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LIVRO EM PDF DA DISCIPLINA PENSAMENTO CIENTÍFICO

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PENSAMENTO CIENTÍFICO 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
Amanda Soares de Melo 
CONHECENDO A DISCIPLINA 
A disciplina de Pensamento Científico tem como objetivo proporcionar maior facilidade 
de compreensão da importância do conhecimento no mundo real, tanto na solução de 
problemas teóricos como práticos, favorecendo a identificação dos diversos tipos de 
conhecimentos, distinguindo suas principais particularidades e, principalmente, 
identificando seus limites para a solução de problemas cotidianos. 
Ao longo da disciplina, com base em exemplos objetivos, exploraremos as distinções 
entre o conhecimento vulgar e o científico, desconstruindo mitos popularmente aceitos 
sobre suas aplicabilidades e enfatizando seus desafios no mundo globalizado. 
Examinaremos também os diversos tipos de conhecimentos filosóficos existentes 
frequentemente associados com o científico, destacando seus aspectos valiosos e suas 
dificuldades que se refletem no estabelecimento de uma aceitação universal por parte de 
pesquisadores acadêmicos no campo da ciência e da filosofia. 
Finalmente, avaliaremos a relação entre o conhecimento filosófico e o religioso, com o 
objetivo de proporcionar clareza e entendimento profundo das consequências da 
aplicabilidade desses conhecimentos na realidade. 
O estudo desta disciplina favorecerá a fomentação de uma cultura intelectual mais 
sofisticada, contribuindo para melhores tomadas de decisão frente aos desafios globais, 
sobretudo na problemática da mudança climática e da saúde pública, e ajudando na 
resolução dos problemas pertinentes à vida cotidiana. 
NÃO PODE FALTAR 
QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO 
COMUM E O CONHECIMENTO 
CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
 
 
 
Fonte: Shutteracjstock. 
Deseja ouvir este material? 
CONVITE AO ESTUDO 
Caro aluno, 
Observe o quanto o mundo real é baseado em dois principais pilares: ciência e 
tecnologia. Hoje, mais do que em outras épocas, a relação desses dois campos 
proporcionou inovação global e facilidade de acesso à informação. 
A inovação contribuiu para o rápido progresso tecnológico da sociedade, principalmente 
com a automatização provocada pelo uso de Inteligência Artificial, e o acesso à 
informação aumentou com a ascensão da Internet. Os mecanismos de buscas das 
grandes empresas, como o Google e o Bing, unificaram esses dois elementos e, com 
base em algoritmos cada vez mais refinados, proporcionaram a emergência de anúncios 
e resultados de buscas cada vez mais personalizados de acordo com os dados de acessos 
dos usuários. No entanto, o rápido progresso tecnológico não preparou cognitivamente a 
população para a avaliação crítica das informações recebidas nos meios digitais com 
acesso à Internet. 
Atualmente, em todo o mundo, enfrentamos o problema da fake news, que é um 
conceito em inglês para designar notícia falsa. A fake news atinge todos os setores da 
atividade humana, trazendo sempre algum dano real, como a consequênciaacj dos 
boatos do movimento antivacina, que contribuíram para que doenças até então erradicas 
no Brasil, como a febre amarela, voltassem à tona. 
A fake news se aproveita da falta de entendimento do grande público sobre o que é 
conhecimento e como avaliá-lo. Dessa forma, o indivíduo-alvo acaba não tendo o 
 
 
 
fundamento e as ferramentas necessárias para identificar o quão real é a informação 
recebida. 
Ao decorrer do livro, você será capaz não apenas de entender os diversos tipos de 
conhecimentos, mas também de identificar um tipo peculiar de crença psicológica que 
finge ser científica, geralmente sustentando narrativas fantasiosas ou sensacionalistas. 
O resultado será a compreensão da atividade científica, da importância de sua aplicação 
na vida cotidiana e do impacto que o falso conhecimento, elemento de estrutura das fake 
news, provoca na sociedade contemporânea. 
PRATICAR PARA APRENDER 
Você já precisou procurar alguma informação para a realização de um trabalho? É 
muito provável que sim. Qual o principal meio de busca para encontrar a resposta que 
você precisa? Provavelmente, você responderá Google, Bing ou algum outro site de 
pesquisas online. Diferentemente, nas gerações anteriores ao surgimento e 
popularização da Internet, as buscas eram realizadas através de bibliotecas, livros, 
sumarizações e enciclopédias. 
A Era da Informação trouxe uma enorme facilidade, no sentido de praticidade, do 
encontro de informações. No entanto, com o excesso de informações, é possível que não 
tenhamos acesso a algo verídico. Portanto, será necessário questionar: “As primeiras 
respostas do Google realmente são o conhecimento mais coerente frente à realidade?” 
Com o advento do mundo contemporâneo, o indivíduo que tem um conhecimento sólido 
em sua prática profissional é muito valorizado, mesmo sendo preciso que ele esteja 
disponível para aprender e atualizar sua formação profissional, exigindo cada vez mais 
uma busca por conhecimentos mais avançados em sua área de atuação. 
Pensar cientificamente é uma ótima maneira para garantir uma progressão de 
aprendizado, autocorreção e adaptação conforme a necessidade. Sendo assim, o 
profissional cientificamente orientado pensará nos meios de maximizar sua 
produtividade, levando em conta os impactos que o trabalho excessivo poderia causar 
em seu estado de saúde e, ao mesmo tempo, proporcionando maior capacidade de 
gestão na organização de tarefas em equipe. 
Em uma sala de aula, quatro estudantes são desafiados pelo professor de Filosofia a 
responderem a três questões, que são recorrentes ao longo da história da humanidade. 
1. De onde viemos? 
2. Para onde vamos após a morte? 
3. Por que estamos aqui? 
Cada aluno, em seu modus operandi, adota uma postura diferente em relação às 
respostas. Um vê o mundo a partir do (A) conhecimento científico; outro, do (B) 
religioso; o seguinte, do (C) filosófico e, por fim, o último, através do (D) senso 
comum. Diante dessa situação, a resposta de cada um é: 
 
 
 
Aluno A: Tudo se iniciou no Big Bang, e através de um processo de evolução por meio 
da seleção natural. Após a morte, nossa consciência não mais existe. Não há nenhum 
propósito especial, com base no que conhecemos através da ciência. 
Aluno B: Deus criou o Céu e a Terra tal qual está escrito na Bíblia. Para o paraíso ou 
inferno. Para atender aos desígnios de Deus. 
Aluno C: Qual é a origem do Universo? Qual é a melhor teoria científica? Podemos 
advogar pela defesa do Big Bang? É necessário submeter ao escrutínio da filosofia 
analítica a análise semântica das teorias científicas. Do mesmo modo, é necessário 
clarificar o conceito de morte, olhando pelas implicações do conhecimento científico. 
Essa pergunta traz problemas de ordem metafísica, portanto, é necessário analisar o 
significado do conceito de propósito. 
Aluno D: Depende do contexto. Um indiano, provavelmente, responderia com base em 
suas crenças culturais regionais, manifestando explicações de caráter hinduísta. Se fosse 
um japonês, provavelmente advogaria pelo zen budismo. Um brasileiro responderia 
conforme as crenças compartilhadas de sua região, por exemplo, existem regiões no 
Brasil onde há prevalência de mitos da origem da vida e do universo que têm uma 
relação intrínseca com crenças religiosas africanas, enquanto outras são fortemente 
influenciadas pelo catolicismo europeu. Nesse sentido, como foi explicado no texto, o 
conhecimento popular absorve sempre aspectos de outros conhecimentos quando 
incorporados fortemente pela cultura. 
Nessa interação, percebemos que cada aluno apresenta sua perspectiva pessoal frente às 
três grandes questões. Assim, recomenda-se instigá-los sobre as possíveis 
consequências das adoções de certos tipos de conhecimento e crenças para os desafios 
de sua vida diária e do mundo contemporâneo, tratando de fazê-los responder qual o 
melhor tipo de conhecimento para uma situação específica e comoconciliá-lo com 
outros. Por exemplo, como a adoção de uma crença oriunda do conhecimento religioso 
poderia impactar em questões de saúde individual e coletiva? Qual consequência o 
conhecimento vulgar, aquele de senso comum, traria para a sociedade ao enriquecer 
mais rapidamente do conhecimento científico? A absorção do conhecimento científico, 
tanto no âmbito individual como coletivo, nos tornaria melhores tomadores de decisão? 
Essas questões, consequentemente, reforçariam a existência de diferentes tipos de 
conhecimentos no âmbito da vida cotidiana e fomentariam o pensamento crítico dos 
alunos. 
Saber muito não lhe torna inteligente. A inteligência se traduz na forma que você 
recolhe, julga, maneja e, sobretudo, onde e como aplica esta informação. 
Carl Sagan, trecho do documentário Cosmos (1980). 
CONCEITO-CHAVE 
DOXA, O CONHECIMENTO VULGAR DA SOCIEDADE 
Desde Aristóteles, o conceito de conhecimento tem sido central no debate filosófico. 
Inicialmente, conhecimento era tratado como um tipo de crença racional, verdadeira e 
 
