Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Módulo de Metodologia de Investigação Educacional UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Índice Visão geral Bem vindo ao módulo de Metodologia de Investigação Educacional ............................. 5 Objectivos do módulo ...................................................................................................... 5 Recomendações para o estudo .......................................................................................... 6 Unidade nº 1 7 Questões Gerais sobre a Investigação em Educação ........................................................ 7 Introdução ................................................................................................................ 7 Objectivos..………………………………………………………………………………7 Questões Gerais sobre a Investigação em Educação ……………………………………8 O conhecimento científico ………………………………………………………………8 Actividades ..................................................................................................................... 12 Auto- avaliação ............................................................................................................... 12 Chave de correcção ......................................................................................................... 13 Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 14 Unidade nº 2 15 Dimensões epistemológica, teórica, e técnica da investigação ....................................... 15 Introdução .............................................................................................................. 15 Objectivo……………………………………………………………………………….15 Dimensões epistemológica, teórica, e técnica da investigação…………………………16 Os paradigmas na investigação…………………………………………………………16 O paradigma qualitativo e quantitativo ..………………………………………………17 Actividades ..................................................................................................................... 19 Auto- avaliação ............................................................................................................... 19 Chave de correcção ......................................................................................................... 20 Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 21 Unidade nº 3 22 Pressupostos teóricos e metodológicos da investigação educacional ............................. 22 Introdução .............................................................................................................. 22 UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Objectivo……………………………………………………………………………….22 Pressupostos teóricos e metodológicos da investigação educacional…………………..23 Fundamentação teórica…………………………………………………………………23 Metodologia……………………………………………………………………………26 Posições dos paradigmas quanto a algumas questões chave…………………………...26 Actividades ..................................................................................................................... 28 Auto- avaliação ............................................................................................................... 28 Chave de correcção ......................................................................................................... 29 Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 29 Unidade nº 4 30 Pesquisa qualitativa e quantitativa .................................................................................. 30 Introdução .............................................................................................................. 30 Objectivos………………………………………………………………………………30 Pesquisa qualitativa e quantitativa ……………………………………………………..31 A pesquisa qualitativa…………………………………………………………………..31 Princípios de recolha de dados qualitativos…………………………………………….35 A pesquisa quantitativa…………………………………………………………………36 Amostra: Características e modos de selecção…………………………………………38 Amostras probabilísticas………………………………………………………………..40 Amostras não probabilísticas...…………………………………………………………42 Técnicas e instrumentos de recolha de dados.…………………………………………42 Ética na investigação: Responsabilidade social e ética do investigador.………………51 Estrutura do relatório de pesquisa.……………………………………………………..54 Actividades ..................................................................................................................... 57 Auto- avaliação ............................................................................................................... 58 Chave de correcção ......................................................................................................... 58 Bibliografia da Unidade .................................................................................................. 59 UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Introdução Bem vindo ao módulo de Metodologia de Investigação Educacional Metodologia de Educação Educacional é um módulo que se ocupa das variadas formas de investigação aplicadas aos fenómenos e realidades educacionais. Os métodos e técnicas de investigação na área da educação são aplicados com o intuito de conhecer a realidade educacional. Seleccionados e manejados adequadamente, estes métodos e técnicas possibilitam o esclarecimento rigoroso e cauteloso do objecto em estudo, oferecendo uma compreensão global e uma interpretação apurada de situação educacionais. O módulo é composto por 4 unidades didácticas. Assim, Na primeira unidade vamos discutir as questões gerais sobre a investigação em educação. Na segunda unidade vamos apresentar a dimensão epistemológica, teórica e técnica da investigação. Na terceira unidade falaremos dos pressupostos teórico e metodológicos da investigação educacional. Na quarta unidade abordaremos a natureza da pesquisa qualitativa e quantitativa e seus procedimentos. É importante que saiba que este módulo está integrado no curso de licenciatura em Organização e Gestão da Educação ministrado na Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. Objectivos do módulo Caro estudante, quando terminar o estudo do módulo de Metodologia de Investigação Educacional deverá ser capaz de: Identificar, aplicar e discutir alguns métodos e técnicas comummente usadas na investigação social, em particular no âmbito da realidade educacional; Planificar, conceber e implementar um projecto de investigação na área da educação à sua escolha. 6 Recomendações para o estudo Para alcançar com sucesso os objectivos de aprendizagem do módulo, recomendamos que você faça o planeamento minucioso do seu tempo de estudo. O ensino deste módulo na modalidade à distância não exige a sua presença física num espaço físico em que terá que interagir face-à-face com o professor e outros estudantes que estão inscritos no módulo à semelhança do que preconiza o ensino presencial, no entanto disponibilizamos um rol de tarefas por concretizar. É importante que perceba que estas tarefas estão programadas e calendarizadas de modo a materializarmos as metas de aprendizagem dos conteúdos nos diferentes momentos. Por se tratar de um módulo à distância, apelamos que faça do computador seu braço direito e seu melhor amigo, uma vez que será fundamentalmente à sua ferramenta de trabalho e o meio através do qual dialogará com o professor e os seus colegas de turma. Por via do computador terá também acesso aos conteúdos dos módulos e aos mais variados recursos de aprendizagem. Durante a leitura dos materiais recomendados e complementares é imprescindível que você tome notas ou que elabore fichas de leitura de modo a reter as ideias chaves apresentadas ediscutidas pelos autores. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Unidade Didáctica nº1 Questões Gerais sobre a Investigação em Educação Introdução Na primeira unidade, num primeiro momento, vamos introduzi-lo às características do conhecimento científico, de seguida vamos falar brevemente sobre os componentes do processo de investigação e por fim falaremos sobre a estrutura de um artigo científico. O estudo desta unidade é importante porque permite que o estudante aprenda a distinguir o conhecimento científico de qualquer outro tipo de conhecimento a partir das suas características. É também importante porque o estudante aprende os passos da investigação e como pode apresentar os resultados de uma investigação. Objectivos Ao completar esta unidade, você será capaz de: Identificar os principais traços que caracterizam o conhecimento científico; Descrever na essência cada uma das características do conhecimento científico; Descrever as características da investigação e os procedimentos e/ou componentes de um processo de investigação; 8 Fontes de Informação e Recursos de Aprendizagem Para você se familiarizar com as questões gerais da investigação educacional importa em primeiro lugar conhecer as características do conhecimento científico. A seguir apresentamos três quadros resumo sobre as características da investigação; o processo de investigação e a estrutura do artigo científico. Assim, recomendamos que leia o texto de BUNGE, M. (s.d). La ciência, seu método. In Um outro olhar sobre o mundo, Pp. 215- 217 e Gomes, A. A. (2001). Considerações sobre a pesquisa científica: Em busca de caminhos para a pesquisa científica. Revista da Toledo, Vol. 5, Pp. 61-81. QUESTÕES GERAIS SOBRE A INVESTIGAÇÃO EDUCACIONAL I. O Conhecimento Científico A ciência é explicativa: tenta explicar os factos em termos de leis e as leis em termos de princípios. Os cientistas não se conformam com descrições pormenorizadas; além de inquirir como são as coisas, procuram responder ao porquê: porque é que ocorrem os factos tal como ocorrem e não de outra maneira. A ciência deduz as proposições relativas aos factos singulares a partir de leis gerais, e deduz as leis a partir de princípios ainda mais gerais. A ciência é aberta: não reconhece barreiras a prior, que limitem o conhecimento: Se o conhecimento fáctico não é refutável em princípio, então não pertence à ciência, mas a algum outro campo. As noções acerca do nosso meio natural ou social, ou acerca do nosso eu, não são finais; estão todas em movimento e são falíveis. Sempre é possível que possa surgir uma nova situação (novas informações ou novos trabalhos teóricos) em que as nossas ideias, por firmemente estabelecidas que pareçam, se revelem inadequadas em algum sentido. A ciência carece de axiomas evidentes; inclusive, os princípios mais gerais e seguros são postulados que podem ser corrigidos ou substituídos. Portanto, a ciência é aberta como sistema - porque é falível – e por conseguinte é capaz de progredir. