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APOSTILA RECREAÇÃO E LAZER

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Prévia do material em texto

RECREAÇÃO 
E LAZER
PROFESSOR
Me. Oldrey Patrick Bittencourt Gabriel
RECREAÇÃO E LAZER 
2 
Coordenador(a) de Contéudo Mara Cecilia Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, 
Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Agnaldo Ventura, Ana Claudia Salvadego, 
Qualidade Textual Hellyery Agda, Revisão Textual Helen Braga do Prado; Ludiane Aparecida de 
Souza, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; 
BITTENCOURT GABRIEL, Oldrey Patrick.
 Recreação e Lazer. Oldrey Patrick Bittencourt Gabriel.
 Maringá - PR.:UniCesumar, 2016. Reimpressão - 2020
 170 p.
 “Graduação em Educação Física - EaD”.
 1. Recreação. 2. Lazer. 3. Educação. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0837-1
CDD - 22ª Ed. 701.1 
CIP - NBR 12899 - AACR/2
NEAD 
Núcleo de Educação a Distância
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 
Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD 
William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente 
da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon, Diretoria de Graduação Kátia 
Coelho, Diretoria de Pós-Graduação Bruno do Val Jorge, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, 
Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie 
Fukushima, Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira, Gerência de Curadoria 
Carolina Abdalla Normann de Freitas, Gerência de Contratos e Operações Jislaine Cristina da Silva, 
Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki 
Hey, Supervisora de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande 
desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, 
informação, conhecimento de qualidade, novas 
habilidades para liderança e solução de problemas 
com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência 
no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: 
as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará 
grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o 
conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos que 
contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade 
justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar 
busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com 
as demandas institucionais e sociais; a realização 
de uma prática acadêmica que contribua para o 
desenvolvimento da consciência social e política e, por 
fim, a democratização do conhecimento acadêmico 
com a articulação e a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja 
ser reconhecida como uma instituição universitária 
de referência regional e nacional pela qualidade 
e compromisso do corpo docente; aquisição de 
competências institucionais para o desenvolvimento 
de linhas de pesquisa; consolidação da extensão 
universitária; qualidade da oferta dos ensinos 
presencial e a distância; bem-estar e satisfação da 
comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica 
e administrativa; compromisso social de inclusão; 
processos de cooperação e parceria com o mundo 
do trabalho, como também pelo compromisso 
e relacionamento permanente com os egressos, 
incentivando a educação continuada.
Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar
boas-vindas
Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à 
Comunidade do Conhecimento. 
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar 
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores 
e pela nossa sociedade. Porém, é importante 
destacar aqui que não estamos falando mais daquele 
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas 
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, 
atemporal, global, democratizado, transformado pelas 
tecnologias digitais e virtuais.
De fato, as tecnologias de informação e comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, 
informações, da educação por meio da conectividade 
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares 
e da mobilidade dos celulares. 
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram 
a informação e a produção do conhecimento, que 
não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos 
em segundos.
A apropriação dessa nova forma de conhecer 
transformou-se hoje em um dos principais fatores de 
agregação de valor, de superação das desigualdades, 
propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. 
Logo, como agente social, convido você a saber cada 
vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a 
tecnologia que temos e que está disponível. 
Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg 
modificou toda uma cultura e forma de conhecer, 
as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, 
equipamentos e aplicações estão mudando a nossa 
cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o 
conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância 
(EAD), significa possibilitar o contato com ambientes 
cativantes, ricos em informações e interatividade. É 
um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá 
as portas para melhores oportunidades. Como já disse 
Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. 
É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. 
Willian V. K. de Matos Silva
Pró-Reitor da Unicesumar EaD
boas-vindas
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes 
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível 
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem 
dialógica e encontram-se integrados à proposta 
pedagógica, contribuindo no processo educacional, 
complementando sua formação profissional, 
desenvolvendo competências e habilidades, e 
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, 
de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, 
estes materiais têm como principal objetivo “provocar 
uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta 
forma possibilita o desenvolvimento da autonomia 
em busca dos conhecimentos necessários para a sua 
formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento 
e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos 
fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe 
uma equipe de professores e tutores que se encontra 
disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
Débora do Nascimento Leite
Diretoria de Design Educacional
Janes Fidélis Tomelin
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Kátia Solange Coelho
Diretoria de Graduação 
e Pós-graduação
Leonardo Spaine
Diretoria de Permanência
6 
autor
Professor Mestre
Oldrey Patrick Bittencourt Gabriel
Mestre em Educação Física na área de Pedagogia do Movimento, Corporeidade 
e Lazerpela UNIMEP - Universidade Metodista de Piracicaba (2004). Especialista 
em Educação Física pela UEM - Universidade Estadual de Maringá na área de 
Lazer e Qualidade de Vida (2003). Graduado em Educação Física pela UEM - 
Universidade Estadual de Maringá (2000) e Bacharel em Teologia pelo STAGS 
- Seminário Teológico Reverendo Antonio de Godoy Sobrinho (2009). Atual-
mente é professor da UNICESUMAR - Centro Universitário de Maringá, atuando 
principalmente nos cursos de Educação Física, Teologia e Administração, com 
ênfase nas seguintes áreas: ciência política, políticas públicas, lazer, psicologia 
do esporte e educação física escolar.
Para informações mais detalhadas sobre sua atuação profissional, pesquisas e 
publicações, acesse seu currículo disponível no endereço a seguir:
<http://lattes.cnpq.br/4353021635497581>.
apresentação
RECREAÇÃO E LAZER
Oldrey Patrick Bittencourt Gabriel
Cara(o) aluna(o), é com muita alegria que apresento 
a você o livro da disciplina Recreação e Lazer. Quan-
do ingressei no curso de Educação Física, movido, 
principalmente, pelo interesse em lazer e recreação, 
devido ao meu envolvimento desde a adolescência 
com acampamentos e outras atividades de lazer, não 
imaginava a riqueza que permeava esta temática. A 
paixão fomentou um desejo de conhecer e me apro-
fundar nas discussões sobre esta área tão essencial 
para a vida humana.
É muito comum que aqueles que ingressam no 
curso de Educação Física esperem que as disciplinas 
sejam mais “práticas” e menos “teóricas”. Coloco 
estes dois termos entre aspas, pois acredito que estas 
duas esferas do conhecimento são indissociáveis. 
Quando as separamos, o teórico torna-se, na ver-
dade, um discurso vazio, pois perde a sua dimensão 
real, prática. Já o prático torna-se uma espécie de 
“tarefismo”, ou seja, um fazer pelo fazer, mera téc-
nica, apenas aplicações de receitas, sem nenhuma 
reflexão mais aprofundada.
Talvez com esta disciplina não seja diferente. 
Muitos, quem sabe, esperam que ela seja uma oficina 
na qual se ensine jogos, brinquedos, brincadeiras e, 
de preferência, mais o como fazer do que o porquê. 
Obviamente que estas atividades são extremamente 
importantes ao(à) futuro(a) professor(a), e devem 
ser tratadas com a mesma seriedade e profundidade. 
Contudo é de suma importância que compreendamos 
como o lazer surge no modelo de sociedade em que 
vivemos e como ele pode ser compreendido à luz do 
que denominamos teoria do lazer.
O ideal é que a vida como um todo, e não apenas 
a vida acadêmica, se desenvolva num movimento de 
ação, reflexão e nova ação, e assim sucessivamente. 
Precisamos compreender o porquê fazemos o que 
fazemos e como se deu esta construção tão complexa 
que é a vida da humanidade nas suas mais variadas 
facetas; e uma dessas nuanças da vida humana é 
justamente o lazer.
Por isso, em nossa primeira unidade, priorizei as 
reflexões em torno de um conceito operacional de 
lazer, que permita situar a articular nossa temática 
principal aos conceitos de cultura, tempo e atitude 
na contemporaneidade. Destas discussões iniciais e 
basilares, para nossos estudos, emergem discussões 
como o processo de surgimento de uma classe ociosa, 
como ela ostenta tal posição e como isso se relaciona 
com as barreiras ao lazer, que geraram movimentos 
de reivindicação ao longo da história, como o de luta 
pelo “direito à preguiça”.
Na Unidade II, proponho que reflitamos sobre a 
relação do lazer com o trabalho e as demais obrigações 
sociais. Estas relações são fundamentais para a com-
preensão do lazer em toda a sua complexidade, pois no 
lazer e no trabalho corre o mesmo sangue social. Neste 
contexto, surge a figura do animador sociocultural, que 
pode atender inúmeras demandas e ideologias, bem 
como apresentar variadas características.
Na unidade seguinte passamos a discutir o duplo 
processo educativo no lazer. Tema de grande relevância 
para a formação de qualquer educador, pois, em geral, 
estamos condicionados a pensar na escola como for-
madora apenas de valores para o mundo do trabalho 
e pouco para o mundo do lazer. Contudo ambos são 
importantes e relevantes socialmente. Ao analisarmos 
o lazer como espaço/tempo privilegiado para o lúdico, 
somos, imediatamente, remetidos à necessidade de 
repensar a sua relação com a cultura de maneira mais 
ampla e também com nossos modelos e culturas, por 
isso a nossa reflexão sobre estas relações. 
Outra temática que está muito presente nas discus-
sões da Educação Física é a qualidade de vida, razão 
pela qual dedico a Unidade IV à aproximação entre 
lazer e qualidade de vida à luz dos conceitos que tratei 
nas unidades anteriores. Nesta aproximação emergem 
muitos outros temas, mas, devido à impossibilidade 
de discutirmos todos ele nesta fase, elegemos a cor-
poreidade e a questão dos espaços e equipamentos 
específicos e não-específicos de lazer para nossas dis-
cussões sobre lazer e qualidade de vida.
