Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Semiologia Endócrina Introdução: o sistema endócrino é um dos sistemas que regulam as funções somáticas. O faz por secreções lançadas na corrente sanguínea, os hormônios, que possuem efeito em receptores específicos. As principais glândulas estudadas são: hipotálamo, hipófise, tireóide, paratireóides, suprarrenais, testículo e ovários. HIPOTÁLAMO E HIPÓFISE Anátomo-fisiologia: o hipotálamo é uma peça chave para a integração neuroendócrina e psicológica, sendo um órgão límbico, endócrino e integrador. Ele é responsável por manter a homeostase da temperatura, da osmolalidade e da pressão arterial. Ele possui neurônios secretores de projeção, neurônios hipofisiotróficos (que sintetizam hormônios reguladores dos hipofisários), e magnocelulares (que sintetizam os hormônios ADH e ocitocina, armazenados na neurohipófise). A hipófise, por sua vez é uma pequena glândula da base do crânio, suprida pela artéria hipofisária superior (ramo da carótida interna), e sua drenagem se dá através do sistema porta-hipofisário, pelo qual também circulam os hormônios liberadores hipotalâmicos. A hipófise se divide em neuro-hipófise ou posterior, e adeno-hipófise, ou anterior, sendo que a primeira apenas armazena hormônios produzidos por células magnocelulares do hipotálamo, enquanto que a segunda sintetiza hormônios tróficos, que agem de modo a gerar um feedback de controle (LH, FSH, GH, ACTH e Prolactina). Quadro resumo: os principais aspectos dos hormônios hipofisários e sua regulação hipotalâmica são descritos no quadro abaixo. Hormônio Função Produtor Alvo Regulação ACTH ↑Cort., Ald. e Melanina Corticotrofo Adrenal CRH ↑ TSH ↑T3 e T4 Tireotrofo Tireóide TRH ↑ FSH ↑Estradiol ♀ ↑Testost. ♂ Gonadotrofo Ovário Test. GnRH↑ LH ↑Progester. ♀ ↑Test. ♂ Gonadotrofo Ovário Test. GnRH↑ GH ↑S. Protéica ↑Glicemia Somatotrofo Ossos Tec per. GHRH ↑ Somatost↓ Prolactina ↑Produção de leite Lactotrofo Mamas TRH↑ PIH (dop.)↓ Ocitocina ↑Ejeção leite ↑Cont uterina Hipotálamo Útero Mamas Reflexos e Parto ADH ↑Reabsorção de água Hipotálamo Túbulos renais Osmolar. do plasma Exame clínico: o exame se dá pelo estudo de síndromes de hipossecreção, hipersecreção, hipotalâmicas e efeito de massa. Síndromes de hipossecreção: uma história clínica de baixa estatura, consanguinidade paterna, apresentação pélvica ao parto, traumas obstétricos, hipoglicemia e icterícia neonatal despertam a atenção para alguma hipofunção da adenohipófise. Em qualquer idade, história de cirurgia de base do crânio, traumatismos, neoplasias primárias ou metastáticas, também despertam atenção para hipofunção hipofisária. O diagnóstico laboratorial de redução de hormônios hipofisários ou radiológico do parênquima na ressonância de sela turca é complementar às suspeitas levantadas clinicamentes. → Hipocortisolismo secundário: gera sintomas menores do que o primário, pois a secreção de Aldosterona é mantida. As principais manifestações são: perda de peso, hipoglicemia de jejum, perda da força muscular, sonolência, queda de pelos axilares e pubianos, anorexia e hipotensão postural. → Hipotireoidismo secundário: o quadro sintomático inclui: astenia, intolerância ao frio, bradicardia, anemia, pele seca, edema facial, apatia e hiporreflexia profunda. → Hipogonadismo secundário: os sintomas incluem retardo puberal, amenorreia, hipotrofia mamária e dispareunia em mulheres e ginecomastia, infertilidade, perda de massa muscular e da libido em homens. → Deficiência de prolactina: gera agalactia puerperal. → Deficiência de GH: caracteriza-se por perda da massa magra, acúmulo visceral do tecido adiposo com aumento do LDL. Também pode gerar diminuição da massa óssea e fraqueza. Em crianças, a hipoglicemia, retardo no crescimento, dentes anômalos, micropênis e hipotrofia muscular são sinais característicos desse distúrbio. A baixa estatura é uma queixa que deve ser bem investigada. O registro da altura da criança em gráficos é útil para verificar a forma como a estatura da criança varia. Quedas bruscas na velocidade do crescimento indicam agressões graves na saúde física ou emocional da criança. As estaturas baixas não são sinônimos de deficiência do GH, na verdade, devem-se excluir síndromes congênitas como Turner e Down, síndrome de Cushing, desnutrição, doenças do conjuntivo ou síndromes de má absorção. A altura alvo da criança é dada por fórmulas diferentes para meninos e meninas, e a altura deve sempre ser avaliada de modo proporcional a outros crescimentos corporais. ♂ = (h materna 3) h paterna 5] [ + 1 + ± ÷ 2 ♀ = (h paterna 3) h materna ] [ − 1 + ± 5 ÷ 2 Síndromes de hipersecreção: tal qual as síndromes de hipofunção, elas variam bastante conforme o hormônio que está em excesso. → Acromegalia e gigantismo: em adultos, a secreção do GH e somatomedinas IGF-1 leva à acromegalia, quase sempre associada ao adenoma hipofisário. Essa condição leva ao crescimento de mãos (dedos em salsicha), pés e osteoartroses que geram artralgias incapacitantes. Na face, ocorre alargamento nasal, aumento labial, auricular, macroglossia, proeminência frontal e dos zigomáticos e separação dos dentes, gerando o fácies acromegálico, o que gera alterações craniofaciais que Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina impactam na rouquidão (disfonia) e apneia obstrutiva do sono. Ocorrem também alterações relacionadas ao aumento da resistência insulínica, como problemas cardiovasculares. Podem-se encontrar visceromegalias importantes, mas o diagnóstico se confirma por métodos laboratoriais e de imagem. Em crianças com o desvio padrão (5 cm) 3 vezes maior do que a média da sua idade, ou 2 vezes maior do que sua altura alvo, a investigação endócrina deve ser realizada, pois nessa faixa etária, ocorre o gigantismo, de mesmas etiologias. → Síndrome de Cushing: a síndrome de cushing pode ser exógena (pelo uso de glicocorticóides), ou endógena. As síndromes endógenas podem ser primárias, ou secundárias ao aumento do ACTH (pela própria hipófise, por carcinomas, ou por aumento do CRH hipotalâmico). Testes para averiguar a redução do ACTH ou seu aumento em