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Cap 9 - Formulação de caso - Manual Pratico de TCC - Ilana e Margareth

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9
FORMULAÇÃO DE CASO
Renata Peretti Kuhn 
liana Andretta
INTRODUÇÃO
A terapia cognitivo-comportamental vem crescendo ultimamente, com um grande número de pes­
quisas sendo realizadas, mostrando-se muito efetiva, com baixo custo para o sistema de saúde pública e que 
inúmeros terapeutas têm interesse em conhecer sua forma de trabalho. Muito do sucesso de seu modelo de 
psicoterapia vem de uma avaliação cuidadosa, de um planejamento criterioso, de uma aplicação de técnicas 
baseadas em constructos sólidos e de um acompanhamento de resultados durante o processo.
O primeiro passo do processo terapêutico é a avaliação, que tem como principal objetivo a busca 
pela maior quantidade possível de informações a respeito daquele indivíduo, de seu desenvolvimento e do 
motivo pelo qual buscou tratamento. Após a avaliação, levantamos uma hipótese diagnostica baseada nas 
informações coletadas, que servirão como instrumento para que tenhamos uma síntese do entendimento 
do caso, bem como diretrizes a serem seguidas e fatores a serem monitorados durante o tratamento. A esse 
instrumento damos o nome de formulação de caso.
Entre os diversos textos que abordam a formulação de caso, encontramos diferentes definições para 
esse termo. Entretanto, mesmo com definições diferentes, os objetivos que os autores (Friedberg & McClure, 
2004; Araújo &C Shinohara, 2002; Person & Davidson, 2006) referem para a formulação são bastante 
comuns, sendo o principal deles o uso dela como “guia” para a escolha do plano de tratamento para um 
caso específico. Desta forma, acreditamos que todas as definições encontradas são úteis para a compreensão 
dessa ferramenta fundamental da terapia cognitivo-comportamental e buscaremos empregá-las, ao longo 
deste capítulo, de forma complementar.
ESTRUTURA DE UMA FORMULAÇÃO DE CASO
Kuyken, Fothergill, Musa e Chadwick (2005) definem a formulação como a ponte entre a clínica, a 
teoria e a pesquisa. “A formulação de caso é uma teoria sobre um caso específico” (Person & Davidson, 2006, 
p. 77) e esta teoria individualizada está baseada em uma teoria geral, a teoria cognitivo-comportamental 
(Person & Silberschatz, 1998). Podemos aqui reproduzir uma analogia utilizada por Friedberg e McClure 
(2004) para melhor entender essa ferramenta. Os referidos autores sugerem que as técnicas e pacotes de 
tratamento seriam ingredientes e que a formulação de caso forneceria a receita para a sua utilização em um 
plano de tratamento.
Outro autor (Stephens, n.d.) sugere que a formulação seja entendida como o equivalente a uma soma 
de avaliação, diagnóstico, tratamento e plano de tratamento. Dessa forma, entendemos que a formulação 
é uma soma das informações coletadas, das conclusões às quais podemos chegar a partir destas primeiras,
164 Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental
do plano de como resolver os problemas levantados e da própria execução desse plano. Essa visão, ao citar 
o tratamento entre os fatores incluídos na soma dois quais resulta a formulação, caracteriza a importância 
da formulação não só no início do tratamento, mas ao longo de todo ele.
Semelhante à ideia de perceber a formulação como guia, ela também é definida como um mapa para 
orientar no trabalho com o paciente (Wright, Basco, &; Thase, 2008). Os autores que propõe esta definição 
sugerem que a formulação reuna informações de sete domínios:
• diagnóstico e sintomas;
• contribuições das experiências da infância e outras influências do desenvolvimento;
• questões situacionais e interpessoais;
• fatores médicos, biológicos e genéticos;
• pontos fortes e qualidades;
• padrões típicos de pensamentos automáticos, emoções e comportamentos;
• esquemas subjacentes.
A formulação servirá, então, para que o terapeuta utilize os constructos cognitivo-comportamentais 
para avaliar a combinação de sintomas, problemas e recursos de seu paciente e desenvolva a sua hipótese de 
trabalho e plano de tratamento, estando estes também inclusos na formulação.