Por fim, em nossa última unidade, apresento 
uma proposta de elaboração de um repertório de 
atividades em recreação e lazer. Com isso, entendo 
que a relação teoria e prática pode ser garantida na 
medida que temos um pano de fundo conceitual 
profundo sobre o lazer, prevenindo a tentação de 
simplesmente reproduzirmos atividades por meio de 
receitas prontas, sem nenhum senso crítico e emba-
samento do a ação profissional. A construção de um 
repertório pessoal de atividades é fundamental para 
a atuação profissional, e será mais eficaz na medida 
que represente uma compreensão aprofundada das 
peculiaridades de faixas etárias e ambientes que de-
mandem ações específicas. 
Portanto, caro(a) acadêmico(a), espero que este 
material contribua na sua formação, e que você avance 
cada vez mais nas suas reflexões e ações profissionais. 
Há muitos outros assuntos que poderiam ser tratados 
aqui, mas elenquei aqueles que considero fundamen-
tais para este momento de sua formação acadêmica. 
São inúmeras as possibilidades de aprofundamento 
neste universo de conhecimento, que vão desde a lei-
tura de bons livros, como por exemplo os utilizados 
neste material, como o contato com outras institui-
ções de ensino que se dedicam a pesquisas no campo 
do lazer, inclusive com reconhecidos programas de 
pós-graduação - tanto latu sensu quanto strictu sensu 
/ mestrado e doutorado -, e, ainda, a participação em 
eventos (congressos, simpósios, encontros, semanas 
acadêmicas etc.) relacionadas ao lazer e à recreação. 
Não deixe de se aprofundar nesta temática. Ela não 
está relacionada apenas à sua vida profissional, mas à 
sua vida pessoal e daqueles que você ama e quer bem. 
Sucesso e paz em sua jornada!
sumário
UNIDADE I
INTRODUÇÃO AO LAZER E À RECREAÇÃO
14 Conceito operacional de lazer
18 Lazer, cultura, tempo e atitude
24 Classe ociosa, emulação pecuniária e 
barreiras ao lazer
28 O direito ao trabalho e o direito à preguiça
UNIDADE II
LAZER, RECREAÇÃO, TRABALHO E OBRIGAÇÕES
44 Lazer, trabalho e obrigações
54 Lazer, animação sociocultural e recreação
UNIDADE III
LAZER, LÚDICO E EDUCAÇÃO
74 Lazer e o duplo processo educativo
78 Lazer como espaço para o lúdico
84 A cultura, o lúdico e a escola
UNIDADE IV
LAZER E QUALIDADE DE VIDA
108 Conceitos, valores e parâmetros em lazer e 
qualidade de vida
114 Qualidade de vida, corporeidade e lazer
124 Lazer, espaço e equipamentos
UNIDADE V
REPERTÓRIO DE ATIVIDADES EM RECREAÇÃO E 
LAZER
146 Considerações gerais sobre repertório de 
atividades em recreação e lazer
152 Exemplo de repertório de atividades em rec-
reação e lazer
170 Conclusão Geral
Professor Me. Oldrey Patrick Bittencourt Gabriel
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta 
unidade:
• Conceito operacional de lazer
• Lazer, cultura, tempo e atitude
• Classe ociosa, emulação pecuniária e barreiras ao lazer
• O direito ao trabalho e o direito à preguiça
Objetivos de Aprendizagem
• Descrever o processo de construção de um conceito 
operacional de lazer na sociedade contemporânea.
• Articularos conceitos lazer, cultura, tempo e atitude 
para a compreensão do lazer e da recreação na 
contemporaneidade.
• Definir e descrever o surgimento do conceito de classe 
ociosa, sua relação com a emulação pecuniária e as 
barreiras ao lazer.
• Apresentar o processo de desenvolvimento histórico de 
reivindicação pelo direito ao trabalho em concomitância 
com a busca pelo direito à preguiça.
INTRODUÇÃO AO LAZER 
E À RECREAÇÃO
I
unidade
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), iniciaremos nossos estudos com o objetivo principal de estabe-
lecer uma série de elementos teóricos que proporcionem um entendimento sobre 
a teoria do lazer e algumas interlocuções já realizadas com a recreação. 
O foco principal de construção e seleção dos conceitos a serem aborda-
dos inicialmente são as contribuições de certos aspectos que a teoria pode 
trazer para a ação profissional do(a) professor(a) de Educação Física na 
escola e em outros ambientes.
A relevância desta unidade é o destaque de aspectos que considero impor-
tantes para a compreensão das relações entre o lazer e o trabalho, historicamente 
situados no modo de produção capitalista, visto que é o sistema no qual estamos 
inseridos, com todas as particularidades de uma sociedade contemporânea. É 
importante para essa compreensão que apresentemos um conceito operacional 
de lazer, que perpassará todas as nossas discussões neste livro.
A articulação do conceito operacional de lazer com a cultura, num sentido 
mais amplo, necessariamente, passa pela compreensão da atitude no tempo dis-
ponível. Este tempo ganhou, ao longo da história, uma possibilidade de status so-
cial, pois, em muito, casos, só é possível desfrutar de mais tempo livre com uma 
condição econômica mais abastada ou tendo alguém que trabalhe para você. 
Por isso nossa discussão sobre a emulação pecuniária às barreiras ao lazer. 
Historicamente a luta pelo trabalho esteve atrelada à luta pelo lazer, por 
isso é de suma importância a compreensão dos fundamentos históricos que 
possibilitam o emergir do lazer como fenômeno tal qual o conhecemos hoje. 
Esses fundamentos históricos não podem ser esgotados neste momento, 
haja visto que se trata de estudos introdutórios sobre o lazer e a recreação, 
mas vale o destaque para os movimentos que conquistaram uma série de 
direitos às classes menos favorecidas. 
Esperamos que todas as ideias apresentadas contribuam para este pri-
meiro contato com o lazer e a recreação.
Bons estudos!
RECREAÇÃO E LAZER 
14 
Para formar uma base de análise ao lazer e a recre-
ação e sua relação com as possibilidades de atuação 
profissional do(a) professor(a) de Educação Física, 
é necessário estabelecer, primeiramente, uma dis-
cussão acerca do lazer, pois a opção por uma com-
preensão específica deste tema determinará toda a 
trajetória de raciocínio. 
Serão destacados conceitos relativos ao lazer ba-
seado em nosso foco de estudo, pois acredito que este 
tema, enquanto área de pesquisa e atuação, permite 
várias abordagens. É muito importante reafirmar que 
as bases para a compreensão do lazer estão nas rela-
ções que se estabelecem no chamado mundo do tra-
Um Conceito Operacional 
de Lazer
balho e na questão do tempo (cotidiano), tendo como 
pano de fundo o modo de produção capitalista.
Em primeiro lugar, acredito na necessidade de 
estabelecer o conceito que será base a todas as refe-
rências feitas neste estudo do lazer, pois conforme 
Marcellino (2002, p. 21) “a incorporação do tema 
‘lazer’ ao vocabulário comum é relativamente re-
cente e marcada por diferenças acentuadas quanto 
ao seu significado”, situação esta que acredito gerar 
muitas confusões quando se busca estabelecer uma 
abordagem e relações com outras esferas da dinâmi-
ca social, como a recreação, mais especificamente no 
âmbito da Educação Física.
 15
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Deste modo, me aproprio de um conceito opera-
cional de lazer e não propriamente de uma defini-
ção de lazer, mesmo que este conceito seja transitó-
rio. Este conceito, do lazer historicamente situado, 
é apresentado por Marcellino (2001, p. 15-17) da 
seguinte forma:
1- Cultura vivenciada (praticada, fruída ou 
conhecida) no tempo disponível das obriga-
ções profissionais, escolares, familiares, sociais, 
combinando os aspectos tempo e atitude. Falo 
do concreto da sociedade contemporânea – 
como é, e não do devir, como deveria ser - in-
clusive de uma sociedade que eu próprio con-
sidere mais justa. Quando me refiro à cultura, 
não estou reduzindo o lazer a um único conte-
údo, considerando-o a partir de uma visão par-
cial, como geralmente ocorre quando se utiliza 
a palavra cultura, quase sempre restringindo-a 
aos conteúdos artísticos. Aqui abordo os diver-
sos conteúdos culturais. E, finalmente, quando 
vivenciada, não estou restringindo o lazer à 
prática de uma atividade, mas também ao co-
nhecimento e à assistência que essas atividades 
podem ensejar, e até mesmo à possibilidade do 
ócio, desde que visto como opção, e não com 
a esfera das obrigações, no nosso caso, funda-
mentalmente, a obrigação profissional.
2- O lazer gerado historicamente e dele poden-
do emergir, de modo dialético, valores ques-
tionadores da sociedade de um modo geral, e 
sobre ele também sendo exercidas influências 
da estrutura social vigente. A relação que se es-
tabelece entre lazer e sociedade é dialética, ou 
seja, a mesma sociedade que o gerou, e exerce 
influências sobre o seu desenvolvimento, tam-
bém pode ser por ele questionada, na vivência 
de seus valores. No nosso caso específico, é o 
próprio sistema econômico [...] que gerou a 
possibilidade de lazer que temos, sendo cons-
tantemente adaptado, até mesmo pelos valores 
vivenciados no próprio lazer.
Até mesmo a tentativa acadêmica de estabelecer 
uma definição de lazer torna-se tarefa complexa na 
medida que não consegue abarcar todas as variáveis 
da vida. Entretanto, enfatizo a contribuição de de-
terminados teóricos, no sentido de deflagrar e de-
senvolver as discussões acadêmicas sobre a temática. 
Um exemplo dessa tentativa é o conceito de lazer es-
tabelecido por Dumazedier (1975, p. 34):
[...] conjunto de ocupações às quais o indivíduo 
pode entregar-se de livre vontade, seja para re-
pousar, seja para divertir-se, recrear-se e entre-
ter-se ou ainda para desenvolver sua formação 
desinteressada, sua participação social volun-
tária, ou sua livre capacidade criadora, após 
livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações 
profissionais, familiares e sociais.
