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Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica - Braier

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4. Entrevistas preliminares
fT
Introdução
É sabido que as entrevistas iniciais têm importância decisiva 
para o futuro do processo terapêutico a ser desenvolvido.
No campo da P.B., as principais finalidades de tais entrevis­
tas são:
• O estabelecimento da relação tefapêutica.
• A elaboração da história clínica.
• A avaliação diagnostica e prognostica.
• A devolução diagnóstico-prognóstica.
• O contrato sobre metas terapêuticas e duração do tratamento.
• A explicitação do método de trabalho e a fixação das demais 
normas contratuais.
O número de entrevistas a se realizar, variável em cada caso, 
será o que se revele necessário para atingir os fins enunciados. 
Veremos a seguir cada um destes pontos.
O estabelecimento da relação terapêutica
Neste aspecto, as entrevistas preliminares desempenham um 
papel fundamental. Dos primeiros contatos com o paciente de­
pende, em boa parte, o destino da relação deste com seu terapeuta
64 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
(que poderá ser ou nâo aquele que o tenha entrevistado). Trata=se 
então de poder criar condições favoráveis para a instauração de 
um vínculo terapêutico, em relação ao qual importa muito a con­
duta que assuma o entrevistador, quer dizer, sua contribuição para 
o estabelecimento de uma relação de trabalho. Será benéfico que 
possa mostrar-sc interessado pelos problemas do paciente, dis­
posto a oferecer-lhe sua ajuda e confiante em seu método terapêu­
tico, além de claro e explícito, desde o primeiro momento, em sua 
comunicação com o paciente. Para isso convém que lhe comuni­
que previamente a finalidade das primeiras entrevistas (conhece­
rem-se mutuamente, realizar um estudo o mais completo possível 
de seu caso para poder decidir a conduta terapêutica a ser seguida, 
etc.) e que, no decorrer das mesmas, informe-o detalhadamente a 
respeito dos diferentes aspectos do tratamento que seguirá. A 
experiência clínica demonstra que tais atitudes ajudam bastante 
no estabelecimento de uma relação terapêutica. Tenta-se, desse 
modo, diminuir as resistências produzidas por preconceitos, mal­
entendidos ou temores a respeito do tratamento, tudo o que pode 
facilmente conduzir à deserção (4). Em essência, terá que comba­
ter a ambigüidade, fomentadora de condutas resistenciais e fenô­
menos regressivos.
O entrevistador deverá, além disso, assumir um papel ativo, 
dirigindo os diversos momentos das entrevistas em função dos 
objetivos desta fase do procedimento, essencialmente diagnostica 
e contratual. Formulará perguntas, fornecerá informação, etc., e 
ízes poderá recorrer a assinalamentos e interpretações. 
Considero que o emprego de interpretações nas entrevistas 
ais deva limitar-se principalmente aos seguintes fins:
a) esclarecer e orientar a relação transferencial quando sur­
jam obstáculos a ela que ameaçam inclusive provocar a deserção 
do paciente;
. b) efetuar uma devolução diagnóstico-prognóstica, na qual 
pode-se recorrer às chamadas interpretações panorâmicas (ver 
, P. 72);
c) detectar a capacidade do paciente para efetuar uma psico­
terapia de insight, empregando isolada e prudentemente interpre­
tações de ensaio (1)'.
Entrevistas preliminares 65
A história clinica
Em P.B. é necessário realizar uma indagação exaustiva dos 
dados do paciente. Uma história clínica em que se leva em conta 
esta indicação poderá oferecer-nos elementos valiosos para com­
preender melhor a natureza dos problemas atuais do paciente, em 
relação à sua história de vida, mediante a descoberta de situações 
traumáticas, modos patológicos e repetitivos de conduta, etc.
A respeito da metodologia a ser empregada, cabe recomen­
dar a adoção de um modelo de anamnese cromo ponto de referên­
cia, embora isso não implique que se tenha de seguir uma ordem 
rígida para interrogar o paciente.
