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SUSEPE Agente Penitenciário UOL CURSOS TECNOLOGIA EDUCACIONAL LTDA 1ª Edição ISBN:978-65-5432-009-2 Todos os direitos desta edição são reservados a Uol Cursos Tecnologia Educacional Ltda. É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios, sem autorização escrita da empresa. Uol Cursos Tecnologia Educacional Ltda. Al: Barão de Limeira, 425 –7º andar 01202-000 São Paulo -SP www.acasadoconcurseiro.com.br ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS VIDEOAULA PROF. FABRICIO MULLER www.acasadoconcurseiro.com.br ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS 3 PROGRAMA: Cultura popular, personalidades, pontos turísticos, organização política e territorial, divisão política, regiões administrativas, regionalização do IBGE, hierarquia urbana, símbolos, estrutura dos poderes, fauna e flora locais, hidrografia e relevo, matriz produtiva, matriz energética e matriz de transporte, unidades de conservação, história e geografia do Estado, do Município e da região que o cerca. Porto Alegre - Novo Hamburgo - Caxias do Sul - Santa Maria - Passo Fundo - Pelotas Tópicos atuais, internacionais, nacionais, estaduais ou locais, de diversasáreas, tais como segurança, transportes, política, economia, sociedade, educação, saúde, cultura, tecnologia, desenvolvimento sustentável e ecologia. Cultura popular Porto Alegre MÚSICA NATIVISTA No final dos anos 1970 a música nativista havia se expandido para o Brasil com os CTG’s (Centro de Tradições Gaúchas) e Os Almôndegas era um nome consagrado no centro do país. Na época os músicos do estado enfrentavam a dificuldade de que não contavam com uma gravadora de discos local, de forma que os artistas tinham que se deslocar até o eixo Rio - São Paulo, para poderem fazer os seus registros. Em 1978 o Estúdio ISAEC de Porto Alegre adquire uma mesa de gravação de 16 canais com o objetivo de lançar um selo (a gravadora ISAEC) e, no mesmo ano, lança a coletânea Paralelo 30, considerado um marco na música urbana do Rio Grande do Sul. O álbum, produzido pelo jornalista e crítico musical Juarz Fonseca,, reuniu seis compositores/ intérpretes: Bebeto Alevs, Carlinhos Hartlieb, a Raul Ellwanger, Cláudio vera Cruz, Nando D’Ávila e Nelson Coelho de Castro, cada um com duas canções registradas. Esse álbum foi o início de uma experiência no desenvolvimento de uma indústria fonográfica na capital do Rio Grande do Sul, voltada, no primeiro momento, para o registro sonoro da música urbana.Em setembro de 1982 o produtor Ayrton "Patineti" dos Anjos criou o Festival Música Popular Gaúcha Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. O show foi uma resposta a uma provocação de um produtor carioca ao ver um show nativista, perguntando o que mais havia em Porto Alegre. Respondeu Patineti que havia a MPG, se referindo aos músicos da cidade. Durante cinco noites de shows se apresentaram Carlinhos Hartlieb, Jerônimo Jardim, Bebeto Alves, Nelson Coelho de Castro, Geraldo Flach, Raul Ellwanger, Marulo Kwitko, Pery Souza, Galileu Arruda e Berenice Azambuja, e o festival foi responsável por apresentar a MPG para o Brasil e por abrir portas no centro do país para muitos desses artistas. O festival ainda seria realizado em Porto Alegre, Santa Maria e Tramandaí. Em 1985 o espetáculo também virou disco. ROCK No início dos anos 1980 o rock do Brasil, começa a se popularizar com bandas como a carioca BLITZ, o que abriu espaço para o gênero se desenvolver no Rio Grande do Sul. Artistas como Alemão Ronaldo, Fughetti Luz (ambos do 4 Bixo da Seda), Joe Euthanásia e Júlio Reny fazem a transição do rock dos anos 70 para os 80, criando bandas como Taranatiriça, Bandaliera, Guerrilheiro Anti-nuclear, Expresso do