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE A investigação científica é especializada: uma consequência da focagem científica dos problemas é a especialização. Não obstante a unidade do método científico, a sua aplicação depende, em grande medida, do assunto; isto explica a multiplicidade de técnicas e a relativa independência dos diversos sectores da ciência (...). Porém, a especialização não impede a formação de campos interdisciplinares como a biofísica, a bioquímica, a psicofisiologia, a psicologia social, a teoria da informação, a cibernética ou a investigação operacional. Contudo, a especialização tende a estreitar a visão do cientista individual (...). A investigação científica é metódica: não acontece casualmente, é planeada. Os investigadores não tateiam na obscuridade; sabem o que buscam e como o encontrar. A planificação da investigação não exclui o azar, pois, ao deixar lugar para acontecimentos imprevistos, é possível aproveitar a interferência do azar e a novidade inesperada (...). Todo o trabalho de investigação se baseia no conhecimento anterior e, em particular, nas conjecturas melhor confirmadas. Mais ainda, a investigação procede de acordo com regras e técnicas que se revelaram eficazes no passado, mas que são aperfeiçoadas continuamente, não só à luz de novas experiências, mas também de resultados do exame matemático e filosófico. O conhecimento científico é fáctico: Parte dos factos, respeita-os até certo ponto e sempre retorna a eles. A ciência procura descobrir os factos tais como são, independentemente do seu valor emocional ou comercial: a ciência não poetiza os factos. Em todos os campos, a ciência começa por estabelecer os factos: isto requer curiosidade impessoal, desconfiança pela opinião prevalecente e sensibilidade à novidade (...). O conhecimento científico é claro, preciso e comunicável: os seus problemas são distintos, os seus resultados são claros. A ciência torna preciso o que o senso comum conhece de maneira nebulosa. O conhecimento científico é comunicável porque não é inefável, mas expressável; não é privado, mas público. O que é inefável pode ser próprio da poesia ou da música, não da ciência, cuja linguagem é informativa e não expressiva ou imperativa. (...). Portanto, a linguagem mas científica comunica informações a quem quer que tenha sido preparado para as entender (...). O conhecimento científico é verificável: deve passar pelo exame da experiência. Para explicar um conjunto de fenómenos, o cientista inventa conjecturas fundadas de algum modo no saber adquirido. As suas suposições podem ser cautelosas ou ousadas, simples ou complexas; em todo o caso, devem pôr-se à prova. O 10 teste das hipóteses fáticas é empírico, isto é, observável ou experimental (...). No entanto, nem todas as ciências podem experimentar e em certas áreas da astronomia e da economia, alcança-se uma grande exatidão sem ajuda da experimentação (...). Nem sempre é possível, tão pouco desejável, respeitar inteiramente os factos quando se analisam e não há ciência sem análise, mesmo quando a análise é apenas um meio para a reconstrução final do todo. Por ex. o físico perturba o átomo que deseja espiar; o biólogo modifica e pode inclusive matar o ser vivo que analisa; o antropólogo, empenhado no seu estudo de campo de uma comunidade, provoca nele certas modificações. Nenhum deles apreende o seu objecto tal como é, mas tal como fica modificado pelas suas próprias operações. (...). O conhecimento científico transcende os factos: põe de lado os factos, produz factos novos e explica-os. O conhecimento científico é sistemático: uma ciência não é um agregado de informações desconexas, mas um sistema de ideias ligadas logicamente entre si. Todo o sistema de ideias, caracterizado por um certo conjunto básico (mas refutável) de hipóteses peculiares, e que procura adequar-se a uma classe de factos, é uma teoria. (...). O carácter matemático do conhecimento científico - isto é, o facto de ser fundado, ordenado e coerente - é que o torna racional. A racionalidade permite que o progresso científico se efectue não só pela acumulação gradual de resultados, mas também por revoluções (...). O conhecimento científico é geral: situa os factos singulares em hipóteses gerais, os enunciados particulares em esquemas amplos. O cientista ocupa-se do facto singular na medida em que este é membro de uma classe, ou caso de uma lei; mais ainda, pressupõe que todo o facto é classificável, o que ignora o facto isolado. Por isso, a ciência não se serve dos dados empíricos - que sempre são singulares - como tais; estes são mudos enquanto não se manipulam e convertem em peças de estrutura teóricas (...). O conhecimentocientífico é legislador: busca leis (da natureza e da cultura) e aplica-as. O conhecimento científico insere os factos singulares em regras gerais chamadas "leis naturais" ou "leis sociais". Por detrás da fluência ou da desordem das aparências, a ciência factual descobre os elementos regulares da estrutura e do processo do ser e do devir (...). UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE O conhecimento científico é preditivo: transcende a massa dos factos de experiência, imaginando como pode ter sido o passado e como poderá ser o futuro. A previsão é, em primeiro lugar, uma maneira eficaz de pôr à prova as hipóteses; mas também é a chave do controlo ou ainda da modificação do curso dos acontecimentos. A previsão científica, em contraste com a profecia, funda-se em leis e em informações específicas fidedignas, relativas ao estado de coisas actual ou passado. 12 Tarefas Depois de ter lido os conteúdos apresentados na secção anterior, sugerimos a seguinte tarefa: Procure na internet (Google académico) ou numa revista científica um artigo sobre educação e descreva-o na íntegra tendo em conta os elementos que estruturam um artigo científico. Auto- avaliação Auto-avaliação Gostaríamos agora que respondesses as seguintes questões: 1. Uma das características da ciência é o facto de ela ser aberta. Diga qual é a implicação para nós, do facto de a ciência ser aberta. 2. Diga qual é o elemento catalisador de qualquer pesquisa científica? UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Chave de correcção Chave de correcção Para responder corretamente a primeira questão apresentada na secção anterior, deve considerar a explicação prévia decorrente desta característica da ciência e comentar sobre a validade do conhecimento produzido pelo cientista. Em relação à segunda questão colocada, poderia pensar o que é que faz com que uma pessoa se decida a levar a cabo uma pesquisa científica. A seguir apresentam-se as respostas às perguntas colocadas acima. 1. Uma grande implicação do facto da ciência ser aberta é o facto é o facto de o conhecimento produzido sobre um determinado fenómeno ser válido apenas enquanto não surgirem novos conhecimentos que melhor dão conta/explicam a ocorrência ou manifestação do fenómeno. 2. O elemento catalizador de qualquer pesquisa científica é a identificação ou descoberta de um problema que nos impele a buscar a sua solução. 14 Bibliografia Complementar Para consolidar o que aprendeu sobre as características da ciência poderá consultar a seguinte obra: 1. Lakatos, E. M. & Marconi, M. A. (1988). Metodologia científica, São Paulo, Editora Atlas S.A.. Pp. 17-24. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Unidade Didáctica nº2 Dimensões epistemológica, teórica e técnica da investigação Introdução Nesta unidade pretendemos falar sobre os paradigmas da investigação. Referimo-nos especificamente ao paradigma quantitativo e ao paradigma qualitativo de investigação. O estudo desta unidade é importante porque ajuda o investigador a ter noção de como este se deve posicionar e qual deve ser a sua relação com o seu objecto de estudo. Objectivos Ao completar esta unidade, você será capaz de: Caracterizar os pressupostos ontológico, epistemológico, axiológico, retórico e metodológico dos paradigmas qualitativo e quantitativo; Identificar os critérios para a selecção de um ou outro paradigma de investigação. 