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APG05 – PAN-HIPO/HIPERPITUITARISMO “A VIDA NÃO PRESTA” Objetivos: Revisar a anatomofisiologia da hipófise. Entender as principais alterações que acometem a hipófise (Etiologia e Fisiopatologia). Compreender as manifestações clínicas e complicações do pan- hipo/hiperpituitarismo. Explicar o diagnóstico e manejo clínico do pan-hipo/hiperpituitarismo. Revisar a anatomofisiologia da hipófise. TORTORA, G. J., DERRICJSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14ª ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, 2016. A glândula hipófise é uma estrutura em forma de ervilha com 1 a 1,5 cm de diâmetro e que se localiza na fossa hipofisial da sela turca do esfenoide. Fixa-se ao hipotálamo por um pedículo, o infundíbulo, e apresenta duas partes anatômica e funcionalmente separadas: a adenohipófise (lobo anterior) e a neurohipófise (lobo posterior). A adenohipófise representa cerca de 75% do peso total da glândula e é composta por tecido epitelial. No adulto, a adenohipófise consiste em duas partes: a parte distal, que é a porção maior, e a parte tuberal que forma uma bainha ao redor do infundíbulo. A neurohipófise é composta por tecido neural. Também consiste em duas partes: a parte nervosa, a porção bulbosa maior, e o infundíbulo. Uma terceira região da glândula hipófise, chamada de parte intermédia, atrofia-se durante o desenvolvimento fetal humano e deixa de existir como um lobo separado nos adultos (ver Figura 18.21B). Entretanto, algumas de suas células migram para partes adjacentes da adenohipófise, onde persistem. ADENO-HIPÓFISE o A adenohipófise secreta hormônios que regulam uma ampla variedade de atividades corporais, desde o crescimento até a reprodução. A liberação de hormônios da adenohipófise é estimulada por hormônios liberadores e suprimida por hormônios inibidores do hipotálamo. Sendo assim, os hormônios hipotalâmicos constituem uma ligação importante entre os sistemas nervoso e endócrino. Tipos de células da adenohipófise e seus hormônios o Cinco tipos de células da adenohipófise – somatotrofos, tireotrofos, gonadotrofos, lactotrofos e corticotrofos – secretam sete hormônios. Os somatotrofos secretam hormônio do crescimento (GH), também conhecido como somatotrofina. O hormônio do crescimento, por sua vez, estimula vários tecidos a secretarem fatores de crescimento insulinosímiles (IGF), hormônios que estimulam o crescimento corporal geral e regulam aspectos do metabolismo. Os tireotrofos secretam hormônio tireoestimulante (TSH), também conhecido como tireotrofina. O TSH controla as secreções e outras atividades da glândula tireoide. Os gonadotrofos secretam duas gonadotrofinas: hormônio foliculoestimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH). O FSH e o LH atuam nas gônadas; estimulam a secreção de estrogênios e progesterona e a maturação de ovócitos nos ovários, além de estimularem a produção de espermatozoides e a secreção de testosterona nos testículos. Os lactotrofos secretam prolactina (PRL), que inicia a produção de leite nas glândulas mamárias. Os corticotrofos secretam hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), também conhecido como corticotrofina, que estimula o córtex da glândula suprarrenal a secretar glicocorticoides como cortisol. Alguns corticotrofos, remanescentes da parte intermédia, também secretam hormônio melanócitoestimulante (MSH). NEURO-HIPÓFISE Embora não sintetize hormônios, a neurohipófise armazena e libera dois hormônios. Os corpos celulares das células neurossecretoras se encontram nos núcleos paraventricular e supraóptico do hipotálamo; seus axônios formam o trato hipotálamohipofisial. Esse trato começa no hipotálamo e termina perto de capilares sanguíneos na neurohipófise (Figura 18.8). Os corpos das células neuronais dos dois núcleos paraventricular e supraóptico sintetizam o hormônio ocitocina (OT) e o hormônio antidiurético (ADH), também chamado de vasopressina. Os terminais axônicos na neurohipófise são associados à neuróglia especializada chamada de pituitócitos. Essas células apresentam uma função de suporte similar a dos astrócitos Após sua produção nos corpos celulares das células neurossecretoras, a ocitocina e o hormônio antidiurético são envolvidos em vesículas secretoras, que se movimentam por transporte axônico