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O nascimento da Economia Política Economia Feudal (da queda do Império Romano até meados do século XV) Com a queda de Roma, a Igreja foi, progressivamente, adquirindo poder e se tornando o mais poderoso senhor feudal; levando a uma harmonia entre as doutrinas da Igreja e a sociedade feudal. A terra e o trabalho eram transferidos, ao invés de ser transferidos e comprados, não existindo mercado desses fatores. A relativa estabilidade do sistema propiciou uma melhora progressiva das condições de vida da população, e à medida que a população se adensava, houve a formação de cidades, que, junto com a difusão de oficinas de trabalhadores manuais estabeleceram as bases do interesse pela atividade comercial. Nos séculos XII e XIII, se deu o início da cidade européia, e foi neste período de transformação que ocorreu uma tentativa mais sistemática de teorização econômica. FILOSOFIA ARISTOTÉLICA A filosofia escolástica do século XIII era ligada à filosofia aristotélica; São Tomas de Aquino tinha como meta assimilar aquela filosofia ao cristianismo. Para Tomás de Aquino, o dinheiro era um padrão inventado pelo homem para fixar o valor dos bens e facilitar o comércio. O dinheiro não podia se alugado, não podendo seu empréstimo corresponder à obtenção de juros. Além de criar a teoria do preço justo e do salário justo (que deveria garantir um padrão de vida adequado à sua condição social), ele justificou a propriedade privada, vendo nela uma forma de concessão que a comunidade dava a indivíduos, desde que seu uso fosse à serviço da própria comunidade, só sendo legítimo se fosse útil a coletividade. Aristóteles já distinguia o valor de uso e o valor de troca, via o dinheiro como um recurso para troca. Reconhecia duas formas de enriquecimento: produzindo bens e serviços úteis a vida e enriquecendo via comercio. No pensamento grego clássico, a economia visava apenas fins de natureza prática, relativo a indivíduos e às residências; enquanto a política lidava com o comportamento de agentes coletivos, tais como classes sociais e produzia conhecimento. São Tomás de Aquino preserva essa distinção, que só muda depois de inúmeras transformações sofridas na Europa. PRIMEIRA FASE (século XIV ao século XVI) ● Começa da Itália, prossegue por Flandres, Inglaterra, Alemanha e sul da França. Caracteriza-se pelo desenvolvimento da manufatura, do capitalismo comercial e do capitalismo financeiro. ● Inovações na manufatura; ● Capitalismo comercial atingiu uma escala continental; ● Capitalismo financeiro se desenvolveu em escala internacional, utilizando inovações como letras de câmbio, contabilidade em partidas dobradas. ● Abolição da servidão, liberando trabalhadores para as cidades; ● Revolução cultural, com o estudo do Direito Romano, mais de acordo com a evolução do capitalismo; ● Prática da rotulação – aplicação de rótulos nos bens, indicando seus custo; A atividade financeira promoveu um grande número de teorias das novas formas de usura e da legitimidade moral do lucro financeiro; para Francisco de Empoli qualquer lucro que o comprador obtivesse não deveria ser considerado usura, mas um prêmio ao risco corrido. Durante essa fase, na determinação do preço, houve uma preocupação com o papel do controle de mercado na fixação de preços, abrindo uma brecha na teoria objetivista do valor predominante até então – escassez e custo de produção; chamando a atenção para fatores subjetivos – a avaliação individual do bem. SEGUNDA FASE (meados do século XVI e vai até além da metade do século XVIII) ● A liderança econômica movera-se para o norte. Período onde se presenciou a Revolução Científica. ● Inversão de status entre classe mercantil (lucros de alienação) e a aristocracia e o clero ( renda fixa); Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio ● Afirmação dos Estados Nacionais Modernos; ● Criação de centros industriais e comerciais – expansão do comércio a longas distâncias ● Formação da classe trabalhadora em escala nacional; em função do sistema de putting out, o movimento dos enclousures lands e o aumento populacional; ● Evolução do sistema bancário ● Ressurgimento das universidades; A transformação da esfera de produção começa com o sistema de putting out: inicialmente o comerciante fornecia matérias-primas e os artesões, em um estabelecimento independente, transformavam em produtos acabados; numa fase posterior, a propriedade dos meios de produção e inclusive os estabelecimentos passou para os comerciantes, que começaram a empregar os trabalhadores. Estes não