Convém assinalar o interesse particular de quese reveste em 
P.B. a indagação do motivo da consulta. O habituaf é que este se 
ache ligado à situação-problema que dará lugar ao tratamento. 
Será conveniente obter amplas informações sobre os antecedentes 
dessa situação-problema, os sintomas que a acompanham, os 
fatores desencadeantes, etc. Essas averiguações podem ser reali­
zadas deixando-se em primeiro lugar que o paciente exponha li­
vremente suas dificuldades atuais, ou seja, através dos momentos 
livres da entrevista, que logo poderá ser dirigida ou semidirigida 
quando for necessário obter determinados dados do paciente 
(antecedentes familiares e pessoais).
Avaliação diagnostica e prognostica
Avaliação diagnostica
É preciso efetuar uma ampla e minuciosa avaliação diagnos­
tica do paciente, que não deve permanecer circunscrita ao diag­
nóstico clínico, insuficiente para efetuar a formulação prognosti­
ca e a indicação terapêutica (psicoterapia breve, psicoterapia em 
que predomine o insight ou de apoio, psicoterapia prolongada, de 
grupo, etc.), a escolha de objetivos e o planejamento do tratamen­
to-. Se se decide pela realização de uma terapia de duração limita­
da, esta demandará, com maior razão ainda, um conhecimento
66 Psicoterapia breve de orientação psicanalíticu
prévio do paciente o mais profundo possível (hipótese psicodinâ- 
mica inicial) para organizar o plano terapêutico correspondente.
Os elementos necessários para os distintos diagnósticos 
devem ser obtidos basicamente por meio de entrevistas clínicas e 
de testes psicológicos, aos quais podem somar-se outros exames, 
que as circunstâncias requeiram (exame médico geral, neurológi­
co, eletroencefalográfico, etc.).
Consideramos aqui: 1) O diagnóstico nosográfico-dinâmico, 
que inclui as condições egóicas; 2) A avaliação do grau de moti­
vação para o tratamento e de atitudes para o “insigfit”; 3) A deter­
minação do foco.
O diagnóstico nosográfico-dinâmico
Implica o diagnóstico atual da enfermidade do paciente (neu­
rose, caracteropatia, psicopatia, psicose) e de personalidade. Exem­
plo: depressão reativa num neurótico obsessivo, cuja personalida­
de apresenta um predomínio de traços paranóide-obsessivos.
Devem incluir-se também:
O diagnóstico do tipo de grupo familiar de origem, sua inci­
dência na problemática atuãlT ãíém da influência que possa exer­
cer o meio ambiente, compondo na realidade um diagnóstico psi- 
cossociopatológico.
Uma avaliação das condições egóicas, para a qual se investi­
gam os recursos de que dispõe o ego do paciente, quer dizer, seus 
aspectos adultos ou sadios, que serão os aliados do terapeuta, e 
suas debilidades. Este último fato permitirá que se tomem os cui­
dados necessários diante das prováveis dificuldades que pode­
riam sobrevir durante o tratamento, o qual, além disso, procurará 
contribuir, por meio do trabalho terapêutico, para que o paciente 
adquira ou recupere as capacidades egóicas que lhe faltam. Em 
psicoterapia breve interessa indagar principalmente:
<^a) As Junções egóicas básicas (percepção, atenção, memória, 
pensamento, etc.). E elementar que estas funções se apresentem 
cm condições mínimas para tomar possível a psicoterapia.
b) As relações objetais. Segundo Bellak e Small, elas serão 
examinadas, no que diz respeito à sua qualidade e intensidade e
Entrevistas preliminares 67
aspectos manifestos e latentes (2), a partir da conduta evidenciada 
pelo paciente durante as entrevistas clínicas, da história de suas 
relações interpessoais, de suas fantasias, sonhos, recordações, de 
nossa contratransferência e dos dados fornecidos pelos testes psi­
cológicos. Essas indagações são de grande valor para efetuar um 
prognóstico e uma estratégia terapêutica, porque nos permitem 
prever, em certa medida, as características da relaçào transferen­
cial durante a terapia, a maior ou menor capacidade do paciente 
para estabelecer uma boa relaçào terapêutica, os inconvenientes 
que nesse sentido podem surgir durante o tratamento, e muito 
especialmente o momento do término da terapia e do desligamen­
to do terapeuta.
