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Recreação e Lazer: Conceitos e Definições

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Recreação e Lazer
Anísio Calciolari Júnior
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, 
incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento 
e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e 
Distribuidora Educacional S.A.
Presidência 
Rodrigo Galindo
Vice-Presidência de Produto, Gestão e Expansão
Julia Gonçalves
Vice-Presidência Acadêmica
Marcos Lemos
Diretoria de Produção e Responsabilidade Social
Camilla Veiga
Gerência Editorial
Fernanda Migliorança
Editoração Gráfica e Eletrônica
Renata Galdino
Supervisão da Disciplina
Mateus Betanho Campana
Revisão Técnica
Mateus Betanho Campana 
Thamiris Mantovani CRB-8/9491 
2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
 Calciolari Jr, Anísio
C144r Recreação e lazer / Anísio Calciolari Jr. – Londrina : 
 Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019.
 184 p.
 
 ISBN 978-85-522-1599-8
 
 1.  Jogo. 2. Recreação. 3. Lazer. I Calciolari Jr, Anísio. 
 II. Título. 
CDD 796
Sumário
Unidade 1
Conceitos e definições .................................................................................. 7
Seção 1
O fenômeno lazer ............................................................................... 9
Seção 2
Concepções históricas do lazer .......................................................22
Seção 3
Recreação e ludicidade .....................................................................35
Unidade 2
Posicionamentos teóricos sobre o lazer ....................................................51
Seção 1
Principais linhas de estudo do lazer ...............................................52
Seção 2
Principais autores .............................................................................66
Seção 3
Perspectivas teóricas do lazer ..........................................................79
Unidade 3
Equipamentos e espaços de lazer ..............................................................95
Seção 1
Espaços, agentes e sociabilidades ...................................................96
Seção 2
Espaços públicos ............................................................................109
Seção 3
Espaços privados ...........................................................................122
Unidade 4
Lazer e cotidiano ......................................................................................137
Seção 1
Lazer e atividade física ..................................................................138
Seção 2
Lazer e cultura ................................................................................150
Seção 3
Lazer e natureza .............................................................................164
Palavras do autor
Caro aluno, seja bem-vindo ao universo de estudos do lazer, da recreação, da ludicidade, do prazer em poder, enquanto profis-sional formado em Educação Física, ser capaz de conhecer, pensar, 
elaborar e executar práticas e momentos para a vivência e fruição do lazer.
Sabe-se que o Lazer é uma das maiores e mais relevantes dimensões da 
vida do homem na sociedade moderna. Em uma sociedade que cada vez 
mais consome o tempo dos cidadãos em seu cotidiano, principalmente na 
dimensão do trabalho, está cada vez mais difícil pensar em um momento 
para a vivência do lazer. Esse fenômeno se apresenta de formas distintas em 
cada grupo social, em cada sociedade, sempre relacionado aos valores sociais 
e culturais de um povo.
Ao estudar sobre o lazer e a recreação, você não estará se apropriando, 
apenas, de um campo de conhecimento e intervenção que está presente, 
historicamente, na Educação Física, mas também estará se apropriando de 
um referencial teórico-metodológico para compreender as relações humanas 
em sociedade, seus valores, suas tradições, sua cultura e suas lutas a fim de 
preservar ou transformar as práticas de lazer historicamente constituídas e 
inseridas no cotidiano da população. Assim, conhecer as dimensões teóricas 
do lazer e da recreação é fazer um mergulho no campo da dimensão cultural 
e das práticas corporais utilizadas como forma de vivência do lazer, sendo 
capaz de atuar na promoção do lazer em seus diversos campos de atuação da 
Educação Física.
Unidade 1
Anísio Calciolari Júnior
Conceitos e definições
Convite ao estudo
Você talvez já deva ter falado ou pelo menos ouvido a seguinte frase, de 
autoria de Benjamin Franklin, “Lembre-se que tempo é dinheiro”. Essa frase 
é um marco em uma sociedade onde somos regrados pelo tempo. Muitas 
pessoas simplesmente não conseguem se desvincular da lógica do tempo 
regrado, do tempo cronológico regido pelo relógio: tempo para acordar, 
para ir trabalhar, para entrar no trabalho, para almoçar, para sair e voltar do 
trabalho, para dormir, enfim, estamos constantemente “presos” ao tempo. E 
qual parte do seu tempo você reserva para brincar, para se divertir ou para 
simplesmente fazer nada?
Os conhecimentos e saberes abordados nessa primeira unidade do 
livro estão relacionados às origens e discussões teóricas sobre o lazer e a 
recreação. Esses fenômenos, presentes no cotidiano, precisam ser compre-
endidos a partir de um olhar histórico e conceitual, possibilitando a você, 
aluno, compreender suas complexidades e dimensões conceituais desde suas 
origens.
O objetivo desta unidade é construir, com você, conhecimentos necessá-
rios para ser capaz de identificar as matrizes teóricas do lazer e da recreação.
Nesta unidade, Antônio e Alice, formados em Educação Física 
(Bacharelado) há mais de 10 anos, possuem uma empresa de assessoria no 
campo do lazer, da recreação e das práticas físico corporais. Com grande 
conhecimento sobre os aspectos teóricos de seu campo de atuação, eles irão 
auxiliar Raul, jovem recém-formado em Educação Física, na elaboração de 
um projeto de intervenção profissional no campo do lazer e da recreação em 
uma comunidade. 
Raul, desde a sua formação, estagiou e trabalhou na área do lazer e da 
recreação. Agora, ele pretende implantar um projeto de lazer e recreação na 
sua comunidade. No entanto, ao pensar a proposta, Raul percebeu que seus 
conhecimentos teóricos sobre esses fenômenos precisavam ser aprofundados 
para que fosse possível estabelecer, da melhor maneira, as relações com o 
campo teórico e prático. Na assessoria para a elaboração do projeto, esse é o 
ponto focal que Antônio e Alice precisarão atuar junto de Raul. 
Os conteúdos que serão a base para a nossa jornada perpassarão pela 
relação entre o lazer, a recreação e o lúdico; pelas diferentes manifestações e 
usos do tempo (ócio, trabalho e lazer); pelos mitos do prazer, do tempo livre 
e da produtividade; e pela relação do lazer com as práticas corporais.
Bons estudos! 
9
Seção 1
O fenômeno lazer
Diálogo aberto
Nesta seção, abordaremos as dimensões teóricas do Lazer, recreação e 
lúdico e como utilizamos nosso tempo para as práticas de lazer. Também 
conheceremos os mitos do prazer, do tempo livre e da produtividade e a 
relação do Lazer com as práticas corporais. Em nosso percurso de trabalho e 
estudo, Antônio e Alice, que possuem uma empresa de assessoria no campo 
do lazer, da recreação e das práticas físico corporais, irão auxiliar Raul, jovem 
recém-formado, na elaboração de um projeto de intervenção profissional no 
campo do lazer e da recreação em uma comunidade. 
Na primeira reunião de diagnóstico e trabalho, Antônio e Alice identi-
ficaram que os saberes apreendidos por Raul estavam no campo da inter-
venção prática, na elaboraçãoe aplicação de atividades. Por sua vez, Raul 
tinha dificuldade em compreender que todas as atividades de lazer que 
desenvolvia tinham uma base histórica e conceitual e que, para ampliar 
seus conhecimentos sobre o lazer e a recreação, precisaria ir além do campo 
prático. Para tal, algumas questões são importantes: quando surgiu o lazer e 
a recreação? Quais períodos históricos e dimensões conceituais são necessá-
rios apreender para ressignificar o olhar de Raul sobre o lazer e a recreação?
Não pode faltar
Assumir como princípio fundante que o lazer está presente no cotidiano 
do cidadão é se colocar diante de uma reflexão sobre a sociedade moderna, 
sobre o trabalho, sobre as mais distintas formas de se divertir, de brincar, 
de jogar, de praticar esportes, atividades físico-esportivas, culturais e artís-
ticas. Nesse sentido, é conhecer sobre a subjetividade humana e como ela se 
manifesta de diversas formas nas práticas culturais de lazer. 
Lazer e trabalho
A advento do lazer deve ser pensado a partir da relação que historica-
mente estabelece com o trabalho. Assim, deve-se pensar as relações dialéticas 
e contraditórias existentes entre esses dois fenômenos marcantes da socie-
dade moderna, pois, da maneira como se apresenta no cotidiano, o trabalho 
interfere na constituição das atividades do lazer e as práticas de lazer também 
interferem na própria lógica do mundo do trabalho.
10
O surgimento e a consolidação da sociedade capitalista foram baseados 
nas dimensões sociais e econômicas que emergiam a partir do mundo do 
trabalho. O trabalho foi colocado, pela sociedade capitalista, como a condição 
central de vida do homem em sociedade, da sua própria organização social, 
econômica e cultural. Essa mudança no campo da subjetividade humana 
insere-se de maneira significativa no campo da moral, das regras, das normas 
sociais. Ou seja, o homem passa a ser visto e valorado pelo que ele produz, 
pelo capital que ele acumula.
Diante desse cenário, na sociedade capitalista, o trabalho é a força de 
sua evolução, sendo elemento central da organização da vida em socie-
dade. Assim, nas sociedades capitalistas inseridas na revolução industrial, 
principalmente onde prevalece o pensamento liberal de forma hegemônica, 
o trabalho tem sido sistematicamente exaltado. Frases como “o trabalho 
enobrece o homem” e “o ócio é o pai de todos os vícios” marcam significativa-
mente como esses valores estão inseridos nas sociedades capitalistas. 
Assimile
O capitalismo industrial surge a partir do século XVIII, com a transformação 
do sistema de produção, que passa de produtos manufaturados para a 
produção de mercadorias em grande escala. O trabalho artesanal sede 
lugar para a produção realizada pelas máquinas, o que alcança seu ponto 
máximo com o desenvolvimento industrial da sociedade inglesa. O ponto 
central nesse processo de avanço do capitalismo foi a separação entre os 
que detêm os meios de produção e os que vendem sua força de trabalho, 
o qual passa a ser assalariado, sendo esse salário apenas uma parcela do 
valor do trabalho produzido, gerando a mais-valia, que é apropriada pelo 
proprietário dos meios de produção sob a forma de lucro.