Apesar de fomentar outras discussões para o desen-
volvimento conceitual de lazer, é possível estabele-
cer críticas pertinentes a esta conceituação. Uma 
delas é feita por Faleiros (1980, p. 61) ao destacar 
que o conceito estabelecido por Dumazedier esbar-
ra numa visão funcionalista e, ao tentar conceitu-
ar o lazer, não dá conta de toda a dinâmica social, 
sendo uma ferramenta que supre determinadas 
necessidades, mas cria muitas outras. O conceito 
de lazer de Dumazedier é identificado, portanto, da 
seguinte maneira:
[...] um invólucro vazio para ser preenchido 
com as atividades que são desenvolvidas em 
função de determinadas necessidades, desde 
que realizadas distintamente de certas obriga-
ções institucionalizadas. Esse conceito de lazer 
histórico parece buscar o seu conteúdo orga-
nizando no mundo da aparência (FALEIROS, 
p. 61, 1980).
RECREAÇÃO E LAZER 
16 
3- Um tempo que pode ser privilegiado para 
vivências de valores que contribuam para 
mudanças de ordem moral e cultural, neces-
sárias para solapar a estrutura social vigente. 
A vivência desses valores pode se dar de uma 
perspectiva de reprodução da estrutura vigen-
te ou da sua denúncia e do seu anúncio - por 
meio da vivência de valores diferentes dos do-
minantes -, imaginar e querer vivenciar uma 
sociedade diferenciada.
4- Portador de um duplo aspecto educativo 
– veículo e objeto de educação, consideran-
do-se, assim, não apenas suas possibilidades 
de descanso e divertimento, mas de desenvol-
vimento pessoal e social.E aqui não se está 
negando o descanso e o divertimento, mas 
simplesmente enfatizando a dimensão menos 
considerada do lazer, a de desenvolvimento 
que o seu vivenciar pode ensejar.
A citação apresentada, ao contrário do que pode 
parecer, pela sua densidade conceitual, descom-
plica uma série de questões ao estabelecer um ar-
cabouço, um esqueleto, uma estrutura básica para 
situarmos qualquer outra discussão que se deseja 
fazer em torno do lazer. 
Portanto, nela considero estarem presentes 
os principais elementos que caracterizam o la-
zer sob uma determinada visão de mundo, e que 
nos auxiliam na compreensão do nosso papel en-
quanto professores(as) de Educação Física den-
tro e fora da escola. 
Lembre-se que, como destaca o autor, não se tra-
ta de um conceito fechado sobre o lazer, mas é aber-
to e, portanto, dinâmico, na medida que deve pres-
supor um constante processo de diálogo, inerente à 
própria dialética. É o que ele denomina de conceito 
operacional, pois visa a intervenção, a operacionali-
zação de reflexões e ações em torno do lazer.
 17
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Os primeiros trabalhos sobre a questão do 
lazer produzidos no Brasil são marcados, 
na sua maioria, pela falta de “autenticida-
de”, principalmente se for levada em conta 
a legitimidade da ligação com a realidade 
social concreta. O que se verifica, em gran-
de número, é a simples “filiação” a esta ou 
aquela corrente de pensamento, tomando 
como critério a análise dos argumentos dos 
seus autores, pertencentes a sociedades al-
tamente desenvolvidas tecnologicamente, 
ou portadoras de sólida tradição cultural. A 
Universidade brasileira iniciou, significativa-
mente, suas investigações sobre o assunto 
somente a partir da década de 70. Entre os 
anos 80 e 90 cresceu, de forma considerável, 
o número de teses defendidas nesse campo, 
principalmente relacionadas à educação e à 
produção cultural.
Sugiro a todos aqueles que têm interesse em 
conectar-se a uma comunidade em torno do 
lazer e em conhecer os trabalhos atuais, que 
participem do ENAREL - Encontro Nacional de 
Recreação e Lazer que ocorre anualmente 
em diferentes regiões do país com o objetivo 
de difundir os estudos de atuação no lazer e 
recreação.
Fonte: adaptado de Marcellino (2000, p. 5). 
SAIBA MAIS
RECREAÇÃO E LAZER 
18 
A compreensão do lazer, a partir do conceito opera-
cional apresentado anteriormente, está atrelada ao 
entendimento do conceito de cultura em um sentido 
mais amplo. Portanto, a cultura deve ser entendida 
como um “conjunto de modos de fazer, ser, interagir 
e representar que, produzidos socialmente, envolvem 
simbolização e, por sua vez, definem o modo pelo qual 
a vida social se desenvolve” (MACEDO, 1982, 1984, p. 
35). Além da estreita ligação com o trabalho, o lazer 
possui, portanto, uma relação determinante com as 
outras esferas de obrigações humanas, pois todas elas 
são parte da mesma cultura.
Lazer, Cultura, 
Tempo e Atitude
Com relação ao aspecto temporal, há a neces-
sidade de situar-se no aqui e agora, e não em pro-
jeções futuras. Isso não significa que não devemos 
buscar uma perspectiva ideal de mundo e lutar para 
o triunfo deste ideal. Significa, sim, que a busca das 
explicações, reflexões e análises da sociedade são ba-
seadas em fatos materiais, concretos e não em supo-
sições e conjecturas sobrenaturais.
Esta historicidade, para a análise e entendimen-
to do lazer na sociedade contemporânea, deve levar 
em conta as relações advindas do trabalho no modo 
de produção capitalista. É necessário destacar este 
 19
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
A Revolução Industrial, como afirma Galbraith 
(1982), constituiu-se em um conjunto de transfor-
mações, que a partir da metade do século XVIII, 
passou a alterar, primeiramente, a vida da Europa 
ocidental e, de forma acelerada, espalhou-se por 
todo o mundo. Estas transformações estão ligadas 
principalmente à substituição do trabalho artesanal, 
que utilizava basicamente as mãos e ferramentas, 
pelo trabalho assalariado, com o predomínio do uso 
de máquinas.
aspecto, pois uma discussão que não situe o lazer 
historicamente pode caminhar para rumos diver-
gentes de análise da temática. É necessário, ainda, 
destacar que não há uma oposição entre o lazer e o 
trabalho, mas uma dependência. 
O desaparecimento de um significaria a ex-
tinção do outro, pois é justamente a dinâmica do 
trabalho nas sociedades capitalistas que permite a 
compreensão do lazer da forma como o conceito 
operacional o descreve.
Analisar o lazer num modo de produção escra-
vista ou feudal possibilitaria entendimentos diferen-
tes do que seria o lazer hodierno, visto que as re-
lações estabelecidas entre os seres humanos seriam 
outras, bem como as relações com o tempo, o que, 
consequentemente, determinariam outras atitudes 
diante desta estrutura temporal.
Até o século XVII, a vida humana, com exceção 
de uma restrita elite de privilegiados, tinha suas ra-
zões primárias em elementos básicos da vida econô-
mica. A alimentação, vestimenta e moradia eram o 
que havia de mais essencial à vida humana. Galbrai-
th (1982, p. 2) descreve a provisão destas necessida-
des da seguinte forma:
[...] e tudo provinha da terra. O alimento, 
é claro. E da mesma forma, as peles de ani-
mais, a lã e as fibras vegetais. E as casas, na-
quela época, vinham da floresta próxima, da 
pedreira ou da olaria. Até o advento da Re-
volução Industrial, e em muitos países muito 
tempo depois dela, toda a economia era uma 
economia agrícola.
Desta forma, podemos perceber dois estágios distin-
tos para análise, mas que ocorrem de forma contí-
nua, ou que, segundo Marcellino (2003, p. 20-21), 
são contemporâneos e representativos de dois estilos 
de vida diferentes.
RECREAÇÃO E LAZER 
20 
1º) [...] sociedade tradicional, marcadamente 
rural, e mesmo nos setores urbanos pré-in-
dustriais, não havia separação entre as vá-
rias esferas da vida do homem. [...] O binô-
mio trabalho/lazer não era caracterizado e as 
ações se desenrolavam como na representa-
ção de uma peça teatral, com os “atores” atu-
ando de forma integrada e linear, dominando 
toda a história de seus personagens; 2º) Na 
sociedade moderna, marcadamente urbana, a 
industrialização acentuou a divisão social do 
trabalho, que se torna cada vez mais especia-
lizado e fragmentado, obedecendo ao ritmo 
da máquina e a um tempo mecânico, afastan-
do os indivíduos da convivência nos grupos 
primários e despersonalizando as relações. 
[...] Caracteriza-se o binômio trabalho/lazer 
e as ações se desenvolvem como na gravação 
de um filme, onde os “atores” participam de 
cenas estanques, sem conhecer a história de 
seus personagens, cenas essas frequentemente 
interrompidas para serem retomadas em se-
quências totalmente diferenciadas.
Marcellino (2003) afirma, ainda, que a industria-
lização é o divisor de águas entre os dois estágios 
(sociedade tradicional e moderna). Este proces-
so de mudança gera modificações significativas 
no comportamento das pessoas, bem como no 
meio-ambiente.
Esta quebra espaço-temporal, advinda de um 
novo modo de produção, gerou novas atitudes por 
parte dos trabalhadores, pois as relações com as 
várias obrigações sociais também foram trans-
formadas. Destaco que houve uma ruptura, por 
exemplo, do tempo/espaço de trabalho. Até então 
o locus de trabalho estava intimamente ligado à 
festa, ao lúdico, ao prazer. Ao passar por esta ci-
são, a alegria e o lúdico, que estavam presentes na 
mesma esfera, passam a existir como possibilida-
des em espaços/tempos diferentes. 
Cria-se uma pequena janela temporal em que 
poderiam ser realizadas atividades virtuosas, dife-
rentes das pesadas e alienantes cargas do trabalho 
industrial. É “a partir do momento que marca o iní-
cio da transição do estágio tradicional para o mo-
derno que se verifica a ruptura entre a vida como um 
todo e o lazer, fazendo com que este adquira signifi-
cação própria” (MARCELLINO, 2003, p. 20).