Sudak (2008) refere que a formulação de caso visa a abranger quatro áreas básicas de informações 
sobre o sujeito: fatores que o predispõe ao transtorno, fatores precipitantes, fatores perpetuadores e fatores 
de proteção. A autora sugere, então, quatro perguntas principais a serem respondidas na formulação. Seriam 
elas: por que esta pessoa? Por que neste momento? Por que este problema continua? Por que o problema se 
apresenta desta forma (e não pior)?
Para complementar, Araújo e Shinohara (2002) afirmam que, para o desenvolvimento adequado 
de uma formulação de caso, o terapeuta deve investigar, ao longo da avaliação, quais pensamentos estão 
relacionados a quais situações e que reações emocionais, comportamentais e fisiológicas estão ligadas a estes 
pensamentos, qual a conceitualização cognitiva do indivíduo, “e que eventos estressores contribuíram para 
o surgimento do problema ou inibiram o funcionamento das estratégias adaptativas” (Araújo & Shinohara, 
2008, p. 39). Dessa forma, o entendimento, associado ao plano de tratamento, do modelo de processamento 
de informação desse paciente permite que, durante o tratamento, o terapeuta possa avaliar a mudança cog­
nitiva e a diminuição das distorções.
Além das variáveis de avaliação, de planejamento do tratamento e de conceitualização cognitiva citada 
pelos autores acima, Stephens (n.d.) reforça a importância de a formulação conter um plano de quando, 
onde e como serão feitas as intervenções visando à melhora do paciente. Desta forma é possível ao paciente 
e ao terapeuta praticar o empirismo colaborativo alicerçado pelo instrumento da formulação na busca de 
intervenções efetivas. Hodgins e Peden (2008) ainda falam que uma lista com os possíveis obstáculos que 
possam atrapalhar o tratamento também deve estar contida na formulação.
É essencial não confundir a formulação com um resumo sobre as informações do caso. Eells, Kendjelic 
e Lucas (1998) sugerem compreendê-la como uma ferramenta de integração entre as informações com o 
objetivo de organizar informações complexas e contraditórias, além de servir como marcador para a mudança 
e facilitador da compreensão do tratamento por parte do paciente e da empatia do terapeuta.
Outra diferenciação bastante relevante é sugerida por Friedberg e McClure (2004) em relação à 
formulação de caso e diagnóstico. Os diagnósticos são ateóricos, resumem em termos gerais os sintomas
Formulação de caso 165
do paciente e oferecem mais descrições do que explicações. Por outro lado, as formulações são “retratos 
psicológicos personalizados” (Friedberg & McClure, 2004, p. 22), inferidas a partir de uma teoria e com 
caráter mais explanatório sobre a relação entre diferentes problemas, sintomas e fatores. Formulações são 
mais abrangentes clinicamente, de forma a incluírem o diagnóstico em sua estrutura.
Assim como as definições do termo, também são diversos os modelos de protocolo de formulação 
encontrados. Conforme a proposta deste capítulo, sugerimos um modelo de protocolo que integra dados 
de diferentes fontes pesquisadas, conforme mostra a Figura 9.1.
166 Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental
Formulação de caso 167
COMPONENTES DA FORMULAÇÃO DE CASO
Para um entendimento mais claro sobre o que é importante investigarmos para uma formulação de 
caso completa e funcional, explicaremos cada um de seus itens separadamente.
Identificação do paciente
A identificação do paciente pode parecer uma parte irrelevante da formulação, mas com a prática clínica 
percebemos o quanto detalhes contidos nessa seção são relevantes. Além de dados como nome completo, 
idade, profissão, estado civil e número de dependentes, investigamos religião e escolaridade.
Esses últimos dados podem ser importantes fontes de informação para a compreensão de certos 
padrões de pensamentos. Por exemplo, pacientes podem acreditar que estão sendo punidos ou que mere­
cerem punição por algo que fizeram no passado e que não seja bem visto pela religião que seguem. O grau 
de instrução pode influenciarnão só padrões de pensamentos como o próprio plano terapêutico, sendo 
necessário escolher técnicas ou adaptá-las de acordo com a capacidade de compreensão do paciente.
Na última parte dessa seção, existe um espaço para “outras informações relevantes”, neste espaço 
podemos anotar contato de familiares, endereço profissional, contato de outros profissionais envolvidos no 
atendimento do caso, enfim, qualquer outra informação que seja relevante constar para a identificação do 
paciente e seu caso e que não se encaixará melhor em nenhuma das demais seções da formulação.
