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Vertigem. Sensação de movimento ilusório. Sensação de que as coisas ao seu redor estão se movendo ou que seu corpo está se movendo, quando na verdade está parado. Pré-síncope. Sensação de desfalecimento. Pacientes descrevem como sensação de desmaio iminente. Desequilíbrio. Sensação de que o controle sobre seus movimentos e equilíbrio está prejudicado. No desequilíbrio, não há sensação de movimento ilusório (vertigem) ou sensação de desfalecimento (pré- síncope). Hiperventilação. Apresenta a descrição mais vaga entre todos os padrões e, em geral, é descrita como a sensação de “cabeça vazia”, ou sensação de estar desconectado do ambiente. Os pacientes geralmente dão informações pouco claras para os médicos ao falarem sobre sua sensação de tontura. Por isso a fim de definir melhor o padrão sindrômico e as possíveis causas do problema, durante a anamnese, é necessário que se encontrem informações relevantes, como: Fatores desencadeantes. Tempo de duração. Evolução. Sintomas associados. Vertigem A grande maioria dos casos é de etiologia benigna e autolimitada, não necessitando de grandes investigações. As vestibulopatias de origem periférica são mais comuns, sendo que as centrais geralmente se apresentam com outros sintomas neurológicos associados. Além disso, apresentam sintomas com uma duração maior durante a crise. As três causas mais comuns de vertigem são: 1. A VPPB (42%); 2. Neurite vestibular (40%); 3. Doença de Ménière (10%). Juntas, são responsáveis por mais de 90% das causas de vertigem. EQUILÍBRIO Equilíbrio capacidade de manter a orientação do corpo em relação ao espaço externo. Depende: Informações visuais Informações labirínticas Informações proprioceptivas e somatossensoriais e, Integração no tronco cerebral e no cerebelo. Distúrbios do equilíbrio resultam de doenças que afetam as vias vestibulares centrais ou periféricas, o cerebelo ou as vias sensoriais envolvidas na propriocepção. Geralmente se apresentam com um dos dois problemas clínicos: vertigem ou ataxia. VERTIGEM Vertigem é a ilusão de que o corpo ou o ambiente estejam em movimento. Ela pode estar associada com outros sintomas: Impulsão (a sensação de que o corpo está sendo arremessado ou puxado no espaço). Osciloscopia (uma ilusão visual de movimento para trás e para a frente), náusea, vômitos ou marcha atáxica. Vertigem X Tontura Tontura não vertiginosa Sensações de atordoamento. Fraqueza. Tontura. Não se associa com uma ilusão de movimento. Essas sensações são produzidas por condições que privam o cérebro de sangue, oxigênio ou glicose e podem culminar em perda da consciência. O primeiro passo no diagnóstico diferencial da vertigem é localizar o processo patológico às vias vestibulares periféricas ou centrais (Figura 8-1). Certas características da vertigem, incluindo a presença de quaisquer – anormalidades associadas, podem ajudar a diferenciar entre causas centrais e periféricas (Tabela 8-1). Fonte: GREENBERG, David A. Neurologia Clínica. 8ª ed. AMGH. Porto Alegre, 2014. Fonte: • GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. O aparelho vestibulococlear localiza-se na orelha interna. É composto por um conjunto de cavidades ósseas escavadas na parte petrosa do osso temporal, chamadas labirinto ósseo e dividido em aparelho coclear e vestibular. O aparelho coclear é responsável pelos estímulos acústicos e o vestibular pela percepção do equilíbrio (Figura 1). O labirinto ósseo vestibular está formado por três canais semicirculares e o vestíbulo. Dentro do labirinto ósseo, existe um labirinto membranáceo que possui três canais semicirculares, encarregados do equilíbrio dinâmico, além do utrículo e o sáculo, responsáveis pelo equilíbrio estático (Figura 1). No espaço entre o labirinto ósseo e o membranáceo, circula a perilinfa, enquanto, dentro do labirinto membranáceo, circula a endolinfa. No utrículo e sáculo, há a participação de cristais de carbonato de cálcio chamados otólitos, responsáveis pela fisiopatologia da VPPB, como veremos adiante. O VIII par, ou nervo vestibulococlear, tem