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RECURSOS EM ESPÉCIE I (APELAÇÃO, RECURSO EM SENTIDO ESTRITO E AGRAVO EM EXECUÇÃO – PARTE 1) I - APELAÇÃO 1 – Introdução No Código de Processo Penal, sua disciplina, se encontra nos artigos 593 a 603 e 609 a 619 (v. tb. art. 416). 1.1 – Direito intertemporal em matéria recursal Normas que disciplinam os recursos têm natureza processual, motivo pelo qual se submetem ao critério previsto no artigo 2º do CPP (aplicação imediata – tempus regit actum). Significa dizer que o cabimento do recurso, bem como seu regramento/disciplina, deve ser fixado pela lei vigente ao tempo da prolação da decisão impugnada. 2 – Hipóteses de cabimento (artigos 416 e 593) 2. 1 – Introdução Artigo 416 do CPP – da impronúncia e da absolvição sumária no rito do Júri cabe apelação. O procedimento do Júri é dividido em 2 fases, o sumário da culpa e o juízo da causa. O sumário da culpa pode ser encerrado com 4 diferentes decisões: a) Pronúncia – R.E.S.E b) Impronúncia – Apelação c) Absolvição sumária – Apelação d) Desclassificação – R.E.S.E Artigo 539 do CPP – o dispositivo trata, nos incisos I e II, da apelação contra decisões do juiz singular e no inciso III, contra decisões do Tribunal do Júri. Nesse caso, diversamente dos demais, o legislador apresenta um rol taxativo com os fundamentos que podem embasar o recurso. Logo, a apelação contra decisões do juiz singular é um recurso de fundamentação livre, ao passo que a apelação contra decisões do Tribunal do Júri é recurso de fundamentação vinculada. 2. 2 – Natureza da decisão e meio de impugnação Espécie de decisão Conteúdo da decisão Recorribilidade Despacho Ato judicial sem carga decisória Regra: irrecorrível (exceção: correição parcial*) Decisão interlocutória simples É aquela que resolve questão incidente Regra: irrecorrível (exceção: recurso em sentido estrito) Decisão interlocutória mista (=decisão com força de definitiva) É a que encerra uma fase do procedimento ** ou que põe fim ao processo*** (sem exame do mérito) Regra: sempre recorríveis (por meio de R.E.S.E ou apelação) Sentença terminativa de mérito É a decisão que julga o mérito, sem condenar ou absolver (“sentença terminativa de mérito”) Regra: sempre recorríveis (por meio de R.E.S.E ou apelação) Sentença condenatória ou absolutória É a decisão que julga o mérito, declarando a pretensão punitiva procedente (condenatória) ou improcedente (absolutória) Regra: apeláveis (593, I). Exceção: condenação ou absolvição em processo relativo a crime político é passível de R.O.C ao STF (CF, art. 102, II, “b”) * correição parcial: trata-se de uma medida de caráter administrativo, prevista em normas de organização judiciária, cabível sempre que ocorrer uma “inversão tumultuária da ordem legal dos atos processuais”. Essa medica é considerada um “recurso anômalo” e, segundo a jurisprudência, deve seguir o rito do recurso em sentido estrito. Exemplo de interlocutória simples: decisão que decreta (irrecorrível) ou revoga a prisão preventiva (R.E.S.E – 581, V). ** interlocutória mista não-terminativa (ex: pronúncia). *** interlocutória mista terminativa (ex: impronúncia, decisão que rejeita a denúncia ou queixa). Exemplo de sentença terminativa de mérito: decisão que declara extinta a punibilidade; decisão que julga o incidente de restituição de coisa apreendida. 2.3 – Cabimento segundo o art. 593 do Código de Processo Penal 2.3.1 – Apelação contra decisão do juiz singular (art. 593, I e II) Característica: recurso de fundamentação livre, ou seja, o inconformismo da parte pode ser embasado em qualquer fundamento de fato ou de direito. Quais são as decisões apeláveis proferidas por juiz singular? I – Decisão definitiva * de condenação ou absolvição *mérito As sentenças condenatórias ou absolutórias no processo penal são apeláveis. EXCEÇÃO: sentenças condenatórias ou absolutórias por crime político (competência da Justiça Federal) comportam Recurso Ordinário Constitucional para o STF (CF, art. 102). II – Decisão definitiva (sentença terminativa de mérito) * ou com força de definitiva (decisão interlocutória mista) **, não prevista no capítulo anterior (RESE) – “apelação residual”. *decisão de mérito sem carga condenatória ou absolutória (julga o mérito, sem condenar ou absolver o réu) – “sentença terminativa de mérito”. Exemplo: decisão que decreta a extinção da punibilidade: é uma decisão de mérito sem carga condenatória ou absolutória não passível de apelação, pois está no rol do RESE (art. 581, VIII); - Decisão