2 4 c) O controle de impulsos. Pode ser excessivo ouí pelo con­
trário, estar diminuído. Em ambos os casos,será necesfário tomar 
certas medidas terapêuticas (emprego de técnicas dramáticas em 
um. aumento do número de sessões em outro, etc.).
{I d) A tolerância à ansiedade e à frustração. Trata-se de detec­
tar as condições do paciente para tolerar uma psicoterapia inter- 
pretativa, em virtude da mobilização afetiva que esta costuma 
produzir (para isso, pode-se apelar para diversos recursos, entre 
cies as interpretações de ensaio [í], nas primeiras entrevistas, 
para comprovar sua reação às mesmas), assim como sua capacida­
de para superar sem maiores conseqüências o luto causado por 
sua separação do terapeuta no fim da terapia (convirá averiguar a 
existência dc lutos na história do paciente, e que repercussão tive­
ram nele).
K- e) Os mecanismos defensivos. Será necessário precisar as 
principais defesas empregadas pelo paciente, determinação que é 
de grande importância para a indicação terapêutica, para o plane­
jamento e para o prognóstico. Exemplo: um repertório reduzido 
de defesas estereotipadas será um elemento prognóstico desfavo­
rável para uma psicoterapia de insight; em contrapartida, a varie­
dade de mecanismos defensivos tornará favoráveis as perspecti­
vas prognosticas.
f) A regulação da auto-estima. Em geral, os que procuram 
terapia apresentam uma diminuição da auto-estima, devendo o 
trabalho terapêutico resultar numa elevação da mesma.
6H Psicoterapia hreve de orientação psicanalitica
Finalmente chegaremos à avaliação da potência e plasticida­
de do ego.
Avaliação do grau de motivação para o 
tratamento e das atitudes para o "insight”
Diversos indicadores, provenientes das entrevistas diagnosti­
cas e da realização dos testes psicológicos, nos dão uma idéia 
acerca do grau de motivação do paciente para receber ajuda tera­
pêutica, isto é, para assistir às sessões de tratamento, e em espe­
cial sobre sua motivação e condições para o insight (8). Suas res­
postas às interpretações de ensaio (1) e assinalamentos nos darão 
a medida de sua capacidade de auto-observação, sua resistência 
ou sua permeabilidade ante as intervenções do terapeuta.
Diretamente ligado à capacidade de insight do paciente acha- 
se seu grau de consciência da enfermidade, que também terá de 
ser detectado.
A motivação para o trabalho terapêutico é susceptível de ser 
estimulada durante as primeiras entrevistas e no decorrer do trata­
mento. A esse respeito cabe assinalar o papel fundamental que de­
sempenha a forma pela qual o entrevistador faz a devolução diag- 
nóstico-prognóstica para o paciente no começo da relação.
Determinação do foco
Trata-se da possibilidade de precisar e delimitar um foco, 
passo tecnicamente essencial para nosso trabalho terapêutico pos­
terior.
Quando se trata de quadros agudos (neuroses traumáticas, 
depressões reativas), que devem resolver-se através do tratamen­
to, a escolha e a demarcação do foco são facilitadas, do mesmo 
modo que a definição dos objetivos terapêuticos. Outras vezes 
torna-se mais dificultosa, se o paciente apresenta transtornos ge­
neralizados em todas ou em quase todas as áreas de conduta, de 
tal forma que não conseguimos destacar um problema ou conflito 
como ponto de partida, sobretudo se não há uma situação definida
Entrevistas preliminares 69
de urgência que predomine; em outras palavras, nâo encontramos 
“a ponta do novelo” para abordar o caso através de uma terapia 
setorial (trata-se de indivíduos com sérias alterações de personali­
dade, cuja enfermidade data de muitos anos, em geral caractero- 
patas, boderline ou neuróticos crônicos).