fibras distintas para a parte coclear e vestibular, apesar de ambos os nervos terem um trajeto comum. A parte vestibular contém neurônios bipolares localizados no gânglio vestibulococlear. Um de seus ramos está dirigido para a periferia e termina nos receptores vestibulares. A movimentação da endolinfa estimula as células ciliadas presentes nas cristas dos canais semicirculares e na mácula do utrículo e do sáculo, sendo então estes estímulos captados pelos receptores vestibulares. O estímulo é conduzido até o gânglio vestibulococlear, do qual parte outro ramo, que atravessa o ângulo pontocerebelar e termina nos quatro núcleos vestibulares localizados na ponte, no assoalho do quarto ventrículo. Dos neurônios dos núcleos vestibulares, partem vários axônios que se comunicam com o cerebelo, medula espinhal, tálamo, núcleos dos nervos cranianos e córtex. A vascularização se dá principalmente pela artéria labiríntica (ramo da artéria cerebelar ântero-inferior), que se divide em um ramo coclear e outro vestibular. Há também artérias acessórias provenientes das artérias meníngeas, da artéria estilomastóidea e das arteríolasda parede medial da cavidade timpânica. O fato de o aparelho vestibular ser irrigado por ramos da carótida externa e da artéria vertebral explica o porquê de um acidente vascular cerebral raramente se manifestar apenas por um quadro vertiginoso. A drenagem venosa é feita pela veia labiríntica, que desemboca no seio petroso inferior, pela veia do aqueduto do vestíbulo, que desemboca no seio petroso superior, e pela veia do aqueduto da cóclea, que drena para a veia jugular interna. Não há comunicação da orelha interna com vasos linfáticos ou linfonodos. Fonte: • GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. – PONTOS-CHAVE A vertigem ocorre devido ao deslocamento de cristais otoconiais em um canal semicircular; os sintomas são desencadeados pelo movimento da cabeça. Geralmente, há náuseas e vômitos, mas sem zumbido ou perda auditiva. O diagnóstico é clínico, mas alguns pacientes exigem RM para descartar outras doenças. O tratamento é com manobras de reposicionamento. Fármacos raramente ajudam e podem piorar os sintomas. FATORES DE RISCO - Ser idosos (>60 anos). - Sexo feminino. - Possuir algum dos fatores causadores: • Degeneração espontânea das membranas otolíticas utriculares. • Concussão labiríntica. • Otite média. • Cirurgia de orelha. • Infecção viral recente. • Trauma cranioencefálico. • Anestesia ou repouso no leito prolongados. • Doenças vestibulares prévias. • Oclusão da artéria vestibular anterior. EPIDEMIOLOGIA • No geral, a prevalência de VPPB foi na faixa de 10,7 a 140 por 100.000 habitantes. No entanto, estudos de pacientes selecionados estimaram uma prevalência de 900 por 10.000. Outros relataram uma prevalência de 2,4%, uma prevalência de 1 ano de 1,6% e uma incidência de 1 ano de 0,6%. • As mulheres são mais frequentemente afetadas do que os homens, com uma proporção mulher: homem de 2,2 a 1,5: 1. • A VPPB tambémé o distúrbio vestibular mais comum ao longo da vida, embora a idade de início seja mais comumente entre a quinta e a sétima décadas de vida. Além disso, a VPPB é mais comum em indivíduos mais velhos, com um impacto na saúde e qualidade de vida correspondentemente mais pronunciado. Estima-se que 9% dos pacientes idosos submetidos à avaliação geriátrica abrangente para queixas relacionadas ao desequilíbrio têm VPPB não reconhecida. • A VPPB é mais frequente em adultos e idosos na prática clínica, e é raramente encontrada em crianças, sendo que a prevalência em adolescentes é muito maior quando se comparada em crianças, e muito menor do que em adultos e idosos. • Estudos mais recentes com indivíduos sintomáticos descobriram que a VPPB está presente em 40% dos pacientes geriátricos atendidos por tontura, com uma prevalência geral de 3,4% em indivíduos com idade> 60 anos. Pacientes idosos com VPPB apresentam maior incidência de quedas, depressão e comprometimento de suas atividades diárias. • A vertigem persistente não tratada ou não diagnosticada em idosos leva ao aumento da carga do