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Direito Administrativo - Intervenção do Estado na Propriedade

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Direito Administrativo
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE
O Estado nos assegura o direito à propriedade, que nos permite usar e dispor livremente dos nossos bens.
Mas, como existem outros indivíduos, que possuem direitos da mesma natureza, o exercício do direito de usufruir da propriedade pode sofrer algumas limitações, por parte do poder público. Para o Estado, os interesses da coletividade, como um todo, sempre terão supremacia sobre os interesses privados.
A supremacia estatal permite que o poder público faça intervenções na propriedade privada, regidas por normas de direito público, cuja finalidade é promover e harmonizar os direitos dos indivíduos com os interesses coletivos.
O princípio da função social da propriedade foi inserido no ordenamento jurídico brasileiro na Constituição Federal de 1946, que trouxe uma nova modalidade de desapropriação: A desapropriação por interesse social.
Nessa linha de raciocínio, que fundamentou o surgimento da desapropriação por interesse social, uma propriedade improdutiva, cujo proprietário não explora nem dá qualquer utilidade geral, se transforma em peso para a sociedade. O dono da propriedade goza da proteção legal, enriquece às custas do trabalho coletivo e da proteção do Estado e não retribui em nada. Por isso, é necessário que seja dada a essa propriedade improdutiva uma utilidade social, seja dividindo-a com aqueles que pretendem cultivá-la, seja dando a ela outra finalidade coletiva.
O poder público municipal pode determinar ao proprietário de imóvel não utilizado de forma adequada, de acordo com as condições estabelecidas no Plano Diretor, que faça o parcelamento do terreno ou edificação, compulsoriamente.
Caso o proprietário não dê uma função social à sua propriedade, estará sujeito à desapropriação para fins de reforma agrária.
O poder público usa o instituto da desapropriação, com o fim de assegurar que, se, serem donos da terra, a cultivam, terão acesso à propriedade rural.
1. Desapropriação
É o procedimento através do qual o Poder Público, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, compulsoriamente despoja alguém de um certo bem, normalmente adquirindo-o para si, em caráter originário, mediante indenização prévia, justa e pagável em dinheiro, salvo nos casos de certos imóveis urbanos ou rurais, em que, por estarem em desacordo com a função social legalmente caracterizada para eles, a indenização far-se-á em títulos da dívida pública, resgatáveis em parcelas anuais e sucessivas, preservado seu valor real.
A expropriação ou desapropriação consiste na mais radical modalidade de intervenção do Estado na propriedade privada. 
É um procedimento que, de forma compulsória, converte a propriedade privada em bem público, mediante indenização ao proprietário. 
O que mais caracteriza a desapropriação é o fato de ser uma FORMA ORIGINÁRIA DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE, no sentido de que a aquisição NÃO se vincula a uma situação jurídica anterior. 
O bem desapropriado passa ao patrimônio público, sem qualquer tipo de ônus ou gravames. 
Então, se o imóvel expropriado tivesse sido hipotecado, por exemplo, essa hipoteca será automaticamente extinta, a partir do momento em que o bem passar ao domínio público. O credor hipotecário, nesse caso, terá o direito a receber a indenização que caberia ao ex-proprietário.
1.1. Fundamento da desapropriação.
O art. 5º, XXIV, da CF/1988, atribui ao Estado competência para promover desapropriações.
O fundamento para isso é o domínio eminente do Estado, que é aquele poder político que o Estado exerce sobre todos os bens que se situam em seu território. 
Outro fundamento é o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado e o princípio da função social da propriedade. São esses, então, os fundamentos jurídico-políticos da desapropriação. 
Os três fundamentos normativos são aqueles previstos no art. 5º, XXIV, da CF: 
• Necessidade pública;
• Utilidade pública; 
• Interesse social.
1.2. Competência Legislativa.
A Constituição Federal, no art. 22, II, estabelece competência PRIVATIVA da União para legislar sobre desapropriação.