16 Fontes de Informação e Recursos de Aprendizagem Nesta unidade vamos falar sobre as dimensões epistemológica, teórica e técnica da investigação. Inicialmente concentraremos a nossa discussão à volta dos paradigmas qualitativo e quantitativo da investigação. Para conheceres os pressupostos dos paradigmas qualitativo e quantitativo, assim como as razões que nos levam a optar por um ou por outra leia a obra de Creswell. J. W. (1994). Research Design: Qualitative and quantitative approaches. California, Sage Publication, Pp. 1-16 e Gomes, A. A. (2001). Considerações sobre a pesquisa científica: Em busca de caminhos para a pesquisa científica. Revista da Toledo, Vol. 5, Pp. 61-81. DIMENSÕES EPISTEMOLÓGICA, TEÓRICA E TÉCNICA DA INVESTIGAÇÃO I. Os Paradigmas na Investigação O trabalho do pesquisador reflecte invariavelmente a sua visão de mundo, isto é, a sua experiência de vida, bem como os pressupostos teóricos e metodológicos que o orientam. Deste modo, diferentes pesquisadores possuem diferentes visões de mundo, isto é, diferentes paradigmas epistemológicos (Gomes, 2001). O desenho de um estudo começa com a selecção do tópico e do paradigma. Os paradigmas nas Ciências Humanas e Sociais ajudam- nos a compreender um fenómeno. Eles fornecem suposições sobre o mundo social; como a ciência pode ser conduzida; e quais constituem os problemas, soluções, e critérios legítimos de “prova” (Fiestone, 1978; Gioia & Pitre, 1990; Kuhn, 1970 citados por Creswell, 1994: 1). Tais paradigmas são constituídos por teorias e métodos. O estudo qualitativo é desenhado para ser consistente com os pressupostos do paradigma qualitativo. Este estudo é definido como um processo de pesquisa de compreensão dos problemas sociais ou humanos, baseados na construção de uma imagem complexa, holística, formada com discursos, relato detalhado dos pontos de vista dos informantes, e conduzido num ambiente/contexto natural. Contrariamente, um estudo quantitativo, consistente com o paradigma quantitativo, é uma investigação sobre um problema social ou humano, baseado no teste de uma teoria composta por variáveis, medida por números, e analisada com procedimentos estatísticos, de modo a determinar se a generalização preditiva de uma teoria contém verdade. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE II. O Paradigma Qualitativo e Quantitativo Tabela 1: Pressupostos do Paradigma Quantitativo e Qualitativo Pressuposto Questão Quantitativo Qualitativo Ontológico (Natureza e essência dos fenómenos investigados) Qual é a natureza da realidade? A realidade é objectiva e singular, separada do pesquisador A realidade é subjectiva e múltipla como vista pelos participantes no estudo Epistemológic o (Natureza e formas de conhecimento, sua construção e comunicação) Qual é a relação do pesquisado r com o objecto de pesquisa? O investigador é independente do que está a ser investigado O investigador interage com o objecto de pesquisa Axiológico (Natureza dos valores e juízos valorativos) Qual é o papel dos valores (morais) Livre de valores e imparcial (sem preconceitos) Carregado de valores e parcial (preconceituoso) Retórico (Natureza da comunicação) Qual é a língua do investigad or Formal; Baseada em definições; Voz impessoal; Uso de vocabulário/termo s quantitativos reconhecidos Informal; Elaboração de decisões; Voz pessoal; Vocabulário/termos qualitativos reconhecidos; Metodológico Qual é o processo da pesquisa Processo dedutivo; Causa e efeito; Modelo estático- Categorias isoladas antes do estudo; Livre de contexto Generalizações influenciadas por predições, explicações, e compreensões; Preciso e certo através da validade e segurança. Processo indutivo; Formação de factores; Modelo Criado - Categorias identificadas durante o processo de pesquisa Limitado ao contexto; Modelos, teorias desenvolvidas por compreensão; Preciso e certo através da verificação Fonte: Creswell (1994:5) 18 Tabela 2: Critérios de selecção de um Paradigma Critério Paradigma Quantitativo Paradigma Qualitativo Visão de mundo do investigador Conforto do investigador com os pressupostos do paradigma quantitativo: ontológico, epistemológico, axiológico, retórico, e metodológico Conforto do investigador com os pressupostos do paradigma qualitativo: ontológico, epistemológico, axiológico, retórico, e metodológico Formação e experiência do investigador Habilidades técnicas de escrita, estatística por computador, biblioteca Habilidades de escrita literária, análise de texto por computador, biblioteca Atributos psicológicos do investigador Conforto com as regras e princípios para conduzir a pesquisa, baixa tolerância para ambiguidade, tempo para estudos de curta duração Conforto com a falta de regras específicas e procedimentos para conduzir a pesquisa; alta tolerância para ambiguidade; tempo para estudos longos Natureza do problema Previamente estudado por outros investigadores, pelo que existe um corpo de literatura; variáveis conhecidas, e teorias existentes Pesquisa exploratória, variáveis desconhecidas, contexto importante, pode carecer de uma base teórica para o estudo Audiência do estudo (ex. Editor de jornal e leitores, comunidade académica) Indivíduos acostumados/apoiantes de estudos quantitativos Indivíduos acostumados/apoiantes de estudos qualitativos Fonte: Creswell (1994: 9) UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Tarefas Agora convidamos-te a pensar cuidadosamente no tópico da tua investigação. Registe numa folha de papel e de seguida procure enquadrá-lo num dos paradigmas qualitativo ou quantitativo apresentados na secção prévia. Auto- avaliação Auto-avaliação Agora responda as seguintes questões: 1. Qual o papel dos paradigmas na investigação em ciências sociais e humanas? 2. Em que medida o estudo qualitativo se distingue do estudo quantitativo? 3. Que aspectos o investigador normalmente tem em consideração na escolha de um e de outro paradigma? 20 Chave de correcção Chave de correcção Para responder a primeira pergunta pense na utilidade da seleção de um paradigma para o pesquisador. A segunda questão pode ser facilmente respondida ao se ter em conta o tipo de dados ou informação e a forma como o pesquisador é convidado a apresentar o resultado da sua análise, ou seja, através de números ou texto. A questão três pode ser corretamente respondida ao se olhar para os critérios que dizem respeito ao próprio investigador, ao problema a ser investigado e a audiência do próprio estudo. A seguir são apresentadas as respostas às questões colocadas acima. 1. O papel dos paradigmas na investigação em ciências sociais e humanas é o de facilitar a compreensão dos fenómenos. Os paradigmas na investigação fornecem suposições sobre o mundo social; como a ciência pode ser conduzida; e quais podem ser os problemas, soluções, e critérios legítimos de “prova”. 2. O estudo qualitativo se distingue do estudo quantitativo na medida em que o primeiro busca a compreensão dos problemas sociais ou humanos, baseando-se na construção de uma imagem complexa e holística formada com discursos, relato dos pontos de vista individuais e é conduzido num ambiente/contexto natural, enquanto que o segundo é uma investigação sobre um problema social ou humano com base no teste de uma teoria composta por variáveis, medida por números, e analisada com procedimentos estatísticos, de modo a determinar se a generalização preditiva de uma teoria contém verdade. 3. Para escolher o paradigma quantitativo ou qualitativo o investigador deve ter em conta a sua visão de mundo, a sua formação e experiência, os seus atributos psicológicos, a natureza do problema de investigação e a audiência do seu estudo (ex. editor de jornal e leitores, comunidade académica). UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Bibliografia Complementar Para complementar e consolidar os conteúdos sobre os paradigmas qualitativo e quantitativo de investigação sugerimos as seguintes obras: 1. Neuman, W. L. (2006). Social research methods: Qualitative and quantitative approaches. 6th Ed. Boston, Pearson A and B. Pp. 151- 178. 22 Unidade Didáctica nº3 Pressupostos teóricos e metodológicos da investigação educacional Introdução Nesta unidade pretende-se abordar os pressupostos que dão suporte as diferentes abordagens da pesquisa. O estudo desta unidade é de crucial importância porque nenhuma pesquisa que clame ser científica poder sê-lo se não for fundamentada teórica e metodologicamente. Assim, o estudante é munido de habilidades que o irão orientar durante processo de investigação e na seleção de conceitos, hipóteses, técnicas de recolha e tratamento de dados Objectivos Ao completar esta unidade, você será capaz de: Descrever a importância do Quadro Teórico da Pesquisa; Distinguir as dimensões “subjectiva” e “objectiva” da concepção da realidade, Identificar os paradigmas mais usados na investigação científica. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Fontes de Informação e Recursos de Aprendizagem Aqui nesta unidade vamos falar sobre os pressupostos teóricos e metodológicos da investigação educacional, partindo da fundamentação teórica, seguido da metodologia, terminando no posicionamento dos paradigmas relativamente à algumas questões chaves (natureza e essência dos fenómenos; natureza e formas de conhecimento). Para que entendas os conteúdos discutidos nesta unidade é imprescindível que leias Gomes, A. A. (2001). Considerações sobre a pesquisa científica: Em busca de caminhos para a pesquisa científica. Revista da Toledo, Vol. 5. Pp. 61-81 e, Mutumucuio, I. V. (2008). Módulo: Métodos de Investigação. Maputo, CDA-UEM/Cooperação Italiana. Pp. 23-25. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO EDUCACIONAL I. Fundamentação Teórica Toda a pesquisa é fundamentada sob uma base teórica. A partir dela, elaboram-se os pressupostos que darão suporte à abordagem da pesquisa; e destacam-se os itens a serem desenvolvidos, como por exemplo, a contextualização do problema por meio de pesquisa bibliográfica. Questões relativas ao tipo de realidade a ser pesquisada e o quadro teórico da pesquisa são importantes. A teoria científica é constituída por leis, hipóteses, e conceitos. As teorias têm um caráter explicativo ainda mais geral que as leis, e também um carácter conjuntural, sendo passível de correção e aperfeiçoamento, podendo ser substituída por outra que explique melhor os fatos. Uma teoria científica refere-se a objetos e mecanismos ocultos e desconhecidos (Gomes, 2001). Na tabela a seguir são apresentadas as dimensões subjectiva e objectiva da concepção da realidade. Tabela 1: Análise das dimensões “Subjectiva” e “Objectiva” da concepção da Realidade (Mutumucuio, 2008) 24 Abordagem Subjectiva (pró-ciências sociais) Abordagem Objectiva (pró-ciências naturais) - Realidade é resultado da cognição individual. Portanto é subjectiva. - Criação da mente: a realidade social é algo que é construído e interpretado por pessoas e reforçada durante a interacção interpessoal. - Objectos do pensamento são palavras e seus significados. Nominalis mo ← Ontologia (natureza e essência de fenómenos investigados) → Realismo - Realidade externa ao indivíduo. - Mundo de fenómenos naturais é real e externo ao indivíduo. - Existência independnte da consciência do conhecedor - Conheciment o é subjectivo.- Conheciment o baseado essencialmen te numa experiência pessoal. - Investigador envolve-se com os sujeitos investigados Anti- positivismo ← Epistemologi a (natureza e formas de conhecimento , sua construç ão e comunicação) → Positivis mo - Conheciment o é adquirido através de métodos adequados. - Todo o conhecimento genuíno está baseado na experiência sensorial e pode somente ser obtido por meio de observação e experimentaç ão. Investigador é observador das regularidades da natureza UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Abordagem Subjectiva (pró- ciências sociais) Abordagem Objectiva (pró-ciências naturais) - Sujeito é objecto do seu estudo. - Criador e controlador do seu ambiente - Iniciador de suas acções Voluntaris mo ← Relação Homem- Ambient e (modelo do investigad or) → Determinis mo -Eventos têm causas. Eles são determinados por outras circunstância s. - A ciência progride na crença de que as ligações causais poderão ser descobertas e compreendid as. - Eventos tanto são explicáveis em termos dos seus antecedentes, como também existe regularidade sobre o modo como são determinados -Observação participativa - Entrevistas -Análise e compreensão do modo como o homem cria, modifica e interpreta o mundo à sua volta - Compreender e explicar o o que é único ou particular ao indivíduo/comun idade Ideográfico (métodos desenhados para compreende r comportam ento individual) ← Metodolo gia → Nomotétic o (métodos desenhado s para descobrir leis gerais) - Experiências - Censos - Análise de relações e regularidades entre variáveis/fact ores -Investigação quantitativa -Descobrir modos de expressar relações e regularidades - Procura de leis universais que explicam e governam a realidade em estudo 26 II. A metodologia Gomes (2001: 4) define metodologia como sendo “o estudo analítico e crítico dos métodos de investigação e de prova”. A metodologia é um instrumento que nos permite selecionar opções teóricas mais claras e seguras. Tem como tarefa fundamental, avaliar os recursos metodológicos, assinalar suas limitações e, explicitar seus pressupostos e as consequências de seu emprego. O conhecimento só poderá ultrapassar a fronteira do senso comum, desde que seja sistematizado através de uma metodologia científica. A metodologia deve apoiar-se na Epistemologia. A metodologia científica é entendida como sendo uma disciplina relacionada à filosofia da ciência, com o objectivo de analisar os métodos científicos, avaliar suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua utilização, permitindo deste modo a superação do conhecimento acrítico e imediatista (senso comum) e a ideologia, e a obtenção de um conhecimento sistematizado, coerente e crítico. No que se refere à sua aplicação, a metodologia lida com a avaliação de técnicas de pesquisa e com a geração ou a experimentação de novos métodos que permitam captar e processar informações e resolver diversas categorias de problemas teóricos e práticas de pesquisa. Além de estudar os métodos, a metodologia é também uma forma de fazer pesquisa, ou seja, como conhecimento geral e habilidade que orientam o pesquisador no processo de investigação, tomada de decisões oportunas, seleção de conceitos, hipóteses, técnicas e dados adequados. III. Posições dos paradigmas quanto a algumas questões chave Cada paradigma assume uma posição ou postura diferente quanto às questões sobre o objectivo investigativo, a natureza do conhecimento, o acúmulo de conhecimento, os critérios de qualidade, os valores, a ética, a voz (postura do investigador). A tabela que se segue apresenta as crenças básicas dos paradigmas mais usados na investigação. Tabela 2: Crenças básicas de alguns paradigmas mais usados na investigação (Mutumucuio, 2008) UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Questões Positivismo Teoria Crítica Construtivismo Participativo (Pós-positiva, Pós- criticalista) Ontologia (natureza e essência de fenómenos investigados) Realismo: realidade ‘real’ e objectiva, mas inteligível Realismo histórico: realidade virtual influenciada por valores sociais, políticos, económicos, étnicos, de género cristalizados ao longo do tempo. Relactivismo: local e realidades construídas pela mente humana Realidade participativa: a realidade é subjectiva- objectiva, co- criada pela mente e por dado cosmos Epistemologia (natureza e formas de conhecimento, sua construção e comunicação) Objectivista: descobertas verdadeiras, saber experimental Subjectiva Subjectivista, descobertas criadas por mentes verdadeiras Subjectividade crítica na transacção participativa com o cosmos Metodologia Experimental, manipuladora, quantitativa: - Experiências - Censos - Análise de relações e regularidades entre variáveis/factores - Investigação quantitativa -Descobrir modos de expressar relações e regularidades - Procura de leis universais que explicam e governam a realidade Hipóteses, perguntas de pesquisa, métodos baseados no contexto Hipóteses, perguntas de pesquisa, métodos baseados no contexto: - Observação participativa - Entrevistas -Análise e compreensão do modo como o homem cria, modifica e interpreta o mundo à sua volta Compreender e explicar o que é único ou particular ao indivíduo/comunidade Participação política na verificação das hipóteses, métodos qualitativos. 28 Tarefas Reveja atentamente a tabela 1, e procure ver em qual das dimensões de concepção da realidade você se encaixa como investigador e argumente a sua escolha. Auto- avaliação Auto-avaliação Gostaríamos agora que respondesse as seguintes questões: 1. Para que serve a teoria ou quadro teórico? 2. Que elementos fazem parte de uma teoria que seja científica? 3. Em qual das dimensões (subjectiva ou objectiva) podemos encaixar a realidade educacional? UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Chave de correcção Chave de correcção A resposta à primeira questão pode ser encontrada se pensar naquela que é a função principal da teoria na investigação. Para responder a segunda questão reflicta em possíveis fenómenos educacionais, sua origem e a forma como se pode gerar conhecimento sobre esses fenómenos. A seguir são apresentadas as respostas as questões formuladas acima. 1. A teoria ou o quadro teórico são úteis pois ajudam-nos a elaborar os pressupostos (teses e/ou argumentos) que darão suporte à abordagem da nossa pesquisa e na contextualização do problema de pesquisa por via da pesquisa bibliográfica. 2. Uma teoria que seja científica deve conter os seguintes elementos, nomeadamente, as leis, as hipóteses e os conceitos. Bibliografia Complementar Sugerimos alguma bibliografia adicional para complementares a aprendizagem sobre os pressupostos teóricos da investigação educacional. 1. Neuman, W. L. (2006). Social research methods: Qualitative and quantitative approaches. Boston, Pearson A and B. Pp. 49-78. 30 Unidade Didáctica nº4 Pesquisa Qualitativa e Quantitativa Introdução Nesta unidade vamos falar sobre a natureza da pesquisa qualitativa e quantitativa e procedimentos para levar a cabo tanto um como outro tipo de pesquisa. O estudo desta unidade é importante porque possibilitará que desenvolva habilidades de pesquisa que o tornarão um bom investigador.Objectivos Ao completar esta unidade, você será capaz de: Identificar os aspectos que caracterizam a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa; Elaborar um problema de investigação; Desenhar e seleccionar a amostra de um estudo; Identificar as ttécnicas e instrumentos de recolha de dados; Identificar a rresponsabilidade social e ética do investigador; Analisar os dados colectados durante a investigação e apresentar os resultados do estudo; Escrever devidamente as referências bibliográficas citadas ao longo do estudo; Redigir um Relatório de Pesquisa. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Fontes de Informação e Recursos de Aprendizagem Nesta unidade iremos falar da natureza das pesquisas qualitativa e quantitativa de modo a prepará-lo para adoptar qualquer um dos modelos na sua investigação ou combiná-los. Para tal leia as obras de Punch, K. F. (2005). Introduction to social research. Quantitative and qualitative approaches. London, SAGE Publications. Pp. 276-279; Maree, K. (Ed.) (2007). First steps in research. Pretoria, Van Schaik Publishers. Pp. 172- 181; Cohen, L., Manio, L. & Morrison, K (2000). Research methods in education. 5th Ed. London, Routledge Falmer. Pp. 245-292, 306-316; e Mutumucuio, I. V. (2008). Módulo: Métodos de Investigação. Maputo, CDA-UEM/Cooperação Italiana. Pp. 76-77. PESQUISA QUALITATIVA E QUANTITATIVA I. A Pesquisa Qualitativa Modelos de Pesquisa Qualitativa Na abordagem qualitativa, os investigadores procuram entender com profundidade as características da pesquisa que desenvolvem de modo a obter uma compreensão profunda sobre como as coisas são, porque é que são desta forma, e como é que os participantes no contexto as percebem. A escolha do modelo de pesquisa é baseada na pretensão do investigador, nas suas habilidades para investigação, nas práticas de pesquisa que influencia a forma como este irá recolher os dados. Existe uma variedade de modelos de pesquisa que um investigador pode selecionar para gerar o tipo de dados requeridos para responder as perguntas de pesquisa previamente colocadas. São seis os modelos de pesquisa qualitativa discutidos na literatura sobre investigação, nomeadamente, estudos conceituais; investigação histórica; investigação acção; estudo de caso; etnografia; e teorização. Na tabela a seguir apresentamos detalhadamente os modelos de pesquisa qualitativa referidos anteriormente. Tabela 1: Modelos de Pesquisa Qualitativa 32 Modelo de Pesquisa Descrição Estudos Conceituais O estudo conceptual tem como finalidade gerar conhecimento a partir da análise crítica de conceitos e sua compreensão. Os conceitos são centrais para a busca de conhecimento, na medida em que constituem a base sobre a qual as teorias são construídas. Exemplo: Contribuição ao estudo de um modelo conceitual de sistema de informação de Gestão Estratégica. O investigador pretende propor um modelo conceitual de sistema de informação específico para dar suporte ao processo de gestão estratégica das organizações. Para tal apresentará discussões sobre o conceito a partir da literatura, revisões bibliográficas. O modelo conceitual basear-se-á na percepção e experiências do investigador. Investigação Acção É usada pelos investigadores para procurar soluções para os seus próprios problemas. O objetivo é ajudar o investigador a mudar ou a melhorar as suas práticas ou a compreender os seus próprios problemas. Exemplo: Como é que eu lido com linguagem inapropriada (rude) usada pelos meus alunos da 8ªclasse? O problema é a linguagem rude; o professor pode procurar identificar as razões por detrás do comportamento dos alunos e delinear estratégias para remediar o problema e ajudá-los a melhorar. Investigação Histórica A investigação histórica envolve o estudo, a compreensão e a interpretação de eventos passados. O foco principal são pessoas singulares influentes (representantes da memória coletiva, institucional ou da comunidade), assuntos sociais importantes (ex. a degradação de valores morais), e ligações entre o novo e o velho (ex. comparação de métodos tradicionais e contemporâneos de ensino: aulas expositivas; aulas seminariais). Exemplo: Tendências do ensino de leitura na escola primária entre 1980 e 2000. O foco temporal é o período 1980-2000, e o do conteúdo é a leitura na escola primária. Aqui se podem examinar os livros de leitura, os movimentos educacionais, e os resultados do desempenho dos alunos. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Modelo de Pesquisa Descrição Estudo de Caso O estudo de caso é uma investigação sistemática sobre um evento ou um conjunto de eventos relacionados, com o objectivo de descrever e explicar o fenómeno de interesse. O estudo de caso oferece múltiplas perspectivas de análise, a dos participantes na situação, mas também a visão de outros grupos de actores relevantes, permitindo assim chegar a uma compreensão profunda das dinâmicas da situação. O caso pode ser um indivíduo, ou um pequeno grupo, ou uma organização, ou uma comunidade, ou uma nação. As unidades de análise podem ser: atributos dos indivíduos, acções e interacções, resíduos e artefactos de comportamentos, locais, incidentes e eventos. Exemplo: Exame das condições de vida de um aluno repetente da 2ª classe. O investigador procura compreender o ambiente positivo ou negativo que circunda o aluno e que de algum modo possam influenciar o seu desempenho. Por exemplo, o nível sócio-económico, escolaridade dos pais, profissão dos pais, visão dos pais sobre a educação, etc. Avaliação da estrutura de funcionamento das instituições de ensino superior em Maputo. O estudo começa com uma pergunta e o investigador deverá definir as unidades de análise a prior. Aqui se podem comparar as similaridades e diferenças na estrutura de funcionamento (administração, gestão, RH, serviços, etc.) de duas ou mais instituições de ensino superior que se encontra em Maputo. Etnografia É o estudo do sistema social e cultural de uma comunidade ou grupo no seu ambiente natural. Normalmente, o etnógrafo passa muito tempo no local de pesquisa, pois só assim pode estudar a vida das pessoas a partir do seu ambiente natural. O objectivo é descrever a cultura ou modo de vida dos participantes a partir da perspectiva dos sujeitos investigados dando sentido aos seus gestos, símbolos, músicas, relatos e tudo o que possui algum significado implícito ou tácito nessa cultura. Exemplo: O estudo da cultura de estudantes hispânicos num colégio comunitário urbano. O estudo começa com uma pergunta geral, e o local da pesquisa num colégio comunitário com estudantes hispânicos. O investigador deverá ter acesso ao colégio escolhido e estabelecer empatia com os participantes do estudo. O investigador deverá simultaneamente recolher e interpretar os dados recolhidos de forma a estar sempre em concordância com a pergunta enunciada. Normalmente usam-se observações e entrevistas. 34 Modelo de Pesquisa Descrição Teorização É um método, uma perspectiva, uma estratégia de pesquisa cujo propósito é gerar uma teoria a partir da imersão nos dados, isto é, a partir da análise de vários estágios de recolha e interpretação de dados. O objectivo do investigador é identificar temas, padrões, e categorias a partir de dados ou tópicos qualitativos. O investigador começa com um tópico geral e recolhe informação a esse respeito e sobre os participantes. Exemplo: Em que medida é que os directores de faculdade valorizam as pesquisas levadas à cabo pelas faculdades? Entrevistando os chefes de departamento é possível desenvolver-se uma teoria relacionando categorias sobre influência da direcçãono desempenho da faculdade na área de investigação. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE I.I Princípios da Recolha de Dados Qualitativos 1. A pesquisa qualitativa é naturalistica A pesquisa qualitativa é baseada numa perspectiva naturalística que procura compreender o fenómeno no contexto da sua ocorrência/manifestação e o investigador não manipula o fenómeno. Por outras palavras, a pesquisa é levada à cabo em situações da vida real e não em situações experimentais. Consequentemente, técnicas como observação e entrevistas são dominantes no paradigma naturalístico (interpretativo). 2. O papel do investigador A pesquisa qualitativa aceita a subjetividade do investigador como algo que não pode ser eliminado e vê o investigador como um “instrumento de pesquisa” no processo de recolha de dados. 3. Amostragem A pesquisa qualitativa é geralmente baseada na amostragem por conveniência e não-probabilística, o que significa que os participantes são selecionados porque possuem alguma característica que os faz detentores dos dados requeridos para o estudo. A decisão sobre a amostragem por conveniência não se restringe à selecção dos participantes, mas também envolve os locais, eventos e actividades, e incidentes a serem incluídos na recolha de dados. 4. Validade e Fidelidade Na pesquisa qualitativa o investigador é o instrumento de recolha de dados. Deste modo, quando o investigador fala sobre validade e fiabilidade da pesquisa, ele está se referindo à uma pesquisa que é credível e fiável. O uso de múltiplos métodos de recolha de dados, tais como observação, entrevistas e análise documental, e o envolvimento de vários investigadores na interpretação dos dados vai de encontro a estes 2 conceitos. 5. Cristalização A realidade que emerge resulta das várias técnicas de recolha e análise de dados e representa a nossa compreensão reinterpretada dos fenómenos. Analisar os fenómenos profundamente e vê-los numa variedade de formas, dimensões e ângulos permite a cristalização da nossa compreensão profunda dos mesmos. 