Ainda, acerca da gênese do lazer em sua concre-
tude histórica, oautor afirma que:
[...] a gestação do fenômeno lazer, como esfe-
ra própria e concreta, dá-se, paradoxalmente, a 
partir da Revolução Industrial, com os avanços 
tecnológicos que acentuam a divisão do traba-
lho e a alienação do homem do seu processo e 
do seu produto. O lazer é resultado dessa nova 
situação histórica – o progresso tecnológico, que 
permitiu maior produtividade com menos tem-
po de trabalho. Nesse aspecto, surge como res-
posta às reivindicações sociais pela distribuição 
do tempo liberado de trabalho, ainda que, num 
primeiro momento, essa partilha fosse encarada 
apenas como descanso, ou seja, recuperação da 
força de trabalho (MARCELLINO, 2003, p. 14).
 21
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Para Marcellino (2003, p. 11), a deterioração da 
qualidade e do significado da vida, a problemática 
das relações sociais, movidas pela lógica da produ-
tividade e acumulando os indivíduos em “fábricas, 
bancos, grandes edifícios de escritórios e ruas, onde 
a funcionalidade imediata constitui a maior preocu-
pação” gera o afastamento de si próprio, do outro 
e da natureza, ocasionando, por exemplo, as várias 
formas de violência urbana.
Neste sentido, há a atribuição de uma grande 
importância ao que é produtivo (gerador de bens 
de consumo ou mercadorias). Deixam-se oculto os 
resultados que este tipo de produtividade acarreta 
para a expressividade humana. As pessoas, neste 
contexto, são apenas engrenagens na lógica produ-
ção/consumo. A lógica deste processo está baseada 
em valores imediatistas e utilitaristas. Trabalha-se 
para consumir e consome-se para trabalhar, e, as-
sim, sustenta-se o mercado de produção.
Na perspectiva de um lazer que seja instrumento 
de dominação, reduzindo ou extinguindo o confli-
to social - visto como reforço e não como reação à 
alienação do homem contemporâneo, e mais ainda 
como uma fonte de grandes rendas por meio da in-
dústria do lazer, de forma a alimentar o mercado - 
podemos notar os altos graus de imposição advindos 
de uma urgente necessidade do sistema econômico, 
ou seja, seus membros além de produtores, têm que 
se tornar também os consumidores.
Outras características que devem ser conside-
radas no processo gestacional do lazer é a redução 
do aspecto tempo de trabalho, nascido das reivin-
dicações sociais, e a progressiva redução do tempo 
dedicado a outras obrigações, tais como familiares, 
sociais, religiosas e políticas. Além do aspecto tem-
po, houve uma progressiva redução da dominação 
destas instituições sociais no que diz respeito à ati-
tude, não que tenham se extinguido.
O lazer da sociedade industrial e pós-industrial 
não é, portanto, o mesmo lazer dos gregos da 
antiguidade, mas um lazer gerado dialeticamente 
no modo de produção capitalista e dele dependente. 
Ao mesmo tempo que este lazer foi gerado por uma 
certa dinâmica do modo de produção capitalista, 
ele é o locus privilegiado para geração de valores 
questionadores dessa própria sociedade.
O trabalho industrial privou a possibilidade de en-
tretenimento, da presença do lúdico no ambiente de 
trabalho, como era possível, por vezes, no trabalho 
rural, no qual as necessidades e anseios poderiam 
ser supridos até mesmo em meio à lida diária, numa 
dinâmica social mais humana. Camargo (1986, p. 
144) faz a seguinte observação sobre esta transição:
RECREAÇÃO E LAZER 
22 
[...] nas danças tradicionais, em quase todas 
as culturas, os gestos do trabalho na terra, na 
madeira, com os companheiros, são incorpo-
rados e estilizados, demonstrando a ligação 
efetiva e lúdica. Isso é impossível na linha de 
montagem, onde a menor distração de um ele-
mento prejudica a produtividade dos demais. 
A própria organização do espaço de trabalho 
inibe qualquer tentação de diversão e entrete-
nimento. Enfim, as longas jornadas de traba-
lho no início da industrialização, apenas dei-
xavam tempo para o sono.
O processo de industrialização representou, efeti-
vamente, uma quebra temporal que, com as novas 
atitudes e necessidades, criaram um novo padrão de 
vida. A exploração, via longas jornadas de trabalho, 
impelia ao trabalhador, num primeiro momento, a 
mera necessidade de descanso, no tempo liberado 
do trabalho. Entretanto, neste tempo não era pos-
sível vivenciar qualquer outra possibilidade além da 
recuperação para a próxima jornada.
A busca por um modo de vida melhor, com o 
advento da Revolução Industrial, exigia uma dedica-
ção exclusiva à vida nas fábricas. Este tipo de traba-
lho preservou apenas a característica de longas jor-
nadas nos períodos de safras, inerentes ao trabalho 
rural, no qual a grande maioria dos trabalhadores 
estavam inseridos. Entretanto, uma característica 
que era fundamental para um trabalho mais huma-
no havia sido perdida:
[...] o contato com a natureza, com os animais, 
com a família. Ainda hoje, a linha de montagem, 
implacável, não obedece a um ritmo natural de 
trabalho e repouso. O relógio de ponto marca o 
início dos turnos. Os gestos exigidos são artifi-
ciais, repetitivos. A única pausa, para a refeição, 
não respeita os limites de cada um; é coletiva 
e determinada pelas necessidades da produção. 
Mais: rompe-se a relação entre tempo de traba-
lho e produto do trabalho. O trabalho passou a 
ser fragmentado, de difícil compreensão, dada 
a sua complexidade tecnológica. [...] a um tem-
po natural, humano, uno, integral, do campo, a 
indústria opôs um tempo artificial, alienado da 
produção, que não se integra nem à dinâmica 
familiar [...] (CAMARGO, 1986, p. 144).
Uma reivindicação dos trabalhadores, em virtude 
do nascimento de um tempo artificial que determi-
nou a realização de atividades lúdicas compartimen-
talizadas e imprimiu nestas uma característica do 
próprio trabalho alienado (veja mais sobre isso na 
Leitura Complementar), foi a tentativa da redução 
da jornada de trabalho. 
Esta reivindicação nasceu devido a ausência de 
um tempo de lazer na lógica de racionalização do 
tempo instituída pelo capitalismo. Nos primórdios 
da industrialização “trabalhava-se cinco mil horas 
por ano, o que significava jornada diária de dezes-
seis horas, de segunda a domingo, quase todos os 
dias do ano” (CAMARGO, 1986, p. 145).
 23
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
De acordo com Camargo (1986), aos dez anos 
de idade se dava início a vida útil de um ser humano 
para o trabalho, tendo fim apenas com a morte do 
trabalhador. Neste sentido, o capitalismo emergente 
preservava os traços do feudalismo ao sustentar o 
ócio aristocrata por meio de uma dinâmica de traba-
lho caracteristicamente escravo, características que 
ainda são preservadas, de forma desenvolvida nos 
tempos modernos.
RECREAÇÃO E LAZER 
24 
O filósofo, com estudos em sociologia, Thorstein 
Veblen, num texto escrito em 1899, realizou uma 
análise econômica da sociedade sob uma perspecti-
va sociológica. Seu objetivo principal foi o de provar 
que a classe ociosa surge pela emulação pecuniária, 
ou seja, pela competição ou a demonstração de força 
por meio do dinheiro. Apesar de não fazer uso espe-
cificamente do termo lazer, Veblen (1965) aborda al-
guns conceitos que contribuem para a compreensão 
do lazer na sociedade capitalista.
Dentre os vários conceitos que esta obra traz 
como contribuição à teoria do lazer, destaco a sua 
consideração de que ao longo da história, o ser hu-
mano procurou demonstrar o seu poder por meio 
de alguns meios. Dentre eles a força física (proeza); 
a pecúnia (dinheiro); o ócio e consumo conspícuo 
(ostentatório); e o ócio e consumo vicário. 
O ócio e consumo conspícuo seriam uma de-
monstração notável do poder por meio da própria 
possibilidade que o indivíduo possui de desfrutar do 
tempo disponível e das possibilidades de aquisição 
por intermédio do poder financeiro. Já o ócio e con-
sumo vicário seriam uma demonstração notável das 
possibilidades do ócio e do consumo baseado em 
uma capacidade, ou poder alheio.
A Classe Ociosa, a Emulação Pecuniária e 
Barreiras ao Lazer
 25
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Neste sentido, a sustentação da vivênciae consu-
mo no lazer estaria relacionada à capacidade que de-
terminado indivíduo ou grupo social possui de man-
ter uma massa de trabalhadores ao seu dispor para 
realizar um trabalho que lhe sustente e que, conse-
quentemente, seja favorável ao ócio e ao consumo. A 
tese de Veblen (1965, p. 14) consiste em afirmar que:
[...] pessoas acima da linha da mera subsistên-
cia nesta época, e em todas as épocas anterio-
res, não aproveitam o excesso que a sociedade 
lhes deu visando primordialmente a propósitos 
úteis. Não buscam elas expandir suas próprias 
vidas, viver com mais sabedoria, mais inteli-
gência e mais compreensão, mas buscam im-
pressionar as outras pessoas pelo fato de serem 
possuidoras desse excesso.
Os processos e maneiras para gerar estas impres-
sões são denominados por este autor de “consumo 
conspícuo”. A característica básica desta dinâmica é 
o dispêndio de dinheiro, tempo e esforço, quase de 
todo inutilmente, na busca de expandir o ego.
Um clássico exemplo dessa dinâmica de con-
sumo conspícuo na sociedade industrial foi o au-
tomóvel. A escolha de um carro deixou de lado as 
questões exclusivamente funcionais, pois passou a 
ter fundamentos na manutenção ou aumento do 
prestígio diante da comunidade.
De acordo com a obra A teoria da classe ocio-
sa, de Veblen (1965), as pessoas superiores, ge-
ralmente com o maior poder financeiro, domi-
nam seus inferiores em pecúnia mediante gastos 
supérfluos. Já as menos favorecidas buscam, de 
todas as formas, alcançar o nível social dos pri-
meiros, esgotando todas as suas energias e posses. 
A descrição da classe ociosa é feita da seguinte 
forma, pelo autor:
[...] compreende as classes nobres e as clas-
ses sacerdotais e grande parte de seus agre-
gados. [...] Estas ocupações não-industriais 
das classes altas são em linhas gerais de 
quatro espécies – ocupações governamen-
tais, guerreiras, religiosas e esportivas. [...] 