vendiam mais ao comerciante o produto acabado, mas sim sua capacidade de trabalho. A economia se emanciparia da ética e da filosofia, surgindo uma economia política: ● Pretendendo ser nacional, pública, localizando seu objeto de estudo na espera da atividade pública, se ocupava da acumulação e gerenciamento da riqueza; ● Abandono da metafísica e da gnosiologia tomista. Durante esta segunda fase, presenciou-se a sucessão de grandes transformações ocorridas nos círculos políticos e comerciais que Adam Smith, aos reunir as idéias econômicas, chama de Mercantilismo. Mercantilismo PRIMEIRA FASE: BULIONISMO (século XVI) ● O dinheiro era a única fonte de riqueza que valia a pena acumular. O que muitos mercantilistas não admitiam era que o dinheiro – riqueza acumulada – deveria ser usado para aumentar o bem-estar da população. Uma ampla circulação de dinheiro no interior das fronteiras nacionais era uma base extensiva de taxação. O que distinguia os bulionistas dos mercantilistas do século seguinte (XVII) era o método para alcançar seus objetivos: ● Proibiam a exportação do ouro e da prata; ● Desvalorização da taxa cambial; ● Tentativa de forçar as companhias de pagar as importações com bens; ● Não podia importar mais do que exportar; Lei de Gresham: dinheiro ruim desloca dinheiro bom – o dinheiro bom seria entesourado, enquanto o ruim seria usado primeiro, preferencialmente. ● Gerard de Malynes Buscava as causas de um desequilíbrio da balança comercial nas alterações da taxa de cambio: achava que uma taxa de câmbio maior que a paridade metálica, levava uma saída de metais preciosos, pela diminuição da quantidade de dinheiro em circulação reduzia os preços e piorava os termos de trocas, aumentando o déficit comercial. ● Misselden e Mun O superávit ou déficit na balança comercial faria a taxa de câmbio variar, devido as forças de oferta e demanda. Sendo assim, o Estado deveria encorajar as exportações e desencorajar as importações. Mun mostrou que a balança comercial geral deveria ser analisada, era permissível ter déficit comercial com países que forneciam matérias-primas, se isso conduzisse a um aumento na produção de industrializados. ● Antonio Serra Para um país que não tinha minas de ouro ou prata, ele deveria: i. Criar um excedente de produtos nacionais a serem exportados; ii. Aproveitar da sua situação geográfica favorável para o comércio de transporte e intermediação; iii. O número de indústrias, qualidade da população, extensão das operações comerciais e regulamentação estatal eram importantes também. iv. Além disso, a indústria era superior à agricultura, por não depender do clima, poder ser multiplicada, ter lucros maiores. Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio A nação como um todo era vista como uma grande empresa comercial. ● Protecionismo Aumentar as taxas sobre as importações e abolir sobre as exportações Colbert, na França Adoção de tarifas aduaneiras; Cromwell, na Inglaterra No fim do século XIX, adota tarifas aduaneiras, onde a importação de matérias primas necessárias às indústrias era permitida e a exportação de lã proibida. A navegação nacional também era favorecida: English Navigation Act, em 1651, proibia a importação de bens em navios não britânicos Política de concessão de privilégios e direitos de monopólios às grandes companhias comerciais nacionais. Criação defábricas nacionais. No bulionismo, o surgimento do valor do bem não se dava no controle do processo produtivo, mas no poder de mercado que buscavam exercer. Com esse pensamento, grandes companhias de comércio tentavam obter ajuda estatal para garantir posições monopolísticas. O trabalho era o principal problema enfrentado no sistema produtivo, a necessidade de trabalho para produção de manufaturados. Além de consolidá-lo como mercadoria, havia a necessidade de educá-lo para prestação de serviços. De fato, a política demográfica mercantilista visava aumentar a população para satisfazer as necessidades de expansão das indústrias emergentes. Teoria do Salário mercantilista: O máximo de oferta era obtido com salários de subsistência. ESCOLA DE SALAMANCA Não devem ser consideradas mercantilistas pois, desaprovavam as práticas monopolistas e as políticas de fixação de preços. Eles tinham uma visão mais subjetivista do valor: utilidade deveria ser equilibrada pela escassez. Lucros e perdas eram prêmios ou penalidades para o grau de eficiência, antecipando a teoria evolucionista da competição. Políticas e Teorias monetárias: Bodin – a principal causa do aumento dos preços era, na verdade, o aumento do ouro e