resposta a glicocorticóides e CRH sintético podem auxiliar a identificar se a etiologia é hipofisária ou não. A síndrome de cushing possui manifestações em comum com as que serão vistas no exame das glândulas suprarrenais. → Hiperprolactinemia: a hiperprolactinemia patológica, em geral decorre dos prolactinomas hipofisários, ou do uso de fármacos. Com o excesso da prolactina, ocorre galactorreia, oligomenorreia, perda de libido, dispareunia, osteoporose e infertilidade (a prolactina inibe a liberação de GnRH, impedindo a produção de FSH e LH), no homem, isso ocasiona perda de libido, fraqueza muscular, redução do ejaculado e osteoporose, e a galactorreia é quase patognomônica de prolactinoma. → Hipertireoidismo: é marcado pelo bócio difuso e tireotoxicose, sem dermatopatias e oftalmopatias que caracterizam a doença de graves, que constitui um diagnóstico diferencial que deve ser lembrado. → Puberdade precoce: a puberdade precoce é quando as alterações dessa fase do desenvolvimento ocorrem antes dos 8 anos em meninas e dos 9 emmeninos. A puberdade precoce em geral aparece com sintomas isolados, como hirsutismo, menarca precoce, ou telarca precoce, e são ditas verdadeiras quando todas as características puberais surgem de forma precoce. Ela pode ser de origem central ou periférica (PPC ou PPP). A PPC é aquela em que há dependência de mecanismos relacionados a gonadotrofinas, como tumores hipofisários e hipotalâmicos, e em garotas geralmente é idiopática. A PPP por sua vez ocorre em virtude de produção autônoma de gonadotrofinas (tumores secretores de HCG), testiculares, adrenais e ovarianos, e ela pode ser heterossexual, ou seja, meninas podem desenvolver hirsutismo e virilismo por hiperplasia adrenal (pois a glândula produz androgênios). O diagnóstico laboratorial por dosagens dos diferentes hormônios pode auxiliar na identificação do problema. Deve-se também radiografar os punhos para avaliação da idade óssea. Em meninos, a avaliação dos testículos pelo orquidômetro pode indicar assimetria, o que auxilia no diagnóstico clínico de tumores testiculares. → Secreção inapropriada de ADH: a SIADH se caracteriza pela secreção persistente do ADH, o que leva o paciente à produção de urina concentrada, e com plasma diluído. Vale lembrar que vômitos persistentes, insuficiência suprarrenal e hipotireoidismo também cursam com hiponatremia, e tais condições devem ser afastadas para um diagnóstico preciso. O paciente, no entanto, mantém a ingestão de líquido, e realiza uma expansão volêmica, que gera edema. Devem-se afastar causas como Insuficiência cardíaca, cirrose, síndrome nefrótica e uso de diuréticos, que causam a hiponatremia e o edema, porém possuem perda volêmica. As causas da SIADH podem ser hipotalâmicas ou ectópicas (câncer de pequenas células do pulmão), infecciosa ou mesmo medicamentosas como em uso de inibidores da recaptação da serotonina (IRSS). Efeitos da hiponatremia síndromes hiponatrêmicas se caracterizam por fraqueza, anorexia, vômitos, convulsões e coma. Deve-se também atentar ao fato de que uma reposição natrêmica rápida gera lesão irreversível de neurônios pontinos (mielinólise pontina), de modo que deve se dar de forma gradual. Síndromes hipotalâmicas: o ADH é responsável pela reabsorção de água nos túbulos distais, que são naturalmente impermeáveis a água. Isso assume especial importância em estados de desidratação, como vômitos e diarreias, em que esse hormônio deve manter a volemia, já que o plasma é concentrado. O diabetes insipidus ocorre na gestação (a enzima vasopressinase inativa o ADH), por polidipsia primária (lesão no centro da sede), por causas centrais (redução da produção de ADH), ou nefrogênico, na vigência de dessensibilização do receptor. O diabetes insipidus se caracteriza por poliúria e polidipsia (sede excessiva), que não melhoram à noite, gerando noctúria. Em restrição hídrica, pacientes apresentam severo aumento osmolar, pois produzem urina excessivamente diluída. Podem-se lançar mão das dosagens hormonais de ADH para diferenciar as causas, e a ressonância de crânio é recomendada em DI central. Efeito de massa: são gerados por compressão de estruturas adjacentes. São comuns sintomas de perda de visão periférica por compressão do quiasma óptico (quadrantanopsias bitemporais inferiores ou hemianopsias bitemporais), cefaléias, diabetes insipidus, compressão do III, IV e VI Nervos cranianos e sintomas Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina relacionados à disfunção hipotalâmica como defeito na termorregulação, obesidade, alterações de humor e sono. TIREÓIDE A glândula tireóide é endócrina, em formato de borboleta, localizada anteriormente à traquéia, em nível de C5 a C7. Possui dois lobos, unidos pelo istmo, além, de, em algumas pessoas, possuir um lobo acessório ou piramidal. A vascularização é feita pelas artérias tireóideas superior, média e inferior, e a inervação é simpática. Possui sintopia com o nervo laríngeo inferior. Histologicamente, a glândula é folicular, contendo células foliculares (próximas ao colóide), produtoras de T3 e T4, e células parafoliculares (ou C), produtoras de Calcitonina, cujos efeitos antagonizam com o do PTH. Sua regulação é pelo eixo que envolve hipotálamo e hipófise. O TRH hipotalâmico estimula a adenohipófise a produzir TSH, que estimula as células foliculares ou tireócitos a produzir o T3 e T4, que quando livres na corrente sanguínea, inibem o TRH e o TSH. T3 e T4 são produzidos através da ação de enzima peroxidase tireóidea (TPO), que, com o iodo que chega à célula, realiza iodação do composto tireoglobulina (TG). Nesse processo, são produzidos MIT e DIT (inativos), T3 e T4, são transportados no sangue majoritariamente por globulinas, dentre as quais, está a albumina. O T4 circulante se converte em T3, biologicamente ativo, e se liga a receptores nucleares induzindo a expressão gênica. A ação global do hormônio é acelerar o metabolismo basal, aumentando frequência cardíaca, remodelação e crescimento ósseos, e maturação intrauterina. Anamnese: aspectos-chave para a investigação da tireóide são: sexo (predomina em