara. Ocorre quando o processo inflamatório extrapola os limites da orelha média ou da base do crânio e consegue penetrar na orelha interna, causando uma infecção dessa orelha interna ▪ É catastrófica ▪ Causa surdez permanente no paciente ▪ É uma complicação das otites médias agudas e das meningites ▪ Paciente com labirintite, além da vertigem também apresenta perda auditiva e na história clínica relata episódio prévio de otite média aguda complicada ou de uma meningite bacteriana, por exemplo ▪ Labirintite não é sinônimo de tontura! Tontura pode abranger várias outras doenças, e não apenas a labirintite ▪ Nunca se pede uma Vectoeletronistagmografia justificando que é para saber se o paciente tem labirintite, pois a labirintite apenas apresenta o sintoma tontura e esse teste vestibular é solicitado para se confirmar que uma tontura é de origem central ou periférica TOPODIAGNÓSTICO ➢ Para saber se a tontura é de origem central ou periférica ➢ TONTURAS DE ORIGEM CENTRAL → são mais graves e, normalmente, requerem um exame de imagem e uma atuação mais imediatos. Assim, muitas vezes, quando se percebe que a tontura do paciente é de origem central deve-se encaminhá-lo logo para o pronto-socorro AVALIAÇÃO CLÍNICA ➢ Existem alguns dados da avaliação clínica que vão sugerir se o paciente é portador de uma tontura de origem periférica ou central ➢ ANAMNESE: CARACTERÍSTICAS DAS SÍNDROMES VESTIBULARES PERIFÉRICAS E CENTRAIS Topografia da lesão vestibular / Características clínicas Periférica Central Apresentação Aguda ou recorrente Lenta, subaguda Náusea Intensa Ausente ou variável Sintomas otológicos (zumbido, sensação de perda auditiva, plenitude auricular) Comuns Raros Sintomas neurológicos Raros Comuns Desequilíbrio Leve Intenso ou progressivo Duração Curta Constante Piora com a movimentação cefálica Sim Não Chance de tontura ser rotatória Ambas apresentam a tontura como sendo rotatória, configurando uma vertigem • Origem central → a tontura tem duração constante, podendo durar meses, mas ela é menos exacerbada quando comparada a periférica, por isso que não atrapalha tanto o paciente na execução das suas atividades diárias ➢ EXAME FÍSICO: • Quando se realiza o exame físico do paciente deve-se atentar para analisar a presença de nistagmo (movimento aberrante dos olhos) ▪ Porém, nem todo paciente com vertigem chegará no consultório com nistagmo, sendo necessário, muitas vezes, desencadear o nistagmo do paciente para poder avaliar • 5 tópicos para avaliação do nistagmo: ▪ Latência → tempo para o aparecimento do nistagmo após a manobra de Dix-Hallpike ▪ Fatigabilidade → a repetição da manobra faz a intensidade do nistagmo diminuir (repete-se a manobra de Dix-Hallpike várias vezes para ver se ela tem fatigabilidade) PARA A AVALIAÇÃO DO NISTAGMO 5 tópicos para avaliar o nistagmo do paciente Lesão Periférica Lesão Central Latência Até 10s (assim, na hora em que se pede para o paciente abrir os olhos após a realização da manobra, ele pode ficar até 10 segundos sem nistagmo) Instantâneo (na hora em que o paciente abre os olhos ele já apresenta o nistagmo) Fatigabilidade Sim Não Direção Fixa (é horizonto-rotatória, ou seja, o olho fica sempre na horizontal) Variável (movimentação horizontal, vertical e torcional do globo ocular) Fixação Visual Atenuação/Supressão Nenhum efeito Severidade Intensa Tênue 4 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto ✓ Na primeira vez em que se realiza a manobra o paciente apresenta um nistagmo importante e, à medida em que se vai reexecutando a manobra, esse nistagmo vai diminuindo de intensidade ✓ Se ocorre essa fatigabilidade, o diagnóstico é de uma vertigem de origem periférica ✓ Se o nistagmo continuar