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A filosofia grega APRESENTAÇÃO Nesta Unidade de Aprendizagem, debateremos a filosofia grega. Poderemos contextualizar um pouco da formação da própria filosofia, haja vista a importância do papel dos gregos no seu desenvolvimento. Podemos dizer, inclusive, que a filosofia como a conhecemos surgiu na Grécia antiga e foi com os filósofos gregos que assumiu as proporções atuais. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar conhecimento e misticismo.• Identificar os principais filósofos da Grécia antiga.• Comparar o método filosófico dos principais filósofos da Grécia antiga.• DESAFIO Para realizar este desafio, você deve ser capaz de analisar os sensos comuns produzidos na vida cotidiana através do pensamento mitológico e do pensamento filosófico. Este foi o esforço dos gregos, pioneiros da filosofia ocidental, empregar a razão para distinguir a verdade da mera opinião. Neste período, o interesse pelo conhecimento verdadeiro das coisas humanas e naturais era o que motivava os filósofos a confrontar os mitos e o senso comum. Diante disso, você tem como desafio escolher alguma situação da cultura popular e explicá-la conforme o rigor do pensamento filosófico que busca a verdade. Exemplos: - Para se tornar um grande violeiro deve-se passar a cobra coral entre os dedos. - Usar roupa amarela no réveillon atrairá dinheiro durante o ano novo. - Quebrar um espelho dá sete anos de azar. - Para gripe, chá com alho, mel e limão. - Morre aquele que toma leite com manga. INFOGRÁFICO Veja a seguir um esquema que ilustra o conteúdo desta Unidade. CONTEÚDO DO LIVRO A filosofia grega surgiu em meio à decadência da narrativa mítica. Ou seja, as narrativas sobre coisas divinas e sobrenaturais passaram a não convencer por se mostrarem distantes da vida ordinária dos cidadãos gregos. Nesse contexto, surge a filosofia pré-socrática, assim como surge a filosofia socrática com a ascensão da democracia ateniense. Platão e Aristóteles apresentam outras formas, ainda que distintas entre ambos, de pensar a realidade e as vias de conhecimento. Neste capítulo Filosofia grega, da obra Filosofia você poderá aprofundar seu conhecimentos acerca do que confere o status de conhecimento e de misticismo a determinada teoria, narrativa ou doutrina. Verá quais foram os protagonistas do pensamento grego e, por último, o papel de diferentes metodologias para a construção do conhecimento grego. Boa leitura. FILOSOFIA Mayara Joice Dionizio Filosofia grega Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar conhecimento e misticismo. Identificar os principais filósofos da Grécia Antiga. Comparar o método filosófico dos principais filósofos da Grécia Antiga. Introdução A diferenciação entre o conhecimento efetivo acerca da realidade e o que não pode ser comprovado existe ao menos desde a Grécia Antiga. Tal problematização permitiu compreender o que é ciência e o que são questões de fé, gerando a distinção entre mito e filosofia. As correntes da filosofia, em suas mais diversas vertentes, valorizam, como você sabe, a reflexão racional. Neste capítulo, você vai verificar o que diferencia o conhecimento de crenças individuais e místicas e como tal diferenciação se deu na Grécia Antiga. Você também vai conhecer os principais filósofos da Antiguidade Clássica e ver como as suas teorias se distinguem. Além disso, você vai verificar como os métodos utilizados por esses pensadores os auxiliaram a chegar ao que acreditavam ser o conhecimento. Conhecimento e misticismo Se hoje existe alguma diferenciação entre conhecimento e misticismo, tanto no âmbito das discussões cotidianas quanto no universo científi co, os respon- sáveis são os gregos antigos. Na atualidade, é comum diferenciar pareceres científi cos de opiniões, ou mesmo distanciar crenças individuais de postulados universais científi cos. Crenças relacionadas a narrativas lendárias, bruxaria e discursos religiosos, por exemplo, apesar de terem um grande valor social, cultural e individual, não podem ter validade científi ca na medida em que não é possível comprová-las e sistematizá-las a partir da realidade factual. Assim, a ciência é cética e se fundamenta a partir de conhecimento comprovável sobre a realidade. Na Grécia Antiga, esse foi um dos maiores paradigmas. A separação entre verdade (aletheia) e opinião (doxa) e entre ficção/mito e realidade aconteceu devido à falência do mito frente às novas correntes de pensamento que surgiram nesse período (JAEGER, 2013). Dessa forma, o distanciamento em relação às narrativas míticas se deu principalmente por uma mudança na educação do homem grego. Em síntese, houve uma alteração no modo de vida da Grécia Antiga. No período dito mítico, a educação era voltada aos ensinamentos de Ho- mero (928–898 a.C.) e Hesíodo (750–650 a.C.) e consistia em “[...] formar a aristocracia grega nos critérios de exaltação da coragem bélica e heroica, em elogiar a preparação para a guerra, para o cuidado da casa, treinar para o sucesso no exercício dos negócios particulares” (NUNES, 2017, p. 61). Por- tanto, o mito era uma maneira de explicar o mundo e os fenômenos naturais, mas também uma maneira de repassar valores morais e culturais às novas gerações (JAEGER, 2013). Nesse contexto, o termo grego areté (excelência, virtude) era norteador desse ideal de educação, pois buscava-se formar o cidadão, o guerreiro, com um caráter virtuoso em todos os aspectos e tendo excelência em seu desempe- nho social, qualquer que fosse (NUNES, 2017). Assim, as obras de Homero e Hesíodo serviram como ideal para o cidadão grego arcaico, já que retratavam as narrativas míticas que buscavam explicar a origem e as causas da realidade, bem como dos sentimentos e das virtudes humanas. Ao conhecer figuras heroicas como Ulisses e Aquiles, o cidadão grego aprendia com as virtudes desses personagens, a quem deveria buscar assemelhar-se. Entretanto, apesar de “educarem” o cidadão, as narrativas míticas tratavam sempre de fatos e acontecimentos exteriores à vida ordinária (JAEGER, 2013). Ou seja, ao inteirar-se de mitos com personagens sobre-humanos, o cidadão vivia uma espécie de paradoxo, pois via que em si não havia nada de sobrenatural. Assim, aos poucos, o mito vai perdendo a sua validade em relação à explicação da realidade; ele adquire cada vez mais valor cultural e menos valor epistemológico. Contudo, não há como determinar uma ruptura abrupta entre essas duas perspectivas, dado que outras explicações da rea- lidade foram sendo elaboradas aos poucos e que o cidadão ainda mantinha as suas crenças (JAEGER, 2013). Por volta do século VI a.C., o pensamento Filosofia grega2 filosófico vai ganhando espaço. A princípio, advém das cidades de Mileto e Éfeso, que eram pontos comerciais por serem cidades portuárias. Portanto, nessas cidades, acontecia o entrecruzamento cultural, pois os viajantes atracavam ali. As primeiras escolas filosóficas surgiram em Mileto e Éfeso. Pensadores como Tales de Mileto e Heráclito de Éfeso foram alunos e representantes da Escola Jônica, situada na cidade de Mileto (BORNHEIM, 1998). Para os filósofos pré-socráticos, a realidade deveria ser explicada causalmente a partir da natureza, do mundo, enfim, dela mesma. Portanto, as teorias desses pensadores partiam de reflexões sobre alguns temas específicos. Veja a seguir. Cosmologia: é o ramo do conhecimento que estuda a estrutura, a origem e a evolução do universo, bem como as suas causas, ou seja, o que ocasiona o surgimento, as relações, a materialidade de tudo o que existe. Kinesis: é movimento, devir. Em específico para os filósofos jônios, era possível compreender, por meio da natureza, o elemento regulador das mudanças em suas diferentes materialidades e aspectos. Physis: pode ser compreendida como natureza, entretanto o seusig- nificado é abrangente. A physis tinha relação, para os gregos, com o movimento. Ou seja, consistia na força e no movimento de fazer surgir, de mudar e de ordenar. Assim, a physis seria a responsável pela ordem, pela forma e por dar lugar a outros devires no mundo. Por exemplo: para haver o crepúsculo, é necessário que haja dia e noite. Arché: em sua acepção geral, de acordo com o significado literal da palavra grega, a arché pode ser compreendida como aquilo que dá origem a tudo, como o começo. Nesse sentido, esse princípio originário é o que possibilita o surgimento de tudo que há na physis, assim como o fim de todas as coisas. Ainda que inapreensível, a arché grega é a própria condição da possibilidade de existência das coisas. Logos: é a reflexão racional acerca do universo, da pólis e do homem grego. Tal cenário filosófico, no entanto, acaba por se bifurcar após a ascensão de Péricles ao governo ateniense: o chamado período clássico, ou período socrá- tico, traz a dimensão política e ética como objeto de preocupação, dividindo espaço com a filosofia pré-socrática, que aos poucos foi sendo abandonada (BORNHEIM, 1998). 