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Chapecó São José Ilhota Joinville São Bento do Sul Lages Tubarão Criciúma Caçador Balneário Rincão Florianópolis Abdon Batista Abelardo Luz Agrolândia Agronômica Água Doce Águas Frias Águas Mornas Alfredo Wagner Alto Bela Vista Anchieta Angelina Anita Garibaldi Anitápolis Antônio Carlos Apiúna Arabutã Araquari Araranguá Armazém Arroio Trinta Ascurra Atalanta Balneário Arroio do Silva Balneário Barra do Sul Balneário Gaivota Bandeirante Barra Velha Bela Vista do Toldo Belmonte Benedito Novo Biguaçu Blumenau Bocaina do Sul Bom Jardim da Serra Bom Jesus Bom Jesus do Oeste Bom Retiro Botuverá Braço do Norte Braço do Trombudo Brunópolis Brusque Caibi Calmon Capão Alto Campo Alegre Campo Belo do Sul Campo Erê Campos Novos Canoinhas Capinzal Capivari de Baixo Catanduvas Caxambu do Sul Celso Ramos Cerro Negro Chapadão do Lageado Cocal do Sul Concórdia Cordilheira Alta Coronel Freitas Correia Pinto Cunha Porã Cunhataí Curitibanos Descanso Dionísio Cerqueira Dona Emma Doutor Pedrinho Entre Rios Ermo Erval Velho Faxinal dos Guedes Formosa do Sul Forquilhinha Fraiburgo Frei Rogério Galvão Garopaba Garuva Gaspar Governador Celso Ramos Grão Pará Gravatal Guabiruba Guaraciaba Guaramirim Guarujá do Sul Guatambú Herval d'Oeste Ibiam Ibicaré Ibirama Içara Imaruí Imbituba Imbuia Indaial Iomerê Ipira Iporã do Oeste Ipuaçu Ipumirim Iraceminha Irani Irati Irineópolis Itá Itaiópolis Itajaí Itapiranga Itapoá Ituporanga Jaborá Jacinto Machado Jaguaruna Joaçaba José Boiteux Jupiá Lacerdópolis Laguna Lajeado Grande Lauro Muller Lebon Régis Leoberto Leal Lindóia do Sul Luiz Alves Luzerna Macieira Mafra Major Gercino Major Vieira Maracajá Maravilha Marema Massaranduba Matos Costa Meleiro Mirim Doce Modelo Mondaí Monte Carlo Monte Castelo Morro da FumaçaMorro Grande Navegantes Nova Erechim Nova Itaberaba Nova Trento Nova Veneza Novo Horizonte São Lourenço do Oeste Orleans Otacílio Costa Ouro Ouro Verde Paial Painel Palhoça Palma Sola Palmeira Palmitos Papanduva Paraíso Passo de Torres Passos Maia Paulo Lopes Pedras Grandes Penha Peritiba Pescaria Brava Petrolândia Balneário Piçarras Pinhalzinho Pinheiro Preto Piratuba Planalto Alegre Pomerode Ponte Alta Ponte Alta do Norte Ponte Serrada Porto União Pouso Redondo Praia Grande Presidente Getúlio Presidente Nereu Princesa Quilombo Rancho Queimado Rio das Antas Rio do Campo Rio do Oeste Rio dos Cedros Rio do Sul Rio Fortuna Rio Negrinho Rio Rufino Riqueza Rodeio Romelândia Salete Saltinho Salto Veloso Sangão Santa Cecília Santa Helena Santa Rosa de Lima Santa Rosa do Sul Santa Terezinha Santa Terezinha do Progresso Santiago do Sul Santo Amaro da Imperatriz São Bernardino São Bonifácio São Carlos São Cristovão do Sul São Domingos São Francisco do Sul São João do Oeste São João do Itaperiú São João do Sul São Joaquim São José do Cedro São José do Cerrito São Ludgero São Martinho São Miguel da Boa Vista São Pedro de Alcântara Saudades Schroeder Seara Serra Alta Siderópolis Sombrio Sul Brasil Taió Tangará Timbé do Sul Timbó Timbó Grande Três Barras Treviso Treze de Maio Treze Tílias Trombudo Central Tunápolis Turvo Urubici Urupema Urussanga Vargeão Vargem Vargem Bonita Vidal Ramos Videira Vitor Meireles Witmarsum Xanxerê Xavantina Xaxim Zortéa Presidente Castello Branco União do Oeste Tigrinhos São Miguel do Oeste Jardinópolis Flor do Sertão Coronel Martins Águas de Chapecó Arvoredo Aurora Barra Bonita Corupá Jaraguá do Sul Laurentino Lontras Camboriú Bombinhas Balneário Camboriú Canelinha São João Batista Tijucas Porto Belo Itapema ® 0 9 18 27 364,5 km Escala Gráfica PROJEÇÃO UTM - FUSO 22° E S T A D O D O R I O G R A N D E D O S U L E S T A D O R E P Ú B L I C A A R G E N T I N A A T L Â N T I C OD O P A R A N Á O C E A N O 236.000 110.000 50.000 1.260 590.466 Total de Habitantes Fonte: IBGE - Estimativas de População 2019 SANTA CATARINA ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO 2019 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA POPULAÇÃO | Fascículo 3 AT LA S G EO G RÁ FI C O D E SA N TA C AT A RI N A PO PU LA Ç ÃO 3 ® D et al he m od ifi ca do d e fo to gr af ia d e N az ar en o Jo sé d e C am po s (2 01 2) EDITORA Es tu da nt es e nt ra nd o na e sc ol a, m un cí pi o de Im bu ia (2 01 8) . ® D et al he m od ifi ca do d e fo to gr af ia d e G ise lli V en tu ra d e Je su s. Es tu da nt es e m a ul a na u ni ve rs id ad e, m un cí pi o de F lo ri an óp ol is (2 01 8) . ® D et al he m od ifi ca do d e fo to gr af ia d e Is a de O liv ei ra R oc ha . GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável Diretoria de Desenvolvimento Urbano ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA POPULAÇÃO | Fascículo 3 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA POPULAÇÃO | Fascículo 3 Isa de Oliveira Rocha (Organizadora) GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável Diretoria de Desenvolvimento Urbano 2ª Edição Florianópolis, 2019 EDITORA ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Po pu la çã o 5 GOVERNO DO ESTADO DE SANTA CATARINA GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA CARLOS MOISÉS DA SILVA SECRETÁRIO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL LUCAS ESMERALDINO SECRETÁRIO ADJUNTO DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL AMANDIO JOÃO DA SILVA JÚNIOR DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO URBANO Norton Flores Boppré GERENTE DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL Jorge Hector Rebollo Squera COORDENADOR DE INFORMAÇÕES E GEORREFERENCIAMENTO Thobias Leôncio Rotta Furlanetti Apresentação Equipe Técnica Isa de Oliveira Rocha (Org. UDESC) Marco Aurélio Leite Pedro Agripino Sagaz Sergio Machado Mibielli Thobias Leôncio Rotta Furlanetti Estagiários de Geografia Guilherme Regis Gislene Daiana Martins (2018) Estagiário de Estatística Renato Ramos Razera (2018) Apoio Jurema Lorenzini Sérgio Maurílio dos Santos Cristina Mara Couldrey Projeto gráfico Heloisa de Oliveira Ganzo Vieira Editoração Cheila Pinnow Zorzan Tiragem: 5.000 exemplares Capa em papel Triplex 250g e miolo em papel Couche 170g UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA REITOR PROF. DR. MARCUS TOMASI VICE-REITOR PROF. ME. LEANDRO ZVIRTES CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO Diretora Geral – Profa. Dra. Julice Dias DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Chefe – Prof. Dr. Jairo Valdati Subchefe – Prof. Dr. André Souza Martinello PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO SOCIOAMBIENTAL Coordenadora – Profa. Dra. Gláucia de Oliveira Assis Subcoordenador – Prof. Dr. Douglas Ladik Antunes Termo de convênio de cooperação técnico-científica celebrado entre a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC e a Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina – SPG/SC (Diário Oficial do Estado nº 20.564, de 30 de junho de 2017). Agradecimentos Ao Professor Dr. Armen Mamigonian pela contínua colaboração. A Santa Catarina Turismo – SANTUR pela disponibilização de fotografias. A Editora UDESC e aos Laboratórios de Planejamento Urbano e Regional – LABPLAN e de Geoprocessamento – GEOLAB da UDESC pelos diversos apoios. In memoriam Professora Dra. Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira (1946-2018), geógrafa e intelectual brilhante, mulher ativa e lutadora. O primeiro capítulo deste Fascículo 3 foi seu último trabalho. Carlos Moisés da Silva Governador do Estado de Santa Catarina Com muita satisfação apresentamos a publicação da segunda edição do Fascículo 3 – População do Atlas Geográfico de Santa Catarina. Obra que trata da diversidade do povo catarinense, desde suas origens, é resultado da parceria entre aSecretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável e a UDESC, contando com a contribuição voluntária de pesquisa- dores e especialistas que desenvolveram aprofundados estudos sobre o tema. Destaca-se que a obra expõe a riqueza da nossa população em muitos mapas, fotogra- fias, dados históricos, análises e projeções populacionais para 2050. O Atlas também disponibiliza informações municipais, regio- nais e estaduais de fácil visualização e inter- pretação, subsídio de extrema importância para as tomadas de decisões do setor produ- tivo e governamental, além de oferecer conteúdo muito completo para a educação escolar, acadêmica e demais interessados. Além da pujança econômica, o nosso Estado de Santa Catarina é referência nacional na valorização da cultura e das tradições de sua receptiva e laboriosa gente. Tudo isso é reflexo do processo de formação do povo catarinense, que é um amálgama de força, empreendedorismo e perseverança das várias etnias que aqui se perpetuaram ao longo do tempo e hoje compõem o tesouro mais valioso que temos. ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA POPULAÇÃO | Fascículo 3 Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Alice de Amorim Borges Vazquez – CRB 14/865 Biblioteca Central da UDESC S231a Santa Catarina. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável. Diretoria de Desenvolvimento Urbano. Atlas geográfico de Santa Catarina : população – fascículo 3. 2. ed. / Santa Catarina. Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável. Diretoria de Desenvolvimento Urbano ; Isa de Oliveira Rocha (Org.) – Florianópolis: Ed. da UDESC. 176 p. : il. Inclui referências. ISBN Impresso: 978-85-8302-174-2 ISBN E-book: 978-85-8302-175-9 1. Santa Catarina - atlas geográfico. 2. Santa Catarina - mapas. I. Rocha, Isa de Oliveira. II. Título. CDD: 912.8164 – 20. ed. ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Po pu la çã o 7 Prefácio Lucas Esmeraldino Secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável Basta olhar no cotidiano, no detalhe e ao redor. Prédios, praças e lugares são marcos geográficos, mas, sobretudo, afetivos da nossa Santa ‘e Bela’ Catarina. A gente se vê em cada contexto, situação e movimento. Diversas matizes, multiplicidades, contrastes, raízes e rumos e, de repente, reco- nhecemo-nos: somos um; nativos ou não, com alma e jeito catarinense! Neste sentido, ao apresentarmos o Fascí- culo 3, intitulado População, do novo Atlas Geográfico de Santa Catarina (as edições anteriores discorreram sobre o Estado e Território, bem como Diversidade da Natu- reza, respectivamente) temos a oportu- nidade de reconhecer e celebrar nossas origens, migrações, narrativas e consti- tuição plural – do indígena, do caboclo, do europeu, do açoriano e do africano. Este documento traz portanto não apenas documentos, registros e mapas mas, espe- cialmente, representa um pouco da nossa miscigenação e memória multiétnica, eviden- ciando a nossa indivisível constituição. Mais do que construções, somos catari- nenses dotados de significados, símbolos e ideias e a Udesc – parceira da SDE, neste movimento – soube expressar com compe- tência e sensibilidade, as nuances da compo- sição do nosso tecido social. Santa Catarina é isto: sinônimo de vidas, relações e regionalismos, símbolo que consegue exprimir na racionalidade geomé- trica ou geográfica, um emaranhado de exis- tências humanas, contemplando percursos do passado, caminhos do presente sem deixar de desenhar o nosso futuro. O Atlas, que passa a ser disponibilizado na versão impressa e online para escolas, bibliotecas e demais interessados, ressalta que somos todos parte desta urbe, somos catarinenses em permanente sinergia, formação e reinvenção. ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Po pu la çã o 8 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Po pu la çã o 9 Sumário Introdução ........................................................................................................................................................................... 11 Localização .......................................................................................................................................................................... 13 Capítulo 1 | Gênese da Formação Econômica e Social .......................................................................... 16 Gênese da formação econômica e social ................................................................................................................................ 19 Santa Catarina e a singularidade da formação meridional brasileira ....................................................................................... 20 A particularidade do relevo de Santa Catarina frente aos estados vizinhos ............................................................................. 21 Conquista e colonização de Santa Catarina ............................................................................................................................ 22 Considerações finais .............................................................................................................................................................. 31 Referências ............................................................................................................................................................................. 32 Capítulo 2 | Povos Indígenas ................................................................................................................... 34 Povos Indígenas ..................................................................................................................................................................... 39 Antes de Santa Catarina ......................................................................................................................................................... 39 Narrativas indígenas sobre o território ................................................................................................................................... 41 Dos territórios tradicionais às terras tradicionalmente ocupadas .......................................................................................... 43 A tutela perversa .................................................................................................................................................................... 45 Movimento indígena e direitos contemporâneos ................................................................................................................... 47 Referências ............................................................................................................................................................................ 49 Capítulo 3 | Povoamento Vicentista e Açoriano-madeirense ................................................................. 50 Povoamento vicentista e açoriano-madeirense ....................................................................................................................... 55 Presença vicentista: primeira tentativa efetiva de ocupação do território .............................................................................. 56 Inserção da área litorânea catarinense ao mercantilismo luso ................................................................................................ 57 Povoamento açoriano-madeirense enquanto parte do processo ............................................................................................ 58 Forte economia inicial seguida de gradual decadência econômica ......................................................................................... 58 Do “Amarelo Indolente” ao Açoriano Descendente: uma identidade para o litoral ................................................................61 Etnização, espetacularização e mercantilização da açorianidade ............................................................................................ 64 A temática cultural açoriana e sua inserção na Educação Escolar Catarinense ....................................................................... 65 Considerações finais .............................................................................................................................................................. 67 Referências ............................................................................................................................................................................ 68 Capítulo 4 | População de Origem Africana ........................................................................................... 70 População de origem africana ............................................................................................................................................... 79 Referências ............................................................................................................................................................................. 88 Capítulo 5 | A Presença da População Cabocla ...................................................................................... 90 A presença da população cabocla .......................................................................................................................................... 95 População cabocla .................................................................................................................................................................. 95 A Guerra do Contestado......................................................................................................................................................... 95 Os remanescentes de Taquaruçu ........................................................................................................................................... 95 Comunidade Cafuza ............................................................................................................................................................... 97 Considerações finais ............................................................................................................................................................ 100 Referências ........................................................................................................................................................................... 