Lista de problemas
A lista de problemas deve ser composta por todos os problemas relatados pelo paciente e os identificados 
pelo terapeuta. Person e Davidson (2006) referem que a lista deve ser escrita em termos concretos e deve 
conter problemas de diversos domínios além do psicológico, como médicos, ocupacionais, habitacionais, 
legais, interpessoais e de lazer.
Além dos problemas relatados pelo paciente, ainda devemos incluir os que podemos perceber na 
forma como o paciente comporta-se ou se coloca na relação terapêutica. Pacientes que solicitam mudanças 
de horário frequentes, por exemplo, podem estar denunciando um padrão de vida caótico, e pacientes 
extremamente submissos podem denunciar uma dificuldade para se impor (Person & Davidson, 2006).
Instrumentos de avaliação podem ajudar a construir a lista de problemas, principalmente quando o 
paciente apresenta algum problema que considera vergonhoso, ou mesmo quando não considera que tenha 
problema em determinado contexto. Por exemplo, um paciente fumante pode não considerar que seu vício
168 Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental
seja um problema, mas buscar tratamento por dificuldades na interação social. Ao investigarmos através de 
determinada escala podemos identificar um padrão de uso da substância que possa explicar parcialmente o 
problema (por mau hálito, odor nas roupas etc.), que não pudemos identificar na interação com o paciente, 
por atendê-lo no início da manhã, enquanto ainda fumou poucos cigarros.
Na lista, os problemas não devem ser exclusivamente citados, sendo necessário que uma contextuali- 
zação breve acompanhe a citação. Dessa forma, não basta apenas descrever que uma paciente tem problemas 
relacionados à irritação. Deve-se descrever que, quando se sente contrariada pelos colegas de trabalho ou 
familiares, tem pensamentos catastróficos ligados a desvalor que a deixam irritada e, frequentemente, com 
comportamento agressivo.
Araújo e Shinohara (2002) defendem a ideia de construir uma lista de problemas abrangente, de forma 
que possamos compreender o indivíduo que nos busca para que receba ajuda de forma integral, visando ao 
melhor proveito do tratamento para sua saúde e qualidade de vida.
É a partir da lista de problemas que iniciaremos a compreensão da interação e de relações causais 
entre os problemas, para, posteriormente, construirmos nossa hipótese de trabalho (que será descrita mais 
adiante neste capítulo).
Diagnóstico
Nem todos os autores incluem em seu protocolo de formulação a seção de diagnóstico no modelo de 
diagnóstico psiquiátrico. Em nosso protocolo, sugerimos o diagnóstico nestes moldes, da mesma forma que 
o fazem Person e Davidson (2006). Assim como estes autores, acreditamos que o diagnóstico pode ajudar 
a levar a hipóteses iniciais importantes. Quando avaliamos um paciente e ele satisfaz critérios para o diagnós­
tico de determinado transtorno, sabemos que ele foi diagnosticado nos padrões utilizados para estudos e 
pesquisas em diversos países, o que nos trará maior segurança ao buscarmos na literatura material de apoio 
para a escolha de um plano de tratamento.
Conceitualização cognitiva
A confusão entre conceitualização e formulação não é rara. Isso se deve ao fato de que diversos materiais 
que trazem conteúdo referente à formulação de caso a referem como conceitualização de caso. De fato, a 
denominação conceitualização de caso não está incorreta, e o conhecimento de que esse termo é usado por 
alguns autores é bastante útil ao pesquisarmos materiais para estudo, mas, justamente para fins didáticos, 
achamos que o termo formulação evita maiores confusões com a conceitualização cognitiva.
A conceitualização cognitiva está contida na formulação de caso (ou conceitualização de caso), e difere 
desta, pois trata-se de um retrato do processamento da informação do paciente, exemplificado por situações 
no formato de um Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD). Ou seja, enquanto a formulação é um 
retrato de um caso específico, a conceitualização seria o recorte deste retrato que se refere à cognição do 
paciente em questão.
Visto a importância desta seção na formulação e no tratamento cognitivo-comportamental como 
um todo, a conceitualização cognitiva é tema de um capítulo neste livro (vide Capítulo 10, “Conceituação 
cognitiva”), desta forma, não nos ateremos a discuti-la mais longamente.