Diante dessa sociedade do trabalho que se consolida com a Revolução 
Industrial, surge um fator de grande relevância para a compreensão e surgi-
mento do lazer: o tempo. Antes da Revolução Industrial, especificamente até 
o final do século XIII e o início do século XIV, não existia uma separação 
marcante na forma como o tempo era utilizado. O tempo que regia a vida 
era o tempo natural, determinado pelos fenômenos e ciclos da natureza. Já 
os tempos de trabalho, de lazer e de repouso eram controlados pelo próprio 
trabalhador a partir de seu ritmo, de sua subjetividade. 
Esse tempo natural foi passando por transformações na sociedade 
moderna à medida que a sociedade industrial via a necessidade de regrar 
e medir o tempo cotidiano, quantificando o tempo de uma maneira que 
passasse a ser comercializado como uma forma de mercadoria, passando a 
11
ter valor econômico. O marco histórico e material dessa mudança deu-se 
com a criação do relógio. 
Tempo livre e lazer
Para ampliar os conhecimentos teóricos sobre a categoria tempo, 
Cornelius Castoriadis (1982), aponta que o tempo se caracteriza como uma 
das dimensões da sociedade moderna, sendo que cada sociedade estabelece 
um modo próprio de se relacionar e viver o tempo. O autor afirma que o 
tempo pode ser vivido em duas dimensões: o identitário e o de significação. 
Dentro da dimensão do tempo identitário, o tempo é demarcado, regrado. 
Esse é o tempo das medidas, do calendário, do relógio. Já o tempo compre-
endido como imaginário, permeado por símbolos e significações, refere-se a 
uma dimensão temporal constituída de sentidos, afetos, valores. É o tempo 
que é dimensionado pelo significado que ele possui, ou seja, não está preso à 
marcação cronológica formal, mas a maneira como nos ligamos, no campo 
simbólico, a uma atividade. Para Castoriades (1982), existe uma relação 
inerente e recíproca entre o tempo significativo (ou imaginário) com o tempo 
identitário, real. Assim, o tempo identitário constitui-se como tal porque é 
referido ao tempo imaginário que lhe irá atribuir um significado e, ao mesmo 
tempo, o tempo imaginário nada seria se fosse constituído fora do tempo 
identitário.
Exemplificando
Quando remetemos essa relação ao campo do Lazer, podemos pensar 
sobre como o “tempo voa” quando estamos realizando uma atividade 
que possui forte vinculação no campo da significação, no campo imagi-
nário. Um exemplo para refletirmos juntos é uma partida de futebol 
que está aos 40 minutos do segundo tempo. Se o seu time do coração 
estiver ganhando, aqueles minutos finais parecerão, muito provavel-
mente, uma “eternidade”. Caso contrário, se seu time estiver perdendo, 
aqueles minutos finais irão “voar”. Essa relação entre o tempo identi-
tário e o tempo imaginário que torna tal momento apreensível e signi-
ficante.
Marco da sociedade moderna e da revolução industrial, o relógio 
favoreceu a criação e elevação do controle sobre o homem e sobre o trabalho 
produzido. Nesse sentido, o tempo natural, controlado pelo ritmo da vida, 
passa a ser controlado pelo relógio, pela lógica e princípio da produtividade. 
Diante desse fato, pode-se perceber uma mudança significativa no cotidiano 
12
dos cidadãos, sendo a vida em sociedade agora ajustada pelo trabalho nas 
fábricas, onde jornadas de trabalho de mais de 16 horas diárias são comuns. 
Neste cenário da sociedade capitalista, a força de trabalho do homem 
passa a ser explorada pelas condições materiais e subjetivas de trabalho, pelos 
baixos salários, pelas longas jornadas de trabalho e pelo próprio ritmo de vida 
na sociedade contemporânea que sujeitam o trabalhador a longas jornadas 
para garantir sua sobrevivência material e subjetiva, comprometendo, assim, 
seu tempo de lazer, de descanso, de repouso. Essa relação com o tempo de 
trabalho gerou, historicamente, nas sociedades capitalistas, uma forte tensão 
sobre o uso do tempo, seja para o trabalho, para o lazer ou o ócio. 
A partir das lutas e tensões geradas nas relações entre capital e trabalho 
na sociedade capitalista, o tempo livre deve ser considerado como uma 
conquista e não uma “boa ação” do capital, das classes dominantes às classes 
dominadas. Nesse sentido, o tempo livre é uma construção social, síntese da 
produção histórica de uma sociedade. 
Abordando agora, especificamente, o tempo livre, cabe ressaltar que 
não há uma única visão, olhar e conceito sobre tal categoria. As dimensões 
conceituais sobre o tempo livre são construídas a partir de uma perspectiva 
cultural, social e ideológica, relacionadas aos mais distintos instrumentais 
teóricos no campo de estudo do lazer e áreas afins.
Diante das possibilidades teóricas apresentadas, o tempo livre pode 
se caracterizar como o tempo que sobra para o homem após realizar suas 
obrigações do trabalho, o tempo que nelenão se materializa nenhum tipo 
de obrigação social, e que pode ser ocupado e vivido de forma livre. Entre as 
diversas possibilidades de olhar e conceituar o tempo livre, há uma singula-
ridade fortemente presente em boa parte delas, que é a leitura do fenômeno 
tempo livre como um tempo vivido como sendo do não trabalho, ou seja, o 
tempo que nega o trabalho, que a ele se opõe. 
E é nesse tempo, o tempo livre, que se torna possível o homem buscar 
vivenciá-lo a partir de sua capacidade livre e criadora, buscando formas de 
expressar sua subjetividade individual e coletiva. É o tempo da realização 
pessoal, o tempo da busca pelo prazer.
Para Jofree Dumazedier (1976), o tempo livre é caracterizado como todo 
o tempo de não trabalho dedicado ao estudo, destinado às tarefas domés-
ticas, às obrigações cívicas, familiares, religiosas, políticas, sociais, etc., bem 
como reservado às atividades de lazer ou ócio. Portanto, o tempo livre signi-
fica aquele tempo de não trabalho, no qual não existe uma ação imposta e que 
o homem possa, de maneira livre, escolher com o que deseja ocupar-se, ou, 
simplesmente, fazer fazer. Chega-se então a um ponto fundamental de nosso 
13
estudo, o de que o lazer é, assim como o tempo livre, uma conquista histórica 
e social diretamente relacionada ao mundo do trabalho.
Reflita
Em muitos casos, a partir do conhecimento do senso comum, que é um 
conhecimento prático que ajuda as pessoas a tomarem decisões em seu 
cotidiano, as palavras lazer e tempo livre são utilizadas como sinônimos. 
Dentro de uma perspectiva conceitual e epistemológica, pode-se dizer 
que o lazer se materializa no tempo livre do cidadão, como uma forma 
de viver e se ligar a esse tempo. Nesse sentido, você já parou para 
pensar como o tempo livre se materializa para você? Como você ocupa 
seu tempo livre? Quais práticas realiza nesse tempo? Seu tempo livre 
é realmente livre das pressões e determinismos de consumo da socie-
dade contemporânea? Você sabe, ou seja, foi educado para ocupar seu 
tempo livre?
No entanto, em uma sociedade que transforma o tempo em mercadoria, 
seria o tempo livre realmente livre?
Na obra Tempo livre e capitalismo: um par imperfeito (2017), Valquíria 
Padilha aponta que, inserido na sociedade capitalista e fruto dessa própria 
sociedade, portando seus valores, o tempo de não trabalho não pode ser 
caracterizado, necessariamente, com um tempo realmente livre, de pleni-
tude, de manifestação da individualidade, pois o tempo livre acaba não possi-
bilitando a emancipação humana, pois está inserido em uma sociedade que 
não permite essa emancipação. Assim, o lazer, inserido nesse contexto, acaba 
se transformando em mais uma possibilidade de consumo, de mercadoria, de 
produto, ou seja, o tempo livre e o lazer acabam sendo apropriados e trans-
formados em consumo. No entanto, de forma contraditória, o lazer pode ser 
considerado uma prática social e culturalmente construída que possibilita a 
ruptura do cotidiano, mesmo que momentaneamente, uma prática potencial 
para a reflexão e transformação da própria realidade individual e coletiva.
Assimile
Agora trazemos um conceito de lazer para ampliar seu olhar e conheci-
mento. Para Mascarenhas (2000, p. 34) “O lazer se constitui como um 
fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões entre capital 
e trabalho, que se materializa como tempo e espaço de vivências 
lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassado por relações de 
hegemonia”. Nesse sentido, podemos perceber o lazer como um campo 
de lutas e forças entre as formas de organização da sociedade, que 
14
se materializa em vivências lúdicas. É um constante campo de tensão 
entre os valores capitalistas e as possibilidades de vivências de práticas 
“livres” desses valores. 
Ócio, tempo livre e lazer
O que você pensa da palavra ócio e quais valores vêm a sua cabeça? 
Como a sociedade constrói esses valores, inculcados de tal maneira em nossa 
formação, que dificilmente conseguimos não associar o ócio a um campo 
pejorativo, depreciativo, negativo? Qual relação entre o ócio e o lazer na 
sociedade moderna?
A origem da palavra ócio é derivada do latim otium, que significa fruto 
das horas vagas, do descanso, do repouso, da tranquilidade. Além disso, 
possui sentido de ocupação suave e prazerosa. No entanto, justamente por 
portar uma ideia de repouso, muitas vezes as pessoas confundem ócio com 
ociosidade.
