Buscar

CARRARA, Kester Behaviorismo Radical - Cap 4, [Skinner, 1]

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 21 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Dimensões preliminares do 
pensamento skinneriano
4
O cen tenário de nasc im ento de Skinner foi íe leb rad o com 
vários eventos científicos, inclusive um enco n tro da ABA In te r­
nacional no Brasil. E m bora a d istância, seu cenário fam iliar e 
seu percurso acadêm ico podem dar p istas de suas escolhas p ro ­
fissionais; não fora por isso, restam in teressantes alguns dados 
idiossincráticos: Burrhus Frederic Skinner nasceu em 20.03.1904, 
filho de um advogado (W illiam ) cuja esposa (Grace) era m ili­
tan te de organizações cívicas em S usquehannna, Pennsylvania. 
Teve um irm ão, Edw ard, que faleceu aos dezesseis anos de ida­
de. Em sua autobiografia, diz nunca te r recebido punição física 
de seu pai. D e su a m ãe, ap en as um a vez: ela lavou su a boca 
com água e sabão porque ele disse um palavrão... Seu pai, en tre ­
tanto, não p e rd ia a o p o rtu n id a d e de a le rtá -lo de q u e qu em 
tivesse um a mente criminosa seria pun ido . Levou-o, até, a conhe­
cer a lgum as p risões; Skinner, p o r isso, " tin h a m edo da polícia 
e com prava ing ressos para todos os seus bailes de fim de a n o ” . 
Sua avó lhe passava conceitos m orais e religiosos. Ele conta, em 
sua au tob iografia , q u e ela teve certeza de que ele havia en ten -
97
Kester C arra ra
d ido o conceito de Inferno "quando lhe m o stro u um a cam ada de 
carvão incandescen te no fogão de len h a”. Q uando adolescente 
tin h a fascinação po r invenções m ecânicas. Sem pre gostou de 
es tu d a r e fazia experim en tos de física e qu ím ica em casa. Nas 
invenções juvenis, é clássico o exem plo que ele con ta sobre o 
fato de que esquecia sem pre de guardar os pijam as e que sua 
m ãe lhe cham ava a atenção. Ele resolveu o p rob lem a insta lando 
um a ro ldana p resa a um cabide em seu guarda-roupa. Se o pija­
m a não estivesse guardado, um aviso aparecia pendurado logo 
q u e ele abria a p o rta do quarto : "G uarde seu p ijam a!”.
Skinner tin h a em casa um a grande b iblio teca e leu m uitos 
clássicos du ran te a adolescência e a juventude. Leu m uito de Sha- 
kespeare e G oethe, poesia rom ântica e lite ra tu ra anglo-saxônica 
quan d o fazia o cu rso de Letras. Q uando cursou Psicologia, leu 
tam bém m u ita Filosofia, o que pode ser no tado na le itu ra de 
seus tex tos. Seu in te resse inicial pela Psicologia não era m eto ­
dológico, m as filosófico. Q uando estava no colegial, escreveu 
um trabalho (que ele m esm o criticou com o p re tensioso) in t i tu ­
lado Nova principia orbis terrarum. C om eçava m ais ou m enos 
assim : “N ossa alm a consiste de nossa m ente, nosso poder racio­
nal, pensam en to , im aginação, avaliação, nosso poder em rece­
ber im pressões e a ação e stim u lan te de nosso corpo; e nossa 
consciência, n ossa capacidade ina ta de escrever”. O que, conve­
nham os, é um an titex to , se pensado sob os princíp ios do beha- 
v iorism o radical que ele próprio viria a criar.
S k inner reconheceu a influência recebida dos tex tos de Jac- 
ques Loeb (F isiologia do C érebro e Psicologia C om parada), de 
B ertrand Russell, Jo h n B roadus W atson , Ivan Petrovich Pavlov, 
Edw ard L eeT hornd ike , Percy Bridgm an e E rnst M ach, en tre ou ­
tro s . Em 1922, concluiu o curso m édio em sua cidade natal. 
C ursou o H am ilton College, de N ova York, onde se graduou em 
L iteratu ra Inglesa. Em 1927, publicou alguns artigos literários - 
foi o que cham ou de darkyear na sua carreira profissional; Skin­
n e r d izia que escrevia m al e que "não tin h a nada im portan te a
98
Behaviorismo radical
dizer” em seus tex to s literários. A inda em 1927, trabalhou 
com o balconista em um a livraria de Nova York, onde com eçou a 
ler Pavlov e W atson e passou a in teressar-se pela Psicologia. Em 
1928, voltou à un iversidade, agora em H arvard, onde fez o cu r­
so de graduação em Psicologia. Em 1931, defendeu seu d o u to ­
rado em H arvard, sob o rien tação de E. G. Boring. De 1931 a 
1936, a tuou com o pesqu isado r em H arvard, es tu d an d o p roces­
sos básicos (e b astan te fisiologia) na Faculdade de M edicina. 
Em 1937, foi convidado e ingressou com o pro fessor na U niver­
sidade de M ineso tta , M inneapolis. Em 1936, havia casado com 
Ivonne Blue, com qu em viria a te r duas filhas, Ju lie e D eborah. 
Julie S. V argas é a tu a lm e n te psicó loga e es tev e no Brasil no 
encon tro da ABPMC (A ssociação B rasileira de P sico terap ia e 
M edicina C om portam en ta l) de 2004. D eborah reside hoje em 
Londres e a tua com o a rtis ta p lástica (ela foi m otivo .de in ú m e­
ros co m en tário s e especu lações na im p ren sa sob re se te ria fica­
do traum atizada na infância por Skinner te r criado para ela um 
air crib - um a espécie de baby box - , berço con tendo diversos re­
cursos tecnológicos para cuidado infantil).