 
 
justificada. Crença, porque faria relação com um estado psicológico do sujeito; racional, 
porque envolveria o exercício de nossas faculdades cognitivas; verdadeira, porque faria 
alusão a objetos ou fenômenos da realidade; e, principalmente, justificada, porque 
requereria um conjunto de enunciados estruturados logicamente. Essa definição, porém, 
não dá conta dos diversos tipos de conhecimentos existentes, alguns dos quais serão 
tratados ao longo do livro. 
Para começar nossa jornada, vamos entender um pouco o conceito de conhecimento 
vulgar, também chamado senso comum ou saber popular. Etimologicamente, refere-se 
ao conceito aristotélico de doxa, ou simplesmente opinião. 
O conhecimento vulgar trata-se de um conhecimento que não quer nenhum tipo de 
exercício crítico, também não envolve nenhum tipo de verificação experimental. 
Geralmente, ele é transmitido culturalmente, de gerações a gerações, muitas vezes 
preservando mitos que eram aceitos em determinada época. Por exemplo, o mito de que 
o chinelo virado com a sola para cima traz azar, ou a ideia de que um trevo de quatro 
folhas traz sorte. No entanto, também é verdade que alguns ensinamentos transmitidos 
pelo conhecimento vulgar possam ser verdadeiros, como a ideia de não colocar a mão 
no fogo para não se queimar, ou mesmo não entrar em uma lagoa se não souber nadar, 
porque é possível se afogar. 
O conhecimento vulgar também pode se enriquecer do conhecimento científico, 
especialmente quando este último se torna bastante popularizado ao ponto de seu 
entendimento se tornar familiar por quase toda população. Por exemplo, a ideia de que 
certos alimentos, como carnes, são mais bem preservados quando congelados, evitando 
sua contaminação e exposição a microrganismos no ambiente aberto. 
Apesar de estabelecer uma pequena relação com o conhecimento científico, o 
conhecimento vulgar não é suficiente para explicar a realidade, exatamente por 
preservar em seu núcleo ensinamentos que podem ser falsos ou simplesmente mitos. 
CONHECIMENTO RELIGIOSO 
O conhecimento religioso pode se enriquecer do conhecimento vulgar, especialmente 
das tradições culturais e religiosas cultivadas ao longo do tempo. Por exemplo, na 
preservação dos mitos gregos de que os deuses reinavam nos céus, apropriada pelas 
religiões politeístas. 
Esse tipo de conhecimento requer um elemento-chave para alcançá-lo, ao menos da 
forma como defenderam diversos pensadores da Idade Média, que é a iluminação 
religiosa como método para conhecer a verdade ou a Deus. 
Essa iluminação religiosa seria como um sentimento de vislumbre por uma paisagem 
maravilhosa, como relatou o cientista Francis Collins (apud SHERMER, 2012) em sua 
experiência pessoal. É como um sentimento de inspiração e encantamento com algo 
notoriamente belo, diante do qual uma pessoa não encontra palavras para expressar tal 
sensação. No entanto, essas experiências religiosas podem ser despertadas mediante o 
uso de substâncias psicoativas, como alucinógenos ou antidepressivos, ou podem ser 
vivenciadas igualmente por qualquer pessoa que tenha apreço pela natureza, de modo 
 
 
 
que seu principal método não caracteriza uma forma autêntica e racionalmente 
justificada para conhecer a realidade. Por conta da subjetividade envolvida durante a 
iluminação religiosa, não é possível demonstrar que a observação pessoal produziu 
cenas reais no cérebro dessas pessoas. 
Outro método comumente cultivado na construção do conhecimento religioso é a 
hermenêutica. A hermenêutica é um tipo de filosofia subjetivista, como defendeu o 
cientista e filósofo argentino Mario Bunge, porque ela dependeria simplesmente da 
interpretação do autor para trazer à luz dos escritos bíblicos a extração de um suposto 
fato vivenciado em tempos remotos. 
A hermenêutica é uma abordagem problemática, pois ela não exige a investigação 
empírica da realidade, como a recolha de dados para contrastar fatos históricos bem 
documentados com a interpretação pessoal do hermeneuta ou teólogo. 
O hermeneuta e o teólogo são os responsáveis por construir esse tipo conhecimento, 
embora o primeiro contemple uma atividade mais geral, podendo abarcar o uso da 
hermenêutica para textos literários ou filosóficos. No entanto, como foi apontado 
anteriormente, o simples fato de invocar a subjetividade do interpretador, ao invés de 
fatos objetivos, lança um desafio na validade desse tipo de conhecimento. 
O CONHECIMENTO FILOSÓFICO: EMPÍRICO E RACIONALISTA 
O conhecimento filosófico é amplo, abarcando diversos posicionamentos ao longo da 
história da filosofia, especialmente o empírico e o racionalista. Esse tipo de 
conhecimento também pode incluir o religioso, uma vez que a base de todo 
conhecimento são os pressupostos filosóficos. Noções de verdade, intuição, dedução, 
cognoscibilidade, crença, realidade, fenômeno, utilidade e outras são conceitos 
filosóficos indispensáveis em qualquer tipo de conhecimento. O conhecimento empírico 
pressupõe a cognoscibilidade dos fenômenos com base nas experiências sensíveis do 
sujeito, enquanto o racional pressupõe que o conhecimento já é derivado da mente do 
sujeito, independentemente de qualquer experiência empírica. 
David Hume e John Locke eram filósofos empiristas e, portanto, defendiam que a fonte 
de conhecimento derivava dos dados sensíveis. René Descartes, por outro lado, 
acreditava que o conhecimento eterno ou matemático poderia ser alcançado pelo 
simples uso da razão, sem a necessidade de qualquer experiência empírica. Embora seja 
verdade também que ele tenha defendido que uma junção de mais fatores era condição 
necessária para alcançar verdades absolutas ou irrefutáveis, por via de seu método 
cartesiano, que estabelecia, no mínimo, quatro condições, como evidência, análise, 
ordem e enumeração, ele deduzia que todos esses princípios eram alcançados mediante 
o uso da razão. 
Embora Descartes tivesse defendido o papel da razão como principal responsável pelo 
conhecimento absoluto, ele fez investigações empíricas durante toda sua vida, 
especialmente nos campos da anatomia e da fisiologia, contribuindo para uma descrição 
de partes do cérebro humano, como a glândula pineal, e especulando sobre sua real 
função no organismo. 
 
 
 
Houve também pensadores de grande importância da filosofia que tentaram unir os dois 
tipos de conhecimentos, sendo o mais famoso o filósofo Immanuel Kant, que lançou as 
bases de seu método racioempirista. Esse método consistia em tomar elementos que ele 
considerava verdadeiros do empirismo e do racionalismo. Kant apropriou-se do 
fenomenismo dos empiristas, em que a fonte de conhecimento se dá através dos 
fenômenos, e não da realidade em si. Kant acreditava que não poderíamos conhecer 
nada além das aparências, de modo que todo o mundo estaria subordinado a impressões 
ou dados sensíveis, tal como acredita Hume. Maisainda, Kant buscou resgatar o 
apriorismo do racionalismo, argumentando sobre a plausibilidade de verdades 
independentes da experiência, que, segundo ele, estariam ali, prontas na mente. 
O racioempirismo kantiano levou a discussões calorosas no campo da filosofia e, junto 
com outros pensadores, inspirou posições bem diferentes entre si na filosofia – 
especialmente, a fenomenologia e o positivismo lógico. 
O incômodo com a posição de Kant é que ele havia se apropriado de elementos 
problemáticos de ambos os conhecimentos empírico e racionalista, não levando em 
consideração a própria ciência da época na elaboração de sua filosofia. Os astrônomos 
Galileu Galilei e Johannes Kepler, por exemplo, já investigavam a realidade além dos 
fenômenos limitados a dados sensíveis. Galileu estendeu sua percepção com um 
telescópio que ele havia aprimorado e descobriu três satélites de Júpiter, enquanto 
Kepler havia calculado a trajetória das elipses planetárias usando ferramentas 
matemáticas, hipóteses auxiliares e instrumentação de medidas. Isaac Newton, um dos 
maiores nomes da revolução científica, estabeleceu leis científicas que poderiam se 
aplicar a quaisquer objetos não diretamente observáveis, mas com velocidades menores 
do que a da luz. Isso, porém, não foi suficiente para ruir a possibilidade de unificação 
entre empirismo e racionalismo. 
No século XX, o cientista e filósofo Mario Bunge procurou unificar o empirismo com o 
racionalismo, resgatando o conceito de racioempirismo, mas se desvinculando das 
posições kantianas notoriamente emblemáticas. Bunge uniu a experiência empírica com 
a condição de exercê-la mediante uso crítico da razão como forma de investigar a 
realidade. Mais ainda, ele estabeleceu que seria necessária a unificação do realismo com 
o cientificismo proclamado dos filósofos da ala radical do iluminismo francês, 
sobretudo com Condorcet, para formular verdades mais profundas sobre o mundo. 
O realismo é a filosofia que advoga a existência de um mundo independente do sujeito 
(realismo ontológico) e que ele pode ser conhecido (realismo epistemológico), mesmo 
que indireta e parcialmente, enquanto o cientificismo é a posição segundo a qual a 
ciência pode produzir o conhecimento mais profundo e verdadeiro da realidade, em 
comparação com outras formas de conhecimentos, como o religioso proveniente da 
iluminação religiosa ou mesmo do interpretacionismo hermenêutico. Porém, diferente 
da concepção caricata difundida sobre o conceito de cientificismo, ele não é uma 
posição preconceituosa e nem autorrefutável, mas uma atitude esperada de qualquer 
pesquisador interessado em investigar a realidade e que acredita que o progresso 
científico é possível e desejável. Mais ainda, o cientificismo é um tipo de filosofia que 
enriquece a ciência, favorecendo a investigação científica, em vez de focar a atenção 
exclusiva na contemplação excessiva de leituras sagradas ou de ideias do próprio 
indivíduo, como faziam os filósofos irracionalistas e teólogos, que negligenciaram 
 