Na constituição do significado do lazer na sociedade capitalista, o ócio 
passou a ser considerado uma prática questionada, pois foi a ele atribuído, 
socialmente, um sentido negativo. Foi justamente esse fator, por exemplo, 
que determinou que muitas sociedades passassem a pensar uma forma de 
organizar e controlar a vida dos trabalhadores a partir das práticas que reali-
zavam em seu tempo livre. 
Não se pode deixar de afirmar que o ócio é tão antigo quanto o próprio 
trabalho. É na sociedade grega que se pode encontrar o ideal clássico de ócio, 
que está associado ao ócio contemplativo, da liberdade da necessidade de 
trabalhar. O ócio possui um sentido de ação, de algo ativo, pois está associado 
à capacidade de pensar, de contemplar. E o pensamento é algo ativo, é 
movimento, é uma vida contemplativa que possibilita a felicidade. Para os 
filósofos Platão e Aristóteles, a contemplação era um caminho para se chegar 
à verdade, à sabedoria. 
Mas é a partir da Revolução Industrial, com a nova organização do 
trabalho e o surgimento de um novo tempo, o tempo livre, e também do 
lazer, que um novo significado para o conceito de ócio passou a ser forjado. 
Com o advento da sociedade capitalista o trabalho passou a ser elemento 
central. O trabalhador agora precisa dedicar seu tempo ao trabalho como 
forma de sobrevivência, e não mais como um modo de vida. O tempo passa 
a ser quantificado e valorado, e o ócio passa a ser uma prática a ser comba-
tida: como já vimos, o ócio passa a ser o “pai de todos os vícios”. De todos 
os valores e práticas que se opunham ao da nova sociedade. O ócio não 
produz. O trabalho produz. São esses os valores presentes e impregnados na 
15
sociedade contemporânea. Somos educados para o trabalho, para pensar o 
ócio de forma depreciativa como aquilo que se opõe ao valor maior, o próprio 
trabalho. Dessa forma, o trabalho passa a ser a fonte de todas as virtudes. 
É nesse sentido que o lazer entra em cena. Ele passa a ser uma prática 
lícita, permitida. Não é ociosidade, mas sim um fenômeno que emerge a 
partir da relação entre o conceito de trabalho, de ócio e tempo livre, tornan-
do-se um fenômeno com uma dimensão singular, não podendo ser compre-
endido como o tempo fora do trabalho, como sinônimo de tempo livre, ou 
como algo negativo por ser “improdutivo”, assim como o ócio é definido hoje. 
Tais reflexões sobre o lazer são necessárias não somente para você, aluno, 
compreender a origem e evolução do lazer, mas também para ser capaz de 
analisar e compreender as formas de organização da vida em sociedade e 
como cada uma, a partir do lugar que o lazer ocupa, das transformações no 
campo da cultura, dos valores, das mentalidades, influenciam e determinam 
as formas de ocupação de tempo livre e práticas de lazer. 
 Lazer, recreação e o lúdico
O lazer possui um grande potencial lúdico, pois pode ser compreendido 
como um espaço em que as possibilidades de criação e escolha são maiores 
que as existentes em uma linha de produção (MAGNANE, 1998). De modo 
marcante ainda nas sociedades tradicionais, as atividades lúdicas, como os 
jogos e as danças, podem ser consideradas as origens, as raízes do lazer, 
manifestando-se, também, em outros aspectos da vida em sociedade, como 
na educação e no trabalho. 
No entanto, prezado aluno, lazer e lúdico não são sinônimos, não possuem 
os mesmos significados. É comum os equívocos conceituais e sobreposições 
quando se trata de conceitos como lazer, lúdico e recreação. Por mais que as 
interfaces desses fenômenos dialoguem, se materializam de forma conjunta, 
suas dimensõesteóricas devem ser respeitadas, até mesmo para o fortaleci-
mento da própria Educação Física. 
O lúdico se constitui de uma atmosfera de liberdade e autonomia, onde 
as amarras das regras sociais estão mais livres, e o prazer, a alegria, a liber-
dade, a angústia e a tensão constituem novas formas de viver o cotidiano, a 
vida em sociedade. É um momento marcada pela emoção, pelos sentidos e 
sentimentos diversos. Portanto, a vivencia do lúdico cria uma nova forma de 
se ligar e se apropriar do momento vivido. 
Muitas vezes o lazer e a recreação foram tratados de formas sobrepostas, 
e no senso comum, no cotidiano das pessoas, esse pensamento ainda é muito 
16
marcante. Há até mesmo uma justificativa para que isso tenha ocorrido no 
Brasil. No início dos anos 1940, como forma de controlar a ocupação do 
tempo livre do trabalhador, o Governo Federal criou o Serviço de Recreação 
Operária, dentro do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A visão 
que se tinha da recreação era de que possibilitava restaurar o equilíbrio bioló-
gico entre o espírito e o corpo, colaborando com a saúde da população e, 
assim, auxiliando no processo produtivo da nação, ou seja, uma recreação 
organizada que fosse saudável, educativa e socialmente útil. 
Diante desse cenário, o uso da recreação de forma utilitarista era uma 
forma de controlar o lazer dos trabalhadores e suas famílias, mas também 
um instrumento pedagógico de formação de uma sociedade que apresen-
tasse boa saúde biológica e social, disciplinando o corpo para e nas práticas 
de ocupação do tempo livre. 
Ainda no campo pedagógico da prática da recreação, a tendência pedagó-
gica da Escola Nova, que se instaurou no Brasil a partir dos anos 1930, deu 
ênfase ao jogo e a ginástica como componentes fundamentais da formulação 
da personalidade, da civilidade, da disciplina e da liberdade, e a recreação, 
tanto para crianças, jovens e adultos, servia como forma de controle do corpo. 
Outro fator que colaborou com a sobreposição conceitual entre lazer e 
recreação foi o próprio conceito de lazer de Joffre Dumazedier, que impactou 
significativamente o campo dos estudos sobre o lazer no Brasil a partir dos 
anos 1970. Para esse autor, o lazer é um conjunto de ocupações às quais o 
indivíduo poderia se entregar, após livrar-se de obrigações de diversas 
naturezas. Nesse sentido, delimitando e reduzindo o lazer a determinadas 
atividades, seu significado fica muito próximo do significado de recreação 
construído no país. Assim, a recreação passou a ser vista como sinônimo de 
atividades realizadas nas horas de lazer. 
A palavra recreação deriva da palavra recreare, que significa “criar de 
novo”, estando relacionada com atividades lúdicas. O verbo recrear também 
significa trazer alegria, satisfazer, aliviar o outro do trabalho árduo, ter tempo 
de folga, entre outros significados. Com características de liberdade, de 
escolha e a atitude de prazer no fazer da recreação, o prazer está inerente na 
atividade, que não deve buscar ser útil ao lucro, porém, apenas alegrar.
Como pode perceber, mesmo estando entrelaçados, a recreação e o 
lazer, a partir de sua trajetória e experiência no campo das chamadas ativi-
dades lúdicas, podem construir as marcas identitárias que os distinguem e 
os relacionam, criando possibilidades de participação e democratização às 
práticas culturais de lazer.
17
Você já pensou como a Educação Física pode colaborar com esse 
processo? As práticas corporais culturalmente instituídas constituem nosso 
campo de intervenção. Manifestações como o jogo, o esporte, a dança, a 
brincadeira, a recreação, as atividades de aventura (urbana e na natureza), 
atividades culturais e artísticas, as lutas, enfim, as mais diversas formas da 
cultura corporal que, historicamente, tornaram-se campo de estudo e conhe-
cimento da Educação Física podem e devem ser apropriadas. 
Não existe um “receituário” de práticas de lazer e recreação. As mais 
diversas dimensões do movimento humano podem ser utilizadas como 
vivência e fruição do lazer. Foi nesse sentido e caminho histórico percorrido 
pela Educação Física no Brasil que o lazer se tornou objeto de estudo e campo 
de intervenção para o Profissional de Educação Física.
Pesquise mais
Neste texto, você terá acesso a uma interessante discussão sobre as 
possibilidades de vivencia do corpo, do movimento humano, das 
práticas corporais no tempo de Lazer. 
BRUHNS, H. T. Relações entre a educação física, a cultura e o lazer. 
Revista de Educação Física/UEM, v. 9, n. 1, p. 61-66, 1998.
Sem medo de errar
Então, prezado aluno, você pôde perceber com o passar dos estudos nessa 
seção que os conhecimentos e saberes práticos relacionados ao lazer e à recre-
ação, tão relevante para a prática profissional na Educação Física, não são 
suficientes para compreender esses fenômenos em toda a sua complexidade. 
Antônio e Alice agora já podem ajudar Raul com toda uma base de conhe-
cimentos que perpassam as dimensões históricas, sociológicas e culturais da 
sociedade moderna onde o lazer e a recreação se inserem, se relacionam.
Nesse sentido, Raul passa a ressignificar seu olhar sobre o lazer e a recre-
ação a partir da aproximação, estudos e leituras sobre as dimensões teóricas 
do lazer e da recreação.
Para tanto, eles podem lançar mão:
1. Dos conhecimentos que perpassam a constituição da sociedade indus-
trial e do capitalismo, com a instituição de uma nova ordem social em torno 
do trabalho, do capital.
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2. Da compreensão de que o trabalho, o lazer e o tempo livre não são 
sinônimos, e de que a apropriação conceitual dessas categorias é funda-
mental para a construção da identidade do profissional de Educação Física 
que atua no campo do lazer.
3. Da própria pratica e experiência profissional de Raul para que ele 
compreenda e identifique as diferenças conceituas entre lazer, lúdico e recre-
ação, pensando essas práticas dentro de uma abordagem de práticas corpo-
rais que são relevantes para a construção de uma sociedade democrática.