A determinação do foco e o aprofundamento em sua confliti- 
va engloba o diagnóstico do ponto de urgência e acha-se por sua 
vez compreendida dentro da formulação psicodinâmica antecipa­
da, já que esta última não é outra coisa senão uma hipótese diag­
nostica integral, enquanto os diferentes diagnósticos e avaliações 
citados até «qui constituem as versões interpretativas parciais de 
tal formulação.
I
Papel do psicodiagnóstico
Embora este não seja meu campo específico de atividade, 
desejo fazer algumas considerações a respeito3.
A aplicação de testes psicológicos é muito útil para o diag­
nóstico, prognóstico e para as indicações e contra-indicaçôes da 
terapia breve. Quando se recomendà esse tipo de tratamento, essa 
aplicação adquire suma importância no planejamento terapêutico.
Tenho dito e o repito: em P.B. coloca-se a necessidade de se 
obter, de antemão, um conhecimento amplo e profundo acerca do 
paciente, que facilite a formulação da hipótese psicodinâmica ini­
cial e conseqüentemente nossa tarefa terapêutica, com a base num 
plano de trabalho determinado, pelo menos em seus traços princi­
pais. Sobretudo se a terapia é de duração limitada, não haverá 
tempo para esperar a emergência de certos conteúdos, como num 
tratamento analítico. Daí que a aplicação de testes deveria efetuar- 
se de maneira sistemática em pacientes para os quais se prevê a 
realização de um tratamento breve e planejado, ou pelo menos nos 
casos em que se esbarre com dificuldades diagnosticas e/ou tera­
pêuticas4. Sou dos que pensam que o tempo investido no processo 
psicodiagnóstico, ainda que considerável, às vezes fica ampla­
mente compensado, quando se deve empreender uma psicoterapia 
de duração limitada5.
70 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Embora pareça contraditório destinar um número apreciável 
de horas à realização do psicodiagnóstico quando se trata de pou­
par tempo (como ocorre no caso das terapias hospitalares de curto 
prazo), não o é, na realidade, pois a riqueza dos dados que podem 
ser obtidos não só pode contribuir para a consecução de bons 
resultados, mas também para agilizar o processo terapêutico, cuja 
duração poderá eventualmente abreviar-se no alcance dos objeti­
vos propostos.
A bateria de testes a ser empregada pode constar do Teste de 
Rorscharch (5) (7) (10), do Teste das Relações Objetais de 
Phillipson (5) (10) ou do Teste de Apercepção Temática de Murray 
(5), e completar-se com o de Bender, desenho livre, figura huma­
na, casal, desiderativo, etc. Quando as circunstâncias o aconse­
lhem, acrescentem-se os testes de inteligência.
Os dados que se extraem são muitos e valiosos: diagnóstico 
da personalidade c do quadro psicopatológico; psicodinamismos; 
capacidade de insight, condições egóicas. Dentro destas últimas, o 
psicodiagnóstico descreve as características das relações objetais 
(por diversos indícios dos testes projetivos, como, por exemplo, o 
Phillipson ou o T.A.T. [5]), os mecanismos defensivos, a tolerância 
à ansiedade e à frustração, especialmente quanto à capacidade de 
suportar a separação do terapeuta6, a força do ego, etc.
Também poderão efetuar-se recomendações terapêuticas, a 
partir dos dados obtidos (sobre o tipo de tratamento, sexo do tera­
peuta, etc.)7, e apreciações prognósticas.
Avaliação prognostica
Em geral é possível realizar uma avaliação prognostica, so­
bretudo do momento ou quadro atual que motiva o tratamento. Os 
resultados deste dependerão de fatores provenientes do paciente, 
do terapeuta e do âmbito assistencial em que tenha lugar (hospi­
tal, clínica, consultório particular). Tais fatores devem ser consi­
derados sempre em conjunto, e não de maneira isolada.
Com relação ao paciente, influirão especialmente as diversas 
condições diagnosticas a respeito dos aspectos já citados. São_ele- 
mentos para um prognóstico favorável: —
• Início recente e agudo do sofrimento ou problema atual a 
ser abordado ou, como assinala Courtenay (3), que se trate de um 
“momento propício” numa enfermidade relativamente crônica.