O s desafios teóricos e práticos para Skinner na Psicologia 
foram co nstan tes e o levaram a p roduz ir um a obra am pla e 
abrangente, que com eçou com publicações essencialm en te 
técnicas, no Journal o f General Psychology (1930, 1931). Seguiu vá­
rias direções: cobriu o conceito de reflexo (1930); procedim entos 
para sua extinção (1933); a discrim inação (1934); a natu reza ge­
nérica dos conceitos de estím u lo e resposta (1935); d iferenças 
no padrão de respostas, cond icionam ento e extinção (1937, 
com H eron); a idéia de com portam en to operan te , em co n tra ­
partida ao responden te , que com eçou a aparecer num artigo que 
e um a réplica a do is fisiólogos po loneses, K onorski e M iller 
(1937), em bora o conceito de operan te viesse a se consolidar 
apenas no fam oso Terms, de 1945; questões gerais sobre o com ­
portam en to dos o rganism os (no seu prim eiro livro, em 1938); o 
desenvolvim ento de aparatos, com o um a câm ara experim ental
99
Kester C arra ra
especial para o e s tu d o do co m portam en to anim al sob condições 
con tro ladas (1939, com H eron); a questão da aliteração em so­
netos de Shakespeare (1939); estim ações de certos tipos de pa­
drões sonoros em poesia (1941); sua fam osa análise (o Terms), 
q u e m arcou época, sobre a visão operan te dos term os psicológi­
cos (1945); reforçam ento diferencial baseado no tem po (1946); 
inúm eros estu d o s sobre com portam en to superstic io so (por 
exem plo, 1948a); sua controvertida novela Walden Two (1948b); 
a d iscussão sobre a necessidade de teo rias de aprendizagem 
(1950); seu segundo e preferido livro Ciência e comportamento hu­
mano (1953); d iscussões sobre a q u estão do contro le (1955); 
su a con trovertida e m ais densa obra, Comportamento verbal 
(1957b); o ex tenso trabalho laboratoria l com F erste r sobre Es­
quemas de reforçamento (1957); as idéias sobre as m áquinas dè 
en sin ar (1958); e s tu d o s sobre em oções (1959); a in strução p ro ­
gram ada (1960a); seu p ro je to de tre in am en to de pom bos para 
dirigir m ísseis (1960b); o d e lineam en to de cu ltu ras (1961); sua 
análise das relações behav io rism o/fenom enolog ia (1964); a 
qu estão da filogênese e da on togênese (1966a); seu in teresse 
pelas contingências de reforçam ento com o possib ilidade para o 
d e lineam en to cu ltu ral (1966b); suas projeções sobre a questão 
da u top ia (1967); a d iscussão, com Blanshard, sobre o conceito 
de consciência (1967); su a análise sobre a criativ idade (1970); a 
q u estão do h u m an ism o no behaviorism o (1971a); seu discuti- 
d íssim o O mito da liberdade (1971b); suas respostas form ais às 
v in te principais críticas em Sobre o behaviorismo (1974); sua ex­
ten sa e curiosa au tobiografia (1976); seu decisivo artigo m o s­
tran d o po r que não se considerava um psicólogo cognitivista 
(1977a); seu livro-program a para idosos (1983, com V aughan); 
a d istinção/com plem entação de regras de contingências (1984);seu ú ltim o livro Questões recentes na Análise do Comportamento 
(1989a) e seu ú ltim o artigo, "C an Psychology be a Science of 
m ind?", escrito aos 86 anos de idade e conclu ído na véspera de 
su a m orte (18 .9 .1990), com ajuda da filha Ju lie e am igos.
100
Behaviorismo radical
Sua atenção, po r essa am ostra que in teg ra as aprox im ada­
m ente 257 publicações (en tre as quais v in te livros) já listadas 
de S kinner (C arrara, 1992), foi a m ais diversificada possível, 
quan to aos tem as e a ssu n to s pelos quais se in te ressou e e s tu ­
dou. Todavia, sua análise das d iferen tes qu estõ es sem pre se via­
bilizou p o r u m a concepção psicológica, q u e se to rn o u carac te ­
rística e encam pou a filosofia de ciência q u e d en o m in o u b e h a ­
viorism o radical.
Foi p rinc ipalm ente depois de 1945 que a influência de Skin­
ner no cenário da Psicologia se intensificou. Passaram a ficar 
m ais evidentes as suas proposições concernen tes à m etodologia 
de análise dos fenôm enos com portam enta is, ou seja, sua A náli­
se Experim ental do C om portam ento . Seus princíp ios básicos 
foram en tão largam ente divulgados e aplicados em d iferen tes 
circunstâncias e áreas de in te resse da Psicologia. E sses p rin c í­
pios, derivados in icialm ente da ex tensa pesq iysa de Skinner e 
colaboradores em situações típicas de laboratório , foram te s ta ­
dos em d iferen tes cam pos e abrangem os principais conceitos 
expostos no d eco rrer deste capítulo.
Recensões breves sobre Skinner, hom em e obra, podem ser 
encontradas em W eber (1992) e Hall (1967). Para este ú ltim o, 
na form a de en trev ista , Skinner declarou que, a p a rtir de suas 
pesquisas sobre o processo de aprendizagem com anim ais, co n ­
venceu-se de que o estu d o do co m portam en to h u m an o é parte 
de um a ciência na tu ra l e que alguns dos im p o rtan tes processos 
do com portam en to ap resen tam generalidades filogenéticas e, 
portan to , podem ser estudados sim ilarm en te no hom em , o que, 
apenas a títu lo de exem plo, p roduziu lendárias d iscussões e 
controvérsias.