101 Prefácio Marcus Tomasi Reitor da Udesc 2016-2020 O distanciamento de uma visão autárquica, ideográfica e funcio-nalista da realidade catarinense requer a adoção da Geografia enquanto uma interrogação permanente do mundo (Pierre Monbeig), capaz de descrever e explicar a gênese, a evolução e a estru- tura das formações sociais presentes em Santa Catarina. Aqui a compreensão das leis específicas da população é um dos elementos-chave para compreensão da complexidade e diversidade territorial, objeto de estudo da Geografia da Popu- lação, formada pela intersecção entre a Geografia, Demografia e as demais áreas do conhecimento. Grandes estudiosos priorizaram a temá- tica populacional no contexto dos estudos geográficos no final do século XIX e início do XX, desde Lavasseur (“A População Francesa”), Ratzel (“Antropogeografia”), La Blache (“Princípios de Geografia Humana”) a Brunhes (“Geografia Humana”). Contudo, apenas nos anos de 1950, Pierre George introduziu o termo Geografia da População na literatura corrente e G. Trewarta propôs o desenvolvimento de uma disciplina individualizada denomi- nada Geografia da População. Trabalhos que, por certo, serviram de inspiração na realização de importantes estudos no Brasil pela notável geração de geógrafos dos anos de 1950, formada por Aziz Ab’Saber, laureado com o título de Doutor Honoris Causa da Udesc, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, Manoel Correia de Andrade, Armen Mamigonian, Milton Santos e o florianopolitano Victor Antônio Peluso Júnior, o maior nome da Geografia de Santa Catarina, autor de relevantes trabalhos sobre a população catarinense. O Terceiro Fascículo (População) do Atlas Geográfico de Santa Catarina faz jus ao destaque de importante contribuição aos estudos sobre a população do Estado de Santa Catarina, dando continuidade ao valoroso trabalho na área efetivado pelo eminente geógrafo da geração dos anos de 1950 Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, presente no Atlas Geográfico de Santa Catarina de 1958, publicação pioneira entre os estados brasileiros, cuja idealização e concretização deve muito ao geógrafo catarinense Carlos Büchele Júnior. A nova versão do Atlas Geográfico de Santa Catarina (Fascículo 3 – População) é respeitável fonte de dados e informações aos estudos sobre o envolver da história de Santa Catarina e reflete o papel e o valor das pesquisas realizadas no ensino supe- rior brasileiro, a exemplo da Udesc e Ufsc. ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Po pu la çã o 11ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Po pu la çã o 10 Introdução Em 2013, após um longo período de intentos, a Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Catarina – SPG/SC, por meio da Diretoria de Estatística e Cartografia, iniciou a publicação de um novo Atlas Geográfico de Santa Catarina, na forma de fascículos avulsos, para agilizar o manuseio e a necessária atualização dos dados e informações. O formato do território catarinense e a quantidade de municípios com pequenas áreas foram determinantes na escolha das escalas dos mapas temáticos e no tamanho do Atlas, pois além do prático manuseio, é preciso ser facilmente legível. Na organização dos fascículos e dos seus capítulos buscou-se aplicar os pressupostos dos paradigmas geográficos Geossistema (C. A. Figueiredo Monteiro) e Formação Sócio-Espacial (M. Santos). Isto é, enseja- -se abarcar a realidade geográfica do estado de Santa Catarina a partir de uma visão de totalidade (Natureza e Sociedade e suas inter-relações), conforme propõe Armen Mamigonian no texto Tendências atuais da Geografia (Revista Geosul, n. 28, 1999). O Fascículo 1 – Estado e Território, lançado em setembro de 2013, apresenta a gênese e a evolução da divisão político-adminis- trativa do território de Santa Catarina. Na sequencia, em 2014, o Fascículo 2 – Diver- sidade da Natureza disponibiliza mapas e textos sobre os aspectos físico-naturais catarinenses. Em 2016 a Secretaria de Estado do Planejamento de Santa Cata- rina disponibilizou no formato e-Book a segunda edição atualizada dos Fascículos 1 e 2 . O Fascículo 3 – População, lançado em 2018, tem sua segunda edição em 2019, apoiada pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável. Notas sobre o Fascículo 3 – População A presente segunda edição do Fascículo 3 – População, com atualizações, expõe mapas e textos com dados, informações e análises, do passado ao presente, sobre a complexidade da formação social do território estadual de Santa Catarina. Autores de diferentes instituições contribuiram voluntariamente na redação dos nove capítulos. O processo de conquista e colonização do estado de Santa Catarina – gênese da formação econômica e social catarinense – desde meados do século XVII até as primeiras décadas do século XX, é desenvolvido no Capí- tulo I – Gênese da Formação Econômica e Social de Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira (in memoriam, 1946-2018) e Maria Graciana Espellet de Deus Vieira. As autoras decifram a realidade geográfica – no espaço e no tempo – a partir da interconexão da complexidade da natureza e da sociedade, conforme a visão interpretativa de Armen Mamigonian (1999). O Capítulo II – Povos Indígenas de autoria de Luisa Tombini Wittmann e Clovis Antonio Brighenti trata sobre as populações indígenas que ocupam o atual território catarinense, descendentes de antigos grupos,atual- mente conhecidos como Guarani, Kaingang e Xokleng. Estes três povos indígenas que compõem o cenário cultural em Santa Cata- rina vivem predominantemente e respectiva- mente no litoral, no oeste e no Vale do Itajaí. O Povoamento Vicentista e Açoriano-Madei- rense, título do Capítulo III, foi elaborado por Nazareno José de Campos, Marcela Krüger Corrêa e Leila Procópia do Nascimento. O conteúdo apresenta as principais caracterís- ticas e heranças da corrente de povoamento de origem lusa no litoral de Santa Catarina. O Capítulo IV – População de Origem Afri- cana de Beatriz Gallotti Mamigonian e Diego Nones Bissigo analisa a população afrodes- cendente catarinense ao longo do tempo e do espaço. A sistematização das pesquisas de dados e informações detalhadas permitiu a elaboração de mapas inéditos que demons- tram a contribuição da presença dos afro- descendentes na história da formação social e econômica de Santa Catarina. Pedro Martins e Tania Welter expõem no Capítulo V – A Presença da População Cabocla a trajetória deste grupo, que por muito tempo foi invisibilizado no contexto multicul- tural e multiétnico catarinense. Atualmente, a população cabocla conquistou seu reconhe- cimento, mas em muitos casos ainda vive sob condições de margilidade social, com dificul- dades de acesso a políticas públicas. O Capítulo VI – A Colonização Europeia desenvolvido por João Klug, Manoel Teixeira dos Santos e Angela Bernadete Lima apre- senta o processo de colonização do território estadual a partir do período do Primeiro Reinado, na primeira metade do século XIX, até meados do século XX. O estudo abarca as linhas gerais desta ocupação majoritária em pequenas propriedades e também descor- tina detalhes até então desconhecidos. O Capítulo VII – Migrações Internas e Inter- nacionais Recentes, de autoria de Gláucia de Oliveira Assis, Francisco Canella, Maria das Graças Santos Luiz Brightwell (in memoriam, 1967-2018) e Luís Felipe Aires Magalhães, traça um panorama das migrações internas e internacionais da segunda metade do século XX e início do século XXI a partir de fontes diversas, até então dispersas. Rosana Baeninger e Pier Francesco De Maria são os autores do Capítulo VIII – Características Gerais da População (1950-2050) e Capítulo IX – Perfil Socio- demográfico e Econômico da População. Os capítulos analisam respectivamente as características gerais da população catarinense, sua evolução nos últimos 70 anos e as projeções até 2050, e como esta população mudou ao longo do tempo, com relação à cor, religião, escolaridade, ocupação, pendularidade etc. Os mapas temáticos dos capítulos, confeccio- nados em distintos programas de geopro- cessamento, apresentam diversas escalas e bases cartográficas, determinadas conforme a necessidade do nível de detalhamento ou generalização dos assuntos tratados. A contracapa e todos os capítulos foram ilus- trados com várias fotografias cedidas por fotógrafos amadores e profissionais, algumas são do acervo de instituições. Capítulo 6 | Colonização Europeia ....................................................................................................... 102 Colonização europeia .......................................................................................................................................................... 107 O processo de colonização .................................................................................................................................................. 107 Primeiro Reinado (1822-1831) ............................................................................................................................................. 107 Período Regencial (1831-1840) ............................................................................................................................................ 108 Segundo Reinado (1840-1889) ............................................................................................................................................. 108 Primeira República (1889-1930 ............................................................................................................................................ 115 Outros casos após anos 1930 .............................................................................................................................................. 118 Referências ........................................................................................................................................................................... 122 Capítulo 7 | Migrações Internas e Internacionais Recentes ................................................................. 124 Migrações internas e internacionais recentes ....................................................................................................................... 127 Migrações internas ............................................................................................................................................................... 128 Os imigrantes internacionais dos anos 1960-1970 .............................................................................................................. 131 Os emigrantes catarinenses do final do século XX e início do século XXI ............................................................................. 