1.3. Competência para Desapropriar.
Essa competência se refere à expedição do decreto expropriatório ou a criação de lei que declara a utilidade ou necessidade pública ou o interesse social de determinado bem, para fins de desapropriação. Isso é da competência dos Entes Federativos e da Aneel, exclusivamente para as desapropriações relacionadas ao setor elétrico.
A Aneel é a ÚNICA entidade da Administração Pública descentralizada que tem competência para desapropriar. As demais entidades da Administração indireta, bem como os concessionários e permissionários de serviços públicos NÃO podem desapropriar. Caso seja necessária a expropriação, caberá ao ente federativo desapropriar os bens e transferi-los ao patrimônio da entidade descentralizada ou ao concessionário/permissionário de serviço público.
1.4. Competência para Promover a Desapropriação.
A desapropriação poderá ter, como beneficiário, pessoa de direito privado que atue em atividades de interesse público, como é o caso das universidades privadas. No entanto, NÃO será admitida a desapropriação que venha a beneficiar exclusivamente interesse privado.
1.5. Modalidades de Desapropriação.
A desapropriação por parte do Estado poderá ocorrer em caso de necessidade ou utilidade pública ou por interesse social, mediante o pagamento de prévia e justa indenização em dinheiro.
• Utilidade ou necessidade pública: nesse caso o Estado deverá utilizar o bem para uma obra pública ou para a prestação de serviços.
• Interesse social: nesse caso o Estado deverá garantir a função social da propriedade.
De modo geral, a CF estabeleceu a regra da prévia indenização, no entanto, ela mesma, prevê exceções a essa regra, de modo que, existe casos de desapropriação em que NÃO haverá prévia indenização. Mas essas exceções só serão admitidas se estiverem previstas no texto constitucional. A legislação infraconstitucional poderá regulamentar, mas não poderá criar espécies de desapropriação que configurem exceções ao disposto no inciso XXIV do artigo 5º.
Existem três hipóteses de desapropriações especiais, que são: 
• Desapropriação urbana (art. 182, CF/1988); 
• Desapropriação rural (art. 184, CF/1988); 
• Desapropriação confisco (art. 243, CF/1988).
1.5.1. Desapropriação Especial Urbana.
Se a propriedade não cumpre sua função social estabelecida no plano diretor da cidade, serão estabelecidas as seguintes restrições, de forma sucessiva e gradativa, na ordem a seguir:
1º providência: o proprietário será notificado para que promova o parcelamento, a edificação ou a utilização compulsória do terreno. A partir da notificação se inicia o prazo de 1 (um) ano para a apresentação do projeto e, a partir dessa, se inicia o prazo de 2 (dois) anos para o início das obras que visem dar uma função social à propriedade.
2º medida: será gerado IPTU progressivo no tempo. Tal medida tem caráter coercitivo, visando coagir o proprietário a dar um fim social à propriedade. O IPTU será, nesse caso, um tributo de caráter extrafiscal, ou seja, vai além da finalidade simples de ser um meio de arrecadação. 
Será fixada uma alíquota progressiva pelo prazo de 5 (cinco) anos, até o limite máximo de 15%. Além disso, a cada ano só poderá ser acrescido à alíquota anterior o equivalente a 100% do valor daquela, ou seja, poderá, no máximo, dobrar o valor da alíquota, a cada ano. 
O entendimento majoritário é no sentido de que o prazo de 5 (cinco) anos é limite para os aumentos da alíquota, não para a cobrança. A CF proíbe que seja estendido além desse período o aumento progressivo. Após o transcurso deste prazo o Estado deverá adotar a próxima medida:
3º medida: desapropriação do imóvel, com o pagamento da indenização em Títulos da Dívida Pública (TDP), resgatáveis em até 10 anos. Trata-se de uma desapropriação sanção.
1.5.2. Desapropriação Especial Rural
Por essa modalidade, o imóvel rural será desapropriado, para fins de reforma agrária, desde que não esteja cumprindosua função social.
A produtividade do imóvel não é o único requisito para o atendimento da função social da propriedade rural. 
Pode ocorrer de um imóvel rural ser produtivo e descumprir sua função social, devido ao descumprimento de outro requisito previsto no artigo 186. Se isso ocorrer, esse imóvel estará sujeito à desapropriação. 
