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CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, destacando-se pela oferta de cursos de graduação, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institu- ições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquis- taram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibil- idade, segurança e modernidade, visando à satis- fação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. R E I TO R GRUPO MULTIVIX R E I 2 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) Nome e sobrenome do professor. Nome da Disciplina / Sobrenome, Nome do professor -. - Multivix, 2020. Catalogação: Biblioteca Central Multivix 2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. 4 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE QUADROS Tabela 1: Princípios e características do desenvolvimento humano 17 Tabela 2: Perspectivas, teorias relacionadas e características das teorias de desenvolvimento humano 21 Tabela 3: Princípios que fundamentam a ideia de desenvolvimento no ciclo vital 27 Figura 1: Tabela com os subestágios do estágio sensório-motor 34 Figura 7: Quadro com marcos no desenvolvimento motor 41 Figura 3: Tabela com modelos de aprendizagem motora 61 5MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Interação entre as três subáreas do Comportamento Motor 12 Figuras 2 e 3: Brinquedos para treino de habilidades motoras 14 Figura 4: Curva de crescimento em estatura 16 Figura 5: Transformações cerebrais o praticar atividade física 19 Figura 6: Curva de crescimento em estatura 24 Figura 7: Desenvolvimento durante a vida 26 Figura 2: Fases do desenvolvimento 35 Figura 3: Adolescência 37 Figura 4: Desenvolvimento humano 38 Figura 5: Aspectos neurológicos 39 Figura 6: Movimentos reflexivos 40 Figura 8: Primeira fase 43 Figura 9: Fases do desenvolvimento motor 44 Figura 10: Sinapses 45 Figura 11: Habilidades psicomotoras 48 Figura 12: Brincadeiras colaboram na avaliação de habilidades motoras 50 Figura 13: Integração mental e motora 51 Figura 1: Ilustração da teoria do circuito aberto e circuito fechado 58 Figura 2: Ilustração dos esquemas de lembrança e reconhecimento 59 Figura 4: Diferenças no modelo de Gentile (1972) 62 Figura 5: Ilustração do modelo Marteniuk 64 Figura 6: Ilustração do modelo multi-rate learning 65 Figura 7: Ilustração de como o CCA monitora a ação movtora 67 Figura 8: Ilustração da relação entre capacidades e habilidades 70 Figura 9: Ilustração da habilidade de andar de patins e a capacidade de equilíbrio 71 Figura 10: Hemisférios do Cérebro 74 Figura 11: Ilustração da comunicação entre os hemisférios 75 Figura 1: Medidas de aprendizagem e desempenho motor 78 Figura 2: Formatos de medição da aprendizagem motora 79 Figura 3: Medição de erros 81 6 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Figura 4: Classificação unidimensional de habilidades motoras 82 Figura 5: Classificação bidimensional de habilidades motoras 83 Figura 6: Perturbações do equilíbrio 85 Figura 7: Alteração das habilidades motoras 86 Figura 8: Estabelecimento de metas atingíveis 88 Figura 9: Tipos de metas 89 Figura 10: Demonstração do movimento 90 Figura 11: Demonstração do movimento 91 Figura 12: Fatores relevantes na eficácia da demonstração como recurso de aprendizagem 92 Figura 13: Construção de um plano motor 93 Figura 1: Esquema do processo de ensino-aprendizagem 99 Figura 2: Ilustração do movimento humano 100 Figura 3: Ilustração da teoria de esquema e variabilidade da prática 102 Figura 4: Ilustração dos resultados de Newell e Shapiro (1976) 103 Figura 5: Ilustração da hipótese da elaboração ou do processamento distinto 107 Figura 6: Ilustração da hipótese da reconstrução do plano de ação ou do esquecimento 108 Figura 7: Ginasta imaginando seus movimentos com ajuda da treinadora: 111 Figura 8: Representação do estudo seminal de Jacobson em 1932 112 Figura 9: Ilustração da superioridade da prática distribuída 114 Figura 10: Memória 115 Figura 11: Ilustração da superioridade do grupo autocontrolado em relação ao grupo pareado 117 Figura 1: Articulação entre pré e pós prática motora 123 Figura 2: Feedback 124 Figura 3: Feedback é o retorno realizado após a execução de determinada tarefa 125 Figura 4: Tempo antes e depois do feedback 126 Figura 5: Feedback deve respeitar intervalo para ser fornecido 127 Figura 6: Tipos de feedback 128 7MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Figura 7: Funções do feedback 130 Figura 8: Feedback e execução do movimento 131 Figura 9: Excesso de feedback pode causar dependência do aprendiz 132 Figura 10: No feedback médio, são fornecidas informações sobre a média dos escores obtidos numa série de execuções 133 Figura 11: Feedback diminuído leva a ação mais estável 134 Figura 12: Estratégias para melhoria de resultados 135 Figura 13: Com o uso da faixa de amplitude, nem sempre há fornecimento de feedback 136 Figura 14: Feedback autocontrolado 138 8 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SUMÁRIO 1 CRESCIMENTO FÍSICO E DESENVOLVIMENTO HUMANO 12 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 12 1.1 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO MOTOR 13 1.2 PRINCÍPIOS DO CRESCIMENTO HUMANO 16 1.3 PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 19 1.4 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 22 1.5 CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 24 1.6 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO 27 CONCLUSÃO 30 2 DESENVOLVIMENTO MOTOR 34 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 34 2.1 O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR: ABORDAGENS MATURACIONISTAS, DE PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO, DOS SISTEMAS DINÂMICOS E PERCEPÇÃO DIRETA 34 2.2 DESENVOLVIMENTO MOTOR AO LONGO DO CICLO DA VIDA: COMPARAÇÃO DE DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS 39 2.3 SEQUÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO MOTOR 44 2.4 PADRÕES FUNDAMENTAIS DE MOVIMENTO E SUAS COMBINAÇÕES 48 2.5 AVALIAÇÃO DE HABILIDADES BÁSICAS 49 2.6 RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO MOTOR E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO 52 CONCLUSÃO 55 3 MECANISMOS DA PRODUÇÃO DO MOVIMENTO E DA APRENDIZAGEM MOTORA 58 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 58 3.1 TEORIAS DE APRENDIZAGEM MOTORA E CONTROLE MOTOR: IMPLICAÇÕES PARA A INTERVENÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA E NO ESPORTE 59 3.2 ESTÁGIOS DE APRENDIZAGEM MOTORA 62 3.3 MUDANÇAS NOS MECANISMOS SUBJACENTES À APRENDIZAGEM MOTORA: DIFERENTES NÍVEIS DE ANÁLISE 65 3.4 MECANISMOS DE CORREÇÃO DE ERRO: RELAÇÃO ENTRECONTROLE MOTOR E ESTÁGIOS DE APRENDIZAGEM 68 3.5 DIFERENÇAS INDIVIDUAIS E CAPACIDADES MOTORAS 70 3.6 ASSIMETRIAS NO CONTROLE E APRENDIZAGEM MOTORA 75 CONCLUSÃO 78 1UNIDADE 2UNIDADE 3UNIDADE 9MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 4 APRENDIZAGEM MOTORA: FATORES PRÉVIOS À PRÁTICA 80 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 80 4.1 MEDIDAS DE APRENDIZAGEM MOTORA 80 4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS HABILIDADES MOTORAS 83 4.3 DIFERENÇAS ENTRE OS FATORES QUE INTERFEREM NA APRENDIZAGEM MOTORA 85 4.4 ESTABELECIMENTO DE METAS 89 4.5 DEMONSTRAÇÃO 92 4.6 INSTRUÇÃO VERBAL 96 CONCLUSÃO 97 5 APRENDIZAGEM MOTORA: CONDIÇÕES DE PRÁTICA 100 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 100 5.1 O QUE É PRÁTICA 100 5.2 VARIABILIDADE DA PRÁTICA 103 5.3 EFEITO DA INTERFERÊNCIA CONTEXTUAL 107 5.4 PRÁTICA MENTAL 111 5.5 DISTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA 115 5.6 PRÁTICA AUTOCONTROLADA 118 CONCLUSÃO 121 6 APRENDIZAGEM MOTORA: FATORES POSTERIORES À PRÁTICA 124 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 124 6.1 O QUE É FEEDBACK? 124 6.2 TEMPO ANTES E APÓS O FORNECIMENTO DE FEEDBACK 127 6.3 FREQUÊNCIA DE FEEDBACK 130 6.4 FEEDBACK SUMÁRIO E MÉDIO 133 6.5 FAIXA DE FEEDBACK 136 6.6 FEEDBACK AUTOCONTROLADO 139 CONCLUSÃO 141 REFERÊNCIAS 143 4UNIDADE 5UNIDADE 6UNIDADE 10 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS ICONOGRAFIA UNIDADE 1 > compreender as diferenças no as áreas no Comportamento Motor; > conhecer os princípios do crescimento humano com ênfase no crescimento físico; > conhecer os princípios e concepções gerais do desenvolvimento humano. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: 11 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM Motora 12MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA 1 CRESCIMENTO FÍSICO E DESENVOLVIMENTO HUMANO INTRODUÇÃO DA UNIDADE Imagine que seu amigo o convida para assistir à final do campeonato de futebol do seu filho. Em um dado momento o filho do seu amigo, que joga de atacante no seu time, perde um jogo “na cara”. Rapidamente o seu amigo, como todo bom pai, se sente técnico de futebol e grita para seu filho: “Não é força, filho. É jeito!”