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e das buscas intrínsecas de prazer no conhecimento e na 
experimentação (GOMES, 2008).
Leia mais sobre as origens do lazer no livro de Christianne Luce Gomes intitulado Lazer, 
trabalho e educação: relações históricas, questões contemporâneas. 2.e. rev.amp. Belo Ho-
rizonte: Editora da UFMG, 2008.
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Dando um salto na história, chamo você a pensar na Revolução Industrial, entre 
tantas espalhadas mundo afora, e convido você a pensar na nossa Revolução Industrial. 
Aqui no Brasil, o modo de viver sofreu mudanças bruscas nas décadas de 1930 
e 1940. Nesse período, nosso país começou sua transformação – de lavouras a 
indústrias, das atividades artesanais a produção em escala.
Paul Lafarge, em seu livro Direito a preguiça, publicado em 2005, descrevia 
as fábricas como “[...] casas ideais de correção onde massas operárias são encarce-
radas, onde se condenam a trabalhos forçados, durante 12 a 14 horas, não só os 
homens, como também as mulheres e as crianças” (LAFARGE, 2003, p. 27). 
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De maneira incomodante, ele descreve as funcionárias que ali trabalhavam: “[...] 
hoje as moças e as mulheres estão na fábrica, insignificantes flores de cores pá-
lidas, com o sangue sem força, estômago deteriorado, os membros sem energia” 
(LAFARGE, 2003, p. 29). 
Em nota no final do seu livro, Lafarge reproduz as palavras daquela época, de 
um respeitado manufatureiro na cidade de Bruxelas, em 1857, que dizia:
Introduzimos algumas distrações para as crianças. Nós as ensinamos a 
cantar durante o trabalho, e também a contar enquanto trabalham: isso 
as distrai e as faz aceitar com coragem aquelas doze horas de trabalho 
que são necessárias para lhes proporcionar os meios de subsistência. 
(LAFARGE, 2003, p.89)
Indústria de madrepérola: Mississippi – Botão de moagem em uma fábrica por mulheres 
trabalhadoras, disponível em: http://bit.ly/2UkHZgaEx
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Ler tais relatos nos dias de hoje, chega a incomodar nossas emoções; infeliz-
mente, naquela época, as pessoas eram forçadas a trabalhar tamanha jornadas 
de trabalho para conseguir custear a vida na cidade, pois saíram do campo com o 
pensamento de que na cidade, no meio urbano, a vida seria melhor.
Entre essas duas décadas de lutas por direitos e vidas perdidas por condições 
insalubres de trabalho, além, é claro, da infância roubada das crianças que viviam 
nas fábricas para melhorar a renda familiar, a Sociedade viu que havia a necessida-
de de mudanças, dando assim início à política de Wellfare State – em português: 
política do bem estar.
Fernando Mascarenhas, professor da UNB – Universidade de Brasília, apresen-
tou em sua Dissertação de Mestrado essa transição, essas mudanças na Política e 
a criação das Leis Trabalhistas, garantindo ao trabalhador: Seguro Desemprego, 
Previdência, Proteção Legal do trabalhador, dessa forma, criando os direitos à cida-
dania, dentre eles, o direito ao lazer (MASCARENHAS, 2005).
A criação das Leis Trabalhistas tinha um enfoque mais prático – o objetivo dos 
empresários ao aceitar tais imposições estava focado na melhoria da produtividade 
de seus trabalhadores. 
Vejamos: um corpo cansado consegue produzir igual a um corpo descansado? 
Pense no seu dia a dia – seu rendimento profissional é o mesmo no início da 
semana e mais para o final da semana? 
Se você não tiver uma boa noite de sono, uma alimentação adequada, a probabi-
lidade de seu rendimento cair é altíssima; assim era com aqueles trabalhadores que 
labutavam por jornadas de trabalho extensas e desgastantes.
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UNIDADE História e Conceito de Animação Sociocultural, Lazer e Recreação
Entre os direitos à cidadania, focaremos no direito ao dia de descanso. Na con-
cepção dos políticos e empresários, o dia livre do trabalho a priori deveria ser 
associado ao descanso do corpo e ao cultivo da espiritualidade, visto que com toda 
a jornada extensa de trabalho, homens e mulheres deixaram de vivenciar suas reli-
giões por falta de tempo ou por esgotamento físico e mental.