rápido até os terminais axônicos na neurohipófise, onde são armazenados até que impulsos nervosos desencadeiam a exocitose e a liberação hormonal. Entender as principais alterações que acometem a hipófise (Etiologia e Fisiopatologia). Principais distúrbios o Tumores benignos (adenomas) são o problema mais comum da hipófise. Outros distúrbios resultam de defeitos hereditários, alterações congênitas, traumatismos, problemas de suprimento sanguíneo ou sequelas de tratamentos cirúrgicos ou radioterápicos de distúrbios anteriores dessa glândula. São raros os tumores malignos da hipófise. Exemplos de distúrbios mais frequentes da hipófise o Tumores da hipófise: podem produzir hormônios ou não. A maioria é benigna (adenomas). Quando comprimem os tecidos vizinhos, podem provocar distúrbios visuais e dor de cabeça. Com frequência, produzem um hormônio em excesso, com deficiência de outros. o Deficiência de hormônio do crescimento: diversas causas. Em crianças, provoca retardo do crescimento e baixa estatura. É rara em adultos, mas pode causar fraqueza muscular, diminuição da massa óssea e obesidade. o Hipopituitarismo: diminuição geral dos hormônios hipofisários, resultante de tumores, traumatismos, redução do suprimento sanguíneo para a hipófise, infecção, sarcoidose, autoimunidade, irradiação ou cirurgia da hipófise. o Hiperprolactinemia: adenoma secretor de prolactina. Em mulheres, pode provocar galactorreia e amenorreia. Em homens, diminuição da libido e impotência. o Síndrome da sela vazia: a sela turca é uma estrutura do osso esfenoide que abriga a hipófise. Síndrome da sela vazia é uma descrição da imagem obtida por ressonância magnética em que a sela parece vazia. Está associada a cefaleia e, em alguns casos, a hipopituitarismo. Distúrbios hipofisários menos comuns o Acromegalia e gigantismo: produção excessiva de hormônio do crescimento, em geral devida a um tumor. Em crianças, causa gigantismo, com crescimento ósseo exagerado e estatura alta. Em adultos, resulta em acromegalia, com aumento dos ossos da face, das mãos e dos pés, síndrome do túnel do carpo, cefaleia, sudorese, apneia do sono, fadiga e hipertensão arterial. o Doença de Cushing: sintomas de síndrome de Cushing causados por um tumor da hipófise secretor de ACTH, que estimula a produção de cortisol pelas glândulas suprarrenais, incluindo obesidade da parte central do corpo, rosto arredondado, pele fina, estrias abdominais, fraqueza muscular, osteoporose, aumento da glicemia e hipertensão arterial. o Diabetes insípido: produção insuficiente de hormônio antidiurético (ADH) pelo hipotálamo, com excreção renal de grandes quantidades de urina diluída. o Síndrome de Nelson: causada pela remoção das glândulas suprarrenais como tratamento da doença de Cushing. Ocorre escurecimento da pele como resposta à secreção excessiva de ACTH e hormônio estimulante dos melanócitos. o Neoplasia endócrina múltipla do tipo 1 (MEN1): mutação hereditária que aumenta o risco de tumores da hipófise e de outras glândulas endócrinas. o Síndrome de Kallmann: liberação deficiente do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo causa deficiência dos hormônios estimulante dos folículos (FSH) e luteinizante (LH), que resulta em retardo ou ausência de puberdade. Está associada a anosmia (ausência de olfato). o Infarto da hipófise: limitação do suprimento sanguíneo para a hipófise pode causar hipopituitarismo. o Síndrome de Sheehan: hipopituitarismo provocado por perda excessiva desangue durante ou após o parto. o Craniofaringioma: tumor que se desenvolve perto da hipófise, causando hipopituitarismo, cefaleia, distúrbios visuais e retardo do crescimento. PAN-HIPOPITUITARISMO FERNANDES, Ana Margarida et al. De Caso Social à Neurocirurgia: A Propósito de um Caso de Pan-Hipopituitarismo. Medicina Interna, v. 23, n. 2, p. 102-104, 2016. O pan-hipopituitarismo resulta da produção inadequada de hormonas pituitárias e pode ser o resultado final de diversas patologias que interferem com a hipófise ou com o eixo hipotálamo-hipofisário. Danos à hipófise anterior podem ocorrer repentina ou lentamente, podem ser leves ou graves e podem afetar a secreção de um, vários ou todos os seus hormônios. Como resultado, a apresentação clínica das deficiências hormonais da hipófise anterior varia, dependendo dos seguintes fatores. o