Se o imóvel for desapropriado, com base no art. 186, a indenização será paga em títulos da dívida pública, resgatáveis em até 20 (vinte) anos, contados a partir do segundo ano de sua emissão.
As benfeitorias úteis e necessárias serão pagas em dinheiro.
1.5.3. Desapropriação Confisco.
Essa desapropriação não gera direito à indenização. 
A Constituição determina os bens móveis vinculados ou utilizados pelo tráfico de drogas ilícitas e os imóveis usados para o cultivo de plantas psicotrópicas, bem como aqueles imóveis usados para exploração de trabalho escravo, serão expropriados na forma da lei. 
No caso de cultivo de plantas psicotrópicas, todo o imóvel será desapropriado, mesmo que o cultivo ocupe apenas parte do terreno. 
Esses imóveis serão destinados à reforma agrária, ou para programas de habitação popular.
1.5.4. Desapropriação de Bens Públicos.
É possível, desde que se respeite a regra “do maior para o menor”, ou seja, um ente federativo mais abrangente poderá desapropriar bens de outro ente, menos abrangente. 
Para fins de provas objetivas, lembre-se dessa regra: A União pode desapropriar bens dos estados, do DF e dos Municípios. Os estados e o DF podem desapropriar bens de seus municípios e o município não pode desapropriar bens públicos.
1.6. Procedimento da Desapropriação.
A desapropriação ocorre nas seguintes fases.
1.6.1. Fase Declaratória.
O início dessa fase ocorre quando o Poder Público emite uma declaração de utilidade pública, manifestando o interesse na futura desapropriação. 
Essa declaração de utilidade pública poderá ser feita por lei ou por decreto.
Se for feita a opção pela lei, teremos a chamada “lei de efeitos concretos”, pois não será dotada de generalidade ou abstração. 
No caso de decreto, o procedimento terá início no Poder Executivo. 
Tendo sido emitida a declaração de utilidade pública do bem, para fins de desapropriação, o proprietário continua na posse, mas o Poder Público já poderá entrar no imóvel para fazer avaliações, medições, ou o que for necessário. 
É que, a partir da declaração, o bem já está sujeito à força expropriatória do Estado, embora o proprietário ainda esteja na sua posse.
Também será feita a declaração das condições em que se encontrava o bem naquele momento. Qualquer melhoria que o proprietário venha a fazer, a partir daí não será coberta por indenização. 
A lei estabelece uma ressalva a melhorias necessárias e úteis, mas essas só serão indenizadas se houverem sido autorizadas pelo Poder Público.
Súmula n. 23, STF: Verificados os pressupostos legais para o licenciamento da obra, NÃO o impede a declaração de utilidade pública para desapropriação do imóvel, mas o valor da obra NÃO se incluirá na indenização, quando a desapropriação for efetivada.
Para que os cidadãos não fiquem, indefinidamente, sujeitos à força expropriatória do Estado, a lei prevê um prazo de caducidade do ato expropriatório. Esse prazo varia, de acordo com a natureza da declaração, da seguinte forma: 
• Declaração por necessidade ou utilidade pública: 5 anos. 
• Desapropriação por interesse social: 2 anos (inclusive as desapropriações urbana e rural, que também são por interesse social).
Transcorridos esses prazos, NÃO poderá mais haver desapropriação e o Estado só poderá fazer nova declaração, para o mesmo bem, após transcorrido 1 ano de carência, a contar da data da caducidade da declaração anterior.
1.6.2. Fase Executória.
Após ter declarado o interesse na desapropriação, o Estado deverá providenciar os atos necessários à efetivação da medida, até a transferência do bem, mediante pagamento do justo valor ao proprietário.
A execução poderá ser administrativa ou judicial. 
Se for pela via administrativa, haverá um acordo entre o proprietário e o Poder Público, em relação ao valor da indenização. Se o particular aceitar o valor oferecido pelo Estado, não há nenhum empecilho à execução administrativa da desapropriação. 