• Leveza e limitação da patologia (3).
• Condições favoráveis do meio familiar e social para o 
desenvolvimento da tarefa terapêutica e aceitação das mudanças 
do paciente.
• Ego forte, com funções básicas em bom estado, capacidade 
de estabelecer boas relações objetais e de tolerar adequadamente 
a separação que sobrevirá ao finalizar-se a terapia (relação 
transferencial com grau leve de ambivalência e dependência),plasticidade de defesas, etc.
• Alto grau de motivação para o tratamento. Incide conside­
ravelmente na produção de bons resultados terapêuficos, mesmo 
nos casos que apresentem certa gravidade (8).
• Capacidade de insight.
• Possibilidade de determinar o foco antecipadamente (antes 
de iniciado o tratamento ou em suas primeiras sessões)*.
Com relação ao terapeuta, as perspectivas prognosticas são 
favoráveis quando, além de este reunir as condições necessárias para 
o exercício da P.B. (ver capítulo L4), existe uma contratransferên- 
cia positiva que facilita a instauração dc um bom vínculo com o 
paciente.
Com relação ao contexto assistência!interessam as possibi­
lidades terapêuticas que oferece em seus aspectos temporais, es­
paciais, equipe de profissionais, etc.
É claro que o prognóstico terapêutico, além disso, deve ser 
feito em fimção das metas combinadas, segundo estas pareçam ou 
não alcançáveis dentro das condições gerais que regerão o traba­
lho terapêutico.
A devolução diagnóstico-prognóstica
Além da devolução dos dados do psicodiagnóstico, a cargo 
do psicólogo que o efetuou - que por diversas razões, em nenhum 
caso deveria se omitir (12) - e mesmo que tenha sido outro o pro­
fissional que realizou as entrevistas clínicas, cabe uma nova devo­
Entrevistas preliminares___ ______ ______ ______ _______ _______ ____________ 72 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
lução da parte deste último, a qual naturalmente será baseada nas 
conclusões a que chegou, nào só depois das entrevistas, mas tam­
bém como conseqüência do emprego dos diferentes meios auxi­
liares de diagnóstico. Esta segunda devolução é resultante da tare­
fa desenvolvida em equipe e deve antes de tudo manter coerência 
com relação à devolução psicodiagnóstica.
O entrevistador transmitirá oralmente ao paciente, numa lin­
guagem simples e clara, impressões gerais a respeito de sua pro­
blemática. Mencionarei, a seguir, alguns dos objetivos de tal con­
duta: »
a) Fazer o paciente sentir que se presta atenção nele e se 
pensa em suas dificuldades, procurando compreendê-las. Trata-se 
de uma nova contribuição em busca de uma aliança de trabalho.
b) Fornecer-lhe certo esclarecimento preliminar a respeito de 
sua problemática.
c) Reforçar sua motivação para entender e resolver suas difi­
culdades por meio da psicoterapia.
d) Facilitar o passo seguinte, que será a escolha de metas te­
rapêuticas, ao lhe apresentar, e em parte sugerir, o conflito do qual 
julgamos poderiam surgir tais metas. (Em outras palavras, a devo­
lução será centrada naquilo que em nossa opinião deve converter- 
se na problemática central do tratamento, com o que além disso se 
irá delineando o provável foco terapêutico.)
Como foi dito, serão transmitidas ao paciente apenas algu­
mas apreciações acerca dc sua problemática, sem se estender nem 
aprofundar em demasia, já que não é proveitoso fazê-lo nesta 
etapa. Para isso pode-se recorrer às interpretações denominadas 
panorâmicas (4), que permitem esboçar, de maneira global, psi- 
codinamismos subjacentes à situação-problema. A devolução, 
além dos aspectos diagnósticos, deve abranger referências ao 
prognóstico capazes de tranqüilizar e reanimar o paciente. Isto lhe 
dará a idéia de que podemos oferecer-lhe nossa ajuda e de que tem 
possibilidade de resolver seus sofrimentos ou pelo menos de ali­
viá-los. Poderíamos reiterar o mesmo com relação às metas tera­
pêuticas, uma vez combinadas.