 
 
séculos de progressos científicos. O cientificismo, hoje, está entrelaçado com o 
realismo, dando origem à posição conhecida como realismo científico. 
O realismo científico é a filosofia que admite que podemos tratar teorias científicas 
como descrições ou representações verdadeiras do mundo, mesmo que sejam, por vezes, 
incompletas. É a posição mais defendida dentro da filosofia da ciência, em comparação 
com sua concorrente antirrealista. O antirrealismo, por sua vez, evita fazer uso de 
afirmações ou teorias que não correspondam diretamente à observação pura da 
realidade, desconsiderando o progresso contínuo provocado pela física de partículas ao 
estudar acontecimentos ou elementos que são imperceptíveis diretamente à nossa 
experiência sensível ou mesmo a teorização ou modelagem matemática de fenômenos 
macrossociais que escapam da observação individual do pesquisador sociológico. 
Em resumo, o conhecimento filosófico é amplo, contemplando posições muitas vezes 
compatíveis ou relacionáveis com a ciência, enquanto outras vezes apresentando um 
tipo de conhecimento totalmente oposto ao científico. Sua característica mais 
fundamental é o exercício de análise lógica dos enunciados e das teorias científicas, 
geralmente realizadas por filósofos analíticos ou filósofos da ciência. Seu mérito reside 
no fato de que ele alimenta tacitamente a ciência em um processo de feedback positivo, 
proporcionando um vocabulário mais refinado para a ciência e, ao mesmo tempo, 
alimentando seu repertório de problemas com os novos dados da investigação científica. 
ASSIMILE 
1. No mínimo, existem quatro tipos de conhecimentos, cada qual com sua utilidade e 
aplicação no mundo real. 
2. O conhecimento filosófico também tem uma relação de absorção com outros tipos de 
conhecimentos, principalmente com o científico, contribuindo para o fornecimento de 
um tratamento conceitual adequado e o levantamento de problemas sobre a 
realidade. 
3. Apenas o conhecimento científico possui um mecanismo de autocorreção com o qual 
ajuda a ciência a se ajustar cada vez mais à realidade. 
O CONHECIMENTO CIENTÍFICO 
O conhecimento científico é um tipo de conhecimento sui generis, ou seja, uma classe 
de conhecimento único em sua forma. Esse tipo de conhecimento levou séculos para 
que fosse desenvolvido e teve a participação de diversos filósofos ao longo da história, 
especialmente o egípcio Ibn al-Haytham e o filósofo inglês Robert Grosseteste, além de 
figuras notoriamente conhecidas como Francis Bacon, Galileu Galilei e David Hume. 
Haytham é considerado o primeiro cientista, porque aplicou métodos empíricos de 
investigação para estudar a óptica, sobretudo os efeitos da luz. Grosseteste, por outro 
lado, é uma figura comumente negligenciada em livros históricos, mesmo tendo 
importância central no desenvolvimento das bases do método científico. Por outro lado, 
a literatura vigente considera apenas as contribuições de Bacon, Galileu, Hume e 
Descartes. 
Bacon advogava pela noção de conhecimento intuitivo, ou seja, a ideia de que, com 
base em observações particulares, era possível realizar generalizações. Galileu, por 
 
 
 
outro lado, é conhecido por realmente ter aplicado um método científico para a 
investigação de objetos celestes, indo além do que os empiristas defendiam, ao usar o 
raciocínio abstrato, a imaginação e a instrumentalização adequada para ultrapassar suas 
experiências sensíveis. Hume, porém, limitava-se a propor um método atrelado à 
percepção, de modo que se fôssemos levar ao pé da letra sua posição, não seria possível 
algo como biologia molecular, cosmologia e principalmente mecânica quântica, já que 
essas disciplinas transcendem a pura percepção do investigador científico. 
Descartes, no entanto, conciliou um aspecto importante que Hume também defendia, o 
chamado ceticismo metodológico. O ceticismo metodológico é a posição que nos 
permite duvidar de certas conjecturas ou hipóteses que não foram submetidas à prova. 
Essa posição é basicamente uma dúvida razoável, nunca absoluta, na falta de boas 
evidências. Em resumo, essa é a posição que norteia toda a atividade científica ainda 
hoje. 
Com base numa compreensão mais profunda da realidade, os filósofos do século XX 
tentaram caracterizar de forma objetiva o conhecimento científico, buscando delimitá-lo 
de outras formas de conhecimentos, sendo a figura mais importante dessa atitude o 
filósofo austríaco Karl Popper. 
REFLITA 
1. O que torna o conhecimento científico confiável? 
2. Como o conhecimento filosófico pode contribuir com o conhecimento científico? 
3. De forma satisfatória, é possível estabelecer um critério de demarcação entre ciência e 
pseudociência, indo além das concepções propostas no século XX? 
Karl Popper (2013) tentou propor um critério de demarcação entre ciência e não ciência 
(onde se incluem artes, filosofia e pseudociência), como objetivo também de responder 
ao problema de Hume. Sua ideia era de que nenhuma observação é suficiente para 
confirmar uma teoria, que bastaria um contraexemplo para demonstrar sua falsidade. 
Analogamente ao exemplo mais tipicamente usado, o fato de observar cisnes brancos 
em uma região não permite fazer uma generalização apressada de que todos os cisnes 
são brancos, pois a observação de um cisne negro refutaria a teoria. Então, Popper 
lançou a condição de que toda teoria, para ser científica, deveria ser passível de 
falseabilidade ou falseacionismo, ainda mais porque contribuiria para seu refinamento. 
A falseabilidade é a condição de que teorias devem ter a capacidade de serem provadas 
falsas em alguma circunstância. 
Popper argumentava que a confirmação trivial não assegurava uma boa teoria, 
utilizando a psicanálise como exemplo de caso para mostrar que a observação do 
analista geraria uma confirmação excessiva, embora não suficiente para avaliar seu grau 
de verdade. Mais ainda, ele argumentou que a falta de condições de refutação da teoria 
psicanalítica seria um elemento vital para sua fossilização, como o caso do inconsciente 
freudiano, que admite a existência de três instâncias psíquicas ou entidades 
desencarnadas (id, ego e superego), mas que nunca é clarificado se são conceitos 
meramente simbólicos ou objetos tão reais quanto axônios, neurônios, sinapses e 
partículas. 
 
 
 
Com seu critério de demarcação, Popper foi duramente criticado pelos filósofos 
irracionalistas, sobretudo Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Kuhn (2017) defendeu que 
existiam, no mínimo, duas ciências: a normal e a extraordinária. A normal é a ciência 
acerca da qual existe minimamente um consenso estabelecido entre a comunidade 
científica. Em seguida, dentro da ciência normal, segundo Kuhn, ocorre uma crise sem 
precedentes, ocasionada por uma nova descoberta, passando a existir a dificuldade de 
estabelecimento de um consenso. Quando essa nova descoberta se consolida, ocorre 
uma revolução científica, dando início à etapa de uma nova e extraordinária ciência, 
rompendo com velhas concepções de mundo. Pense, por exemplo, na revolução 
científica ocasionada pela emergência da teoria da relatividade geral, que, embora seja 
sempre lembrada como fruto do trabalho de Albert Einstein, também teve a contribuição 
de outros grandes nomes da física, como Henri Poincaré. A relatividade provocou uma 
reação de incerteza na comunidade científica por conta de sua aceitação total ao longo 
de anos e das limitações físicas agora evidentes das teorias newtonianas para o estudo 
de objetos de grande massa. Isso, porém, não significa que a relatividade geral demoliu 
a física de Newton. Isso também não sustenta a defesa de Kuhn de que não existe algo 
como progresso científico. A teoria da relatividade e o uso da mecânica de Newton têm 
permanecido de pé ainda hoje, sendo a última responsável pela possibilidade de envio 
de foguetes ao Espaço. 
Feyerabend (2011), por outro lado, foi ainda mais radical e sentenciou que não existe 
algo como método científico e que, na ciência, “tudo vale”, de modo que não existiriam 
regras para serem seguidas, a ponto de, segundo ele, os cientistas diversos romperem 
com os protocolos de investigação para formularem suas ideias. Feyerabend foi 
seduzido por essa visão por conta de sua descrença na medicina científica e a suposta 
experiência de cura por uma curandeira, o que o levou a relativizar o status 
epistemológico da medicina em seus trabalhos. Sua posição ficou conhecida como 
anarquismo epistemológico. Embora essa seja a visão que mais prevalece na academia, 
ela é falsa, porque ignora que não existe ciência sem método científico (ou seja, sem 
regras minimamente estabelecidas e/ou procedimentos experimentais de investigação, 
principalmente de acordo com os princípios da pesquisa bioética) e, principalmente, 
sem ethos (ou código de conduta) tacitamente aceito pela comunidade científica. Uma 
ciência sem método não seria capaz de investigar a realidade em todos os seus níveis, 
também não seria capaz de progredir ao longo dos anos e, mais importante, sem ethos 
tanto a verdade como a mentira teriam pesos igualmente válidos dentro da comunidade 
científica. 
O ethos da ciência foi primeiramente clarificado pelo sociólogo da ciência Robert K. 
Merton (1968). Ao investigar a comunidade científica, ele identificou alguns princípios 
que norteavam a pesquisa científica, sendo eles: comunismo epistêmico, universalismo, 
desinteresse, ceticismo coletivo e originalidade. 
O comunismo epistêmico enfatiza que o conhecimento científico é propriedade de 
todos, portanto, ele deve ser sempre acessível; o universalismo advoga que todos os 
cientistas, independente de sua etnia ou localização geográfica, podem contribuir com a 
ciência; o desinteresse destaca que os cientistas devem agir conforme a comunidade, de 
acordo com os interesses coletivos, sempre acima dos interesses pessoais; o ceticismo 
coletivo determina que as reivindicações científicas devem ser submetidas à análise 
crítica da comunidade; e, finalmente, a originalidade diz respeito à ideia de que as 
demandas científicas devem contribuir com a novidade, seja na formulação de novos 
 