36 II. A Pesquisa Quantitativa Definição: Pesquisa quantitativa é um processo que é sistemático e objectivo na sua forma de usar dados numéricos a partir apenas de um subgrupo selecionado do universo (população) para generalizar os resultados para esse universo considerado. Conceitos fundamentais: População Amostra Variáveis (ex. medições ou observações feitas numa unidade da amostra) Validade (mede o que é suposto medir) Fiabilidade (tem a ver com a consistência de uma medição ao longo do tempo) Tipo de dados: Dados normalmente vêm de 4 escalas de medição (à escala de aumento quantitativo de informação): Nominal – ex. o género de um indivíduo (M ou F), a cor de um carro (branco, azul,…) Ordinal – ex. o tamanho de uma peça de vestuário (S, L, XL), a classe de uma pessoa (10ª) Intervalar – ex. a temperatura: a diferença entre10ºC e 20ºC Rácio – ex. o tempo, a altura, o volume, o peso, têm ponto zero de onde começam a contar. Os modelos de pesquisa quantitativa comumente apresentada na literatura são: Pesquisa Experimental Pesquisa Quasi-Experimental Pesquisa Não-Experimental (Correlacional ou Ex-Post-Fact) Pesquisa de Opinião (Senso) Pesquisa Não-Reactiva UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Tabela: Modelos de Pesquisa Quantitativa Modelo de Pesquisa Descrição Pesquisa Experimental Ex: Medir o nível de conhecimento dos alunos relativamente as operações matemáticas.. É a forma mais pura de pesquisa quantitativa, usada nas Ciências Naturais (Química e Física) e nas ciências aplicadas (Agricultura, Engenharia, e Medicina). A lógica que guia o experimento sobre o crescimento das plantas em Biologia ou o teste do metal em Engenharia, em laboratório sob condições controladas, é aplicada em experimentos sobre o comportamento social humano. Embora seja largamente usado em Psicologia, os experimentos são feitos em Educação, Justiça Criminal, Jornalismo, Marketing, Enfermagem, Ciências Políticas, Trabalho Social e Sociologia. Na pesquisa experimental o pesquisador começa com uma hipótese, de seguida modifica algo na situação, e por ultimo comprara o resultado com e sem a modificação. A pesquisa experimental é robusta para testar relações causais porque as três condições para causalidade (ordem temporal, associação, e ausência de uma explicação alternativa) são verificadas no experimento. Pesquisa Quasi-Experimental É uma variação do modelo experimental clássico. Ajuda o pesquisador a testar relações causais numa variedade de situações em que o experimento clássico e difícil ou inapropriado. 38 Pesquisa Não- Experimental Equivalente a pesquisa correlacional onde o pesquisador tem pouco controle sobre o tempo de medição da variável dependente em relação a exposição a variável independente. A variação da variável independente ocorre naturalmente. Pesquisa de Opinião (Senso) É a técnica de colecta de dados mais usada nas Ciências Sociais e noutras ciências aplicadas. Os inquéritos produzem informação de natureza estatística. Pergunta-se a muitas pessoas (respondentes) sobre as suas crenças, opiniões, características, e comportamentos passados ou presentes. Os pesquisadores perguntam sobre muitas coisas de uma só vez, medem várias variáveis com múltiplos indicadores, e testam muitas hipóteses num mesmo inquérito. O censo inclui informação sobre as características de uma população inteira num território. Baseia-se no que as pessoas dizem aos pesquisadores ou no que os pesquisadores observam. Pesquisa Não-Reactiva Ex: Comportamento dos automobilistas perante os sinais de transito. As pessoas que fazem parte da pesquisa não estão cientes de que estão sendo estudadas e, entretanto, naturalmente mostram evidências dos seus comportamentos sociais ou acções. Começa quando o pesquisador nota algo que indica uma variável de interesse. O pesquisador observador faz inferências a partir das evidências do comportamento ou atitudes sem importunar os que estão sendo estudados. III. Amostra: Características e modos de selecção Quatro decisões a tomar acerca de factores-chave na amostragem: 1. O tamanho da amostra 2. A representatividade e os parâmetros da amostra 3. O acesso à amostra 4. A estratégia da amostragem a ser usada 1. O tamanho da amostra Para amostragem aleatória o tamanho da amostra depende: - do tamanho da população e do grau de heterogeneidade desta população - do tipo de pesquisa (inquérito, etnografia). UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 2. A representatividade Ex. Uma afirmação do tipo: “Uma em cada duas pessoas sofre de dores de coluna” revela quão uma amostragem pode ser pobre, não representativa e irrelevante para um investigador. Ex. Uma Neste exemplo algumas variáveis ou parâmetros de representatividade de devem ser tomados em conta, nomeadamente: -o clima (a pesquisa pode ter ocorrido numa zona húmida ou enevoada, propensa de ter índices altos da doença) -a idade dos sujeitos (numa zona de população maioritariamente velha) -a sua ocupação (numa zona industrial em que muitas pessoas trabalham tanto) -o facto reportado (os dados referem-se a uma pesquisa efectuada com apenas 2 médicos) 3. O acesso à amostra Exemplos de amostra impraticáveis e/ou inacessíveis: -“Investigação das causas de existência de muitos vagabundos/vadios e faltosos numa escola!” -“Acesso a áreas sensíveis ou problemáticasem termos legais como vítimas de abuso sexual de menores, violadores de menores, fumadores de drogas, activistas de aconselhamento de HIV/SIDA, etc” -“Médicos e professores em serviço” -“Pessoas que tenham feito uma descoberta mas que pretendem proteger o seu produto” -“Propriedades intelectuais” - Etc. Considere todos estes casos na planificação da sua pesquisa porque o acesso lhe pode ser negado! Mais: nem sempre o acesso às fontes é suficiente; precisa ter o acesso à informação! 4. A estratégia ou modo de selecção Duas estratégicas básicas: Probabilística (também conhecida como aleatória) – onde as chances dos membros da população de serem escolhidos para a amostra são conhecidas; todos os membros têm mesmas possibilidades de serem inclusas na amostra. Ser ou não incluso é apenas uma questão de chance. Não-probabilística (objectiva, deliberada) – onde as chances não são conhecidas. Alguns membros da população terão, definitivamente, de ser excluídos e outros terão que ser inclusos na amostra. 40 III.I Amostras Probabilísticas 1. Amostragem aleatória simples Cada unidade de população tem a mesma chance de ser seleccionada para a amostra. Não se selecciona a amostra com base no nosso juízo; cada unidade da população tem a mesma probabilidade de ser seleccionada. Existem 2 métodos de selecção aleatória simples: a) O método da lotaria: a cada unidade da população N atribui-se um número, por ex. de 1 a N. Cada número escreve-se num pedaço de papel. Todos os pedaços de papel são idênticos em tamanho, cor, forma, etc. A seguir retira-se a amostra n. Ex. Seja dada uma escola com 70 professores. Retire dela uma amostra de 13 professores para o seu estudo. b) O método de números aleatórios: Suponha que você esteja para iniciar uma investigação numa escola com 3500 alunos. Neste caso, usa-se uma tabela (a tabela MINITAB) para seleccionar uma amostra de 250 alunos. Faça o exercício; nesta tarefa é suficiente escolher apenas 25 alunos. 2. Amostragem aleatória sistemática Ex. Suponha que na região entro de Moçambique existem 5000 escolas do ensino primário. Como seleccionar 500 escolas para o seu estudo? Usando a tabela MINITAB (Appendix 2: Table of random digits): a) Determine primeiro o intervalo de amostragem: k = 5000/500 = 10. b) Entre na tabela MINITAB (de números aleatórios) numa página e coluna escolhidos ao acaso. Nessa coluna, escolha qualquer posição (número numa posição) entre 1 e k = 10. Seja esta posição 4, isto é, 4587, pois fica na quarta posição da segunda coluna da tabela MINITAB. Este é o primeiro número da sua amostra. c) Escolha sucessivamente os outros números até 500 do seguinte modo: Posição r + k, posição r + 2k, posição r + 3k, posição r + 4k, etc. N.B. Para este exercício 10 números são suficientes. Salte, ou seja, não conte os números superiores a 5000, pois não pertencem à sua população. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 3. Amostragem estratificada É utilizada quando a população é constituída por vários subgrupos como, por ex., homens, mulheres, idades, grupos étnicos, grupos de interesse, camadas sociais, etc. Cada subgrupo chama-se estrato. Considere a tabela seguinte da população de Taiwan em 2003. Idade Total Homens Mulheres 0-4 1 602 000 830 000 772 000 5-9 1 950 000 1 005 000 945 000 10-14 1 975 000 1 016 000 958 000 15-19 1 814 000 929 000 885 000 20-24 1 916 000 982 000 934 000 25-29 1 972 000 1 001 000 961 000 30-34 1 843 000 941 000 902 000 35-39 1 604 000 818 000 785 000 40-44 1 020 000 521 000 499 000 45-49 913 000 464 000 449 000 50-54 825 000 415 000 410 000 55-59 769 000 416 000 353 000 60-64 708 000 415 000 293 000 + de 64 1 197 000 636 000 562 000 Total 20 107 000 10 399 000 9 709 000 Existem 14 grupos etários em cada um dos sexos perfazendo um total de 28 estratos. a) Suponha que queremos uma amostra total de 5000 pessoas entre as idades dos 0 aos 4 anos. Quantas pessoas do género masculino e quantas do género feminino devem entrar na amostra? Aloca-se proporcionalmente: 830 000/ 20 107 000 = 0.0413. Significa que temos 4,13% de homens 772 000/ 20 107 000 = 0.0384. Temos 3,84% de mulheres A seguir, usando a amostragem aleatória simples, escolhe-se (determina- se) 4,13% de 5000 (homens) e 3,84% de 5000 (mulheres). b) suponha agora que queremos uma amostra de 5000 pessoas entre as idades de 40 a 44 anos. Quantas pessoas de ambos os sexos devem entrar na amostra? 