. Essa afirmativa é carregada de questões importantes para intervenção profissional. Vejamos por quê. Para que ocorra o movimento é preciso dois elementos: energia e informação. De forma geral, quando concebemos a energia o organismo capta matéria no meio via nutrição e, por meio do processo metabólico, transforma energia química em energia mecânica, resultando em movimento (TANI et al., 2010). Contudo, a energia só se torna eficaz quando produz trabalho efetivo; para que ocorra o trabalho efetivo, essa energia mecânica precisa ser controlada e quem controla é a informação. Assim, a afirmativa leiga do seu amigo assume que o mais importante quando se executa uma habilidade motora é a forma na qual ela é controlada. A área de estudo que investiga como o movimento é controlado, como muda o controle por meio da prática ou ao longo da vida é conhecida Comportamento Motor. Nesta unidade será discutido a área de Comportamento Motor, os princípios do crescimento humano com ênfase no crescimento físico, os princípios e concepções gerais do desenvolvimento humano. Ao final dessa unidade, você estará apto a identificar os três subcampos do Comportamento Motor e compreender as diferenças entre crescimento e desenvolvimento, bem como os princípios do crescimento. Além disso, você saberá sobre princípios do desenvolvimento e compreenderá as perspectivas e evolução do campo de estudo Desenvolvimento Humano. 13 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 1.1 INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO MOTOR A área de Comportamento Motor é constituída de três campos de investiga- ção: Controle Motor, Aprendizagem Motora e Desenvolvimento Motor. Cada campo de investigação tem o foco de investigação em aspectos específicos. O Controle Motor direciona suas pesquisas aos mecanismos responsáveis pela produção do movimento. A Aprendizagem Motora, por sua vez, tem in- vestigado como ocorre a mudança desses mecanismos em função da prática e os fatores que os influenciam. O Desenvolvimento Motor, por fim, tem in- vestigado como ocorre a mudança dos mecanismos do indivíduo ao longo do ciclo de vida. Vale ressaltar que as questões abordadas pelos três campos estão inter-rela- cionadas. Disso decorre que a aprendizagem é, em última análise, a mudança na forma de controlar uma ação motora e o comportamento apresentado du- rante o processo de mudança interpretado dentro do ciclo de vida do sujeito. Dessa forma, em termos de fenômeno, separar os conhecimentos produzidos pelas três áreas é uma tarefa difícil. Assim, é fundamental, especialmente quan- do se pensa na intervenção, a compreensão de que, apesar do Controle Motor, Aprendizagem Motora e Desenvolvimento Motor terem identidades próprias como campos de investigação, os fenômenos por eles estudados devem ser vistos como fortemente associados e interdependentes (TANI et al., 2010). 1. Controle Motor: o estudo se concentra em entender como os movimentos são coordenados e regulados e quais são as estruturas cerebrais e periféricas subjacentes a esse processo de regulação do movimento. 2. Aprendizagem Motora: campo de estudo que investiga os mecanismos internos à aquisição das habilidades motoras e os fatores que influenciam nesse processo. 14MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA 3. Desenvolvimento Motor: processo no qual há um progresso de movimentos simples para habilidades altamente complexas, sendo que as mudanças são contínuas, da concepção à morte, com certa ordem e coerência, permitindo identificar uma sequência (TANI, 2016). FIGURA 1: INTERAÇÃO ENTRE AS TRÊS SUBÁREAS DO COMPORTAMENTO MOTOR Desenvolvimento Motor Aprendizagem Motora Controle Motor Fonte: Elaborada pelo autor (2020). O primeiro campo apresentado é o Controle Motor, no qual questiona-se: quais são as variáveis usadas pelo sistema nervoso central para controlar os movi- mentos voluntários? Quais variáveis interagem para regular os movimentos re- flexos? Como essas variáveis são traduzidas em padrões motores periféricos? O entendimento dessas perguntas não é só importante para a área de Controle Motor, mas também para a Aprendizagem Motora. A maioria das teorias de aprendizagem motora foram construídas com base em teorias de controle e, por isso, usualmente fala-se em teorias de aprendizagem e controle motor. (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). 15 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 O segundo campo apresentado é a Aprendizagem Mora. A intervenção profis- sional em Educação Física congrega uma diversidade de possibilidades, como escolas, hospitais, academias, escolas de esportes entre outros. Um dos pontos em comum nessa diversidade de atuação é a aquisição das habilidades moto- ras em um dado momento da intervenção profissional. A aquisição da habili- dade diz respeito a um conjunto de processos internos, associados a prática ou experiência, que levam às mudanças relativamente duradouras na capacidade de se movimentar (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Boa parte dos fatores que influenciam na aprendizagem motora, investigados nos estudos em Aprendizagem Motora, também são os fatoresmanipulados no ensino de habilidades motoras, motivo pelo qual os resultados das pesqui- sas têm forte apelo prático no sentido de fornecer sugestões ou de suscitar novas ideias de ensino a serem testadas no campo da intervenção profissional. A terceira subárea de conhecimento é o Desenvolvimento Motor. A possibili- dade de identificar uma certa ordem e coerência permitiu descrever fases no qual o desenvolvimento motor ocorre no ciclo de vida. A identificação dessa sequência vem de longa data e sofreu influência de diferentes paradigmas e concepções da ciência. Os pesquisadores em Desenvolvimento Motor comu- mente respondem perguntas como: quais são os fatores que influenciam o desenvolvimento motor? Qual elemento ou quais elementos geram mudan- ças nas fases desenvolvimentais? Qual a relação entre aptidão física e desen- volvimento motor o nível desenvolvimental? Mais recentemente questões re- lacionadas ao envelhecimento tem sido abordadas nesse campo de estudo (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Em suma, as implicações dos conhecimentos produzidos pelo Comportamen- to Motor nas três subáreas citadas para a intervenção são por excelência co- nhecimento produzidos por meio de ciência básica, cujos objetivos estão em compreender os mecanismos subjacentes ao controle do movimento, a mu- dança do controle em função prática e ao longo da vida. O conhecimento bá- sico pode não indicar uma solução adequada e pronta para o problema, mas pode contribuir para o seu esclarecimento. 16MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA FIGURAS 2 E 3: BRINQUEDOS PARA TREINO DE HABILIDADES MOTORAS Fonte: PixaBay (2020). Acesse este link e conheça as principais publicações da área. 1.2 PRINCÍPIOS DO CRESCIMENTO HUMANO Desde a nossa concepção até a morte ocorrem transformações quantitativas e qualitativas, quer no sentido evolutivo quer no involutivo. Principalmente nas as duas primeiras décadas de vida, a principal atividade do organismo huma- no é “crescer” e “desenvolver-se”, fenômenos simultâneos que possuem forte interação (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Devido à forte interação entre o crescimento e o desenvolvimento, muitas ve- zes os conceitos são tratados com o mesmo significado. No entanto, cresci- mento e desenvolvimento referem-se a processos que, embora indissociáveis e cuja ocorrência isolada é impossível, são fenômenos diferentes que sempre demonstram correspondência direta entre si. 17 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 1. Crescimento: diz respeito ao processo resultante da multiplicação e da diferenciação celular que determina alterações progressivas nas dimensões do corpo inteiro ou de partes e segmentos específicos, em relação ao fator tempo, do nascimento à idade adulta. 2. Desenvolvimento: caracteriza-se pela sequência de modificações evolutivas em órgãos e sistemas do organismo humano que induzem ao aperfeiçoamento de suas complexas funções. Em linhas gerais, o crescimento deve ser entendido como referente ao aspecto quantitativo das proporções do corpo, tratando do aumento físico das propor- ções do corpo, enquanto que o desenvolvimento refere-se mais ao aspecto qualitativo e alguns casos quantitativo (BENDA, 1999). Embora apresente variações entre sujeitos, o crescimento é regido por princí- pios, como o princípio cefalocaudal e o princípio próximo-distal. O princípio cefalocaudal (do latim "da cabeça para a cauda") determina que o desenvolvi- mento ocorra da cabeça para a parte inferior do tronco. Por exemplo, a cabeça, o encéfalo e os olhos do embrião desenvolvem-se mais cedo e são despropor- cionalmente grandes até que as outras partes os alcancem. Segundo o prin- cípio próximo-distal (do latim "do próximo ao distante"), o desenvolvimento ocorre das partes próximas ao centro do corpo para as partes externas. Por exemplo, a cabeça e o tronco do embrião desenvolvem-se antes dos membros, e braços e pernas antes dos dedos de pés e mãos (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Quais os procedimentos para o acompanhamento do crescimento? Existem algumas formas de acompanhar o crescimento, por meio de indicadores de maturação. Um dos mais comuns é o acompanhamento da curva de cres- cimento da estatura (BENDA, 1999). Comumente, o crescimento da estatura apresenta quatro fases distintas: 1. intrauterino e