 
 
problemas, dados ou teorias. A suspensão do ethos leva ao florescimento da 
pseudociência. 
O conceito de pseudociência, de antemão, exige uma compreensão do que é a ciência. 
No entanto, nenhum filósofo havia sido capaz de conceituar a ciência de forma 
adequada, deixando sempre espaço para que reivindicações não científicas se passassem 
como ciência. O filósofo Mario Bunge (2010) mostrou que a concepção popperiana de 
ciência deixava espaço para que reivindicações parapsicológicas fossem tratadas como 
ciência, simplesmente porque satisfaziam o critério de falseabilidade. Porém, como 
Bunge enfatizou, o que torna um campo científico não é sua condição de falseabilidade, 
mas uma série de princípios, entre os quais estão incluídos um fundo de conhecimento, 
uma base formal, uma epistemologia realista, uma ontologia materialista, um ambiente 
livre de pesquisa e, principalmente, a prática de um ethos entre membros da 
comunidade científica. Nesse sentido, Bunge (2014) define a ciência como um sistema 
de ideias caracterizados como um conhecimento sistemático, racional, exato, verificável 
e, portanto, falível, sendo uma representação conceitual do mundo. Além disso, quando 
um campo falha em satisfazer a maior parte dos princípios de cientificidade, ele pode 
ser considerado pseudocientífico. 
A pseudociência, consequentemente, pode ser conceituada de forma oposta à ciência, 
como sendo um sistema de crenças subjetivas, irracionalistas ou puramente 
intuicionistas, inexata, inverificável e, portanto, dogmática, pois ela não submete à 
prova suas crenças, não exige uma linguagem clara, precisa e objetiva, nem um 
vocabulário articulado de ideias inter-relacionadas, e, quando se mostra falha, como na 
hipótese da existência do inconsciente freudiano da psicanálise ou das ondas psi da 
parapsicologia, ela permanece estagnada no tempo, não atualizando suas crenças à luz 
de novas evidências. 
Em resumo, o conhecimento científico é um tipo especial de conhecimento, que possui 
em seu aspecto central a revisão constante de hipóteses e teorias científicas, sempre 
submetendo à prova conjecturas e, mais ainda, proporcionando a melhor representação 
da realidade em todos os seus níveis (físico, químico, biológico, psicológico, social, 
artificial, etc.). Por ser um tipo de conhecimento antidogmático por princípio, ele não 
deve ser confundido com a pseudociência, em que, em sua característica mais essencial, 
o livre debate de ideias é substituído pelo culto à autoridade e pela salvação contínua de 
crenças falsas, por conta do sentimento de incerteza provocado pelo mal entendimento 
da ciência. 
EXEMPLIFICANDO 
1. O conhecimento vulgar(ou senso comum) absorve todos os tipos de conhecimentos 
ao longo dos anos. No entanto, ele pode conservar em seu núcleo crenças falsas sobre 
a realidade. Por sua vez, o conhecimento religioso possui, ao menos, duas abordagens 
principais, como a que é baseada na iluminação religiosa e a interpretacionista, 
advogada por teólogos ou hermeneutas. De forma semelhante ao conhecimento 
vulgar, esse tipo de conhecimento pode manter ideias falsas em seu núcleo, sobretudo 
por focar sua abordagem mais no indivíduo subjetivo do que na investigação da 
realidade externa. 
2. O conhecimento filosófico é amplo em sua forma, sendo difícil delimitá-lo. Por essa 
razão, ele pode ser desenvolvido em uma relação de dependência do conhecimento 
 
 
 
científico, como também é possível fazê-lo de forma independente. No entanto, sua 
característica mais fundamental tem sido a clarificação dos conceitos utilizados em 
diversos tipos de conhecimentos. Além disso, ele é um tipo de conhecimento que 
permite fazer certas generalizações sobre a realidade. Por exemplo: todos os objetos 
existentes são materiais; todos os objetos reais possuem propriedades físicas, como 
energia; a realidade é um grande sistema emergente e material; as leis da natureza 
revelam a impossibilidade da existência de entidades desencarnadas, como almas, 
espíritos, inconsciente freudiano ou cérebros dualísticos. 
3. O conhecimento científico é único em sua forma. É o tipo de conhecimento que 
produz o entendimento mais profundo e verdadeiro sobre a realidade, indo além das 
percepções empiristas, a partir do momento que destaca o importante papel da 
teorização e modelagem para representar a realidade com base nas evidências. Sua 
característica mais fundamental é o mecanismo de autocorreção, que permite corrigir 
imprecisões e, então, refinar cada vez mais as explicações sobre o mundo. Por sua 
natureza particular, é um conhecimento antidogmático por princípio. 
No decorrer do livro, foram exemplificados os diversos tipos de conhecimentos 
existentes, bem como os desafios que cada um deles enfrenta. Também foi explicado 
como diferentes tipos de conhecimentos podem ser relacionados com outros, como na 
relação recíproca entre o conhecimento filosófico e o científico, em que um enriquece o 
outro, proporcionando um aumento gradual do conhecimento na esfera da atividade 
humana. Dessa forma, espera-se que, com base nessa introdução, você tenha a 
capacidade de distinguir os diversos tipos de conhecimentos, bem como de procurar 
aprofundar seu conhecimento ao longo dos anos. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
A falseabilidade é o princípio filosófico no qual uma teoria, para ser considerada 
científica, deve ser capaz de realizar predições que sejam possíveis de serem provadas 
falsas em alguma circunstância. Um exemplo bastante difundido para expressar a ideia é 
a observação de um grupo de cisnes brancos não ser suficiente para afirmar que todos os 
cisnes são brancos, já que a observação de um cisne negro refutaria a afirmação. 
Qual o primeiro filósofo a propor a falseabilidade como um critério de demarcação para 
a ciência? 
a. David Hume. 
 
b. Karl Popper. 
 
c. Francis Bacon. 
 
d. René Descartes. 
 
 
 
 
e. Robert Grosseteste. 
Questão 2 
O ethos da ciência é o conjunto de princípios éticos coletivos que norteia a comunidade 
científica. Esses princípios foram percebidos, pela primeira vez, pelo sociólogo da 
ciência Robert K. Merton, que destacou seus aspectos principais. 
Quais princípios formam o ethos da ciência? 
a. Autoritarismo - universalismo - niilismo - desinteresse - originalidade. 
 
b. Comunismo - universalismo - ceticismo - desinteresse - originalidade. 
 
c. Socialismo - relativismo - ceticismo - interesse - familiaridade. 
 
d. Dogmatismo - irracionalismo - individualismo - interesse - falsidade. 
 
e. Comunismo - absolutismo - ceticismo - desinteresse - originalidade. 
Questão 3 
A pseudociência é conhecida por conta de sua marginalidade frente ao conhecimento 
científico do momento, de modo que ela não segue nenhum critério objetivo de 
investigação e nem sequer cultiva uma comunidade crítica para a análise de suas ideias. 
Quais são as características fundamentais da pseudociência? 
a. Originalidade, ceticismo, racionalismo e claridade conceitual. 
 
b. Falsidade, dogmatismo, relativismo e claridade conceitual. 
 
c. Originalidade, ceticismo, racionalismo e obscurantismo. 
 
d. Falsidade, subjetivismo, dogmatismo e obscurantismo. 
 
e. Falsidade, obscurantismo, ceticismo e claridade conceitual. 
REFERÊNCIAS 
BUNGE, M. Caçando a Realidade: a luta pelo realismo. Tradução de Gita K. 
Guinsburg. [S.l.]: Editora Perspectiva, 2010. 
 
 
 
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 
2014. 
BUNGE, M. Las pseudociencias ¡vaya timo! 2. ed. [S.l.]: Editora Laetoli, 2014. 
BUNGE, M. In Defense of Realism and Scientism. Annals of Theoretical Psychology, 
Boston, v. 4, p. 23-26, 1986. Springer US. Disponível em: https://bit.ly/3b59Qg3. 
Acesso em: 24 nov. 2020. 
BUNGE, M.; SCHLÖTTER, P.; RAYNAUD, D.; ROMERO, G. E.; MOLINA, E.; 
PIEVANI, T.; LARRINAGA, V. J. S.; ELÍAS, C.; CAMPO, A. C.; FISAC, M. Á. 
Q. Elogio del Cientificismo. Tradução de Gabriel Andrade. [S.l.]: Editora Laetoli, 
2017. 
DESCARTES, R. Discurso Sobre o Método. [S.l.]: Editora Vozes de Bolso, 2018. 
FEYERABEND, P. Contra o Método. 2. ed. [S.l.]: Editora Unesp, 2011. 
KUHN, T. S. A Estrutura das Revoluções Científicas. [S.l.]: Editora Perspectiva, 
2017. 
MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução 
científica. [S.l.]: Editora Zahar, 2016. 
MERTON, R. K. Sociologia: teoria e estrutura. [S.l.]: Editora Mestre Jou, 1968. 
POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013. 
SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela 
no escuro. [S.l.]: Editora Companhia das Letras, 2006. 
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
QUAL A DIFERENÇA ENTRE O SENSO 
COMUM E O CONHECIMENTO 
CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
 
 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Para resolver o problema, é necessário entender o contexto histórico e filosófico por trás 
da origem de cada tipo de conhecimento, destacando os aspectos fundamentais que 
levaram à sua aceitação ou rejeição, fazendo analogias ou experimentos mentais (ou 
seja, imaginando circunstâncias nas quais certos tipos de conhecimentos poderiam ser 
aplicados, levando em consideração seus possíveis impactos na esfera da vida cotidiana) 
para reforçar a aprendizagem. 
Um caminho para levar à resolução da situação-problema consiste na utilização da 
analogia do conhecimento científico com a atividade política, entendendo suas 
principais diferenças, mas destacando seus aspectos de interdependência. Por exemplo, 
embora a ciência dependa da política para uma série de condições, sobretudo no 
direcionamento de recursos para suas atividades, ela não é decidida de modo 
semelhante, de modo que a ciência não advoga pela democracia para chegar a um 
consenso, mas opera com base nos estudos e na qualidade da evidência resultante da 
investigação da realidade, confrontando muitas vezes uma visão dominante dentro da 
ciência, ou mesmo crenças políticas e religiosas individuais dos próprios cientistas, até a 
aceitação plena de teorias mais bem confirmadas, como ocorreu historicamente no 
processo de aceitação da teoria da evolução de Charles Darwin e sua implicação 
filosófica e política no contraste com o criacionismo bíblico, e na emergência da 
mecânica quântica, da qual alguns físicos, como Albert Einstein, resistiram-se a aceitar 
a natureza indeterminística da realidade. 
Isso significa que muitas vezes seremos confrontados com visões que entram em 
desacordo com nossas preferências políticas, ideologias e crenças religiosas, mas isso 
não éum sinal de que devemos abrir mão do conhecimento científico. Na verdade, 
devemos trabalhar criticamente para absorvê-lo da melhor forma possível, 
especialmente para ajustar nossas crenças e visões de mundo à realidade. Pense, por 
 