A rapidez com que uma doença afeta as células da hipófise anterior. o A gravidade da deficiência hormonal. o O número de diferentes células da hipófise anterior que são afetadas, levando ao comprometimento da secreção de um, alguns ou todos os hormônios da hipófise (chamado pan-hipopituitarismo). VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. O hipopituitarismo é definido como deficiência parcial ou completa da hipófise anterior, causada por distúrbios hipofisários ou hipotalâmicos adquiridos ou, mais raramente, hereditários. A deficiência de hormônios hipofisários pode ser isolada (um único hormônio) ou múltipla. A deficiência de todos os hormônios da adenohipófise é conhecida como pan-hipopituitarismo. Vale a pena ressaltar que a falência hormonal da hipófise anterior costuma obedecer a uma sequência de deficiência hormonal com o seguinte encadeamento: GH > LH/FSH > TSH > ACTH > PRL. A incidência do hipopituitarismo anterior é de 12 a 42 casos/milhão/ano e sua prevalência (300 a 455 casos/milhão) é provavelmente subestimada se forem considerados os casos pós-traumatismo craniano com lesão cerebral, o que representa 30 a 70% dos casos de hipopituitarismo adquirido. ETIOLOGIA VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. As doenças hipotalâmicas podem ser embriopatias congênitas, citogenética (cromossomos), hereditárias, neoplásicas ou infiltrados. Os núcleos da base, uma única lesão hipotalâmica pode comprometer todos estes núcleos, levando ao pan-hipopituitarismo, ao diabetes insipidus central e, eventualmente, à obesidade hipotalâmica, que ocorre por causa de uma hiperfagia patológica. Os tumores hipotalâmicos são importantes causas de pan-hipopituitarismo e diabetes insipidus central. O mais comum é o adenoma hipofisário, o tumor origina- se na hipófise, mas invade o hipotálamo. O segundo mais comum é o craniofaringioma, mais comum em crianças. São derivados do epitélio de remanescentes da bolsa de Rathke. A característica mais marcante deste tumor é a sua enorme tendência a calcificar. Na TC ou RNM, as calcificações podem ser visualizadas em 80% dos pacientes, dispostas na região suprasselar. Disgerminomas suprasselares e o hamartoma hipotalâmicos (tumores), esse último leva a uma hiperprodução de GnRH, levando à puberdade precoce. Outras causas de pan-hipopituitarismo hipotalâmico são a sarcoidose (devido à invasão do hipotálamo pelos granulomas sarcoides) o granuloma eosinofílico ou síndrome X, o trauma cranioencefálico e a radioterapia. No caso de TCE, podem ocorrer hemorragias no hipotálamo ou secção do pedículo hipofisário. Síndrome de Prader-Willi : é um distúrbio citogenético associado à microdeleções no cromossomo 15. Predominam as deficiências de GnRH e de GH. Síndrome de Berdet-Biedl: doença genética, autossômica recessiva. Síndrome de Kallman: distúrbio genético ligado ao X. O problema está na ausência de uma proteína facilitadora da migração embriológica dos neurônios produtores de GnRH para o hipotálamo e dos neurônios do bulbo olfatório. Lesões de massa Adenomas hipofisários - efeito compressivo: esporádicos ou associados a Neoplasias Endócrinas Múltiplas tipo 1 (NEMs-1) Tumores cerebrais: craniofaringioma, meningioma, germinoma, glioma, condrossarcoma etc. Metástases para a hipófise - mama, rim, pulmão Granulomas. Cistos da bolsa de Rathke Histiocitose X Doenças Vasculares / Isquêmicas Necrose hipofisária pós-parto (Sheehan) Apoplexia hipofisária Anemia falciforme Eclâmpsia e pré-eclâmpsia Isquemia Aneurisma cerebral Doenças infiltrativas / Infecciosas Hemocromatose Sarcoidose Granulomatose de Wegener Tuberculose Neurossífilis Tripanossomíase africana Encefalite Micoses Doenças Autoimunes Hipófise linfocitica Agentes Externos Trauma cranioencefálico Cirurgia ou radioterapia cerebral Causas congênitas Deficiência de fatores de transcrição envolvidos na embriogênese da hipófise, acarretando deficiências de múltiplos hormônios (PIT-1; PROP-1, HESX-1, LHX-3) Deficiências isoladas (GH, gonadotrofinas, TSH, outras) Outras Idiopática FISIOPATOLOGIA Causas genéticas de hipopituitarismo o O hipopituitarismo congênito decorre do desenvolvimento anormal da hipófise, cuja etiologia é determinada por mutações em genes que codificam as moléculas sinalizadoras (FGF8, Shh, BMP2 e BMP4) e os fatores de transcrição (HESX-1, LHX3, LHX4, PROP-1, PITX1/2, PAX6, POU1F 1, SOX- 3). o HESX-1/Rpx Tem um papel crucial na determinação e diferenciação inicial da hipófise. Defeitos no HESX-1 acarretam deficiência isolada de GH ou associada à deficiência de TSH, prolactina, ACTH, LH e FSH. A hipoplasia hipofisária pode manifestar-se como deficiência endócrina, variando de deficiência isolada de GH a pan- hipopituitarismo. A endocrinopatia mais comum é a deficiência de GH, resultando em baixa estatura e redução da taxa de crescimento. Acompanha a deficiência de gonadotrofinas, TSH e de ACTH. Déficit neurológico é comum, embora não obrigatório, variando de um retardo mental global a déficits focais como epilepsia e hemiparesia. O modo de herança é autossômico recessivo nas mutações homozigóticas . Pode ser autossômica dominante, sendo que alguns pacientes com formas heterozigóticas apresentavam pais normais com a mutação, sugerindo penetrância incompleta. o PROP-1 É expresso especificamente nas células embrionárias da hipófise. Está envolvido na ontogênese, na diferenciação e na função dos somatotrofos, lactotrofos, tireotrofos e provavelmente dos gonadotrofos. O modo de herança é autossômico recessivo. Neste defeito genético, ocorrem as deficiências de GH, TSH, prolactina, LH, FSH e, em alguns casos, deficiência tardia de ACTH. A causa hereditária mais frequente de deficiência hipofisária múltipla, ocorrendo em aproximadamente 50% destes pacientes. Os pacientes exibem um fenótipo predominantemente hipogonádico com puberdade atrasada ou ausente com resposta acentuadamente reduzida de LH e FSH ao teste de estímulo com GnRH. O retardo de crescimento manifesta-se geralmente após os 3 anos de idade e a altura pode estar severamente reduzida. Os adultos afetados são baixos e apresentam genitália externa infantil. O hipotireoidismo secundário por deficiência de TSH ocorre em aproximadamente 20% dos casos. o POU1F1 (Pit-1) É encontrado nos somatotrofos, lactotrofos e tireotrofos na hipófise anterior, sendo expresso desde o início da vida fetal até a vida adulta. O modo de herança pode ser autossômico recessivo ou dominante. As deficiências hormonais nos defeitos do Pit-1 incluem as de GH, TSH e prolactina, com hipófise de tamanho normal ou reduzido. O quadro clínico inclui baixa estatura acentuada e hipotireoidismo neonatal. o SOX-3 Recentemente foi demonstrado que SOX-3 é um fator de transcrição crítico parao desenvolvimento hipotálamo-hipofisário. Localizado no cromossomo X de todos os mamíferos . Mutações no SOX-3 têm sido identificadas em pacientes com quadro de baixa estatura devido à deficiência de GH e retardo mental. Causas adquiridas de hipopituitarismo o Traumatismo cranioencefálico O hipopituitarismo após traumatismo craniano é comum, sendo sua prevalência de 30 a 70% dos casos. O GH é o primeiro hormônio hipofisário que é afetado após o trauma, em 9 a 40% dos pacientes. A identificação precoce do hipopituitarismo nesta condição é importante e a reposição adequada contribui para a reabilitação e melhora da qualidade de vida. Pacientes que apresentam inicialmente um escore de 13 ou menos na escala de coma de Glasgow devem ser estritamente monitorados. Na faixa pediátrica, atenção especial deve ser voltada para esta condição, visto que a função hipofisária normal é essencial para o crescimento. Aproximadamente metade dos pacientes apresenta disfunção hipofisária cerca de 6 meses após o trauma, retomando a função hipofisária normal após 1 ano. Outros pacientes podem apresentar deficiência hormonal tardiamente, mesmo com secreção hormonal preservada na fase inicial pós-trauma. No entanto, o hipopituitarismo que se instala precocemente costuma persistir. É recomendável reavaliar a função hipofisária a cada 6 a 12 meses após o traumatismo cranioencefálico. o Cirurgia hipofisária O objetivo da cirurgia hipofisária é a ressecção de um tumor hipofisário com preservação do tecido hipofisário normal adjacente, porém o tecido normal pode ser ressecado junto com o tumoral, resultando em hipopituitarismo. o Radioterapia A região hipotálamo-hipofisária é muito sensível à radioterapia. Esta geralmente é indicada para tratamento de adenomas hipofisários ou de resíduo tumoral pós-cirúrgico, com o objetivo de impedir seu crescimento. O hipopitui tarismo decorre da lesão direta da hipófise, além da lesão