Avançando na prática
As práticas recreativas como campo elemento 
educacional
Maria está trabalhando em um espaço de recreação para crianças 
em um Shopping Center. Ao vivenciar dia a dia seu trabalho, ela começa 
a se questionar e refletir sobre as práticas oferecidas às crianças. Na visão 
de Maria, as práticas oferecidas são apenas “passatempo” para as crianças 
a fim de que os pais e familiares possam passear pelo Shopping e realizar 
suas compras com mais tranquilidade. Maria, então, relata suas inquietações 
para sua supervisora, afirmando que aquele espaço poderia ter um potencial 
educativo, de construção de conhecimento, de vivência de práticas praze-
rosas que fossem significativas para as crianças, e não apenas um local para 
deixá-las brincando livremente.
Com base nesse contexto descrito, gostaríamos de convidar você para 
ajudar a resolver esta situação problema, apontando que a recreação possui 
um potencial educativo em sua prática. 
Resolução da situação-problema
O conceito e a prática da recreação estão associados, dentro do senso 
comum, apenas à realização de uma atividade, seja ela livre ou direcionada. 
Esse olhar sobre a recreação remonta sua própria dimensão histórica-concei-
tual. No entanto, os valores presentes nas práticas recreativas são de muita 
relevância para a construção da identidade das crianças. A ludicidade que 
envolve todo esse momento possibilita a dimensão do prazer, da alegria, da 
vivencia de valores significativos quando pensamos em uma sociedade mais 
justa. A incorporação de valores educativos à prática da recreação, sendo essa 
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cada vez mais diversificada, colabora com a superação do estigma de ela ser 
controlada apenas por equipamentos, como os brinquedos, principalmente 
quando pensamos nos espaços existentes nos Shoppings Centers. Oficinas 
que envolvam trabalhos em grupos, atividades corporais, motoras, artísticas 
e culturais também devem se fazer presentes não com o simples intuído de 
diversificação,mas de reconhecimento do potencial valorativo e educativo de 
tais práticas, sendo pensada, organizada e promovida pelos saberes constru-
ídos historicamente no campo da Educação Física.
Faça valer a pena
1. Com a Revolução Industrial uma nova ordem se estabelece na sociedade. O 
trabalho passa a significar a própria objetivação do homem no mundo, a maneira 
como ele será valorizado e olhado por essa sociedade. Nesse novo processo de reestru-
turação do trabalho, os trabalhadores eram submetidos a longas jornadas de trabalho, 
de muitas vezes até 16h de trabalho diário. Com as lutas trabalhistas travadas ao 
passar dos tempos, esse tempo de trabalho foi diminuindo, surgindo, então, um novo 
tempo, o tempo livre.
Tendo como referência os fatores que possibilitaram a surgimento do tempo livre na 
sociedade moderna, assinale a opção correta.
a. A longa jornada de trabalho era uma opção do trabalhador, que muitas vezes 
adotava esse caminho por possuir boas condições de trabalho, bom salário e 
reconhecimento profissional. 
b. O tempo livre foi uma condição dada pelo capital, pelos donos das empresas 
às classes operárias, visando melhorar ainda mais suas condições objetivas e 
subjetivas de vida.
c. O tempo livre é uma construção social, síntese da produção histórica de uma 
sociedade, resultado das lutas e tensões geradas nas relações entre capital e 
trabalho, é uma conquista do trabalhador. 
d. Tempo livre, tempo de trabalho e tempo de lazer são sinônimos, pois todos 
são tempo produtivos em que o trabalhador está inserido no campo da 
produção e do consumo.
e. O tempo livre sempre foi, historicamente, livre em sua plenitude, e o traba-
lhador nunca sofreu nenhum tipo de interferência no modo como ocupava 
esse tempo.
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2. Leia a seguir o poema O Tempo, de Mário Quintana.
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. 
Quando se vê, já são seis horas! 
Quando se vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal... 
Quando se vê, já terminou o ano... 
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. 
Quando se vê passaram 50 anos! 
Agora é tarde demais para ser reprovado... 
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o 
relógio. 
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca 
dourada e inútil das horas. (QUINTANA, 1980, p. 38) 
Para Castoriades, existe uma relação inerente e recíproca entre o tempo significativo 
(ou imaginário) e o tempo identitário, real. Assim, o tempo identitário constitui-se 
como tal porque é referido ao tempo imaginário que lhe irá atribuir um significado e, 
ao mesmo tempo, o tempo imaginário nada seria se fosse constituído fora do tempo 
identitário.
Tomando como referência os conceitos de tempo de Castoriades, especificamente 
sobre o tempo identitário e o tempo imaginário, assinale a alternativa correta.
a. Na dimensão do tempo imaginário, o tempo é demarcado, regrado. Esse é o 
tempo das medidas, do calendário, do relógio.
b. A dimensão do tempo identitário é permeada por símbolos e significações, 
refere-se a uma dimensão temporal constituída de sentidos, afetos, valores. 
c. No poema, a frase “Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem 
olhava o relógio”, a palavra relógio está relacionada ao tempo imaginário. 
d. A expressão bastante utilizada no poema, “Quando se vê”, remete ao tempo 
imaginário, a maneira como nos ligamos, vivemos e percebemos o tempo 
cronológico, identitário. 
e. Para Castoriades, a criação das duas dimensões do tempo, identitário e imagi-
nário, possibilita a distinção entre esses dois tempos, sendo que um não se 
relaciona com o outro.
21
3. Fenômenos conceituais como o lazer, a recreação, o lúdico e o ócio devem estar 
presentes e consolidados na formação do Profissional de Educação Física. Saber 
sobre as dimensões conceituais de cada um deles não é o desafio maior, mas sim 
compreender suas interfaces, suas relações, mas sem sobrepor conceitos, sem esvaziar 
a dimensão conceitual que se faz relevante para uma intervenção profissional com 
qualidade no campo do lazer.
Sobre as dimensões conceituais do lazer, da recreação, do lúdico e do ócio, julgue as 
afirmativas a seguir em (V) Verdadeiras ou (F) Falsas. 
( ) A tendência pedagógica da Escola Nova, que se instaura no Brasil a partir dos 
anos de 1930, deu ênfase ao jogo e a ginástica como componentes fundamentais da 
formulação da personalidade, da civilidade, da disciplina e da liberdade, enquanto 
a recreação, tanto para crianças, jovens e adultos, servia como forma de controle do 
corpo.
( ) Presentes em diversas manifestações nas sociedade tradicionais, as atividades 
lúdicas, como os jogos e as danças, podem ser consideradas as origens, as raízes do 
lazer, manifestando-se, também, em outros aspectos da vida em sociedade, como na 
educação e no trabalho.
( ) A sociedade contemporânea ainda preserva o clássico sentido de ócio da socie-
dade grega, incentivando-o como algo contemplativo, da liberdade da necessidade de 
trabalhar.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta: 
a. F – V – V.
b. V – V – V.
c. V – F – V.
d. F – V – F.
e. V – V – F.
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Seção 2
Concepções históricas do lazer
Diálogo aberto
Caro aluno, você já parou para pensar como era o lazer em outros 
tempos históricos? Será que realmente o lazer só pode ser atribuído à prática 
existente no seio da sociedade moderna? Nessa seção conheceremos o lazer 
em outros períodos históricos, como na Grécia e Roma antigas, e como ele 
foi sendo (re)significado de acordo com a evolução histórica da sociedade. 
Outra coisa importante antes de iniciarmos: já parou para pensar o porquê 
você não realiza práticas de lazer distintas da que habitualmente realiza? 
Antônio e Alice foram convidados por Raul para conhecer a comunidade 
em que ele pretende concretizar o projeto de lazer e recreação. Raul acredita 
que as atividades diversificadas poderão atingir a todos que simplesmente 
queiram realizar as atividades. No entanto, Antônio e Alice, como possibili-
dade de organização do projeto, apresentaram os diferentes conteúdos cultu-
rais do lazer e suas novas configurações na atualidade e também perceberam 
a existência de algumas barreiras para o usufruto da comunidade em geral. 
Assim, Raul precisará assimilar esses temas.
Não pode falar
Olhar um fenômeno a partir de uma perspectiva histórica é fazer um 
difícil exercício de reflexão sobre como uma realidade, como um todo, acaba 
sendo produtora e produto das dimensões dessa sociedade. Ou seja, olhar o 
lazer em uma perspectiva histórica é uma tarefa complexa, pois cada socie-
dade possui características e elementos distintos que se fazem presentes na 
própria concepção e prática de lazer em cada tempo histórico. Da antigui-
dade a atualidade, o olhar deve ser sempre, na medida do possível, o mais 
contextualizado possível. Retirar um fenômeno de seu contexto e isolá-lo em 
um processo de análise é um grande risco metodológico.
Dimensões históricas do lazer
Um fenômeno tão complexo como o lazer, que se apresenta de formas 
distintas em cada período histórico, é capaz de gerar muito debate sobre suas 
origens, sobre sua história. Uma pergunta, que se apresenta inicialmente 
simples, é difícil de ser respondida: quando surgiu o lazer?
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Como você pode perceber e apreender ao decorrer da leitura de nossa 
primeira seção, o lazer está, hoje, diretamente associado ao surgimento da 
sociedade moderna, urbana e industrial, com suas interfaces com o trabalho 
e o tempo livre. Há também, no âmbito das discussões e estudos sobre o lazer, 
uma vertente que parte do princípio de que o Lazer sempre existiu, estando 
presente de diferentes formas e com diferentes papéis nas sociedades mais 
antigas. 
Ao tomarmos como princípio a existência do lazer nas sociedades antigas, 
um princípio deve ser básico: não podemos olhar para as práticas de lazer 
nessas sociedades nem mesmo sua concepção a partir do olhar e saberes 
produzidos sobre o lazer na atualidade. Ou seja,o conceito moderno de lazer 
pouco ajuda a olhar o lazer nas sociedades antigas. Para Gomes (2004), seria 
um risco definir com exatidão em que momento histórico, em que época, em 
que data o lazer se configura na sociedade ocidental. Seguindo essa linha, a 
autora afirma que o exercício de conhecer sobre outras realidades, que não 
seja somente na perspectiva da sociedade moderna, pode colaborar para 
compreendermos o processo de constituição do lazer.