na mesma intensidade mesmo com a manobra sendo realizada várias vezes → trata-se de uma vertigem de origem central ▪ Direção ▪ Fixação visual → pede-se para que o paciente fixe o olha em um ponto fixo e observa-se se o nistagmo: ✓ Melhora → trata-se de uma vertigem periférica ✓ Continua da mesma forma (sem efeito sobre o nistagmo) → vertigem de origem central ▪ Severidade: ✓ Os sintomas da tontura de origem periférica são muito mais intensos, enquanto a de origem central é mais tênue • Nistagmo periférico → geralmente tem sentido único, sendo horizonto-rotatório ou horizontal e sofre um efeito inibidor pela fixação ocular, ou seja, reduz sua intensidade com a fixação ocular. Além disso, ele tem uma fase lenta (de origem labiríntica) e uma fase rápida (de origem central, no tronco encefálico) e geralmente está acompanhado de vertigem intensa e sintomas neurovegetativos como náuseas ▪ A fase rápida do nistagmo periférico vai em direção ao labirinto sadio, na fase aguda • Manobra de Nylen-Bárány (Dix-Hallpike): ▪ Serve tanto para diagnóstico quanto para ajudar a melhorar a tontura do paciente, mas essa manobra que melhora o sintoma se chama manobra de Epley ▪ Como é feita → com o paciente sentado em uma maca/cama, faz- se uma rotação lateral da sua cabeça e o deita subitamente, deixando o paciente nessa posição por alguns segundos. Ao se observar os olhos do paciente percebe-se que ele apresenta o nistagmo no momento da realização da manobra (vertigem de origem central) ou após cerca de 10s (vertigem de origem periférica) • Teste de Romberg → avaliar o equilíbrio estático ▪ É essencial que os pacientes com vertigem ou nistagmo tenham seu equilíbrio avaliado ▪ Como é feito → o paciente é colocado em posição ortostática, com pés juntos e braços pendentes e se observa se ele apresenta tendência de cair para um lado ou para o outro ou qualquer oscilação ▪ Este teste pode também ser sensibilizado ao solicitar que o paciente ponha um pé a frente do outro ▪ Lesão periférica (do labirinto) → o paciente tende a cair para o lado do labirinto comprometido ▪ Lesões centrais → a tendência é que a queda ocorra para frente ou para trás • Observação da Marcha do Paciente em linha reta → avalia o equilíbrio dinâmico ▪ Marcha atáxica ou espástica → indica lesão central ▪ Desvios da linha reta → indicam lesão vestibular ✓ Só são notadas alterações nesse teste quando a alteração vestibular é aguda • Teste de Fukuda → faz-se quando o quadro é crônico e compensado ▪ Como é feito → solicita-se ao paciente para andar em linha reta com os olhos fechados ▪ Desvio maior que 45° ou um deslocamento maior que um metro da linha reta estabelecida → indica comprometimento do labirinto do mesmo lado CAUSAS PERIFÉRICAS DE VERTIGEM ➢ VERTIGEM POSICIONAL PAROXÍSTICA BENIGNA (VPPB): • É a causa mais comum de tontura periférica • DEFINIÇÃO: ▪ É uma patologia que cursa com vertigem de curta duração (segundos a minutos), decorrente da movimentação abrupta da cabeça ▪ É uma vertigem postural • EPIDEMIOLOGIA: ▪ Corresponde a 20% dos casos de vertigem ▪ Representa 90% dos casos de problemas do labirinto ▪ Pode acometer pessoas de qualquer idade ▪É mais comum em indivíduos entre 40 a 60 anos • FISIOPATOLOGIA: ▪ Relembrando a fisiologia → a orelha interna é uma estrutura membranosa recoberta por uma cápsula ótica. Dentro dela tem-se células ciliares e líquido. Assim, se esses cílios das células ficam submersos nesse liquido eles ficariam o tempo inteiro em movimento, dando uma sensação o tempo inteiro de movimento ao indivíduo. Isso não ocorre porque, apesar de as células ciliares estarem submersas na endolinfa, os cílios estão presos em uma camada gelatinosa. Em cima dessa camada