mulheres), idade, naturalidade e procedência (áreas com carência de iodo representam lugares de bócio endêmico), e profissão (pessoas que manipulam iodo podem apresentar hipertireoidismo factício). As queixas relacionadas a tireóide costumam se relacionar ao cansaço, nervosismo ou sintomas cardiovasculares, como dispneia e palpitações, ou mesmo pela percepção do inchaço nodular no pescoço, referido ‘’caroço’’ ou ‘’papo’’. Outro ponto é a relação de tireoidopatias com fármacos como amiodarona e soluções iodadas como xaropes. Sinais e sintomas: a sintomatologia de tireoidopatias varia de acordo com hipofunção ou com a hiperfunção. Porém, ambas as formas podem manifestar sintomas locais de dor, dispneia, disfonia, rouquidão e disfagia, podendo também passar longo tempo assintomáticas. A dor piora à palpação ou deglutição, e irradia para a orelha e mandíbula, costuma estar acompanhada de febre baixa e mal estar geral, cursando com aumento da glândula, geralmente ocorre na tireoidite aguda ou subaguda. A disfonia, disfagia e dispneia consistem da compressão do nervo laríngeo recorrente e da via aérea, e a ocorrência súbita indica cânceres indiferenciados. Sinais e sintomas de hiperfunção: decorrem do aumento do metabolismo basal, e merecem destaque: perda ponderal (mesmo com aumento do apetite), aumento da sudorese e hipersensibilidade ao calor. Não raramente o paciente apresenta queixas psicossomáticas, como irritabilidade, insônia, choro fácil e ansiedade. Alterações cardiovasculares são a fibrilação atrial, podendo levar à miopatia tireotóxica, além de aumento da pressão arterial sistólica e redução da diastólica, taquicardia, hiperfonese de bulhas e possível sopro sistólico no foco pulmonar. Alterações em outros sistemas incluem diarreia (por aumento peristáltico), ginecomastia e impotência em homens e alterações menstruais ou abortos recorrentes em mulheres, fraqueza muscular (em especial nas cinturas, pelo intenso catabolismo e consequente atrofia), exoftalmia (por condiçõesautoimunes, geralmente associadas ao hipertireoidismo), inquietude, apreensão, fala rápida e hiperreflexia (bem percebida com o tendão aquileu), por fim, a pele nota-se quente e fina, mãos quentes e úmidas, unhas descoladas do leito ungueal (unhas de Plummer), cabelos finos e lisos, com pouco panículo adiposo pelo emagrecimento. Fácies basedowiana é característico do hipertireoidismo. Sinais e sintomas de hipofunção: o hipotireoidismo é sinalizado principalmente por facilidade em ganhar peso, apatia, cansaço, desânimo e sensibilidade ao frio. Outros sintomas são angina e hipercolesterolemia, além de bradicardia, hipofonese, constipação intestinal, infertilidade e galactorréia, edemas e derrames sinoviais podem causar artralgia difusa e síndrome do túnel do carpo, osteoporose também ocorre nesses pacientes. A pele é seca e descamada, as unhas são frágeis e com múltiplos sulcos longitudinais, enquanto os cabelos são sem brilho, secos, quebradiços e há alopécia. Há hiporreflexia, em especial do tendão aquileu, a voz é rouca e arrastada, um panículo adiposo grande e obesidade são frequentes. Em casos graves, há ascite com exsudato, e o paciente pode apresentar o edema periorbitário, caracterizando fácies mixedematosa. Exame físico: o exame físico da tireóide inclui inspeção e palpação. Isso permite verificar o contorno, dimensões e consistência glandulares, o que permite a identificação de aumentos glandulares restritos ou difusos (bócio), e Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina nódulos. Uma manobra sensibilizadora importante para o exame é pedir para que o paciente degluta em seco, o que permite anteriorizar a tireóide para visualizar melhor seu contorno. A palpação é feita por três abordagens: → Abordagem posterior: o examinador, atrás do paciente, com polegares na região nucal, palpa o lobo direito com a mão esquerda, enquanto a direita afasta o esternocleidomastóideo, e reveza com a outra mão. → Abordagem anterior: de frente para o paciente, o examinador palpa a glândula com os polegares ou indicadores, enquanto repousa os demais dedos sobre a região supraclavicular. → Abordagem anterior sensibilizada: solicita-se ao paciente que flexione ou realize rotação discreta do pescoço, de modo a relaxar o músculo esternocleidomastóideo, facilitando a palpação. É importante nesse momento perceber a presença de frêmitos carotídeos (que requerem ausculta para que seja percebido sopro) e palpar os linfonodos cervicais. Manifestações sistêmicas: a presença de oftalmopatia, caracterizada por edema palpebral e da conjuntiva, exoftalmia, incapacidade total de cerrar as pálpebras (lagoftalmia), e dificuldade na convergência ocular ao realizar o ‘’H do olho’’, demonstram sinais de uma crise tireotóxica, que pode ser graduada. Mensurar a exoftalmia é importante para monitorar a evolução. Outro ponto importante é identificar o mixedema pré-tibial, que constituem de lesões cutâneas que geralmente surgem na região ântero-lateral da perna, são placas brilhantes, avermelhadas e rugosas, que podem cursar com compressão vascular; essas placas são associadas a autoimunidades que surgem em pacientes com tireoidite de graves. Doenças Tireoidianas: as doenças se dividem em bócios, tireoidites, cânceres, hipertireoidismo e hipotireoidismo. Bócio: conceitualmente, é o aumento do volume da tireóide, que podem ser difusos, nodulares ou nodulares e difusos, com ou sem causas tóxicas. → Bócio difuso atóxico: a tireóide mostra-se aumentada e indolor à palpação, e se relaciona com carências de iodo (bócio endêmico), gravidez e puberdade. → Bócio difuso tóxico é encontrado na doença de graves, em que há aumento da glândula, que acompanha sinais de hipertireoidismo, percebem-se também frêmitos ou sopros sobre a glândula. → Bócio uninodular atóxico: apresenta um único nódulo sem disfunção tireoidiana. O nódulo pode ser cístico, firme ou pétreo, e estar aderido à superfície da glândula ou ser profundo. Esses nódulos em geral são colóides, e raramente (>10%), indicam carcinomas de tireóide. O exame de imagem para acompanhamento da evolução mais indicado é a