Estas quatro formas de atividade dominam 
o esquema de vida das classes altas - reis ou 
chefes –, estas são as únicas formas de ativi-
dades permitidas pelo costume ou pelo bom 
senso da comunidade. Na verdade, quando o 
esquema é definido já nitidamente, até mes-
mo os esportes não se consideram atividade 
legítima para os membros da classe mais alta 
(VEBLEN, 1965, p. 20-21).
Outro aspecto importante destacado por Veblen 
(1965) é que as características das atividades ou fun-
ções industriais se desenvolveram de tarefas que, 
primitivamente, nas sociedades bárbaras, cabiam às 
mulheres. Este fato revela a valorização social, tendo 
como parâmetro principal o conceito laboral atrela-
do ao gênero masculino, pois até mesmo em socie-
dades industrializadas, as atividades antes relegadas 
ao gênero feminino passam a ser desempenhadas 
pelos trabalhadores de ambos os gêneros, que sus-
tentam a possibilidade de ócio de uma classe supos-
tamente mais elevada.
RECREAÇÃO E LAZER 
26 
Para Veblen (1965, p. 37), a diferença primária da 
distinção entre classe ociosa e classe trabalhadora 
é “[...] o trabalho feminino e o trabalho masculino, 
existente nos primeiros estágios do barbarismo”. 
Destaco, por meio deste raciocínio, uma das facetas 
ligadas às barreiras para o lazer. 
Na sociedade contemporânea ainda podemos per-
ceber uma dificuldade maior por parte das mulheres 
para usufruírem do lazer, fator gerado principalmen-
te pela dupla jornada de trabalho. Elas, além de ter de 
exercer determinada profissão, têm, em sua grande 
maioria, de realizar as tarefas, ainda, caracterizadas na 
sociedade contemporânea como sendo apenas para 
mulheres: as tarefas domésticas. Portanto, acentua-se, 
ainda, as diferenças históricas com relação aos gêneros.
Há, além destas explicações, outras dinâmicas 
envolvidas que podem dar sustentação ao entendi-
mento destas barreiras que limitam o acesso às ativi-
dades de lazer de maneira tanto quantitativa quanto 
qualitativamente. O fator econômico é considerado, 
hodiernamente, o mais determinante para o acesso 
ao lazer. As pesquisas realizadas sobre este tema, ape-
sar de muito restritas, demonstram, de acordo com 
Marcellino (2000), que o acesso à recreação - ativi-
dades relacionadas aos conteúdos culturais do lazer 
- é realizado preponderantemente por jovens, com 
instrução e condições acima da média da população.
O fator econômico é determinante desde a dis-
tribuição do tempo disponível entre as classes 
sociais, até as oportunidades de acesso à Escola, 
e contribui para uma apropriação desigual do 
lazer. São as barreiras interclasses sociais (Mar-
cellino, 2000, p. 23).
Com relação ao surgimento desta classe ociosa, Ve-
blen (1965) afirma que os valores e costumes cultu-
rais das sociedades/comunidades, em baixo estágio 
de desenvolvimento, apontam para um desenvol-
vimento gradativo da classe ociosa, no período de 
transição da selvageria primitiva para o barbarismo. 
A característica desta transição seria uma mudança 
da passividade nas relações sociais passando a uma 
relação de lutas, de guerra.
Você já parou para analisar a quantidade de 
bens e serviços que consumimos que são “ne-
cessidades desnecessárias”? Qual o impacto 
disso nas relações humanas?
REFLITA
Estas barreiras seriam os entraves que inibiriam de-
terminada parte da população para a vivência do 
lazer. Dentre estas barreiras estão presentes as de ca-
ráter econômico, de faixa etária, de instrução, aque-
las de acesso aos espaços e equipamentos, e ainda as 
relacionadas à violência e à questão do gênero. Com 
relação aos espaços e equipamentos de lazer, vale 
destacar o seu aspecto de sacralização e, ainda, as 
dificuldades para utilização por parte dos deficientes 
físicos, por exemplo.
 27
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
O surgimento da classe ociosa seria, deste modo, 
uma conjunção temporal ao início da propriedade 
privada. Esta interposição presente no processo de 
desenvolvimento cultural seria necessária em virtu-
de das duas instituições terem origem por meio do 
mesmo conjunto de forças econômicas. 
“Onde quer que se encontre a instituição da 
propriedade privada, mesmo sob forma muito 
embrionária, o processo econômico tem o cará-
ter de uma luta entre os homens pela posse de 
bens” (VEBLEN, 1965, p. 38)
Ao contrário da economia clássica que considera 
apenas a luta pela subsistência.
[...] somente os indivíduos de temperamento ex-
cepcional conseguem, diante da desaprovação da 
comunidade conservar em última análise a pró-
pria estima. Aparentemente, existem exceções a 
esta regra, especialmente entre pessoas de fortes 
convicções religiosas; mas estas exceções aparen-
tes não se podem considerar como exceções re-
ais, porque tais pessoas se apoiam usualmente na 
aprovação presumível de alguma testemunha so-
brenatural de suas ações (VEBLEN, 1965, p. 43).
Portanto, é uma construção sociocultural de fundo 
econômico que possibilitou o surgimento de uma 
classe ociosa imprimindo uma outra dinâmica à vida 
social. Veblen (1965) demonstra um certo pessimis-
mo ao afirmar que a forma como a sociedade se de-
senvolveu e onde ela chegou não suprem as necessida-
des individuais, pois a base destas necessidades estão 
no desejo, que por sua vez, está contaminado com a 
necessidade de se impor e sobressair sobre outrem. 
Portanto, as explicações da economia clássica para 
a busca por satisfação de subsistência ou de conforto 
físico são insuficientes para explicar a justificativa de 
políticas voltadas ao progresso. A busca pela honra 
e pelo reconhecimento torna-se uma luta constante. 
Neste processo, a comparação geraria um mal enorme 
à humanidade e, neste contexto, seria praticamente 
impossível atingir uma realização definitiva e plena. 
Portanto, a reflexão sobre uma classe privilegia-
da com o ócio ou atividades de lazer revela que ape-
sar de um fundo econômico por detrás das ações, 
esta não se justifica por si só, mas pela possibilidade 
que tais recursos têm de obter e conservar a consi-
deração de outros membros da comunidade. A ri-
queza possuída deve ser patenteada, sendo expostaaos olhos alheios, pois sem uma demonstração aos 
outros, não seria possível a atribuição de valor, con-
sideração e, consequentemente, de uma possível ele-
vação do status social de quem a possui.
Uma questão que poderia surgir é quanto ao motivo 
pelo qual os membros de uma determinada socie-
dade sucumbem à pressão de ostentar determinadas 
proezas, posses e o ócio, com as possibilidades a eles 
relacionadas. Destaco, dentre outros argumentos 
utilizados pelo autor, o de caráter psicossocial, com 
relação à emulação:
RECREAÇÃO E LAZER 
28 
Na obra O direito à preguiça, publicada original-
mente em forma de panfleto revolucionário em 
1880, Paul Lafargue demonstra inquietação pelo 
fato de os trabalhadores perceberem que sustentam 
o ócio de uma classe privilegiada que os explora, 
mas que ao lutar pelos seus direitos ao trabalho, 
sem se darem conta, estão perdendo direitos ao 
tempo disponível. Lutam tanto pelo trabalho, que 
se esqueceram da importância de usufruírem das 
O DIREITO AO TRABALHO E O 
DIREITO À PREGUIÇA
benesses do lazer, com as possibilidades de desfru-
tar das virtudes daquilo que Lafargue, intencional-
mente, denomina preguiça, como forma de criticar 
um dos setes pecados capitais.
Lafargue deixa claro que os trabalhadores de 
sua época não tinham possibilidades de acesso aos 
mesmos direitos e privilégios da “preguiça” de seus 
patrões, mas que deveriam se atentar para tal explo-
ração, desigualdade e injustiça.
 29
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Para Matos (2003, p. 8), Lafargue manifesta seu pio-
neirismo, principalmente, ao tratar do processo de 
libertação do operariado (proletário) não apenas 
num processo de luta pela extinção do capital e de 
seus detentores, mas em “permitir ao operário li-
vrar-se de sua alma, que é o princípio redobrado de 
sua própria sujeição”.
A obra principal de Paul Lafargue consiste em 
uma apresentação paradoxal e polêmica da aliena-
ção no modo de produção capitalista. Publicada no 
Jornal Socialista L’Égalité, em uma sequência de ar-
tigos, de 16 de junho a 4 de agosto de 1880, foi edi-
tada em conjunto em 1881, revista e concluída no 
cárcere de Sainte-Pélagie em 1883. Segundo Chaui 
(1999, p. 16), “O Direito à Preguiça teve sucesso 
sem precedentes, comparável apenas ao Manifesto 
Comunista, tendo sido traduzido para o russo antes 
mesmo deste último”.
O direito à Preguiça, para Matos (2003, p. 7), 
pode ser classificado como um manifesto filosófico 
por seu tom interpelativo e mobilizador, pois:
[...] antecipando Walter Benjamin, procede 
à genealogia da religião capitalista, sua ética 
protestante que exige abnegação ao trabalho, 
prometendo ascese mundana na produção de 
mercadorias. ‘Uma estranha loucura’, escreve 
Lafargue, ‘dominou as classes operárias das na-
ções onde reina a civilização capitalista’. Essa 
loucura traz como consequência misérias in-
dividuais e sociais que há séculos torturam a 
triste humanidade.
A crítica à sociedade moderna é o elemento pre-
cursor da obra de Lafargue. A tirania do mercado 
e do trabalho alienado são confrontados pelo autor 
a partir das necessidades de uma vida que encon-
tre sentido em valores de autonomia e liberdade. A 
busca da transformação do cotidiano é evidente em 
sua linguagem retórica, objetivando atingir o âmago 
das emoções do leitor, com uma variedade de senti-
mentos, advindos de suas descrições da sociedade. 