pós-natal: velocidade de crescimento rápida; 2. infância: velocidade de crescimento rápida-lenta e constante; 18MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA 3. adolescência: velocidade de crescimento rápida (estirão); 4. adulto: velocidade lenta até a parada do crescimento. Como pode ser visto na figura a seguir, a maior velocidade de crescimento ocorre no período intrauterino e diminuiu ao longo dos anos, estabilizando na infância e apresentando um pico na adolescência. Na fase adulta o crescimen- to em estatura finaliza. FIGURA 4: CURVA DE CRESCIMENTO EM ESTATURA Fonte: Adaptada de Ré (2011, p. 58). Uma pergunta é bem comum quando se pensa em crescimento é: a ativi- dade física e/ou esporte podem influenciar no crescimento? Existem dúvidas sobre esse questionamento. O que se sabe é o exercício físico moderado pode estimular a produção de hormônios relacionados ao crescimento (ex.: GH) e a produção desse hormônio pode estimular o crescimento. Além disso, as ativi- dades esportivas, adequadamente programadas e supervisionadas, potenciali- zam densidade mineral óssea. Por outro lado, o treinamento físico extenuante representa um estresse capaz de atenuar o crescimento físico, sendo esse efeito resultante mais da intensi- dade e duração do treino do que propriamente dos tipos de exercício pratica- dos e dos efeitos dos exercícios sobre a estatura final do indivíduo. O que se 19 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 sabe é que o esporte seleciona seus atletas, quer dizer, uma criança com es- tatura maior sentirá mais motivada a realizar esportes cuja estatura é um fator importante na execução das habilidades requeridas no esporte. Essa mesma lógica se aplica aos esportes em que a estatura não é importante (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Em resumo, o crescimento refere-se às transformações quantitativas, enquanto o desenvolvimento engloba simultaneamente tanto as transformações quanti- tativas quanto as qualitativas e é resultante de aspectos associados ao próprio processo de crescimento físico, à maturação biológica e às experiências viven- ciadas. Por isso, considera-se que desenvolvimento apresenta conceito mais abrangente que crescimento. Esse é o tema do próximo tópico. Conheça o Projeto Esporte Brasil. Neste link é possível encontrar uma série de testes que podem ser aplicados para avaliar o crescimento físico. 1.3 PRINCÍPIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Quando utilizamos o termo desenvolvimento humano, indicamos um proces- so complexo de transformação contínua, multifatorial e progressiva que co- meça com a vida (na concepção), sendo agente de modificações e aquisições. Esse processo ocorre durante todo o ciclo de vital, por meio da interação entre as características biológicas individuais (crescimento e maturação) com o meio ambiente (BENDA, 1999). Corbin (1980) apresenta características do desenvolvimento humano, as quais foram denominadas de princípios, conforme a Tabela 1 a seguir. 20MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA TABELA 1: PRINCÍPIOS E CARACTERÍSTICAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO Princípio Características Princípio da continuidade O desenvolvimento inicia-se antesdo nascimento e prossegue até a morte. Princípio da totalidade O desenvolvimento ocorre em todos os seus aspectos simultaneamente (intelectual, motor, social entre outros). Princípio da especificidade Apesar de ser global, desenvolvendo sempre todos os aspectos, o desenvolvimento enfatizará um aspecto em cada situação. Princípio da progressividade O desenvolvimento não ocorre de forma rápida. É um processo longo e lento, porém está sempre em evolução. Princípio da individualidade O desenvolvimento é diferente para cada pessoa, respeitando suas características e experiências vivenciadas. Elaborado pelo autor (2020) A ideia de princípio sugere algo que deva ser respeitado. Um professor de educação física ou esportes que não fere os princípios do desenvolvimento apresenta um perfil de um excelente profissional. Por exemplo, o princípio da continuidade assume que o desenvolvimento inicia-se antes do nascimento e prossegue até a morte. Dessa forma, o profissional deve estar atento para a maneira como a intervenção realizada naquele instante da vida da pessoa re- percutirá ao longo do seu desenvolvimento. O princípio da totalidade, por sua vez, assume que, nos nossos comportamen- tos, há sempre a participação de todos os domínios – cognitivo, afetivo-social e motor – atuando de forma integrada. Em contrapartida, o princípio da espe- cificidade assume que, muito embora todos os domínios estejam envolvidos, um desses domínios predomina sobre os outros, sem que sejam mutuamente exclusivos (TANI et al., 2010). A predominância de um domínio está relacionada à demanda de proces- samento de informações referente a cada um deles. Quando o profissional de educação física ou esportes atua especificamente no domínio motor, ele impacta em outros domínios, como cognitivo, social e afetivo. Por exemplo, em termos cognitivos, já se sabe que ao realizar atividades físicas há modifica- 21 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ções estruturais e fisiológicas em regiões cerebrais que melhoraram funções cognitivas. Em termos sociais, ao realizar atividades físicas nos sentimos mais competen- tes para realizar outras atividades físicas. Esse aumento da competência en- coraja os praticantes a se envolverem em grupos sociais relacionados a mo- dalidades esportivas ou à prática de atividade física. É comum encontrarmos grupos de praticantes de determinadas modalidades pela forma de vestir e/ou se comunicar. FIGURA 5: TRANSFORMAÇÕES CEREBRAIS O PRATICAR ATIVIDADE FÍSICA Fonte: PixaBay (2020). Já o princípio da progressividade nos diz muito em relação à qualidade da pe- dagogia e ao respeito pelo aluno. Uma analogia para explicar essa colocação seria o seguinte: imagine uma escada com vários degraus, a qual uma criança deva subir um a um sem saltos bruscos para que não corra nenhum risco du- rante a subida. Essa metáfora diz respeito às situações em que as exigências motoras, cognitivas e psíquicas impostas a uma criança são adequadas a cada 22MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA fase do desenvolvimento, em que não existe inadequação de conteúdo ou ex- pectativas demasiadas. Outro exemplo de respeito aos princípios do desenvolvimento motor é aquele no qual o professor entende que os seus alunos são diferentes e, assim, a forma como os aborda e os trata é diferenciada. Nesse caso, o princípio da individu- alidade está sendo respeitado, pois o desenvolvimento é diferente para cada pessoa, respeitando suas características e experiências vivenciadas. Para o profissional de educação física e esportes, o conhecimento dos princí- pios que regem o desenvolvimento motor é fundamental. Entretanto, outros conhecimentos também se fazem necessários. É preciso conhecer quais são as perspectivas teóricas que explicam o desenvolvimento humano, discutidas no próximo tópico. Acesse o link e conheça um pouco mais sobre a psicologia desenvolvimentista. 1.4 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO As teorias comumente se relacionam com várias perspectivas teóricas amplas. Cada perspectiva teórica enfatiza diferentes tipos de processos de desenvolvi- mento e possui diferentes concepções. Essas perspectivas influenciam a forma como observamos, avaliamos e intervimos no desenvolvimento humano. Por- tanto, é importante reconhecer a perspectiva teórica em que a intervenção se baseia (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Vamos discutir seis perspectivas que influenciam as teorias sobre desenvolvi- mento humano: (1) psicanalítica (que se concentra nas emoções e pulsões in- conscientes); (2) da aprendizagem (que estuda o comportamento observável); (3) humanista (que enfatiza o controle das pessoas sobre seu desenvolvimen- to); (4) cognitiva (que analisa os processos de pensamento); (5) etológica (que 23 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 considera as bases evolucionistas do comportamento); (6) contextual (que en- fatiza o impacto do contexto histórico, social e cultural). TABELA 2: PERSPECTIVAS, TEORIAS RELACIONADAS E CARACTERÍSTICAS DAS TEORIAS DE DESENVOLVIMENTO HUMANO Perspectiva Teorias relacionadas Características Psicanalítica • Teoria psicossexual de Freud. • Teoria psicossocial de Erikson. • O comportamento é controlado por poderosos impulsos inconscientes. • A personalidade é influenciada pela sociedade e desenvolve-se através de uma série de crises. Aprendizagem • Behaviorismo ou teoria da aprendizagem tradicional (Pavlov, Skinner, Watson) • Teoria da aprendizagem social (sociocognitiva) (Bandura). • As pessoas são reativas; o ambiente controla o comportamento. • As crianças aprendem em um contexto social pela observação e imitação de modelos; a pessoa contribui ativamente para a aprendizagem. Humanista • Teoria da auto-realização de Maslow. • As pessoas têm a capacidade de tomar conta de suas vidas e promover seu próprio desenvolvimento. Cognitiva • Teoria dos estágios cognitivos de Piaget. • Teoria do processamento