gelatinosa tem-se uma camada de pedrinhas de carbonato de cálcio, chamadas otólitos ou otocônias, e é o seu peso que vai fazer com que esses cílios se movimentem dentro dessa substância gelatinosa ▪ A VPPB ocorre pela movimentação dos otólitos dentro da orelha interna → a mudança da posição da cabeça provoca o deslocamento anormal dos otólitos e ocasiona uma vertigem rápida com duração de 5 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto segundos associada a um nistagmo posicional paroxístico característico ▪ Pode-se ter 2 subtipos: ✓ Canalitíase (mais comum) → ocorre quando o otólito que se desprendeu ficou solto e boiando na endolinfa do canal semicircular ✓ Cupulolitíase → quando o otólito se fixou à cúpula ▪ Canal Semicircular Posterior → é o mais acometido, sendo responsável por mais de 70% dos casos, pois tem posição inferior, tanto em ortostase quanto em posição supina ▪ 20% dos casos ocorrem no canal semicircular lateral ▪ 6% dos casos ocorrem no canal semicircular superior • POSSÍVEIS CAUSAS: ▪ Idiopática → na maioria dos casos a VPPB é idiopática ▪ Trauma Cranioencefálico ▪ Repouso prolongado no leito ▪ Neurite vestibular ▪ Ménière ▪ Sedentarismo ▪ Disfunções hormonais ou metabólicas • QUADRO CLÍNICO: ▪ História típica → paciente relata que a vertigem aparece com a mudança brusca de posição da cabeça, ao abaixá-la, levantá-la ou rotacioná-la ▪ Crises breves (< 1min de duraçao) ▪ Não há sintomas auditivos (hipoacusia, zumbidos, plenitude auricular) ▪ Há resolução espontânea em semanas ou meses • TRATAMENTO → pode ser feito por meio da Manobra de Epley, que visa o reposicionamento dos otólitos ▪ Como é feita → A partir da última posição da manobra de Dix-Hillpike, vira-se a cabeça do paciente para o lado contralateral (mantendo angulação de 30°) por cerca de 30 a 60 segundos. O paciente vira-se para decúbito lateral, mantendo a rotação da cabeça, e permanece nesta posição por 30 a 60 segundos. O paciente é levantado e mantido sentado na maca, ainda com a rotação da cabeça em 30° para a esquerda, por mais 30 a 60 segundos ➢ DOENÇA DE MÉNIÈRE: • DEFINIÇÃO: ▪ É uma patologia que decorre de uma hidropsia endolinfática (aumento da pressão na endolinfa), que causa hipertensão no labirinto, sobretudo no ducto coclear e no sáculo ▪ Quando é idiopática → Doença de Ménière ▪ Quando é secundária → Síndrome de Ménière ✓ Possíveis causas: o Infecções virais ou sífilis o Doenças autoimunes o Doenças metabólicas ou hormonais • QUADRO CLÍNICO: ▪ Apresenta uma Tríade de Sintomas: ✓ Ataques recorrentes de vertigem intensa ✓ Hipoacusia progressiva ou flutuante (podendo durar várias horas) → é flutuante porque em um momento apresenta a audição prejudicada e em outro a audição encontra-se normal ✓ Zumbido ▪ A flutuação da audição é comum, até que em um determinado momento ocorre uma deterioração completa da orelha interna e o paciente pode evoluir com tontura praticamente intratável, sendo necessário, às vezes, realizar a ablação da orelha interna desse paciente para poder controlar os sintomas do paciente e ele evolui com perda auditiva ▪ A maioria dos casos é unilateral ▪ 30% dos casos apresenta-se de forma bilateral ▪ Na Audiometria → observa-se uma perda auditiva neurossensorial inicialmente em frequências graves (baixas) • TRATAMENTO: ▪ Além do uso de antivertiginosos, deve-se realizar uma dieta com restrição de sódio ➢ VERTIGEM MEDICAMENTOSA: • É provocada pela exposição a agentes químicos e fármacos específicos • Costuma-se resolver com a retirada do agente causador • Algumas medicações que podem causar vertigem: ▪ Aminoglicosídeos ▪ Benzodiazepínicos ▪ Antidepressivos ▪ Anti-hipertensivos → podem causar tontura quando eles