ultrassonografia de tireóide. → Bócio uninodular tóxico: consiste em um único nódulo que gera sinais de hipertireoidismo, sua aparição indica a doença de Plummer. O restante da glândula não é geralmente palpável, e não há frêmito. → Bócio multinodular: os bócios multinodulares são aqueles em que há múltiplos nódulos, tóxicos ou não, que podem mergulhar em direção ao mediastino (nódulos mergulhantes). São bem investigados pela ultrassonografia ou tomografia computadorizada. Tireoidites: consistem em inflamações da tireóide. A tireoidite aguda é causada por infecção no local, e se caracteriza por rubor, dor e calor no local. Já a tireoidite de Hashimoto, é um distúrbio crônico e autoimune, que inicialmente gera hipertireoidismo, mas depois leva ao hipotireoidismo. Já a tireoidite granulomatosa subaguda é uma doença de etiologia provavelmente viral, que gera dor local e que se irradia para a mandíbula, sendo acompanhada de sintoma como mal-estar, astenia e hipertireoidismo. Por fim, a tireoide de Riedel é rara e idiopática, que consiste na fibrose do tecido glandular, de forma inicialmente restrita assintomática, mas progressiva (confunde-se com câncer). Cânceres tireoidianos: correspondem de 5 a 10% dos nódulos do órgão, possuindo evolução lenta com exceção de tipos anaplásicos. Esses nódulos podem ser rígidos, e uma história de rouquidão, junto a um exame que revela comprometimento das cadeias de linfonodos, podem sugerí-los. Os achados ultrassonográficos representam microcalcificações e áreas hipoecóicas (císticas), algo que, junto à punção aspirativa por agulha fina (PAAF), é capaz de definir um diagnóstico. Hipertireoidismo: o hipertireoidismo é uma síndrome clínica decorrente do aumento da exposição ao T3 e T4, na maioria das vezes causado pela doença de graves (quando se associa a oftalmopatia, mixedema pré-tibial e Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina acropatia, marcada por edema de extremidades e proliferação do periósteo). A doença de Graves é de origem autoimune, em que anticorpos estimulam a atividade tireoidiana, e ao mesmo tempo geram as alterações cutâneas do mixedema e a oftalmopatia. Causas relacionadas com o bócio não cursam com mixedema ou oftalmopatia. Tireotoxicoses, como na tireoidite de hashimoto e tireoidite subaguda, são caracterizadas por destruição do folículo, liberando hormônios estocados. Por fim, o Hipertireoidismo da síndrome de Jod-Basedow é causado pela exposição ao iodo não radioativo (presente em medicamentos) em pacientes com nódulos tireoidianos. Os achados laboratoriais desses tipos de hipertireoidismo indicam TSH baixo ou indetectável, e alto nível de T3 e T4. Hipotireoidismo: é uma síndrome causada pelos baixos níveis séricos de T3 e T4, geralmente com elevação do TSH (no hipotireoidismo primário). Em neonatos, o hipotireoidismo congênito é de especial importância, pois se for diagnóstico tardiamente (após o primeiro mês de vida), gera danos cerebrais irreversíveis, com atrasono desenvolvimento neuropsicomotor, que caracteriza o cretinismo ou atireose. Esse quadro cursa com sinais de apatia, dificuldade de sucção, choro rouco, icterícia prolongada, macroglossia, hérnia umbilical, protusão abdominal e hiporreflexia, com a tireóide com bócio discreto ou impalpável. Esses sintomas aparecem em apenas cerca de 5% das crianças com cretinismo, e por isso o teste do pezinho é fundamental no diagnóstico. Em adultos, as causas mais comuns são a tireoidite de hashimoto, autoimunidade mediada por células, iatrogênica, por carência de iodo (bócio endêmico) ou idiopáticas. O hipotireoidismo secundário é causado por disfunções da hipófise, enquanto que o hipotireoidismo terciário decorre da disfunção hipotalâmica. PARATIREÓIDES São glândulas que quase sempre estão em número de quatro, e se situam nas regiões posteriores da tireóide, em nível dos polos superior e inferior de seus dois lobos. Essas glândulas possuem células principais, que produzem o hormônio da paratireóide ou PTH e células oxifílicas sem função clara. Esse hormônio age nos rins para a etapa final da ativação da vitamina D (formação de vitamina D3), o que estimula o intestino a aumentar absorção de cálcio, também no rim, estimula a excreção de fosfato e retenção de cálcio, e nos ossos estimula a remodelação óssea (aumentando os osteoclastos), tendo por ação global o aumento da calcemia. Essas ações são antagonizadas pela calcitonina da tireóide. O exame das paratireóides consiste basicamente na busca por sinais clínicos da sua hipofunção ou hiperfunção. Hipoparatireoidismo: consiste na condição caracterizada por hipossecreção ou hipofunção do PTH, resultando em baixos níveis de cálcio plasmáticos e aumento da fosfatemia (em função renal normal), as manifestações clínicas dessa hipofunção podem ser agudas ou crônicas. Manifestações agudas: a principal manifestação aguda é a tetania, que pode variar desde quadros mais leves, com dormências, parestesias da mão e laringe, até sintomas graves como convulsões espasmo carpopodal e laríngeo; outras vezes, ocorrem sintomas inespecíficos, como fadiga irritabilidade e ansiedade. Convulsões podem ser confundidas com epilepsia em crianças, sendo diferencial que, ao administrar fenobarbital há piora do quadro (por inibição da síntese hepática de vitamina D), além de que manifesta o espasmo carpopodal, que caracteriza a hipocalcemia. Alterações cardiovasculares ficam por conta da hipotensão arterial, redução da contração do miocárdio, insuficiência cardíaca (percebida ao ECG como segmento QT longo) e arritmias. Ocorre também papiledema reversível. Manifestações crônicas: a calcificação dos núcleos da base pode gerar os distúrbios extrapiramidais, como parkinsonismo e coreia, ou até demências. As manifestações ósseas ficam por meio da esclerose óssea, espessamento cortical e anormalidades craniofaciais, ou simplesmente aumento da densidade óssea. Os dentes podem ser hipoplásicos ou não surgirem em crianças. A pele costuma mostrar-se seca e áspera, com alopécia e cabelos quebradiços. Por fim, a perda da estimulação para reabsorção, leva à hipercalciúria, facilitando