 
 
exemplo, no caso das Testemunhas de Jeová e o embate notório em questões de ordem 
filosófica, sobretudo ética, e de saúde pública, que norteiam as ciências da saúde, no que 
se refere à rejeição de práticas e cuidados médicos relacionados ao uso da técnica de 
transfusão de sangue por seus seguidores. A rejeição do conhecimento científico levaria 
essas pessoas a permanecerem em sofrimento, a adoecerem progressivamente, 
simplesmente porque não conseguiram conciliar suas crenças e visões de mundo com o 
conhecimento científico. 
O conhecimento vulgar também está enraizado em diversas concepções equivocadas do 
mundo, principalmente nas que trazem algum dano não apenas à humanidade, mas à 
natureza e aos animais. Por exemplo, a crença social compartilhada de que gatos pretos 
trazem azar, o que instiga o comportamento de maus-tratos contra animais, 
simplesmente porque a população não teve acesso ao conhecimento científico para 
entender a origem e a consequência dos mitos ao longo da história. Apenas o 
conhecimento científico pode elucidar essas questões, mostrar seus impactos no mundo 
real e avaliar o quão realistas são as crenças culturais ou religiosas mais bem difundidas. 
Em outras palavras, o conhecimento científico enriquece a cultura e alimenta a 
sociedade, contribuindo para que o senso comum se afaste cada vez de concepções 
equivocadas do mundo. 
Um elemento-chave que contribui para a absorção do conhecimento científico pelo 
senso comum é entender que a formulação desse tipo de conhecimento que se dá através 
da construção das teorias científicas não surge espontaneamente do nada, nem de forma 
isolada com a pura observação de um fenômeno, mas se baseando em um problema e 
um fundo de conhecimento anterior. Contrastar a ciência e a pseudociência também 
ajuda a entender os aspectos que influenciam os grupos humanos. Evidenciar o 
princípio de abertura às novas ideias que o conhecimento científico proporciona e sua 
característica de testar ideias que não nos parecem razoáveis à primeira observação, 
como quando estamos pensando em comprar um carro usado e fazemos perguntas sobre 
a condição atual do automóvel, contribui para ajustar nossa visão de mundo a uma 
posição mais crítica e realista. Mais ainda, a consequência fundamental do senso 
comum absorver a ciência é, a curto prazo, a formação de melhores tomadores de 
decisões. 
NÃO PODE FALTAR 
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS 
DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
 
 
 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Provavelmente, você já se perguntou o que torna o conhecimento científico diferenciado 
em comparação com outras formas de conhecimento, razão pela qual diversas grandes 
potências reservam uma parcela de seu PIB para investir em ciência e tecnologia, mas 
não encontrou nenhuma explicação dentro de um contexto histórico apropriado que 
detalhasse as principais características do conhecimento científico. 
Sem um contexto adequado é impossível discutir o que é conhecimento científico, bem 
como explicar quais seriam suas características e o porquê desse tipo de conhecimento 
ser único em sua espécie. Por causa dessa dificuldade de entendimento da ciência, você, 
em alguma parte de sua vida, perguntou: “Por que os cientistas estudam planetas 
distantes em vez de concentrarem seus esforços em problemas sociais vigentes, como a 
desigualdade social, a extrema pobreza e a desnutrição?” ou “Por que investir milhões 
de dólares em pesquisas básicas?” 
Com um pouco de tratamento filosófico e história da ciência, seria possível responder 
que diversos esforços coletivos promovidos dentro do contexto da história da Era 
Espacial contribuíram direta e indiretamente para o surgimento de tecnologias usadas no 
dia a dia, como travesseiros, painéis solares, satélites artificiais, detectores de fumaça e 
muitos outros. Poderia também ser respondido que uma compreensão profunda da 
genética levou ao desenvolvimento de alimentos transgênicos, que são ricos em 
proteínas, contribuem para a redução do uso de agrotóxicos e auxiliam diretamente no 
combate à desnutrição em países do continente africano. 
 
 
 
Explicar a origem de todo esse processo de construção de conhecimento enriquece a 
cultura à medida que revela como as características do conhecimento científico auxiliam 
no progresso tecnológico, principalmente na produção de vacinas em contextos de 
pandemias, como a da Gripe Espanhola e do novo coronavírus (SARS-CoV-2). 
Em uma sala de aula, um professor de Filosofia da Ciência escolhe três alunos com o 
objetivo de atribuir a cada escolhido uma disciplina que alegue o status de ciência: a 
primeira disciplina é a Astronomia (atribuída ao aluno A), a segunda disciplina é a 
Sociologia (atribuída ao aluno B) e a terceira disciplina é a Psicanálise (atribuída ao 
aluno C). 
Em seguida, os alunos são convidados a aplicar o ceticismo científico na disciplina 
atribuída a eles para avaliar suas hipóteses e teorias, bem como questionar suas bases 
analisando a possível compatibilidade com os resultados da ciência. 
Supondo que os alunos tiveram êxito no trabalho proposto, considere o resultado a que 
cada aluno chegou: 
a. A astronomia é uma ciência porque suas teorias são compatíveis com os dados 
disponíveis das melhores agências espaciais. 
b. A sociologia é uma ciência porque suas teorias são baseadas em evidências. Além 
disso, a sociologia consegue, com base no uso de modelagem computacional, realizar 
predições sobre fenômenos sociais com alto nível de acurácia. 
c. A psicanálise não parece ser uma ciência, ou talvez seja uma pseudociência, porque 
suas principais hipóteses não constituem uma teoria científica. Mais ainda, algumas 
alegações sobre possíveis entidades ou objetos não podem ser testadas ou 
demonstradas empiricamente. Ela também tem outro ponto falho, que consiste na 
ausência de uma formalização lógica adequada da qual seja possível a extração 
objetiva do significado de um conceito central no campo. 
Normalmente, o próprio aluno C poderia indagar sobre o motivo pelo qual a psicanálise 
ainda mantém um local prestigiado em universidades públicas e particulares, sendo que 
ela falha em cumprir os requisitos mínimos esperados de um campo que alega produzir 
conhecimento científico. 
Quais seriam os possíveis indicadores que revelariam o porquê de certas 
pseudociências, como a psicanálise, ainda manterem algum prestígio na academia, 
mesmo não cumprindo requisitos esperados de uma atividade que preza pela verdade? 
A ciência é mais que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, uma forma 
cética de interrogar o universo, com pleno conhecimento da falibilidade humana. Se não 
estamos aptos a fazer perguntas céticas para interrogar aqueles que nos afirmam que 
algo é verdade, e sermos céticos com aqueles que são autoridade, então estamos à mercê 
do próximo charlatão político ou religioso que aparecer. 
Carl Sagan, entrevista de 1996. 
CONCEITO-CHAVE 
 
 
 
CONHECIMENTO CIENTÍFICO: SISTEMATICIDADE, FALIBILIDADE E 
QUESTIONABILIDADE 
Algumas características essenciais do conhecimento científico mostram como ele é um 
conhecimento único em sua espécie, trazendo maior nível de confiabilidade em 
comparação com outros tipos de saberes no mundo contemporâneo. Um aspecto central 
é seu princípio de sistematização, que é basicamente a forma como seus enunciados são 
estruturados logicamente, evitando confusões da linguagem ordinária, como 
contradições lógicas e polissemia. 
A sistematização do conhecimento científico permite que seus enunciados não entrem 
em contradição ao longo de uma explicação a respeito dealgum fenômeno da realidade, 
evitando a utilização de jargões desnecessários e, por vezes, incompreensíveis, como 
sentenças que fazem parte de muitos sistemas filosóficos dos chamados filósofos do 
irracionalismo, como Friedrich Hegel e Martin Heidegger. 
A adoção de uma estrutura lógica dentro de enunciados científicos permitiu que 
qualquer discurso ou método dialéticos fosse extirpado do conhecimento científico, 
contrariando a crença popular de que a dialética é um elemento indispensável na 
atividade científica. Isso ocorre desde o surgimento da ciência moderna, admitindo 
tacitamente o Princípio da Não Contradição de Aristóteles, que assegura que afirmações 
contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Portanto, a ciência evita o 
uso de proposições contraditórias, como “esse círculo é quadrado”, “toda verdade é uma 
mentira” e “tudo é relativo”. 
A dialética é um conceito problemático desde Heráclito, significando em seus 
primórdios a ideia de que existe um Princípio da Unidade dos Contrários, ou seja, a 
ideia de que todas as coisas que existem possuem uma contraparte ou uma entidade 
oposta (por exemplo, partículas e antipartículas). Muitos séculos depois, o filósofo 
Hegel buscou desenvolver a dialética dentro de seu sistema filosófico, admitindo alguns 
pressupostos da tese original, como a ideia de que existe uma unidade dos opostos e a 
noção segundo a qual todas as coisas mudam. No entanto, Hegel foi muito pouco claro 
sobre o que ele queria dizer com “dialética”, de modo que até hoje não existe um 
consenso entre filósofos sobre o que ela é: uma lógica não clássica, que romperia com o 
Princípio da Não Contradição da ciência moderna; uma ontologia das coisas; ou 
simplesmente ambas. Apesar do extenso debate filosófico sobre a dialética, ela não 
conseguiu ganhar espaço em nenhuma ciência natural, social ou biossocial – nem 
mesmo na ciência formal, com a lógica e a matemática. 
Outro aspecto central do conhecimento científico é a falibilidade, que significa que 
todo discurso científico é passível de correção, evitando assim qualquer tipo de 
dogmatismo, como a estagnação de uma hipótese científica e o culto à autoridade. Esse 
conceito está presente na tese do filósofo da ciência Karl Popper (2013), que estipulou 
que a falseabilidade ou refutabilidade é a condição para refinar cada vez mais hipóteses 
e teorias científicas. 
Esse princípio de falseabilidade é importante para a estruturação de hipóteses iniciais ou 
primitivas, por polir afirmações destituídas de evidências científicas, mas não é um 
critério de demarcação satisfatório para produzir conhecimento científico. Na verdade, 
mesmo que alguns cientistas considerem que a ciência siga o modelo popperiano, 
nenhum filósofo da ciência considera-o como um critério satisfatório – especialmente 
 