136 Considerações finais ............................................................................................................................................................ 138 Referências ........................................................................................................................................................................... 140 Capítulo 8 | Características Gerais da População (1950-2050) ............................................................ 142 Características gerais da população (1950-2050) ................................................................................................................. 151 Crescimento e distribuição espacial da população ............................................................................................................... 151 Indicadores demográficos e população por grupos de idade ................................................................................................ 156 Projeções populacionais (2015-2050) .................................................................................................................................. 159 Referências ........................................................................................................................................................................... 161 Capítulo 9 | Perfil Sociodemográfico e Econômico da População (1991-2015) .................................. 162 Perfil sociodemográfico e econômico da população (1991-2015) ........................................................................................ 165 Características econômicas e ocupacionais .......................................................................................................................... 165 Analfabetismo e escolaridade .............................................................................................................................................. 168 Perfil da nupcialidade e da família catarinense ..................................................................................................................... 169 Evolução e distribuição da população por religião ................................................................................................................ 172 Desenvolvimento humano e vulnerabilidade social .............................................................................................................. 172 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA Po pu la çã o 13 Po pu la çã o 12 O estado de Santa Catarina, situado no Sul do Brasil, entre os paralelos 25°57’18”e 29°21’07” de latitude Sul e entre os meridianos 48°19’37” e 53°50’12” de longitude Oeste, limita-se ao Norte com o estado do Paraná, ao Sul com o estado do Rio Grande do Sul, a Leste com o Oceano Atlântico e a Oeste com a República Argentina. Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, respectivamente formam a Região Sul. Com 95.703,487km², ocupando 1,12% da área territorial brasileira e 16,97% da área total da Região Sul, Santa Catarina apresenta área maior que a de alguns países como Áustria, Irlanda, Portugal, entre outros. Localização Localização do Estado de Santa Catarina Po pu la çã o 14 Po pu la çã o 15 ESTADO DE SANTA CATARINA SECRETARIA DE ESTADO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL MAPA POLÍTICO 2019 Capítulo I Gênese da Formação Econômica e Social !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !( !(!( !( !( !( !( !( !( Santa Helena Belmonte Serra Alta Coronel Martins Formosa do SulIrati Sul Brasil Jardinópolis União do Oeste Nova Itaberaba Cordilheira Alta Lajeado Grande Marema Planalto Alegre Guatambú Ipuaçu Ouro Verde Passos Maia Xavantina Arabutã Presidente Castello Branco Lacerdópolis Abdon Batista Vargem Princesa Bandeirante Tigrinhos Flor do Sertão Bom Jesus do Oeste Cunhataí Santiago do Sul Entre Rios Paial Bom Jesus Iomerê Ibiam Frei Rogério Capão Alto Bela Vista do Toldo Painel Bocaina do Sul Palmeira Cerro Negro Witmarsum Saltinho Agronômica Morro Grande Presidente Nereu Santa Rosa de Lima Pedras Grandes Sangão Major Gercino São Bonifácio São Martinho Rio Rufino Gravatal Luzerna Balneário Gaivota Ascurra Lauro Muller Siderópolis Balneário Barra do Sul Balneário Piçarras Porto Belo Bombinhas Dionísio Cerqueira São José do Cedro Cunha Porã Pinhalzinho Palmitos São Carlos Faxinal dos Guedes Ponte Serrada Abelardo Luz Taió Papanduva Urubici Presidente Getúlio Itaiópolis Corupá Itapiranga Campo Erê Irani Catanduvas Lebon Régis Pouso Redondo Lontras Bom Retiro Schroeder Campo Alegre Ilhota São Ludgero Balneário Arroio do Silva Turvo Braço do Norte Urussanga Araquari Barra Velha Penha Itapema Tijucas Maravilha Xaxim Capinzal Joaçaba Herval d'Oeste Campos Novos Correia Pinto Otacílio Costa Sombrio Guaramirim Santa Cecília Ituporanga Ibirama Guabiruba São João Batista Governador Celso Ramos Santo Amaro da Imperatriz Garopaba Orleans Cocal do Sul Forquilhinha Capivari de Baixo Jaguaruna São Miguel do Oeste Xanxerê Concórdia Caçador Videira Curitibanos Mafra Rio do Sul São Bento do Sul Indaial Içara Araranguá Tubarão Jaraguá do Sul Brusque Gaspar Balneário Camboriú Camboriú Biguaçu Laguna Palhoça Porto União Fraiburgo São Francisco do Sul Timbó Navegantes Guarujá do Sul Paraíso Anchieta Tunápolis São João do Oeste Iraceminha Riqueza Modelo Nova Erechim Águas de Chapecó Caxambu do Sul Vargeão Lindóia do Sul Ipumirim Vargem Bonita Jaborá Peritiba Ipira Zortéa Calmon Rio das Antas Arroio Trinta Pinheiro Preto Erval Velho Major Vieira Santa Terezinha Rio do Campo Mirim Doce Ponte Alta do Norte São José do Cerrito Vitor Meireles José BoiteuxDona Emma Braço de Trombudo Aurora Atalanta Petrolândia Urupema Bom Jardim da Serra Timbé do Sul São João do Sul Doutor Pedrinho Alfredo Wagner Rancho Queimado Anitápolis Rio Fortuna Treviso Treze de Maio Luiz Alves Antônio Carlos Angelina São Pedro de Alcântara Águas Mornas Guaraciaba Descanso Iporã do Oeste Palma Sola Mondaí Caibi Saudades Quilombo Coronel Freitas Itá Água Doce Piratuba Ouro Treze Tílias Ibicaré Anita Garibaldi Salto Veloso Timbó Grande São Cristóvão do Sul Ponte Alta Monte Castelo Salete Rio do Oeste Laurentino Trombudo Central Meleiro Jacinto Machado Santa Rosa do Sul Praia Grande Passo de Torres Rio dos Cedros Apiúna Grão Pará Maracajá Massaranduba Canelinha Paulo Lopes Armazém Imaruí São Domingos Três Barras Nova Veneza Morro da Fumaça Canoinhas Imbituba Campo Belo do Sul Pomerode Rodeio Imbuia Alto Bela Vista Tangará Irineópolis Agrolândia Benedito Novo Garuva São João do Itaperiú São Miguel da Boa Vista Romelândia Brunópolis Barra Bonita Águas Frias Rio Negrinho Celso Ramos Arvoredo Santa Terezinha do Progresso Seara Matos Costa Macieira São Joaquim Itapoá Nova Trento Galvão Ermo Chapadão do Lageado Botuverá Vidal Ramos Leoberto Leal Monte Carlo São Bernardino Novo Horizonte Jupiá São Lourenço do Oeste Blumenau Joinville Florianópolis São José Chapecó Criciúma Balneário Rincão Itajaí Lages Pescaria Brava 0 10 20 30 405 km ESCALA GRÁFICA: ® Fonte: Esri, digitalblobe, geoeye, i-bubed, aex, getmapping, aerogrid, ign, igp, awisstopo, and the gis user community Elaboração: Guilherme Regis e Isa de Oliveira Rocha Secretaria do Estado do Planejamento de Santa Catarina VICENTISTA E AÇÓRICO-MADEIRENSE PAULISTA E COLONIZAÇÃO EUROPÉIA PAULISTA EXPANSÃO DA COLONIZAÇÃO EUROPÉIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL COLONIZAÇÃO EUROPÉIA E SUA EXPANSÃO NO ESTADO PRINCIPAL ORIGEM DA CONQUISTA E COLONIZAÇÃO 100.001 a 583.144 habitantes 1.286 a 50.000 habitantes 50.001 A 100.000 habitantes ( POPULAÇÃO MUNICIPAL ESTIMATIVA IBGE 2018 !( !( (( (( !( !( !( 100.001 a 590.466 habitantes 50.001 a 100.000 habitantes 1.260 a 50.000 habitantes POPULAÇÃO MUNICIPAL ESTIMATIVA IBGE 2019 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 19 C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al Capítulo 1 | Gênese da formação econômica e social Raquel Maria Fontes do Amaral Pereira1 Maria Graciana Espellet de Deus Vieira2 1 Graduada em Geografia Licenciatura (1967) e Mestra em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (1988) e Doutora em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (1997). Professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina e da Universidade do Vale do Itajaí, com atuação no Programa de Pós-Graduação em Geografia e no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria, respectivamente, e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. 