Formulação de caso 169
Hipótese de trabalho
“A hipótese de trabalho é o coração da formulação” (Person &: Davidson, 2006, p. 83). É nesta seção 
que serão respondidas as perguntas propostas por Sudak (2008) e mencionadas anteriormente neste capítulo.
A hipótese de trabalho é a teoria que o terapeuta cria a respeito do caso que lhe foi exposto. Obvia­
mente, a teoria cognitivo-comportamental em que o terapeuta se baseia influenciará o modelo de hipótese 
de trabalho que criará.
É indispensável investigar os fatores que predispõem o paciente aos problemas apresentados, os fatores 
que os mantêm e os que os ativaram. Entre os fatores predisponentes citamos não só fatos da história do 
indivíduo, como fatores genéticos também.
Além da investigação dos fatores separadamente, é na hipótese de trabalho que buscamos a relação 
entre os problemas listados nas seções anteriores da formulação. Para exemplificar, vamos imaginar que, 
na lista de problemas de nosso paciente diagnosticado com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), 
constam problemas de concentração, dificuldade para dormir, baixa no rendimento profissional e recor­
rente fluxo de pensamento ligado ao temor de perder o emprego, mesmo sem evidências dessa eminência, 
e pensamentos ligados à incapacidade. A partir destas informações, vamos exemplificar uma hipótese de 
trabalho na Figura 9.2.
Figura 9.2 - Exemplo de hipótese de trabalho
Fatores predisponentes: irmão mais velho e avô paterno com transtorno de ansiedade. Mãe depressiva.
Crença de incapacidade.
Fatores precipitantes: demissão de amigo próximo.
Fatores perpetuadores: baixa no rendimento profissional, problemas de concentração.
Resumo da hipótese de trabalho:
Demissão 
do amigo
Vista a hipótese de trabalho desta forma, clareamos a colocação de Person e Davidson (2006) ao 
considerarem-na o coração da formulação. A partir do momento que conseguimos relacionar os problemas, 
inclusive atribuindo relações causais a eles, fica mais fácil planejar o tratamento deste paciente.
170 Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental
Pontos fortes e recursos
Entre pontos fortes e recursos, vamos listar tudo aquilo com o que podemos contar como apoio no 
tratamento deste paciente. Além de características dele, como boas habilidades sociais, inteligência e talentos 
musicais, podemos citar fatores ambientais e sociais que também colaborem para o sucesso do tratamento. 
Uma boa rede social sempre será considerada um importante ponto forte no tratamento de qualquer paciente. 
Morar em uma vizinhança segura ou um ambiente de trabalho agradável também podem ser considerados 
apoios para o tratamento.
O plano de tratamento também deve estar baseado nos pontos fortes e recursos do paciente. Segundo 
Person e Davidson (2006), a boa avaliação dos pontos fortes e recursos ajuda o terapeuta no estabelecimento 
de objetivos mais realistas para o tratamento.
Plano de tratamento
O plano de tratamento não é uma simples relação dos objetivos do tratamento e das técnicas que o 
terapeuta supõe queusará para alcançá-los. Ele é a conclusão harmônica de todas as seções anteriores da 
formulação.
Para termos os objetivos do tratamento, deverá estar claro quem é esse paciente, que queixas e pro­
blemas ele traz, como ele processa a informação, as características do seu ambiente e de suas capacidades e 
como todas estas coisas se relacionam, criando o quadro que o paciente apresenta. É preciso tudo isso mais 
os objetivos para que se planeje intervenções para alcançá-los.
Alerta-se para a importância de a dupla, terapeuta e paciente, construírem a lista de objetivos juntos. 
Person e Davidson (2006) dão especial destaque a esse fato, enfatizando que os objetivos do tratamento já 
são difíceis o suficiente de se alcançar estando a dupla em comum acordo. Além disso, os pacientes não vêm 
a tratamento com a intenção de resolver todos os problemas que listamos na lista de problemas. Geralmente 
buscam ajuda para trabalhar as questões que mais os perturbam no momento. É dever do terapeuta alertar 
o paciente para importantes objetivos que lhe tragam mais saúde e qualidade de vida, mas não cabe a ele 
obrigar o paciente a incluir no plano de tratamento objetivos que este não pretende alcançar.