a ocorrência de nefrolitíases (quando a calcemia começa a aumentar novamente). Sinais clínicos: são o de Trousseau e de Chvostek. → Sinal de Trousseau: insufla-se o manguito 20mmHg acima da pressão arterial sistólica por três minutos, observa-se a adução do polegar, flexão do punho e das interfalangianas. → Sinal de Chvostek: ao percutir a região zigomática, há contração ipsilateral de músculos da face (em especial orbicular da boca). Pseudo-hipoparatireoidismo: condição hereditária quese caracteriza por resistência periférica ao PTH, cursando com hipocalcemia, hiperfosfatemia e hipersecreção de Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina PTH. A forma de fenótipo 1A apresenta osteodistrofia hereditária de Albright, com face arredondada, pescoço curto, baixa estatura e braquidactilia (dedos curtos). Hiperparatireoidismo: o excesso do PTH pode ser classificado em hiperparatireoidismo primário (hiperfunção de uma ou mais glândulas), secundário (hipofunção renal, deficiências nutricionais e do metabolismo da vitamina D), ou terciária (evolução do secundário em que passa a haver hipersecreção autonômica). Achados clínicos de síndromes primárias e terciárias se assemelham, e são distintos de secundárias. Hiperparatireoidismo primário: a manifestação óssea é a osteíte fibrosa cística, que se caracteriza por dor óssea, e por padrão de desmineralização em ‘’sal e pimenta nos exames radiográficos’’, há tumores marrons em ossos longos (osteoclastomas) que podem ser palpáveis. As manifestações renais são hipercalciúria, nefrolitíase e até insuficiência renal crônica. Os pacientes também tendem a apresentar fadiga e fraqueza neuromuscular, letargia, comportamento psicótico, desmineralização óssea (maior índice de fraturas). Além disso, ocorre com frequência hipertensão arterial e hipertrofia do ventrículo esquerdo. Pode também ocorrer perda da acuidade visual, náuseas, vômitos, dores, constipação intestinal, úlcera péptica (aumento da calcemia induz o aumento da secreção de gastrina) ou até pancreatites. Os pacientes tendem a possuir diabetes Mellitus do tipo II e maior IMC, e maior propensão à gota e pseudogota. As principais causas são a hiperssecreção do PTH por adenoma (até 95% dos casos), hiperplasia (quase 5% dos casos) e raramente (menos de 1%), carcinomas. Apesar dessa riqueza sintomatológica, a maioria dos pacientes se apresenta de forma assintomática, e o aumento da calcemia em exames pode levantar a suspeita. Hiperparatireoidismo secundário: costuma se associar a lesão renal, em que a hipofosfatemia e deficiência de calcitriol (vitamina D3) provocam hipocalcemia que estimula o aumento do PTH (caracterizando evolução terciária). Quando as anormalidades persistem, o paciente apresenta osteodistrofia renal, que pode gerar fraqueza, dor osteomuscular e necrose, na osteomalacia. Há predisposição à calcificação arterial e aterosclerose. Marcas do raquitismo e da osteomalacia que podem ocorrer no hiperparatireoidismo secundário são as pseudofraturas adjacentes a vasos. O raquitismo possui outros sinais como hipoplasia dos dentes, andar em varo, costelas em conta de rosário e tíbia em sabre. SUPRARRENAIS Anátomo-fisiologia: glândulas suprarrenais ou adrenais são glândulas que se localizam nos polos superiores dos rins, estando no retroperitôneo. Essas glândulas são formadas embriologicamente por dois tecidos distintos, o córtex (mesodérmico), e medula (neuroectodérmica). Córtex: é composto por uma zona glomerulosa, uma zona fasciculada e uma zona reticular. → Zona glomerulosa: produz os mineralocorticóides, dentre os quais a aldosterona, que aumenta a reabsorção de sódio, excreção de potássio, sendo o principal regulador desse íon. O excesso de aldosterona promove baixa potassemia, com fraqueza muscular importante, além de hipertensão arterial hipervolêmica, além de acidose tubular renal (o potássio é trocado pelo hidrogênio a nível do túbulo contorcido distal), enquanto sua falta leva a hiperpotassemia,que causa toxicidade cardíaca, podendo levar à insuficiência cardíaca. Sua regulação é feita pelo índice sérico de potássio e pelo sistema renina-angiotensina aldosterona. → Zona fasciculada: consiste na maior parte da glândula suprarrenal, e produz os glicocorticóides, dentre os quais o cortisol. Esse hormônio é regulado pela presença do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH, influenciado pelo CRH hipotalâmico), e mediadores inflamatórios TNF alfa, IL-1 e IL-6. Sua secreção se relaciona ao ciclo circadiano, sendo maior ao acordar, e menores durante a noite. Esse hormônio é um estressor hiperglicemiante, e dessensibilizador da insulina por tecidos periféricos, e estimula o catabolismo de lipídios e proteínas (aumentando a síntese de enzimas). Também realiza funções hipocalcemiantes, e é importante para reduzir permeabilidade vascular, produção de citocinas, anticorpos e fagocitose, sendo um anti-inflamatório natural e imunossupressor. Suas correlações com o hipotálamo (órgão límbico) explicam a interferência do estresse nas respostas imunes, e suas correlações com a resistência à insulina, relacionada ao Diabetes Melito II. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina → Zona reticular: a zona reticular produz androgênios, dentre os quais dehidroepiandrosterona (DHEA). São importantes para o desenvolvimento das genitálias masculinas na infância, produção de esteróides sexuais em homens e mulheres, e crescimento de pelos axilares e pubianos em mulheres. Medula: a medula da glândula adrenal é derivada do tubo neural, e produz as catecolaminas, epinefrina, dopamina e norepinefrina. A epinefrina ou adrenalina é exclusiva da medula adrenal, e junto à norepinefrina é liberada por estímulo do sistema simpático, agindo nos receptores α-1, que promovem vasoconstrição e midríase pupilar, α-2, que regula a atividade simpática, β-1, que aumenta a frequência cardíaca e contratilidade miocárdica (efeito cronotrópico e inotrópico), β-2, que promove relaxamento da musculatura uterina, brônquios e vasos musculares, β-3, que ativam o catabolismo de lipídios. Essas alterações oferecem por