da prata em circulação. Em 1620-40, houve o fim do processo inflacionário, e a teoria quantitativa deixou de explicar os níveis de preços, para ser uma teoria do nível de transações. O nível de preços se estabilizou e permaneceu assim até meados do século XVIII. Acresça-se a isso o fato de que a segunda metade do século XVII e a primeira do século XVIII se configuraram com um período de depressão, o fluxo de ouro e prata proveniente da América reduziu-se drasticamente. Para aumentar o nível de atividade era recomendado que não se entesourasse: o aumento da oferta de dinheiro (na ausência de inflação) aumentaria o consumo e conseqüentemente a produção e a acumulação. Além de causar, indiretamente, uma redução dos juros. Teoria monetária da produção e do juro: o dinheiro era usado para estimular a produção e o comércio. Juro seria o preço pago para desfrutar desse uso. Juro era visto como preço dependeria da oferta e da demanda d dinheiro. A abundância de dinheiro reduzia o juro. Assim, por meio da redução dos custos do financiamento de investimentos, haveria um encorajamento da expansão econômica. Hume achava que a política mercantilista de promover a produção via criação de superávit comercial não funcionaria, pois ocasionaria um aumento dos preços – a conseqüente perda de competitividade equilibraria a balança. Mas, os mercantilistas achavam que um aumento dos preços, levaria a um aumento do valor das exportações, mas alterações menos que proporcionais nas quantidades exportadas e importadas. Nessas condições, uma melhora nos termos de troca se refletiria positivamente na balança de pagamentos. Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio A difusão do comércio e da competição reduziu diferenciais de preços entre regiões e nações, causando uma redução nas margens de lucro comerciais. A queda nos lucros levou a um aumento do controle capitalista sobre o processo produtivo. ● A intervenção do estado passou a ser vista com reservas – apenas deveria reconhecer e proteger o direito de propriedade, assim como os acordos contratuais; ● Preços e lucros refletiam as condições da produção e não da demanda – associadas a isso surgindo o conceito de excedente; ● Os autores começaram a se distanciar do mercantilismo, e, na segunda metade do século XVIII, lançam a Economia Politica Clássica: Petty, Locke, North, Mandeville, Boisguillebert e Cantillon; ● Livre comércio: como o público nada mais é do que a soma dos cidadãos privados, ninguém melhor do que o próprio indivíduo para cuidar de seus interesses. qualquer intervenção externa apenas atrasaria a harmonia de interesses, a melhor política seria nenhuma política. ● Condenou-se o protecionismo, onde a totalidade do mundo formava uma unidade econômica semelhante a uma nação; ● O nível da taxa de juros deveria ser aquele resultante, naturalmente, da oferta e da demanda. ● Locke encara a propriedade privada como a base da liberdade, adquirida por meio do trabalho e da razão; o dinheiro, assim como a terra podia ter o mesmo caráter produtivo, e com uma desigual distribuição da terra possibilitava a qyem tinha mais cultivar por si mesmo, ou arrendar parte dela cobrando uma renda, também a distribuição desigual de dinheiro permitia a quem o possuía em excesso, emprestá- lo e cobrar juro. ● Para North ninguém enriquecia apenas entesourando, era necessário emprestá-lo ou utilizá-lo no comércio; para North e Locke, a propriedade privada em si era a instituição fundamental do capitalismo; ● Petty defende a criação de um banco quando houvesse pouco dinheiro para a indústria e o comércio, que impulsionaria o comercio em todo o mundo comercial. Mas Petty foi inovador na explicação do valor, introduzindo o conceito de valor natural, seus determinantes seriam os custos de produção, redutíveis aos custos da terra e do trabalho; acabou definindo o preço natural do trabalho – quantidade média de alimento necessária diariamente ao sustento dos trabalhadores. A partir da sua teoria do valor, estabelece então o conceito de excedente. Petty media o excedente como uma quantidade de tempo de trabalho. ● No continente, diferentemente da Inglaterra, as reações contra o mercantilismo assumiram a forma de um protecionismo agrário. Para Cantillon e Boisguillebert o estado deveria encorajar a agricultura ao invés de proteger o comércio e a indústria. ● Boisguillebert achava que a força motriz do crescimento econômico era o consumo, sendo necessário abolir os impostos que desencorajavam o consumo; o argumento do laissez faire o levou a mostrar que a tendência natural da