3Filosofia grega O livro de Homero intitulado Odisseia narra a saga de Odisseu (que no mito romano se chama Ulisses), um dos grandes heróis da Guerra de Troia. A narrativa conta como foi o retorno de Odisseu à sua terra natal, Ítaca. No poema, Odisseu passa por vários lugares e várias situações em que se misturam elementos da realidade e da mitologia. Essa obra é uma das principais da Antiguidade Grega (JAEGER, 2013). Principais filósofos da Grécia Antiga A fi losofi a grega é dividida em períodos. Cada período é orientado por uma compreensão e por uma problematização acerca do mundo e do ser humano. Assim, cada um deles trouxe refl exões que contribuíram para o desenvolvi- mento do pensamento fi losófi co. É comum, por exemplo, surgirem, ao longo da história da fi losofi a, problematizações que trazem teorias do pensamento grego que, à primeira vista, parecem já ter sido esgotadas. Isso demonstra que o pensamento grego é fonte inesgotável de refl exão, oferecendo diferentes releituras e interpretações, além de novos desdobramentos. O primeiro período da filosofia grega trouxe avanços epistêmicos que contri- buíram para o entendimento da natureza e para a compreensão do mundo a partir da physis. Nesse contexto, alguns pensadores se destacaram. Tales, por exemplo, foi aluno da escola de Mileto e ficou conhecido pela teoria que afirma que a água é a physis, ou seja, a origem de tudo. Tales também ficou conhecido por introduzir reflexões matemáticas de origem oriental, uma vez que Mileto era uma cidade em que acontecia uma grande confluência cultural na época (BORNHEIM, 1998). Outro pensador que ganhou destaque no pensamento grego pré-socrático foi Anaximandro, responsável por aperfeiçoar o relógio de sol, produzir o primeiro mapa geográfico e, por fim, teorizar o universo a partir de uma arché que seria o conceito de apeirón (ilimitado). Ou seja, para ele, o princípio originário do mundo seria o movimento eterno, que tenderia a equilibrar os pontos divergentes: “[...] significaria a afirmação da lei do equilíbrio universal, garantida através do processo de compensação dos excessos (por exemplo, no inverno, o frio seria compensador dos excessos cometidos pelo calor durante o verão)” (BORNHEIM, 1998, p. 20). Outro pensador que se destaca entre os pré-socráticos é Pitágoras de Samos. Mais conhecido pelo seu teorema matemático, Pitágoras também foi autor de uma teoria que misturava divindade, harmonia, matemática e beleza. Filosofia grega4 Para ele, o cosmos e o ser humano estão ligados em divindade; a harmonia de ambos depende do estudo dos números. Assim, seria possível, a partir de uma estrutura numérica, desvendar a semelhança entre o ser humano e o universo (BORNHEIM, 1998). Vários outros pensadores contribuíram para a formação do pensamento grego, principalmente para a compreensão do mundo, do homem e do cosmos a partir da reflexão racional (BORNHEIM, 1998). Entretanto, com Péricles como governante de Atenas e a instauração da democracia, as problematizações filosóficas são deslocadas (NUNES, 2017). É a partir desse momento que a filosofia deixa de se ocupar dos questionamentos pré-socráticos e se volta para o comportamento ético e político do homem. Atenas se torna, então, um centro cultural e político: O papel que a educação adquire na Grécia clássica, em especial em Atenas, tem papel central, burocrático, porém democrático, tornando-se motivo e necessidade de debate, tendendo-se a universalizar-se para além dos limites da pólis (BORTOLINI; NUNES, 2018, documento on-line). Com a abertura democrática, o espaço público se torna um lugar para debates, apresentação de ideias e, inclusive, conflitos. O discurso em público se transforma em recurso pedagógico; ou seja, o local onde se expunham ideias era também o espaço em que os jovens ficavam a ouvir e aprender. É nesse período que surgem os sofistas, considerados grandes oradores. As concepções sofísticas eram extremamente relativistas, defendiam que o conhecimento é subjetivo. Assim, a verdade dependeria do ponto de vista, da doxa. Outro fator, que inclusive ocasionou uma crítica severa