Um importante passo nesse processo é conhecer com mais profundi-
dade a origem etimológicas da palavra lazer, tomando como referência seu 
contexto e momento histórico. Para os gregos, a palavra “schole” é impor-
tante nesse percurso histórico e tem como significado, etimologicamente, 
parar ou cessar; que origina a ideia de se ter repouso ou paz. Posteriormente, 
ela passou a ter significado atribuído a ação de se ter tempo desocupado, de 
se ter tempo para si mesmo. Ou seja, esse tempo, a partir da cultura grega, 
era ocupado por atividades ideais, como a reflexão filosófica, a vida contem-
plativa, o ócio.
A concepção grega de lazer baseava-se na existência de se ter tempo para 
si, que era um estado ou uma condição, sem preocupações nem a necessi-
dade de trabalhar, uma vez que o trabalho era algo desprezado, realizado por 
escravos e uma ação indigna para os homens livres. Para o filósofo Platão, a 
vida era essencialmente contemplação, e o dever do homem (livre) era o de 
eximir-se do contato com o mundo material como um obstáculo à contem-
plação. Não se pode deixar de ter como referência que as condições sociais 
da sociedade grega apresentavam uma divisão de classes sociais baseada na 
produção escravista. Nesse sentido, para os gregos, o lazer era importante 
para o aprimoramento da sabedoria, da sensibilidade, das virtudes. Portanto, 
lazer aparece como um contraponto do trabalho.
Para os romanos e sua incorporação de muitos aspectos da vida e da 
cultura grega, verifica-se, também, um desprezo e desvalorização do trabalho 
e, consequentemente, valorização do tempo livre, do ócio. A partir da leitura 
24
dos filósofos gregos, para os romanos, o sentido da palavra é atribuído à 
noção romana de “otium” (ócio). 
Nessa perspectiva romana, o significado do lazer remete ao não fazer 
nada, ao tempo dedicado de forma total ao ócio, sendo fortemente predo-
minante a concepção de tempo livre como sendo descanso e diversão, fruto 
das horas vagas, da tranquilidade. Uma forte marca na sociedade romana é 
a desvalorização do trabalho, porém, não necessariamente esse valor estava 
associado à contemplação, assim como era para os gregos.
Reflita
A prosperidade econômica e a conquista de novos territórios trouxeram 
a Roma um clima de bem-estar que permitiu aos romanos o usufruto 
do ócio, do lazer e da diversão. Claro, isso a uma pequena parcela da 
população. Para a plebe romana, o século I da nossa era foi o século de 
panem et circenses, o denominado Pão e Circo, uma metáfora que signi-
fica, “comida e divertimento” para o povo. Especialmente no tempo do 
Império, foram construídas arenas onde eram realizados espetáculos, 
como os combates entre gladiadores, animais ferozes, corridas de bigas, 
quadrigas, acrobacias, espetáculos com palhaços, artistas de teatro, 
corridas de cavalos, entre outros. O Coliseu de Roma é um dos princi-
pais símbolos da política do pão e circo, onde ocorriam as grandes lutas 
dos gladiadores. Chegavam a ser realizados espetáculos por mais de 180 
dias no ano. Era uma forma da classe dominante conter e controlar a 
população pobre, uma forma de lazer e diversão como controle social. 
A política do Pão e Circo muitas vezes aparece utilizada nos dias atuais 
como forma pejorativa, negativa, então, como oferecer uma ação de 
lazer e divertimento que supera a visão já instituída pelo Pão e Circo?
Veja, pode-se perceber, até agora, que a compreensão da própria natureza 
do trabalho é determinante para as dimensões históricas-conceituas sobre 
o lazer e seus significados em diferentes períodos históricos. E isso não foi 
diferente conforme a sociedade e o pensamento ocidental evoluíram. O que 
você, aluno, perceberá agora, é uma processual mudança significativa na 
dimensão do trabalho e também do ócio.
No início do cristianismo e durante quase todo o período da Idade 
Média, esteve presente de forma hegemônica e predominante a concepção 
de valorização do trabalho e desvalorização do tempo livre. Portanto, se na 
antiguidade clássica havia um nobre valor atribuído ao ócio, com a ascensão 
do cristianismo e início da Idade Média, houve uma significativa mudança 
25
nesse significado. O ócio passou a ter o significado relacionado à vadiagem, 
tempo desperdiçado, libertinagem, desordem.
De acordo com o ideal hegemônico da época, ou seja, a visão cristã, 
o trabalho seria como um castigo imposto e o caminho para a busca da 
redenção e purificação. O trabalho tornou-se, então, o remédio para os males 
que a ociosidade poderia instaurar na sociedade. No entanto, havia também 
a valorização de atividades manuais, artísticas, mas sobre todas elas prepon-
derava a contemplação e a exaltação do Divino.
Durante a Idade Média, por meio dos sinos e badalos das igrejas, ocorreu 
uma ruptura na dimensão de tempo, o primeiro rompimento com o ciclo 
da natureza como determinante das ações dos homens. Os sinos passaram a 
controlar o tempo humano de trabalho e o tempo do não trabalho, que era, 
principalmente, os dias santos. Nesse período, os momentos de lazer estavam 
associados ao sagrado, como momentos de encontros, festas, celebrações (as 
Quermesses – kerkmiss – são exemplos desses momentos que foram preva-
lecendo com o passar dos tempos e ainda podem ser encontradas em algumas 
cidades). 
O lazer e o trabalho passam a ter significados e práticas relacionadas à 
presença de Deus. O lazer deveria estar associado a práticas vivenciadas que 
buscassem elevar a alma à Deus, impregnando os valores morais, sobretudo 
os essenciais ao mundo do trabalho, à estruturação da família e à Igreja. Ou 
seja, lazer e trabalho passam a ser utilizados como forma de controle da 
população.
Assimile
Caro aluno, em síntese, podemos aprender que na Grécia Antiga o ócio 
era um privilégio destinado apenas a alguns homens livres e que possuía 
o significado relacionado a um modo de vida contemplativa, a busca 
da verdade e reflexão sobre os supremos valores da época. Assim, o 
trabalho não possibilitava essa ação contemplativa, o ócio sim. No 
período Romano, a concepção e significado de ócio estava relacionado 
ao descanso do corpo e à recreação do espírito. Surge, então, o lazer, o 
ócio para as massas como um instrumento de controle e despolitização. 
Assim, o ócio começa a assumir um significado relacionado ao que era 
vivenciado fora dos horários destinados às atividades produtivas, ao 
trabalho. Já na Idade Média, o ócio passa a ser vinculado como a repulsa 
e negação ao trabalho. O que até então era algo que remetia a um privi-
légio, e de poucos, passa a ser marcado como algo negativo.
26
Então, se durante toda a Antiguidade Clássica e boa parte da Idade 
Média o ócio era algo valorizado quando confrontado com a visão negativa 
existente sobre o trabalho, com o declínio do sistema feudal a realidade sobre 
as categorias e dimensões da vida, como o trabalho e o ócio, passam por 
significativas transformações e rupturas. 
O capitalismo mercantil e o novo binômio instaurado, a relação entre 
trabalho/tempo livre passam por uma inversão histórica relacionada às trans-
formações econômicas e sociais que estavam ocorrendo, como a ascensão da 
burguesia mercantil, o declínio do poder da igreja e dos regimes absolutistas, 
assim como o crescimento do comércio internacional e o surgimento do 
Estado moderno. Nesse novo contexto instaurado, há uma nova dinâmica na 
relação entre trabalho e tempo livre. 
Com o advento da Revolução Industrial, o crescimento da produtividade 
e dos mercados consumidores, com o crescimento e desenvolvimentotecno-
lógico inserido na dinâmica produtiva, não foi possível perceber, de maneira 
imediata, um aumento nem presença significativa da existência de um tempo 
ocioso, de um tempo livre. O tempo, até então sacralizado, passa a ser mensu-
rado de forma exata. Não é mais o badalar dos sinos das igrejas, mas agora o 
que determinado a relação entre homem, trabalho e tempo é a exatidão do 
relógio. É a própria ideia e processo histórico de dessacralização do tempo.
Com o desenvolvimento tecnológico, a máquina surge também com esse 
papel de regrar e racionalizar o tempo do trabalho e o tempo do não trabalho. 
Assim, o tempo fora das ações produtivas do trabalho era denominado de 
tempo do não trabalho, tendo uma relação direta com a atividade produtiva. 
A categoria “livre” passa a ter valor na medida em que esse tempo tinha como 
função a recuperação das forças produtivas. 
Tomando como referência de análise esse contexto, muitos autores 
concebem o lazer como um fenômeno moderno, ou seja, que surgiu a partir 
das novas estruturas sociais criadas pela Revolução Industrial, afastando-o 
da reflexão a partir do ócio e relacionando-o às discussões sobre trabalho na 
sociedade moderna. Nessa linha de pensamento, Mascarenhas (2000, p. 34) 
afirma que o “lazer se constitui como um fenômeno tipicamente moderno, 
resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializa como tempo 
e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassado 
por relações de hegemonia”.
O clássico pensador Jofree Dumazedier (1975) também ressalta que 
o lazer é um fenômeno moderno, um novo valor social traduzido por um 
novo direito social, o do indivíduo dispor de um período determinado de 
tempo para a realização de atividades que visam à autossatisfação. Seguidor 
27
da linha teórica de Dumazedier, Camargo (1989) conceitua o lazer como 
um conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias, 
centradas em interesses físicos, culturais, intelectuais, manuais, artísticos e 
associativos. Essas ações são realizadas em um tempo livre, que foi conquis-
tado historicamente a partir da jornada de trabalho profissional e doméstica, 
e interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos.
Reflita
Há uma real e possível associação do lazer com o desenvolvimento do 
sujeito, com a educação e a cultura, ou seja, seu potencial formativo. 