economia levava ao equilíbrio; ● Cantillon serviu de ponto de convergência do pensamento inglês e francês. Ele estende a análise de Petty sobre o excedente, desenvolvendo a teoria da alocação do produto excedente. Para Cantillon, todas as classes agrícolas viviam do produto excedente da terra. Num mercado livre, os preços serviam para alocar o excedente de tal forma a satisfazer as demandas daqueles atores, da mesma forma que ocorreria se eles ainda possuíssem escravos e orientassem seus supervisores sobre o que produzir. Ele conclui que um conjunto de preços se constituiria em um sistema de preços de equilíbrio, se satisfizesse as demandas dos proprietários de terra exatamente como ocorreria no caso de a economia ser planejada; OS FISIOCRATAS Um grupo de pensadores encabeçados por Quesnay, tendo Mirabeau como principal divulgador das suas idéias, se formou a partir de 1757. Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio Quesnay tinha como objetivo fazer da agricultura uma indústria capitalista eficiente; isso porque a indústria francesa ainda estava no seu estado artesanal, sem condições técnicas e sociais para compra e venda de força de trabalho e a geração de excedente. Ao criar um modelo quantitativo geral da produção de mercadorias, ele elabora algumas idéias como: I. Noções de trabalho produtivo e improdutivo, onde a fonte real de riqueza era gerada pelo produto líquido; II. A idéia de interdependência entre vários setores de atividade e a idéia de equilíbrio macroeconômico; III. Representação das trocas econômicas como um fluxo circular de dinheiro e bens entre os vários setores econômicos; IV. Os fazendeiros eram a classe produtiva, as pessoas que estavam envolvidas com a indústria manufatureira eram a classe estéril – o valor do produto era considerado igual ao valor total dos insumos – e a classe dos donos de terra era a classe distributiva, cujo papel era de consumir seu excedente, criado pela classe produtiva e começar seu processo de circulação de dinheiro e bens, ao gastar a sua renda; V. Ele dizia que o sistema econômicotinha a capacidade natural de se reproduzir, e o equilíbrio era a manifestação da ordem natural, o melhor que o governo poderia fazer era não interferir; VI. Defendia o importo único, em um único setor, pois pelo fluxo circular da renda as taxas seriam transferidas, afetando no final apenas a renda; VII. Quesnay chega a estudar como os efeitos de políticas sábias ou equivocadas podiam proporcionar o crescimento ou contração de uma economia; ● David Hume Relativamente à moeda, ele criou uma teoria quantitativa dinâmica, para qualificar como temporário um efeito real de um aumento da oferta de moeda sobre as transações. Além disso, ele discordava que o volume do comércio internacional era fixo e que, portanto, um país só poderia aumentar a sua riqueza a expensas do outro, para ele, um aumento real de riqueza de um país via importações, levava a um aumento de riqueza de outros países. Defendia, também, que era o nível de atividade econômica que, aumentando o estoque de capital, causaria uma diminuição da taxa de lucro, e decréscimo da taxa de juros. ● James Steuart Segundo Steuart, o governo deveria entesourar ou desentesourar moeda segundo as necessidades do comércio. E caso o ouro e/ou prata fossem insuficientes para atender as necessidades do comércio, a diferença deveria ser coberta com a “moeda simbólica”. Defende a intervenção do estado, criticando o princípio que a melhor forma de servir ao interesse público seria deixar livre a busca pela satisfação dos interesses privados. E o estado deveria se encarregar de manter os salários em nível de subsistência, uma vez que não acreditava que estes se regulassem automaticamente. ● Descreva o mecanismo “preço-espécie-fluxo” de Hume e como este autor o utiliza para criticar as políticas mercantilistas O bulionismo caracteriza a primeira parte do período mercantilista, e para eles uma ampla circulação de dinheiro nas suas fronteiras nacionais era vista como uma garantia de uma base extensiva de taxação. Para isso, eles defendiam uma desvalorização da moeda, a proibição da exportação do ouro e prata, não se podia importar de cada país mais do que se exportava, etc. Na França de Colbert instituíram-se tarifas aduaneiras que estimulavam a exportação e repreendia a importação. Já na Inglaterra de Cromwell, a navegação nacional era protegida, o “English Navigation Act” proibia a importação de bens em navios não britânicos. Foi marcante neste período a política de concessão de privilégios e de monopólios às