de vasos sanguíneos hipotalâmicos com consequente redução da produção dos hormônios liberadores . Há relação direta entre o aparecimento do hipopituitarismo, a dose de radiação utilizada e o tempo decorrido após a radioterapia. As deficiências hormonais geralmente seguem uma sequência: inicialmente, a deficiência de GH é seguida pela deficiência de gonadotrofinas, ACTH e finalmente TSH. Diferentemente dos outros hormônios hipofisários, a prolactina pode se apresentar elevada. o Hemocromatose É caracterizada pela deposição de ferro nas células hipofisárias, e a deficiência de gonadotrofinas é a anormalidade endócrina mais comum. o Hemossiderose É caracterizada pela deposição de ferro, na forma de hemossiderina. Resulta de transfusões sanguíneas frequentes e da terapia com desferroxamina em pacientes com anemias hereditárias, dentre elas a betatalassemia. As alterações endócrinas mais relevantes relacionadas com a hemossiderose secundária incluem a baixa estatura, o atraso puberal e o hipogonadismo decorrente do acometimento da secreção de GH e gonadotrofinas. A deficiência de TSH é mais rara, e a de ACTH parece ser a menos suscetível aos efeitos deletérios da deposição de ferro. o Histiocitose de células de Langerhans Compreende um grupo de doenças de origem desconhecida com apresentação clínica amplamente variável, caracterizada pela infiltração de grande número de células de Langerhans nos tecidos envolvidos, muitas vezes organizadas em granulomas. o Sarcoidose É uma doença multissistêmica caracterizada pela presença de granulomas não caseosos que afetam o sistema nervoso central e periférico em 5 a 16% dos pacientes. As deficiências de GH e de gonadotrofinas são as mais frequentes, sendo que a secreção de TSH e ACTH está geralmente preservada. Infiltração do nervo óptico com comprometimento visual pode estar presente. Mais raramente, síndrome da secreção inapropriada do hormônio antidiurético, hipotireoidismo secundário isolado, insuficiência supra-renal ou alteração da homeostase da contra-regulação de glicose podem estar presentes. o Hipofisite linfocítica (auto-imune) É uma causa rara de hipopituitarismo, caracterizada pela infiltração linfocítica e consequente processo inflamatório crônico associado a fibrose e aumento do volume hipofisário. Acomete principalmente o sexo feminino, sendo mais comum no final da gestação ou no período pós-parto. Os pacientes acometidos tipicamente apresentam cefaléia e alterações visuais em mais de 50% dos casos. Os demais podem se apresentar com algum grau de disfunção hipofisária. A história natural tipicamente progride para atrofia hipofisária com substituição do tecido hipofisário por fibrose. o Hemorragia e infarto hipofisário Geralmente decorrem de lesões isquêmicas do sistema porta- hipofisário e podem constituir uma situação de risco de morte. Os episódios agudos (apoplexia) causam lesões extensas da hipófise, porém pequenas lesões silenciosas são encontradas em até 5% de autópsias não selecionadas. O quadro de hipopituitarismo só se estabelece se ocorrer perda de mais de 75% das células hipofisárias. o Síndrome de Sheehan: É caracterizada pela hemorragia pós-parto, necrose hipofisária, falha da lactação e hipopituitarismo. A hipófise hiperplasiada no final da gestação determina as condições favoráveis para a hipoperfusão tecidual em uma condição de vasoconstrição que ocorre durante a hemorragia pós-parto. O hipopituitarismo agudo pode ser detectado nos primeiros dias ou semanas após o parto pela falta de lactação. No entanto, o hipopituitarismo menos severo, manifestado por fadiga, anorexia, perda de peso, amenorréia e perda dos pêlos sexuais, pode ser manifestado vários anos após o parto. o Apoplexia hipofisária A hemorragia aguda no interior da hipófise é chamada apoplexia e pode ocorrer dentro de um adenoma. Geralmente ocorre espontaneamente, mas tem sido relacionada com trauma craniano, anticoagulação, cetoacidose diabética, angiografia, irradiação hipofisária, cirurgia cardíaca aberta, infecções do trato respiratório. Na sua forma mais grave, manifesta-se clinicamente por cefaléia de forte intensidade (97% dos pacientes), diplopia devido à pressão sobre o nervo oculomotor, com comprometimento do campo visual e redução da acuidade visual , e hipopituitarismo. Todas as deficiências hormonais podem ocorrer , mas o início abrupto da deficiência de ACTH, e consequentemente do cortisol, é a mais grave, devido à hipotensão severa. o Aneurismas Aneurisma supra ou intra-selar das artérias carótidas ou aneurisma supra-selar das artérias comunicantes anteriores ou posteriores podem se apresentar como uma massa que se expande dentro da sela túrcica, causando hipopituitarismo. o Lesões hipotalâmicas Qualquer doença que envolva o hipotálamo pode causar deficiência na secreção dos hormônios hipofisiotróficos. Estas alterações podem causar também redução da secreção de vasopressina, resultando em diabetes insipidus. Lesões de massa incluem tumores benignos como os craniofaringeomas, ou lesões metastáticas de tumores malígnos, como o de mama. PAN-HIPERPITUITARISMO LIMA, Noémia Figueiredo Saraiva de Oliveira. Distúrbios da hipófise. 2015. Tese de Doutorado. Hiperpituitarismo é a hiperatividade da glândula pituitária, levando a um excesso de hormônios tróficos. Um adenoma hipofisário (crescimento benigno) é a causa mais comum de hiperpituitarismo e, portanto, o hiperpituitarismo é quase sinônimo de um adenoma hipofisário. Esses adenomas podem estar funcionando porque secretam hormônios em excesso ou não funcionam, pois não há sintomas clínicos de excesso de hormônios. Outras causas de hiperpituitarismo são incomuns – incluindo carcinoma hipofisário (câncer) e disfunção hipotalâmica. Câncer ou mesmo um grande adenoma, mesmo um não-funcional, pode causar hipopituitarismo(hipófise subativa), uma vez que destrói o tecido hipofisário. Alguns exemplos de hiperpituitarismo são a acromegalia e o gigantismo, o síndrome de Cushing, o síndrome da secreção inadequada da hormona ADH, adenoma secretor de TSH e a hiperprolactinemia. Hiperpituitarismo e adenomas hipofosários: A causa mais comum de hiperpituitarismo é um adenoma proveniente da adeno - hipófise. Outras menos comuns: hiperplasia e carcinomas da hipófise anterior, secreção de hormônios por alguns tumores extra-hipofisários e determinados distúrbios hipotalâmicos. Os adenomas hipofisários são classificados com base no(s) hormônio(s) produzido(s) pelas células neoplásicas, que são detectados por colorações imuno- histoquímicas realizadas em cortes histológicos . Têm pico de incidência dos 35 aos 60 anos e são tumores benignos classificados com base nos hormônios produzidos. Adenomas plurihormonais geralmente é pela produção de GH e prolactina (raro), pois é mais comum a produção de apenas um hormônio. Os adenomas hipofisários são divididos em funcionantes e não funcionantes: Funcionantes: associados ao excesso de hormônios e às manifestações clínicas disso. Não funcionantes: demonstração da produção de hormônios somente em nível tecidual, sem manifestações clínicas do excesso hormonal. Também podem ser classificados em: o Microadenoma: <1 cm de diâmetro. o Macroadenoma: >1cm de diâmetro. Compreender as manifestações clínicas e complicações do pan- hipo/hiperpituitarismo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS PAN-HIPOPITUITARISMO VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Pacientes com lesões hipotalâmico-hipofisárias podem apresentar sintomas compressivos, caracterizados por cefaleia (compressão da dura-máter ou hipertensão intracraniana), alterações de campo visual (compressão do nervo óptico), paralisias de nervos periféricos (extensão lateral da lesão) ou relativos à deficiência hormonal. Em relação à deficiência hormonal, o quadro clínico é variável e depende do grau de comprometimento da glândula e da época em que a doença surgiu (Quadro 4.5). LH/FSH Sua deficiência causa o chamado hipogonadismo Hipogonadotrófico. Quadros adquiridos cursam com: o Perda de pelos corpóreos, principalmente na axila e no pube; o Diminuição da libido; o Risco aumentado de osteopenia/osteoporose; o Infertilidade. Homens tem redução do crescimento da barba, disfunção erétil e perda de massa muscular, enquanto mulheres apresentam amenorreia ou oligoespaniomenorreia e sintomas de hipoestrogenismo: adinamia, Dispareunia e hipotrofia mamária. Micropênis e criptorquidia podem estar presentes em casos congênitos. Deficiência de LH e FSH na infância ou adolescência cursa com atraso puberal e amenorreia primária. A causa mais comum da deficiência isolada de LH/FSH é a síndrome de Kallmann, uma doença recessiva ligada ao