A lista de intervenções é o “caminho” que o terapeuta pretende usar para alcançar os objetivos, 
conhecendo os problemas e características do paciente. Não basta conhecer apenas os problemas a serem 
resolvidos para planejar as intervenções, pois o tratamento é personalizado e devemos adaptar as técnicas 
que conhecemos e protocolos de tratamento de determinado transtorno às características do indivíduo que 
apresenta os problemas. Compton et ai (2004) referem que é a formulação de caso que guiará o terapeuta 
na aplicação das técnicas de forma flexível ao paciente que se lhe apresenta com muitos problemas. Por 
exemplo, dificilmente uma técnica de relaxamento alcançará o efeito desejado em um paciente com dificul­
dade de concentração, é possível que exercícios de respiração venham a colaborar mais com o tratamento 
desse paciente do que o relaxamento.
Também é no plano de tratamento que listamos uma série de obstáculos. Aqui, assim como na lista de 
pontos fortes e recursos, não só características do paciente estarão elencadas, mas todo e qualquer obstáculo que 
imaginemos que nos possa trazer dificuldades ao longo do tratamento, na busca para alcançar os objetivos 
listados e na própria relação terapêutica. Baixa tolerância à frustração, dificuldades financeiras, possível 
transferência de cidade por causa de emprego ou pouco apoio familiar para o tratamento podem ser alguns 
exemplos de obstáculos em um tratamento.
Formulação de caso 171
CASO EXEMPLO
Samuel tem 27 anos e formou-se há três em Ciências da Computação. Ele busca atendimento 
encaminhado pela psicóloga de uma consultoria de recursos humanos em que participou de um processo 
seletivo, em consequência da intensa ansiedade que apresentara durante a entrevista com ela. A psicóloga 
refere que Samuel destaca-se na execução de seu trabalho e que não tem conseguido passar nas seleções em 
consequência de sua ansiedade, ou até por já ter faltado em algumas delas.
Refere que essa ansiedade lhe é comum em situações em que se sente avaliado, como entrevistas de 
emprego, provas de concursos, eventos em que deve apresentar seu trabalho para algum público ou em locais 
com muitas pessoas que não o conhecem e que, segundo ele, o “olham de cima a baixo”.
Tais sintomas começaram a atrapalhá-lo mais após mudar-se para a capital para cursar o Ensino 
Superior. Pode-se dizer que o atrapalharam muito ao longo da faculdade e atrasaram, em alguns anos, a 
conclusão do seu curso, visto que, por diversas vezes, não conseguiu comparecer nas avaliações, em con­
sequência da ansiedade antecipatória que sentia. Trancou a matrícula em algumas disciplinas por sentir 
ansiedade ao pensar que um professor, que não o conhecia, poderia chamá-lo em sala de aula para avaliar 
seus conhecimentos prévios.
Ele relata ter poucos amigos, com quem tem algum contato, seus amigos desde a infância. Samuel refere 
que nos últimos anos tem evitado, inclusive, o contato com esses amigos, visto que eles, em sua maioria, já 
estão bem empregados e até casados, enquanto ele se sente “tentando começar a vida, mas fracassando em 
tudo o que faz”.
Quando questionado sobre sua história, conta que nasceu com suspeita de problemas cardíacos, em 
consequência disso, permaneceu internado no hospital, em incubadora, por volta de trinta dias, até todas 
as suspeitas serem descartadas pelos médicos. É filho único de um casal de classe alta de uma cidade do 
interior, e nasceu quando o pai já tinha 58 anos. Segundo Samuel, o pai sempre foi “um velho ranzinza” 
com ele, bastante rígido em sua educação, sempre exigindo silêncio e excelente comportamento na pouca 
interação social que a família tinha, em missas ou nas raras festas que a cidade tinha ao longo do ano. Não 
raro, Samuel apanhava do pai por ter falado muito alto ou ter rido durante alguma refeição da família. 
Quando o pai sentia-se incomodado com seu comportamento, dizia-lhe que ele “não tinha jeito”, “jamais 
teria concerto” ou “era uma vergonha”.
O pai trabalhava muito e a mãe era bastante submissa a ele, tendo a responsabilidade de “manter a 
casa em ordem”. Dessa forma, a mãe acompanhava Samuel nas horas de estudos diárias após a escola por 
exigência do pai. Eram raros os dias em que podia brincar com os colegas e amigos.
Ao ser questionado sobre transtornos mentais na família, ele refere que nenhum dos familiares próximos 
buscou atendimento, portanto não possuem diagnóstico de seu conhecimento, mas pelas características 
relatadas dos pais, levanta-se a suspeita de a mãe ter transtorno depressivo maior.