Contrato sobre as metas terapêuticas e a duração do tratamento
Depois de efetuada a devolução diagnostica, paciente e 
entrevistador trocarão opiniões acerca dos possíveis objetivos da 
terapia a ser realizada, até chegar a estabelecê-los claramente e de 
comum acordo.
Devem-se em princípio conhecer e levar em conta os pontos 
de vista do paciente acerca das metas do tratamento, equivocados 
ou não segundo nosso julgamento. Com essa finalidade, já se terá 
formulado ao paciente perguntas, como: Que expectativas tem 
acerca do tratamento? Em que problemas você crê necessitar de 
ajuda? Em que supõe que tem de consistir essa ajuda?, etc. As 
respostas correspondentes nos darão além disso alguma idéia de 
suas fantasias a respeito de enfermidade e de cura, dasjquais pro­
vêm os objetivos que ele se coloca, assim como de suajrnotivação 
e capacidade de insight. Isso não exclui que por meio de devolu­
ção efetuada se tente chamar sua atenção sobre determinada “con- 
flitiva” e acrescentar sua motivação para enfrentá-la.
O terapeuta se referirá aos objetivos do modo mais claro e 
simples possível. Por exemplo, dirá ao paciente que entre ambos 
poderiam tratar de esclarecer por que ele sente tanto temor quan­
do lhe solicitam qualquer tarefa em' seu emprego e de conseguir 
que enfrente essas situações de forma mais adequada. Também 
dirá que se procurará melhorar seu estado de ânimo e esclarecer 
também o que sucede com sua família, etc. Paralelamente, o tera­
peuta deve formular os fins terapêuticos de um ponto de vista psi- 
codinâmico: em um caso pensará sobretudo em elevar a auto-esti- 
ma; em outro, em atenuar as exigências superegóicas; num tercei­
ro, em revelar o significado inconsciente de tal conduta e atacar 
determinados mecanismos defensivos, etc.
É preciso que os objetivos a que se proponham sejam presu­
mivelmente alcançáveis, isto é, que se ajustem às possibilidades 
que oferecem paciente e terapeuta e às condições gerais em que 
terá lugar a terapia. Poder-se-ão classificar como primordiais e 
secundários, segundo sua importância; em imediatos e mediatos, 
de acordo com a ordem cronológica em que se procure alcançá- 
los, seguindo, se necessário, um escalonamento estratégico; e em 
explícitos e implícitos, se tiverem ou não sido verbalizados e com-
Entrevistas preliminares__ _____ ______ ______ ______ ______ _
binados cora o paciente. (Toda terapia breve de insight pressupõe 
a existência de fins terapêuticos inerentes à natureza mesma do 
processo, por exemplo, que o paciente alcance maior consciência 
da enfermidade ou eleve sua auto-estima. Esses fins, quase cons­
tantemente presentes, também constituem por conseguinte objeti­
vos terapêuticos gerais, diferenciados dos particulares, que sur­
gem em cada caso.)
Quando não se chega a um acordo real sobre as metas da te­
rapia (pode tratar-se, inclusive, de um pseudo-acordo por submis­
são do paciente às sugestões do terapeuta, que atuam naquele 
como ordens), cabem várias alternativas:
/ a) aceitar o que propõe o paciente, caso em que o terapeuta 
deverá renunciar aos propósitos terapêuticos que tinha previa­
mente, ou postergá-los para uma segunda etapa, b) realizar uma 
tarefa de esclarecimento que tenda a motivar o paciente a em- 
j preender uma terapia com base nas metas que consideram conve­
nientes, c) se as dissidências forem muito grandes, não efetuar 
V nenhum tratamento9.