2Graduada em Geografia Licenciatura (1971), Geografia Bacharelado (1972) e especialista em Planejamento Urbano e Regional (1979) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Mestra em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (1992). Atuação como geógrafa no Instituto de Geociências Aplicadas (IGA) em Belo Horizonte e professora aposentada da Universidade do Estado de Santa Catarina. A interconexão de elementos do quadro natural (clima, relevo, vege-tação etc.) e do humano (populacio- nais, sociais, econômicos, políticos, culturais etc.) foram determinantes no processo de conquista e colonização do continente americano, no decorrer do qual se impu- seram novas combinações geográficas resul- tantes das múltiplas determinações de cadaépoca histórica e de cada lugar. A formação econômica e social catarinense manifesta de forma exemplar esta afirmação. É o que se procura demonstrar no decorrer deste estudo, tendo como objeto o processo de conquista e colonização do território cata- rinense, gênese da formação econômica e social de Santa Catarina. Tal processo se estende de meados do século XVII às primeiras décadas do século XX, ou seja, por cerca de três séculos, desde a Colônia até primórdios da República. Foi este o tempo necessário para a ocupação do território, movida quer por interesses de Portugal, durante o período colonial, quer por interesses das classes dominantes nacionais e catarinenses, muitas vezes rela- cionados aos da esfera capitalista mundial, ou seja, aos interesses estrangeiros. Sua força impulsionadora é formada pelo conjunto de atividades que se organizam para atender diferentes necessidades. Desde as mais imediatas, presentes em qualquer tempo histórico, até aquelas que se traduzem nas transformações resultantes do próprio evoluir da relação sociedade-natureza, vista não de uma forma meramente local, mas inserida e relacionada com escalas de cunho regional, nacional e mundial. O terri- tório vai sendo explorado gradativamente, conforme suas potencialidades naturais, segundo as necessidades econômicas e disponibilidades demográficas, internas e externas, presentes em cada período. Trata- -se de decifrar uma realidade geográfica – como tal, localizada no espaço e no tempo – procurando identificar a interconexão de elementos determinantes das esferas natural e humana (Mamigonian,1999). Essa perspectiva de análise está apoiada em uma vertente do pensamento geográ- fico brasileiro, cuja figura central é o geógrafo Armen Mamigonian, que, já em 1958, integra a equipe de autores do pioneiro Atlas Geográfico de Santa Cata- rina. Esse Atlas, coordenado pelo também geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, serviu de inspiração para outros estados brasileiros. A linha mestra dessa visão interpretativa está relacionada a dois grandes para- digmas, o de formação social e o de geos- sistema, “não de maneira superimposta como se fez frequentemente ou de maneira excludente, mas os conectando dialetica- mente” e, dessa forma, “contribuindo para uma visão de conjunto da sociedade e da natureza e de suas interconexões” (Mami- gonian, 2005, p. 3). Os dois paradigmas nos inserem na perspectiva de combina- ções geográficas de A. Cholley (1964), justamente naquelas que alcançam maior complexidade, pois “resultam da inter- ferência conjunta dos elementos físicos, biológicos e humanos.” A convergência desses elementos ocorre, “sempre, por ocasião do exercício de uma das atividades necessárias à vida dos grupos humanos: atividade agrícola, de criação industrial, etc.” (Cholley, 1964, p. 141). Coincidentemente o procedimento de trabalhar com combinações (A. Cholley) é o mesmo de trabalhar com múltiplas determinações [...]. A explicação provável para esta coincidência está na origem his- tórica da geografia moderna [...] [herdeira] da filosofia clássica ale- mã (Kant e Hegel). (Mamigonian, 2005, p. 3) O reconhecimento das duas esferas (a natural e a humana) como indispensáveis ao conhecimento da realidade, dá origem a interpretações mais ricas e, numa certa medida, indica uma retomada da visão clás- sica da geografia, ou seja, “uma visão globa- lizadora e de totalidade da natureza e da sociedade” (Mamigonian, 1996, p. 199). A relação sociedade-natureza, dentro da perspectiva do materialismo histórico e dialético, ou seja, através do conceito de modo de produção ou, no caso, de uma combinação dialética de modos de produção (Rangel, 1981) assegura a loca- lização temporal, que se concretiza sobre uma base territorial geográfica e histo- ricamente determinada. Assim sendo, as formações econômicas e sociais devem ser consideradas expressão de processos que se singularizam em função de combinações de uma pluralidade de elementos, que se manifestam e se relacionam em múltiplas escalas (mundial, nacional, regional, local), demonstrando que uma determinada reali- dade tem sua explicação também num universo mais amplo. Isto posto, trata-se então do estudo das múlti- plas determinações humanas e naturais, que se combinam e se concretizam espacial e temporalmente, dando origem à formação social e econômica de Santa Catarina. Fonte: Adaptado de Santa Catarina (1958). Elaboração: Pedro Agripino Sagaz e Isa de Oliveira Rocha (SPG/SC). ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al 20 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 21 C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al Figura 2 – Formações Vegetais do Brasil. Fonte: Adaptado de Romariz (1968). Elaboração: Guilherme Regis. Santa Catarina e a singularidade da formação meridional brasileira A diversidade geográfica de Santa Catarina é surpreendente para uma área de apenas 95.737,954 km2, correspondendo a 1,12% da superfície territorial brasileira e 16,60% da Região Sul, na qual vivem, segundo esti- mativa do IBGE (2017), 7.001.161 pessoas, ou seja, 3,37% da população brasileira e 23,62% da Região Sul (Pereira, 2013). Tal como os demais estados da Região Sul, o território que hoje corresponde a formação econômica e social de Santa Catarina foi de forma efetiva conquistado e colonizado tardiamente, ou seja, a partir do século XVII. Certamente dentre os elementos refe- rentes ao quadro natural, o clima é o mais ressaltado como um dos determinantes na estruturação tardia da formação meri- dional brasileira. Abaixo do Trópico de Capricórnio, o predomínio do clima subtro- pical, no contexto de um universo colonial marcado pela tropicalidade (Figura 1), difi- cilmente poderia oferecer uma produção que atendesse aos interesses comerciais da Metrópole Portuguesa (Monteiro, 1967). Essa diferenciação climática, associada ao quadro relativo à cobertura vegetal (Figura 2) no que se refere à distribuição das áreas de campo e de matas, representará um papel fundamental na gênese da estrutura produ- tiva e populacional do sul do Brasil, dando origem a distintas combinações geográficas ou formações econômico-sociais: a do lati- fúndio pastoril e a da pequena produção. (Vieira e Pereira, 2009) Comparando aspectos gerais relativos à vegetação, em todo o Brasil, observa-se que as áreas herbáceas (campos) ou herbá- ceas-lenhosas (caatinga e cerrado) deram origem a formações latifundiárias pastoris feudais ligadas ao mercado interno. Já no caso das áreas florestais, excetuando-se a Amazônia, todas deram origem à agricul- tura, mas a uma agricultura diferenciada, segundo o tamanho da propriedade e as relações de produção. Na área tropical florestada se estruturam as grandes Pará Amazonas Bahia Mato Grosso Goiás Piauí Minas Gerais Acre Maranhão Tocantins Paraná Roraima Rondônia Ceará São Paulo Amapá Mato Grosso do Sul Rio Grande do Sul Pernambuco Paraíba Santa Catarina Alagoas Espírito Santo Rio de Janeiro Sergipe Rio Grande do Norte Distrito Federal 40° W50° W60° W70° W 30° W80° W 0° 10 ° S 20 ° S 30 ° S ® Fonte: Adaptado do Atlas Nacional do Brasil Milton Santos, 2010.Disponível em: www.ibge.gov.br/apps/atlas_nacional/ 300 0 300 600150 km Legenda Climas Zonais Equatorial Temperado Tropical Brasil Central Tropical Nordeste Oriental Tropical Zona Equatorial Semiárido Equador Trópico de Capricórnio Figura 1 – Climas Zonais do Brasil. Fonte: Adaptado do Atlas Nacional do Brasil Milton Santos (IBGE, 2010). Elaboração: Pedro Agripino Sagaz. propriedades e a agricultura escravista de exportação e na área subtropical a agri- cultura com base nas pequenas proprie- dades, no trabalho familiar e no mercado interno. Convém destacar que enquanto no Rio Grande do Sul predominam as áreas de campo, no Paraná e em Santa Catarina(Figura 3) as maiores formações vegetais estão representadas pelas matas, já que as formações herbáceas estão presentes somente na forma de manchas distribuídas no interior das mesmas. A combinação caracterizada pela criação extensiva de gado estabelecida nas áreas de campo em grandes propriedades, com o uso de pouca mão-de-obra, acarreta uma organização do espaço distinta daquela da pequena produção policultora, cujo tamanho das propriedades é incomparavel- mente menor, consequentemente o habitat não é tão disperso, o fator demográfico é mais numeroso e o uso do solo mais inten- sivo (Mamigonian, 1958). Esses dois meios são estruturados por modos de produção distintos: um baseado na desigualdade de classes, ou seja, nos modos de produção, cujas classes dominantes constituem a estrutura política da formação correspon- dente, e o outro baseado no igualitarismo do pequeno modo de produção (Mamigo- nian,1991) – “uma democracia rural” nas palavras de Delgado de Carvalho (2016, p.182) – que se insere nesse quadro econô- mico e social dominante com maior capaci- dade produtiva e de consumo, acarretando uma propensão à divisão social do trabalho, condição para o desenvolvimento econô- mico (Rangel, 1955). Com base, então, em uma estrutura social distinta, a pequena produção mercantil com sua tendência à diferenciação social vai imprimir nas áreas florestais do sul do Brasil um distinto dinamismo econômico, consolidando a formação meridional como uma formação singular (Mamigonian, 1969). A particularidade do relevo de Santa Catarina frente aos estados vizinhos A principal especificidade do quadro natural catarinense, frente aos vizinhos sulistas, se manifesta em seu relevo marcado, de acordo Km0 125 250 375 500 E S C A L A B R A S I L FORMAÇÕES VEGETAIS Formações Florestais Formações Complexas Formações Campestres Formações Litorâneas Campos Floresta Latifoliada Tropical Floresta Latifoliada Equatorial Mata da Araucária Floresta Latifoliada Tropical Úmida da Encosta Complexo do Pantanal Caatinga Cerrado Vegetação do Litoral Figura 3 – Vegetação de Santa Catarina. Fonte: Extraído de Santa Catarina (2016). com Peluso Jr (1991, p.15), por “um alti- plano levemente inclinado para oeste e uma área que se desenvolve da borda do planalto até o mar, conhecidos, respectivamente, por Região do Planalto e Região do Litoral e Encostas” (Figura 4). P L A N A L T O L I T O R A L E E N C O S T A S Figura 4 – Planalto, litoral e encostas de Santa Catarina. Fonte: Adaptado de Peluso Jr (1952). ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al 22 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 23 C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al Os efeitos da disposição das Serra do Mar e Serra Geral no Brasil Meridional representam uma particularidade fisiográfica funda- mental do território catarinense. Enquanto o estreito e exíguo litoral do estado do Paraná é marcado pelas restrições impostas pela Serra do Mar, em Santa Catarina, tal Serra apresenta-se isolada no nordeste do estado, em reduzido trecho. É a Serra Geral (escarpas do planalto), localizada mais à oeste, já no interior do território, o elemento delimitador preponderante entre a Região do Planalto e a Região do Litoral e Encostas, que define a primeira grande divisão regional catari- nense. Já no caso rio-grandense, as escarpas do planalto meridional estão circunscritas na porção norte, sendo que o seu litoral, com características diversas (retilíneo e arenoso), com um único porto marítimo, assim como o Paraná, só que numa extensão de 600 km de costa, distingue-se do recortado litoral catarinense, banhado por inúmeros rios da vertente atlântica e servido por vários portos, ao contrário dos estados vizinhos. A região catarinense do litoral e encostas, Delgado de Carvalho subdivide em quatro regiões econômicas por disporem de bons portos marítimos: A do norte, a mais restrita (Joinville, São Bento), possui o excelente porto de São Francisco; a da Bacia do Ita- jaí (Blumenau, Brusque, Luís Alves) deságua no porto de Itajaí; a do cen- tro dispõe de Florianópolis; a do sul (Urussanga, Araranguá e as colônias italianas), por fim, possui como saída o porto de Laguna. (Delgado de Car- valho, 2016, p. 198) Essa característica acabou por imprimir uma feição bastante singular à organização espacial de Santa Catarina, que se apresenta compar- timentada em regiões praticamente inde- pendentes, sem um centro polarizador supra regional, como ocorre tanto no Rio Grande do Sul quanto no Paraná (Mamigonian, 1966). Em síntese, a conformação geral do relevo, combinada a outros elementos naturais (clima, vegetação, hidrografia etc.) e humanos foi decisiva para o processo de conquista e povo- amento do território sulino, em particular de Santa Catarina (Vieira e Pereira, 1996). Conquista e colonização de Santa Catarina O processo de conquista português exigia uma disponibilidade demográfica frente à grandeza do território colonial, que não se encontrava na Metrópole, tampouco na futura colônia, como foi o caso da conquista hispâ- nica em áreas de sociedades com agricultura excedentária, daí sedentarizadas, que concen- travam cerca de 90% do total da população do continente (Cardoso, 1985). No caso do território colonial português, as populações aqui existentes ainda não haviam se sedenta- rizado e, consequentemente, como nômades e seminômades, alcançavam baixas densidades demográficas, levando inclusive a que alguns autores se refiram a essas áreas como vazias. Trata-se de uma meia verdade, pois apesar das distintas realidades demográficas, não podemos pensar o processo de conquista sem considerar a população autóctone. Nas áreas florestadas tropicais, o caminho tomado foi o da importação de mão-de- -obra escrava africana, a partir do século XVI, na medida em que tal investimento seria compensado pela produção de açúcar, gênero tropical de interesse das metrópoles temperadas, que, por isso mesmo, alcançava altos preços, justificando os elevados gastos iniciais na produção. Estas foram caracterís- ticas comuns à agricultura da cana e do café, este último já no século XIX. A população indígena, conhecedora do território e familiarizada com as formas e meios de subsistência, apresentava, inicial- mente, uma condição maior de resistência do que aquela população decorrente de uma imigração forçada, como a dos escravos africanos. É resultante dessa característica a importância da igreja católica ibérica, seja portuguesa ou espanhola, no processo de sujeição da população indígena. Ao condenar a escravização dessa última, ao contrário do que fazia com a escravidão africana, organi- zava aldeias e missões, que independente dos objetivos, concentrava, catequizava e, de certa forma, disponibilizava reservatórios humanos a serem agregados, escravizados ou mesmo mortos, como tão bem demons- tram, no século XVII, por exemplo, a compo- sição das bandeiras litorâneas vicentistas, assim como as razzias dos bandeirantes paulistas em territórios sulinos. Santa Catarina vivencia seu processo de conquista e colonização, tardio em cerca de cem anos frente ao Nordeste e Sudeste brasileiros, com povos fruto do cresci- mento demográfico da Colônia, caracteri- zando um processo migratório interno, no sentido norte-sul. Isto tanto no século XVII (Litoral), quanto ainda no XVIII (Planalto), mesmo século em que também se inicia a migração externa com populações vindas de além-mar, no caso da 2ª ocupação do litoral catarinense. A partir do século XIX tal processo imigratório se intensifica com a ocupação dos vales atlânticos e encostas pelos imigrantes europeus, excedente popu- lacional relativo a uma Europa em transfor- mação frente ao avanço e desenvolvimento do modo de produção capitalista. A conquista do litoral VicentistasA preocupação em fixar as fronteiras meri- dionais do território colonial leva Portugal no século XVII a estimular o avanço de vicen- tistas em direção ao litoral sul, com base na concessão de sesmarias que deram origem a um povoamento esparso e de baixa densi- dade demográfica. Procedentes da Capitania de São Vicente, homens de posses deslocam- -se levando “consigo sua família, seus escravos negros e vermelhos, seus gados grossos e miúdos, as suas ferramentas e armas” (Oliveira Vianna, 1952, p.113), fundando ao longo da costa núcleos de povoamento, entre os quais São Francisco (1658), Desterro (1673) e Laguna (1676) no litoral de Santa Catarina, sendo este último o ponto mais meridional, situado exatamente no marco extremo sul da linha de Tordesilhas. Esse fluxo povoador cujos contatos iniciais eram facilitados pelo mar, culmina com a fundação da Colônia do Sacramento, em 1680, defronte a Buenos Aires, assinalando a presença portuguesa na foz do Rio da Prata. A extrema mobilidade dos grupos humanos de origem vicentista deu sustentação à Coroa Portuguesa na disputa da região com a Coroa Espanhola. Os núcleos vicentistas litorâneos asseguraram o domínio português sobre o território, estimu- lando o conhecimento mais apurado do litoral, fato que pode ser atestado pelo expediente do rei de Portugal ao governador do Rio de Janeiro, datado de 1717, recomendando o exame das qualidades da área relativas à abundância de peixes, existência de ancoradouros seguros etc., reforçado pela manifestação do Conselho Ultra- marino de Lisboa que aponta os recursos exis- tentes na Ilha de Santa Catarina, entre os quais excelentes madeiras, abundância de peixes e outros frutos da terra. O mesmo Conselho propõe a fortificação da ilha e o povoamento de seus arredores, bem como os do Rio Grande como forma de fechar pela costa o domínio meridional português e aumentar as rendas reais (Mamigonian, 1998). Açorianos e madeirenses Após a esparsa ocupação vicentista do século XVII ocorre então, nessa área, o segundo povoamento colonial litorâneo, ou seja, aquele que assegura efetivamente o domínio útil do território, permitindo que se concre- tize o objetivo maior do processo colonial: auferir riquezas. É este povoamento que Mamigonian (1998, p.69) define como “a maior intervenção do planejamento estatal português no sul do Brasil, tanto a nível geo- -político, como enfatizaram os historiadores tradicionais, como a nível geo-econômico”. A imigração de casais açorianos e madeirenses no século XVIII para as terras litorâneas do extremo sul colonial, povoando áreas do Rio Grande do Sul e do litoral de Santa Catarina, representa uma segunda experiência com imigrantes açorianos, visto que já haviam pioneiramente se fixado no século anterior, no extremo norte, em terras do Grão-Pará. Esse ciclo colonizador, no que se refere ao terri- tório catarinense, se estende de 1748 a 1756, trazendo consequências mais duradouras e variadas para a efetiva ocupação do litoral, onde foram fundados núcleos de povoamento espalhados pela Ilha de Santa Catarina e áreas adjacentes do continente (por exemplo, São Miguel, Enseada de Brito, São José), assim como entorno de Laguna. Interessava a Portugal instalar colonos-soldados que atendessem tanto às necessidades militares (de defesa do território disputado com os espanhóis) como às de produção e abastecimento de setores não-produtivos (tropas, burocracia administra- tiva etc.), bem como viabilizando um comércio de excedentes, que propiciou o aumento das rendas da Coroa, através do estabelecimento de uma pequena produção mercantil. Com base em propriedades familiares poli- cultoras que passaram a produzir “nos fins do século XVIII e inícios do XIX, impor- tantes excedentes alimentares (farinha de mandioca, arroz, feijão, melado, etc.) que se destinavam ao abastecimento do Rio, Salvador, Recife e até mesmo Montevidéu” (Mamigonian, 1966, p.35), se efetiva essa primeira grande experiência, no território colonial brasileiro, em moldes de pequena produção. Esta, somada às armações bale- eiras, consolida a ação lusa na ocupação efetiva do litoral catarinense. Edificadas por comerciantes portugueses, sob a concessão da Coroa, as armações se