provocam uma hipotensão ➢ LABIRINTITE BACTERIANA: • Ocorre por infecção prévia em ouvido médio, meninges ou mastoide • QUADRO CLÍNICO: ▪ Vertigem ▪ Náuseas ▪ Vômitos ▪ Hipoacusia ▪ Sinais toxêmicos ➢ FALÊNCIA VESTIBULAR SÚBITA ou NEURITE VESTIBULAR: • DEFINIÇÃO: ▪ É a inflamação do nervo vestibular, sendo a divisão superior a mais acometida ▪ É mais comum como um episódio único • FISIOPATOLOGIA: ▪ Durante processos infecciosos de via aérea superior (IVAS) ou de Gastroenterocolite Aguda (GECA) alguns germes podem fazer com que a orelha interna não funcione adequadamente, causando uma neurite vestibular • ETIOLOGIA: ▪ Herpes Simples Vírus 1 (HSV-1) → é a etiologia mais comum • QUADRO CLÍNICO: ▪ História clínica → comumente, paciente relata infecção de vias aéreas superiores (IVAS) recente 6 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto ▪ A vertigem é moderada a severa, súbita e persistente ▪ Tem início súbito ▪ Prostração intensa ▪ Náuseas e vômitos ▪ Não há sintomas auditivos (hipoacusia e zumbidos) • Ocorre melhora em dias ou semanas ➢ VERTIGEM POR TRAUMA CRANIANO: • É uma vertigem secundária a uma concussão labiríntica • Ocorre melhora espontânea em semanas ou meses ➢ NEURINOMA DO ACÚSTICO / TUMOR DE ÂNGULO PONTOCEREBELAR: • É o tumor otorrinolaringológico mais comum, que fica no ângulo pontocerebelar, justamente onde se tem o conduto auditivo interno, pelo qual passam 4 nervos (vestibular superior, vestibular inferior, acústico e facial) • QUADRO CLÍNICO: ▪ Tem início com hipoacusia a/ou tinnitus unilateral ▪ Progride com vertigem e nistagmo, hipoestesia da hemiface, diminuição do reflexo corneano, paralisia facial homolateral e ataxia ipsilateral dos membros ➢ FÍSTULAS PERILINFÁTICAS: • DEFINIÇÃO: ▪ São áreas de escape de perilinfa, localizadas na janela oval ou na janela redonda, geradas por algum trauma, cirurgias otológicas, barotrauma ou de forma espontânea • QUADRO CLÍNICO: ▪ Perda auditiva neurossensorial e/ou vertigem ▪ Pode ocorrer também: ✓ Fenômeno de Túlio → vertigem ou nistagmo desencadeado por som ✓ Sinal de Hennebert → vertigem ou nistagmo desencadeado por pressão aplicada ao ouvido • O diagnóstico e o tratamento definitivos são cirúrgicos, mas isso só é feito em casos de alta suspeição clínica ➢ CINETOSE: • DEFINIÇÃO: ▪ É uma síndrome que envolve: ✓ Náuseas ✓ Vômitos ✓ Sialorreia ✓ Sudorese ✓ Palidez ▪ É desencadeada quando se está em movimento (Ex: viagens de carro ou embarcação) ▪ Acomete qualquer idade, sendo mais comum entre mulheres • FISIOPATOLOGIA: ▪ É decorrente da estimulação excessiva do sistema vestibular e também do conflito entre os sistemas responsáveis pela manutenção do equilíbrio: vestibular, visual e proprioceptivo ➢ LABIRINTOPATIAS METABÓLICAS/HORMONAIS: • DEFINIÇÃO: ▪ Disfunções metabólicas ou hormonais que levam à alteração do potencial endococlear, já que a composição da endolinfa é afetada principalmente por alterações nas concentrações de Sódio e Potássio • EPIDEMIOLOGIA: ▪ É mais comum em mulheres a partis dos 30 anos de idade • QUADRO CLÍNICO: ▪ Vertigem → é a queixa mais comum, sendo cíclica ▪ Sensação de “cabeça vazia” ▪ Zumbidos • Alterações metabólicas e hormonais: ▪ Hipoglicemias ▪ Hiperglicemias ▪ Hiperinsulinemia ▪ Resistência periférica a insulina ▪ Hipotireoidismo ou Hipertireoidismo ▪ Alterações ovarianas → podem ocorrer em todas as ▪ fases de vidada mulher (ciclo menstrual, gestação, climatério) e causam hidropsia endolinfática secundária, com os seguintes sintomas: vertigem, cefaleia e compulsão por doces MIGRÂNEA VESTIBULAR ➢ DEFINIÇÃO: • É uma cefaleia do tipo migrânea que se segue por uma vertigem ➢ EPIDEMIOLOGIA: • Acomete 16% da população adulta • Mais comum em