A A nálise do C om portam en to constitu i-se de um corpo de 
conhecim entos e um a m etodologia, apoiados em um a filosofia 
de ciência específica, o behaviorism o radical. C o nstitu i-se em 
m aneira sistem ática de ver o m undo psicológico, u tiliza-se da 
observação e da análise de contingências que con tex tualizam o
101
Kester C arra ra
c o m p o rta m e n to , m a n te n d o u m a te n d ê n c ia a fo ca lizar o am ­
b ie n te físico, quím ico, orgânico e social, não descartando a h is­
tó ria genética do organism o. A análise se su s te n ta no conceito 
de tríp lice relação de contingências, em que o com portam en to e 
suas cond ições an teced en te s e suas conseqüências são co n sti­
tu in te s im prescindíveis (em bora esse parad igm a de tríplices 
in stâncias te n h a so frid o ad ições em re lação a m a io r n ú m ero 
d e te rm o s , parece sem p re possível u m a red u ção ao conceito 
sk in n e ria n o original).
Via de regra, te s te s psicológicos não são usuais no d iagnós­
tico de repertó rio s com portam en ta is , bem com o não se faz uso 
de esta tís tica inferencial para in terp re tação dos dados de pes­
quisas. E m prega-se um d e lineam en to de pesqu isas típico, que é 
o d e lineam en to de su je ito único, descartando , p o rtan to , os m o­
delos que se baseiam na com paração de grupos de sujeitos 
am ostrados esta tis ticam en te . O su je ito funciona com o seu p ró ­
p rio con tro le e as com parações en tre dados são feitas usando-se 
variações de m edidas an te rio res e poste rio res ao em prego de 
um d e te rm in ad o proced im ento . São sem pre fundam en ta is para 
essa concepção psicológica conceitos com o os de com p o rta ­
m en to , e s tím u los reforçadores (positivo, negativo, prim ário, 
secundário , d iscrim inativo), reforçam ento , punição, extinção, 
m odelagem , aproxim ações sucessivas e esquem as de reforça­
m en to , en tre ou tro s.
O behaviorism o radical ado ta um a concepção m on ista de 
ciência, em con trapartida a um a concepção dualista . A dota o de­
te rm in ism o probabilístico . A dota o p ressu p o sto de um a n a tu re ­
za in tera tiva nas relações o rganism o-am biente: para exem plo, 
S kinner com eça seu Verbal Behavior d izendo que "os hom ens 
agem sobre o m undo , m odificam -no e, por sua vez, são m odifi­
cados pelas conseqüências de sua ação”. S ubstitu i o m odelo de 
causalidade tradicional pelo m odelo de relações funcionais, à la 
M ach. P ressupõe um m odelo científico de seleção pelas conse­
qüências. P ressupõe a influência de variáveis de d im ensões filo-
102
Behaviorismo radical
genéticas, on togenéticas e cu ltu rais para a de term inação do 
com portam ento . N ega status de causalidade aos cham ados 
eventos m enta is (ver C arrara, 2004b, p .43) e p ressupõe o com ­
portam ento com o verdadeira raiz para se en ten d e r as atividades 
hum anas, daí a expressão radical, freq ü en tem en te (m al) e n te n ­
dida com o sinôn im o de in transigen te . P ressupõe con tinu idade 
en tre as espécies. R ejeita a verdade por consenso , ado tando um 
pragm atism o m o d erad o (talvez re su lta n te das le itu ras sk inne- 
rianas de C harles Peirce, W illiam jam es e John D ew ey). A dota a 
prevalência de dados sobre argum entos (daí a confusão da crítica 
em torno da idéia de que Skinner, por isso, seria um an titeó rico ). 
Rejeita as explicações teleológicas. A dota um a visão m olar das 
ciências do com portam ento , em contrapartida a um a visão m ole­
cular. Esse o quadro sinóp tico do behaviorism o radical. ,Como 
conseqüência prática, a A nálise do C om portam en to caracteri- 
za-se: por um a concepção n om otética de explicação do com por­
tam ento; pe la gen era lização de re su lta d o s p o r m eio da rep li- 
cação s is tem ática ; pelo u so do d e lin e a m e n to de su je ito ún ico 
e n q u an to design p rio ritá rio de pesquisa; pelo uso do m étodo 
teórico inform al em pesquisa; pela secundarização dos m odelos 
de com paração in te rg rupos m ed ian te uso de m édias e s ta tís ti­
cas; pela priorização estra tég ica de descrição dos eventos a n te ­
cedentes, do co m portam en to e dos eventos conseqüen tes na 
busca de relações funcionais.
Em bora sem pre a ltam en te polêm ico e criticado, a seu m odo 
Skinner, em diversas ocasiões, m anifestou sua expectativa so ­
bre o avanço científico behaviorista e suas even tuais con tribu i- 
çoes para um a sociedade progressista . C om o em Reflections on 
behaviorism and society (1978, p .126), tam bém m encionado por 
Los H orcones (2001, p .l 17): “C reio que um a form ulação cien ­
tífica do com portam en to hum an o pode a judar-nos a m axim izar 
° s sen tim en tos de liberdade e d ign idade”.
Não cabe no p resen te trabalho, n a tu ra lm en te , en tra r em 
descrições porm enorizadas a respeito de princípios básicos da
103
Kester C arra ra
AEC, m as arro lar as críticas que se faz à concepção behaviorista 
geral e, em particu lar, ao behaviorism o radical de Skinner, para 
cujo conhecim en to d e ta lhado ex iste farto m ateria l na literatura 
Todavia, alguns aspectos essenciais dos conceitos utilizados 
p or S kinner serão destacados, em v irtude do eventual corpo crí­
tico ex is ten te a respeito desses conceitos. U m a característica 
fundam enta l na abordagem sk inneriana é a sua ênfase descriti­
va dos fenôm enos. A ntes de incu rsionar pelo cam po da in te r­
pretação, S kinner en ten d e ser necessária am pla coleta de dados, 
ob tidos segundo um a m etodologia e técnicas de observação 
tan to q u an to possível isen tas de vieses de p rocedim ento .
