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Otite Média: Diagnóstico e Tratamento

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Clínica Cirúrgica II – Otorrinolaringologia 
Otites Médias 
OTITE MÉDIA AGUDA 
❖ É definida como uma inflamação aguda restrita à mucosa da orelha média (se estende da membrana timpânica até os ossículos). 
FATORES DE RISCO 
✓ Idade (crianças); 
✓ Malformações craniofaciais; 
✓ Hipertrofia de tonsila faríngea (obstrui o óstio da tuba auditiva e impede sua drenagem); 
✓ Tabagismo passivo; 
✓ Déficit de vacinação; 
✓ Sazonalidade (épocas frias); 
✓ IVAS. 
PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS 
❖ Os principais agentes etiológicos das otites médias são os vírus, logo é comum seu surgimento após quadros gripais. Geralmente duram entre 1 e 2 semanas, com desaparecimento autolimitado. 
✓ Streptococcus pneumoniae; 
✓ Haemophilus influenzae; 
✓ Moxarella catarrhallis. 
QUADRO CLÍNICO 
❖ Os pacientes queixam-se de otalgia abrupta (principalmente à noite), febre, otorreia aguda e sintomas comuns de IVAS (coriza, congestão nasal, dor de garganta, tosse produtiva). Podem acompanhar também tontura e zumbidos, diarreia, vômitos e irritabilidade. 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 
✓ Abaulamento timpânico de aspecto moderado a intenso; 
✓ Otorreia aguda (até 48 horas do início da otalgia ou sintoma gripal); 
✓ Abaulamento timpânico leve acompanhado de dor de início recente (surge em até 
48 horas); 
✓ Hiperemia timpânica; 
✓ Critério de exclusão: ausência de secreção na orelha média. 
EXAME OTOSCÓPICO 
❖ Pode-se observar desde normalidade timpânica, até hiperemia (difusa ou generalizada), edema de membrana, perca da translucidez e perca de elementos anatômicos (alteração da forma). Em casos mais graves, pode-se observar perfurações ou secreções pulsáteis. 
TRATAMENTO 
❖ Opta-se por amoxacilina VO por 10 dias para pacientes que relatam ser o primeiro caso de otite que está passando. A amoxacilina é o ATB de escolha caso não tiver sido usado no mês anterior ou se não houver conjuntivite concomitante (caso for alérgico, não deve ser usado – opta-se por ceftriaxona ou claritromicina). 
❖ A associação com clavulanato (inibidor de beta-lactamase) é indicada de houver uso prévio de penicilina no mês anterior, se há conjuntivite associada ou se for um caso de otite média recorrente (3 episódios em 6 meses ou 4 em 1 ano – usa-se mais a ceftriaxona). 
❖ Mesmo com o ATB em curso, deve-se reavaliar o paciente nos 3 primeiros dias do tratamento, pois deve haver uma melhora clínica perceptível do quadro (se não houver, deve-se trocar o ATB). Se mesmo após a troca não houver melhora, deve-se encaminhar para o especialista para avaliar necessidade de timpanotomia. 
OTITE MÉDIA CRÔNICA NÃO COLESTEATOMATOSA 
❖ São caracterizadas por um quadro de otite com duração maior ou igual a 3 meses, com elevado risco de causar perda da audição, cicatrizes auditivas e presença de secreção fétida recidivante. Quando graves, evoluem com paralisia facial ou infecções de orelha interna. 
FATORES DE RISCO 
✓ Tabagismo; 
✓ História familiar; 
✓ IVAS de repetição; 
✓ Sexo masculino; 
✓ Desnutrição; 
✓ Sazonalidade (outono). 
QUADRO CLÍNICO 
❖ É uma doença no qual há perfuração timpânica (não é obrigatório), ausência de 
colesteatoma, otorreia recorrente (otite média crônica secretora – se houver apenas 
secreção por mais de 3 meses) e hipoacusia. Dessa forma, a presença de secreção 
em orelha média por 3 meses, com ou sem perfuração, define a otite média crônica. 