mulheres ➢ FISIOPATOLOGIA: • A depressão alastrante do sistema nervoso central (SNC) ocasiona o vasoespasmo da artéria auditiva interna, o que compromete a irrigação do labirinto e desencadeia os sintomas labirínticos ➢ QUADRO CLÍNICO: • Cefaleia • Vertigem • Desequilíbrio • Sensação de “cabeça vazia” • Ocorrem sintomas auditivos como: ▪ Hipoacusia ▪ Zumbidos ▪ Plenitude auricular • Características de cefaleia migrânea → unilateral, pulsátil, com fotofobia e fonofobia • Geralmente, a audiometria é normal, o que possibilita diagnóstico diferencial com Ménière INVESTIGAÇÃO ➢ Anamnese ➢ Exame Físico → exame otorrinolaringológico ➢ Pesquisa de Nistagmo: 7 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto • Espontâneo → quando o paciente já chega no consultório com o nistagmo • Semi-espontâneo → quando é necessário desencadear o nistagmo através do teste de Dick-Hallpike ➢ Testar a função cerebelar → através de: • Diadococinesia • Index-nariz • Calcanhar-joelho ➢ Romberg e Romberg Sensibilizado → avaliação do equilíbrio estático ➢ Apoio Monopodal de Uemura → para avaliar o equilíbrio ➢ Teste da Marcha (Unterberg-Fukuda e Babinski-Weil) ➢ Audiometria Tonal e Audiometria Vocal: • Por que pedir uma audiometria para avaliar a tontura → porque, apesar de serem porções diferentes da orelha interna, elas funcionam de forma sinérgica. Assim, pode acontecer de um paciente com perda auditiva captar menos estímulo externo, o que acaba atrapalhando o funcionamento da região central e posterior da orelha interna, fazendo com que o paciente tenha sensação de tontura ➢ Impedanciometria ➢ BERA → medida dos potenciais elétricos acústicos do sistema nervoso central ➢ Emissões Otoacústicas (EOA) ➢ Testes Vestibulares com Vectoeletronistagmografia ➢ Exames de imagem: • Ressonância Magnética (RM) → é o ideal, para que se consiga ver o ângulo pontocerebelar (pois todas as estruturas infratentoriais são melhores vistas na RM) • Tomografia de Crânio → na prática, é o exame que mais se utiliza, pois é mais disponível do que a ressonância ▪ Deve-se procurar por sinais de: ✓ Sangramento ✓ Tumores do ângulo pontocerebelar (principalmente o neurinoma do acústico, que é um tumor de crescimento lento. Assim, se a tomografia não acusar sua presença, pode-se esperar alguns anos para realizar novamente essa tomografia) • Estudo radiológico da coluna cervical: ▪ A orelha interna é irrigada pela artéria labiríntica, que é uma artéria terminal que é ramo do sistema vertebrobasilar. Assim, pinçamentos vasculares na cervical, mau formações de base de crânio e compressões neurológicas podem fazer com que o paciente tenha tontura ➢ Outros exames: • Hemograma → as anemias podem causar tontura • Lipidograma (Colesterol total e frações. Triglicerídeos) • Provas de função tireoidiana • Curva glicêmica de 4 horas • Curva insulínica de 4 horas: ▪ As alterações metabólicas mais comuns de causar tontura são as alterações do carboidrato, devido à ototoxicidade da insulina na orelha interna • Zinco plasmático: ▪ O zinco funciona como um aditivo em todas as funções metabólicas do organismo, auxiliando bastante também na imunidade, e o maior reservatório de zinco fica na cóclea ▪ A forma de se adquirir zinco do meio externo é por meio da alimentação com grãos integrais → mas nem sempre indivíduos se alimentam dessa forma, podendo ter uma dosagem de zinco baixa • Sorologia para Sífilis e Lyme: ▪ Sorologia para sífilis → faz-se em pacientes que tem uma vida sexual mais promíscua ▪ Doença de Lyme → também é uma causa importante de tontura EXAMES COMPLEMENTARES E ENCAMINHAMENTO AO ESPECIALISTA ➢ Nas vertigens os exames complementares são de pouca valia, podendo o diagnóstico ser feito, na