X, que acomete, principalmente, o sexo masculino (5:1). Hiposmia ou anosmia são característicos, pela hipoplasia do bulbo olfatório; metade dos pacientes também tem agenesia renal unilateral. Laboratorialmente, observam-se testosterona ou estradio baixos, ou no limite inferior do normal, na presença de LH e FSH baixos – ou normais – baixos, inapropriadamente normais. GH Sua deficiência causa baixa estatura em crianças. Em adultos, as manifestações podem ser menos características: o Obesidade central; o Hipertensão arterial; o Hipercolesterolemia; o Redução do débito cardíaco e da tolerância a exercício; o Astenia; o Perda de massa muscular; o Depressão e isolamento social. Essas alterações provavelmente respondem pelo risco aumentado de morte cardiovascular observado nesses pacientes. A deficiência de GH é encontrada em praticamente todos os que tem deficiência de 3 outros hormônios adeno-hipofisários. TSH O hipotireoidismo secundário, causado pela deficiência de TSH, é uma causa rara de hipotireoidismo. Observam-se T4 livre baixo ou inadequadamente normal, mas, eventualmente, o TSH pode estar discretamente elevado – moléculas sem atividade biológica. ACTH Sua carência leva à insuficiência adrenal secundária. Geralmente, as manifestações clínicas são mais leves do que na insuficiência adrenal primária (por patologias adrenais), visto que a secreção de mineralocorticoides, regulada pelo sistema renina-angiotensina-aldosterona, e não pelo ACTH, é preservada na insuficiência adrenal secundária, enquanto na insuficiência adrenal primária ela é perdida, podendo levar a quadros graves de hipotensão e hipercalemia. PROLACTINA Sua deficiência manifesta-se, principalmente, pela incapacidade de amamentar (agalactia) no puerpério. Entretanto, a prolactina pode estar aumentada nos casos de doença hipotalâmica ou compressão da haste hipofisária por tumores parasselares, devido à perda da inibição tônica pela dopamina produzida no hipotálamo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS PAN-HIPERPITUITARISMO São relacionadas às alterações endócrinas causadas pelo hormônio secretado e aos efeitos de massa. Efeitos de massa: anormalidades radiográficas da sela túrcica, anormalidade do campo visual (hemianopsia bitemporal), sinais e sintomas de hipertensão intracraniana (cefaleia, náuseas, vômitos, alteração do nível de consciência), hipopituitarismo (adenomas não funcionantes podem provocar hipopituitarismo à medida que comprimem e destroem o parênquima hipofisário anterior), apoplexia hipofisária (hemorragia aguda em um adenoma). COMPLICAÇÕES PAN-HIPOPITUITARISMO As complicações do hipopituitarismo podem ser inúmeras relacionadas às deficiências hormonais e podem trazer prejuízos secundários como a diminuição cognitiva e transtornos psicológicos. O hipopituitarismo induzido por radiação (RIH) é a complicação crônica mais frequente da RxT (Radioterapia), e está associado a aumento de morbidade e mortalidade COMPLICAÇÕES PAN-HIPERPITUITARISMO Os pacientes podem desenvolver hipopituitarismo pós-operatório/pós-radiação devido à resseção completa do tecido hipofisário ou perda completa da função hipofisária. Isto requer tratamento de reposição hormonal para toda a vida. Pressão sanguínea alta Intolerância à glicose ou diabetes Doença cardiovascular Síndrome do túnel do carpo Artrite Compressão da medula espinal Anormalidades da visão Explicar o diagnóstico e manejo clínico do pan-hipo/hiperpituitarismo. DIAGNÓSTICO PAN-HIPOPITUITARISMO VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Deve determinar: (1) a presença, o tipo e o grau de deficiência hormonal; (2) a etiologia; e (3) a presença de alterações visuais. Um rastreamento inicial da função hipofisária pode ser realizado a partir das dosagens basais dos hormônios hipofisários e/ou das glândulas-alvo (Quadro 4.7). Geralmente, para o diagnóstico da deficiência de GH e ACTH, fazem-se necessários testes de estímulo, como o teste de tolerância à insulina (ITT) (Quadro 4.8). Cada hormônio hipofisário deve ser testado separadamente, uma vez que existe um padrão variável de deficiência hormonal entre os pacientes com hipopituitarismo. Níveis baixos do TSH e T4 livre (FT4) confirmam o diagnóstico de hipotireoidismo central. Entretanto, em alguns indivíduos acometidos, o TSH pode estar normal ou ainda discretamente