Seguindo a História, nos deparamos com o período em que o lazer se distancia 
da ideia do prazer intrínseco, da busca pelo intelecto, do ócio da Era Antiga – e nos 
deparamos com o período em que o lazer se associa ao descanso, às necessidades 
psicobiológicas do ser humano, para assim produzir mais e melhor.
Por fim, chegamos à era que estamos vivendo, a era em que o lazer associa-se à 
diversão e ao consumismo. Faz parte do lazer a diversão; por outro lado, assistimos 
a realidade de uma Sociedade que tem visado mais ao TER que ao SER; o foco 
maior em quantificar o lazer por meio de compras ao invés do experimentar as 
sensações de uma determinada vivência. 
Exemplo disso, muitas vezes, está nas atividades em família, em que levar a 
criança no Shopping e comprar o que ela quer é mais valorizado pelos adultos do 
que estar com a criança e vivenciar as escolhas dela. Há algum tempo, o lazer tem 
sido visto como uma mercadoria que se compra, e não que se vivencia. 
Martins (2013) descreve o lazer no período em que vivemos como:“O mun-
do hipermoderno tomado pelo consumismo termina por influenciá-lo de forma 
a deteriorá-lo, mercantilizá-lo, coisificando-o e empobrecendo-o de significados” 
(MARTINS, 2013, p. 14).
Figura 2 – Shopping – Mulher com várias sacolas nas mãos
Fonte: Getty Images
Podemos, sim, comprar uma passagem para uma viagem, hospedagem em 
um Hotel legal e passeios no local, mas o mais importante não são os valores 
atribuídos a tais compras e sim as experiências vividas naquele local, na riqueza 
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do descobrimento de novas culturas, seja ela gastronômica, seja musical, arquite-
tônica, sejam outras.
Infelizmente, hoje, o tempo destinado ao lazer está cada vez mais escasso e, 
quando permitido, tais vivências não temos o repertório, o conhecimento sobre as 
possibilidades de lazer; dessa forma, tornando-nos limitados às experiências que 
somente o lazer pode propiciar ao homem.
Toda e qualquer vivência no âmbito do lazer deve por conceito próprio do lazer ofertar a 
possibilidade de prazer intrínseco ao sujeito, independente da escolha da atividade. 
Assim, quero fazer uma pergunta: Quais são as possibilidades de lazer? Se pensarmos em 
categorias, em interesses do lazer, quais atividades no dia a dia são atividades do amplo 
conceito do lazer?
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Bem, pensou? 
Então, agora, quero recapitular com você os interesses do lazer. Dois autores 
importantes descrevem tais interesses. 
Joffre Dumazedier (1975 e 1980) descreve cinco interesses: artístico, intelectual, 
físico-esportivo, manual e social e, anos depois, Camargo (1986) descreve o sexto, 
que vem a ser o turístico. 
Recentemente, Gisele Schwartz (2003) descreveu o sétimo interesse, o vir-
tual, ainda em discussão no meio acadêmico; entretanto, é válido pensarmos 
na possibilidade.
Exemplos de cada interesse:
• Artístico: visita a Museus e a Bibliotecas, ir ao Cinema, Teatro e/ou Shows, 
assistir televisão, tocar algum instrumento e ouvir músicas;
• Intelectual: jogos como damas, xadrez, gamão, memória, participar de pales-
tras e Cursos, leituras de livros, revistas e/ou jornais;
• Físico-esportivo: esportes coletivos e individuais recreativos e/ou competi-
tivos em que os atletas não são profissionais, desenvolvem tais esportes no 
tempo livre, sem a obrigação ordinal do trabalho em si;
• Manual: artesanato, carpintaria, marcenaria, corte e costura, culinária e jar-
dinagem;
• Social: festas, casas noturnas, encontros em Restaurantes, Pizzarias, Lancho-
netes, Clubes e Bares;
• Turístico: viagens regionais, nacionais, internacionais, parques temáticos;
• Virtual: jogos eletrônicos e Redes Sociais.
Agora que já dialogamos sobre o conceito do lazer, sua história e seus interesses, 
é importante entender outros conceitos que há dentro do lazer.
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UNIDADE História e Conceito de Animação Sociocultural, Lazer e Recreação
Equipamentos Específicos e 
Não Específicos de Lazer
Com a velocidade com que muitas cidades foram desenvolvidas, muitos dos espa-
ços naturais
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