Em virtude dessa característica é que a ciência do com porta­m en to viu desenvolverem -se refinam entos m etodológicos de 
to d a so rte , publicados nos periódicos especializados e hoje co­
nhecidos nos bons m anuais de m étodos e técnicas de pesquisa, 
com os quais se pode ev itar a m aioria das encruzilhadas e engo­
dos que a observação do co m portam en to e as qu estõ es m eto d o ­
lógicas reservam aos pesqu isado res neófitos. Bons exem plos 
são dados p o rS id m an (1976), C am pbell & Stanley (1979), Ker- 
linger (1980) e Cozby (2001), que elucidam cu idados m etodo ­
lógicos com os necessários de ta lhes, não apenas q u an to à ob­
servação, m as com inúm eras qu estõ es práticas; po r exem plo, 
encon tra-se bom m ateria l q u an to aos vários de lineam en tos do 
tip o básico A-B-A e u m a análise de tida da aplicabilidade do deli­
n eam en to de su jeito ún ico em H ersen & Barlow (1982).
Se é certo q u e a A nálise do C o m p o rtam en to é co n stitu íd a 
po r u m corpo de co n h ec im en to s e um a m etodo log ia su p o rta ­
das pe la filosofia b eh av io ris ta radical, é ig u a lm en te certo que 
cada u m desses aspectos gerou um grande n ú m ero de artigos 
em periód icos, livros, rev istas, que p ro d u z iram inum eráveis 
d iscussões.
Q uan to à particu lar m aneira de ver a Psicologia, o que é ro ­
tin e iram en te cham ado de abordagem, corrente ou enfoque psicolo- 
gico, s in te tizam Ferster, C u lbertson & Boren (1977, p. 17-8):
104
Behaviorismo radical
constitui uma maneira sistemática de ver o mundo psicológico e 
conta com um conjunto de princípios úteis para análise e compreen­
são do com portam ento observável. Embora os aspectos m eto­
dológicos e filosóficos possam surgir na leitura do texto, nossa 
preocupação é que o leitor possa compreender de que modo os 
princípios podem ser aplicados ao estudo das complexas intera­
ções humanas. Portanto, a Psicologia do comportamento, como 
um corpo de conhecimentos, constitui, de fato, uma parte inte­
grante do conhecimento geral derivado da investigação de fenô­
menos psicológicos. O estudante de Psicologia pode esperar, com 
razão, que o estudo da Análise Experimental do Comportamento 
o ajude a compreender os problemas da conduta humana que o 
interessam e que são importantes para sua vida.
A Psicologia do comportamento tem como objetivo principal a 
observação e a análise do comportamento individual e nãô os tes­
tes ou as estatísticas. Embora o psicólogo do comportamento te­
nha a tendência a focalizar prioritariamente o ambiente, ele não 
descarta a história genética do organismo, como muitos acredi­
tam. Esta última constitui, de fato, um outro campo da Psicologia 
e é reconhecida como tal.
Em geral, o psicólogo comportamentalista tem como enfoque 
principal o que se denomina a análise funcional do comportamento 
[grifo nosso]. E o que constitui a relação entre estímulos, compor­
tamento e as conseqüências do comportamento no ambiente. Há 
uma falsa concepção, comum entre estudantes, de que a Psicologia 
do comportamento não se preocupa com o sentido que atribuímos 
a nossa vida mental - isto é, àquela parte de nossa atividade que 
ocorre no interior de nós mesmos e que não é diretamente obser­
vável por outra pessoa. Obviamente nossa vida mental é constituí­
da por reações pessoais particulares e privadas que se referem a 
nossa própria existência.
Mas quando alguém diz: "sinto-me deprimido, zangado, só, 
abandonado, amedrontado, etc.", tais afirmações constituem ocor­
rências reais, com as quais a Psicologia do comportamento deve se
105
Kester C arra ra
ocupar. Como veremos mais adiante... a compreensão daquelas afir­
mações está particularmente ligada ao comportamento verbal, área 
extensamente analisada na Psicologia do comportamento.
O problema da Psicologia do comportamento é compreender o 
que está ocorrendo quando as pessoas têm sentimentos, impulsos, 
ímpetos, compulsões, idéias, pensamentos, fantasias, medo, dese­
jos. Descobriremos que, embora a análise seja extremamente com­
plexa, a observação dos processos comportamentais e dos eventos 
objetivos disponíveis nos ajudará a compreender a complexidade, a 
sutileza e a delicadeza desses aspectos básicos e fundamentais do 
comportamento humano. Embora na Análise do Comportamento 
não se considere produtivo e eficiente referir-se ao comportamento 
humano empregando termos como sensação, idéias, desejos, esta­
mos preparados para usá-los como ponto de partida, a fim de com­
preender os problemas cuja análise é importante...
São co n ce ito s fu n d a m e n ta is na co m p reen são da A nálise 
do C o m p o rta m e n to os q u e re ssa ltam a d ife ren ça e n tre com ­
p o r ta m e n to o p e ra n te e re sp o n d e n te . D iscu te -se o conceito 
de eliciação de re sp o sta , em c o n tra p a r tid a à emissão p ró p ria do 
o p e ra n te . M o stra -se a s itu ação ex p e rim en ta l típ ica pavlovia- 
n a do c o n d ic io n a m e n to reflexo (elic iação de re sp o s ta s ) e a s i­
tu ação e x p e rim e n ta l típ ica do c o n d ic io n a m e n to o p e ran te 
(em issão de respostas, m ed ian te re fo rçam en to ). Faz-se d is tin ­
ção en tre reforço positivo e negativo (este ú ltim o freqüen te­
m en te confund ido com o p roced im ento de punição). D iscu­
tem -se os fa tores que afetam a velocidade e efetividade do con­
d icionam ento . R essalta-se o caso especial das contingências 
acidentais e do co m p o rtam en to superstic ioso . Em prega-se o 
princíp io da m odelagem com o p roced im en to básico de instala­
ção de com p o rtam en to s e am plia-se a d iscussão para incluir os 
p roced im entos de manutenção e alteração de repertó rio s c o m p o r ­
tam en ta is ex isten tes. E n tram aí os conceitos de reforço con tí­
n u o e in te rm iten te , es te ú ltim o com inúm eras possíveis c o m b i­
106
Behaviorismo radical
nações en tre os q u a tro tipos básicos: razão fixa, razão variável, 
intervalo fixo, in tervalo variável. C onceitos m ais polêm icos, 
evidentem ente, o rig inam -se da área de co m portam en to verbal 
e sobretudo, resu ltam das análises de eventos privados. T oda­
via há trabalhos, m esm o em português, que abordam d e ta lh a ­
dam ente cada qual dos conceitos: é o caso de N ico (2001), que 
explora exaustivam ente a noção de au toconceito , especialm en­
te tendo em v ista a possib ilidade de suas aplicações e im plica­
ções na área educacional.