No entanto, na sociedade contemporânea, onde cresce cada vez mais a 
apropriação do fenômeno lazer como consumo, como mercadoria, será 
que seu potencial formativo não estaria sendo esvaziado? Como se dá 
essa relação presente, hoje, nas práticas enquanto mercadoria e direito 
social?
Os conteúdos culturais do lazer
O sociólogo francês Joffre Dumazedier, um dos maiores influenciadores 
da constituição do pensamento brasileiro sobre o lazer, principalmente na 
Educação Física no Brasil, estabeleceu cinco categorias, conteúdos culturais 
das atividades de lazer, que expressam, de forma predominante, os interesses 
das pessoas nessa área. São eles: físicos, artísticos, intelectuais, práticos/
manuais e sociais. 
1. Interesse físico: é representado principalmente pela prática de ativi-
dades físicas de modo geral. As práticas esportivas, os passeios, a 
pesca, a ginástica, realizadas em espaços específicos (academias, 
ginásios) e não específicos (ruas, residências), são exemplos repre-
sentativos dos interesses físicos. De um modo especial, o interesse 
físico-esportivo é um dos grandes campos de atuação e vinculação do 
lazer com a Educação Física. O esporte é um fenômeno sociocultural 
que faz parte das manifestações culturais do homem, assim, pode ser 
praticado como forma de lazer.
2. Interesse artístico: extremamente abrangente, relaciona-se com 
diversas manifestações artísticas, como o cinema, o teatro, as artes 
plásticas. Nos interesses artísticos, o predomínio é o estético, o imagi-
nário, as emoções e os sentimentos. É uma forma de linguagem e de 
educação da sensibilidade, de possibilidade de vivenciar novas lingua-
gens e novas vivências.
28
3. Interesse manual ou prático: representado pela capacidade de 
manipulação, exploração e transformação de objetos/materiais. 
Relaciona-se, também, com o cuidado e trato de elementos naturais 
e/ou animais. Para exemplificar, podemos citar o artesanato, a jardi-
nagem, a bricolagem e o cuidado com os animais.
4. Interesse intelectual: a predominância é na busca de informações 
objetivas, no conhecimento vivido e experimentado. Busca-se o 
contato com as informações/conhecimento, explicações racionais, 
por meio da leitura, de cursos e de estudos.
5. Interesse social: é quando se procura o contato, o estar com outras 
pessoas, o relacionamento e convívio social, como festas de aniver-
sário, confraternizações, bailes, cafés, bares e outros momentos dessa 
natureza.
O próprio processo de desenvolvimento da sociedade transforma os 
fenômenos que a constitui. E o lazer, como fenômeno tão presente na socie-
dade contemporânea, está sujeito às transformações. Assim, hoje, pode-se 
atribuir mais dois interesses ao campo do lazer: o turismo e o virtual. O 
interesse turístico ressalta a busca por vivenciar e conhecer novas culturas, 
novos lugares, a quebra da rotina temporal ou espacial. A categorização do 
interesse virtual envolve a computação, ecologia, psicologia e outras áreas 
que possibilitam uma ampla escala de interpretações, com a participação 
humana. 
O interessante e até mesmo curioso é que as novas gerações já nascem 
inseridas no uso das tecnologias, como o computador, o videogame e a 
televisão. São elementos que perpassam o cotidiano e que acabam sendo 
utilizados como forma de vivência do lazer. 
É importante ressaltar que os conteúdos culturais possuem o predomínio 
de uma área sobre a outra, ou seja, não são excludentes uns dos outros. Uma 
atividade pode ter nela mais de um interesse incluso, pois um não exclui os 
outros, visto que todos se complementam. 
No campo da Educação Física, conteúdos culturalmente abordados pela 
área, como o esporte, os jogos, as brincadeiras, as danças, as lutas, as recrea-
ções, enfim, são práticas culturais que podem ser vivenciadas tanto no tempo 
de lazer ou com outros objetivos.
Exemplificando
Jogar futebol, por exemplo, tanto pode ser uma prática de lazer como 
propriamente uma profissão, um dever, um trabalho. É justamente 
29
essa possibilidade, e até mesmo potencialidade, que faz das práticas 
e interesses do lazer algo complexo. Nesse sentido, caro aluno, que 
deve-se aprender muito bem os conceitos fundantes da área, como o 
lazer, o esporte, a saúde, os jogos e brincadeiras, a atividade física, o 
exercício físico, entre outros. Assim, será possível analisar as práticas 
sociais de acordo com o significado que elas possuem para o sujeito e 
não sob uma única luz e perspectiva teórico-conceitual de análise.
Quando pensamos a multiplicidade de práticas e vivências possíveis do 
lazer na sociedade contemporânea, é possível que essa classificação proposta 
por Dumazedier não consiga abarcar todas, ou seja, é fato que ela possui 
limitações. No entanto, essa classificação tem seu mérito por ter sido pensada 
com o objetivo de compreender melhor as diversas e diferentes experiências 
de lazer. 
Quando se olha para os conteúdos culturais do lazer, é possível perceber 
que, justamente por fazerem parte da dinâmica da cultura de uma sociedade, 
eles não são exclusivos do lazer, pois estão inseridos, possuem e emanam 
valores da própria cultura que o produz.
Barreiras para o acesso ao lazer 
Caro aluno, você sabia que o lazer é um direito social assegurado pela 
Constituição Federal? O seu artigo 6º estabelece que o Estado possa propor-
cionar a todos a satisfação desse direito. Assim, tanto quanto o direito ao 
trabalho, não é diferente ao trabalhador, ao cidadão, que seja permitido o 
direito ao lazer. A reflexão que devemos enfrentar está assentada nas dimen-
sões prioritárias tanto do Estado como do próprio sujeito,o cidadão. 
O conhecimento e o reconhecimento do direito social do lazer pelo 
cidadão possibilitam uma maior expansão do ser humano na sua essencia-
lidade em seu convívio familiar e com amigos, bem como a prática de ativi-
dades físico-esportivas, lúdica, culturais, com as artes e suas mais diversas 
formas, possibilitando crescimento pessoal, familiar e social.
No entanto, mesmo relacionado ao campo do direito social, o lazer ainda 
é uma prática muito distante do cotidiano da maioria das pessoas. Um dos 
fatores que interferem nessa realidade são a existência de barreiras para o 
acesso ao lazer. 
A barreira é um constructo que é derivado do Modelo de Crença na 
Saúde e pode ser entendida como aspecto que dificulta ou impede a reali-
zação de um comportamento que possui relação com a saúde, sobretudo, se 
30
ela ultrapassa os benefícios percebidos. Portanto, barreiras podem ser enten-
didas como os fatores que impossibilitam um maior número de pessoas de 
terem acesso ao lazer.
Quando associamos o lazer na sociedade contemporânea ao campo 
do consumo, como mercadoria, os aspectos econômicos aparecem como 
barreiras significativas a serem superadas. A barreira econômica acaba 
limitando e até mesmo impossibilitando o acesso ao lazer, que só é possível 
às pessoas que possuem melhores condições financeiras.
Exemplificando
Um exemplo que possibilita reflexão sobre esse aspecto são as vivên-
cias do lazer em espaços como cinemas, teatros, museus e outros do 
gênero que são vivenciados por um pequeno público da sociedade que 
possui melhores condições econômicas. Muitos desses espaços são 
colocados como “seletos” e, por vezes, a presença de pessoas que não 
se “enquadram” no perfil desejado acaba desagradando.
Amor, cuida da casa e das crianças que vou jogar bola com minhas amigas! 
Já imaginou ouvir essa frase? Outro fator a ser considerado como barreira na 
sociedade atual está marcado pela própria essência dessa sociedade, ainda 
patriarcal e machista. O sexo é também um fator que influencia nas práticas 
de lazer. Diante da configuração social, a mulher acaba por assumir de forma 
quase que predominante os afazeres domésticos e cuidado da família. Assim, 
a mulher fica sobrecarregada, acumulando tarefas que vão além do trabalho 
formal, impossibilitando a existência de um tempo para a prática de lazer. 
Além da dimensão do tempo, os espaços culturalmente constituídos privile-
giam a prática dos homens nas ações de lazer, principalmente as atividades 
de natureza físico-esportiva.
Outro fator que merece ser analisado está relacionado à idade. Quando 
se pensa em espaços para as crianças e idosos percebe-se quase que um 
esquecimento. Sabemos que o Brasil apresenta realidades distintas em cada 
cidade, em cada lugar, no entanto, de forma predominante, as crianças e 
idosos não são atendidos por ações que os envolvam nas práticas de lazer. 
Especificamente sobre os idosos, os aspectos psicológicos, as condições de 
saúde, o transporte, a existência de espaços de lazer perto de suas casas e 
o aspecto financeiro são fatores que devem ser analisados dentro de um 
conjunto relacional e amplo.
As pesquisas sobre as barreiras percebidas pelos mais diferentes grupos 
sociais são relevantes não somente para sabermos sobre a frequência das 
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práticas e sua qualidade, mas são principalmente indicadores sociais do que 
precisa ser transformado, ser foco de ações no campo das políticas públicas e 
da iniciativa privada para que se busque a democratização cultural do lazer.
Pesquise mais
Nesse artigo, você poderá compreender sobre como o conceito de 
barreiras se materializa no cotidiano das pessoas, especificamente, 
sobre os adolescentes. O texto ampliará sua visão sobre a relação das 
práticas de atividade física como forma de lazer e o porquê muitos 
jovens não possuem o hábito da atividade física como forma de lazer. 
DIAS, D. F.; LOCH, M. R.; RONQUE, E. R. V. Barreiras percebidas à prática 
de atividades físicas no lazer e fatores associados em adolescentes. 
Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, n. 11, p. 3339-3350, 2015.