que julga o incidente de restituição de coisa apreendida (CPP, arts. 118 a 124): também é decisão definitiva, mas, por não estar no rol do art. 581, comporta apelação com base no 593, II. *decisão que extingue o processo, sem exame de mérito ou põe fim a uma fase do rito, sem extinguir o processo (decisão interlocutória mista). Exemplos: pronúncia (RESE); impronúncia (apelação). Conclusão: toda sentença terminativa de mérito ou decisão interlocutória mista, no processo penal, será recorrível. Qual recurso: RESE quando prevista no rol do art. 581, do contrário, caberá apelação (residual) – 593, II. “Apelação residual” ou “apelação subsidiária”? Resposta: o correto é “apelação residual”, pois o critério do inciso II do art. 593 do CPP é a residualidade e não a subsidiariedade. Há no processo penal uma apelação verdadeiramente subsidiária. Trata- se daquela interposta pelo Assistente de Acusação. Por que esta é subsidiária: Porque o direito de o Assistente de Acusação apelar somente surge quando o Ministério Público não recorreu. 2.3.2 – Apelação contra decisão do Tribunal do Júri (593, III) Característica: recurso de fundamentação vinculada, isto é, o inconformismo deve se basear numa das alíneas do dispositivo. STF, 713: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua interposição”. Interposição (apelação no Júri): apelo com fundamento no art. 593, III, “a” (nulidade). Razões da apelação: Tópico 1 – nulidade (“a”); Tópico 2 – decisão manifestamente contrária à prova dos autos (“d”). Exemplo: “interponho apelação com fundamento nas alíneas “a” e “c” do inciso III do art. 593 do CPP”. Razões: “a” – nulidade...; “c” – erro na dosimetria...; “d” – decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos (?) a) Nulidade posterior à pronúncia Segundo a doutrina, quando se tratar de nulidade absoluta, admite-se a alegação ainda que seja anterior à pronúncia. Os tribunais superiores, porém, entendem que no processo penal até mesmo as nulidades absolutas exigem comprovação do prejuízo. Desse modo, se a parte interessada não arguiu nulidade anterior à pronúncia e deixa para fazê-lo somente após o julgamento pelo Júri, o vício não poderá ser reconhecido. Vale lembrar, ainda, que não se admite a alegação de “nulidade de algibeira”. Se a apelação for acolhida com base neste fundamento, o julgamento será anulado e outro será realizado. Conclusão: o tribunal, neste caso, possui apenas juízo rescindente (aquele que permite ao Tribunal invalidar a decisão impugnada). Cuidado: não confundir juízo rescindente com juízo rescisório, que é o que autoriza o Tribunal a modificar o conteúdo da decisão. b) Decisão do juiz presidente contrária à lei expressa ou ao veredicto Neste caso, o fundamento da apelação diz respeito à decisão do juiz presidente, não incluindo impugnação a respeito do veredicto. Conclusão: como nesse caso não há questionamento acerca do veredicto, se o recurso for provido com base nessa alínea, o tribunal terá juízo rescindente e rescisório. c) Erro ou injustiça na aplicação da pena ou medida de segurança Nesse caso, a impugnação diz respeito unicamente à parte da sentençaque compete ao juiz presidente do Júri. Conclusão: o Tribunal terá juízo rescindente e rescisório. d) Decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos Características da apelação com este fundamento: 1ª. A apelação só poderá ser provida quando ficar demonstrado que o veredicto foi arbitrário (ou seja, que não encontra amparo em nenhuma prova válida do processo). O objetivo é evitar patentes erros judiciários. 2ª. Se o recurso for provido, realiza-se novo júri (com novos jurados) – artigo 593, §3º. Conclusão: nesse caso, o Tribunal somente terá juízo rescindente. 3ª. Com esse fundamento, só cabe uma apelação – artigo 593, §3º. - Se os jurados absolverem o réu, com base num pedido de “clemência” efetuado pela defesa, pode o Ministério Público apelar, alegando que a decisão foi manifestamente contrária à prova dos autos? - STF, A.R.E 1.225.185 Quesito obrigatório: “o jurado absolve o acusado? ” Resposta: não há dúvida que sim e, nesse caso, se a absolvição se baseou num pedido de “clemência”, é porque havia provas que amparavam a condenação. O ex-Min. Celso de Mello (STF) entendeu que o MP não pode apelar nesse caso. Se os jurados absolveram atendendo ao pedido de clemência, é porque reconheceram que não havia provas para absolver, mas ainda assim decidiram em favor do réu. Desse modo, em nome dos princípios da soberania dos veredictos e da plenitude de defesa, resta ao MP apelar com fundamento nas demais alíneas (STF, HC 185. 