O utros conceitos fundam enta is são os de generalização e 
discrim inação de estím u los e o conceito de encadeam ento de 
respostas, considerados ind ispensáveis para a com preensão do 
que os skinnerianos cham am de controle de estímulos, questão cen­
tral da A nálise do C om portam ento . T rata-se com os conceitos de 
privação e saciação e são analisadas as diferençaè e im plicações 
dos conceitos de fuga e esquiva. N ada m enos do que cen tenas 
de m anuais já foram publicados expondo»os princípios bási­
cos da A nálise do C om portam en to . E ntre os traduzidos para o 
português, encon tram -se clássicos com o Keller & Schoenfeld 
(1968), H olland & Skinner (1974), Ferster, C u lbertson & Bo- 
ren (1977) e C atan ia (1999), po r exem plo.
Q uan to à ênfase m etodológica de Skinner, um a das q u es­
tões que en tram em jogo é a sua posição q u an to à necessidade e 
conveniência da teorização em Psicologia (C arrara, 1994). B. F. 
Skinner não é defin itivam ente con tra a teorização, m as faz espe­
cificas restrições a certos tipos de teo ria que su s ten tam seus 
conceitos em base de estofo d iferen te daquele do objeto de e s ­
tudo a que se referem . C onform e M arx & H illix (1976), há um a 
ou tra questão , de o rdem m etodológica, que se refere ao uso de 
grandes grupos e es ta tís tica inferencial versus uso de su jeito ú n i­
co e esta tís tica descritiva, quando for o caso:
Um segundo ponto metodológico importante de Skinner foisua insistência numa completa Análise do Comportamento de um
107
Kesler Carrara
único organismo e sua relutância em usar grupos numerosos de 
sujeitos. Com excessiva freqüência, afirmou ele, são usadas gran­
des quantidades de sujeitos para encobrir a falta de controles expe­
rimentais; com adequados controles, deve ser suficiente um único 
sujeito ou um número muito reduzido de sujeitos. O emprego de 
numerosos sujeitos, diz Skinner, também conduz, indiretamente, 
a outras dificuldades. Quando é usado um grande grupo, o experi­
mentador fica atento, primordial e exclusivamente, a certas pro­
priedades estatísticas do grupo, em vez de atentar para os com­
portamentos dos indivíduos que o compõem. Assim, as variações 
individuais podem se perder e as medidas estatísticas talvez não 
revelem as características de nenhum indivíduo em particular den­
tro do grupo. (p.398-9)
U m a terceira q uestão m etodológica im p o rtan te é o descarte 
q u e S kinner faz da Fisiologia. Em toda a sua obra, ele procura, 
ao con trá rio do que m u ito s o u tro s behavioristas às vezes fize­
ram , co n stru ir sua abordagem , tan to q u an to possível, sem te n ­
ta r explicações para a ocorrência de com portam en tos com base 
em m ecanism os neurofisio lógicos. Essa posição, na verdade, foi 
freq ü en tem en te confundida pela crítica com o um a recusa de 
S k inner em ad m itir não apenas a influência, m as a p rópria exis­
tência da Fisiologia, o que resu lta em análise com pletam ente 
equivocada. Segundo o p róp rio Skinner (1968), em declaração 
para Evans:
Jamais falei contra o estudo da Fisiologia e creio que fiz tudo o 
que estava a meu alcance para facilitá-lo, esclarecendo os proble­
mas com que a Fisiologia deve lidar. Ao mesmo tempo, não pre­
tendo pedir o apoio da Fisiologia quando a minha formulação des­
morona... (p.22)
O que S kinner p re tende inform ar é que a F isiologia é ex tre­
m am en te im portan te , m o stra com o funcionam certas e s tru tu ­
ras e sistem as de su sten tação necessários à p rópria exis tênc ia 
do organism o e suas ações, m as a referência a ela com o c o n d i­
108
Behaviorismo radical
ção para explicação do com portam en to pode ser d ispensável na 
m aioria das ocasiões em que se es tá es tu d an d o as relações en tre 
com portam ento e am bien te , em função do seu paradigm a, e sp e ­
cialm ente en q u an to não se dá um avanço tecnológico suficiente 
na área. A ssim , o que ele descarta é a sua influência na q uestão 
m etodológica e não a ex istência substan tiva dos m ecanism os fi­
siológicos em geral. C orrobora o pon to de v ista sk inneriano de 
evidente reconhecim ento à im portância da Biologia, o d esen ­
volvim ento recente da abordagem b iocom portam enta l, que tem 
avançado em descobertas auspiciosas para a explicação dos m e­
canism os biológicos do reforçam ento , encam inhando para um 
reconhecim ento deste com o princíp io universal indiscutível 
(Galvão, 1999).
Todavia, essa posição de Skinner lhe valeu a pecha de e s tu ­
dar um organism o vazio, o que seria um con tra-senso , pois o 
próprio conceito de organ ism o não lhe perm ite q y a lq u er vácuo 
interno. Skinner, acusado de valorizar um a caixa preta sem meca­
nismos in ternos, rebateu inúm eras vezes essa crítica re iterando 
que o organism o perm anece com plexo, com posto po r inúm eras 
estru tu ras in terligadas que su sten tam sua possib ilidade de 
existência; todavia, po r localizar no co m portam en to seu in te ­
resse, é possível d escartar não a existência dos mecanismos fisio­
lógicos, obviam ente, m as um a explicação fisiológica in te rn a de 
causalidade do com portam en to , em troca de um a explicação 
das relações funcionais o rganism o-am biente .