de informações. • Mudanças qualitativas no pensamento ocorrem entre a primeira infância e a adolescência Pessoa desencadeia ativamente o desenvolvimento. • Seres humanos são processadores de símbolos. Etológica • Teoria do apego de Bowlby e Ainsworth. • Os seres humanos possuem mecanismos para sobreviver; dá-se ênfase aos períodos críticos ou sensíveis; bases biológicas e evolucionistas para o comportamento e predisposição para a aprendizagem são importantes. Contextual • Teoria bioecológica de Bronfenbrenner. • Teoria sociocultural de Vygotsky • O desenvolvimento ocorre através da interação entre uma pessoa em desenvolvimento e cinco sistemas contextuais de influências circundantes, interligados, do microssistema ao cronossistema. • O contexto sociocultural da criança tem importante impacto sobre o desenvolvimento Elaborada pelo autor (2020) 24MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Nenhuma dessas perspectivas teóricas possui todas as respostas: cada uma tem algo a contribuir para nossa compreensão do desenvolvimento humano. Em alguns momentos uma perspectiva norteará melhor a compreensão e in- tervenção profissional do que outras; cabe ao o profissional de educação física e esporte reconhecer em qual momento essa perspectiva se encaixa e atuar utilizando as ferramentas que ela fornece para compreensão do desenvolvi- mento humano. Algumas dessas perspectivas acompanharam as mudanças que ocorreram na ciência mundial, outras foram frutos dessas mudanças. No próximo tópico se- rão abordadas as concepções de desenvolvimento e como essas concepções evoluíram ao longodos anos. Conheça um pouco mais sobre a evolução do cérebro segundo as Neurociências acessando o link. 1.5 CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO O Desenvolvimento Motor foi fortemente influenciado pelas concepções de de- senvolvimento humano ao longo da história (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Essa influência interferiu nos experimentos conduzidos e na intervenção profissional, principalmente na infância e na adolescência. Essas concepções delimitam a forma com o desenvolvimento ocorre, principalmente nas crian- ças, e definem como o sujeito será estimulado. As principais concepções são: pré-formacionista, a pré-determinista, a ambientalista, a da recapitulação e a dinâmica (BENDA, 1999). A perspectiva pré-formacionista entende que o desenvolvimento é definido pelos genes e que as características do ambiente em nada interferem no curso do desenvolvimento. Pelos aspectos genéticos, a criança recebe um “pacote” com todas as informações necessárias para suprir as suas demandas da vida 25 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 adulta. A partir dessa visão, foi assumida a ideia de que a criança é um adulto em miniatura, visto que a única diferença entre o adulto e a criança seria que o adulto já revela as características que ainda estão à espera de serem expostas na criança, mas que ela já possui (PAPALIA; FELDMAN, 2013). A perspectiva ambientalista, em contraponto à pré-formacionista, entende que o aspecto ambiental é responsável pelo estado final de desenvolvimento e que os aspectos genéticos em nada contribuem para esse processo. Ao nascer, a criança é considerada uma tábula rasa, que nada traz consigo. O processo de desenvolvimento irá esculpir na “madeira lisa” o adulto que está criança se tornará (BENDA, 1999). Uma terceira perspectiva, a pré-determinista, já considera que tanto aspectos genéticos quanto aspectos ambientais estão presentes no desenvolvimento humano, porém se observa uma hierarquia: enquanto os aspectos genéticos são considerados essenciais, o ambiente pode exercer alguma influência. Nes- sa perspectiva, os aspectos genéticos são responsáveis pela direção e sequên- cia e os aspectos ambientais influenciam a velocidade do desenvolvimento (TANI et al., 2010). Uma quarta visão é a da recapitulação, segundo a qual a série de mudan- ças – ordenadas e previsíveis – observada no desenvolvimento é reflexo das mudanças progressivas no passado filogenético do embrião, que durante seu desenvolvimento percorre de forma abreviada todas as mudanças evolucioná- rias pelas quais seus ancestrais passaram. A mesma visão foi ampliada para o desenvolvimento ao longo do ciclo de vida (BENDA, 1999). A perspectiva dinâmica inicia-se a partir de uma nova tendência no estudo do desenvolvimento, passando da preocupação em descrever o comportamento para a o interesse em explicar por que este comportamento muda, isto é, a pergunta principal deixa de ser “o que muda?” e passa a ser “por que muda?” Nesse contexto, Connolly (1986) propõe o rompimento da dicotomia existente entre a influência dos aspectos genéticos e a dos aspectos ambientais, visto que não há como dar maior valor a apenas um – ou estabelecer uma hierarquia – porque o desenvolvimento humano resulta de ambos: os eventos externos e os programas genéticos estão unidos em um processo comum. A emergência de fenótipos não deve ser pensada como originada das intera- ções entre genes e ambiente, ou entre o organismo e sua experiência, porque isso implica uma separação, confundindo a interpretação. Em suma, no desen- 26MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA volvimento humano um mais um não é igual a dois. Assim, pela perspectiva di- nâmica, os comportamentos resultantes do processo de desenvolvimento não estão previamente estabelecidos, aguardando apenas o momento – definido por um “relógio despertador” biológico – para sua apresentação. Pelo contrário, esses comportamentos emergem como consequência da interação entre os elementos constituintes desse sistema desenvolvimentista, sem que o padrão de movimento, por exemplo, esteja pronto a priori (CONNOLLY, 1970). Outra característica da perspectiva dinâmica que contribui para uma melhor explanação do processo de desenvolvimento motor é o princípio da equifina- lidade, que representa a competência de sistemas de conseguir atingir um mesmo objetivo por diferentes meios. Isto significa que o ser humano, nesse caso, pode buscar atingir sua meta por meio de vários padrões de movimento. Na figura a seguir é possível observar o resumo das cinco concepções. FIGURA 6: CURVA DE CRESCIMENTO EM ESTATURA Fonte: Elaborada pelo autor (2020). 1. Pré-formacionista: desenvolvimento é definido pelos genes e que as características do ambiente em nada interferem no curso do desenvolvimento. 27 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 2. Ambientalista: o aspecto ambiental é responsável pelo estado final de desenvolvimento e que os aspectos genéticos em nada contribuem para esse processo. 3. Pré-determinista: considera que tanto aspectos genéticos quanto aspectos ambientais estão presentes no desenvolvimento humano, porém se observa uma hierarquia: enquanto os aspectos genéticos são considerados essenciais, o ambiente pode exercer alguma influência. 4. Recapitulação: a série de mudanças - ordenadas e previsíveis - observada no desenvolvimento é reflexo das mudanças progressivas no passado filogenético do embrião. 5. Dinâmica: r ompimento da dicotomia existente entre a influência dos aspectos genéticos e a dos aspectos ambientais. 1.6 A EVOLUÇÃO DOS ESTUDOS SOBRE DESENVOLVIMENTO HUMANO O campo do estudo denominado Desenvolvimento Humano constitui-se como o campo que estuda como as pessoas mudam, bem como determina- das características permanecem razoavelmente estáveis durante toda a vida. Evidentemente o desenvolvimento humano tem ocorrido, desde que os se- res humanos existem, mas seu estudo científico formal é relativamente novo. Data-se do início do século XIX os primeiros estudos, cujos esforços para com- preender o desenvolvimento das crianças gradualmente se expandiram para estudos de todo o ciclo vida (PAPALIA; FELDMAN, 2013). 28MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Ao final do século XIX, havia um grande debate sobre "natureza versus experi- ência", ou seja, sobre a importância das características inatas e das influências externas no desenvolvimento humano. Descobertas científicas permitiram que mais crianças pudessem sobreviver, a abundância de mão-de-obra barata per- mitiu que menos crianças trabalhassem e leis que as protegiam de longos dias de trabalho permitiram pais e professores se preocupavam mais em identificar e atender às necessidades de desenvolvimento das crianças. Surgia assim a nova ciência da psicologia que ensinava que as pessoas podiam entender a si mesmas quando observavam aspectos relacionados à infância. (PAPALIA; FEL- DMAN, 2013) FIGURA 7: DESENVOLVIMENTO DURANTE A VIDA Fonte: PixaBay (2020). Ideias como o desenvolvimento continua depois da infância e a adolescência como um período separado são ideias relativamente novas. Por exemplo, Hall foi um dos primeiros psicólogos a se interessar pelo envelhecimento. Em 1922, aos 78 anos de idade, ele publicou Senescence: The Last Halfof Life (Senescên- cia: A Última Metade da Vida). Os estudos do ciclo vital nos surgiram a partir de programas destinados a acompanhar crianças até a idade adulta. Os Estudos de Crianças Superdotadas da Universidade de Stanford (iniciados em 1921 sob a direção de Lewis