Sem medo de errar
Prezado aluno, nessa seção a jornada de Raul, com o auxílio de Alice 
e Antônio, teve um início distante, temporalmente falando. Raul pôde 
compreender que não existe um consenso sobre a origem do lazer, e que 
há duas vertentes teóricas, uma a qual defende que o lazer sempre existiu 
e outra que acredita que o lazer é fruto da sociedade moderna. Com isso, 
Raul trilhou pelos conhecimentos sobre ócio e trabalho, estabelecendo um 
percurso histórico-conceitual necessário para entender até mesmo como 
essas categorias se apresentam na realidade atual. Raul percebeu que em 
seu projeto seria interessante que as práticas de lazer oferecidas fossem mais 
diversificadas possíveis, buscando atender os diferentes conteúdos culturais 
e sabendo que, mesmo se relacionando, existe fatores predominantes. Outro 
aspecto que Raul não sabia e agora deve ser o balizador de suas ações futuras 
são as barreiras que possam impossibilitar a vivência do lazer na comuni-
dade. Agora sim Raul começa a ter a dimensão das ações que pretende e até 
mesmo a grandeza do lazer.
Uma ação interessante que poderia ajudar Raul seria ouvir a comuni-
dade, criar alguma forma de comunicação, de diálogo, conhecendo melhor 
a própria cultura local e as aspirações do grupo social em foco. Podem ser 
utilizados desde conversas informais com moradores e líderes comunitários 
até questionários formais para levantar os dados necessários. 
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Avançando na prática
Ser ou não ser lazer, eis a questão!
Você está em seu momento de lazer, realizando uma caminhada, passe-
ando em um espaço público que possui diferentes equipamentos para a prática 
de lazer. Você observa famílias fazendo piquenique, crianças brincando de 
bola, andando de bicicleta, jovens, adultos e idosos caminhando ou correndo 
em um ritmo mais acelerado que o seu, com traços de fadiga, cansaço; e um 
grupo de jovens jogando futebol. Esses jovens são os que mais chamam a sua 
atenção. Há uma certa competitividade na ação, rigorosidade na cobrança 
das ações futebolísticas, estão com uniformes padronizados e você então 
começa a refletir: qual o interesse daquele grupo na prática observada? 
Poderia classificar essa prática como uma prática de lazer?
Resolução da situação-problema
Os conhecimentos sobre os conteúdos culturais do lazer são fundamen-
tais para ler as mais distintas realidades. Em um mesmo local, um mesmo 
espaço e até mesmo realizando a mesma ação, como a corrida, os objetivos 
que ligam, de forma subjetiva e objetiva, as pessoas às práticas físico-espor-
tiva são os mais variados. Ainda que determinada atividade seja realizada em 
um espaço-tempo culturalmente destinado para o lazer, isso não significa, 
em uma relação imediata, que ela se trata, de fato, de uma prática de lazer. Os 
significados atribuídos pelos grupos sociais são fundamentais e precisam ser 
apreendidos. No caso do grupo que está “jogando futebol”, essa prática pode 
estar relacionada ao treinamento, ao rendimento, à performance, ao trabalho 
como atleta, fatores que poderiam se afastar das dimensões conceituais 
enquanto prática de lazer. O trabalho e pesquisa de campo são instrumentos 
científicos relevantes para o levantamento dos significados das práticas 
sociais e os conhecimentos dos interesses culturais dos mais distintos grupos 
e sujeitos. 
Faça valer a pena 
1. O período grego oferece uma compreensão e prática da dimensão e da categoria 
ócio que até nos dias atuais ainda se faz presente. Compreender o significado do ócio 
para os gregos não é somente uma apropriação de um conhecimento histórico, mas 
também a possibilidade de perceber como os conceitos vão se alterando. 
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Sobre o ócio na Grécia antiga, julgue se as afirmativas a seguir são (V) verdadeiras 
ou (F) falsas.
( ) Para os gregos, a palavra “schole” tinha significado de parar ou cessar, origina a 
ideia de se ter repouso ou paz. 
( ) O ócio, na culturagrega, era ocupado por atividades ideais, como a reflexão filosó-
fica, a vida contemplativa.
( ) O trabalho era algo colocado como oposto ao ócio e tinha o valor de elevar o 
homem a uma condição superior.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a. V – V – V.
b. F – V – F.
c. V – F – V.
d. F – V – V.
e. V – V – F. 
2 . Entre as contribuições do sociólogo francês Joffre Dumazedier para os estudos 
do lazer, os conteúdos/interesses culturais dessa área ajudam a categorizar, compre-
ender e planejar a prática. Os conteúdos culturais das atividades de lazer, segundo 
Dumazedier, são: físicos, artísticos, intelectuais, práticos/manuais e sociais. E de 
acordo com as informações apresentadas na tabela a seguir, faça a associação dos 
conteúdos culturais das atividades de lazer contidos na Coluna A, com os seus respec-
tivos exemplos apresentados na Coluna B.
Coluna A Coluna B
1. Físico A. Ir ao cinema
2. Artístico B. Cuidado com animais e jardinagem
3. Intelectual C. Jogar futebol e dançar
4. Prático/manual D. Ler um livro
5. Social E. Reuniões familiares
Assinale a alternativa que apresenta a associação CORRETA entre as colunas.
a. 1 - D; 2 - B; 3 - C; 4 - A; 5 - E.
b. 1 - A; 2 - D; 3 - c; 4 - E; 5 - B.
c. 1 - C; 2 - A; 3 - D; 4 - B; 5 - E.
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d. 1 - B; 2 - A; 3 - E; 4 - C; 5 - D.
e. 1 - E; 2 - A; 3 - D; 4 - C; 5 - B. 
3 . O lazer é um direito social e, como tal, um dever do estado. No entanto, como 
pode-se perceber, essa realidade está muito distante de passar do papel para sua 
implementação democrática. Um dos fatores que interferem na prática de lazer 
são a existência de barreiras para seu acesso e vivência. A barreira é um constructo 
que pode ser entendido como aspecto que dificulta ou impede a realização de um 
comportamento, uma prática de lazer.
Sobre a temática das barreiras para o acesso ao lazer, assinale a alternativa que 
apresenta corretamente essas barreiras.
a. As barreiras são aspectos apenas subjetivos e são percebidas de forma igual 
para todos. 
b. Os grupos sociais e faixas etárias possuem as mesmas barreiras para as 
práticas de lazer.
c. Os homens possuem menos acesso por terem a maior responsabilidade do 
sustento da casa, consequentemente, maior tempo de trabalho.
d. As barreiras econômicas na verdade não existem. Cada um pode se esforçar e 
conquistar condições para o acesso ao lazer pago. 
e. As barreiras são percebidas de forma distinta, conforme o grupo social. As 
questões econômicas e até mesmo educacionais/culturais interferem na 
percepção das barreiras. 
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Seção 3
Recreação e ludicidade
Diálogo aberto
Olá, aluno. Após Raul ampliar e radicalizar o seu conhecimento teórico 
sobre o lazer e a recreação, assim como também sobre sua realidade imediata, 
ele partirá para a primeira fase de seu projeto: a elaboração de um plano de 
atividades recreativas para atender jovens e crianças da sua comunidade. 
Sabendo do impacto do projeto na dimensão cultural da comunidade, 
Antônio e Alice iniciam a assessoria na etapa de elaboração das atividades. A 
dúvida que ainda persiste em Raul é sobre o tipo de atividade a ser desenvol-
vida, como jogos e brincadeiras de natureza intelectivas, artísticas, manuais, 
esportivas, sociais e turísticas. Vamos conhecer, nesta seção, essas diferentes 
atividades e possibilidades praticas no planejamento e execução da recreação.
Não pode faltar
Prezado aluno, em nossa última seção da primeira unidade do livro, 
todos os saberes já apreendidos são necessários. Assim como em toda área 
da Educação Física, os saberes e conhecimentos de natureza, teóricos ou 
práticos, devem ser colocados em prática quando pensamos a aplicação. 
Não deve existir um pensamento que veja os saberes sem seus possíveis 
diálogos, respeitando suas especificidades. Nesta última seção, ampliaremos 
nossos conhecimentos sobre o planejamento de atividades recreativas e bases 
conceituais sobre o jogo, a brincadeira e o lúdico.
Recreação, jogo, brincadeira e o lúdico
Caro aluno, um princípio é importante nesse nosso trilhar, o de que a 
recreação, como atividade, está inserida no campo e mundo do lazer. E na 
recreação, para sua materialização, podem estar presentes conhecimentos 
sobre o jogo, o esporte, o brinquedo e a brincadeira, assim como o lúdico, 
enquanto elemento que perpassa por todos eles. Então, vamos começar pelo 
lúdico?
Um dos autores clássicos e mais importantes que nos ajuda a entender 
o lúdico é Huizinga (1998). Esse autor aponta que o espírito de compe-
tição lúdica, enquanto impulso social, é mais antigo do que a cultura, e a 
própria vida está toda penetrada por ele, como por um verdadeiro fermento 
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(HUIZINGA, 1998). Seguindo essa linha, Huizinga afirma que o lúdico se faz 
presente através dos séculos, mas de maneira mais marcante e presente até 
século XVIII. De acordo com seu pensamento, no século XIX houve a perda 
de um grande número de elementos lúdicos que caracterizam as épocas 
anteriores. 
Para Marcelino (1999), é fundamental buscar o reencontro com o lúdico, 
o criativo e, assim, compreender o seu potencial e valor revolucionário e 
transformador. É importante destacar que o lúdico não está presente apenas 
nas atividades recreativas, mas sim em todas as atividades que seja possível a 
vivência de momentos de prazer, socialização, fruição. São atividades que os 
envolvidos se entregam e se integram em sua plenitude, no viver e no sentir, 
na criatividade, na fantasia, na imaginação, nos sonhos, no campo do simbó-
lico e do concreto. Assim, um programa de recreação e lazer deve ter como 
elemento fundante a busca do lúdico e a livre escolha, o prazer. 
 Pensando em toda a sua capacidade de inserção na vida em sociedade, 
a vivência do lúdico é necessária enquanto participação na cultura de um 
modo geral, pensando a inserção e vivência em práticas que enriqueçam a 
formação da criança, do jovem, do adulto e do idoso de forma criativa e no 
exercício do prazer de viver. 