 
 
porque a pseudociência também mantém um nível de conciliação com o respectivo 
critério de demarcação. 
A falibilidade permite que a ciência progrida com novos dados e evidências, fazendo 
também com que as teorias sejam cada vez mais (re)ajustadas à realidade, produzindo 
um conhecimento diferenciado em comparação com os outros, sendo então mais 
profundo e verdadeiro. Essa posição também é admitida por filósofos científicos – ou 
seja, filósofos que estão em dia com os resultados da ciência e tecnologia –, que 
assumem que a ciência produz um tipo de conhecimento mais profundo e verdadeiro. 
A ciência também mantém em seu núcleo um aspecto 
de questionabilidade ou ceticismo, que significa dúvida metodológica e consiste na 
adoção do ceticismo científico, que é o princípio segundo o qual todas as hipóteses e 
teorias devem ser questionadas de forma metódica, responsável e cientificamente 
orientada. Isso significa que a ciência não adota um tipo de ceticismo conhecido como 
radical, em que tudo deve ser questionado, que advoga por um questionamento 
absoluto, irresponsável, descontrolado e, portanto, dogmático. A questionabilidade 
promovida na ciência é a que submete alegações e hipóteses destituídas de evidências 
razoáveis à crítica de outros cientistas, promovendo um diálogo construtivo, sadio e útil 
para o desenvolvimento da ciência. 
O ceticismo científico não deve ser confundido com o negacionismo da ciência, que é a 
posição que defende a rejeição completa ou parcial do conhecimento científico. O 
negacionismo da ciência está atrelado a posições ideológicas de seus praticantes, 
entrando em cena quando a ciência revela um fato em relação ao qual a pessoa está em 
desacordo por alguma razão política, religiosa ou cultural. Alguns exemplos de 
negacionismo da ciência incluem a negação de efetividade das vacinas, a rejeição da 
circunferência da Terra, a depreciação das consequências das mudanças climáticas e a 
resistência em aceitar a evolução biológica das espécies através do processo de seleção 
natural. 
OBJETIVIDADE, POSITIVIDADE, RACIONALIDADE E EXPLICABILIDADE 
No contexto do conhecimento científico, o conceito de objetividade não deve ser 
confundido com objetivismo, que é doutrina ideológica e pseudofilosófica de Ayn 
Rand. A objetividade se refere à pretensão clara e objetiva na formulação de enunciados 
científicos, evitando o subjetivismo interpretativo, que é a noção segundo a qual é 
possível a extração de diversas interpretações e múltiplos significados de um 
determinado texto. Por conta de a linguagem científica ser diferente da linguagem 
ordinária, principalmente pela sua construção lógica e sistematização, o subjetivismo 
não faz parte das proposições científicas. 
A objetividade é atrelada a uma concepção positiva de ciência, cujo papel é o acúmulo 
gradual de conhecimento por meio da confirmação empírica, em vez de uma estrutura 
desordenada que desmorona a cada nova revolução científica, como defendeu de forma 
irresponsável o filósofo e historiador da ciência Thomas Kuhn. Segundo Kuhn (2017), a 
ciência muda como a moda, de modo que o objetivo da ciência não seria mais a 
verdade. No entanto, essa concepção ignora que todas as revoluções científicas são 
sempre parciais, que elas nunca rompem totalmente com o conhecimento anterior, como 
 
 
 
é o caso da mecânica clássica de Newton, que, mesmo após o surgimento da teoria da 
relatividade geral e da mecânica quântica, ainda permanece válida para calcular a 
trajetória de objetos terrestres e continua sendo usada para enviar foguetes ao espaço. 
A teoria da evolução de Charles Darwin também é outro exemplo dessa característica 
positiva da ciência, pois ela foi atualizada com os dados da genética e da biologia 
molecular, revelando um panorama ainda mais abrangente sobre a evolução das 
espécies, explicando até a origem de certos traços comportamentais nos seres humanos 
modernos. No entanto, a ciência não progride apenas com base em experimentos, ela 
precisa de racionalidade. 
A racionalidade presente no conhecimento científico pode ser explicada de duas 
formas, pelo menos: a ideia de que todo discurso científico é debatível de forma 
organizada (com o exercício do uso da razão) ou a ideia de que o raciocínio formal é um 
alicerce na construção do conhecimento científico. A primeira ideia pressupõe 
tacitamente características anteriormente explicadas, como as noções de sistematização 
e de objetividade, de modo que apenas com uma linguagem compreensível, logicamente 
e objetivamente coerente, é possível discutir racionalmente conhecimentos e problemas 
científicos, enquanto a segunda exprime a ideia de que a construção de conceitos 
lógicos e formais serve para representar objetos que possuem existência concreta, 
material e real na realidade, como campos, partículas e cérebros. 
De acordo com a última definição, sem o raciocínio formal, o qual consiste na ciência 
formal da lógica e da matemática, nenhum conhecimento seria possível, pois são 
necessários sempre símbolos e expressões matemáticas não apenas para representarobjetos, mas também para quantificar os dados oriundos da investigação científica. Até 
mesmo a filosofia contemporânea, como a filosofia analítica e a filosofia científica, trata 
o raciocínio lógico-matemático como essencial para a produção de conhecimento 
filosófico. No entanto, o conhecimento científico busca trabalhar com o raciocínio 
formal visando fornecer uma explicação mais adequada com base nos dados e nas 
evidências da investigação científica, de modo que não é um mero exercício lógico 
destituído de valor empírico. 
A pretensão de elaborar cada vez mais proposições e teorias ajustadas à realidade revela 
o aspecto de explicabilidade da ciência. Sem a pretensão de explicar a realidade, ou 
algum de seus níveis em particular (físico, químico, biológico, psicológico, social, 
artificial, etc.), os cientistas não teriam qualquer motivo para investigar o mundo e 
produzir conhecimento científico. A explicabilidade, portanto, refere-se simplesmente 
ao papel da ciência em investigar o mundo e prover conhecimentos cada vez mais 
profundos sobre as coisas. 
ASSIMILE 
1. O conhecimento científico advoga pelo princípio de racionalidade, de modo que seu 
discurso é universalmente compreensível. 
2. O aspecto corretivo do conhecimento científico é sempre guiado pelas evidências da 
realidade. 
3. Toda a atividade científica cultiva o questionamento cético moderado ou razoável, que 
é orientado pela evidência. 
 
 
 
REVISIBILIDADADE, AUTONOMIA, ACUMULABILIDADE E VERIFICABILIDADE 
O conhecimento científico é justamente difícil de definir por conta de suas diversas 
características. Em comparação com o conhecimento religioso, por exemplo, apenas o 
conhecimento científico tem como preocupação acja revisibilidade de seus conceitos e 
teorias mediante a investigação científica. Enquanto o conhecimento religioso admite 
múltiplas interpretações de um texto como igualmente válidas, o que importa no 
conhecimento científico é a compatibilidade de seu corpo de conhecimento com as 
evidências, independente do que um cientista pensa a respeito. Pelo mesmo motivo, a 
ciência não deve ser comparada com a política, pois seu conhecimento não é decidido 
como verdadeiro mediante uma votação por decreto ou escolha da população. O 
conhecimento científico é tratado como verdadeiro quando os resultados de uma 
investigação apontam numa determinada direção. 
Já a autonomia existente na ciência pode se referir ao âmbito individual e coletivo, 
como quando um cientista tem liberdade para investigar - seguindo os protocolos éticos 
da pesquisa científica - e quando a ciência tem liberdade para investigar problemas que 
contradizem anseios políticos. Por exemplo, quando os cientistas sociais podem estudar 
livremente os impactos das desigualdades sociais nas populações de baixa renda, ou 
quando o objeto de estudo são os efeitos sistêmicos das mudanças climáticas, que, 
normalmente, contradizem interesses privados de empresas ou políticos. 
Contraexemplo: quando os cientistas são impedidos de investigar por conta de sua 
nacionalidade ou etnia, como ocorreu com os físicos judeus durante a emergência do 
nazismo na Alemanha, ou quando os pesquisadores são perseguidos pelo governo com a 
desculpa de serem infiltrados de uma potência mundial rival ou advogarem por uma 
suposta ideologia contrária à aceita pelo Estado, como aconteceu no caso dos 
geneticistas de plantas na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). 
Mesmo com todas as dificuldades que a história da ciência revela sobre o processo de 
construção do conhecimento científico ao longo dos séculos, toda a experiência passada 
é traduzida em conhecimento sociológico, revelando que a ciência e a política, embora 
sejam atividades completamente distintas, dependem de uma relação amigável para 
prosperarem, seja para promover a investigação científica fornecendo recursos 
financeiros do Estado, seja para usar os resultados científicos na elaboração de políticas 
públicas mais justas. 
A acumulabilidade do conhecimento científico é o que justifica seu aspecto de 
progresso, justamente porque exemplos de experimentos malsucedidos são 
considerados, não apenas para refletir sobre os desafios metodológicos e 
epistemológicos da ciência, mas também para aumentar o rigor necessário durante a 
avaliação dos trabalhos que são submetidos para revistas científicas. Mais ainda, os 
resultados negativos na ciência, com base no olhar sociológico, podem revelar aspectos 
que foram negligenciados sistemicamente durante a época de aceitação ou 
implementação de uma ideia. Por exemplo, a aplicação política de ideias 
pseudocientíficas, que já não eram muito bem aceitas, no início do século XX, como a 
eugenia e o darwinismo social, levou ao extermínio de judeus, negros, pobres e pessoas 
com deficiência, sob o pretexto de “busca pela pureza genética”. 
A elucidação da pseudociência só foi possível graças ao princípio 
de verificabilidade da ciência, que é a ideia segundo a qual um enunciado, uma 
 