cuidador com custos sociais resultantes, incluindo diminuição da produtividade familiar e aumento do risco de colocação em lar de idosos. Entre cerca de 7,0 milhões de idosos que relataram tontura nos últimos 12 meses, 2,0 milhões (30,1%) relataram vertigem, e houve 230.000 consultas médicas entre idosos com diagnóstico de VPPB. Com o aumento da idade da população dos Estados Unidos, a incidência e prevalência da VPPB podem aumentar correspondentemente nos próximos 20 anos. • Dada a notável prevalência de VPPB, seus impactos na saúde e na sociedade são enormes. Os custos para o sistema de saúde e os custos indiretos da VPPB também são significativos. Estima-se que custe aproximadamente $2.000 para chegar ao diagnóstico de VPPB e que > 65% dos pacientes com essa condição serão submetidos a testes diagnósticos ou intervenções terapêuticas potencialmente desnecessários. Portanto, os custos de saúde associados ao diagnóstico de BPPV aproximam-se de US $ 2 bilhões por ano. • Além disso, apesar do fato de que a história natural da VPPB inclui uma taxa de resolução espontânea variando de 27% a 50%, isso muitas vezes leva uma quantidade de tempo significativa, e quase 86% dos pacientes com VPPB sofrerão algumas atividades diárias interrompidas e dias perdidos no trabalho devido à VPPB. Além disso, 68% dos pacientes com VPPB reduzirão sua carga de trabalho, enquanto 4% mudarão de emprego e 6% sairão do emprego em decorrência da condição. • A VPPB pode ser diagnosticada e tratada por várias disciplinas clínicas. Apesar de sua prevalência significativa, qualidade de vida e impactos econômicos, existem variações práticas consideráveis na gestão da VPPB entre as disciplinas. Essas variações estão relacionadas às estratégias de diagnóstico para VPPB, oportunidade de encaminhamento e taxas de utilização das várias opções de tratamento disponíveis para VPPB dentro e entre as várias especialidades médicas e disciplinas envolvidas em seu manejo. Por exemplo, a utilização de medicamentos para o tratamento da VPPB varia substancialmente entre os prestadores de cuidados primários e entre as especialidades. Atrasos no diagnóstico e tratamento da VPPB têm implicações no custo e na qualidade de vida para os pacientes e seus cuidadores. • Os pacientes com BPPV sofrem atrasos no diagnóstico e tratamento da ordem de meses. Outros autores descobriram que apenas 10% a 20% dos pacientes com VPPB vistos por um médico receberão manobras de reposicionamento adequadas. Além disso, um grande número de pacientes com VPPB serão submetidos a testes diagnósticos e tratamentos desnecessários antes de serem encaminhados a um especialista. Um estudo recente relatou que 70% dos pacientes com VPPB serão submetidos à ressonância magnética, 45% farão uma tomografia computadorizada e 41 %terá um eletrocardiograma, enquanto 53% serão tratados com medicamentos. Portanto, melhorias significativas no diagnóstico e tratamento de pacientes com VPPB podem levar a melhorias significativas na qualidade dos cuidados de saúde, bem como economias de custos médicos e sociais. Essas melhorias podem ser alcançadas com a composição e implementação de uma diretriz de prática clínica bem construída para VPPB. ETIOLOGIA Acredita-se que seja causada por deslocamento de cristais otocônicos (cristais de carbonato de cálcio normalmente localizados no sáculo e utrículo). Esse material deslocado mais comumente estimula células ciliadas no canal semicircular posterior (e raramente no canal semicircular superior), criando a ilusão de movimento. Fatores etiológicos incluem • Degeneração espontânea das membranas otolíticas utriculares. • Concussão labiríntica. • Otite média. • Cirurgia de orelha. • Infecção viral recente (p. ex., neuronite viral). • Trauma cranioencefálico. • Anestesia ou repouso no leito prolongados. • Doenças vestibulares prévias (p. ex., doença de Meniere). • Oclusão da artéria vestibular anterior. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A vertigem é desencadeada quando se move a cabeça do paciente (p. ex., ao rolar no leito ou se abaixar para pegar algo). Paroxismos agudos de vertigem duram somente alguns segundos a minutos; os episódios tendem a atingir o pico na parte da manhã e diminuir ao longo do dia. Náuseas e vômitos podem ocorrer, mas perda auditiva e zumbido não. O sintoma típico da VPPB é o surgimento de Vertigem rotatória, desencadeada em determinadas posições assumidas pela cabeça, durante a movimentação, sobretudo a hiperextensão cervical e lateralização, que permanece por alguns segundos, o que consequentemente, pode levar a episódios de desequilíbrios e aumentar o risco quedas. O quadro sintomático, pode ainda ser complementado com náuseas e vômitos. Além de sintomas atípicos como por exemplo: ✓ Mal-estar indefinido ✓ Calafrios ✓ Sensação de “estomago vazio” ✓ Enjoos posicionais e pré-sincopes. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS - VPPB Distúrbios otológicos • Doença de Meniére. • Neurite vestibular. • Labirintite. • Síndrome de Deiscência do Canal Semicircular Superior (SDCSS). • Vertigem pós-traumática. • Fístula perilinfática • Lesões no ouvido interno. Distúrbios neurológicos • Enxaqueca vestibular. • Circulação posterior de acidente vascular cerebral isquêmico. • Doenças desmielinizantes. • Lesões no sistema nervoso. • Insuficiência vertebrobasilar. • Vertigem posicional central. Outras causas • Ansiedade ou transtorno do pânico. • Vertigem cervicogênica. • Efeitos colaterais de medicamentos. • Hipertensão postural. • Várias condições médicas (ex. tóxicas, infecciosa e metabólicas). COMPLICAÇÕES Traumatismo craniano ou lesão cervical como potenciais fatores causais a queda. Pacientes idosos com VPPB apresentam maior incidência de quedas, depressão e comprometimento de suas atividades diárias. Em vários estudos sobre a etiologia das quedas, tontura e vertigem foram consideradas a etiologia primária CONDUTA DIAGNÓSTICA O raciocínio clínico empregado na avaliação da queixa de tontura deve seguir primeiramente um raciocínio fisiológico. Somado a isto, considerar quais as causas mais comuns, qual o tempo de duração dos sintomas e quais fatores desencadeantes das crises são informações fundamentais para a definição do diagnóstico. O primeiro desafio é classificar o sintoma do paciente dentro de um dos grupos sindrômicos já descritos, e, a partir daí, o raciocínio diagnóstico fica mais claro, assim como a definição do tipo de exame físico. O segundo desafio é identificar quais pessoas se apresentam com uma causa benigna de tontura e quais têm sinais de alerta para condições mais graves.Anamnese É essencial detalhar junto ao paciente qual é o sintoma e os seus fatores desencadeantes, sempre guiando sua anamnese em direção às hipóteses mais prováveis: • Tempo de duração do sintoma. • Fatores desencadeantes ou situação em que o sintoma ocorre (movimentação da cabeça, viagem de carro, situação de estresse intenso). • Sintomas associados (náuseas, vômitos, perda auditiva, dificuldade de andar, déficits neurológicos). • Perda da consciência. • Uso de medicações para a tontura, ou que possam ser causa da queixa (hipoglicemiantes em excesso, ou anti-hipertensivos). • Quedas. • Fatores de risco para doença cardiovascular (DCV). • Fatores de risco para queda. Também é importante explorar acerca da experiência de doença trazida pela pessoa em relação à tontura, quais as suas preocupações e medos e como isso impacta sua funcionalidade. O desequilíbrio em geral tem causas multifatoriais para organizar a investigação clínica tais causas são divididas em fatores intrínsecos, extrínsecos e comportamentais: Fatores intrínsecos. História prévia de quedas, idade, sexo feminino, uso de medicamentos psicoativos, antiarrítmicos e hipotensores, condições clínicas que comprometam a marcha e o equilíbrio, sedentarismo, medo de cair, déficit cognitivo, nutricional, visual e funcional. Fatores extrínsecos. Qualquer fator relacionado ao ambiente ao redor pode ser considerado como fator extrínseco. Precariedade de calçadas e vias públicas são fatores predisponentes a quedas que estão além do alcance do clínico. Contudo, dentro do domicílio, podem haver superfícies