por parte de Sócrates, era que os sofistas, vendo a admiração e a vontade de ingresso dos mais jovens na vida política de Atenas, começaram a cobrar quantias e serem “tutores” dessa juventude ateniense (PLATÃO, 1986). Nesse contexto, Sócrates, que é considerado o pai da filosofia, ressalta que essa disciplina deve afastar os sofistas da educação da juventude ateniense, uma vez que o conhecimento deve ter como fim a verdade e não a mera opinião. Ou seja, para Sócrates, a verdade é única e só assim é possível estabelecer uma sociedade virtuosa (NUNES, 2017). Entretanto, tal verdade não pode ser imposta ou individualizada; ela deve ser buscada por meio da dialética. Sócrates foi mestre de Platão e, apesar de não ter deixado nenhuma obra, seus diálogos estão presentes na obra platônica, assim como a sua figura é mencionada por outros autores da época, como Aristóteles, Cícero e Diógenes. 5Filosofia grega A obra de Platão apresenta a decadência da democracia ateniense, bem como dos valores sociais e culturais do período. Ele é autor da obra intitulada República, em que apresenta o modelo de uma sociedade ideal: “[...] [a] tirania, contudo, é teorizada não apenas como resultado de tal decadência [democrá- tica], mas como ‘o ideal negativo da vida política’, por ser modelo da ‘destruição da vida pública pela lógica dos desejos’ (BIGNOTTO, 1998 apud REIS, 2018, documento on-line). A decadência da democracia ateniense se dá, segundo Platão (2014), no contexto da condenação de Sócrates à morte sob a acusação de corrupção da juventude e não culto aos deuses. Dessa forma, a primeira fase da obra platônica consiste em comunicar as ideias de Sócrates, bem como as críticas socráticas à política e ao estilo de vida da sociedade ateniense. Posteriormente, Platão se dedica ao estudo da geometria e à sua famosa teoria das ideias. Na última fase de sua obra, ele chega a uma reflexão mais crítica em relação ao pensamento socrático: o método desenvolvido por Sócrates se mostra insuficiente como meio para se garantir um sistema de conhecimento, pois conhecer não é só se chegar à verdade, mas também reencontrar o ser. Dito de outro modo: ao se buscar a verdade, também se busca o ser, visto que a verdade é o que é e a não verdade é o que não é. Depois de Platão, começa o período da filosofia aristotélica (NUNES, 2017). Aristóteles foi discípulo de Platão, entretanto a sua filosofia tem um caráter mais realista em relação à compreensão do mundo e do homem. Ou seja, enquanto a filosofia platônica propõe um sistema de conhecimento baseado nas ideias, Aristóteles busca compreender o mundo a partir do próprio mundo e da natureza, bem como compreenderos humanos a partir de suas relações entre si (JAEGER, 2013). Assim, a sua teoria apresenta uma relação empírica com a realidade e é a partir dessa interpretação que Aristóteles desenvolve a sua concepção de ética, de verdade, de ciência e de poética. O método dos principais filósofos da Grécia Antiga A distinção entre os métodos elaborados pelos fi lósofos da Grécia Antiga é devida às suas diferentes formações e infl uências e ao avanço intelectual do período em que viveram. Ou seja, o contexto intelectual, social e cultural de cada período trazia questões e problematizações diferentes. Assim, cada período do pensamento grego emprega uma problemática, um método de pesquisa e uma estrutura de sistema de conhecimento: cada fi lósofo e cada Filosofia grega6 período devem ser lidos de acordo com as preocupações do seu contexto. Nesse sentido, um fi lósofo pré-socrático não deve ser interpretado com vistas às suas semelhanças com um fi lósofo pós-socrático. Isso signifi ca dizer que cada fi lósofo se ocupou de aspecto do conhecimento, ainda que fi lósofos como Platão e Aristóteles tenham desenvolvido um sistema mais amplo de conhecimento. Com Sócrates, surgem os métodos mais conhecidos da história do pensa- mento grego antigo. Sócrates era conhecido por suas abordagens e perguntas aos cidadãos de Atenas (JAEGER, 2013). Na então jovem democracia, era comum ver oradores, sofistas e políticos debatendo publicamente. Sócrates incomodava-se com a falta de preocupação com a verdade única e com a manipulação das pessoas, principalmente dos jovens. Assim, ele andava pela cidade questionando os cidadãos com perguntas como: “o que é o bem?”, “o que é a virtude?”, “é possível conhecer a verdade?”