 
 
hipótese ou uma teoria deve ser passível de ser colocada à prova. No entanto, o conceito 
de verificabilidade requer um contexto adequado por conta de sua polissemia. 
A noção mais forte de verificabilidade foi apresentada pelo lógico Rudolph Carnap, 
durante a emergência do positivismo lógico do Círculo de Viena. Esse círculo era 
formado por um grupo de cientistas e filósofos interessados nos problemas filosóficos, 
históricos e sociológicos da ciência. A despeito dos mitos que circulam sobre o círculo, 
eles defendiam teses bastantes heterogêneas, tinham preocupações políticas e sociais 
sobre a atividade científica, não eram ingênuos e nem reducionistas (não reduziam todo 
o conhecimento às ciências naturais) e buscavam uma linguagem universal para a 
ciência. No entanto, a tese de Carnap ficou imensamente conhecida ao ponto de ser 
tratada equivocadamente como representativa de todo o círculo. 
A tese verificacionista de Carnap postulava que uma proposição tem sentido se, e 
somente se, existir alguma circunstância que permita sua verificação. Se não existisse 
alguma possibilidade de verificação, a proposição seria considerada como destituída de 
sentido e significado e, portanto, ela não faria outra coisa a não ser trazer 
pseudoproblemas. Essa tese foi duramente golpeada, justamente por outro filósofo que 
era simpatizante do círculo, mas que não fazia parte dele: Karl Popper. 
Karl Popper enfatizou que a tese não era suficiente como um critério para proposições, 
além de diversos outros problemas enumerados em sua obra A Lógica da Pesquisa 
Científica (2013), argumentando que a condição de verificabilidade não é suficiente 
para que uma proposição ou teoria seja considerada científica, mas simplesmente a 
condição de sua possível refutação. Para Popper, uma teoria é científica se, e somente 
se, existir alguma circunstância que permita sua refutação. Se não existir nenhuma 
circunstância passível de refutação, a teoria não é considerada científica. Com isso, 
Popper lançou as bases de sua hoje conhecida tese: o falseacionismo. 
REFLITA 
1. Dado o sucesso do conhecimento científico na explicação de diversos fenômenos da 
realidade, o que torna a ciência um campo confiável? 
2. Dado o contexto de negacionismo anticientífico na sociedade contemporânea, por que 
é importante adotar o ceticismo científico? 
3. Por que a lógica é um elemento indispensável dentro do conhecimento científico? 
FACTUALIDADE, ANALITICIDADE E COMUNICABILIDADE 
A ciência não se resume a uma atividade puramente empírica. Ela também contempla 
disciplinas que lidam com aspectos formais do método científico, que usam seu aspecto 
de racionalidade para investigar problemas matemáticos, lógicos e semânticos. Para 
clarificar essa abrangência, é necessária uma distinção rápida sobre esses dois tipos de 
ciências: a ciência fática (ou factual) e a ciência formal. 
Como explica o filósofoMario Bunge em seu livro La Ciencia, su Método y su 
Filosofía (2014), a ciência fática lida com entes concretos ou materiais (como campos, 
partículas, animais, pessoas), adequa-se aos fatos e possui consistência empírica (como 
a física, a química, a biologia, a psicologia, a sociologia), enquanto a ciência 
 
 
 
formal lida com entes ideais (como números, conceitos, axiomas), adequa-se a um 
conjunto de regras e possui consistência racional (como a lógica e matemática). No 
entanto, tanto a ciência fática como a ciência formal normalmente se cruzam em um 
processo de enriquecimento contínuo. 
A ciência formal fornece à fática a analiticidade essencial para sua sistematização, 
formalização e objetividade. Com esse tratamento analítico, o conhecimento científico 
se torna mais exato, porque evita-se a ambiguidade e a armadilha da linguagem 
ordinária. Desse modo, justifica-se a definição de Bunge (2014) da ciência como um 
tipo de conhecimento sistemático, racional, exato, verificável e, portanto, falível, sendo 
a melhor reconstrução conceitual do mundo do qual fazemos uso. 
Finalmente, a ciência preza pela comunicabilidade, ou seja, os resultados científicos 
são passíveis de serem comunicáveis de forma objetiva para quaisquer pesquisadores ao 
redor do mundo. Mais ainda, os resultados podem ser traduzidos na linguagem ordinária 
com o objetivo de visar à popularização da ciência e ao enriquecimento cultural através 
da atividade de divulgação científica. 
EXEMPLIFICANDO 
1. O conhecimento científico tem uma estrutura lógica ordenada, a qual permite a 
extração de proposições objetivas. 
2. O conhecimento científico visa explicar a realidade em sua totalidade, adequando sua 
metodologia científica para o estudo de cada nível (físico, químico, biológico, 
psicológico, social e artificial). 
3. O conhecimento científico progride ao longo do tempo, ajustando suas teorias às 
evidências, corrigindo imprecisões e mantendo seu aspecto questionador frente a uma 
gama de hipóteses sobre o mundo. 
Devido à natureza peculiar do conhecimento científico, suas diversas características 
revelam o porquê de ele poder ser considerado como um tipo de conhecimento mais 
profundo, verdadeiro e confiável. Embora muitos argumentem que o aspecto 
autocorretivo seja uma sentença de risco, o que levaria a duvidarmos cada vez mais do 
nível de verdade e profundidade desse tipo de conhecimento, ignora-se que a requerida 
compatibilidade das teorias com as evidências é o que aproxima a ciência da descrição 
mais precisa o possível da realidade. 
FAÇA VALER A PENA 
Questão 1 
O ceticismo científico é uma das características fundamentais da ciência e de toda a 
atividade intelectual. O astrônomo e divulgador científico Carl Sagan escreveu uma 
obra chamada O Mundo Assombrado Pelos Demônios (2006), em que ele descreve 
exemplos de aplicação do ceticismo científico na vida cotidiana. O ceticismo, 
argumenta Sagan, é uma ferramenta indispensável para não deixar enganar a nós 
mesmos. 
Qual é a definição de ceticismo científico? 
 
 
 
a. Uma abordagem filosófica que adota a suspensão de juízo pela impossibilidade de provar algum 
fenômeno. 
 
b. Uma abordagem niilista que considera a ciência isenta de valores. 
 
c. A negação absoluta do conhecimento científico. 
 
d. Uma abordagem que consiste na dúvida metódica ou razoável aplicada a situações e afirmações 
destituídas de boas evidências. 
e. A crença religiosa no poder da ciência. 
 
Questão 2 
A verificabilidade é a noção que advoga a preocupação com o teste experimental. No 
entanto, essa posição não pode ser confundida com o verificacionismo do Círculo de 
Viena e nem com o falseacionismo do filósofo da ciência Karl Popper. 
O que significa verificacionismo? 
a. Um critério de demarcação entre ciência e pseudociência. 
 
b. Um critério para verificar através da observação se certos enunciados são significativos. 
 
c. Um critério ético para a ciência. 
 
d. Um axioma matemático. 
 
e. Uma lógica não clássica. 
Questão 3 
A lógica é uma ciência formal, embora possa ser aplicada na ciência fática com o 
objetivo de proporcionar melhor clareza e objetividade para os enunciados científicos. 
Seu uso evita a ambiguidade da linguagem ordinária, facilita o entendimento conceitual 
e impede a contradição no conhecimento científico. A dialética, por outro lado, tolera 
contradições e ambiguidades da linguagem ordinária. No entanto, ela ainda é 
considerada por muitos como uma ferramenta essencial para a ciência, os quais acabam 
ignorando suas implicações com o Princípio da Não Contradição de Aristóteles e 
defendendo que ela serve como uma técnica de comparabilidade entre ideias 
aparentemente distintas, a partir da qual, de alguma forma, seria possível a extração de 
uma nova ideia ou hipótese. 
Historicamente, qual pensador é considerado o pai da dialética? 
 
 
 
a. Friedrich Hegel. 
 
b. Friedrich Nietzsche. 
 
c. Martin Heidegger. 
 
d. Aristóteles. 
e. Heráclito. 
 