escorregadias, escadas sem apoio e obstáculos que ponham o paciente em risco de queda, bem como calçados e roupas inadequados. Fatores comportamentais. Pessoas muito inativas e pessoas muito ativas apresentam um risco maior de queda, devido a maior fragilidade, no primeiro caso, e à maior exposição a situações que podem culminar em queda, no segundo. Muitas vezes, uma anamnese simples e bem feita pode dispensar outros recursos. Um estudo japonês encontrou que, em pacientes com vertigem, a duração do quadro menor do que 15 segundos e a vertigem desencadeada por mudança de decúbito lateral na cama eram fortes preditores de VPPB.14 Uma pessoa com vertigem apresenta a probabilidade pré-teste de 40% para VPPB. Caso este paciente apresente as duas características simultaneamente, a razão de verossimilhança positiva destes dos sinais de 6,815,9–11 leva a uma probabilidadepós-teste para VPPB para mais de 80%, valor suficiente para dispensar exames confirmatórios e levar o paciente ao tratamento. Para aqueles casos de vertigem que não preencham os dois critérios, deve-se então proceder à manobra de DixHalpike. Para os pacientes com tontura do padrão de desequilíbrio, um acrônimo simples de ser lembrado – I HATE FALLING – é proposto por Barros15 para orientar a investigação clínica, a fim de que ela seja focada nos fatores mais comumente relacionados ao risco de quedas que são possíveis de serem modificados. Os fatores citados e a letra correspondente do acrônimo são descritos no Quadro 225.3. EXAMES COMPLEMENTARES EXAMES DE SANGUE Exames de sangue podem revelar níveis baixos de vitamina B 12 e anormalidades hematológicas (anemia macrocítica, leucopenia com neutrófilos hipersegmentados, trombocitopenia com plaquetas gigantes) associadas com deficiência de vitamina B12, níveis reduzidos de hormônios tireoidianos no hipotireoidismo, aumento das enzimas hepáticas e níveis baixos de ceruloplasmina e cobre na doença de Wilson, deficiência de imunoglobulinas e a-fetoproteína aumentada na ataxia-telangiectasia, anticorpos contra antígenos de células de Purkinje na degeneração cerebelar paraneoplásica, ou mutações associadas com ataxias espinocerebelares autossômicas dominantes. LÍQUIDO CEREBROSPINAL O líquido cerebrospinal (LCS) mostra aumento das proteínas nos tumores do ângulo cerebelopontino (p. ex., neuroma acústico), nos tumores do tronco cerebral ou da medula espinal, no hipotireoidismo e em algumas polineuropatias. Aumento de proteínas com pleocitose costuma ser encontrado na encefalite infecciosa ou parainfecciosa. Os níveis de proteína 14-3-3 no LCS estão aumentados na presença de doença de Creutzfeldt-Jakob. Embora um aumento de pressão no LCS e um LCS sanguinolento caracterizem hemorragia cerebelar, a punção lombar está contraindicada quando existe suspeita desse tipo de hemorragia. O VDRL (Venereal Disease Research Laboratory) no LCS é reativo na tabes dorsalis, e bandas de imunoglobulina G (IgG) oligoclonal podem estar presentes na esclerose múltipla ou em outros distúrbios inflamatórios. EXAMES DE IMAGEM A tomografia computadorizada (TC) é útil para demonstrar tumores ou malformações da fossa posterior, infarto ou hemorragia cerebelar e atrofia cerebelar associada com distúrbios degenerativos. A ressonância magnética (RM) fornece uma melhor visualização de lesões da fossa posterior, incluindo tumores do ângulo cerebelopontino, sendo superior à TC na detecção de lesões da esclerose múltipla. POTENCIAIS EVOCADOS O exame de potenciais evocados, especialmente das vias ópticas (potenciais evocados visuais), pode ser útil na avaliação de pacientes com suspeita de esclerose múltipla. Potenciais evocados do tronco cerebral podem localizar doença vestibular das vias vestibulares periféricas, podendo ajudar a identificar tumores do ângulo cerebelopontino. RAIO X DE TÓRAX E ECOCARDIOGRAFIA O raio X de tórax ou a ecocardiografia podem fornecer evidência de miocardiopatia associada com ataxia de Friedreich. O raio X de tórax também pode mostrar um tumor pulmonar na degeneração cerebelar paraneoplásica. AUDIOMETRIA A audiometria é útil quando