M. Terman)acompanham o desenvolvimento de pessoas (hoje na velhice) que foram identificadas como especialmente inteligentes na infância. Outros estudos importantes que foram iniciados em torno de 1930 - o 29 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Estudo do Instituto de Pesquisa Fels, os Estudos de Crescimento e Orienta- ção de Berkeley e o Estudo de Crescimento (Adolescente) de Oakland - forne- ceram muitas informações sobre o desenvolvimento a longo prazo (PAPALIA; FELDMAN, 2013). Conforme estudos se estendiam à vida adulta, começava-se a concentrar em como determinadas experiências, vinculadas a tempo e lugar, influenciam o rumo das vidas das pessoas. A amostra de Terman, por exemplo, chegou à idade adulta em 1930, durante a Grande Depressão; a amostra de Oakland, du- rante a Segunda Guerra Mundial; e a amostra de Berkeley, em torno de 1950, no boom do pós-guerra. O que significava ser uma criança em cada um desses períodos? Ser um adolescente? Tornar-se um adulto? Atualmente, a maioria dos estudos assume o desenvolvimento ocorre durante toda a vida. Esse conceito de um processo vitalício expandiu o campo de estu- do Desenvolvimento Humano. Alguns princípios que fundamentam a ideia de desenvolvimento no ciclo vital, os quais servem de estrutura para o seu estudo, como pode ser visto na Tabela a seguir. (PAPALIA; FELDMAN, 2013) TABELA 3: PRINCÍPIOS QUE FUNDAMENTAM A IDEIA DE DESENVOLVIMENTO NO CICLO VITAL Princípio Característica O desenvolvimento é vitalício Cada período do tempo de vida é influenciado pelo que aconteceu antes e irá afetar o que está por vir, sendo que cada período tem suas próprias características e um valor sem igual; nenhum é mais ou menos importante do que qualquer outro. O desenvolvimento depende de história e contexto Cada pessoa desenvolve-se dentro de um conjunto específico de circunstâncias ou condições definidas por tempo e lugar. Os seres humanos influenciam seu contexto histórico e social e são influenciados por eles. Eles não apenas respondem a seus ambientes físicos e sociais, mas também interagem com eles e os mudam. 30MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA O desenvolvimento é multidimensional e multidirecional O desenvolvimento durante toda a vida envolve um equilíbrio entre crescimento e declínio. Quando as pessoas ganham em um aspecto, podem perder em outro, e em taxas variáveis. As pessoas procuram maximizar ganhos e minimizar perdas aprendendo a administrá-las ou compensá-las. O desenvolvimento é flexível ou plástico O desenvolvimento possui a capacidade de modificação do desempenho. Muitas capacidades, como memória, força e persistência, podem ser significativamente aperfeiçoadas com treinamento e prática, mesmo em idade avançada. Entretanto, há faixas mais sensíveis para tais aperfeiçoamentos. Elaborada pelo autor (2020) A complexidade que envolve o desenvolvimento exige uma parceria entre es- tudiosos de muitas disciplinas, incluindo psicologia, psiquiatria, sociologia, an- tropologia, biologia, genética (o estudo das características herdadas), ciência da família (o estudo interdisciplinar das relações familiares), educação, história, filosofia e medicina. Essa interação entre diferentes áreas torna o estudo sobre o desenvolvimento humano excitante e desafiador. Assista ao vídeo e conheça um pouco mais sobre a evolução da ciência e como ela interfere na forma como observamos o desenvolvimento humano. CONCLUSÃO Os objetivos dessa unidade foram: (i) Compreender as diferenças no as áreas no Comportamento Motor; (ii) Conhecer os princípios do crescimento huma- no com ênfase no crescimento físico; (iii) Conhecer os princípios e concepções gerais do desenvolvimento humano. Desta forma, compreendeu-se que a área de estudo denominada Comportamento Motor é dividida em três subcam- pos, Controle Motor, Aprendizagem Motora e Desenvolvimento motor, sendo que cada campo de investigação tem relativamente o foco de investigação em aspectos específicos mas inter-relacionados. Além disso, compreendeu- 31 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 -se que o crescimento refere-se às transformações quantitativas, enquanto o desenvolvimento engloba simultaneamente tanto as transformações quanti- tativas quanto as qualitativas e que profissional de educação física e esportes deve ficar atento aos princípios que regem o desenvolvimento motor é fator fundamental. Por fim, foi discutido algumas perspectivas acompanharam as mudanças que ocorreram na ciência mundial, e como o campo de estudo De- senvolvimento Humano evoluiu e como a interdisciplinaridade é uma marca de campo de estudo. Ao longo do curso o foco será em uma das dimensões do desenvolvimento hu- mano, o desenvolvimento motor. Será discutido, o desenvolvimento motor ao longo da vida, como adquirimos habilidades motoras e como o sistema regula as ações motora. ANOTAÇÕES 32MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA UNIDADE 2 > compreender as abordagens do desenvolvimento motor; > conhecer os padrões fundamentais do desenvolvimento motor e como avaliá- los; > compreender a relação entre o desenvolvimento motor e o desenvolvimento cognitivo. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: 33 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM Motora 34MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA 2 DESENVOLVIMENTO MOTOR INTRODUÇÃO DA UNIDADE Em nossa segunda unidade da disciplina “Crescimento, desenvolvimento e aprendizagem motora”, estudaremos as bases e fundamentos do desenvolvimento motor do ser humano, conhecendo suas fases e características. Nos dedicaremos a conhecer os padrões fundamentais do desenvolvimento, entendendo como se dão as relações entre desenvolvimento cognitivo e motor, bem como quais as habilidades relativas a esse desenvolvimento e quais as formas de avaliá-las. Desejamos a você bons estudos e que os conteúdos aqui estudados tragam importantes reflexões para sua formação. 2.1 O ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO MOTOR: ABORDAGENS MATURACIONISTAS, DE PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÃO, DOS SISTEMAS DINÂMICOS E PERCEPÇÃO DIRETA Iniciaremos os estudos de nossa unidade conhecendo o psicólogo suíço Jean Piaget. Importante representante da abordagem maturacionista, o teórico apresenta o desenvolvimento a partir de estágios, onde há um equilíbrio pro- gressiva. Isso quer dizer que um estágio propicia condições para a passagem de um estado de menor equilíbrio para um equilíbrio superior, em um proces- so contínuo. Vamos conhecer seus estágios, que são quatro, a saber: 35 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Sensório Motor: Até 2 anos de idade Pré-operatório: de 2 a 7 anos Operatório Concreto: de 7 a 12 anos Operatório Formal: a partir de 12 anos Observou como cada estágio corresponde a uma determinada faixa etária? 36MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Tal estrutura afirma que, em cada estágio de desenvolvimento, o indivíduo apresenta característica neurofisiológicas ou maturação biológica para desem- penhar determinadas atividades motoras, tais como: engatinhar, sentar, cami- nhar, correr, entre outras. Vamos conheceros subestágios do desenvolvimento inicial da criança, que ocorre entre o nascimento e os 2 anos, período chamado sensório-motor e considerado fundamental para que todo o desenvolvimento motor aconteça de forma consistente. Acompanhe: FIGURA 1: TABELA COM OS SUBESTÁGIOS DO ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR Subestágios Momento Aproximado Comportamentos Característicos Primeiro Nascimento até o primeiro mês Exercitam os reflexos inatos (sugar o mamilo, segurar um objeto ao ser tocado em sua mão, etc.), contudo, não existe uma coordenação dos sentidos. Porém, aprendem a encontrar o mamilo e mamarem sem ter fome – desenvolvendo e aperfeiçoando o esquema de sucção/sugar. Segundo 1 a 4 meses Iniciam a repetição de sensações agradáveis, como por exemplo: sugam o dedo e outros de modo diferenciado. Além disso, observam o som e conseguem coordenar a visão e a audição (olham para onde percebem o som). Terceiro 4 a 8 meses O interesse volta-se para o ambiente, não mais centrado em si mesmo; repetindo ações que lhe tragam resultados, como sacudir um chocalho por causa do barulho. Quarto 8 a 12 meses Nesse período o comportamento do bebê apresenta uma intenção, coordenando esquemas aprendidos (olhar e pegar um objeto) para resolução de problemas. Um exemplo seria engatinhar para pegar o chocalho. Quinto 12 a 18 meses Momento de experienciar comportamentos novos, descobrindo ao acaso o que acontece com os objetos (já caminham). Sexto 18 as 24 meses Compreendem a causa e o efeito de suas ações – não mais tentativa e erro. Mais ainda, utilizam gestos e palavras que simbolizam algo, bem como o brincar de faz de conta (atividade mental). Fonte: Adaptada de Papalia; Olds; Feldman (2006, p. 198). 