Já a execução judicial ocorrerá por meio de Ação de Desapropriação, que será proposta pelo Poder Público, sempre que for impossível o acordo com o proprietário, ou ainda se esse for desconhecido. 
A Ação de Desapropriação segue o rito especial. 
No mérito, só se pode discutir o valor da indenização.
Assim, se for alegado algum vício, o Judiciário deverá investigá-lo em outra ação, própria para isso. Na Ação de desapropriação NÃO se admite qualquer discussão que não diga respeito ao valor da indenização.
A Lei permite que o Poder Público tenha a posse do bem, antes do fim da Ação de Indenização, desde que o Estado alegue urgência e, posteriormente, proceda ao depósito do valor justo. São requisitos para a imissão provisória na posse: 
• Declaração de urgência por parte do expropriante. 
• Depósito do valor incontroverso da indenização, em juízo.
O proprietário do bem, por sua vez, poderá levantar parte do valor depositado pelo Estado, no montante de até 80% do depósito.
O STJ tem jurisprudência firmada no sentido de que a sentença poderá estabelecer indenização de valor inferior ao depósito prévio efetuado pelo Estado. Se o expropriado levantar todo o depósito (e não somente 80%), será presumido que ele aceitou o valor e o juiz homologará o acordo, por sentença, pondo fim ao processo.
1.7. Desapropriação Indireta.
A desapropriação indireta acontece quando o Estado invade um bem, sem o respeito ao procedimento da desapropriação. Trata-se, na verdade, de esbulho ao direito de propriedade. 
É a forma de intervenção na qual o Poder Público, sem conduzir o regular processo expropriatório, se apossa ou esgota o conteúdo econômico de um bem alheio. 
É uma forma de desapropriação totalmente reprovada pela doutrina, porquanto não é realizado o pagamento de indenização prévia e tampouco a emissão da declaração de interesse público no bem. Por isso, é considerado como verdadeiro esbulho possessório.
Quando isso ocorre, é dada uma destinação pública ao bem, o que impede que se reverta a situação. 
Cabe ao proprietário apenas pleitear o pagamento de indenização justa, através da Ação de Indenização por Desapropriação Indireta. Nesse caso, o proprietário deverá requerer ao juiz que reconheça a desapropriação e fixe um valor justo para a indenização.
Em relação à prescrição da Ação de desapropriação indireta, o entendimento que deveremos adotar para prova é: 10 anos. Trata-se do posicionamento mais recente do STJ.
Haverá para o proprietário, paralelamente ao direito indenizatório, a PROTEÇÃO POSSESSÓRIA? A doutrina em sua maioria não trata do assunto, mas os poucos que tratam entendem que há um MOMENTO da consumação da desapropriação indireta que torna irreversível o apossamento.
Assim, até o momento da consumação da desapropriação indireta, paralelamente à pretensão indenizatória haverá a pretensão possessória do particular. Após a consumação, resta apenas a via indenizatória ao proprietário turbado ou esbulhado. Portanto: 
- Poder público ameaça: interdito proibitório. 
- Poder público turba: manutenção de posse. 
- Poder público apossa ou esbulha: reintegração de posse.
Cuidado: somente se não tiver afetado o bem ainda. Caso o bem já tenha sido incorporado a uma finalidade pública, não cabe mais a proteção possessória, caberá aqui a “ação de desapropriação indireta”, ou seja, indenização.
A indenização, sendo por débito judicial, será feita por precatório.
Essa ação de indenização pode ser promovida a partir do esbulho até o momento em que restar prescrito o direito. 
A ação proposta pelo prejudicado em face do Poder Público, que se apossou do bem pertencente a particular sem observar as formalidades legais da desapropriação. 
Trata-se de uma ação condenatória, objetivando indenização por perdas e danos. 
Também é chamada de “ação expropriatóriaindireta” ou “ação de ressarcimento de danos causados por apossamento administrativo.
2. Tredestinação.
Toda declaração da administração, que produza efeitos jurídicos, é um ato administrativo e, como tal, deverá ter a finalidade de satisfação do interesse público, além da finalidade imediata ou direta, que é aquela para a qual o ato foi praticado. 