A duração de um tratamento breve varia segundo as circuns­
tâncias:
• Pode estar predeterminada por modalidades institucionais, 
que estabelecem prazos para os tratamentos geralmente de modo 
convencional e que correspondem a necessidades organizacionais 
dentro do planejamento assistencial que tais instituições adotam 
(de 3 ,6,12 meses, etc.).
• Em muitas oportunidades, situações próprias do paciente, 
que inclusive podem ter motivado o tratamento, colocam, por sua 
vez, uma limitação temporal espontânea ao mesmo: acontecimen­
tos como uma viagem, por exemplo, poderão determinar uma 
finalização obrigatória, por acaso também adequada.
• Em outras ocasiões, que se apresentam especialmente no 
consultório particular, a duração do tratamento depende do que o 
terapeuta e o paciente resolvam. Assim, poderá contar ou não com 
um final prefixado.
Não só os objetivos, mas também a duração do tratamento 
deveriam, dentro do possível, ser estabelecidos de comum acordo 
entre terapeuta e paciente, antes de seu início. A isso se tem referi­
do, entre nós, Ulloa (13). Em lugar de encarregar da duração do
4 _____Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalitica
Entrevistas preliminares 75
tratamento fatores alheios à situação mesma do paciente, ou que 
este tenha a impressão de que é imposta pelo terapeuta, seria pre­
ferível que se pudesse obter uma vez mais a opinião do paciente 
sobre essa questão, a fim de a elaborarem conjuntamente. O que é 
pouco - ou muito - tempo para um pode não ser para o outro. “A 
fixação do tempo - assinala Ulloa - faz-se com a participação 
explícita do paciente no nível em que ele esteja capacitado para tal 
elaboração” (13). Isso não implica que aceitaremos ingenuamente 
as idéias do paciente, mas que buscaremos soluções depois de 
uma revisão adequada da situação.
Quando a duração do tratamento for determinada de antemão, 
o terapeuta deve procurar, como condição primordial, que a 
mesma guarde relação direta com os objetivos terapêuticos pro­
postos, quer dizer, com o tempo que empiricamente estime neces­
sário para cada paciente alcançar esses objetivos (sem que isso seja 
um impedimento para efetuar uma recontratação do tratamento, 
sg, uma vez chegado o seu término, seus fins não se cumprirem)10.
Fixar previamente uma data para o término da terapia supõe 
vantagens e desvantagens. Com freqüência, o melhor será não 
limitá-la, mas às vezes ocorre o contrário: para antepacientes que 
apresentem uma atitude receosa e. de desconfiança (habitualmen­
te com marcados traços fóbicos ou paranóicos), pode ser conve­
niente determinar uma data exata - não muito longínqua - para a 
finalização, com o objetivo de evitar fantasias de ser preso numa 
armadilha pelo terapeuta; tranqüiliza-os saber, desde o começo, 
que existe uma data em que o tratamento será concluído/Dessa 
maneira aceitam com menos dificuldades serem tratados, do que 
quando se acham ante uma terapia de duração indeterminada. 
Esta situação se apresenta mais comumente em pacientes de es­
trato socioeconômico baixo, os quais em princípio não concebem 
que a psicoterapia deva estender-se demasiadamente no tempo 
para solucionar seus padecimentos. Se não apelarmos com flexi­
bilidade para este recurso estratégico, o mais comum é que a 
abandonem em algum momento ou que simplesmente não a ini­
ciem. Em contrapartida, se se fixa um prazo, seus receios diante 
do tratamento são menores, sendo até possível que depois dese­
jem prolongá-lo. Por último, outras vezes a limitação de tempo 
parece necessária para estimular e agilizar o trabalho terapêutico 
do paciente./
76 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Além disso, é mister explicar ao paciente, que uma vez ter­
minada a terapia, realizará, junto com o terapeuta, um balanço dos 
resultados obtidos, para o que ambos levarão em conta seu estado 
nesse momento, e que a partir daí se resolverá a conduta mais ade­
quada a assumir (separação final, fixação de entrevistas de con­
trole, recontrato, indicação de outro tratamento, etc.).
Explicitação do método de trabalho.