37 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 A partir dessas observações, devemos entender que a maturação biológica (tí- pica da idade e do desenvolvimento), possibilitará ao indivíduo aprender de- terminados conteúdos ou não. Assim, o adulto (seja da família, professores, ou outros) deverá compreender a faixa etária e as estruturas ou esquemas de pen- samento próprios de cada momento/estádio. Mas de que modo ocorre esse equilíbrio? No que se refere ao desenvolvimen- to, os processos de assimilação (relacionar o que já sabe ao novo conteúdo) e acomodação (os esquemas são modificados para receber um novo conteúdo) são utilizados pelo sujeito para que novos elementos ou necessidades do am- biente sejam incorporados aos esquemas (informações/conhecimentos apren- didos) já existentes. Você lembra que Piaget indicou que o desenvolvimento psíquico corresponde a um estado de menor equilíbrio para um superior? Baseado nisso, o estágio Pré-Operatório revela novas necessidades de adaptações diante do desequilí- brio do meio. FIGURA 2: FASES DO DESENVOLVIMENTO Fonte: Plataforma Deduca (2020). 38MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA A partir disso, a criança desenvolve novas formas de equilíbrio, por meio dos esquemas já aprendidos no estágio sensório-motor, buscando assimilar aos novos esquemas ou acomodá-los. O estágio em questão corresponde ao desenvolvimento da criança com ida- de entre 2 aos 7 anos, momento no qual pode ser observado que “avanços no pensamento simbólico são acompanhados pelo crescente entendimento de identidades, espaço, causalidade, categorização e número.” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Já na fase dos 7 aos 12 anos, podemos perceber que a criança se desenvolve mentalmente, a partir de uma inteligência prática, passando pelo contato com outras pessoas que a ajudam na aquisição da linguagem e, consequentemen- te, o aparecimento do pensamento. Essa idade coincide com o momento no qual a maior parte das crianças inicia seu processo de escolarização, ou seja, uma variedade de novas experiências e aprendizagens. Assim, temos em Papalia, Olds e Feldman (2006, p. 365), base- adas em Piaget, que: [...] as crianças entram no estágio de operações concretas, quando podem utilizar operações mentais para resolver problemas concretos (reais). As crianças são então capazes de pensar com lógica porque podem levar múltiplos aspectos de uma situação em consideração. Contudo, a criança ainda precisa das experiências reais ou objetos – pegar ne- les – para que possa realizar suas atividades e resolver problemas. Após essa fase, temos a adolescência, momento crítico para o jovem, mas, tam- bém, um momento no qual o desenvolvimento ao longo dos estágios permitiu com que pudesse elaborar e construir sistemas, além de ser capaz de lidar com conceitos e teorias abstratas (PIAGET, 1999). O adolescente apresenta um novo modo de pensar: progride, do pensamento concreto para o formal, embasado em hipóteses e deduções para construção das teorias citadas; dito de outra forma, a construção do pensamento formal, muito mais do que a aplicação nos objetos – manipulação, classificação etc. -, é uma reflexão sobre esses mesmos objetos, prevendo e deduzindo o que pode acontecer a cada situação sem que eles estejam presentes (PIAGET, 1999). 39 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 3: ADOLESCÊNCIA Fonte: Plataforma Deduca (2020). 2.2 DESENVOLVIMENTO MOTOR AO LONGO DO CICLO DA VIDA: COMPARAÇÃO DE DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS O desenvolvimento humano é caracterizado por fases ou estágios com mu- danças, crescimentos, declínios e busca pelo equilíbrio. Assim, cada estágio possui características particulares, com base na história de vida dos indivíduos, sua cultura etc. Desse modo, profissionais que atuam com crianças percebem como elas se desenvolvem e a importância do aprendizado em suas vidas. Por conseguinte, para que a aprendizagem ocorra de modo significativo, esta deve atender às necessidades de cada etapa de desenvolvimento. 40MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Diante disso, a infância sofre influência de diversos fatores, tais como: cognitivo, neurológico, emocional e sociocultural. Entretanto, a questão é: como esses aspectos influenciam a infância? Por se tratar da primeira fase pela qual passamos em nossas vidas, a infância apresentam grandes influências nos aspectos neurológicos e cognitivos. Sendo assim, conhecer tais influências permitirá com que enxerguemos seu impac- to nas demais fases do desenvolvimento humano (adolescência, fase adulta e terceira idade). FIGURA 4: DESENVOLVIMENTO HUMANO Fonte: Plataforma Deduca (2020). Pensemos: quais são os aspectos neurológicos e cognitivos determinantes para a infância? Inicialmente, devemos lembrar que ao nascer, uma criança está em fase de adaptação ao “novo mundo”, não é verdade? Por exemplo, a coordenação mo- tora necessita de um tempo para que possa ser desenvolvida pela criança. O que seria esse aspecto neurológico? Há alguma relação com os neurônios e o cérebro? Se você respondeu que sim, acertou! Quando estudamos o cérebro e suas influências na infância e desenvolvimento de um adulto, faz-se impor- tante que você entenda do que estamos falando e como ele afeta comporta- mentos, partindo de uma concepção biológica. 41 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 O cérebro possui uma unidade básica: o neurônio; célula responsável por rece- ber e transmitir informações. A partir dessa informação você já deve imaginar a importância do aspecto neurológico para a infância, não é verdade? FIGURA 5: ASPECTOS NEUROLÓGICOS Fonte: Plataforma Deduca (2020). Essas células (neurônios) atuam no cérebro, ou melhor, no córtex cerebral(a região interna do cérebro); este possui dois hemisférios: o direito e o esquerdo, com algumas regiões. 1. Córtex Frontal: controla a personalidade, elaboração e execução de planos; 2. Córtex do Hemisfério Direito: controle das habilidades artísticas e musicais, percepção espacial e reconhecimento de rostos etc.; 42MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA 3. Córtex Hemisfério Esquerdo: controle sobre a compreensão da linguagem, raciocínio e cálculo. A partir dessas informações, perceba alterações nas regiões apresentadas po- dem influir no desenvolvimento de habilidades motoras e percepções de um modo geral. Por conta disso, exames importantes são utilizados para averiguar, desde os primeiros dias ou meses, a saúde dessas regiões. E, como estamos abordando uma dimensão biológica, ao voltarmos nossa atenção para a primeira infância (três primeiros anos), a criança nasce dotada habilidades e/ou reflexo que irão auxiliá-la a lidar com o seu meio, como por exemplo: a sucção e deglutição. FIGURA 6: MOVIMENTOS REFLEXIVOS Fonte: Plataforma Deduca (2020). Agora, pare e pense: qual a importância desses reflexos e sua influência na infância e no desenvolvimento de um bebê? Os reflexos, que inicialmente ser- vem como forma de auxiliar o bebê a lidar com as situações novas, passam a ajudar o bebê e, posteriormente, a criança, a melhorar sua coordenação moto- 43 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ra. Um exemplo seria o reflexo da preensão; no início, fecha automaticamente a mão ao tocar sua palma, com o passar do tempo pega algo que interessa ou o derruba. Perceba que entre o reflexo e a melhora dessa habilidade, o cognitivo entra em cena: ocorre o desenvolvimento mental por meio de uma inteligência prática, em direção a novas possibilidades de: perceber o mundo, manipular os obje- tos, explorar o meio/ambiente; posteriormente, em razão do contato com as pessoas, a aparição da linguagem e do pensamento. Além disso, não podemos deixar de apontar que nesse mesmo período (primei- ra infância) ocorrem progressos no que se refere ao desenvolvimento motor/ físico: desenvolvimento do sistema nervoso central, fortalecimento dos múscu- los/ossos e o próprio estímulo do meio (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006). Veja quais foram estes avanços no quadro a seguir: FIGURA 7: QUADRO COM MARCOS NO DESENVOLVIMENTO MOTOR HABILIDADE 50% 90% Revirar-se 3,2 meses 5,4 meses Pegar um chocalho 3,3 meses 3,9 meses Sentar-se sem apoio 5,9 meses 6,8 meses Ficar de pé com apoio 7,2 meses 8,5 meses Agarrar com polegar e indicador 8,2 meses 10,2 meses Ficar de pé de modo seguro 11,5 meses 13,7 meses Caminhar bem 12,3 meses 14,9 meses Construir torre de dois cubos 14,8 meses 20,6 meses Subir degraus 16,6 meses 21,6 meses Pular no mesmo lugar 23,8 meses 2,4 anos Copiar um círculo 3,4 anos 4 anos Fonte: Adaptada de Papalia; Olds; Feldman (2006, p. 178). Perceba que o desenvolvimento do sistema nervoso central e o estímulo do meio ambiente favorecem com que os neurônios possam encaminhar infor- mações ao cérebro em direção de novos aprendizados e possibilidades de ação nas atividades diárias: engatinhar, caminhar, subir degraus etc., desenvol- vendo o aspecto motor e cognitivo. Mas o que seria o Sistema Nervoso Central (SNC) e porque ele é tão importante para pensarmos a infância? 44MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Sobre este assunto, Lent (2008) indica que o SNC é formado pelo encéfalo (deste, faz parte o cérebro) e a medula espinhal, ou seja, por meio de estímulos, as informações são levadas até o cérebro via medula espinhal (encontra-se na coluna), o que permitiria locomoção motora. Encéfalo: corresponde a uma parte do Sistema Nervoso Central, dentro do crânio. Assim, a partir dessas considerações, Papalia, Olds e Feldman (2006, p. 166) esclarecem ainda que o “crescimento do cérebro antes e após o nascimento e durante o período da infância é fundamental para seu futuro desenvolvimento físico, cognitivo e emocional.”