efeito global a preparação para o estresse agudo, aumentando a oxigenação e nutrição dos tecidos muscular e nervoso. Exame clínico: da mesma forma que hipotálamo e hipófise, a avaliação clínica dos desequilíbrios das glândulas adrenais são agrupados em síndromes com múltiplas etiologias. Síndrome de Cushing: consiste nos efeitos provocados pelo hipercortisolismo prolongado, podendo ser primário (adenomas e carcinomas das suprarrenais) ou secundário (adenomas hipofisários secretores de ACTH, que causam a doença de Cushing), ou ainda por secreção ectópica (carcinóide brônquico e carcinoma de pequenas células do pulmão), na maioria das vezes, esses sintomas são iatrogênicos, pela administração de glicocorticóides. A apresentação clássica é obesidade centrípeta (cabeça e tronco), membros finos, fácies em lua cheia ou cushingóide, estrias violáceas (>1 cm) em abdome e mamas, hirsutismo, acne, infertilidade, oligomenorréia, disfunção erétil, fraqueza muscular proximal e disfunção erétil. Predispõe também ao diabetes mellitus do tipo II, hipertensão dislipidemia e osteoporose. Nos casos em que cursa com hiperpigmentação e fenótipo cushingóide oculto, geralmente decorre de uma secreção de ACTH. Excesso de mineralocorticóides: é causada pelo excesso de aldosterona, e gera hipertensão arterial moderada ou grave e edema. Por efeitos mais demorados da hipopotassemia, notam-se alcalose metabólica, poliúria, cansaço, fraqueza, noctúria, polidipsia, cãibras, cefaléias e até paralisia flácida. Excesso de esteróides sexuais: em homens adultos, o aumento desses esteróides é pouco significativo, porém, em mulheres, desencadeia virilização, com hirsutismo (pelos masculinos, isso é, escuros, grossos e crespos segundo a distribuição masculina), acne, alopécia, irregularidade menstrual e infertilidade. Em meninos, ocorre a puberdade precoce com preservação das dimensões testiculares, o que diferencia de causas tumorais testiculares. Essas síndromes são de origem hiperplásica das suprarrenais ou neoplásica (geralmente maligna), podendo exigir exames complementares para determinação de sua natureza. Incidentalomas suprarrenais: são lesões anatômicas maiores que 1 cm descobertas acidentalmente pelos exames de imagem. Esses pacientes apresentam níveis discretamente elevados de cortisol e aldosterona, porém insuficientes para gerar manifestações clínicas. Lesões maiores do que 4 cm são um corte utilizado de forma rotineira para separar lesões benignas de malignidades. Hipersecreção de catecolaminas: ocorre quase sempre na vigência de tumores denominados feocromocitomas e paragangliomas. Esses tumores podem ser malignos, embora correspondam a menos de 10% dos casos. De toda forma, devem ser investigados pelo surgimento de crises paroxísticas com sintomas abruptos, geralmente a hipertensão arterial, além de sudorese e palpitações, embora muitas vezes sejam completamente assintomáticos. A dosagem das catecolaminas e o uso de tomografias computadorizadas, em que apresentam área de necrose central, e brilhante na sequência de T2 (sinal da lâmpada) podem ser essenciais nos casos assintomáticos. Tal condição é rara, porém os picos hipertensivos podem ser letais. Insuficiência suprarrenal: a insuficiência suprarrenal consiste na principal causa de redução dos níveis de cortisol e aldosterona. A insuficiência renal primária ou doença de Addison é aquela em que ocorre falência da glândula suprarrenal, acarretando altos índices séricos de ACTH, e poucos índices de aldosterona e cortisol, enquanto que as insuficiências secundárias são originadas a nível de hipotálamo ou hipófise, e não geram distúrbios significativos na aldosterona. → Insuficiência suprarrenal crônica: as manifestações clínicas mais significativas são: astenia, anorexia, perda de peso, náuseas e vômitos ocorrem mais frequentemente na IS primária, pois decorrem da deficiência de aldosterona. A hiperpigmentação de pele e mucosas é o principal sinal, e é característico da IS primária, pois o excesso de ACTH é um potente estimulante da melanina, em especial em áreas de atrito, o que é bastante evidente em lábios e gengivas, que Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina adquirem coloração de ‘’manchas’’ amarronzadas. Manifestações menos específicas incluem diminuição da libido, hipoglicemia de jejum, ou em casos de febre, infecção, náusea e vômitos. Pode surgir dor abdominal forte que simula um quadro de abdome agudo. A IS secundária se associa com a supressão súbita do uso crônico de glicocorticóides, que inibiam diretamente a produção do ACTH e CRH. → Insuficiência suprarrenal aguda: é conhecida como crise suprarrenal, e pode ser fatal, cursando com súbita taquicardia, hipotensão, e sintomas inespecíficos como apatia, náusea, febre, dor, cianose e palidez. Pode ocorrer em alguns pacientes com doença de Addison ou como complicação séptica (destruição do adrenocórtex). TESTÍCULOS Anátomo-fisiologia: os testículos são gônadas masculinas responsáveis pela produçãode hormônios sexuais masculinos e gametas. Estão em número de dois, guardados pelo escroto ou bolsa testicular. A embriogênese testicular é determinada pelo cromossomo Y, que estimula a produção de hormônio antimulleriano, que leva à regressão dos ductos paramesonéfricos ou de Müller. Com esse processo, as células do mesênquima formam as células de Leydig, produtora de testosterona, que estimula a androgenização, formando-se as genitálias. Após o nascimento, os níveis de testosterona continuam altos até o segundo ano de vida, então caem. Entre os 9 e 14 anos, com o início da puberdade, o hipotálamo inicia de forma pulsátil a produção de GnRH, o hormônio liberador de gonadotrofinas, que estimula a produção hipofisária de FSH e LH. O LH é o hormônio luteinizante que estimula a secreção de testosterona pelas células de Leydig, enquanto que o FSH estimula o transporte e concentração dessa proteína pelas células de Sertoli, essencial para espermatogênese. O FSH estimula a produção de inibina B, que inibe a produção de FSH, enquanto a testosterona livre realiza feedback negativo com a produção de LH. Anamnese: um