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1 Beatriz Erdtmann Silveira – Medicina UniFacimed – TXIX Habilidades específicas III – Prof. Gizeli – Aula 11 Semiologia do abdome ANAMNESE Dor abdominal – possui 3 categorias: 1. Dor visceral – ocorre quando órgãos abdominais ocos (intestino ou árvore biliar), contraem-se de modo incomumente vigoroso ou estão distendidos ou estirados. Essa dor pode ser como corrosão, queimação, cólica ou vaga e imprecisa. Quando muito intensa pode vir acompanhada de sudorese, palidez, náuseas, vômitos e inquietação 2. Dor parietal – é causada pela inflamação do peritônio parietal (peritonite). Tem caráter constante e vago e é geralmente mais intensa que a dor visceral, além de possuir localização mais precisa sobre a estrutura envolvida. Ela é agravada pelos movimentos ou pela tosse 3. Dor referida – ela é percebida em locais mais distantes, parecendo irradiar-se ou disseminar-se a partir do seu ponto de origem. Em geral é localizada Primeiramente, deve-se determinar a cronologia da dor, caracterizar se é aguda ou crônica, se surgiu de modo gradual ou súbito, quando iniciou, quanto tempo dura e qual é o padrão no período de 24 horas Caracterize a dor, pedindo ao paciente para mostrar onde a dor começa (apontar), se ela se irradia e qual seu caráter (vaga, imprecisa, queimação, etc) • QSD – doenças de vesícula, hepatite, hepatomegalia • QSE – IAM, pneumonia, crise falcêmica, linfoma, esplenomegalia, gastrite • QID – apendicite, doença de Crohn, doenças ginecológicas, causas renais • Mesogástrio – dispepsia, DRGE, pancreatite inicial, doença ulcerosa péptica • Suprapúbica – cistite, prostatite, retenção urinária aguda, causas ginecológicas • Difusa ou generalizada – parede abdominal, doença celíaca, constipação, diarreia crônica, síndrome do intestino irritável, ruptura de aneurisma da aorta abdominal, traumatismo Avalie a intensidade da dor em uma escala de 0 a 10, além de questionar os fatores que pioram e melhoram a dor – posição do corpo, associação as refeições, consumo de bebidas alcóolicas, esforço físico, repouso Dispepsia – desconforto crônico ou recorrente ou dor centralizada na parte superior do abdome, caracterizada por plenitude pós-prandial, saciedade precoce e dor ou sensação de queimação epigástrica • Pode estar associada a pirose (desconforto ou dor em queimação retroesternal ascendente, que ocorre 1x/semana ou +, além de ser agravada por bebidas alcoólicas, chocolate, frutas cítricas, café), disfagia ou regurgitação Sintomas de alarme: • Disfagia (dificuldade de engolir) • Odinofagia (dor à deglutição) • Vômito recorrente • Evidências de hemorragia digestória • Saciedade precoce • Perda de peso • Anemia • Fatores de risco para câncer gástrico • Massa palpável • Icterícia indolor Quando há a presença de vômito, deve-se atentar a presença de sangue e quantificar o volume Deve-se quantificar o tempo de duração da diarreia – quando aguda, dura até 2 semanas, já na crônica dura 4 ou + semanas • Aguda – infecção • Crônica – doença de Crohn • Além do tempo, caracterize o volume, a frequência, a consistência das fezes, se são gorduras, oleosas, espumosas, com odor fétido, a existência de muco, pus ou 2 Beatriz Erdtmann Silveira – Medicina UniFacimed – TXIX sangue, se existe tenesmo (necessidade urgente de defecar), se é acompanhada por dor ou cólicas, se é + frequente a noite Pergunte a respeito da coloração das fezes, se há melena (fezes pretas e pastosas semelhantes a piche) ou hematoquezia (fezes com coloração avermelhada ou acastanhada) • Melena – hemorragia digestiva alta • Hematoquezia – hemorragia digestiva baixa A icterícia pode ser intra-hepática hepatocelular ou colestática e extra-hepática. A hepatocelular ocorre secundária à lesão dos hepatócitos. A colestática é consequência do comprometimento da excreção, por lesão dos hepatócitos ou dos ductos biliares intra-hepáticos. Já a extra-hepática é causada pela obstrução dos ductos biliares extra-hepáticos • Quando houver icterícia, questione a presença de urina escura (coloração castanho-amarela escura), pois indica comprometimento da excreção de bilirrubina para o sistema digestório • Também questione a coloração das fezes, que se tornam cinzentas ou claras (acolia) quando a excreção de bile pelo intestino é totalmente