42 III.II Amostras Não-Probabilísticas Aqui, as chances de os sujeitos pertencerem à amostra não são conhecidas; alguns membros da população terão, definitivamente, de ser excluídos e outros terão que ser inclusos na amostra. 1. Amostragem por quota Esta amostragem é semelhante à estratificada. A diferença reside no facto de que aqui, o investigador não escolhe uma amostra aleatória simples mas aceita quaisquer sujeitos/elementos/unidades acessíveis até à satisfação da amostra (quota) do subgrupo. Já não se usa o termo estrato, mas sim subgrupo. Ex. Pretende-se uma amostra de 5000 pessoas entre as idades de 35 a 39 anos. Quantas pessoas do género feminino e quantas do género masculino entrariam na amostra? 2. Amostragem por conveniência É um tipo de amostra em que os sujeitos são escolhidos pela sua particularidade de reunirem as características essenciais e únicas para pertencerem à amostra. 3. Amostragem por clusters Cada cluster (grupo) contém todas as características da população (homens e mulheres de todas as idades, camadas sociais, níveis de escolaridade, etc.). Usa-se mais quando a população está dividida em regiões, localidades, estradas, etc. Depois de optar pelos clusters, aplica- se uma amostragem aleatória simples. IV. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados Os instrumentos comumente utilizados na pesquisa social e educacional são o questionário, a entrevista e a observação. O investigador deve destacar que tipos de dados irá utilizar em sua pesquisa (dados primários e dados secundários). Dados primários são aqueles que o investigador recolhe em primeira mão, ou seja, aqueles que não foram antes recolhidos. Dados secundários são aqueles que já foram recolhidos por outros, já foram ordenados, processados, tabulados e às vezes até analisados, com outros propósitos (dados do censo). UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE 1. O Questionário É um conjunto de perguntas, feito para gerar dados necessários para se verificar se os objectivos de um projecto foram atingidos. A construção de um questionário é considerada uma “arte imperfeita”, pois não existem procedimentos exactos que garantam que os seus objectivos de medição sejam alcançados com boa qualidade (Aaker et al., 2001). No entanto, existe uma sequência de etapas lógicas que o pesquisador deve seguir para construir um questionário: 1. Planificar o que vai ser mensurado; 2. Formular perguntas para obter as informações necessárias; 3. Definir o texto e a ordem das perguntas; 4. Definir o aspecto visual do questionário; 5. Testar em fase piloto o questionário, usando uma pequena amostra; 6. Corrigir os problemas decorrentes da testagem piloto, se houver algum. Tabela 1: Alguns passos para a construção de um questionário Etapa Passos Planificar o que vai ser mensurado Evidenciar os objectivos da pesquisa Definir o assunto da pesquisa no seu questionário Obter informações adicionais sobre o assunto da pesquisa a partir de fontes de dados secundárias e pesquisa exploratória Determinar o que vai ser perguntado sobre o assunto da pesquisa Formular as perguntas Para cada assunto, determinar o conteúdo de cada pergunta Decidir sobre o formato de cada pergunta Definir o texto na formulação das perguntas Determinar como as perguntas serão redigidas Avaliar cada uma das perguntasem termos de sua facilidade de compreensão, conhecimentos e habilidades exigidos, e disposição dos respondentes. Decisões sobre sequência e aparência Dispor as perguntas numa ordem adequada Agrupar todas as perguntas de cada sub-tópico em sequência lógica para obter um único questionário Fazer uma apresentação de qualidade e atractiva das perguntas para elevar o índice de respostas Testagem Piloto e Correção de erros Ler o questionário inteiro para verificar se faz sentido, e se consegue mensurar, o que está previsto ser mensurado. Verificar possíveis erros no questionário Fazer testagem piloto do questionário Corrigir os problemas detectados 44 1.1. Formulação das perguntas O investigador deve conhecer bem o assunto que vai pesquisar para poder traduzi-lo em conceitos, ou seja, para poder elaborar uma lista de conceitos que se relacionam com o assunto, e para cada um deles extrair duas a três perguntas. Estes conceitos devem estar alinhados com os objectivos, perguntas de pesquisa ou hipóteses. Com relação ao conteúdo das perguntas, pode-se tentar verificar factos, crenças, sentimentos, opiniões, padrões de acção e de comportamento. O investigador poderá reflectir sobre se: A pergunta é realmente necessária? Qual a sua utilidade? A pergunta é suficientemente clara e específica? Várias perguntas são necessárias para explorar o assunto desta pergunta ou uma é o suficiente? Todos os aspectos importantes sobre o assunto serão obtidos da forma como foi elaborada a pergunta? As pessoas têm informação necessária para responder a pergunta? Os respondentes estarão dispostos a dar informação? Que objecções alguém poderia ter para responder esta pergunta? O tema abordado é muito íntimo, perturbador ou expõe socialmente as pessoas, de forma a causar resistências e respostas falsas? O tema é embaraçoso para o respondente por colocar em perigo o seu prestígio, caso seja contrário a ideias socialmente aceites? A pergunta é neutra? Pessoas com opiniões contrárias sobre o assunto não a considerarão tendenciosa? A pergunta contém opiniões ou julgamentos relacionados com o assunto? 1.2. O formato das perguntas/respostas As perguntas podem ser: Abertas – onde os respondentes ficam livres para responderem com suas próprias palavras, sem se limitarem à escolha entre um rol de alternativas. Múltipla Escolha – onde os respondentes optarão por uma das alternativas, ou por determinado número permitido de opções. Dicotómicas – onde os respondentes têm apenas duas opções de respostas, de carácter bipolar, do tipo sim/não; concordo/não concordo; gosto/não gosto. Por vezes uma terceira alternativa é oferecida, indicando desconhecimento ou falta de opinião sobre o assunto. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Tabela 2: Algumas vantagens de cada formato de respostas Tipo de Perguntas Vantagens Abertas São úteis para a exploração de um determinado tema pois deixam o respondente mais livre e à vontade para responder usando uma linguagem própria; Têm menor poder de influência nos respondentes do que as perguntas com alternativas previamente estabelecidas; Exigem menor tempo de elaboração; Proporcionam comentários, explicações e esclarecimentos significativos para se interpretar e analisar o assunto em estudo. Múltipla Escolha Facilidade de aplicação, processamento e análise; Facilidade e rapidez no acto de responder; Apresentam pouca possibilidade de erros de interpretação de respostas; Diferentemente das dicotómicas, trabalham com diversas alternativas; Resultados facilmente compilados. Dicotómicas Rapidez e facilidade de aplicação, processamento e análise; Facilidade e rapidez no acto de responder; Apresentam pouca possibilidade de erros; São altamente objectivas. 1.3. Alguns Exemplos 1.3.1. Perguntas Abertas i) Qual é a sua opinião quanto aos factores que influenciam o desempenho do aluno? ii) Na sua opinião, quais são as principais causas do insucesso escolar em Moçambique? 1.3.2. Perguntas de Escolha Múltipla Algumas dicas: Incluir em cada pergunta apenas uma ideia chave de modo claro, retirando o excesso de palavras nas opções; Construir opções distraidoras comparáveis à resposta certa em termos de comprimento, complexidade cognitiva e forma gramatical; Procurar não exceder quatro opções bem construídas em cada pergunta; Incluir a opção “outra” no conjunto de respostas alternativas, caso tenha poucas opções; Evitar a inclusão de frases ou introduções não funcionais (frases supérfluas). 46 i) Numa avaliação objectiva, o termo “objectiva” refere-se ao método de: A. Identificação dos resultados da aprendizagem; B. Selecção do conteúdo do teste; C. Apresentação dos problemas; D. Correcção das respostas. ii) Que cor faz parte da bandeira de Moçambique? A. Azul B. Laranja C. Amarelo D. Cinzento iii) O calor é: A. a energia contida num corpo a qualquer temperatura B. a energia em transferência entre dois corpos a temperaturas diferentes C. a temperatura de um corpo a qualquer energia D. Outra. Qual?_____ 1.3.3. Perguntas Dicotómicas i) Você é favorável ou contrário à prática da magia negra? A. Favorável _____ B. Contrário_____ ii) A presidência da associação de estudantes deve ou não recandidatar-se anualmente? A. Sim____ B. Não____ iii) Você é favorável ou contrário à prática da magia negra? A. Favorável _____ B. Contrário_____ C. Não sei____ 1.3.4. Escalas A escala é usada quando se aplica um questionário fechado (múltipla escolha ou dicotómicas) para medir aspectos como, por exemplo, atitudes ou opiniões do público-alvo. A escala comumente usada é a escala de Likert. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE A escala de Likert apresenta uma séries de proposições, geralmente em número ímpar, das quais o respondente deve selecionar uma. Para tal, o investigador deverá: Decidir se pretende usar opções pares ou ímpares (pretende forçar o respondente a tomar uma posição ou aceitar a sua indiferença/neutralidade?); Dar a cada opção um significado claro e distinto do das restantes opções; Evitar proposições/frases com formulação negativa. Exemplos: i) Os serviços do Banco Barclays são bons: A. Concordo muito B. Concordo C. Discordo D. Discordo muito ii) A Matemática é muito difícil: A. Concordo muito B. Concordo C. Não concordo e nem discordo D. Discordo E. Discordo muito iii) Avalie o seu grau de satisfação como profissional da educação no desempenho de algumas tarefas. Escolha um valor na escala de 1 (Muito satisfeito) a 5 (Muito insatisfeito). 1 (Muito satisfeito) 2 3 4 5 (Muito insatisfeito) a. Leccionação b. Avaliação dos Estudantes c. Tarefas administrativas 48 1.4. O texto na formulação das perguntas Na formulação das perguntas deve-se cuidar para que as mesmas tenham o mesmo significado tanto para o pesquisador como para o respondente, uma vez que a sua formulação tem efeito sobre as respostas. Portanto: Use comunicação simples e palavras conhecidas; Não utilizar palavras ambíguas; Incluir somente uma ideia em cada pergunta; Garantir que cada pergunta possa ser respondida por uma única opção. 1.5. A sequência das perguntas A ordem na qual as perguntas são apresentadas pode ser crucial para o sucesso da pesquisa, pelo que Mattar (1994)1 recomenda: Iniciar o questionário com uma pergunta aberta e interessante para deixar o respondente mais à vontade e assim ser mais espontâneo e sincero ao responder as restantes perguntas; Usar temas e perguntas gerais no início do questionário, deixando as perguntas específicas para depois; As perguntas mais pessoais, sensíveisou que possam ser embaraçosas devem ser feitas somente no final do questionário e alternadas com perguntas simples; Adoptar uma ordem lógica de perguntas. 1.6. Apresentação e Lay-out do questionário (características físicas) O investigador deverá decidir sobre: O número de páginas; Qualidade do papel e da impressão; Tipos e tamanhos de letras; Posicionamento e tamanho dos espaços entre perguntas; Cores da tinta e do papel para as respostas; Espaço para resposta de cada pergunta; Impressão em frente e verso ou face única. 1.7. Testagem piloto do questionário Depois de se conceber o questionário é importante fazer o teste piloto do questionário porque é provável que não se consiga prever todos os problemas e/ou dúvidas que possam surgir durante a aplicação do questionário. Só deste modo é que será possível conhecer as limitações dos instrumentos e proceder-se a sua revisão/alteração. O teste piloto do questionário pode ser feito administrando-o a um pequeno grupo de respondentes com as mesmas características da amostra. UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE A análise do teste piloto deverá incidir sobre os seguintes erros: Complexidade das questões; Ambiguidade ou linguagem inacessível aos respondentes; Perguntas supérfluas; Perguntas que causem embaraço aos respondentes; Excesso de perguntas sobre um assunto; Etc. NB: O teste piloto serve para analisar se o questionário possui: i) Validade, isto é, se os dados recolhidos respondem às perguntas de pesquisa/hipóteses da pesquisa; ii) Fidedignidade/Consistência, isto é, se qualquer pessoa que o administre a outra amostra com as mesmas características obterá as mesmas respostas; iii) Operactividade, isto é, se o vocabulário é claro e acessível aos respondentes. 2. A Entrevista Tenha preâmbulo Toda a entrevista deve ter preâmbulo que lembre as pessoas sobre o acordado, e o objectivo da entrevista. Isto elimina incompreensões. Ex: “Na minha carta referi que estou interessado no uso pelos professores de avaliação informal. Por avaliação informal pretendo dizer que é a avaliação que não é registada ou transmitida para outra pessoa...”. O preâmbulo pode parecer longo no papel, mas fale sobre ele em breve; não a leie e use contacto visual para se certificar de que o entrevistado está a lhe ouvir. Faça perguntas de incitação Ajudam as pessoas a falar sobre o que sabem, mas que ainda não o mencionaram, mas não devem “colocar palavras nas bocas das pessoas”. Elas se devem referir ao que as pessoas já disseram ou pretenderam dizer, para clarificar, mas não como regra para justificar ou defender suas posições. Atenção: não faça perguntas de confrontação (deixe estas para os políticos ou entrevistadores de TV) e não coloque questões sobre vários assuntos na mesma pergunta. 50 A primeira pergunta A 1ª pergunta é importante. Deve servir para as pessoas notar em que ritmo irá falar. Não deve ser muito desafiadora e nem muito mais importante do que o resto da entrevista. Comece por ex. assim: “Como eu disse, estou interessado em perseguição no seu local de trabalho. É alguma coisa que lhe afecta a si pessoalmente? Tem consciência dela aqui no seu serviço? É um problema para esta escola?”. Deverá servir para aferir que tipo de entrevistado terá pela frente (nervoso, falador, opinativo, etc). Redacção das perguntas 1. Use linguagem apropriada: evite por ex. dizer “curriculum efectivo na sala de aulas” quando quer dizer “bom ensino e aprendizagem” 2. Use palavras claras: Evite perguntar: Dá TPC regularmente? Porque ‘regularmente’ pode ter vários significados. 3. Evite perguntas sugestivas: Ex. “Você acha que....” , “Você concorda que....”, etc. Também evite dar poucas oportunidades. Ex. “Você prefere conduzir de manhã ou de tarde” – muitos lhe dirão que em ambos os períodos. 4. Distinga factos da ficção: pergunte sobre o que as pessoas sabem antes de perguntar sobre o que pensam a respeito disso. Use tácticas verbais e não-verbais Tácticas verbais: Embora soem mal na gravação, elas são muito úteis para encorajar o entrevistado a falar. Ex: “Bom” “Certo”, “Exacto”, “Ok”, “Sim, isso é interessante”, etc. Tácticas não-verbais: O contacto visual: não se mantenha alheio ao seu entrevistado visualmente e nem permaneça constantemente fixo nos seus olhos; procure um equilíbrio. A dosagem do tempo: É descortês interromper o entrevistado porque quer passar para outra pergunta. No entanto, use com ligeireza sinais não verbais (pegar nos papéis, encostar-se à cadeira, desviar o olhar, etc.) para mostrar que está preparado para ouvir outro assunto. O tom da voz e velocidade do discurso: fale em breve para indicar que “isto é matéria factual para ser tratada em breve” ou mais devagar para sugerir que “isto precisa de um raciocínio e está preparado para esperar por uma resposta refletida”. Esteja preparado para catástrofes Algumas pessoas irão tentar colocar-lhe à prova pondo em risco o sucesso da sua entrevista; esteja preparado para enfrentar, com cortesia, perguntas como: UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Realmente não sabia que me ia entrevistar: com isto querem dizer que estão preocupados com a confidencialidade e anonimato ou sabem pouco sobre o assunto da entrevista. Procure convencê-los mostrando a importância dos seus pontos de vista. Você concorda com isso? Ou O que você pensa? Diga simplesmente “não lhe posso responder agora durante a entrevista”. (Entretanto, não diga nada depois porque pode dizer a outras pessoas que ainda pretende entrevistar). A quem mais entrevistou? Responda: “não posso dizê-lo. Lembre-se que a entrevista é anónima e nem vou dizer a ninguém que lhe entrevistei a si”. O que é que as pessoas têm estado a dizer? Diga: “Até agora entrevistei poucas pessoas e ainda não há nenhum padrão claro de respostas”. A última pergunta No fim da entrevista, faça uma pergunta bastante suave e aberta: “Haverá alguma coisa que gostaria de acrescentar acerca deste tema que não lhe tenha perguntado?” - Isto é feito por questões de cortesia, mas também porque durante a entrevista a discussão pode ter despertado ao entrevistador um pensamento mais profundo acerca do tema. Para terminar pergunte: o “Há alguma coisa que gostaria de me perguntar?” (As pessoas poderão lhe perguntar como vai a sua pesquisa, o que tem encontrado, ..etc. Seja comedido porque poderão dizer isto a pessoas que ainda vai entrevistar.) Naturalmente, por fim: “Muito obrigado pelo seu tempo e pela sua valiosa contribuição.” V: Ética na Investigação: Responsabilidade Social e Ética do Investigador Toda a pesquisa social envolve aspectos éticos, porque implica recolher informação das pessoas e sobre pessoas. A proposta de pesquisa deve antecipar as questões éticas que a pesquisa levanta e deverá mostrar como estas questões serão tratadas ou contornadas. Questões éticas podem surgir tanto na pesquisa quantitativa, como na pesquisa qualitativa, apesar de serem mais propensas a ocorrer no segundo modelo de pesquisa, uma vez que algumas pesquisas qualitativas lidam com assuntos muito sensíveis, íntimos e profundos das vidas das pessoas o que, inevitavelmente, faz com que as questões éticas acompanhem a recolha desta informação. 52 A. Premissas básicas para uma investigação: Uma pesquisa envolvendo pessoas é uma intrusão na vida dos respondentes, uma vez que estes são solicitados a revelar informação a um estranho. Por essa razão, a sua participação deverá ser voluntária; Peça sempre permissão (por escrito e/ou gravado) para levar a cabo a sua investigação; A pesquisa nunca deve prejudicar os respondentes que se voluntariem para participar dela;
Compartilhar