No caso da desapropriação, a finalidade genérica é a satisfação do interesse público, enquanto a finalidade específica será aquela para a qual o ato expropriatório ocorreu.
Caso ocorra alteração na destinação do bem (ex.: bem desapropriado para construção de escola virar hospital), haverá desvio de finalidade que, no caso da desapropriação, recebe o nome de tredestinação. 
Se a alteração ocorrer apenas em relação à finalidade imediata, específica, ficando preservada a finalidade genérica, que é o interesse público, essa tredestinação será lícita. 
No exemplo que demos, poderia ser construído um hospital no local destinado à construção da cadeia. 
Tredestinação ilícita, também chamada de adestinação, por outro lado, ocorre quando o Estado não dá nenhuma destinação ao bem desapropriado.
Isso gera o direito do proprietário à retrocessão, cabendo ao expropriado o direito de preferência, pelo preço atual da coisa.
3. Intervenções Restritivas na Propriedade.
Existem duas formas de intervenção do Estado na propriedade privada. A primeira é a intervenção supressiva, pela qual o Estado transfere para si a propriedade de outra pessoa. Nesse caso temos a DESAPROPRIAÇÃO, que já analisamos anteriormente. 
A segunda forma de intervenção do Estado na propriedade é denominada intervenção restritiva e, por essa modalidade, o Estado não retira a propriedade, mas impõe restrições e condicionamentos ao uso e gozo da propriedade pelo terceiro.
3.1. Requisição Administrativa.
A requisição é um instrumento pelo qual o Poder Público tem o uso transitório da propriedade privada ou de serviços, em situações de iminente perigo público, garantindo indenização POSTERIOR somente SE houver prejuízo.
A requisição só gera a obrigação de indenizar no caso da ocorrência de dano ao particular. Indenização, essa, que sempre será POSTERIOR à limitação do direito.
Pode ser decretada de imediato pela Administração, sem necessidade de autorização judicial, ou seja, o ato administrativo que formaliza a requisição é dotado de autoexecutoriedade. 
É instituto de natureza transitória, logo se extingue com o fim da situação excepcional que motivou sua instituição. 
OBS: doutrina diz que quando os bens forem móveis e fungíveis, o instituto é mesmo de requisição. Não confundir com desapropriação (exemplo: requisitar de fábricas roupas e comida). E no caso de roupas pessoais? Neste caso, eles deixam de ser bens fungíveis, são bens infungíveis, portanto, caso de desapropriação.
Tem algumas características principais:
1) É direito PESSOAL, e não real (como a servidão); 
2) Tem como pressuposto o perigo público iminente; 
3) Incide sobre bens móveis, imóveis ou serviços; 
4) Caracteriza-se pela transitoriedade; 
5) A indenização é POSTERIOR à limitação do direito e depende de PREJUÍZO.
3.2. Ocupação Temporária.
Primeira hipótese: Imóvel não edificado ao lado de obra pública. A ideia é guardar os materiais a serem utilizados na obra.
Segunda hipótese: pesquisa arqueológica ou quanto a minérios. Serve para evitar a desapropriação desnecessária.
Terceira hipótese (Di Pietro): diz que a ocupação prevista na lei 8666 e 8987/95 é ocupação temporária (minoritária). É aquele exemplo que o poder público retoma o serviço devido a inadimplência do acordado no contrato administrativo (CADUCIDADE) e, não tendo bens necessários para continuidade do serviço, “ocupa provisoriamente” os bens do contratado. A administração resolve retomar o serviço e não tem bens suficientes para manutenção do serviço, ela poderá ocupar provisoriamente os bens da contratada (atendendo ao princípio da continuidade). Acontece enquanto estiver em andamento o processo administrativo para rescisão de contrato.
Caso ao fim do processo administrativo para a rescisão do contrato a administração fique definitivamente com os bens da concessionária ocorre o instituto chamado de REVERSÃO (ver concessão/permissão). 
OBS: para rescindir, ela deve dar a empresa o contraditório e a ampla defesa. 