obstruída O exame do abdome deve ser realizado no sentido horário, com o paciente em decúbito dorsal, com tronco e abdome expostos e o médico à sua direita INSPEÇÃO O tipo de abdome é a primeira coisa a ser descrita – plano, escavado (pessoas muito magras), globoso, batráquio (“culote” na lateral – pacientes com ascite em regressão), avental (porção inferior cai nas coxas), pendular (protrusão da parte inferior pelas vísceras) Distensão abdominal sugere infecção Circulação colateral – hepatopatia crônica, hipertensão portal Sinal de Cullen e Grey Turner – equimose periumbilical e em flancos, respectivamente Herniações – ocorre quando parte de um órgão se desloca através de um orifício e invade um espaço indevido ● Encarceramento da hérnia ● Manobra de Valsalva para avaliar se é uma hérnia móvel ou não Pele, cicatrizes, circulação, contorno abdominal, peristalses, pulsações (aorta abdominal), temperatura, coloração • A cicatrização anormal pode causar aderências AUSCULTA Escutar a motilidade intestinal – ruídos hidroaéreos • Os sons normais consistem em estalidos e gorgolejos, que ocorrem em uma frequência de 5 a 34/min • Campânula é melhor para auscultar Pesquisar por obstruções intestinal – ausência dos ruídos hidroaéreos Auscultar os vasos – aorta abdominal, artéria renal, ilíaca e femoral • Procure sopros sobre os vasos Ausculte sobre o fígado e baço à procure de atritos – presentes em pacientes com hepatoma, infecção gonocócica peri-hepática, infarto esplênico e carcinoma pancreático PERCUSSÃO 3 Beatriz Erdtmann Silveira – Medicina UniFacimed – TXIX Percutir todos os 4 quadrantes para determinar a distribuição do timpanismo e da macicez Ouvir a intensidade e distribuição dos gases Percepção de massas e visceromegalias – regiões de macicez Hepatimetria – realizada a percussão de baixo para cima e de cima para baixo para delimitar as bordas do fígado pela mudança de som: timpânico → maciço • Parâmetros para palpação profunda • Normal: de 4 a 8 com na linha esternal média e 6 a 12 cm na linha hemiclavicular direita O baço é percutido na região inferior esquerda da parede torácica anterior, entre o som atimpânico do pulmão acima e o rebordo costal = espaço de Traube Ascite – macicez móvel (pouco líquido), semicírculo de Skoda (quantidade mediana de líquido) e teste de onda líquida (muito líquido, ocupando todo o espalho abdominal) • Macicez móvel – peça ao paciente para deitar-se de lado, o líquido vai escorregar e o som será maciço e do outro lado timpânico pois sobrará espaço para o gás. Verifique pedindo para que o paciente vire para o outro lado observando se a macicez acompanhará o líquido novamente • Semicírculo de Skoda – ponta da barriga timpânica e descendo para os lados macicez, com o paciente em decúbito dorsal, pois o liquido espalha – apenas um achado e não para se fazer o diagnóstico • Teste de onda líquida (piparote) – com a ajuda de outro avaliador ou do próprio paciente comprimindo a linha média do abdome usando as bordas das mãos, percuta simultaneamente um dos flancos com a ponta dos dedos, e com a outra mão tente sentir no flanco oposto um impulso transmitido pelo líquido Punho-percussão das lojas renais = sinal de Giordano – percussão com a mão fechada nas costas do paciente, ao nível dasúltimas costelas • Positivo – paciente sente dor intensa PALPAÇÃO Superficial – em todos os quadrantes, observando resistência, hipersensibilidade e presença de massas Profunda – mesmo que a superficial, mas tentando delimitar massas e órgãos, delinear a borda hepática, os rins e as massas abdominais, além de observar as pulsações • De forma circular e com movimento ondulatórios, não sendo necessariamente obrigatório seguir a respiração do paciente Estruturas normais palpáveis – rebordo costal, borda hepática normal, rim normal, cólon ascendente, útero gravídico, bexiga cheia, sigmoide, bordas laterais do músculo reto abdominal Irritação peritoneal – localizar a dor com precisão e pesquisar a descompressão dolorosa (comprime sente dor, mas quando descomprime a dor é muito mais intensa) Gargarejo – percepção tátil de presença de conteúdo hidroaéreo da víscera Patinhação – é um ruído produzido pela palpação, assemelha-se ao ruído que se obtém quando são dadas palmadas em uma superfície com água Palpação do fígado – peça ao