distúrbios vestibulares estão associados com comprometimento auditivo; esse teste pode distinguir doença condutiva, labiríntica, do nervo vestibulococlear (VIII) e do tronco cerebral. Testes de audição tonal estão anormais quando os sons são transmitidos pelo ar com perda auditiva [condutiva e quando transmitidos pelo ar ou osso comdistúrbios labirínticos ou vestibulococleares (VIII). A discriminação da fala está acentuadamente comprometida nas lesões do nervo vestibulococlear (VIII), estando menos comprometida nos distúrbios do labirinto. A discriminação da fala está normal no envolvimento condutivo ou do tronco cerebral. ELETRONISTAGMOGRAFIA Este teste pode ser usado para detectar e caracterizar o nistagmo, incluindo o nistagmo provocado pela estimulação calórica. CONDUTA TERAPÊUTICA Tratamento não farmacológico da VPPB Manobras de reposição canalicular Manobra de Epley É indicada na vertigem posicional paroxística benigna (VPPB), sendo uma forma de tratamento isolado, que dispensa o uso de medicamentos. Essa manobra consiste no reposicionamento dos debris de estatocônios de volta ao utrículo normalmente do canal semicircular posterior A identificação do canal comprometido, em cada caso, é fundamental para a seleção do procedimento terapêutico a ser utilizado. As pessoas retornam após 1 semana para reavaliação com a prova de Dix-Hallpike. Se o nistagmo de posicionamento continuar presente, a manobra é repetida semanalmente até que se alcance melhora significativa. Deve ser feita a manobra de reposição canalicular. Com o objetivo de mover os otólitos circulantes nos canais semicirculares em direção ao utrículo, cessando, assim, com os sintomas e resolvendo o problema. A manobra deve ser feita no momento do diagnóstico e não é difícil de ser realizada. Assim como na manobra de Dix-Hallpike, se o paciente for idoso e com algum grau de dificuldade de mobilização, a ajuda de um colega pode ser necessária para a correta realização da manobrae segurança do paciente. Caso a manobra seja bem-sucedida, os sintomas não reaparecerão mais e a pessoa estará livre da vertigem. Não há necessidade de recomendar ao paciente que evite movimentos bruscos com a cabeça durante os primeiros dias ou que retorne para reavaliar e repetir a manobra para garantir a sua efetividade, o que pode gerar demandas desnecessárias para o médico e uma preocupação desnecessária ao paciente. 1. Pedir autorização ao paciente para realizá-la. 2. Explicar ao paciente sobre como a manobra será realizada, orientando que ela poderá causar os mesmos sintomas de vertigem no paciente (ele não pode ser pego de surpresa pela tontura). 3. Posicionar o paciente sentado na maca, de forma que, ao deitá-lo, sua cabeça fique pendente para o lado de fora da maca. 4. Posicionar-se atrás do paciente e lateralizar a cabeça dele a 45º para o lado acometido e estendê-la a 20º para trás. 5. Após posicionada corretamente a cabeça, peça para que o paciente se deite na maca. Sustente sua cabeça para que o paciente não se machuque. 6. Mantenha-o na posição de decúbito dorsal com a cabeça lateralizada a 45º e estendida a 20º durante 1 minuto. 7. Gire a cabeça do paciente para o lado oposto, mantendo- a lateralizada a 45º por 1 minuto. 8. Continue o giro da cabeça para o mesmo sentido do passo anterior, agora girando todo o corpo do paciente, que deverá terminar a manobra em decúbito lateral, com a cabeça ainda lateralizada a 45º e fletida a 20º. O paciente estará nesta fase com a face voltada para o chão. 9. Durante a manobra, é comum que o paciente se sinta tonto. Diga que será passageiro, orientando para que, caso aconteça, ele mantenha os olhos fechados, a fim de aliviar o mal-estar. 