A ocupação temporária atinge o CARÁTER EXCLUSIVO da propriedade. Comprovado o prejuízo, a ocupação temporária pode ser indenizada.
3.3. Limitação Administrativa.
Restrição à propriedade em caráter geral e abstrato, atingindo proprietários indeterminados. É concretizado através do poder de polícia, aqui se percebe nitidamente o caráter de busca pelo bem estar social. Exemplo: limitação de andares. 
Esta medida irá restringir o CARÁTER ABSOLUTO da propriedade.
Prevalece na doutrina e jurisprudência que NÃO gera o dever de indenizar, pois os proprietários são indeterminados, caráter geral. 
Contudo, em situações excepcionais haverá indenização, nos casos em que há redução do valor econômico do bem.
O judiciário não pode rever nem controlar essa conduta. Ela é uma conduta tomada por critérios de conveniência e oportunidade.
3.4. Servidão Administrativa.
É um ônus real (direito de natureza real) de uso imposto pela Administração à propriedade particular para assegurar a realização e conservação de obras ou serviços públicos ou de utilidades públicas, mediante indenização dos prejuízos suportados pelo proprietário (HLM). 
Sendo um direito real, essa servidão tem detalhes inerentes a essa condição, como o caráter perpétuo, entretanto, essa característica NÃO é absoluta. 
Tem finalidade específica, proprietários determinados. A limitação aqui é no CARÁTER EXCLUSIVO da propriedade, o Estado e o proprietário usarão a propriedade. 
Exemplos: Torres com cabos de alta tensão são fixadas na propriedade. Gasoduto que passa por baixo do imóvel. Cabos de telefonia. Placas de nome de rua fixada em casa.
A servidão administrativa será indenizável no limite dos prejuízos que eventualmente o uso da propriedade pelo poder público vier a causar. A REGRA, portanto, é o NÃO cabimento de indenização. O ônus da prova do prejuízo cabe ao proprietário.
A servidão pode ser instituída por TRÊS maneiras: 
1) Autorização legislativa (autorizar e constituir a servidão - JSCF não aceita a instituição por lei, visto que a servidões são constituídas sobre propriedades determinadas, o que não ocorre com a lei, que estabelece o direito de uso sobre propriedades indeterminadas); 
2) Acordo administrativo; 
3) Sentença judicial em ação promovida pelo poder público (procedimento, nesse caso, idêntico ao da desapropriação). 
Pode acontecer também de a Administração instalar a servidão sem prévio acordo e sem ação judicial, caso no qual caberá ao proprietário ajuizar ação pleiteando o reconhecimento da servidão e a eventual indenização (procedimento semelhante ao da desapropriação indireta). 
Em qualquer caso a servidão deve ser inscrita no Registro de Imóveis, a fim de ganhar oponibilidade ‘erga omnes’. Veja que se a servidão for instituída através de previsão legal, não é necessário o registro, eis que a lei já dá a publicidade necessária.
A servidão é, em princípio, permanente. Entretanto, alguns fatos supervenientes podem vir a desfazê-la: 
1) Desaparecimento do bem gravado; 
2) Incorporação do bem gravado ao domínio patrimonial do Estado; 
3) Desinteresse estatal superveniente na servidão. Ou seja, o caráter perpétuo dura enquanto durar o interesse público.
OBS: poder público constitui uma servidão, passando pelo imóvel fios de alta tensão. Exemplo: torres com aquelas placas: “não construir, não plantar.”. Há o dever de indenizar? O poder público ‘finge’ servidão, entretanto há uma desapropriação indireta. Se não se pode mais usar não é servidão, servidão é uso conjunto. Se da forma que o estado usa, o indivíduo é privado totalmente da propriedade, há desapropriação. Jurisprudência reconhece que fios de alta tensão, torres alta tensão, são hipóteses que configuram desapropriação, devendo o estadofazer a devida indenização.