Como afirma Chaui (1999, p. 31), Lafargue:
[...] não apenas sabe que a oralidade é essencial 
num panfleto revolucionário, mas sabe também 
que poderá obter um efeito de grandes propor-
ções se constituí-lo de maneira retórica, operan-
do em seu campo com muitas gamas e tonalida-
des de emoções, a fim de comover e persuadir.
Essa preocupação com a retórica textual é expressa 
de imediato com a escolha do título da série de pan-
fletos. O título original do panfleto foi: O Direito à 
Preguiça. Refutação da Religião de 1848. A escolha 
do termo “preguiça”, segundo Chaui (1999), não foi 
acidental. Ao contrário, teve uma intenção clara de 
RECREAÇÃO E LAZER 
30 
reportar-se incisivamente às questões religiosas. Tal 
escolha “[...] não é uma irreverência ‘materialista’ de 
um ateu empedernido e sim a crítica materialista do 
trabalho assalariado ou do trabalho alienado, pois 
este é o objeto de O Direito à Preguiça” (CHAUI, 
1999, p. 30). Lafargue, inteligentemente, constrói 
sua retórica em forma de incisiva paródia aos ser-
mões religiosos, seguindo suas regras.
Ao escolher e propor como um direito um pe-
cado capital, o autor visa diretamente ao que 
denomina “religião do trabalho”, o credo da 
burguesia (não só francesa) para dominar as 
mãos, os corações e as mentes do proletariado, 
em nome da nova figura assumida por Deus, 
o Progresso. Esta escolha é duplamente con-
sistente. Em primeiro lugar, é consistente com 
as obras de Lafargue nesse período, quando 
se ocupa com a origem das religiões, da cren-
ça num deus pessoal transcendente, na alma e 
sua imortalidade, na vida futura de salvação ou 
danação. Por que a burguesia crê em Deus e na 
imortalidade da alma?, indaga ele em vários es-
critos. Por que dessa crença ela chega às ideias 
de justiça, caridade e bem? Porque, responde 
ele, a burguesia tolerou e patrocinou o desen-
volvimento das ciências da natureza (pois isso 
era necessário para o capital), mas não tolera 
e sim reprime toda tentativa de conhecimen-
to científico da realidade social (pois sabe que 
tal conhecimento a desmascara e enfraquece) 
(CHAUI, 1999, p. 24).
 A ideia de Progresso como um deus é desenvolvida 
em A religião do Capital, também de autoria de La-
fargue, sempre de forma irreverente e contundente. 
A obra deixa evidente uma busca de rompimento 
com a realidade calcada na exploração da e na acei-
tação desta dominação por parte dos trabalhadores, 
que buscam cada vez mais trabalhar e servir à reali-
dade criada pelo capital. 
Neste sentido, Matos (2003, p. 13) afirma que 
Lafargue foi um dos pioneiros a “romper com o 
caráter sadomasoquista da civilização contem-
porânea”. A autora afirma ainda que O direito à 
preguiça é uma descrição antecipada das realida-
des vividas na contemporaneidade, pois faz uma 
incisiva crítica à lógica de mercado, da indústria, 
ciência e técnica, afirmando que sua ética é an-
ti-humana e que, portanto, sua moral precisa ser 
negada e substituída por outra na qual o ser hu-
mano esteja efetivamente no controle.
Segundo Chaui (1999, p. 33), as obras de 
maior influência para Lafargue foram: Manuscri-
tos Econômicos de 1844 e o primeiro volume de O 
Capital, ambos de seu sogro Karl Marx. O pressu-
posto principal de O direito à preguiça, segundo a 
autora, é o “significado do trabalho no modo de 
produção capitalista, isto é, a divisão social do tra-
balho e a luta de classes”.
Neste sentido, De Masi (2001, p. 29) afir-
ma que Lafargue não estabelece uma apologia à 
preguiça que vai contra o trabalho, defendendo 
“o direito ao ócio como única forma de equi-
líbrio existencial [...]”. A forma utilizada pelo 
autor é a contraposição a “[...] outros direitos, 
então defendidos para os operários: o direito 
ao trabalho, reivindicado pelos revolucionários 
de 1848 [...]”. Este é um dos pontos de severas 
 31
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
críticas à obra de Domenico De Masi: a utiliza-
ção e/ou tradução indevida de termos que ori-
ginalmente expressavam uma clara intenciona-
lidade do autor. Neste sentido, ao referir-se ao 
“Direito ao ócio”, entendo que deva permanecer 
a terminologia original do autor, “Direito à pre-
guiça”, pela sua clara intencionalidade.
Platão e Aristóteles, esses pensadores gigantes 
[...], queriam que os cidadãos de suas Repúbli-
cas ideais vivessem na maior ociosidade, pois, 
acrescentava Xenofonte, ‘o trabalho tira todo 
o tempo e com ele não há nenhum tempo livre 
para a República e para os amigos’. Segundo 
Plutarco, o grande título de Licurgo, ‘o mais 
sábio dos homens, para admiração da poste-
ridade, era ter concedido a ociosidade aos ci-
dadãos da República, proibindo-osde exercer 
qualquer trabalho’.
Obviamente, a ociosidade destes cidadãos da Repú-
blica era sustentada pelo trabalho escravo de uma 
outra classe. Por isso, a historicidade é fator sempre 
presente nos textos de Lafargue, que se preocupa em 
salientar aquilo que considera como determinante 
no desenvolvimento da sociedade: a economia ca-
pitalista. Esta economia, ao imprimir o ritmo frené-
tico da produção industrial, reduzia os operários a 
praticamente nada. De Masi (2001, p. 30) apresenta 
um quadro com basicamente três tipos de indivídu-
os que compunham a sociedade na qual Lafargue 
elaborava seu texto:
[...] de um lado a classe dos operários, cada vez 
mais imprensados pelos ritmos da produção 
industrial, dilacerados na própria carne e com 
os nervos arrebentados, obrigados ao ‘papel de 
máquina fornecedora de trabalho sem trégua 
nem remissão’, intelectualmente degradados e 
fisicamente deformados pelo esforço e absti-
nência a eles impostos. De outro lado estava a 
classe dos capitalistas ‘condenados ao ócio e ao 
prazer forçado, à improdutividade e ao super-
consumo’. No meio havia a estupidez astuta dos 
mexeriqueiros encarregados do desperdício 
vistoso dos ricos.
A crítica a este mundo dominado por injustiças so-
ciais é descrita por Lafargue, por meio de um humor 
contundente. Ao descrever o capitalismo como uma 
nova forma de religião, apresenta operários embru-
tecidos pelos dogmas do trabalho, os quais produ-
zem sua própria destruição. Reivindica uma nova 
redistribuição do tempo para que se possa desfrutar 
de outras virtudes que a vida oferece, pois, devido 
a uma dinâmica de trabalho exploradora e desme-
dida, os trabalhadores são privados desse usufruto.
A inspiração para esta recuperação das virtudes 
da preguiça é encontrada por Lafargue, segundo 
Matos (2003, p. 12), “nas tradições grega e romana - 
a skolé e o ótium”.
RECREAÇÃO E LAZER 
32 
Este quadro delineia parte do quadro que levava 
Lafargue a utilizar um tom de indignação em seu 
discurso, pois não aceitava que a preguiça dos ricos 
fosse garantida pelo trabalho desmedido dos po-
bres, num regime de trabalho, em média, de quinze 
horas por dia, de forma insalubre. Chaui (1999, p. 
16) afirma que O Direito à Preguiça é um retrato da 
organização social burguesa, que almejava atingir a 
consciência mais profunda do proletariado enquan-
to classe social. Portanto, “é a crítica da ideologia do 
trabalho, isto é, a exposição das causas e da forma 
do trabalho na economia, ou o trabalho assalariado”.
Quando você ouve a palavra preguiça, ela lhe 
soa mais positivamente ou negativamente? 
Não é interessante que Paul Lafargue tenha 
optado pelo uso de um termo tão controverso 
para defender o lazer para classe proletária?
REFLITA
A obra O Direito à Preguiça é, portanto, uma ten-
tativa de recuperar uma esfera da dinâmica hu-
mana que havia sido perdida pelos trabalhadores 
contemporâneos a Paul Lafargue. A busca por mais 
dignidade no trabalho havia posto de lado uma 
outra esfera da vida humana que, para o autor, era 
tão importante quanto o próprio trabalho, sob uma 
perspectiva diferente da que os trabalhadores vi-
nham experimentando.
Neste sentido, esta obra é de grande relevância 
para a compreensão do lazer como um direito so-
cial, inclusive garantido pelo Artigo 6º da Constitui-
ção brasileira de 1988. Toda tentativa de usurpar os 
direitos dos trabalhadores a uma melhor qualidade 
de vida, com dignidade e justiça ganha resistência na 
compreensão histórica de luta pelo direito à pregui-
ça, ou direito ao ócio, ou de forma mais ampla, como 
considero neste texto, direito ao lazer.
 33
considerações finais
C
aro(a) aluno(a), procurei, nas primeiras reflexões deste estudo, abor-
dar alguns conceitos que considero necessários para a compreensão do 
lazer e da recreação, situando-os historicamente. Entendo que existam 
outros aspectos relativos ao lazer que não foram discutidos, no entanto, 
justifica-se pelo próprio objetivo do estudo que exige o entendimento do lazer 
sob uma ótica específica.
O conceito operacional de lazer adotado em nossas discussões ajuda-nos a 
situar os debates em torno do tema. Há outros conceitos de lazer, e a opção por 
um deles, obviamente, demonstra uma certa visão de mundo e um projeto de 
sociedade da qual o lazer faz parte e tem grande relevância.
A existência de uma classe ociosa e os embates em torno das jornadas de tra-
balho sempre estarão presentes em sociedades que têm como base a exploração 
do trabalho alheio. Neste sentido, a atuação dos diferentes profissionais no lazer 
requer um entendimento do seu papel ou como legitimador, distrator, crítico, ou 
transformador de uma determinada realidade da qual o lazer faz parte, mas que é 
entendido, apenas, como uma parte da cultura mais ampla da sociedade.