elevado (em geral, < 10 mUI/ℓ), refletindo um TSH imunologicamente ativo, mas biologicamente inativo. O diagnóstico de hipogonadismo central fica sugerido pela presença de níveis baixos de testosterona (em homens) e estradiol (em mulheres), na presença de valores de LH e FSH baixos ou normais. Em pacientes com manifestações de insuficiência adrenal (p. ex., tonturas, hipotensão, hipoglicemia e hiponatremia), um cortisol sérico (CS) < 3 μg/dℓ praticamenteconfirma o diagnóstico, enquanto um valor > 15 μg/dℓ virtualmente o exclui. Para os demais casos, pode-se dosar o CS durante o ITT, no qual o cortisol é dosado 30 e 60 minutos após a administração de insulina Regular. No ITT, um pico de cortisol > 18 a 20 μg/dℓ exclui a deficiência de ACTH. Como alternativa, pode-se usar o teste de estímulo com ACTH sintético, mas casos de IA secundária de longa duração cursam com atrofias das glândulas adrenais e tendência a não responder ao estímulo. Por isso, esse teste é preferível para os supostos casos de IA primária. Níveis baixos de IGF-1 apontam para o diagnóstico de DGH, confirmada pela dosagem do GH durante o ITT. Um pico de GH > 5 ng/mℓ pelo método de quimioluminescência ou imunofluorimetria exclui deficiência grave de GH, tanto em crianças como em adultos (ver Quadro 4.7). Se o ITT for contraindicado ou inconclusivo para o diagnóstico de deficiência de GH em adultos, pode-se lançar mão de outros testes de estímulo, como o glucagon ou hormônio liberador do GH (GHRH) + arginina. Com este último teste, o ponto de corte para diagnóstico de DGH é 9 ng/mℓ (ver Quadro 4.8). DIAGNÓSTICO PAN-HIPERPITUITARISMO O diagnóstico clínico deve ser confirmado por testes de diagnóstico, como por exemplo os testes bioquímicos e a ressonância magnética. Exames Laboratoriais. TRATAMENTO PAN-HIPOPITUITARISMO Soma dos tratamentos de cada uma das deficiências hormonais hipofisárias detectadas quando um paciente com doença hipofisária ou hipotalâmica é testado. ACTH: hidrocortisona em uma quantidade que imita o padrão normal de secreção de cortisol. TSH o T4 não deve ser administrado até que a função adrenal, incluindo a reserva de ACTH, tenha sido avaliada e considerada normal ou tratada. o TSH sérico não pode ser usada como um guia para a adequação da terapia de reposição de T4. o Dose de T4 baseada no peso de 1,6 mcg / kg - ajustada de acordo com os valores de T4 sérico ou T4 livre. o Meta de nível sérico de T4 ligeiramente acima do normal médio, com base na justificativa de que apenas T4 está sendo administrado. Gonadotrofina: o Homens: tratados com reposição de testosterona ou com gonadotrofinas (desejam se tornar férteis). o Mulheres: estradiol e progesterona ou gonadotrofinas (interessadas em fertilidade) – papel da terapia com andrógenos em mulheres com hipopituitarismo não foi estabelecida. GH: não se recomenda o hormônio de crescimento humano recombinante (GH) como tratamento de rotina para todos os pacientes com deficiência de início na idade adulta. Prolactina: não há tratamento disponível atualmente. o Prolactina humana recombinante (r-hPRL), embora não disponível comercialmente, foi usada experimentalmente = administração subcutânea de r-hPRL a cada 12 horas por 28 dias aumentou a produção média de leite de 3,4 ± 1,6 mL para 6 6,1 ± 8 ,3 mL por dia. TRATAMENTO PAN-HIPERPITUITARISMO O tratamento é realizado com terapêutica medicamentosa, cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Tem por objetivo reduzir ou controlar o crescimento do tumor, inibindo a hipersecreção de GH e normalizando os níveis de IGF-I. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS TORTORA, G. J., DERRICJSON, B. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14ª ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, 2016. SNYDER, Peter J. Clinical manifestations of hypopituitarism. UPTODATE. Literature review current through: Jul 2022. This topic last updated: May 06, 2022. FERNANDES, Ana Margarida et al. De Caso Social à Neurocirurgia: A Propósito de um Caso de Pan-Hipopituitarismo. Medicina Interna, v. 23, n. 2, p. 102-104, 2016. VILAR, Lucio. Endocrinologia clínica. 6. ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. LIMA, Noémia Figueiredo Saraiva de Oliveira. Distúrbios da hipófise. 2015. Tese de Doutorado.
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