REFERÊNCIAS 
BUNGE, M. La Ciencia, su Método y su Filosofía. [S.l.]: Editora Sudamericana, 
2014. 
CARNAP, R. The Logical Structure of the World and Pseudoproblems in 
Philosophy. [S.l.]: Editora Open Court, 2003. 
MARCONDES, D. Textos Básicos de Filosofia e História das Ciências: a revolução 
científica. [S.l.]: Editora Zahar, 2016. 
POPPER, K. A Lógica da Pesquisa Científica. 2. ed. [S.l.]: Editora Cultrix, 2013. 
SAGAN, C. O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela 
no escuro. [S.l.]: Editora Companhia de Bolso, 2006. 
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO 
QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS 
DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
 
 
 
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SEM MEDO DE ERRAR 
Para resolver o problema, é necessário pensar nas circunstâncias sociais que moldam a 
administração e gestão universitária. 
Desse modo, pode-se concluir que a pseudociência mantém algum nível de prestígio e 
lugar na universidade, não por razões teóricas ou níveis de verdade, mas simplesmente 
pela pressão social exercida pelos próprios praticantes da disciplina, de modo que a 
simples existência de grupos fechados, onde apenas profissionais certificados da área 
sejam tolerados, contribui para o impedimento da livre circulação de ideias sobre os 
problemas que o campo enfrenta. 
Ao impedir que profissionais de outros campos relacionados tenham direito ao debate, 
como psicólogos experimentais, neurocientistas cognitivos e biólogos evolutivos, 
revela-se o indicador de dogmatismo, que está presente em qualquer pseudociência e 
visa impedir o fomento da crítica científica responsável com o objetivo não apenas de 
análise dos problemas de um campo, mas também de procurar ajustar suas hipóteses aos 
melhores dados disponíveis da investigação comportamental. 
Revelados seus aspectos opostos ao do conhecimento científico, justifica-se que um 
campo ou disciplina não se constitui de um saber científico autêntico. Então, é 
necessário também procurar saber as motivações que os envolvidos na prática teriam 
 
 
 
apenas para manter o ensino de psicanálise em instituições de educação, como a questão 
da remuneração excessiva envolvida e a reputação da qual gozam em certos setores 
universitários e da grande mídia. 
NÃO PODE FALTAR 
COMO AGIR COM ÉTICA NA 
PESQUISA CIENTÍFICA? 
Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira 
 
Fonte: Shutterstock. 
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PRATICAR PARA APRENDER 
Provavelmente, em algum momento de sua vida, você já pensou sobre as possíveis 
consequências éticas do uso de animais na pesquisa científica, ou mesmo sobre os 
experimentos nazistas com humanos. Com base nesses exemplos, é possível que você 
tenha considerado que a ciência poderia estar isenta de princípios éticos, ao menos é o 
que algumas pessoas defendem. 
No entanto, será que a ciência é um “tudo vale”,em que reflexões sobre a ética e a 
saúde dos indivíduos ou animais de laboratórios não são consideradas? Será que a ética 
representa um empecilho para o desenvolvimento pleno da ciência? Até que ponto 
devemos estar cientes da importância dos postulados éticos que norteiam a pesquisa 
científica? 
 
 
 
Na corrida não apenas por um entendimento profundo sobre doenças emergentes, mas 
também pelo desenvolvimento de medicamentos e vacinas, certos protocolos éticos 
desempenham sua importância na investigação científica. Além disso, a ética, enquanto 
campo de investigação, tem conseguido acompanhar a ciência com o objetivo de 
enriquecê-la ao estudar seus potenciais problemas éticos. 
Com base no estudo recíproco entre ciência e ética, alternativas cada vez mais 
humanísticas para o estudo em laboratório têm sido apresentadas, com o objetivo de 
evitar o uso e o teste desenfreados com animais. Mesmo o campo da tecnologia, que 
mantém uma relação bilateral com a ciência, também tem levado em consideração o 
raciocínio ético, principalmente ao pensar nas possíveis consequências sobre o 
desenvolvimento de armas e robôs automatizados em um contexto de guerra. 
Aqui, convido você a concentrar-se nos fundamentos éticos da pesquisa científica, 
analisando seus possíveis impactos e benefícios no desenvolvimento da ciência. 
Um grupo de cientistas quer investigar o cérebro humano e, para isso, eles lançam uma 
ficha de inscrição solicitando voluntários para sua pesquisa. A pesquisa é apresentada 
como tendo grande potencial para a área da saúde, com o objetivo de testar um futuro 
medicamento para a doença de Alzheimer. No entanto, a ficha de inscrição não diz nada 
sobre os possíveis riscos aos voluntários ao serem submetidos ao teste experimental. Em 
resumo, não há avaliação dos riscos sendo apresentada para os voluntários. 
Mesmo na ausência de protocolos de riscos, diversos voluntários assinam a ficha de 
inscrição com o objetivo de contribuírem para a ciência. Então, o grupo de cientistas 
inicia sua pesquisa neurocientífica. 
No experimento, os cientistas dividem seus voluntários em dois grupos: o grupo A e o 
grupo B. O grupo A recebe uma droga com potencial de reparar danos nas células 
cerebrais e maximizar a memória, enquanto o grupo B recebe placebo. Quem está 
incumbida de ministrar os comprimidos é uma enfermeira voluntária. 
No decorrer do experimento, o grupo A começa a relatar cefaleia, náuseas, vômitos, 
diarreias e perda de apetite. O grupo B, no entanto, relata apenas uma sensação de 
relaxamento. Então, após os cientistas decidirem dosar uma segunda leva de 
comprimidos, ocorre a morte de um voluntário no grupo A. 
O grupo de cientistas, então, decide que o experimento deve ser encerrado, por conta da 
morte e dos efeitos graves provocados pela ingestão da substância. 
acordo com a situação-problema, quais foram as violações éticas que o grupo de 
cientistas cometeu e que contribuíram para o fracasso do experimento científico? 
O progresso científico, guiado pelos princípios morais delineados nos demais 
mandamentos, é a condição indispensável do progresso humano e das liberdades 
individuais e por isso ele não será jamais obstado por qualquer princípio religioso, por 
relativismos culturais ou particularismos sociais que possam existir." 
Richard Dawkins. 
 
 
 
CONCEITO-CHAVE 
A ÉTICA NA PESQUISA CIENTÍFICA: A QUESTÃO DOS VOLUNTÁRIOS 
A ética é um campo de conhecimento filosófico que estuda os princípios éticos. No 
entanto, existe também uma ética científica, que é o enfoque multidisciplinar que, em 
conjunto com a ciência, busca avaliar a plausibilidade da adoção de certos princípios 
éticos e normas sociais. No geral, esse campo pode ser visto como o estudo do 
comportamento moral com base na antropologia, na psicologia, na sociologia e na 
história, tratando de abordar o surgimento, a manutenção, a reforma e o declínio das 
normas sociais, enquanto a ética filosófica analisa conceitos éticos, como altruísmo, 
bondade e cooperação, bem como filosofias éticas ou simplesmente preceitos morais, ou 
seja, ações justificadas por princípios éticos filosóficos que podem ser benéficas ou 
nocivas para outras pessoas. 
A ética também estuda a ciência – especialmente, as normas éticas que vigoram na 
comunidade científica. Ela estuda ainda o impacto ético de certos estudos que são feitos 
com animais e humanos. Além disso, a ética está interessada no comportamento 
inadequado durante o desenvolvimento de uma pesquisa – principalmente, na motivação 
do cientista em fraudar resultados. De fato, a ética é uma disciplina abrangente por 
conta de sua ampla gama de problemas estudáveis, sobretudo da ciência. 
Entre os diversos problemas éticos que advém da atividade científica, três merecem 
atenção: a questão do consentimento dos voluntários para o desenvolvimento de uma 
pesquisa, o problema da preservação de identidade e integridade e, por último, a relação 
entre voluntários e pesquisadores no decorrer da investigação científica. 
O primeiro problema ético, que envolve a questão do consentimento dos voluntários, 
refere-se à autorização prévia de uso de certos dados dos participantes na pesquisa 
científica. De outro modo, uma pesquisa que utiliza de forma indevida dados de seus 
voluntários sem o consentimento necessário está violando princípios éticos e, 
consequentemente, prejudicando a qualidade da pesquisa. 
O segundo problema ético, referente à preservação de identidade e integridade, refere-se 
à proteção de informações sensíveis dos participantes de um estudo experimental. 
Também se refere ao princípio de que os participantes devem estar cientes dos riscos 
envolvidos no teste experimental do qual serão voluntários – nesse caso, é importante 
deixar claros os possíveis riscos trazidos aos voluntários ao se submeterem ao 
experimento. 
O terceiro problema ético envolve a relação entre voluntários e pesquisadores. Nesse 
sentido, o problema mais evidente é a possível manipulação do comportamento dos 
voluntários de acordo com a intenção do cientista de obter um resultado específico em 
um estudo clínico. Por exemplo, um voluntário poderia agir de acordo com as 
expectativas do pesquisador ao ser submetido a um teste clínico para investigar a 
eficácia de algum fármaco – o que, consequentemente, enviesaria os resultados, 
prejudicando a qualidade da evidência. O voluntário poderia dizer que, ao ingerir o 
fármaco testado, ele conseguiu obter os melhores benefícios à saúde, mesmo que o 
relato, de fato, não proceda. Portanto, durante a condução de testes clínicos, 
principalmente no âmbito da saúde, é necessário que os voluntários sejam selecionados 
de forma aleatória (randomizados), que exista uma amostragem significativa para ser 
 
 
 
representativa e, mais ainda, que existam grupos de controle de placebo – especialmente 
para identificar a possibilidade de o resultado obtido sobre a eficácia do fármaco ser 
estatisticamente significativo quando comparado ao grupo que tomou placebo (por 
exemplo, uma pílula de farinha que visivelmente parece ser o fármaco real, mas sem 
suas propriedades farmacológicas). 
ÉTICA COM OS DADOS DA PESQUISA 
A ética também está relacionada à forma como o trabalho científico é produzido e 
apresentado na hora da avaliação pelos pares, de modo que plágios, manipulações de 
dados estatísticos e falsificações não são tolerados quando descobertos pelos revisores. 
Na pseudociência, acontece o contrário: a manipulação e falsificação de dados é sempre 
tolerada em nome do convencimento público em favor de uma hipótese. Por exemplo, o 
caso envolvendo o hoteleiro Erich von Däniken, autor do livro Eram os Deuses 
Astronautas? (2018), que falsificou dados para apoiar a sua reivindicação de que os 
alienígenas teriam visitado a Terra no passado e ajudado as civilizações antigas a 
construírem artefatos megalíticos; e o caso relatado pelo crítico literário

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