paciente que faça uma inspiração profunda, assim o fígado é empurrado para baixo • Sentir borda, contorno, superfície, tamanho e sensibilidade • A borda deve ser romba (arredondada), com contorno arredondado e liso, macia, bem limitada e regular 4 Beatriz Erdtmann Silveira – Medicina UniFacimed – TXIX • Palpação bimanual ou Lemos Torres • Técnica do gancho – examinador à direta do paciente, coloca as 2 mãos dobre o lado direito do paciente, logo abaixo da borda da macicez hepática, pressiona com os dedos para dentro e para cima, em direção ao rebordo costal Palpação da vesícula biliar – geralmente impalpável • Quando obstruída e distendida, pode fundir-se ao fígado, formando masse firme e oval abaixo da borda hepática e uma área maciça a percussão Pâncreas não pode ser palpado em indivíduos saudáveis, assim como as alças intestinais e o apêndice Palpação do baço – geralmente impalpável • Com a mão esquerda, o examinador segura o paciente, de moda a apoiar e pressionar para frente a região inferior da caixa torácica e os tecidos moles adjacentes. Com a mão direita por baixo do rebordo costal esquerdo, o examinador faz pressão para dentro, na direção do baço. Solicite ao paciente que inspire profundamente • A manobra é repetida com o paciente em decúbito lateral direito (manobra de Schuster) com os membros inferiores discretamente flexionados na altura dos quadris e nos joelhos • Verifique se a palpação provoca dor Palpação da bexiga – geralmente impalpável • Obstrução → distensão → bexigoma Palpação dos rins – esquerdo geralmente impalpável e direito pode ser palpável em pessoas magras • Rim esquerdo – fique à esquerda do paciente e introduza a mão direta entre o dorso do paciente e o colchão, logo abaixo e paralelamente à 12ª costela e, com as pontas dos dedos apenas tocando o ângulo costovertebral. Eleve a mão, tentando deslocar o rim para frente. Solicite ao paciente que inspire profundamente • Rim direito – fique à direita do paciente, tentando elevar o rim com a mão esquerda sob o dorso do paciente e com a mão direita palpe profundamente o QSE do abdome Palpação da aorta – comprima firmemente e profundamente o epigástrio, um pouco à esquerda da linha média, para identificar as pulsações ACHADOS IMPORTANTES Apendicite – dor no QID (ponto de McBurney), ou que migra para a região periumbilical, associada a rigidez da parede abdominal à palpação. Febre baixa, inapetência, desaparecimento de fezes e flatos • Sinal de Blumberg – descompressão dolorosa 5 Beatriz Erdtmann Silveira – Medicina UniFacimed – TXIX • Sinal de Rovsing – palpação do QIE (próximo a crista ilíaca esquerda) com deslocamento dos gases pelos cólons, levando a distensão do ceco e deixando o apêndice doer mais (QID) • Sinal de psoas – coloque sua mão logo acima do joelho direito do paciente e peça que ele eleve a coxa contra sua mão. Depois estenda a perna direita do paciente na altura do quadril. Dor abdominal acentuada durante a manobra sugere irritação do músculo psoas devido ao apêndice inflamado • Sinal do obturador – flexione a coxa direita do paciente na altura do quadril, com os joelhos dobrados, e efetue a rotação interna da perna na altura do quadril. Dor hipogástrica direita durante a manobra sugere irritação do músculo obturador devido ao apêndice inflamado Colecistite – sinal de Murphy – palpe o hipocôndrio direito sobre o rebordo costal e peça ao paciente que inspire profundamente, forçando o fígado e a vesícula biliar para baixo. Observe a respiração do paciente, que é interrompida subitamente devido a dor acentuada Teste de Carnett – diferenciar dor abdominal de origem visceral da dor de parede abdominal pela flexão do tronco, que piora a dor de parede Massas abdominais – abdominal ou da parede abdominal • Se houver contração muscular e ficar impalpável é abdominal Isquemia mesentérica – medo da comida com dor abdominal e abdome indolor à palpação, macio e levemente distendido Doença hepática – hepatoesplenomegalia, ascite ou cabeça de medusa Peritonite – teste positivo para tosse, defesa, rigidez, descompressão dolorosa na região de dor à percussão Síndrome dispéptica – dor na região epigástrica. Observado na cólica biliar, afecções do estômago, duodeno e processos inflamatórios do estômago
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