mostraram uma alternativa lucrativa para o litoral subtropical (Mamigonian, 1998), utilizando em especial mão-de-obra escrava africana na manufatura e a dos pequenos produtores açorianos na caça do animal, como arpoadores, timoneiros e também remeiros (Silva, 1992). O monopólio da metrópole, ingressando no vantajoso comércio mundial de óleo de baleia, assegurava ao capital comer- cial português grandes lucros nas transações. Assim, no século XVIII, o projeto de colo- nização do Brasil Meridional, do qual fazia parte a ocupação do espaço litorâneo cata- rinense, se amplia e se afirma através da presença açoriana, africana e portuguesa. A pequena produção A colônia de povoamento açoriano-madei- rense que se estabelece, baseada na pequena propriedade familiar, é uma experiência pioneira e distinta no território colonial, já que, em especial no litoral e zona da mata nordes- tina a tônica era a colônia de exploração, alicerçada na monocultura de enormes glebas de terras utilizando mão de obra escrava. O colono açoriano, diferentemen- te do escravo, tinha a liberdade de praticar uma policultura de subsis- tência e utilizar seu excedente na melhoria de sua propriedade. Esse foi um dos fatores fundamentais que propiciaram precocemente a emersão do litoral catarinense à posição de destaque no cenário colonial da época como uma das áreas fornecedoras de gêneros ali- mentícios. (Bastos, 2000, p. 129) Contudo, apesar de pioneira, a pequena produção mercantil açoriana não vivencia um processo de diferenciação social, do qual resulte – como ocorreu em outras áreas, também pequeno produtoras, ocupadas posteriormente – a emersão de vigorosos núcleos industriais. Dentre os entraves ao desenvolvimento dessa pequena produção, cabe destacar o papel concentrador e aristo- cratizante do capital mercantil, a excessiva diversificação do trabalho que impedia a espe- cialização do produtor em um único ofício ou produto, ou seja, a presença de uma forte economia natural, além da mercantil, assim como a fragmentação dos lotes por herança, o esgotamento do solo etc. (Campos, 1991) Figura 5 – Principal origem da conquista e colonização do território. Fonte: Extraído de Santa Catarina (1958). ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al 24 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 25 C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al A colonização das encostas e vales atlânticos A partir da 1ª metade do século XIX, a Europa e, particularmente, algumas de suas regiões, atravessam um período de crise econô- mica e turbulência política provocadas pela expansão do capitalismo, já em fase industrial, e a consequente ampliação e aprofundamento do processo de expropriação, responsável por um crescimento do excedente relativo populacional somado ao próprio crescimento demográfico europeu. É nesse contexto que as transformações em áreas de capitalismo tardio levam milhões de emigrantes a cruzar o oceano em busca de novas oportunidades. Do total de imigrantes que se fixaram nas áreas temperadas, em diferentes países, observa-se que o Brasil se coloca como o terceiro receptor: EUA – 26 milhões; Canadá – 5,5 milhões; Brasil – 4,37 milhões (São Paulo antes de 1880 detinha apenas 5% do total de imigrantes europeus chegados ao país, mas acaba alcançando – no movimento de “braços para o café” – cerca de 55% tota- lizando, aproximadamente, 2,4 milhões); Argentina – 3,74 milhões; Austrália – 1,6 milhões; Chile – 500 mil e Uruguai – 300 mil (Mamigonian, 1976 e Chaunu, 1983). No caso do Brasil Meridional, no período pós-independência, por iniciativado Governo Imperial, abre-se, a partir da segunda década do século XIX, um ciclo de imigração representado, inicialmente, pela instalação das primeiras colônias alemãs, baseadas na pequena produção e localizadas nos pontos onde os caminhos de tropa e de gado, provenientes dos latifúndios pastoris constituídos no século XVIII nas áreas de campo, entravam ou saíam da mata. No Rio Grande do Sul, por exemplo, foi fundada, em 1824, a colônia de São Leopoldo, no vale do rio dos Sinos. No Paraná, imigrantes alemães fundaram, em 1829, a colônia de Rio Negro, às margens do rio de mesmo nome; também em 1829, em Santa Catarina, a colônia de São Pedro de Alcântara, localizada na fron- teira entre a mata e as terras já ocupadas do litoral (Waibel, 1958), no caminho entre Lages e Desterro. Aos primeiros alemães chegados a São Pedro de Alcântara, em 1829, se juntam, um pouco mais tarde, outros fluxos, agora dirigidos por particulares. É o caso da colônia Nova Itália (hoje São João Batista) fundada em 1836 no vale do rio Tijucas, excepcio- nalmente, naquela época, por italianos procedentes do Reino da Sardenha. Foi a 1ª colônia italiana no Brasil e a 2ª colônia euro- peia em Santa Catarina e, de acordo com Boiteux (1998, p.74), representa a “célula-mater” da colo- nização italiana, inter- rompida, provavelmente, em razão das lutas internas da Itália, que se encontrava em processo de unificação. A preo- cupação com a segurança e o controle dos produtos que transitavam por esse caminho entre o litoral e o planalto resultou também na criação da Colônia Militar de Santa Tereza, a primeira colônia militar catari- nense, instalada em janeiro de 1854. Ainda no Império, foram criados, princi- palmente por alemães e italianos, vários núcleos rurais e urbanos em áreas corres- pondentes aos vales atlânticos e encostas dos rios Itajaí, Cachoeira, Cubatão, Tijucas, Tubarão, Urussanga e Araranguá, especial- mente após a promulgação, em 1850, da Lei de Terras. No vale do Itajaí, colonos alemães fundam Blumenau (1850), Brusque (1860) e no nordeste do estado, no vale do Cacho- eira, Joinville (1851), cuja expansão dá origem a novas frentes de ocupação. Após a interrupção da imigração alemã para o Brasil, em razão do rescrito de Heydt (1859), colonos italianos passam a povoar, a partir de 1875, as bordas das áreas ocupadas pelos alemães, fundando Rodeio, Rio dos Cedros, Ascurra e Apiúna, em torno da colônia Blumenau; Nova Trento, no vale do Tijucas; em 1876, Botuverá, em torno de Brusque e, em 1877, Luiz Alves, no vale do Itajaí. Novos núcleos coloniais surgem também em 1877, no litoral e encostas no sul de Santa Catarina, como Azambuja, Pedras Grandes e Treze de Maio, no vale do Tubarão e, no vale do Urus- sanga, Urussanga (1878), Criciúma (1880) e Cocal do Sul (1892). Essas colônias se expan- diram através de atividades ligadas à agricul- tura e à mineração do carvão. Conforme salienta Waibel (1958, p. 217 e 218), ao contrário do Rio Grande do Sul, no território catarinense “as companhias particulares de colonização tomaram a si o encargo e colonizaram as áreas florestais do estado de maneira muito efetiva”, sendo que “Santa Catarina foi a região em que o princípio foi aplicado pela primeira vez em larga escala”. Nesse processo de colonização ocorreram confrontos diretos com indígenas, habitantes originais das terras, que passaram a ser ocupadas pelos colonos. A disputa entre índios e imigrantes se acirrou com a formação de tropas e expedições de caça aos chamados “bugres”, tropas estas constituídas pelos denominados “bugreiros”, que fizeram preva- lecer, pela violência, os interesses comerciais das companhias colonizadoras. Alemães e italianos É em um contexto de fragmentação territo- rial e de urgência da modernização econô- mica e política que Itália e Alemanha, a partir de condições próprias, realizam a tran- sição do feudalismo para o capitalismo por caminhos singulares e em ritmos distintos (Pereira, 1989). O capitalismo alemão, bem mais dinâmico do que o italiano, já no final do século XIX torna a Alemanha a nova potência industrial europeia. Os emigrantes alemães totalizavam, até o recenseamento de 1844, cerca de 5 milhões, dos quais 4,8 milhões dirigiram-se para a América do Norte, respondendo ao apelo de “aliciadores e mercadores que incitavam à emigração desorientada”. Este juízo, expresso pelo Dr. Blumenau, frente ao quadro emigra- tório alemão da primeira metade do século XIX, demonstra seu vínculo a uma orien- tação distinta em relação a esse processo, cujos objetivos deixariam de ser meramente mercadológicos para assumirem um viés étnico e nacionalista, capaz de conservar, no estrangeiro, a nacionalidade, os costumes e a língua alemã (Fouquet, 1950). Essa visão, ao mesmo tempo em que assegura a fideli- dade por gerações à terra de origem (Vater- land), por outro lado causa um sentimento de distanciamento em relação aos brasileiros. Há que se destacar que em razão do catoli- cismo ser a religião do Estado, eram comuns, conforme salienta Klug (1998), os constran- gimentos e impasses ocorridos na vida coti- diana dos imigrantes protestantes, a ponto de, por exemplo, o presidente da província de Santa Catarina (João José Coutinho 1850- 59), em razão de seu preconceito religioso, demitir professores alemães protestantes do Liceu Catarinense, em Florianópolis. Entre esses professores estava Fritz Müller, que era ateu. Outro exemplo das tensões religiosas diz respeito aos casamentos, não sendo reco- nhecidos os realizados pela igreja protestante e, no caso dos casamentos mistos, a igreja católica impunha um termo de compromisso através do qual os noivos eram obrigados a educar os filhos na fé católica. Até mesmo os cemitérios ocupavam áreas distintas. Segundo Grosselli (1987), as colônias alemãs mantiveram frequentes contatos com a pátria-mãe, visto que a Alemanha conservou os canais de comunicação abertos. Filiais de casas comerciais alemãs, agências de companhias seguradoras foram aqui insta- ladas, o que se explica pela maior vitalidade do capitalismo alemão frente ao