Caro aluno, como é possível perceber, o lúdico é fundamental para 
o desenvolvimento do ser humano e, mais, para a própria manifestação e 
dimensão do que é humano no homem, sua plenitude, seu desenvolvimento 
cultural, social, pessoal e cultural, de sentimento de prazer, felicidade e liber-
dade, que também pode se manifestar nos momentos de recreação e lazer.
Assimile
Mesmo que a discussão, a produção e o trabalho com o lúdico estejam 
muito presentes na Educação Física, esse não é um território exclusivo 
de nossa prática profissional. Uma aula de matemática pode utilizar 
elementos lúdicos para alcançar seus objetivos. Um projeto de astro-
nomia pode, também, agir da mesma forma. O lúdico não é território 
delineável, é algo sentido, vivido de forma múltipla, livre e prazerosa.
O jogo é um dos saberes da Educação Física em que mais se associa a 
presença e vivencia do lúdico. Huizinga (1998, p. 33) define jogo como:
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[...] uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro 
de certos e determinados limites de tempo e espaço, 
segundo regras livremente consentidas, mas absoluta-
mente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, 
acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de 
uma consciência de ser diferente da vida cotidiana. 
Na prática da Educação Física, o jogo se apresenta no campo da Cultura 
Corporal de Movimento, são manifestações formalizadas a partir de procedi-
mentos e passos que possibilitam a inserção dos sujeitos por meios de regras 
as quais são construídas e reconstruídas. 
Pensando sua inserção no campo da recreação e do lazer, essas regras 
devem ser pensadas para possibilitar momentos de integração, socialização, 
pertencimento e participação. É o contato com a cultura historicamente 
produzida que se faz presente no jogar.
Para aplicar atividades recreativas e de lazer, o profissional deve saber 
trabalhar de forma positiva, conhecendo as suas potencialidades no campo 
da educação, da cultura e da participação. Não é a busca nem a declamação 
de vencedorese perdedores, é o encontro, a vivência individual e/ou coletiva 
de um sujeito com a cultura. 
Integrando os conceitos até agora abordados, ao se trabalhar a vivência 
lúdica e o jogo no campo das atividades recreativas, há uma possibilidade e 
potencialidade de se desenvolver a criatividade, o prazer, a interação entre as 
pessoas, a cooperação, entre outros. 
Então, aluno, responda: qual brincadeira mais gosta? Quando foi a última 
vez que fez essa atividade? Você sabe o que é brincadeira? Sabe que é um dos 
grandes e mais complexos campos conceituais da Educação Física?
Exemplificando
“Vamos brincar de jogar bola?” Uma das diferenças entre o jogo e a 
brincadeira é o papel das regras na atividade. No jogo as regras são 
pré-estabelecidas, flexíveis e coletivamente elaboradas. Na brincadeira 
muitas vezes ocorre a mudança das regras no decorrer do brincar, pois 
é uma ação mais livre, um ato de brincar com ou sem o suporte de um 
brinquedo.
Como afirma Friedmann (1996), as brincadeiras e os jogos passaram 
por profundas mudanças do início do século para os dias atuais, no 
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entanto, o prazer de brincar não mudou. Quando focamos principalmente 
as crianças, percebe-se dois elementos marcantes: o prazer que envolve o 
jogo se contrapõe aos momentos de tensão e há uma séria participação dos 
jogadores. Ou seja, o jogo é prazeroso e sério ao mesmo tempo. Destacamos 
que tanto as brincadeiras como o jogo possuem diferentes significados em 
diferentes culturas. Essa potencialidade e diversidade permite identificar as 
próprias estruturas sociais, como sistema de regras, fatos sociais, assumindo 
a imagem e o sentido que cada sociedade lhes atribui.
A brincadeira é presente, inerente principalmente à vida da criança, e é 
justamente pelo brincar que a criança vivencia, experimenta, organiza-se e 
elabora regras e normas para si e para o outro. É um constante movimento 
de criar e recriar a cada nova brincadeira, aprendendo uma nova linguagem, 
uma nova forma de interagir consigo, com o outro, com o mundo. No campo 
do movimento humano, pode-se dizer que a brincadeira auxilia no desenvol-
vimento de elementos como a psicomotricidade, nos aspectos sociais, físicos, 
afetivos, cognitivos e emocionais. Ao brincar, manifesta-se e desenvolve-se a 
construção de regras, novas descobertas e a interação com os colegas.
No campo das atividades recreativas, as brincadeiras devem ser pensadas 
de modo a enriquecer e potencializar as vivências lúdicas, criando e pensando 
espaços e atividades com materiais para brincar. Além disso, deve-se agir 
de modo a orientar e supervisionar a brincadeira, de preferência, em um 
ambiente desafiador, estimulante, seguro e potencialmente lúdico, seja em 
um brincar livre ou direcionado.
Portanto, aluno, em síntese, os jogos e as brincadeiras presentes nas ativi-
dades recreativas e de lazer possibilitam um meio de comunicação, de prazer, 
de vivência do lúdico de forma planejada, estruturada e organizada. Assim, 
as atividades de lazer e recreação são importantes não somente para o desen-
volvimento físico e pessoal, mas para a desenvolvimento integral do sujeito, 
em qualquer idade e fase da vida.
A recreação pode ser compreendida como “o momento, ou a circuns-
tância que o indivíduo escolhe espontânea e deliberadamente, através do 
qual ele se satisfaz (sacia) seus anseios voltados ao seu lazer” (CAVALLARI; 
ZACHARIAS, 1994, p. 15).
Assim, a recreação é compreendida como uma série de atividades a serem 
desenvolvidas no campo do lazer. Outra autora que também defende a linha 
teórica da recreação como o conjunto de atividades desenvolvidas no lazer 
é Bruhns (1997). Para essa autora, o lazer é a expressão da cultura, consti-
tuindo elemento de conformismo ou de resistência à ordem social hegemô-
nica. A autora ainda afirma que a recreação (ou atividade de lazer) também 
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se aproxima do lúdico, o que muitas vezes provoca uma confusão de termos 
e objetivos, sendo o jogo também visualizado apenas como recreação. 
Cavallari e Zacharias (1994, p. 16-17) apresentam 5 características 
básicas da recreação, sendo elas:
1. “Ser encarada pelo participante como um fim em si mesma, sem que 
se esperem benefícios ou resultados específicos.
2. Ser escolhida livremente e praticada espontaneamente, segundo os 
interesses de cada um.
3. Levar o praticante a estágios psicológicos positivos, pelo caráter 
hedonístico, por estar sempre ligada ao prazer.
4. Propiciar ao praticante estímulos para o exercício e desenvolvimento 
da criatividade até sua plenitude.
5. Ser escolhida de acordo com os interesses comuns dos participantes 
de cada grupo nas sociedades organizadas nos níveis econômicos, 
sociais, políticos e culturais em geral” 
Um dos elementos que podemos destacar na prática profissional da recre-
ação são as atividades livres e dirigidas. Os momentos livres, principalmente 
com crianças, são importantes para a manifestação da criatividade, em que o 
sujeito é movido a fazer escolhas, agindo com autonomia, tendo a liberdade 
para escolher os brinquedos, brincadeiras, jogos, materiais, parceiros, entre 
outros elementos.
Já as atividades recreativas dirigidas são manifestadas a partir da organi-
zação de atividades que os participantes irão vivenciar e terão a supervisão, o 
acompanhamento e/ou direcionamento do profissional de Educação Física. 
Os ambientes e atividades devem levar em conta diversos aspectos, como o 
espaço, materiais, objetivos a serem alcançados, público, tempo de duração 
das atividades, recursos humanos disponíveis, entre outros. É impor-
tante destacar que o fato da maior presença do profissional na organização 
e condução da atividade não deve tirar a liberdade do participante em se 
integrar à recreação. 
Planejamento de atividades no campo da recreação e do 
lazer
Aluno, não se esqueça de que os hábitos e práticas de lazer estão relacio-
nados a diversos fatores, como os culturais, sociais, econômicos e, também, 
ao sexo, idade, interesses. Assim, na síntese desses fatores, são múltiplas e 
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diversas as possibilidades de análise e planejamento de atividades recreativas 
de lazer. O planejar minimiza a possibilidade de erros e torna mais provável o 
alcance dos objetivos propostos. No entanto, saber e ser criativo para impro-
visar quando necessário é uma das características do profissional atuante 
nessa área, pois sempre surgem condições imprevistas, mas que precisam ser 
supridas. A autonomia e participação no planejamento e todo o processo 
depende do local de trabalho. Há determinados lugares onde o profissional 
terá um maior grau de participação e autonomia no processo decisório, 
enquanto em outros o planejamento já é pré-determinado, e o profissional 
irá entrar apenas com sua força de trabalho na execução das tarefas a ele 
atribuídas. 
O planejamento de uma atividade de lazer é o elemento fundamental a 
ser percorrido para uma maior possibilidade de implementação e sucesso 
de uma atividade ou programa de atividades recreativas. O planejamento 
busca visualizar tudo o que será realizado, como será realizado e como será 
a avaliação para identificar se os objetivos foram ou não alcançados. Um 
projeto, programação e/ou atividade no campo do lazer e da recreação deve 
sempre ter um objetivo a ser alcançado. Por mais que tenhamos estudado 
como princípio os elementos relacionados às dimensões teóricas do lazer, 
da recreação e do lúdico (como proporcionar o prazer e a vivência lúdica), 
existem outros objetivos que também podem (ou devem) orientar as ativi-
dades. A integração social, a vivência e o conhecimento de elementos da 
cultura local e mais ampla, além da vivência e da construção de valores 
positivos para a vida em sociedade são exemplos de ações que também 
podem servir como guias.
A análise diagnóstica possibilita pensar a partir de situações concretas, 
conhecidas ou não. As situações concretas conhecidas podem estar relacio-
nadas, por exemplo, ao local/espaço onde serão realizadas, por exemplo,

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