. Para aprofundar seus estudos, leia o artigo “Dançar Jogando para Jogar Dançando - A Formação do Discurso Corporal pelo Jogo”, de Fabiana Giustina, apresentado no sexto Congresso de Pesquisa e Pós-graduação em Artes Cênicas, realizado na UnB em 2010. 2.3 SEQUÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO MOTOR Vamos, neste tópico, conhecer as fases do desenvolvimento motor do ser hu- mano. Iniciemos pela primeira fase. O ser humano, ao contrário do que acontece com outras espécies do mundo animal, nasce exigindo muitos cuidados e precisando aprender tudo o que garantirá a sua sobrevivência no mundo. Vale salientar que a aprendizagem se dá por meio de estímulos, que ocorrem primeiro no ambiente familiar e, pos- teriormente, na escola (BENDA, 1999). 45 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Com o tempo, as exigências para se satisfazer aumentam, bem como a ne- cessidade de interagir com o mundo e, por isso, os movimentos reflexivos vão ficando para trás e dão lugar aos movimentos aprendidos, que serão construí- dos e acumulados ao longo da vida. FIGURA 8: PRIMEIRA FASE Fonte: Plataforma DEDUCA (2020). Um bebê que só mama vai querer, com poucos meses, pegar algum objeto e, por não saber engatinhar, fará um esforço enorme arrastando-se para tentar alcançá-lo. Tão logo estiver maduro do ponto de vista neuromuscular, já con- seguirá engatinhar: isso garantirá mais velocidade, agilidade, menos gasto de energia e maior autonomia, aumentando o mundo do bebê e ampliando suas conquistas. Você pode verificar, assim, que o ambiente é fundamental para mobilizar os recursos humanos em prol do seu desenvolvimento. É a partir desse ser e estar no mundo e com o mundo que o sistema nervoso se organiza. Esse amadu- recimento nervoso tem um marco significativo por volta dos três anos, idade em que o cérebro e as estruturas relacionadas já atingiram aproximadamente 70% do tamanho que terão na idade adulta. 46MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA É possível agrupar os movimentos que o ser humano realiza em categorias funcionais e conforme o desenvolvimento motor ao executar determinadas tarefas: movimento ou estabilidade; locomoção e a combinação destas tarefas. Todo o desenvolvimento motor do ser humano passa pela aprendizagem e pelo refino dessas categorias. A segunda fase, que se estenderá dos dois aos sete anos, é conhecida como fase motora fundamental, pois nela encontra-se o princípio de todo o processo motor. As crianças adquirem as habilidades essenciais para realizar as ativida- des diárias – andar, correr, pular, puxar, agarrar, chutar etc. – uma vez que estão envolvidas na exploração e experimentação do corpo. FIGURA 9: FASES DO DESENVOLVIMENTO MOTOR Fonte: Plataforma Deduca (2020). A fase seguinte, que começa a partir dos sete anos e se encerrará por volta dos 14 anos, é classificada como a dos movimentos especializados. A criança refina o que foi vivenciado na fase anterior e consegue desenvolver mais de três mo- vimentos diferentes simultaneamente, como aqueles exigidos para andar de bicicleta, pular corda e dançar. A quarta fase, intitulada estágio de utilização ao longo da vida, começa a par- tir dos 14 anos e continua por toda a vida. Representa o ápice do desenvol- 47 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 vimento motor e uso do repertório motor adquirido pelo indivíduo.Somada a esse processo motor, caminha toda a evolução do organismo no sentido neuropsicofisiológico. Re (2011) destaca que vários pesquisadores apontam a existência de períodos críticos durante a infância para a aquisição de habilidades motoras devido, principalmente, ao rápido desenvolvimento neurológico e à maior plasticida- de neural. Neuropsicofisiológico: Estudo do comporta- mento humano pelas medidas fisiológicas e do sistema nervoso central.. Hensch, Hernandes e Li (apud RE, 2011, p. 59) apontam que: [...] a experiência durante a infância altera a arquitetura dos circuitos neurais devido à sua maior plasticidade, fazendo com que certos padrões de conexão (sinapses) tornem-se mais estáveis e, consequentemente, fortalecidos. FIGURA 10: SINAPSES Fonte: Plataforma Deduca (2020). 48MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Esse é apenas um norte, mas é desejável que até aproximadamente os dez anos de idade a criança tenha um amplo domínio das habilidades motoras fundamentais. Sinapse: Os neurônios realizam suas atividades com uso de impulsos elétricos. Tais conexões são denominadas sinapses. Em seguida, entramos numa fase conhecida como declínio. Na vida adulta, observa-se um declínio no desempenho motor com o passar do tempo, que pode estar relacionado ao envelhecimento, a doenças, ao estilo de vida ou, ainda, à combinação desses elementos. Sobre a motricidade no fim da fase adulta e no envelhecimento, acesse “Parâmetros motores e envelhecimento”. Este artigo, escrito por João Carlos Jaccottet Piccoli e outros autores, nos traz os mesmos critérios e habilidades estudados na unidade, porém, com o viés do envelhecimento. Vale a pena conhecer! 2.4 PADRÕES FUNDAMENTAIS DE MOVIMENTO E SUAS COMBINAÇÕES O desenvolvimento da criança está pautado nas suas habilidades de construir e expandir esquemas motores – estes são estruturados de acordo com as pos- sibilidades biológicas, psicológicos e ambientais (aspectos sociais, familiares, estímulos etc.). 49 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Não existem padrões de movimentos prontos. O ato de pegar de uma criança só será concretizado no momento em que a mão interagir com o objeto. Sabemos que a mão possui uma sensibilidade enorme e força de preensão, mas a sensação de pegar só será concluída com o objeto. Portanto, a criança necessita ter contato com diversas formas de manipular objetos e de se locomover para ampliar seu repertório de opções. Só assim perceberá a melhor forma para se adaptar em diferentes situações. O desenvolvimento motor precisa ocorrer, mas é necessário pensar, também, em como contribuir para o amadurecimento cognitivo, social e afetivo da crian- ça. As habilidades motoras podem e devem ser desenvolvidas em um ambien- te de jogos, brincadeiras e brinquedos que compõem o universo infantil. Adultos que estão em contato com a criança, para trabalhar esse desenvolvi- mento, podem propor atividades a partir do que já é sabido pela criança, como amarelinha, cantigas de roda, pega-pega. E a linguagem corporal é, por vezes, melhor entendida do que a linguagem oral, uma vez que ela é apropriada para inserir atividades culturais infantis dentro do universo do indivíduo. Para aprofundar seus estudos na unidade, leia o artigo “Os esportes em documentos oficiais da Educação Infantil e do Ensino Fundamental”, de Fábio Lemos, publicado em 2010. 2.5 AVALIAÇÃO DE HABILIDADES BÁSICAS A dimensão psicomotora é indispensável e abrange todas as aprendizagens da criança, seja individual ou coletivamente, pois ela permite melhor percepção do corpo, melhor domínio dos movimento e melhor expressão corporal. 50MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Essa tarefa deve ser primordialmente trabalhada pelos pais, em casa, os quais serão os primeiros educadores da criança, seguidos da escola que assumirá, também, a tarefa de educar a criança (BENDA, 1999). Acompanhe, a seguir, os elementos básicos relacionados às habilidades moto- ras que devem ser ensinados e avaliados: FIGURA 11: HABILIDADES PSICOMOTORAS Esquema corporal Orientação e organização espaço-temporal habilidade caracterizada pela ampla possibilidade corporal, já conhecendo as partes do corpo, disposição e posições. é a imagem e a representação que uma pessoa tem sobre o seu próprio corpo, diferenciando-o dos demais e do ambiente que a cerca. com a construção desse esquema, a criança estrutura sua movimentação, seu equilíbrio e sua postura. dividido em estático e dinâmico, ambos tratam-se da habilidade de movimentar as partes do corpo de maneira adequada para manter-se sobre uma base de sustentação refere-se à utilização correta e adequada de diversas ações musculares, para manter-se parado ou em movimento diz respeito a capacidade de ordenar ações motoras de maneira ordenada e repetida. Equilíbrio Ritmo Fonte: Elaborada pela autora (2020). As habilidades arroladas podem ser desenvolvidas e avaliadas através de ativi- dades como pular, correr, dançar, equilibrar-se sobre uma barra, pular corda, bater palmas com sequências repetidas, cantigas com movimentos corporais que acompanham, entre outros. Além das habilidades citadas, temos ainda a motricidade fina, que está rela- cionada a habilidade de realizar movimentos coordenados mais precisos, ge- 51 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 ralmente utilizando as mãos. Tal habilidade pode ser avaliada através de ativi- dades com pintar, escrever, costurar, entre outras. Outra importante habilidade motora diz respeito ao tônus, que se relaciona com a tensão fisiológica dos músculos. É essa tensão muscular que proporciona a capacidade de coordenar movimentos, manter a postura ou qualquer dades para desenvolvimento e avaliação são: brincadeirposição do corpo, pois é res- ponsável pelo equilíbrio estático e dinâmico. Ativias com diversas etapas, como circuitos, pular, rolar, correr, manipular objetos de pesos variados, entre outras. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), são habilidades básicas da lateralidade: 1. Lateralidade: diz respeito ao corpo no mundo. Ou seja, a noção corporal e espacial estruturante no que diz respeito à existência dos hemisférios direito e esquerdo. 2. Direcionalidade: conceito ligado à lateralidade, diz respeito à habilidade de transferir as noções de lateralidade para os objetos no espaço. 3. Dominância: diz respeito à destreza, ou seja, a qual o melhor lado (dominante) em que se desempenha determinada tarefa, considerando sua força e precisão. Por fim, apresentamos a habilidade denominada coordenação global ou motri- cidade ampla. Essa habilidade trata dos movimentos voluntários mais amplos, podendo estes serem simples ou complexos. Atividades que podem fornecer parâmetros avaliativos são brincadeiras que sugerem movimentos simultâne- os dos braços e pernas, correr, saltar, subir em arvores, entre outras. 52MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA FIGURA 12: BRINCADEIRAS COLABORAM NA AVALIAÇÃO DE HABILIDADES MOTORAS Fonte: Plataforma Deduca (2020). 2.6 RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO MOTOR E DESENVOLVIMENTO COGNITIVO Hoje vivenciamos uma sociedade em que as crianças frequentam escolas cada vez mais cedo, iniciando-se na vida escolar antes dos 6 meses em algu- mas situações. Este é o momento de propiciar experiências que ajudem bebês e crianças a integrarem o desenvolvimento motor e cognitivo,com atividades que estimule ambas as dimensões (BENDA, 1999). É uma fase em que a criança ainda possui um conhecimento difuso, em que realidade e fantasia se misturam (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 35) e as crianças devem ser ajudadas a diferenciarem estes dois universos – brincadei- ras de esconder e aparecer, por exemplo, que permitem que a criança perceba a permanência do mundo concreto. 53 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Outro elemento fundamental é o processo de classificar, colocar em catego- rias e fazer generalizações, o qual inicia nesse período. O elemento chave é a autocentração. Autocentração: Percepção de independência, ou seja, quando o indivíduo consegue autogerir suas atividades e ações a partir de seus próprios recursos. FIGURA 13: INTEGRAÇÃO MENTAL E MOTORA Fonte: Plataforma Deduca (2020). A ação corporal da criança é que dará o significado dessa fase. Por exemplo, uma criança contida e censurada poderá aprender a ler e escrever, mas demonstra- rá dificuldades em estabelecer relações com o mundo e com a aprendizagem. A escola, portanto, não tem função apenas de informar, já que a exposição às informações trazidas pelos vários meios de comunicação, especialmente os eletrônicos, têm colaborado com boa parte desse aprendizado. 54MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA A Educação Infantil, por exemplo, caracteriza-se pelo exercício das funções simbólicas da criança e essa compreensão não difere muito do enfoque ado- tado em relação às funções motoras. A criança forma as coordenações motoras básicas que utilizará para a vida toda ainda na fase pré-verbal: engatinhar, andar, rolar etc. Depois da aquisição da fala, esse repertório motor irá se aprimorar e ficará cada vez mais complexo, um resultado de combinações dessas com outras habilidades. Acesse o link e conheça mais sobre a fase pré- verbal no texto de Rodrigo Ratier e Camila Monroe. Assim como o andar, as representações motoras organizadas se desenvolvem até que se concretizam para o mundo, quando a criança começa a falar, sinali- zando que possui boas coordenações mentais e simbólicas. A partir daí inicia- -se o mundo de imaginação e símbolos que caracteriza essa fase. Quando a criança se apropria dos conhecimentos de arrastar, andar, lançar, entre outros, e isso possui representatividade mental, ela passa a incorporá-los no seu dia a dia e torna-se capaz de realizar jogos mais complexos. As representações mentais são a principal habilidade da espécie humana e o jogo é uma atividade simbólica por excelência. Assista ao vídeo para saber mais sobre corpo e movimento na Infância. 55 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CONCLUSÃO Nesta unidade de aprendizagem seguimos com nossos estudos da disciplina “Crescimento, desenvolvimento e aprendizagem motora”, momento em que aprendemos sobre as bases do desenvolvimento motor do ser humano. Conhecemos os fundamentos e características do desenvolvimento motor e cognitivo, refletindo sobre suas possibilidades e relações. Esperamos ter contribuído para seu percurso formativo. Até a próxima! ANOTAÇÕES 56MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA UNIDADE 3 > conhecer os mecanismos de produção do movimento e relacioná-los com a intervenção profissional; > compreender como as diferenças individuais e as assimetrias interferem no controle OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: 57 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM Motora 58MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA 3 MECANISMOS DA PRODUÇÃO DO MOVIMENTO E DA APRENDIZAGEM MOTORA INTRODUÇÃO DA UNIDADE O que observamos quando as crianças estão brincando em um parque? Uma das coisas que vem em nossa mente é movimento, e de fato é! O movimento pode ser entendido como uma ação efetora que resulta em deslocamento dos seguimentos corporais ao longo do espaço e do tempo, sendo desta forma, algo mensurável e observável. Contudo, essa ação efetora nada mais é do que o produto final de todo um processo interno. Sendo um processo interno, ou seja, não observável, frequentemente é negligenciado ou desconsiderado, dando visões dúbias ou destorcidas de como é a intervenção do professor de educação física e de esportes. Uma das formas de compreender como ocorre esse processo interno para gerar a ação efetora é através da abordagem do processamento de informação. Por meio dessa perspectiva, o professor pode compreender o processo de como ocorre a ação motora no seu aluno/atleta, por sua vez intervindo em varáveis que fazem parte desse processo. Nessa unidade são desenvolvidas as ideias principais relacionadas às teorias de Aprendizagem e Controle Motor, os estágios de aprendizagem motora, as mudanças nos mecanismos subjacentes à aprendizagem motora e seus mecanismos de correção de erro, as diferenças individuais e as assimetrias no controle e aprendizagem motora. Ao final dessa unidade espera-se que você compreenda bem como o movimento é produzido e como o movimento modifica com a prática. 59 CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3.1 TEORIAS DE APRENDIZAGEM MOTORA E CONTROLE MOTOR: IMPLICAÇÕES PARA A INTERVENÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA E NO ESPORTE Ao se pensar na intervenção profissional é preciso considerar a natura da ha- bilidade motora que se pretende executar. Existem habilidades motoras cuja ação é rápida, portanto não há tempo suficiente para correções no movi- mento. Por exemplo, um arremesso no handebol, uma tacada no golf ou um chute no futebol. Por outro lado, existem habilidades que há tempo su- ficiente para correções nas sequências de ações. Exemplos como: uma roda na ginástica, uma cortada no voleibol e uma bandeja no basquete, ilustram essas habilidades motoras. Para as habilidades cujo tempo é insuficiente para correções, à teoria do circui- to aberto (KEELE, 1968), primeira teoria de Aprendizagem Motora e Controle Motor, explica bem a sua execução. Na lógica do controle em circuito aberto, o sistema humano controla a habilidade por meio de duas estruturas: o (a) exe- cutivo (responsável por todo o controle) e o (b) efetor (responsável pela execu- ção dos comandos enviados pelo executivo). Após o programa motor ser dispa- rado e enviar os comandos de ativação às unidades motoras responsáveis pela movimentação de determinadas estruturas corporais, não existe mais possibi- lidade de alteração do movimento. Se alguma mudança ambiental ocorrer no período de execução do movimento, ou se o executivo programar os coman- dos de forma errada, não existe a possibilidade de correção. Já para habilidades que há tempo suficiente para correções nas sequências de ações, a teoria dos circuitos fechados (ADAMS, 1971), explica bem sua exe- cução. De forma similar ao controle em circuito aberto, no controle em cir- cuito fechado existe o executivo e o efetor. Entretanto, uma terceira estru- tura conceitual é inserida, o feedback. Caso o que foi planejado não esteja adequado, correções serão efetuadas de forma concomitante ao movimento. Como ilustrado na Figura a seguir, a diferença entre as duas teorias, em linhas gerais, é a estrutura de feedback. 60MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017
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