italiano. As companhias navais alemãs exportavam para a Alemanha não só os produtos agrí- colas dos colonos alemães, mas também os dos italianos. O movimento emigratório italiano em massa, iniciado em meados de 1870, coloca o Brasil em terceiro lugar no fluxo dessa emigração, principalmente considerando o estado de São Paulo, que recebeu a maioria desses italianos em decorrência da necessidade de mão de obra para a cafeicultura. O primeiro lugar nesse fluxo de emigração fica com os EUA e o segundo com a Argentina (Trento, 1989). O cônsul régio italiano em Florianópolis, Gherardo de Savóia, em seu relatório de fevereiro de 1900 (Dall’Alba, 1983, p. 68-70) chama a atenção para o fato de que o grande movimento migratório acontece “quando a Itália estava feita, mas não estavam feitos os italianos”. Tal fato se reflete inclu- sive na língua, pois ao contrário dos alemães aqui chegados, os italianos não têm uma unidade linguística. Os distintos dialetos, ligados às regiões de origem, são colo- cados de lado pela nova geração “como instrumento fora de uso”. Dessa forma não se percebe nos italianos o viés nacio- nalista que marca a colonização alemã. Outra diferença diz respeito à religião, onde existe uma unidade, a da igreja católica, o que leva o já referido cônsul régio, a afirmar que “no Estado de Santa Catarina, é na igreja princi- palmente que senti vibrar a voz da pátria.” Para os colonos italianos, a religião, que por séculos marcara a sua cultura, constituiu o eixo em torno do qual se deu a reconstrução da sua comunidade em terras brasileiras. “A capela era o próprio símbolo das comuni- dades italianas, o centro, o sustentáculo, o eixo em torno do qual girava a vida das famí- lias” e constituía “o centro de convergência da população, única sede de encontros da comunidade”a fortalecer sua identidade (Groselli, 1987, p. 449). Isso em se tratando das colônias em áreas rurais, pois no caso de Florianópolis, assim como os alemães, os italianos possuíam clube social próprio, além da Liga Operária, cujas ideias anarquistas explicam inclusive a realização de manifes- tação de solidariedade, na década de 1920, a Sacco e Vanzetti (Mamigonian, 1991). A pequena produção mercantil catarinense Se no caso de São Paulo a pequena produção mercantil se insere espacialmente no inte- rior da estrutura latifundiária cafeicultora (Mamigonian, 2000), nos estados do Sul, particularmente em Santa Catarina, ela se instala, no século XIX, paralela à estrutura latifundiária de forma muito mais dinâ- mica do que a alcançada pela pequena produção dos colonos açorianos, embora essa última tivesse elevado a produção de gêneros alimentícios do litoral catarinense à posição de destaque no contexto ante- rior a essa nova imigração. Importa ainda ressaltar que, expulsos de seus países pelo recrudescimento das relações capitalistas, os imigrantes se estabeleceram como pequenos agricultores indepen- dentes, artesãos, operários, pe- quenos comerciantes, que já pra- ticavam uma significativa divisão social do trabalho (p. ex. os agricul- tores compravam tecidos, instru- mentos de trabalho, etc.), a partir da origem europeia, já em processo de industrialização. (Mamigonian, 1986, p. 104) Figura 6 – Desenho de casas e arrozeiras de agricultores descendentes de italianos (município de Rodeio), década de 1940. Fonte: Extraído de Câmara (1948). Fotografia 1 – “Vítimas de bugreiros. Foto provavelmente obtida em Blumenau, em 1905. Detalhe de G. Gerlach, 1972.” Fonte: Detalhe de fotografia disponível em Santos (1997, p.34). ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al 26 ATLAS GEOGRÁFICO DE SANTA CATARINA 27 C AP ÍT U LO I G ên es e da fo rm aç ão e co nô m ic a e so ci al Essa conjuntura histórica é distinta daquela vivida pelos imigrantes do século XVIII, provenientes dos Açores e da ilha da Madeira. No século XIX, “os europeus embarcaram com ‘o capitalismo em seus ossos’, mesmo que não dispusessem de nenhum capital, mas apenas de iniciativa, habilidades especiais e engenhosidade” (Mamigonian, 1976, p. 89). As colônias fundadas na segunda metade do século XIX e início do século XX logo superaram o estágio meramente agrícola da exploração econômica, chegando à industrialização. Certamente o tamanho dos lotes coloniais não permitia reproduzir por gerações a família camponesa, assim como nos aponta Peluso Jr: A tradição criada pelos europeus que se estabeleceram nas colônias da região foi a de todo chefe de fa- mília numerosa comprar, para cada filho, a terra necessária para man- ter o mesmo padrão de vida agrí- cola [...] Terminadas as terras das colônias, os núcleos regurgitavam de elementos novos que necessi- tavam de novas terras. (Peluso Jr (1991, p. 264) Essa necessidade demográfica de novas terras fica exemplarmente demonstrada quando completa-se a ocupação do terri- tório catarinense nas primeiras décadas do século XX, com a comercialização de glebas localizadas na porção oeste do planalto, nos vales dos rios da vertente do interior, num processo de colonização e povoa- mento que se fazia “não a partir da costa oriental longínqua, mas a começar do sul, por colonos alemães e italianos e compa- nhias de colonização do Rio Grande do Sul” (Waibel, 1958, p. 219). Planalto: conquista e colonização No século seguinte ao da conquista lito- rânea realizada pelos vicentistas, ou seja, no século XVIII, a descoberta de ouro nas Minas Gerais propiciará o despertar para a consciência do valor econômico das centenas de milhares de cabeças de gado das vacarias do Mar e dos Pinhais no Rio Grande do Sul, fruto das estâncias Jesuí- ticas. Tal consciência interrompe o ciclo bandeirante de preadores de homens, subs- tituindo-o pelo de preadores de animais, unindo os interesses de vicentistas- -lagunenses e paulistas. Segundo Oliveira Vianna (1952, p. 107), “o ouro produziu a conquista e a colonização de Minas, Mato Grosso e Goiaz, mas, produziu também a conquista e a colonização de zonas situ- adas a incomensuráveis distâncias da loca- lização das suas jazidas”. Os grandes obstáculos para o transporte do gado, na fase inicial de relacionamento da planície platina com a região de mine- ração, serão a Serra do Mar e as Escarpas do Planalto, a Serra Geral. Até cerca de 1740, o percurso arterial de tropas liga Viamão, Laguna, Lages, Curitiba e Soro- caba. A partir de então, o litoral catarinense se desarticula das terras de Serra Acima, alijando Laguna e fortalecendo a posição de Lages, que permanece no circuito das tropas, reforçando a atuação da corrente de ocupação do planalto. Ligando os criatórios sul-rio-grandenses à principal feira de gado da época – Sorocaba – os caminhos das tropas engendraram condi- ções para o aparecimento, nos três estados sulinos, de várias povoações. Lages como ponto de passagem obrigatório, agora não mais ligado ao litoral, mas sim ao planalto e planícies rio-grandenses, imporá uma preo- cupação de cunho estratégico, que resultará na sua edificação como vila em 1771. Até meados do século XIX, Lages era o único distrito a oeste da Serra, ao qual perten- ciam os arraiais de Campo Belo (Baguais) e Campos Novos, e a vila de Curitibanos, origi- nada de um pouso de tropeiros. A população de Santa Catarina em 1856 atingia 111.109 habitantes, sendo que destes, 104.317 habi- tavam o litoral e 6.672 o planalto (Pereira, 1943). “Na área de que tratamos, fundaram- -se fazendas de todos os tamanhos. Em meados do século XIX, ainda existiam algumas que demandavam três dias de viagem para ir-se de ponta a ponta” (Vinhas de Queiroz, 1966, p. 22). Genericamente, pode-se dizer que a explo- ração das terras do planalto começa com os paulistas no século XVIII, instalando a pecuária extensiva nas manchas de campos naturais de Lages, Curitibanos e Campos Novos (alta bacia do rio Uruguai), ou lutando “em ambiente menos propício à economia pastoril”, onde “se abriam claros na mata para criação de gado”, situação correspondente a Porto União, Canoinhas e Mafra (bacia do rio Iguaçu) (Peluso Jr, 1970, p. 71). Ao lado ou asso- ciada ao latifúndio pastoril se estabelece a atividade extrativa, aproveitando a exis- tência dos ervais nativos encontrados em combinação com a mata de araucária do planalto (Vinhas de Queiroz, 1966). Esta, elemento também pertencente – como as manchas de campos e os ervais – à combinação natural da região, somente a partir do século XX se impõe como fator natural determinante. Tal determinação ocorre relacionada a outras, como as dos interesses internacionais do comércio da madeira e da colonização de novas terras – agora já para o excedente demográfico de nossas áreas coloniais – associados aos interesses das classes dominantes regio- nais e locais frente ao mesmo comércio. O gado, as manchas de campos: o latifúndio feudal-mercantil A atividade mercantil pecuarista do planalto – em função das fartas reservas de gado existentes nos campos da Região Sul do Brasil (Vacarias do Mar e dos Pinhais) e da distância a ser percorrida para alcançar a sua comercialização – nasce impreg- nada de espírito nômade. Vicentistas- -lagunenses e, principalmente paulistas, assumem a execução da tarefa de conduzir o gado de seus criatórios livres até a área de sua venda. As consequências de tal tarefa implicam na paulatina necessidade de sedentarização, dando origem a estân- cias, vilas e povoados e transformando o meio de produção fundamental de móvel – o gado – em fixo, a terra. A conquista se efetiva trazendo consigo a concessão de sesmarias pela Coroa, gênese do monopólio das terras de campo pelos fazendeiros e da formação do poder local. De acordo com Ignacio
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