068). 2.4 – Apelação e Recurso em Sentido Estrito Quando de um tópico da decisão couber apelação e de outro tópico couber RESE, a parte deverá apelar, ainda que o inconformismo seja parcial (art. 593, §4º). Exemplo: O juiz profere sentença em processo no qual o réu foi acusado de 2 crimes. Por um dos delitos, o juiz condena o agente, mas, quanto ao outro, reconhece a prescrição. O MP só poderá interpor apelação, ainda que o objeto do recurso seja o reconhecimento da prescrição. 3 – Rito da Apelação a) Interposição (petição ou termo nos autos, sem a obrigação de apresentar de imediato as razões do recurso): Prazo de 05 dias (10 dias – defensor público; 15 dias – Assistente de acusação não habilitado nos autos) - Assistente de acusação habilitado = 05 dias (o direito de apelar, nesse caso, pressupõe que o MP não tenha recorrido da sentença, pois a apelação do Assistente de Acusação é subsidiária em relação à do Ministério Público). - Como fica a contagem do prazo da apelação do Assistente de Acusação habilitado? Resposta: se o Assistente de Acusação foi intimado antes do MP, seu prazo começa a fluir a partir do dia seguinte ao término do prazo do MP; se o Assistente de Acusação foi intimado após o MP (e o MP não apelou), seu prazo se inicia da intimação. b) Juízo de admissibilidade: receber ou rejeitar o recurso (essa decisão leva em conta os pressupostos recursais). OBS: se a apelação for rejeitada, cabe RESE (art. 581, inciso XV). c) Razões de apelação (08 dias ou 03 dias: contravenção penal*) - Esses prazos são impróprios, isto é, sua inobservância não prejudica o recurso. Em razão disso, a apresentação de razões fora do prazo não torna o recurso intempestivo. d) Contrarrazões de apelação (08 dias ou 03 dias: contravenção penal) - Esses prazos são impróprios, isto é, sua inobservância não prejudica o recurso. *O prazo de 03 dias será aplicável quando o processo tiver por objeto uma contravenção penal. - Essas manifestações são consideradas pela jurisprudência como indispensáveis. - Se a defesa se recusar a apresenta-las, o juiz intimará o réu, alertando que no caso de persistir a omissão, nomeará defensor dativo. - Se o MP se recusar a apresenta-las, o juiz aplicará analogicamente o artigo 28, caput, do CPP (isto é, encaminhará o caso ao órgão ministerial de revisão – PGJ no âmbito estadual ou a Câmara de Coordenação e Revisão no âmbito do MPF). e) Tribunal (arts. 610 ou 613) - Apelação sumária (detenção ou prisão simples) x apelação ordinária (reclusão). - Apelação sumária (prazos de 05 dias – prazos impróprios): - Parecer do MP – 05 dias – “custos legis” = fiscal da lei; - Relator – 05 dias para colocar em pauta; - Julgamento. - Apelação ordinária (prazos de 10 dias – prazos impróprios): - Parecer do MP; - Relator; - Revisor; - Julgamento. - O legislador autoriza o apelante, no artigo 600, §4º, do CPP, a apresentar as razões diretamente no Tribunal. 4 - Efeitos a) Devolutivo: é o que propicia ao Tribunal reexaminar matéria já decidida – todo recurso possui efeito devolutivo. b) Suspensivo: é o que obsta a eficácia da decisão impugnada. Como regra, a apelação não é dotada de efeito suspensivo. Exceção: apelação contra sentença condenatória, interposta pela defesa (em processo no qual o réu se encontra solto). Súmula 643 do STJ: “A execução da pena restritiva de direitos depende do trânsito em julgado da condenação”. A Lei 13.964, no artigo 492 do CPP, determina que se o réu for condenado no Júri a pena de reclusão, igual ou superior a 15 anos, haverá execução provisória, de tal maneira que a apelação da defesa (como regra) não terá efeito suspensivo. Esse efeito, porém, pode ser requerido pela defesa ao Juiz Presidente do Júri ou ao relator da apelação no tribunal. c) Regressivo/ iterativo/ diferido: é o que permite ao próprio órgão prolator da decisão modificá-la = JUÍZO DE RETRATAÇÃO. Apelação não possui efeito regressivo. d) Extensivo (artigo 580): a decisão proferida no recurso de um corréu beneficia aos demais (ainda que não tenham recorrido), salvo quando fundada em motivos de ordem pessoal. Trata-se de efeito “ex vi legis”, ou seja, o efeito que decorre da lei. Em outras palavras, não é necessário que o Tribunal julgando o recurso do corréu, expressamente, declare que vale para os demais, pois esta extensão dar-se por força de lei, independendo de declaração no acórdão.
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