grandes Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio companhias comerciais das colônias. Como para os mercantilistas o valor de um bem estava na sua utilidade, controlado pelo poder de mercado que buscavam exercer, e a competição entre os comerciantes reduzia este poder, eles buscavam o monopólio. Em 1752, David Hume formulou uma as principais críticas ao pensamento mercantilista: ele introduziu na discussão da quantidade de dinheiro em circulação e seu efeito na expansão econômica, o papel da balança comercial. A política mercantilista de promover a produção via criação de superávit comercial não funcionaria, pois ocasionaria num aumento de preços. A conseqüente perda de competitividade equilibraria a balança, interrompendo o influxo de moeda. Logo, tal política teria vida curta. Esse mecanismo de ajuste, teorizado por Hume, é conhecido como “mecanismo de preço-espécia-fluxo”. Esse mecanismo não serviu apenas como uma crítica ao mercantilismo, mas também como descrição de uma lei econômica geral pelos economistas clássicos. Mas os mercantilistas já apresentavam teorias robustas, uma vez que acreditavam que mesmo com um aumento no preço interno, em relação aos internacionais, causaria um aumento no valor das exportações, mas alterações menos que proporcionais nas quantidades exportadas e importadas. Nessas condições, uma melhora nos termos de troca se refletia positivamente na balança de pagamentos. Sob o ponto de vista técnico, provavelmente no período pré-industrial a elasticidade das exportações não era muito alta, dada a especialização produtiva dos vários países. Mas à medida que a produção manufatureira se desenvolveu nos países capitalistas, alguma competição ganhou força, podendo ter aumentando a elasticidade das exportações e das importações. ● *Qual a contribuição inovadora de Cantillon, que o qualifica por isso a ser considerado o precursor de Adam Smith, no que este último autor se diferencia dos fisiocratas? Com a difusão do comércio e da competição houve a redução dos diferenciais de preços entre as regiões, e uma conseqüente redução dos lucros. Com a nova filosofia do individualismo e o desenvolvimento da ética protestante, a intervenção estatal passou a ser vista com reservas. No campo do pensamento, os autores, começaram a se distanciar do mercantilismo, e na seguda metade do século XVIII, lançaram a Economia Política Clássica. Entre esses autores está Richard Cantillon. Este autor, de origem irlandesa, serviu de ponto de convergência do pensamento inglês e francês, estendeu a análise de Petty sobre o excedente, sendo o primeiro a desenvolver uma teoria de alocação do produto excedente; mas somente a terra gerava um verdadeiro excedente. Partindo dessa extração do excedente pelos fazendeiros, parte do qual transferida pelos proprietários de terra, ele tratou de determinar a alocação do excedente; e como essas demandas determinavam a composição do produto excedente. Concluindo, em uma de suas contribuições mais inovadoras, de que, em um mercado livre, os preços serviam para alocar o excedente de tal forma a satisfazer a demanda, da mesma forma que ocorreria naturalmente. A demanda afetaria apenas a composição do produto excedente. Os salários dos trabalhadores eram tratados como um conjunto de requisitos de subsistência, e encarados como dado tecnológico. Cantillon mostrou que um sistema de preços podia proporcionar a mesma alocação que um plano econômico completo. Assim, um conjunto de preços se constituiria em um sistema de preços de equilíbrio se satisfizesse as demandas dos proprietários de terra exatamente como ocorreria no caso de uma economia planejada. Adam Smith em seu livro “Whealth of Nations”, a sua grande novidade é o modelo de relações de determinação de preços, e uma teoria dinâmica na qual o papel de um mercado operado livremente é o de alocar o excedente como estoque de capital, de tal forma a colocar em movimento a maior parte possível de trabalho produtivo. ● Discuta as interpretações alternativas do papel do lucro, da remuneração do trabalho e do valor do bem, na obra de Adam Smith Adam Smith sempre teve uma grande preocupação com a liberdade, em função da observação de que os redutos feudais e as restrições mercantilistas desviavam o capital de usos que levariam a um crescimento máximo. Mesmo as intervenções do governo e o monopólio do comércio colonial eram vistos como prejudiciais ao crescimento da economia. Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio Smith concordava com os fisiocratas de que a acumulação de capital era impossível sem um excedente agrícola, e também com os salários de subsistência. Mas a sua idéia de subsistência difere dos fisiocratas, pois ele entendia que com a acumulação de capital havia um processo em paralelo de redefinição do salário real. (?)- pág 53 Smith defendeu a uniformização do lucro, lançando mão da liberdade dos capitalistas em investir onde desejarem com a expectativa de obter pelo menos uma taxa de retorno mínima. Quando um negócio torna-se amplamente estabelecido e conhecido, a competição reduz o seu retorno. Esse processo ocorreria com todos, e dessa forma, o lucro ficaria uniforme. A figura central de seu esquema é o capitalista empresário que adianta os salários de subsistência dos trabalhadores, e, pela competição via preços, por lucros, contribui para um equilíbrio de mercado,no longo prazo, que reflete exatamente seu objetivo: acumulação à taxa máxima. Smith defendia uma ordem natural sem intervenção do governo, porém ele acreditava também que os homens tinham um sentimento moral para com seus semelhantes. Para evitar esse choque de crenças, ele cria a idéia da ‘mão invisível’, ou melhor, a idéia de que os indivíduos se guiando pelos seus próprios interesses, alcançariam o interesse coletivo. Em matéria de valor, Smith entende que “o trabalho é a medida real do valor de troca de todas as mercadorias”. Mas esse trabalho seria o trabalho comandado, ou seja, o valor de um bem seria medido pela quantidade que ele seria capaz de comandar (comprar). Essa compra seria realizada a preços naturais. Apenas quando o produto do trabalho pertencesse totalmente ao trabalhador, tal medida coincidiria com o trabalho incorporado. Isso acontecia num estado de natureza precedente à acumulação de capital e à apropriação da terra. Os lucros para Smith são “regulados totalmente pelo valor do capital empregado e são maiores ou menores em proporção à extensão deste capital”. Ele ainda continua, dizendo que “a diferença aparente nos lucros, entre negócios diferentes, é geralmente enganosa, e resulta de nem sempre se distinguir o que deve ser considerado salário do que deve ser considerado lucro”. É importante ressaltar um aspecto econômico que ameaça o modelo de Smith: a intervenção estatal. Ou melhor, haveria convergências para um taxa uniforme apenas num sistema de liberdade natural. ● O diálogo entre Malthus e Ricardo serviu para conferir maior precisão ao modelo deste último autor. Qual era a motivação política do debate, e como influiu na obra de Ricardo? Em relação à teoria da renda, que, na verdade, o levou à elaboração teórica associada à teoria do valor, esta foi desenvolvida em um diálogo em correspondência com Malthus, que tinha, em geral, opiniões contrárias às suas, e era ligado as posições dos proprietários de terra. O conflito que serviu de base para a elaboração diferencial de Ricardo se dava, na época, entre os proprietários de terra e os capitalistas industriais, e se apresentava na batalha pelo controle do Parlamento. As guerras napoleônicas levaram a uma redução drástica na importação da França de suprimentos alimentares, o que levou a um aumento no preço dos cereais. Terminado o conflito, os proprietários de terra conseguiram, em 1816, que o Parlamento aprovasse tarifas elevadas de importação de grãos – as “Corn Laws” –, que a tornavam proibitiva. Essa barreira protecionista permitiu a manutenção de altas rendas em detrimento dos lucros, impedindo que a indústria inglesa aproveitasse sua vantagem comparativa em relação aos seus competidores europeus, devido à sua produtividade. A revogação dessas leis, em 1846, se deu pela contribuição teórica decisiva de Ricardo. Ricardo pega como referência o modelo de Smith de distribuição de excedente, por meio de uma taxa uniforme de lucros. Assim, havendo necessidade de adicionar terras de menor fertilidade para atender a demanda, isso se daria até o ponto que o excedente gerado naquelas terras fosse o suficiente para proporcionar um lucro calculado com base na taxa uniforme vigente. O autor acaba derivando a essência da lei da produtividade marginal decrescente de um insumo variável. O raciocínio de Ricardo era que dada uma quantidade limitada de terra viável para cultivo, se as importações de trigo fossem impossibilitadas, o aumento da produção pela intensificação do investimento na agricultura aumentaria a participação da renda no excedente e diminuiria os lucros. Ele chegou a estendeu seu raciocínio imaginando que o progresso tecnológico poderia não ser capaz, no longo prazo, de evitar as conseqüências econômicas dos retornos