O u tra q u estão canden te na abordagem behaviorista de 
Skinner é sua d istinção o p eran te -responden te , já referida, e a 
que ele dedica p arte significativa de sua obra. D esde seus p re li­
m inares estudos com o operan te livre na “caixa de S k inner” 
(que ele prefere designar com o câm ara experim en ta l), a té suas 
diversas análises em obras posterio res, que ficam m ais no âm b i­
to conjectural (Skinner, 1971, 1974, 1989), esse au to r lida com 
° que in titu lou de co m portam en to o p eran te (que para o leigo 
traduz a idéia - im precisa - de ação voluntária), ce rtam en te co n s­
109
Kester C arra ra
t itu in te de grande p arte das atividades hum anas. N atu ra lm en ­
te, em alguns casos (especialm ente naqueles de com portam en­
tos designados emocionais), a in tegração que o organ ism o faz de 
operan tes e re sp o n d en tes é am plam ente identificável. N a ver­
dade, a divisão se dá a p a rtir da form a de con tro le e conseqüen te 
in teração com o am bien te . C on tudo , não há que se pensar no 
organ ism o com o algo em si subdividido nessas duas facetas, 
m as com o um ser que está , a um só tem po, expressando-se por 
d iferen tes vias.
O p ro b lem a da d ico to m ia o p e ran te -resp o n d en te e, m ais 
especificam ente , um bem cuidado estu d o dos tex to s (período 
1930-1938) que m o stram a transição de Skinner do conceito de 
reflexo ao conceito de operante (Sério, 1990) revelam in teressan­
tes facetas e problem as com o uso até certo pon to indiscrim inado 
de conceitos para designação do com portam en to , com que 
S kinner conviveu n essa fase de su a obra. C om relação à u tiliza­
ção, no período, dos term os reflexo e resposta , diz a autora:
A freqüência com a qual o termo reflexo é utilizado nos textos 
publicados de Skinner pode ilustrar as mudanças que o papel des­
te conceito foi sofrendo no decorrer do processo de elaboração de 
seu sistema explicativo. A partir da leitura dos textos publicados, 
no período entre 1930e 1938, parece haver uma inversão na utili­
zação dos termos reflexo e resposta - parece que à medida que di­
minui a freqüência de utilização do primeiro, aumenta a do segun­
do. (p.387)
Skinner, a té pela ex tensão de sua obra publicada (1930 a 
1990), n a tu ra lm en te ap resen ta alterações term inológicas em 
algum as de suas concepções ao longo do tem po, a m aior parte 
delas de cu n h o m eram en te sem ântico , m as algum as de real im ­
plicação q u an to à valoração teórica de alguns conceitos. T oda­
via, o refinam ento técnico e m etodológico o faz, ao longo das 
publicações, ir ap rim orando a term inologia e pode ap a ren ta r , ao 
neófito , a idéia de que se tem um a confusão conceituai.
110
Behaviorismo radical
Os passos iniciais de Skinner, en q u an to pessoa que se desli­
ga do cam po da lite ra tu ra e que envereda pela Psicologia no co­
meço da década de 1930, constitu em recolocação im p o rtan te 
para com preender o su rg im en to de sua form a de pensar e o co n ­
texto de suas proposições iniciais. C olem an (1985) revela a de­
cisão de Skinner de fazer Psicologia com o de te rm in ad a po r um a 
vocação de refo rm ador social, que encon tra ria respaldo na Psi­
cologia. N o com peten te trabalho de A ndery (1990):
A decisão de se tornar um behaviorista pode também indicar 
uma preocupação nesta direção, obviamente que somada a outras 
extremamente importantes. A proposta watsoniana de ciência, 
que era tudo que Skinner conhecia em termos de t^haviorismo, 
caracteriza-se também pela confiança de Watson, e mesmo por 
sua insistência, de que a Psicologia, ou melhor, o behaviorismo, 
deveria ser ciência que permitisse o controle cfo comportamento 
humano com vistas à melhoria da vida humana...
Mesmo as condições que levaram Skinner a percorrer um ca­
minho que aparentemente se enquadra no que Bakan (1980) cha­
ma de "uma perspectiva científica de dois passos" (desenvolvi­
mento de uma ciência básica, seguido, como subproduto, de uma 
ciência aplicada) apontam, ainda que não exclusivamente, para 
condições externas comoum dos fatores que teria levado a esta 
aparente ênfase.
Assim, a escolha - ao acaso - de Harvard como universidade 
onde fazer o doutorado inadvertidamente coloca Skinner na cena 
de um departamento de Psicologia comandado por Boring, que se­
ria um ferrenho adepto da Psicologia como ciência experimental, 
que nada deveria ter a ver com aplicação tecnológica.
As próprias influências mais propriamente filosóficas de Skin­
ner, entretanto, também apontam para a interpretação, de um 
lado, de que não se trataria de uma típica posição de “ciência de 
dois passos” e, de outro, do importante papel que deveria desem­
penhar em sua formulação de ciência, não apenas a preocupação 
com o homem, mas também com a sociedade, e mais, com a ciên­
cia aplicada como parte integrante da ciência básica. ... De qual­
111
Kesler Carra ra
quer modo, esta concepção de ciência não excluiria, mas, pelo con­
trário, enfatizaria, as possibilidades de intervenção no mundo a 
partir do conhecimento científico, (p.23-4)