❖ Teoria do Continuum: a otite média é formada por meio da existência de uma 
sequência de eventos. Quando ocorre uma contração contínua do músculo tensor 
do palato na região do istmo da tuba auditiva, tem-se o isolamento cavitacional da 
orelha média. Esse mecanismo evolui com acúmulo de nitrogênio, redução de 
oxigênio e aumento de CO2, ocasionando um aumento do processo inflamatório local 
e da produção de muco e, consequentemente, alteração da pressão intra-auditiva. 
O aumento da pressão local induz a hipóxia do tecido constituinte da orelha média, 
induzindo a perfuração timpânica (pelo excesso de pressão negativa na membrana 
timpânica por implosão – ela se retrai inicialmente e, após, se rompe). Pode haver 
retração e perfuração conjuntamente em regiões diferentes. 
DIAGNÓSTICO 
❖ É feito de maneira clínica com anamnese e exame otoscópico para avaliação da 
membrana timpânica. Pode ser solicitado audiometria (obrigatório para cirurgias) e 
imitânciometria, além de TC e RM. 
SINAIS E SINTOMAS 
❖ Perfuração timpânica: de aspecto central (há um anel de membrana timpânica 
íntegra ao redor da perfuração) ou marginal, a presença de perfurações piora o 
prognóstico do paciente. 
❖ Retração timpânica: pode ocorrer em qualquer segmento da membrana timpânica 
ou de forma generalizada. 
TRATAMENTO 
❖ Clinicamente, opta-se pelo uso de ciprofloxacino (em forma de gotas otológicas) 
associado ao corticoide (hidrocortisona em gotas otológicas) para retirar o paciente 
da agudização e, se as gotas falharem, ATB sistêmico (amoxacilina + clavulanato ou 
metronidazol). 
❖ O tratamento cirúrgico é sempre feito após a estabilização do paciente com o 
tratamento clínico. Nele deve-se erradicar a inflamação em curso, reconstruir a 
anatomia tímpano-auditiva (com retalho, enxerto ou próteses) e promover a 
reabilitação se necessário (com AASI ou implante coclear). 
OTITE MÉDIA CRÔNICA COLESTEATOMATOSA 
❖ Consiste na inflamação da orelha média por acúmulo de queratina esfoliada (advém de células epiteliais – consiste em um tecido branco dentro da orelha média) nesse local. 
❖ Ela surge devido a uma disfunção tubária que, pela geração de uma pressão negativa na orelha média, gera retrações da parte flácida do tímpano, promovendo a deposição de queratina (formando os colesteatomas). 
❖ Dentre as principais complicações dessa otite, pode-se citar as intertemporais (vertigem, mastoidite e paralisia facial) e as endocranianas (trombose de seio da dura máter, meningite e abcesso cerebral). 
CLASSIFICAÇÃO 
✓ Congênito: quando surge desde o nascimento (são restos epiteliais embrionário e cursam com abaulamento da membrana timpânica – observa-se uma massa branca perlácea comprimindo a membrana timpânica sem necessariamente haver inflamação e perfuração). 
✓ Adquirido primário: mais comum, sendo formado devido retrações do tímpano (o 
ouvido perde sua capacidade fisiológica de limpeza, gerando um acúmulo de 
queratina intra-auricular). 
✓ Adquirido secundário: formado devido migrações epiteliais (contendo queratina) da 
orelha externa devido a existência de alguma perfuração timpânica prévia 
(traumático ou iatrogênico). 
A perfuração timpânica não cursa com otalgia!! 
AGENTES ETIOLÓGICOS 
✓ Agentes aeróbios: Pseudomonas aeruginosa e Staphylococcus aureus. 
✓ Agentes anaeróbios: Peptostreptococcus e Bacterioides. 
FATORES DE RISCO 
✓ Malformações craniofaciais; 
✓ Obstruções tubárias; 
✓ Hereditariedade (história familiar). 
QUADRO CLÍNICO 
❖ É caracterizado por um quadro evolutivo longo, insidioso e não respondente ao 
tratamento. Cursa com otorreia fétida (de caráter recorrente) e perda auditiva 
condutiva (pode evoluir com mista). 
EXAMES COMPLEMENTARES 
❖ Pode-se solicitar audiometria (sempre pedir quando não for urgência médica), TC e 
RM. 
TRATAMENTO 
❖ Faz-se timpanomastoidectomia ou mastoidetomia radical, com subsequente limpeza 
contínua da cavidade auditiva (para evitar recidiva da otite).

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