decrescentes Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio na agricultura, ainda que um aumento na produtividade do trabalho pudesse levar, em algumas ocasiões, a um aumento nos lucros. *Argumento do Malthus: tanto os proprietários de terra quanto os trabalhadores despendem todo o seu rendimento em bens de consumo. Logo, salários e rendas se traduzem completamente em demanda final. Por outro lado, lucros são quase inteiramente investidos. Se os lucros aumentam em relação aos salários, pode acontecer que os rendimentos dos trabalhadores não sejam capazes de garantir um nível de demanda equivalente ao valor dos bens de consumo produzidos por eles. A solução vislumbrada por Malthus era de aumentar a participação da renda no excedente para compensar a diferença. As ‘Corn Laws’ eram bem- vindas se redistribuíssem o excedente de lucros para rendas. ● O que na obra de Ricardo, pode representar uma complementação de formação de preços de Adam Smith? Para Adam Smith, o trabalho é “a medida real do valor de troca de todas as mercadorias”. Mas o trabalho a que se refere é o trabalho comandado, ou melhor, o valor de um bem seria medido pela quantidade de trabalho que ele seria capaz de comandar – comprar. Da mesma forma que Smith, Ricardo via o sistema de preços como de distribuição do excedente em forma de lucros à taxa uniforme, e para seus fins o ‘trabalho comandado’ não servia como fundamento, pois variava com os preços e a distribuição. Ele caracterizava o excedente em termos de trabalho incorporado: o trabalho total incorporado ao produto menos o trabalho incorporado aos insumos necessários. Smith achava que o pagamento de salários abaixo do valor produzido por uma unidade de trabalho inviabilizava uma teoria dos preços baseada no trabalho incorporado. Já Ricardo optou por desenvolveu uma teoria de preços relativos baseada no trabalho incorporado, onde estes refletiriam as condições relativas da produção dos bens; mas não a maneira como eles eram distribuídos entre as classes sociais. Ricardo concluiu, nos estudos que empreendeu até o fim de sua vida, que os preços relativos dados pelo sistema de preços que distribui o excedente à taxa de lucro uniforme não reflete apenas os preços incorporados, mas também as diferentes proporções entre trabalho e meios de produção com as quais os diversos bens são produzidos. Acarretando numa variação dos preços relativos com a alteração da taxa de lucro. ● John Stuart Mill elaborou uma síntese da teoria econômica do seu tempo, que é vista como uma tentativa de harmonização. O que ele estaria tentando harmonizar, e qual a motivação histórica desse empreendimento? Após a derrota das revoluções de 1848, e a violenta repressão que se seguiu, o movimento dos trabalhadores entrou em hibernação, que se estendeu por duas décadas, Hobsbawm chamou o período de 1850-70, de ‘Era do Capital’. Neste período, observou-se o nascimento dos ‘bancos mistos’, na Alemanha, a formação de cartéis, grandes obras, reformas sociais e políticas. O economista dominante desta foi John Stuart Mill; ele empreendeu um reexame dos debates da primeira metade do século, com o intento de unificar os principais resultados teóricos. Isto é, seu esforço visava uma ‘harmonização teórica’. Buscava reconstruir a tradição smithiana pela união de duas abordagens difíceis de serem compatibilizadas: a teoria macroeconômica do excedente e a teoria do comportamento competitivo individualista. Na verdade, depois de 1870 as duas abordagens se separam definitivamente: o ramo ricardiano se desenvolveu como a economia marxista e o anti- ricardiano como economia neoclássica. *Mill, além de aceitarem certos casos a intervenção do estado, como na educação, assistência à pobreza, seu utilitarismo se baseava na maximização do bem-estar para o maior número possível de pessoas. Mas sua contribuição principal está relacionada à idéia de fundo de salários; esta se baseia no fato de que, uma vez que a produção leva tempo, ao fim de cada ciclo produtivo seria necessário separar parte do produto, para manter os trabalhadores durante o próximo ciclo. Essa parte separa constitui o fundo. Ao desenvolveresta teoria, Mill conclui que para gerar um aumento dos salários ao longo do tempo, o fundo deveria crescer mais que a oferta de trabalho (L barra). Do ponto de vista da história do pensamento econômico, esse aspecto do sistema teórico de Mill é a chave na transição da abordagem clássica para a Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio neoclássica. * No que concerne a teoria do valor, ele considerava que o mesmo não dependia