As lutas históricas para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador, da 
qual O Direito à Preguiça faz parte, devem sempre ser compreendidas à luz da 
forma como a sociedade está estruturada. Certamente haverá grupos que vão 
desejar manter seu status quo, porque isto lhes convém. Como educadores, mais 
especificamente como professores, devemos entender nosso papel neste processo 
de conscientização, que, apesar de estar nas mais diferentes áreas da vida, estão 
galgadas na mesma infraestrutura concebida historicamente.
Portanto, nestas reflexões iniciais, deve ficar claro o potencial transforma-
dor que o lazer possui. Para muitos, ele pode ser considerado uma área de me-
nor relevância. Contudo, não é isso o que percebemos quando nos aprofunda-
mos na teoria do lazer. O mesmo sangue que corre no mundo do trabalho é o 
que corre no lazer e, neste sentido, a mesma importância que se dá ao trabalho 
deve ser dada ao lazer.
34 
atividades de estudo
1. Em vez de definir o lazer, Marcellino (2001) apresenta um conceito ope-
racional de lazer e não especificamente de uma definição. Apresente os 
quatro elementos fundamentais deste conceito operacional de lazer.
2. No contexto industrial há uma redução significativa da possibilidade de 
divertimento durante o tempo de trabalho. O lúdico no ambiente de traba-
lho dá lugar à pressão da produção e ao paulatino processo de alienação e 
desumanização. Não mais o instrumento serve ao ser humano, mas o ser 
humano serve à máquina. Assim, de que forma Camargo (1986) descre-
ve a transição do trabalho rural para o trabalho industrial?
3. O filósofo Thorstein Veblen publicou em 1899 uma análise econômica da 
sociedade, sob uma perspectiva sociológica com vistas a demonstrar que 
a “classe ociosa” nasce pela emulação pecuniária. Ao longo da história, o 
ser humano procurou demonstrar o seu poder por meio de alguns meios, 
tais como a força física (proeza), a pecúnia (dinheiro), o ócio e consumo 
conspícuo (ostentatório), e o ócio e consumo vicário. Defina emulação 
pecuniária, ócio e consumo conspícuo, e ócio e consumo vicário.
4. Paul Lafargue escreveu em 1880 uma série de artigos que deu origem à 
sua obra O direito à Preguiça, que ganhou status de um manifesto filosó-
fico por seu caráter interpelativo e mobilizador. Qual a razão para Paul 
Lafargue escolher o termo “preguiça” para compor o título de sua 
principal obra? 
5. Por que o trabalho alienado é caracterizado como desumanizante?
 35
LEITURA
COMPLEMENTAR
O que é o trabalho alienado?
Para entendê-lo, é preciso, primeiro, lembrar que, para Marx e Lafargue, o trabalho, em 
si mesmo, é uma das dimensões da vida humana que revela nossa humanidade, pois é 
por ele que dominamos as forças da natureza e é por ele que satisfazemos nossas ne-
cessidades vitais básicas e é nele que exteriorizamos nossa capacidade inventiva e cria-
dora – o trabalho exterioriza numa obra a interioridade do criador. Ou, numa lingua-
gem vinda da filosofia de Hegel, o trabalho objetiva o subjetivo, o sujeito se reconhece 
como produtor do objeto. Para que o trabalho se torne alienado, isto é, para que oculte, 
em vez de revelar, a essência dos seres humanos e para queo trabalhador não se re-
conheça como produtor das obras, é preciso que a divisão social do trabalho, imposta 
historicamente pelo capitalismo, desconsidere as aptidões e capacidades dos indivídu-
os, suas necessidades fundamentais e suas aspirações criadoras e os force a trabalhar 
para os outros como se estivessem trabalhando para a sociedade e para si mesmos. 
Em outras palavras, sob os efeitos da divisão social do trabalho e da luta de classes, o 
trabalhador individual pertence a uma classe social - a classe dos trabalhadores -, que, 
para sobreviver se vê obrigada a trabalhar para uma outra classe social - a burguesia -, 
vendendo sua força de trabalho no mercado. Ao fazê-lo, o trabalhador aliena para um 
outro (o burguês) sua força de trabalho que, ao ser vendida e comprada, se torna uma 
mercadoria destinada a produzir mercadorias. Reduzido à condição de mercadoria que 
produz mercadorias, o trabalho não realiza nenhuma capacidade humana do próprio 
trabalhador, mas cumpre as exigências impostas pelo mercado capitalista.
[...] Em suma, não as percebe como objetivação de sua subjetividade humana, mas 
como algo que parece não depender de trabalho algum para existir - o produto apa-
rece como outro que o produtor. Além disso, as condições impostas pelo mercado de 
trabalho são tais que os trabalhadores vendem sua força de trabalho por um preço 
muito inferior ao trabalho que realizam e por isso se empobrecem à medida que vão 
produzindo riqueza .
Fonte: Chaui (1999, p. 33-35).
RECREAÇÃO E LAZER 
36 
Por meio deste documentário é possível compreender como e porque a Revolução Industrial 
foi na deflagrada na Inglaterra. A compreensão deste momento histórico é significativa para 
o entendimento de como o trabalho foi se estruturando no modo de produção capitalista e, 
consequente, gerando o que conhecemos hoje como lazer.
Documentário BBC - Revolução Industrial na Inglaterra
Para saber mais, acesse o site disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=RZL-
SYKmWrjw>. 
O direito à preguiça
Paul Lagargue
Editora: Hucitec/Unesp
Sinopse: o Direito à Preguiça (em francês, Le Droit à la Paresse) foi 
um panfleto revolucionário que trata das questões relativas ao tra-
balho na sociedade capitalista urbano-industrial e da luta por melhores condições de tra-
balho, principalmente no que tange às jornadas excessivas. Na época em que foi escrito, as 
jornadas de trabalho tinham em média 12 horas e poderiam exceder em muito este tempo. 
O dogma de que o trabalho dignifica o homem é criticado de forma severa por Lafargue. A 
santificação do trabalho e a demonização da preguiça (ócio) é algo destrutivo ao ser humano 
na opinião do autor. Com este panfleto, muitas conquistas trabalhistas são alcançadas ao 
redor do mundo. 
Comentário: para as discussões em torno do lazer esta é uma obra clássica e fundamental. 
Nelas estão expostas as bases que justificam a luta pelo lazer como um direito social. Qual-
quer ação política em torno do lazer requer o conhecimento desta obra como elementos 
revelador de um período histórico marcado por profunda exploração e desumanização do 
trabalho e, consequentemente, do lazer.
 37
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Tempos Modernos
Ano: 1936
Sinopse: Chaplin trabalha em uma fábrica e em virtude de um tipo 
de trabalho repetitivo, extenuante e praticamente escravo sucum-
be a um colapso nervoso. Em virtude deste quadro, é internado em 
um hospício. Ao retornar à “vida normal” encontra a fábrica fechada. Tem contato, então, 
com uma jovem que realiza furtos para sobreviver. Chaplin se envolve numa confusão em 
uma manifestação e é tomado como o líder comunista por ter levantado uma bandeira ver-
melha, dando a entender que ele estava liderando uma greve e acaba sendo preso. Após ser 
solto, consegue um emprego numa outra fábrica, mas logo os operários entram em greve 
novamente e ele se envolve novamente em confusão. É preso novamente, por acertar, sem 
querer, uma pedra na cabeça de um policial. A jovem que conhecera nas ruas consegue tra-
balho como dançarina num salão de música e consegue um emprego de garçom para Cha-
plin. Mas novamente as confusões voltam a acontecer. Então os dois seguem, numa estrada, 
rumo a mais aventuras emocionantes e divertidas para eles.
Comentário: este é filme é um marco ao retratar de forma cômica a alienação no mundo do 
trabalho. Para as discussões no campo do lazer e recreação é um ótimo retrato de como o 
trabalho na sociedade urbano-industrial se estruturou e suas implicações para o tempo livre.
38 
referências
CAMARGO, L. O. L. O que é lazer. São Paulo: Círculo do Livro, 1986.
CHAUI, M. S. Cultura de democracia: o discurso competente e outras falas. 7. 
ed. São Paulo: Cortez, 1997.
______. Introdução. In: LAFARGUE, P. O direito à preguiça. São Paulo: Hucitec/
Unesp, 1999.
DE MASI, D. (org.). A economia do ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.
DUMAZEDIER, J. Questionamento teórico do lazer: Porto Alegre: Centro de 
estudos do Lazer e Recreação/PUC-RGS, 1975.
FALEIROS, M.I.L. Repensando o lazer. In: Perspectivas, n. 3, p. 51-65, 1980.
GALBRAITH, J. K. A era das incertezas. São Paulo: Pioneira, 1982.
LAFARGUE, P. O direito à preguiça. São Paulo: Hucitec; Unesp, 1999.
MACEDO, C. C. Algumas observações sobre a cultura do povo. In: VALLE, E.; 
QUEIROZ, J. (Org.) A cultura do povo. 2. ed. São Paulo: EDUC. 1982.
MARCELLINO, N. C. Estudos do lazer: uma introdução. 2. ed. Campinas: Au-
tores Associados, 2000.
______. (org.) O lazer na empresa: alguns dos múltiplos olhares possíveis. In: 
______. Lazer & Empresa: múltiplos olhares. Campinas: Papirus, 2001. p. 3-22.
______. Lazer e educação. 9. ed. Campinas: Papirus, 2002.
______. Lazer e humanização. 7. ed. Campinas: Papirus, 2003.
MATOS, O. A dignidade da preguiça, a dignidade humana (prefácio). In: LA-
FARGUE, P. O direito à preguiça. São Paulo: Claridade, 2003.
VEBLEN, T. A teoria da classe ociosa: um estudo econômico das instituições. 
São Paulo: Pioneira, 1965.
 39
gabarito
1. 
• Cultura vivenciada (praticada, fruída ou conhecida) no tempo disponível das 
obrigações profissionais, escolares, familiares, sociais, combinando os aspectos 
tempo e atitude.
• O lazer gerado historicamente e dele podendo emergir, de modo dialético, valo-
res questionadores da sociedade de um modo geral, e sobre ele também sendo 
exercidas influências da estrutura social vigente.