A constatação acim a se confirm a na análise da obra integral 
de Skinner, m esm o que po r vezes dividida em fases. A ssim , a in­
da com A ndery (1990), no período de 1930 a 1953, S kinner te ­
ria p roduzido dois m om en tos decisivos e d istin to s: um primeiro, 
que se poderia den o m in ar de constitu ição do sistem a, en tre 
1930 e 1938, e outro, que se poderia caracterizar com o proposta 
s is tem ática para o hom em , que abrangeria os anos de 1947 a 
1953. E n tre 1938 e 1947, reg istra-se um m o m en to de transição. 
V ista a obra com pleta de S kinner a té 1990, destacam -se ainda 
períodos de veem ente preocupação com as aplicações práticas 
dos resu ltados da A nálise do C om portam en to , bem com o com o 
ensino program ado, um período em que o a u to r envereda pelas 
proposições de um a reform a social (com o em Beyond freedom and 
dignity, 1971) e finalm ente um a fase em que Skinner passa a 
q u estõ es ep istem ológicas que considera fundam enta is, cu lm i­
nando com seu "C an Psychology be a Science o fm in d ? " (1990), 
em que nega d errad e iram en te a possib ilidade de um a aproxi­
m ação ao cognitivism o, ao m enos nos term os em que se veicu­
lara na ocasião, especialm ente através do behaviorismo cognitivo.
D em onstração da preocupação de Skinner com o caráter de 
reform a social que poderia ser, even tualm ente , decorren te da 
utilização dos p roced im entos que desenvolveu ju n tam en te com 
seus co laboradores e adeptos, já era m otivo de particu lar alerta, 
con tido no seu livro m ais conhecido, Science and human behavior 
(1953). N o capítu lo XXIX, Skinner t r a t a do prob lem a do co n tro ­
le de m odo b astan te ético: q u estio n a quem u tilizará e com o u ti­
lizará as form as de con tro le p roduzidas pela ciência do com por­
tam en to e an tecipa alguns m ecanism os do que se poderia cha­
m ar de con tracon tro le, an tevendo o uso despó tico de um a nova 
tecnologia com portam enta l.
112
Behaviorismo rad ical
Com relação ao aspecto ep istem ológico do traba lho de 
Skinner, em bora freq ü en tem en te a crítica discorde, os behavio- 
ristas ju lgam necessário d istin g u ir en tre o S kinner behaviorista 
radical e o Skinner analista do com portam en to . U m ap resen ta 
sua postu ra filosófica p eran te o m undo, com patível com o últi­
mo W ittgenste in e com M ach, en q u an to o o u tro propõe um p ro ­
gram a de pesqu isa com o qual a Psicologia possa desvendar seu 
objeto de estudo . Q u an to a esse ob jeto de estudo , para M atos 
(1990, p.F-7):
Skinner vê a Psicologia como uma ciência biológica (embora 
seja avesso ao reducionismo fisiológico) que estuda o comporta­
mento dos organismos dentro de coordenadas espaço-temporais, 
e na sua interação com o ambiente. Na verdade, propõe o estudo 
da interação comportamento-ambiente, posto que sua unidade de 
análise é a relação resposta-conseqüência (e não a resposta isolada), 
cujos termos são classes funcionais e não entidades estruturais. Ao 
contrário do que muitos julgam, não é uma Psicologia voltada nem 
para o ambiente nem para o organismo, e sim para o estudo das 
contingências que contatam os dois, e, para os efeitos desse conta­
to, sobre o modo de agir e proceder dos organismos.
Para Skinner, o comportamento tem lugar no mundo físico e 
social fora do organismo (ou melhor, somente aquelas interações 
que por aí têm lugar se constituem em eventos observáveis e são 
legitimamente objetos de estudo). Quando uma pessoa descreve 
seus pensamentos, sentimentos ou suposições, tudo isso é com­
portamento. Entender os pensamentos e sentimentos de uma pes­
soa é conhecer as condições em que ela expressa esses sentimen­
tos e pensamentos bem como as relações funcionais entre essas 
condições e aquelas expressões.
Por ou tro lado, apesar das características sk innerianas m ar­
cantes, algum as d iferenças de difícil d iscern im en to acabaram 
sendo detectadas e n tre a p ro p o sta de Skinner e as de T olm an e 
Hull, por exem plo. Mas algum as discrepâncias, de certo m odo 
consolidadas, podem ser v istas acom panhando um a adaptação
113
Kester C a rra ra
do resum o de Sm ith (1986), apresen tado no quadro 2, que mos 
tra características p resen tes ou ausen tes em cada abordagem :
Q uadro 2 - D iferenças m arcan tes en tre abordagens
Q uestão Tolm an H ull Skinner
Construtos inferidos + + -
Conceitos cognitivos + - -
Métodos dedutivos - + -
Os sinais + e - no quadro acima indicam, respectivam ente, características pre­
sentes e características ausen tes em cada abordagem.
As diferenças, aí abreviadas, ce rtam en te têm desdobram en­
tos inúm eros, o que não cabe analisar aqui. Todavia, nota-se, 
desde já, a convicção de S kinner em reje itar generalizadam ente 
inferência, conceitos cognitivos com o o da in tencionalidade e o 
u so da dedução en q u an to lógica para ex tra ir corolários de qual­
q u e r teoria.
As diferenças do behaviorism o de S kinner para com as de­
m ais corren tes behavioristas, inclu indo W atson , T olm an e Hull 
p rincipalm ente , têm sido, grosso modo, incluídas no padrão bidi­
m ensional, ou seja, reconhece-se S kinner com o behaviorista ra­
dical (tal com o ele p róp rio se intitu lava) e reúnem -se ind iscri­
m in ad am en te os dem ais sob o ró tu lo de behavioristas m eto d o ­
lógicos (em bora, conform e a característica sob análise, se fale 
ocasional e m ais p rec isam ente em behaviorism o clássico, o rto ­
doxo, m etafísico, operacional, cognitivo, filosófico e social, en ­
tre o u tras varian tes já citadas na lite ra tu ra ).