apenas do trabalho. Uma vez que os valores dos meios de produção e dos salários dependiam também do lucro auferido pelos capitalistas. Além disso, para Mill os trabalhadores não tinham o direito a todo o produto, pois esse dependia também da abstinência necessária a tornar o capital disponível, a abstinência de consumo por parte dos capitalistas. Na verdade, essa é uma extensão do conceito de fundo de salário a todo capital. Essa teoria é similar a de Senior, mas Mill incluía em abstinência não apenas o sacrifício pela renuncia de um dado fluxo de rendimento, mas também o sacrifício inerente à renúncia de consumo do estoque de capital acumulado. Assim, o juro não era explicado como remuneração da poupança, mas sim do capital. ● Qual o uso que Marx faz da sua teoria do valor, comparativamente aos usos que fazem Smith e Ricardo das suas? Marx utiliza sua teoria do valor para estudar a exploração capitalista na produção. A teoria da exploração de Marx tem por objetivo trazer à luz a verdadeira natureza da relação capital-trabalho. O valor da força de trabalho é igual ao valor dos meios de subsistência necessários a sobrevivência e reprodução da classe trabalhadora. O capitalista vai ao mercado de trabalho, paga o valor de troca da força de trabalho e adquire seu valor de uso. Depois da troca, o trabalho torna-se um meio de produção e seu uso um direito do capitalista. No processo produtivo, o trabalho produz bens cujo valor é superior ao da força de trabalho, essa diferença é a ‘mais valia’. Os trabalhadores pagam um preço justo pelo bem que eles vendem e os capitalistas compram, mas além do capital aumentar de valor, o trabalho tem a capacidade de produzir mais que o necessário à sua reprodução Marx considerava que o ‘preço justo’ era determinado pelo mercado, e não por uma hipotética ‘lei natural’, as condições de exploração tinham a ver com o controle do processo produtivo. O capitalista, por exercer o comando do processo, faz os trabalhadores produzir um valor maior que o pago como salário. Resumindo, Marx vê a relação de comando na produção capitalista como uma relação baseada no exercício de poder. É esse poder organizacional que faz com que a exploração seja possível, enquanto que a fixação de um salário maior ou menor é apenas uma condição externa. Diferentemente de Ricardo, ele não achava que os preços de produção poderiam representar de alguma forma os valores incorporados nas mercadorias, mas usava valores mais descrever a extração da mais valia no processo de produção. Concordava, contudo, com Smith e Ricardo, que, o que ele chamava de preços de produção, constituíam índices de referência em torno dos quais os preços de mercado das mercadorias gravitavam. Achava ainda que o sistema de preços distribuía a mais valia de forma a respeitar a uniformidade das taxas de lucro sobre o capital investido. Essa questão da transformação dos valores em preços de produção ficou conhecida como ‘problema de transformação’. *Marx analisou a evolução da economia capitalista pelo uso de duas categorias: ciclo de negócios e leis de movimento. A teoria dos ciclos de negócios se baseava em duas hipóteses fundamentais: I. investimento é uma função crescente da taxa de lucro; II. a taxa de lucro é uma função decrescente dos salários. Se os salários aumentam, o investimento se deprime. Isso reduz a demanda por bens para fins produtivos, e, fazendo a economia se contrair, dispara uma crise. Os preços de mercado caem com is níveis do produto, baixando a taxa de lucro média, aprofundando a crise. Mas como a redução do investimento baixa a demanda por trabalho, o ‘exército industrial de reserva’ se amplia. Como conseqüência, cedo ou tarde os salários acabam caindo. E a crise expulsa as firmas menos eficientes do mercado, assim como as máquinas obsoletas, contribuindo para um aumento da produtividade do trabalho. Assim, a taxa de lucro média volta a subir, reativando o crescimento econômico. Quando os níveis de emprego e salários voltam a crescer, um novo ciclo se inicia. Marx enumera quatro leis principais do movimento da economia capitalista que levariam o modo capitalista de produção à sua auto-destruição. Ele seria substituído por um sistema onde Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio os trabalhadores controlariam coletivamente a atividade produtiva, abolindo a exploração, e indo cada pessoa seria remunerada de acordo com sua contribuição produtiva. Disponibilizado por Otávio Merçon e todos os colaboradores do Blog Economia a PUC-Rio
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