10. Volte o paciente à posição inicial. Eficácia A manobra de Epley foi avaliada como a terapêutica mais efetiva para o tratamento da VPPB, sem efeitos adversos aos pacientes, além do desconforto no momento da sua realização. A proporção de pacientes que apresentam alívio completo dos sintomas varia de 66 a 89%, sendo que alguns pacientes podem ainda persistir com os sintomas por alguns dias. Apesar da manobra ser efetiva, há uma taxa de recorrência da doença da ordem de 36%. Se isso acontecer, você poderá realizar o mesmo procedimento no paciente, sem nenhuma restrição. Algumas recomendações costumam ser dadas aos pacientes, como evitar estender a cabeça (olhar para cima) durante 3 dias, ou realizar movimentos bruscos, mas essas medidas carecem de evidências. Alguns profissionais utilizam também a manobra de Semont, por considerá-la uma alternativa mais simples do que a manobra de Epley e com eficácia semelhante. MANOBRA DE EPLEY 1. O paciente deve virar a cabeça em 45ºgraus. 2. E em seguida deitar-se rapidamente permanecendo na posição por 1minuto. 3. Depois deve virar-se rapidamente para a posição contraria como na imagem, olhando para baixo e permanecendo nesta posição por 1 minuto. 4. Levantar e manter a cabeça no sentido “de olhar para frente”, por 10minutos. Reabilitação vestibular A reabilitação vestibular, envolvendo exercícios em grupo com dificuldade gradualmente aumentada na forma de desafios de equilíbrio e de coordenação motora, tem sido eficaz nos casos de neurite vestibular. Apesar de estudos não diferenciarem os pacientes clinicamente – pacientes com VPPB, doença de Ménière e neurite vestibular avaliados em conjunto –, há alívio da sensação de tontura nesses pacientes. Tratamento farmacológico Em momentos de crise, podem ser usados medicamentos sedativos, com o intuito de aliviar os sintomas, porém alguns cuidados devem ser tomados. Medicamentos para supressão dos vômitos e antivertiginosos, como benzodiazepínicos, anticolinérgicos (escopolamina) e anti- histamínicos (cinarizina, flunarizina, dimenidrinato e prometazina), não devem ser dados por um período maior do que 3 dias, para evitar prejuízos à compensação central, importante para a resolução do quadro. Dos medicamentos para alívio dos sintomas, a ondansetrona, apesar de mais cara, mostrou-se superior à metoclopramida quanto ao tempo de recuperação do paciente e quanto à duração do tempo de internação. Também há fortes evidências de que intervenções para segurança do paciente no domicílio são efetivas para a redução da ocorrência de quedas e do seu risco, sendo essas intervenções aparentemente mais efetivas quando feitas com a participação de um terapeuta ocupacional. É importante notar que tais mudanças na conformação e na mobília do domicílio devem ser estimuladas não apenas para minimizar o risco de acidentes, mas também para melhor adaptação do idoso à sua casa, como, por exemplo, instalação de corrimão e barras de apoio, fixação de tapetes no chão ou sua retirada, uso de cadeiras ou bancos dentro do chuveiro. Intervenções multifatoriais e suspensão gradual de medicações psicotrópicas se mostraram efetivas para redução da ocorrência de quedas. Não há evidências consistentes de que a suplementação de vitamina D leve à redução da ocorrência ou do risco de quedas. USO CRÔNICO DE ANTIVERTIGINOSOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS Um tema que merece destaque é o uso crônico de antivertiginosos por pacientes com tonturas. Essa é uma situação comum decorrente da falta de aprofundamento diagnóstico e da limitação do arsenal terapêutico do clínico, que trata todas as “tonturas” como “labirintites”. Há dois problemas importantes a serem discutidos sobre esse tema. 1. Condições benignas que se cronificam O primeiro problema encontrado é que a maioria dos casos de vertigem, como visto, são condições benignas e que melhoram com o passar do tempo, devido à neuroadaptação natural do SNC. Contudo, essa neuroadaptação só ocorrerá se o paciente experienciar as crises de tontura que o acometem, mas como os antivertiginosos são efetivos em suprimir os estímulos vestibulares, a oportunidade da neuroadaptação fica comprometida, o quadro do paciente cronifica e ele passa a acreditar que, caso fique sem usar o seu antivertiginoso, as crises voltarão. Casos de neurite vestibular costumam aliviar consideravelmente após 1 semana, devido, em parte, à diminuição da inflamação e, em parte, à neuroadaptação. Por este motivo, o uso de antivertiginosos, nesses casos, deve ser limitado a 3 dias apenas e, nos casos de outras tonturas específicas, desencorajado. 