E n tre as características do behaviorism o radical, está um a 
clara rejeição ao positiv ism o lógico. N esse sen tido , o behavio­
rism o radical, en q u an to filosofia da ciência do com portam ento , 
represen taria , segundo O liveira (1982, p .15),
um elo de ligação ou ... um elemento restaurador do e q u i l íb r io 
entre as posições filosóficas extremas defendidas pelos mentalis- 
tas, como W undt e Titchener, e as posições acatadas pelos beha-
114
Behaviorismo rad ical
vioristas metodológicos, os quais defendem o que Skinner carac­
terizou como uma versão psicológica do positivismo lógico e do 
operacionismo.
Para O liveira (1982), Skinner designa m en ta lis ta a perspec­
tiva segundo a qual todas as abordagens não-behavioristas, va­
riando de e s tru tu ra lis ta s a cognitiv istas, analisam o com p o rta ­
m ento com o conseqüência de atividade m ental. O behavioris­
mo radical privilegia a linguagem (no sen tido m ais corriqueiro 
que essa expressão possa ter) com o característica n a tu ra l e p ró ­
pria do ser hum an o e, nesse sen tido , parcela significativa dos 
eventos privados são algum a form a de co m portam en to verbal, 
cujo estudo é considerado necessário e im prescindível, sendo 
suas causas do m esm o estofo m aterialque com põe os d e te rm i­
nantes do co m portam en to verbal aberto . U m terceiro aspecto 
do behaviorism o radical de S kinner é a concepção de hom em 
quan to às razões d e te rm in an tes do seu C om portam ento. O 
m esm o au to r re itera (p .25):
o mais original aspecto do Behaviorismo Radical em relação a to­
das as psicologias é a inversão da interpretação sobre a causalidade 
do comportamento humano. Em todas as análises precedentes ao 
Behaviorismo Radical o ambiente externo era dado como controla­
do ou até mesmo, nas concepções idealistas mais extremadas, cria­
dos pelo homem. No Behaviorismo Radical o homem é o resultado 
da evolução do mundo e é uma parte dele. Ou seja, o homem é o 
resultado da evolução e não é algo separado do mundo: é parte dele 
e como tal seu comportamento é produto das contingências am­
bientais e de sobrevivência da espécie durante o processo evolutivo 
onto e filogenético.
N esse sen tido , con testa-se a concepção de au to n o m ia do 
hom em na direção de que seu com portam en to não é livre, m as 
determ inado p o r um a série de fatores, m o rm en te por in flu ên ­
cias do am bien te ex terno , m as não exclusivam ente por estas. E
115
Kester Carrara
essa é um a das p o stu ras de Skinner que têm produzido um con­
tin g en te crítico im ensurável. C om O liveira (1982, p. 17):
A vontade deixa de ser um ato totalmente livre. A própria von­
tade humana é produto conseqüente da interação entre as necessi­
dades fixadas filogeneticamente, sejam comportamentais ou fisio­
lógicas, e as influências ambientais.
O querer, nesse sen tido , não é um ato de von tade ineren te à 
espécie, m as explicável m ed ian te a com preensão de que é um 
fenôm eno que possu i causa real, detectável por um a análise fun­
cional do com portam en to . N esse sen tido , configura-se um a das 
d iferenças fundam enta is en tre o behaviorism o radical e as ver­
sões cognitivistas: a von tade deixa de causar o com portam ento , 
ou seja, este perde a configuração de fato produzido teleologica- 
m ente . Essa é um a das principais concepções a separar, hoje, o 
m u n d o behav io rista do cognitivista, com o se verá adiante.
U m q u arto po n to no p en sam en to sk inneriano que gera con­
trovérsias é o que diz respeito à concepção de um a sociedade 
passível de ser p lanejada levando em con ta a con tribu ição p rá ti­
ca de um a engenharia com portam enta l, já que a sociedade é 
um a realidade natu ra l e suscetível, p o rtan to , à organização de 
contingências com preensível a p a rtir dos conhecim entos deri­
vados da A nálise do C om portam en to . N ão é preciso d izer que 
essa idéia, que em te rm os ficcionais foi ap resen tad a in icia lm en­
te em Walden Two (1948b), gerou sem -núm ero de contestações.
Porm enores das características do behaviorism o radical não 
serão tocados n este m o m en to do estudo , u m a vez que serão re­
cuperados em m ais de três ocasiões oportunas: no próxim o ca­
p ítu lo , quando será ap resen tad a um a visão geral de Skinner e de 
su a oposição, no cap ítu lo 6, no qual serão rastreadas as princ i­
pais críticas às concepções sk innerianas, m ed ian te um a catego- 
rização p o r áreas e assun tos; e m ais ad ian te , q u ando se fará re­
ferência a essas críticas quan d o da discussão de even tuais reali- 
n h am en to s da abordagem .
116
Behaviorismo radical
A lém disso, recolocar um a palavra de cau tela se faz necessá­
rio: o ag rupam en to das críticas segundo critérios perfe itam ente 
definidos seria p re tensio so , tendo em vista que as publicações 
raram ente objetivaram , ao longo da h is tó ria (e a té não há razão 
para que o fizessem ), circunscrever-se a aspectos específicos de 
qualquer questão . E m bora tem as gerais este jam sendo selecio­
nados para análise e discussão, é fundam ental considerar que 
todos eles, in d is tin tam en te , estão ligados ao corpo teórico do 
behaviorism o e, com o tal, perderiam m uito do seu sen tido se 
analisados sem im plicações m ú tuas. A ssim , na descrição e an á ­
lise do con tingen te crítico que se ap resen ta no cap ítu lo su b ­
seqüen te , serão u tilizad o s a lguns títu lo s que p re ten d em , em 
vez de separar d id a ticam en te , apenas destacar a lguns p o n to s 
que têm im plicações reconhecidas pela co m un idade cien tífica 
com o fu n d am en ta is n u m a apreciação do em p reen d im en to be- 
haviorista . Ao final de cada su b títu lo serão ap resen tad o s, à 
m aneira de resum o , as idéias fu n d am en ta is q i e rep re sen tam a 
crítica em questão .
	Dimensões preliminares do pensamento skinneriano

Continue navegando