. Essa abordagem ficou conhecida como dialética, que consiste em chegar a uma síntese a partir de duas posições antagônicas, ou seja, opostas. Quando você aborda alguém com perguntas, esse alguém busca respondê- -las, não é? Dessa forma, se estabelece um diálogo em busca de uma síntese, que seria um parecer final acerca das duas posições iniciais. Outro aspecto da abordagem socrática é a ironia: ao perguntar aos cidadãos coisas tidas como óbvias (“o que é ser bom?”), Sócrates se colocava como não conhe- cedor de nada, o que acabava levando os interlocutores a responderem, então ele devolvia com outra pergunta (o que é conhecido como método de retórica socrática). Sócrates comparava o seu método dialético à profissão de sua mãe, que foi parteira: ele dizia que dava à luz o conhecimento. Por isso, chamou seu método de “maiêutica”, termo de origem grega que faz alusão ao parto. A partir do pensamento socrático, Platão (2000), mais especificamente nos livros VI e VII, afirma que o conhecimento/essência de tudo também é alcan- çável por meio da filosofia. Assim, é abandonando a crença nas sensações e na experiência que se chega ao conhecimento verdadeiro. Desse modo, segundo Platão (2000), a verdade encontra-se no mundo das ideias, e é fazendo uso da racionalidade que se pode contemplar a essência das coisas para longe dos enganos das sensações. Portanto, é por meio do debate, da dialética, que se chega a uma ideia comum, universal, e desse modo se alcança o conhecimento verdadeiro, que, segundo Platão (2000), é equivalente ao bem. Mas é com Aristóteles que se vê uma compreensão que, de fato, rompe com vários ideais socráticos e platônicos. Aristóteles foi o filósofo grego que mais desenvolveu métodos (JAEGER, 1963), seja pela amplitude de sua obra 7Filosofia grega ou pela divergência (à primeira vista) entre as áreas de conhecimento de que ela trata. Nesse contexto, Aristóteles ficou conhecido pelos seus estudos em lógica, em que desenvolveu o silogismo. Este consiste em um argumento dedutivo, ou seja, a partir de duas premissas, chega-se à conclusão, que é a argumentação logicamente perfeita. Por exemplo: todos os homens são mortais (premissa universal); Aristóteles é homem (premissa particular); Aristóteles é mortal (conclusão). Outros estudos e teorias aristotélicas também foram, e são, de extrema relevância para o desenvolvimento de distintas áreas do conhecimento. Em sua obra, o filósofo desloca vários conceitos platônicos para uma relação mais valorativa com as sensações. Assim, o que se faz mais distinto, de modo geral, é a dignificação das sensações e da realidade presente na abordagem aristotélica. Os métodos aristotélicos eram aplicados de forma empírica; Aristóteles buscava estabelecer o seu sistema de conhecimento a partir da realidade e das experiências (JAEGER, 1963). O mesmo vale para a sua compreensão sobre a dialética: longe de ter a finalidade idealista de Platão, Aristóteles buscava o conhecimento mediante um diálogo argumentativo que partisse de premissas e que chegasse logicamente a argumentos consistentes, por meio de deduções. Mesmo com todas as distinções metodológicas, a contribuição grega para o desenvolvimento ocidental, independentemente da área do conhecimento, é incontornável. Como você viu, os pensadores da Grécia Antiga elaboraram noções importantes a respeito de conceitos abstratos, como o de virtude, e ainda se dedicaram às ciências exatas e naturais. No link a seguir, confira um vídeo sobre as distinções teóricas entre Sócrates, Platão e Aristóteles e sobre o pensamento desses filósofos gregos. https://qrgo.page.link/LjXZR Filosofia grega8 BORNHEIM, G. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998. BORTOLINI, R. W.; NUNES, C. A Paideia grega: aproximações teóricas sobre o ideal de formação do homem grego. Filosofia e Educação, v. 10, n. 1, jan./abr. 2018. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rfe/article/download/.../17695/. Acesso em: 21 jul. 2019. JAEGER, W. Aristóteles: bases para la historia de su desarrollo intelectual. México, Panuco: Fondo de Cultura Economica, 1963. JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. 6. ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. NUNES, C. Da filosofia do amor ao amor à filosofia. Campinas: Librum Edições & Edições Brasílica, 2017. PLATÃO. Apologia de Sócrates. Porto Alegre: L&PM, 2014. PLATÃO. A república ou sobre a Justiça, diálogo político. Belém: Universitária UFPA, 2000. PLATÃO. Protágoras. Fortaleza: Edições UFC, 1986. REIS, M. Democracia grega: a antiga Atenas (séc. V A. C. ). Sapere Aude, v. 9, n. 17, jan./ jun. 2018. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/SapereAude/article/ view/17648. Acesso em: 21 jul. 2019. Leitura recomendada SÓCRATES, Platão e Aristóteles: documentário filósofos e a educação. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (25 min). Publicado pelo canal Rony Historiador. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=6s2yErEe7tc. Acesso em: 21 jul. 2019. 9Filosofia grega DICA DO PROFESSOR O vídeo a seguir traz mais informações para que possamos discutir um pouco sobre a filosofia grega. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Na Grécia antiga, as explicações para quase todas as coisas estavam centradas na natureza (physis) e no cosmos, assim como o próprio entendimento da realidade. O misticismo ainda influenciava o que se produzia de conhecimento e a "fúria dos deuses" ainda parecia responder aos questionamentos dos gregos para o que lhes acontecia, de bom ou de mal. Assim, temos que os primeiros problemas filosóficos gregos foram: A) Cosmológicos. B) Axiológicos. C) Epistemológicos. D) Sociológicos. E) Ideológicos. 2) A filosofia grega surge como uma resposta racional às explicações místicas sobre os fatos naturais e o comportamento humano. O seu desenvolvimento ocorre a partir de discussões sobre as diferenças entre: A) Conhecimento e razão. B) Conhecimento e misticismo. C) Conhecimento e ceticismo. D) Razão e emoção. E) Misticismo e ceticismo. 3) No esforço por compreender de maneira racional as coisas e empregando sua capacidade intelectual, os filósofos clássicos gregos abordaram temas presentes aindahoje em pesquisas científicas das mais variadas áreas do conhecimento. Dentre os temas com os quais a filosofia grega se ocupa, destacam-se três, que são: A) As pólis, a política e a ética. B) As ciências humanas, as ciências exatas e as ciências biológicas. C) A natureza, o homem e a felicidade. D) A democracia, a aristocracia e a monarquia. E) A geometria, a aritmética e a matemática. 4) Na etapa de sua trajetória em que ainda se detinha em investigar a natureza (physis), na tentativa de explicar a origem do universo e da vida, a filosofia grega se desenvolveu através de grandes pensadores. Dentre eles, um é considerado como o primeiro filósofo. Esse filósofo é: A) Sócrates. B) Platão. C) Aristóteles. D) Tales de Mileto. E) Pondé. 5) Desde a sua origem, o homem afirma, nega, deseja e recusa coisas e pessoas em sua vida cotidiana, atribuindo juízos de valor pelos quais se orienta. Contudo, em determinado momento histórico de seu desenvolvimento intelectual, o homem passou a conferir um caráter filosófico aos seus questionamentos, discutindo racionalmente antigas crenças e valores. Dessa forma, é correto afirmar que a filosofia: A) Inicia com o desejo do ser humano em consolidar suas crenças e valores, fruto do desejo humano. B) Existe desde que o homem é homem, não existindo, assim, um ponto de partida referencial. C) Começa com o homem aceitando os dogmas existentes sem questionar sua verdade. D) Surge com a insatisfação do homem com as respostas místicas sobre as coisas do universo, a partir do uso da racionalidade para tentar explicá-las. E) Surge nos dias atuais a partir do avanço das novas tecnologias e da especialização do conhecimento humano. NA PRÁTICA Na prática, foi a partir da filosofia grega que chegamos à democracia, presente até os dias de hoje em nossas vidas. Em grego, democracia é a soma de demo (povo) com kracia (governo), literalmente o "governo do povo". Podemos dizer que na Grécia antiga ocorreu uma espécie de democracia direta. Nessa época, a Grécia era dividida em cidades-nações, as chamadas pólis. Os cidadãos se reuniam em praças públicas denominadas ágoras para deliberar diretamente com os políticos sobre os seus destinos. É preciso lembrar, porém, que nem todos os indivíduos eram considerados cidadãos gregos nesse período, como, por exemplo, as mulheres e os escravos. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Filosofia - Textos fundamentais comentados
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