fator chave para a anamnese é a idade, pois em crianças, é importante obter dados sobre a gestação, uso de drogas lícitas ou ilícitas, dados familiares e sobre os primeiros dias do recém-nascido. O desenvolvimento da fase puberal requer melhor atenção, e será abordado depois. Em adultos, avalia-se libido, função erétil, atividade sexual, humor e vigor. Quando o motivo da consulta é infertilidade, deve-se pautar uma investigação acerca de doenças crônicas, do uso de drogas lícitas ou não, doenças tireoidianas, quantidade e qualidade da ejaculação e histórico de doenças de transmissão sexual, além de colher informações acerca da parceira. Já quando a queixa é de disfunção erétil, deve-se perguntar acerca do perfil psicológico, frequência e qualidade das relações sexuais, uso de álcool, medicamentos ou drogas. Exame físico: o exame físico da função testicular não se restringe ao exame das gônadas, pois devem-se avaliar em os órgãos com interferência desses hormônios, destacando-se pele, fâneros, cartilagem cricóide, tecido adiposo e músculos. As alterações de síndromes genéticas relacionadas ao cromossomo sexual podem gerar alterações em diversos órgãos e sistemas. Outro ponto é a existência de ambiguidade sexual, que pode requisitar apoio psicológico. Uma altura elevada para os padrões familiares, crescimento desproporcional dos membros inferiores e curvamento excessivo do tronco para frente podem indicar hipogonadismo pré-puberal. Avaliar a distribuição do tecido adiposo, força muscular, implantação capilar, crescimento mamário e pelos faciais é importante na suspeita de doenças gonadais. Por fim, a existência de micropênis, em especial em crianças obesas, pode requisitar avaliação especializada. Doenças testiculares: as doenças gonadais podem se dar principalmente por malformações embrionárias, infecções, doenças adquiridas, ou anomalias genéticas. Anomalias da diferenciação sexual: a hiperplasia adrenal congênita consiste em defeitos na síntese do cortisol por doenças autossômicas recessivas, gerando o acúmulo de precursores androgênicos, o que pode levar a letargia, vômitos, hipotensão arterial, hiponatremia, hipercalemia, hipocortisolismo, além de baixa estatura, macropênis e puberdade precoce. Defeitos do receptor androgênico são associados ao X, que codifica receptores masculinos, o que gera feminização de genitálias, mas sem formação de útero. Os defeitos na síntese de testosterona são autossômicos e recessivos, e geram ambiguidade genital. Por fim, defeitos na enzima 5-alfarredutase, que converte a testosterona na forma di-hidrotestosterona (mais ativa), gera defeitos na embriogênese, gerando pênis em formato clitoriano, hipospádia, próstata rudimentar, escroto bífido e pseudovagina. Síndrome de Klinefelter: consiste na causa mais comum de hipogonadismo determinado geneticamente. Ela é causada por erros na meiose, que geram um indivíduo XXY. Ocorre então testículos pequenos ou ausentes, fraqueza muscular, retardo na fala e personalidade mais doce e quieta. O aumento da estatura, membros longos, tronco diminuto e quadril largo, além de incompleto desenvolvimento puberal (pelos faciais escassos, ginecomastia) caracterizam o desenvolvimento puberal. Timidez, comportamento recluso, dificuldade de aprendizado são outros dos sintomas percebidos. Em adultos, é comum haver infertilidade, disfunção erétil, perda de libido e oligospermia. Criptorquidia: consiste na ausência de um ou ambos os testículos no escroto. Esse testículo, diferentemente dos testículos retráteis não retorna à bolsa testicular por meio Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina de manobras, e quando bilateral, a criptorquidia ou ectopia testicular (quando o testículo não está em seu trajeto fisiológico) é uma causa de infertilidade. Soma-se a isso o fato de que a degeneração testicular aumenta em quatro vezes a chance de cânceres pela ectopia. O testículo pode migrar ao escroto até os dois anos de vida. Síndrome da regressão testicular: é uma síndrome em que as agressões intrauterinas promovem a regressão do testículo, o que gera genitais externos normais, porém que não se desenvolvem na puberdade, e mesmo não desenvolvem caracteres sexuais secundários. O estímulo com HCG nesses pacientes não aumenta a produção de inibina B (ao contrário de pacientes criptorquídicos). Enfermidades sistêmicas: alcoolismo, insuficiência renal crônica e cirrose hepática levam à infertilidade, disfunção erétil e diminuição da libido. Amiloidose e hemocromatose acometem diretamente os testículos, gerando hipogonadismo primário. HIV e anemia falciforme também se relacionam ao hipogonadismo. Orquites: orquites consistem nas inflamações dos testículos, que podem ser autoimunes ou por estímulos lesivos externos. As autoimunes são raras, podendo se associar a condições como tireoidite de Hashimoto. Já as orquites por agentes externos, podem ser infecciosas (vírus da caxumba, Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis), traumáticas (hérnias, varicocele, torção), pós-radiação ou pós medicamentosa (chumbo, cádmio e quimioterápicos), sendo que essas causas podem causar hipogonadismo e infertilidade, a depender da qualidade e intensidade de acometimento pelo estímulo lesivo. OVÁRIOS Anátomo-fisiologia: ovários são gônadas pares que possuem um córtex, com folículos em diferentes graus de desenvolvimento, e as tecas, que são diferenciações do estroma. Os eventos ovarianos do ciclo menstrual se iniciam com o folículo revestido por uma única camada de células (primordial), e por ação do FSH, forma a camada granulosa, que produz o estrógeno, formando os estágios pré-antrais, que, com a maturação, formam as tecas, que possuem receptores para o LH. O LH produz androgênios que são convertidos pela aromatase em estrogênios. Um desses folículos antrais (folículo dominante) se desenvolve em folículo pré-ovulatório, que com o pico de LH se rompe e forma o corpo lúteo, que é rico em receptores parao LH e assume a produção de estrógeno e, em especial de progesterona. Com a queda do estímulo do LH, os níveis de estrógeno e progesterona caem, e ocorre a