Samuel diz lembrar-se de sempre ser tímido, e acreditar que deveria ser muito educado, bom e agra­
dável na interação com todos, mas que, quando conseguia iniciar a interação com outros, sentia que não 
conseguia atingir o mínimo que julgava ser necessário, sentido-se cada vez pior e diminuindo gradativamente 
as tentativas de novos contatos.
172 Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental
Hoje, diz que se as pessoas o avaliarem, verão que ele é diferente. Quando questionado sobre o que 
quer dizer com “diferente”, utiliza a palavra “anormal” para definir-se. Percebe que esse temor vem atrapa­
lhando significativamente sua vida, e diz-se motivado para o tratamento, pois quer sentir-se “normal”. Entre 
os objetivos que relata estão: conseguir um emprego, ter novos amigos e não temer sair com eles.
Com estas informações iniciais foi preenchido o protocolo de formulação de caso de Samuel. Lem­
bramos que essa é apenas a formulação inicial, e que, ao longo de seu tratamento, esse protocolo será 
atualizado.
Formulação de caso 173
174 Manual Prático de Terapia Cognitivo-Comportamental
CONSTRUÇÃO DA FORMULAÇÃO DE CASO
A formulação de caso começa a ser construída assim que o contato do terapeuta com o paciente é 
iniciado e será avaliada e reavaliada até o fim do trabalho da dupla. O terapeuta a inicia alimentando-a com 
todas as informações que colher ao longo da avaliação e que achar pertinente, criando sua primeira hipótese 
de formulação. Wright et al. (2008) falam que, no início do tratamento, a formulação pode ser apenas um 
rascunho ou esboço, mas é crucial começar a construí-la assim que se iniciar o contato com o paciente.
A formulação sempre influenciará no tratamento e, portanto, deve ser revista ao longo de todo ele, 
não só pelo terapeuta, mas também pelo paciente. Ele terá sempre conhecimento dela e poderá confirmar 
ou não as hipóteses levantadas pelo terapeuta.
A formulação não é a verdade absoluta sobre o paciente, mas sim a hipótese que levantamos sobre seu 
funcionamento e que nos guiará ao longo de seu tratamento (Araújo & Shinohara, 2002). Se vista como 
algo fechado e irrefutável, a formulação jamais alcançará seus objetivos.
Apesar de dividirmos, para fins didáticos, a formulação em seusdiferentes componentes, na hora de 
construí-la, devemos entendê-la como um todo coerente. Friedberg e McClure (2004) fazem uma interessante 
analogia, comparando os componentes da formulação às peças do vestuário que temos dentro de um guarda- 
roupa em separado. Como se, ao invés de crenças centrais, plano de tratamento, fatores predisponentes e
Formulação de caso 175
fatores mantenedores, tivéssemos meias, camisas, calças e sapatos. Dessa forma, assim como ao vestir uma 
pessoa é necessário primeiramente escolher peças que sirvam, depois precisamos ter o cuidado de que estas 
peças tenham uma coerência, ou seja, combinem entre si. Depois de todas as peças escolhidas, ainda preci­
samos de um sistema de como usá-las, ou seja, colocar as meias antes dos sapatos, a camisa antes das calças.
Assim também o é com a formulação, ela deve ser adequada ao paciente que buscou o tratamento, 
fazer sentido entre seus componentes e, ainda, prever um plano para que esses componentes sejam uti­
lizados no tratamento do paciente em questão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A formulação de caso é um instrumento de fácil construção para o terapeuta, entretanto requer um 
entendimento profundo sobre o paciente em atendimento. Ela serve para que o terapeuta e o paciente acom­
panhem o processo e está diretamente ligada aos princípios básicos da terapia cognitivo-comportamental. 
Ela também pode ser utilizada em supervisões de pacientes, em internações ou serviços ambulatoriais, para 
que a equipe o atende possa ter informações e diretrizes de manejo do caso.
Friedberg, Gorman e Beidel (2008) defendem a importância do treinamento em formulação de caso 
para todos os clínicos, visto que a sua construção exige do profissional habilidades como engajamento no 
pensamento clínico, teste de hipótese e sofisticada análise de dados. Além disso, a formulação ajuda no 
aprendizado em cada caso e o entendimento de o que é ou não possível generalizar de caso para caso.

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