Fixação das demais normas contratuais
É útil oferecer ao paciente uma idéia acerca das característi­
cas do tratamento que terá de seguir, ou seja, quais serão, respecti­
vamente, suas funções, as do terapeuta e eventualmente as da 
equipe terapêutica. O benefício dessa tarefa informativa reside 
em que o paciente, em vez de resistir, à intolerância das ansieda­
des provocadas pelo desconhecido, poderá pelo contrário coope­
rar com o terapeuta, tomando conhecimento da técnica que orien­
tará o trabalho de ambos.
No que diz respeito às funções do paciente, dever-se-á fazer 
empenho em explicar-lhe cuidadosa e detalhadamente o que será 
sua regra básica de funcionamento no decorrer da psicoterapia. (Da 
regra básica de funcionamento ocupo-me no capítulo 6, pp. 89 ss.)
Convém que o paciente tenha uma noção prévia do papel do 
terapeuta. Quando se pensa em efetuar uma psicoterapia interpre- 
tativa, poder-se-á explicar-lhe que se trata fundamentalmente de 
ajudá-lo a compreender melhor sua situação, tentando trazer-lhe 
um ponto de vista diferente, que vá mais além do que lhe permite 
seu senso comum; que será baseado sobretudo em revelar-lhe 
aspectos obscuros ou desconhecidos para ele, que podem estar 
provocando e/ou incrementandq seus sofrimentos, e que isso será 
efetuado através de interpretações, das quais se dará alguma idéia 
elementar. Desse modo, procuraremos fazer com que se familiari­
ze o mais rápido possível com o tratamento e se abrevie a etapa de 
ansiedade, desconcerto ou estranheza, que em princípio costu­
mam provocar as interpretações, e que em P.B. considero que 
possa ser prejudicial. Com relação a isso costumo advertir ao pa-
Entrevistas preliminares 77
cicnte que é possível que minhas intervenções, particularmente 
no início do tratamento, lhe pareçam apesar de tudo um pouco es­
tranhas, e que na realidade notará alguma diferença em relação às 
conversas que mantém habitualmente com as pessoas.
A todos esses esclarecimentos podem agregar-se outros, não 
menos benéficos para o desenvolvimento do tratamento: cabe as­
sinalar ao paciente que nossa tentativa de fazê-lo entender suas 
dificuldades a partir de uma nova perspectiva, que lhe permita en­
frentá-las melhor, corresponde ao fato de que tais dificuldades 
superam suas^possibilidades de solucioná-las jíor sua conta; mas, 
acrescento ante uma sugestão de Montevechio (9) é de se 
esperar que ao protagonista de uma situação perturbadora resulte 
difícil compreender com clareza o que está acontecenjio ao seu 
redor e que, para o terapeuta, do lado de fora, pode tornar-se pos­
sível entendê-lo e ajudá-lo, graças a seus conhecimentos e expe­
riência. Com isto tende-se a contrabalançar sua sensação de fra­
casso ao ter de ir à consulta, como também a fantasia de onipotên­
cia do terapeuta, sendo conveniente que se ajuste desde o primeiro 
momento a uma relação mais “real” com este (9).
Também convém informar o paciente se se pretende empre­
gar outros recursos terapêuticos (psicofármacos, entrevistas com 
familiares, etc.), comunicando, ainda que minimamente, seu sen­
tido e alcance.
Por último, devem fixar-se as diferentes condições do conta­
to terapêutico, em especial as correspondentes aos aspectos espa- 
ço-temporais do enquadramento: posição espacial do terapeuta e 
paciente (geralmente devem sentar-se frente a frente), horários, 
freqüência e duração das sessões; eventualmente, datas do térmi­
no do tratamento, das entrevistas de avaliação e do novo psico- 
diagnóstico. Os demais detalhes não diferem do que já se conhece 
(férias do terapeuta, feriados, honorários, etc.).
Referências bibliográficas
1. Alexander, F., “Indieaciones para la terapia”, em F. Àlcxander e T. 
French, Terapêutica psicoanalitica, Paidós, Buenos Aires, 1965, 
cap. VI.

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