menstruação, sendo o corpo lúteo degenerado em corpo albicans. Anamnese: é importante direcionar a anamnese sobre a queixa e idade da paciente. Em neonatos, informações sobre a mãe e dados da saúde gestacional, como o uso de drogas, são importantes. No exame da adolescente, devem-se fazer perguntas sobre o desenvolvimento sexual, alterações do ciclo hormonal, com os cuidados devidos para evitar o constrangimento que dificulta a coleta de dados e o exame físico. As informações devem sempre ser confidenciais, de modo que a paciente se sinta à vontade para expor sobre doenças de transmissão sexual, atividade sexual e uso de contraceptivos. Em mulheres adultas, a anamnese deve contar com as datas do crescimento mamário (telarca), primeira menstruação (menarca), e dados sobre a menstruação mais recente, como a cor, o tempo decorrido, e características do sangramento. A investigação de histórias pregressas de hipotireoidismo, diabetes e doenças das suprarrenais pode ser necessária, assim como histórico pessoal ou familiar de câncer de mama, nódulos ou cistos mamários e hábitos como dependência química e ganho de peso. Exame físico: avalia-se o grau de hidratação e buscam-se sinais de virilização, puberdade precoce e genitália ambígua. A palpação do ovário, exceto por doenças de ordem inflamatória no aparelho reprodutor ou infiltrações sólido-císticas, não costuma ser possível. Também se avalia presença de bócio, galactorreia, implantação capilar, acne, distribuição da gordura corporal (em mulheres, diferente é predominantemente cutânea) e hirsutismo (localização, qualidade e distribuição dos pelos). Deve-se também atentar para sintomas como ondas de calor noturnas, sudorese e alterações de humor que indicam a menopausa, ou sinais de síndrome pré-menstrual (SPM ou TPM). Doenças dos ovários: as principais síndromes e doenças ovarianas se dividem em anomalias da diferenciação sexual, hiperandrogenismo materno, síndrome dos ovários policísticos, hipertecose, tumores ovarianos funcionais, menopausa prematura, cistos e neoplasias. Anomalias da diferenciação sexual: consistem em um diverso conjunto de mutações dos cromossomos sexuais (XX), que resultam desde virilização da genitália feminina até ambiguidade genital e hermafroditismo. → Distúrbio da diferenciação gonadal ovotesticular: é um distúrbio que corresponde ao hermafroditismo verdadeiro, em que há tanto cordões testiculares quanto ovarianos na gônada, estruturas pélvicas masculinas e femininas em diferentes graus de desenvolvimento, e genitália externa predominantemente masculina, com ginecomastia e ciclo menstrual irregular. Mutações leves podem gerar homens e mulheres normais e férteis. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina → Homem XX: nesse distúrbio, poucos homens apresentam ambiguidade genital, porém, durante a adolescência percebe-se infertilidade e ginecomastia. → Disgenesia gonadal: a principal representante dessas síndromes é a síndrome de Turner, uma anomalia genética cujos sintomas incluem baixa estatura, hipogonadismo com gônadas em fita, palato ogival, e membros superiores com cúbito em valgo. → Anomalia por excesso de androgênios: decorre da hiperplasia da suprarrenal, do hiperandrogenismo materno ou da deficiência da aromatase (que converte a testosterona produzida pelas tecas em estradiol). Hiperandrogenismo materno: constitui um conjunto de síndromes geradas pela produção exagerada de androgênios pela mãe, que pode desencadear alterações viris na mãe, hipertrofia do clitóris e fusão dos lábios nos fetos (características da embriogênese masculina). Síndrome dos Ovários Policísticos: é a doença endócrina mais comum em mulheres, e possui etiologia multifatorial, associada a fatores genéticos e endócrinos. A presença de mutação nos receptores induz uma secreção maior de LH hipofisário, e menor de FSH. Consequentemente, o folículo não se desenvolve, gerando múltiplos cistos que dão o nome da doença. Por outro lado, as tecas produzem riqueza em andrógenos. Além disso, há resistência insulínica na paciente, pois a redução de proteínas carreadoras de hormônios sexuais e insulina aumenta a circulação de estradiol, testosterona, IGF-1 e insulina. Esses pilares geram uma grande predisposição à obesidade, com acúmulo abdominal de gordura (estimulado por androgênios), e facilita esteatose hepática e hipertensão arterial, enquanto aumenta os níveis de LDL e triglicerídeos e reduz os de HDL, e distúrbios hormonais que geram ausência de ovulação (logo, infertilidade), oligomenorreia ou amenorreia, hirsutismo, acne e alopecia androgênica. Hipertecose: consiste em uma condição não neoplásica de hiperplasia das tecas em mulheres perimenopausa. Essa condição causa androgenismo maior que a SOP, possui baixo nível de FSH e LH, e não possui cistos. Tumores ovarianos Funcionantes: neoplasias secretoras de androgênios são raras, exemplos são androblastomas (tumores de Sertoli-Leydig) e teratomas, que causam virilização e hirsutismo de rápida progressão. Menopausa prematura: consiste na cessação dos ciclos menstruais antes dos 40 anos, e se associa com abuso de drogas, condições genéticas, tireoidite de Hashimoto ou doença de Addison, quimio e radioterapia. Os sinais e sintomas são os mesmos da menopausa fisiológica, porém a irritabilidade e depressão são mais intensas. Cistos e Neoplasias: consistem em massas palpáveis frequentemente assintomáticas, que podem ser detectadas pelo exame ginecológico ou ultrassonografia. Os cistos foliculares são aqueles gerados por um folículo não roto, e regridem espontaneamente; já os cistos do corpo lúteo são causados por sangramento para dentro do corpo lúteo, que pode inclusive gerar massas sólido-císticas nos anexos uterinos, podendo confundir-se com uma gravidez ectópica; por fim, os ovários policísticos possuem vários cistos pequenos (inferiores a 1 cm). Por fim, as neoplasias são sólidas ou complexas (sólido-císticas), sem natureza funcional e que não desaparecem após 4 a 6 semanas, e exigem diagnóstico por imagem para se avaliar sua natureza. Gabriel Torres→ Uncisal→ Med52→ Semiologia Endócrina
Compartilhar