• Tempo privilegiado para vivências de valores que contribuam para mudanças 
de ordem moral e cultural, necessárias para solapar a estrutura social vigente.
• Portador de um duplo aspecto educativo – veículo e objeto de educação, consi-
derando-se, assim, não apenas suas possibilidades de descanso e divertimento, 
mas de desenvolvimento pessoal e social.
2. Ele afirma que no ambiente rural era possível, apesar de toda dureza inerente ao 
trabalho, conciliar elementos lúdicos, como as danças tradicionais, com os gestos 
do trabalho na terra, na madeira, com os companheiros. Este eram incorporados e 
estilizados, demonstrando a ligação efetiva e lúdica. Na linha de montagem da Era 
Industrial isso não seria mais possível, pois a menor distração de um elemento pre-
judica a produtividade dos demais, além de ser um perigo para o indivíduo e seus 
companheiros de trabalho. A organização do espaço industrial dificulta a diversão 
e entretenimento, além do que, no início do processo de industrialização, com as 
longas jornadas de trabalho, só restava tempo para o descanso, e não para diverti-
mento e desenvolvimento pessoal e social.
3. Emulação pecuniária é a competição ou a demonstração de força por meio do di-
nheiro. O ócio e consumo conspícuo são demonstrações de poder por meio da frui-
ção do tempo disponível e das possibilidades de aquisição neste tempo por meio do 
poder financeiro. O ócio e consumo vicário são demonstrações de possibilidades do 
ócio e do consumo baseados em uma capacidade, ou poder alheio, ou seja, a vivên-
cia e consumo no lazer estaria relacionada à capacidade que determinado indivíduoou grupo social possui de manter uma massa de trabalhadores ao seu dispor para 
realizar um trabalho que lhe sustente e, consequentemente, este seja favorável ao 
ócio e ao consumo.
4. A escolha do termo preguiça reporta-se às questões religiosas. Lafargue constrói 
sua retórica em forma de incisiva paródia aos sermões religiosos, seguindo suas 
regras. Preguiça é um dos sete pecados capitais e o que ele objetivou foi um ataque 
ao “credo da burguesia”, ao que denomina “religião do trabalho”, cujo o deus seria o 
Progresso. Ao descrever o capitalismo como uma nova forma de religião, apresenta 
operários embrutecidos pelos dogmas do trabalho, os quais produzem sua própria 
destruição. Reivindica uma nova redistribuição do tempo para que se possa desfru-
tar de outras virtudes que a vida oferece e que, devido a uma dinâmica de trabalho 
exploradora e desmedida, priva os trabalhadores deste usufruto. A preguiça seria o 
que hoje denominamos de lazer, com suas possibilidades de descanso, divertimento 
e desenvolvimento.
5. No trabalho não alienado, o sujeito se reconhece como produtor do objeto. No traba-
lho alienado, a essência do ser humano é ocultada, e o trabalhador não se reconhe-
ce como produtor das obras. A divisão social do trabalho desconsidera as aptidões 
e capacidades dos indivíduos, suas necessidades fundamentais e suas aspirações 
criadoras. O trabalhador individual não é mais subjetivo, humano, pertencente a ele 
mesmo, mas a uma outra classe, a quem vende sua força de trabalho no mercado. 
Quando o trabalhador aliena para um outro (o burguês) sua força de trabalho, se 
torna uma mercadoria destinada a produzir mercadorias, portanto desumanizado, 
coisificado. 
Professor Me. Oldrey Patrick Bittencourt Gabriel
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Lazer, trabalho e obrigações
• Lazer, animação sociocultural e recreação
Objetivos de Aprendizagem
• Esclarecer as relações entre lazer, trabalho e as demais obrigações 
humanas na sociedade atual. 
• Compreender o surgimento do animador sociocultural no processo 
de desenvolvimento histórico do lazer e do trabalho.
LAZER, RECREAÇÃO, 
TRABALHO E OBRIGAÇÕES
II
unidade
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), 
Em nossa segunda unidade, buscaremos compreender um pouco mais sobre 
a relação do lazer como mundo do trabalho, bem como com as demais obriga-
ções sociais. Além disso, é necessária a compreensão de como se dá o surgimento 
do animador sociocultural neste processo de desenvolvimento do lazer até ca-
racterizar-se na sociedade contemporânea. O tema do profissional do lazer, ou 
animador sociocultural, como adotaremos em nossas discussões, será abordado 
especificamente em nossa última unidade, mas se faz necessária, neste momento 
a abordagem para fins de compreensão do desenvolvimento histórico do lazer. 
Não é possível lançar as bases para uma real compreensão do lazer sem que 
estabeleçamos uma relação com o mundo do trabalho. O mesmo sangue social 
que corre no trabalho corre no lazer. Qualquer alteração em um, certamente afe-
tará o outro. O que se deseja é que o profissional que atue em qualquer campo 
do lazer tenha uma base consistente para compreender e perceber o potencial 
transformador que possui o lazer. Tido por muitos como “coisa não séria”, o lazer 
tem, em si, brechas que podem questionar modelos sociais desumanizadores e 
fomentar ações de mudança. 
A compreensão do lazer deve ser feita também na relação com demais obri-
gações sociais. Assim como o trabalho tem relação direta com o lazer, há tam-
bém uma relação direta entre as obrigações religiosas, sociais, político-par-
tidárias e familiares na determinação do que acontece no tempo disponível, 
pois tais obrigações também são geradoras de valores. 
Esperamos que, com as reflexões propostas nesta unidade, você seja ins-
tigado a, ao menos, questionar a realidade na qual está inserido(a), anali-
sando e verificando se cada um dos argumentos apresentados são coeren-
tes diante das suas vivências pessoais. Caso você esteja vislumbrando uma 
atuação no campo do lazer, estas reflexões certamente propiciarão uma 
formação diferenciada como animador sociocultural. 
Bons estudos!
RECREAÇÃO E LAZER 
44 
Tratar do lazer é abordar necessariamente o tempo 
de trabalho e as obrigações religiosas, sociais, polí-
tico-partidárias e familiares, conforme Marcellino 
(2000, p. 7-9). Lembre-se de que as obrigações estu-
dantis são uma categoria de trabalho. Com relação 
à questão das obrigações sociais, vale destacar que:
[...] para se caracterizar uma determinada práti-
ca social como obrigação é necessário analisá-las 
a partir dos aspectos tempo e atitude. As obriga-
ções religiosas, por exemplo, podem ser caracte-
rizadas desta forma ao estarem presas a um tem-
po pré-determinado e uma atitude que está de 
acordo com um anseio intrínseco do indivíduo. 
A religião, neste sentido, pode ser caracterizada 
como lazer desde que não seja obrigatória e es-
teja respondendo a ao menos um dos conteúdos 
do lazer (MARCELLINO, 2000, p. 17-19).
Lazer, Trabalho e 
Obrigações
As lutas para reivindicação de novas jornadas de 
trabalho, bem como para a humanização deste, 
foram marcadas pelo sofrimento em todo o mun-
do. Camargo (1986) descreve o processo históri-
co de reivindicação aos direitos trabalhistas afir-
mando que as primeiras lutas foram sangrentas, 
pois havia uma constante repressão policial às 
manifestações. Na Europa, na metade do século 
XIX, foram conquistados os primeiros resultados 
das reivindicações trabalhistas. Com a chegada 
de trabalhadores europeus já treinados no Brasil, 
formando uma nova cultura do trabalho em solo 
brasileiro, herdou-se, também, a consciência de 
classe “com consciência sobre os rumos da luta 
pela redução da jornada de trabalho” (Camargo 
1986, p. 146).
 45
 EDUCAÇÃO FÍSICA 
Para se ter uma ideia da fragilidade que permeia as 
discussões sobre a redução da jornada de trabalho, 
é necessário perceber, por exemplo, que no Brasil a 
industrialização ocorreu aceleradamente no fim do 
século XIX. Em 1901 houve a primeira grande gre-
ve brasileira, reivindicando uma jornada de traba-
lho de onze horas, em São Paulo. Em 1902, no Rio 
de Janeiro, e em 1905, em Sorocaba, tiveram greves 
que reivindicavam redução das jornadas vigentes 
de quinze a dezesseis horas. Em 1903, no Rio de Ja-
neiro, consegue-se a redução da jornada diária para 
nove horas e meia.
Embora as lutas para redução das jornadas de 
trabalho datem do início do século, é a partir de 
1930 que se passou a cuidar entre nós, de ma-
neira sistemática, da elaboração de leis sociais, 
protetoras do trabalho, incluindo o aumento do 
tempo liberado diário, nos fins de semana e nos 
fins de ano (férias). Essas leis foram uma con-
quista dos movimentos de trabalhadores, ape-
sar da propaganda estadonovista querer camu-
flar a situação (MARCELLINO, 2003, p. 35).
Em 1891, ocorreu o Congresso Internacional do 
Trabalhadores, em Bruxelas, cuja a síntese foi a luta 
em direção à jornada diária de trabalho de oito ho-
ras. Este congresso impulsionou os congressos ope-
rários em todo o mundo. No Brasil, o primeiro con-
gresso foi em 1892, constando a luta pela jornada de 
trabalho de oito horas. Faltava ainda um amadureci-
mento para tais discussões e ações efetivas.
Apenas em 1907, com um número de 3.258 em-
presas e 150.841 funcionários, ocorre a grande greve 
brasileira, em primeiro de maio, nas principais ca-
pitais do país e nas cidades de Sorocaba, Santos e 
Campinas. A partir deste momento, paulatinamen-
te, as conquistas pela redução da jornada de traba-
lho vão sendo conquistadas (CAMARGO, 1986).
Várias manifestações repressivas ocorrem, subsi-
diadas pelo capital. A concepção dos detentores do 
capital, os grandes industriais, era que o tempo de 
lazer poderia desvirtuar mais a sociedade. Em 1917, 
por exemplo, o parecer ao primeiro projeto de lei 
que regulamentava a jornada de trabalho de oito ho-
ras, foi tachado

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