2. Efeitos adversos a longo prazo - parkinsonismo induzido por medicamentos (22%) O segundo problema encontrado decorre dos efeitos adversos de longo prazo desses medicamentos. A relação entre o uso crônico de antivertiginosos e o parkinsonismo induzido por medicamentos é bastante consistente (Quadro 225.5). O risco potencial de se desenvolver parkinsonismo induzido por medicamentos, que compreende 22% de todos os casos de parkinsonismo, é sempre lembrado quando se fala em antipsicóticos, porém, antieméticos, como metoclopramida, e antivertiginosos, como flunarizina e cinarizina, são muito subestimados como agentes causais, particularmente no uso crônico. Dessa forma, o médico de família e comunidade deve, primeiramente, evitar fazer uso dessas medicações, limitando seu uso como terapia abortiva ao menor tempo possível, bem como encorajar os pacientes que as utilizam cronicamente a descontinuá-las. Isso pode ser desafiador para o paciente e para o médico, que deverá, após a retirada da medicação, investigar qual é a real causa da tontura. A maioria dos casos será decorrente de VPPB e de desequilíbrio. TRATAMENTO CIRÚRGICO É importante ressaltar que a VPPB é uma doença benigna. A intervenção cirúrgica deve ser reservada para casos intratáveis ou pacientes com recorrênciasgraves e frequentes que afetam significativamente a qualidade de vida. No pré-operatório, os cirurgiões devem confirmar precisamente o canal afetado e seu lado. O médico também deve descartar quaisquer causas secundárias de VPPB. O teste pré-operatório deve incluir audiometria, dada a possível complicação de perda auditiva da cirurgia do ouvido interno. O teste vestibular objetivo é encorajado para estabelecer a função inicial no ouvido operatório e garantir a função vestibular normal no lado contralateral. Imagens com TC e RNM também devem ser organizadas para planejamento cirúrgico e para descartar lesões centrais que podem mimetizar a VPPB. No geral, menos de 1% dos casos de VPPB requerem intervenção cirúrgica e a maioria envolve VPPB intratável de canal posterior. As opções cirúrgicas primárias são neurectomia única e oclusão do canal semicircular posterior. CONDUTA EDUCACIONAL Assim como na investigação complementar, o tratamento vai depender da etiologia do quadro vertiginoso. A explanação sobre a doença que foi identificada possibilita à pessoa a compreensão do seu problema, sua adesão e a participação ativa no tratamento proposto. Para propiciar um perfil metabólico adequado, que é fator relevante para um bom desempenho do labirinto, algumas recomendações são prescritas como parte de uma terapia integrada: - As primeiras refeições do dia devem ser mais fartas, sendo o jantar sempre mais leve. - A pessoa não deve permanecer mais do que 3 horas sem se alimentar. - Deve-se evitar ou diminuir o uso de café, chá-preto, chá- mate, álcool e fumo, principalmente nas fases mais agudas das labirintopatias. - É recomendável uma dieta hipossódica (1-2 g de sal/dia) para aqueles com diagnóstico de síndrome de Méniêre. - O repouso deve ser orientado nos quadros agudos (em especial aos idosos) a fim de evitar quedas. - A adesão às terapias cognitivas comportamentais deve ser estimulada, pois são úteis nas vertigens decorrentes de distúrbios ansiosos ou depressivos, assim como a atividade física deve ser recomendada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • GREENBERG, David A. Neurologia Clínica. 8ª ed. AMGH. Porto Alegre, 2014. • You, P. Instrum, R., & Parnes, L. (2018). Benign paroxysmal positional vertigo. Laryngoscope investigative otolaryngology, 4(1), 116–123. https://doi.org/10.1002/lio2.230. • MSD, manual. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt- br/profissional/dist%C3%BArbios-do-ouvido,-nariz-e- garganta/dist%C3%BArbios-da-orelha- interna/vertigem-posicional-parox%C3%ADstica- benigna>. • GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. https://doi.org/10.1002/lio2.230
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