maioria das vezes, clinicamente ➢ Quando encaminhar o paciente para o especialista: • Quando não se sabe manejar a anamnese corretamente • Quando não se tem um otoscópio ou quando não se sabe fazer uma otoscopia • Quando se suspeita de uma vertigem central → deve-se mandar esse paciente imediatamente para o pronto-socorro para que sejam realizados exames de imagem ➢ A maioria das vertigens periféricas pode ser manejada nos ambulatórios da atenção básica ➢ Em quadros agudos muito limitantes → encaminhar o paciente para o pronto-socorro TRATAMENTO ➢ A BASE DO TRATAMENTO É: • Tratamento Etiológico → tratar a causa base ▪ Lembrete → a tontura é um sintoma. Assim, é necessário tratar a causa base ✓ Ex: paciente dislipidêmico com tontura → acredita-se que a causa é a dislipidemia, devendo- se tratá-la • Reabilitação Vestibular: ▪ Para os casos de Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB) • Tratamento Sintomático com Antivertiginoso ➢ TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: • Restringir o uso de açúcares de absorção rápida • Evitar jejum superior a 3 horas • Evitar: ▪ Alimentos fritos ou gordurosos ▪ Cafeína ▪ Refrigerante ▪ Chás estimulantes ▪ Bebidas alcoólicas • Estimular hidratação plena e equilibrada → tomar pelo menos 3L de água por dia 8 VESTIBULOPATIAS Gizelle Felinto • Evitar repouso excessivo → a falta de estímulo externo acaba favorecendo que o paciente tenha mais tontura • Reabilitação vestibular → em casos crônicos, em casos recorrentes e na tontura sem etiologia definida (como na tontura multissensorial) ➢ TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: • Antes de prescrever uma medicação é necessário saber que: ▪ A tontura é um sintoma e será tratada sintomaticamente (o antivertiginoso o paciente só faz uso quando tem tontura), devendo-se buscar a sua causa para corrigi-la e melhorar essa tontura → o paciente não deve fazer uso contínuo e prolongado do antivertiginoso, pois eles tem muitos efeitos colaterais e o principal é que o seu uso crônico diminui a possibilidade de o sistema nervoso central (SNC) fazer uma autocompensação, pois a medicação inibe esse mecanismo (pois todo paciente com tontura terá melhora desse sintoma porque o organismo, principalmente o SNC faz essa autocompensação) ▪ A medicação é desnecessária na VPPB → esses pacientes devem ser encaminhados para a reabilitação vestibular ▪ O antivertiginoso deve ser usado como sintomático e por um curto período de tempo, para não alterar a compensação natural do SNC ▪ Paciente em uso de medicação com vertigem que dura vários dias (Ex: paciente que faz uso da medicação há vários anos e a tontura não cessa) → suspender tudo para favorecer a compensação do SNC • Objetivos do tratamento farmacológico: ▪ Controle de náuseas e vômitos ▪ Reduzir a intensidade da crise ▪ Restabelecer o equilíbrio corporal ▪ Reduzir o tempo de tratamento ▪ Prevenir novas crises ▪ Melhorar a qualidade de vida do paciente • Para a escolha da medicação sempre deve-se avaliar: ▪ Idade do paciente ▪ Sexo ▪ Comorbidades: ✓ Ex: não se pode fazer uso de corticoide se o paciente for diabético ▪ Medicações em uso → para que não ocorram interações medicamentosas ▪ Intolerâncias (alergias medicamentosas) ▪ Grau de compreensão das orientações médicas • Sonolência → é o principal efeito adverso dos antivertiginosos CORTICOIDES → podem ser utilizados como antivertiginosos, principalmente na Neuronite Vestibular BETAISTINA → é uma ótima medicação, mas não serve para a fase aguda da tontura. Assim, essa medicação não tira o paciente da tontura, mas ela mantém o paciente em equilíbrio depois que a crise é solucionada
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