3.5. Tombamento.
É a modalidade de intervenção por meio da qual o Poder Público procura proteger e conservar o patrimônio cultural brasileiro. Dá-se causa ao tombamento quanto o Poder Público verifica que determinado bem móvel ou imóvel merece proteção estatal especial, por retratar relevante valor histórico, artístico, arqueológico, turístico ou paisagístico.
É possível face a bem público e face a bem privado. É possível face a bem móvel ou bem imóvel. O tombamento pode ser classificado: 
1) Quanto à constituição; 
2) Quanto à eficácia; 
3) Quanto aos destinatários.
3.5.1. Quanto à constituição.
O tombamento pode ser VOLUNTÁRIO (o indivíduo pode pedir/anuir que seu bem seja tombado) ou COMPULSÓRIO (proprietário não tem interesse).
3.5.2. Quanto à eficácia.
O tombamento é PROVISÓRIO enquanto está em curso o procedimento instaurado pela Administração; concluído o processo e inscrito o ato no respectivo Registro Público (“Livro do Tombo”), o tombamento passa a ser DEFINITIVO.
3.5.3. Quanto aos destinatários.
O tombamento ainda pode ser GERAL ou INDIVIDUAL. Exemplo de geral: Olinda, Porto Seguro, Ouro Preto, nessas cidades, ruas inteiras, foram tombadas. Se for um bem determinado, o tombamento passa a ser individual.
3.5.4. Competência material para o Tombamento.
Competência material (administrativa) é COMUM a todos os entes, art. 23 da CF. A competência dependerá do interesse, se o interesse é local, a competência será do município. Se o interesse é regional será o estado. Se for nacional, da União.
É possível que o bem seja tombado por todos os entes de uma só vez, caso todos tenham interesse.
3.5.5. Competência legislativa para o Tombamento.
A competência para legislar é CONCORRENTE, a União legislará sobre normas gerais, podendo os estados complementarem esta norma (competência legislativa suplementar complementar ou competência legislativa suplementar supletiva).
3.5.6. Instituição do Tombamento.
O tombamento é sempre resultante de vontade expressa do Poder Público, mediante ato administrativo emanado do órgão Executivo. Deve ser precedido, impreterivelmente, de processo administrativo, em observância ao princípio do devido processo legal.
3.5.7. Efeitos do Tombamento.
1) Atinge o CARÁTER ABSOLUTO da propriedade.
2) O tombamento, em regra, impõe obrigações de não fazer. Nesse caso, não há indenização decorrente do tombamento, salvo se já existir projeto de construção devidamente concluído (e tiver que ser desfeito) e outras peculiaridades do caso concreto.
3) Poderá o ato de tombamento estabelecer obrigações de conservação (obrigações de fazer). Ex.: Pintar a fachada do prédio de tempo em tempo. 
E se a pessoa não tem condição financeira? Isso não exime a pessoa da responsabilidade de conservar. A pessoa continua com a obrigação, mas a obrigação se resolve com a comunicação ao instituto, comprovando, que não tem condições de fazer a restauração.
E se antes do tombamento é feito uma obra e ao tombar o Poder Público ordena o desfazimento? Nesse caso, o ônus econômico de tal obrigação deve ser suportado pelo Poder Público.
4) Independentemente de solicitação do proprietário, pode o poder público, em caso de urgência, fazer obras de conservação no imóvel tombado.
5) O tombamento pode vir com algumas vantagens, por exemplo, isenção de IPTU.
6) O tombamento do bem NÃO IMPEDE o proprietário de gravá-lo por meio de penhor, hipoteca ou anticrese. 
7) O bem tombado NÃO pode sair do país, salvo por curto período. O bem tombado NÃO pode ser exportado.
8) Se o patrimônio tombado for um bem público, ele é inalienável, de forma absoluta. Não se pode desafetar e depois alienar. 
9) Vizinho do patrimônio tombado: não pode colocar placas, cartazes de maneira que prejudique a visibilidade do patrimônio. A ideia é que o patrimônio tombado deve ser visto.
3.5.8. Indenização pelo Tombamento.
O indivíduo não tem direito a indenização pelo simples fato de o bem ser tombado. Pode vir a ocorrer se há obrigação de fazer.

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