Oriente, entre outras, assim como os veteranos do Grupo Impacto, que emplacaram alguns hits nas rádios locais. Em 1980 começou a funcionar um dos principais espaços do rock alternativo em Porto Alegre, o Bar Ocidente , e foi também um canal para a introdução de novas tendências internacionais. Ele atraiu a maior parte do público intelectual e universitário, da boêmia e de grupos contestadores que eram marginalizados e haviam perdido seus pontos de encontro favoritos. Entre 1984 e 1985 se deu a chamada explosão do rock gaúcho.Com o advento da Ipanema FM como a rádio rock de Porto Alegre, o gênero encontrou espaço para crescer e foram formadas novas bandas, como Taranatiriça, Garotos da Rua, Os Replicantes e Astaroth.Essas bandas fariam parte da coletânea Rock Garagem, de 1984, produzida pela rádio e que serviu de cartão entrada para a nova geração, e encontraram espaço para apresentarem trabalhos autorais em bares e danceterias que foram surgindo na capital gaúcha voltados especificamente ao público jovem, como Taj Mahal, Bar Ocidente, Porto de Elis, Opinião, Rocket 88, dentre outros. O dia 11 de Setembro de 1985, é considerado um dia histórico para o rock gaúcho. Pela primeira vez, com o festival Rock Unificado, bandas da cena local foram atração principal no ginásio Gigantinho, até então palco de estrelas nacionais e internacionais. Apresentaram-se na ocasião 10 bandas que incluíam desde Garotos da Rua, que já se destacava na Capital e também pelo Interior, a formações mais recentes, como Engenheiros do Hawaii e TNT. SAMBA O samba também tem um espaço importante na cultura popular de Porto Alegre. O primeiro Carnaval de Corso, em Porto Alegre, foi em 1874, segundo narra Athos Damasceno em sua obra O Carnaval Porto-alegrense no Século XIX. Mas, antes disso, já se fazia alguma coisa. No livro de Athos, encontra-se a afirmação sobre os fundadores da cidade: "Nosso ancestral açorita tratou de trazer para cá – e trouxe mesmo – todos os teres e haveres de seu afamado tesouro cultural". O acervo português, trazido de além-mar, incluiu as festas populares. Em 1946, houve a fundação da primeira tribo carnavalesca, exclusividade gaúcha, Os Caetés. Depois, vieram Xavantes, Tapuias, Bororós, Aimorés e Araxaneses. Foi categoria de muito brilho, atraindo turistas dos países vizinhos, que tinham preferência pelas lendas, hinos e coreografias de nossos índios carnavalescos. Hoje, duas apenas são ativas: Guaianazes e Comanches. A Rainha do Carnaval, Raquel Sampaio, é uma índia bonita dos Guaianazes. Outro ponto forte da Cultura Popular de Porto Alegre, são as feiras feiras de rua, que vendem desde alimentos, até artesanato e os Briques (do francês bric-à-brac, às vezes chamado brique- a-braque ou apenas brique, se refere a coleções de diversos e velhos objetos de artesanato ou arte, tais como antiguidades, bijuterias, móveis, vestuários, entre outros). Há inclusive um órgão da Prefeitura, A Divisão de Fomento ao Artesanato da SMDE (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico) que promove a organização de feiras e briques em Porto Alegre CULTURA AFRO Foi nas cidades, especialmente em Porto Alegre, que os negros começaram a ensaiar formas de resistência ao domínio branco, e os quilmbos, formados com escravos fugidos, teriam um papel importante na preservação da sua história, cultura e identidade e nas lutas pela liberdade. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 5 Há na capital, o Percurso Negro, que evoca a presença, a memória, o protagonismo social e cultural dos africanos e descendentes no Centro Histórico da cidade de Porto Alegre, cuja pesquisa histórico antropológica indicou os lugares vivenciados pelos negros, a fim de elaborar objetos de arte representativos, como no Cais do Porto e antigos Ancoradouros; no Largo da Quitanda (Praça da Alfândega); no Pelourinho (Igreja das Dores); no Largo da Forca (Praça Brigadeiro Sampaio) e Esquina do Zaire (Av. Borges de Medeiros com Rua da Praia). No entorno, a partir das redes de relações sociais dos negros cativos e livres, temos a Igreja da Nossa Senhora do Rosário, o Mercado Público e a Santa Casa de Misericórdia, a Colônia África e o Areal da Baronesa. Negros do Rio Grande do Sul em 1852 aquarela de Hermann Wendroth Nossa Senhora dos Navegantes A Igreja de Nossa Senhora dosNavegantes é um dos templos católicos mais populares da cidade de Porto Alegre. É o foco de uma das maiores procissões da cidade no dia 2 de fevereiro. Mosaico assinalando a entronização do Bará (orixá) do Mercado Público de Porto Alegre. 6 Criada por iniciativa dos livreiros e editores gaúchos com apoio do jornalista Say Marques, diretor-secretário do Diário de Notícias, a Feira do Livro de Porto Alegre foi inaugurada em 1955. O evento é considerado referência no país por seu caráter democrático e pela consistência do trabalho que desenvolve na área da formação de leitores e de mediadores da leitura, além de programação cultural 100% gratuita. Ela é realizada desde sua primeira edição na Praça da Alfândega, Centro Histórico da capital gaúcha. A Feira na Praça é dividida em Área Geral, Área Internacional e Área Infantil e Juvenil. Centenas de escritores, ilustradores, contadores de histórias e outros profissionais participam do evento, que conta com sessões de autógrafos, mesas-redondas, oficinas, palestras e programações artísticas, entre outras atividades. Alguns desses eventos são realizados no Memorial do Rio Grande do Sul, Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, Auditório da Livraria Paulinas, Auditório do Margs e Auditório da Inspetoria da Receita Federal. Em 2020, em função da pandemia, a Feira acontece, excepcionalmente, em ambiente virtual. Em 2006, a Feira do Livro de Porto Alegre recebeu a medalha da Ordem do Mérito Cultural, concedida pela Presidência da República, que a reconheceu como um dos mais importantes eventos culturais do Brasil.Um ano antes, havia sido declarada bem do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado e, em 2010, foi o primeiro bem registrado, pela Prefeitura de Porto Alegre, como integrante do Patrimônio Histórico e Cultural Imaterial da cidade. A 66ª edição ocorre de 30 de outubro a 15 de novembro de 2020, por meio da plataforma on-line, preservando com inovação o maior evento cultural do Estado do Rio Grande do Sul. PERSONALIDADES DE PORTO ALEGRE: Osvaldo Aranha: nascido em 1894, o alegretense foi um dos políticos brasileiros mais influentes do século 20. Ministro da Fazenda e das Relações Exteriores em governos de Getúlio, ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 7 como presidente da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (1947/48), dirigiu os trabalhos da sessão que aprovou a criação do estado de Israel. Landell de Moura: nascido em 1861, o padre católico porto-alegrense se notabilizou como cientista. Ficou conhecido por seus experimentos em telecomunicação e foi pioneiro ao conseguir a transmissão de som e sinais telegráficos sem fio, por meio de ondas eletromagnéticas, origem do telefone e do rádio. Sarmento Leite: nascido em 1868, o médico porto-alegrense foi um dos fundadores, com Protásio Alves, da atual Faculdade de Medicina da Sarmento Leite: nascido em 1868, o médico porto-alegrense foi um dos fundadores, com Protásio Alves, da atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em 1898. Foi professor catedrático de anatomia e tornou-se patrono,depois de ser diretor da faculdade por 20 anos., em 1898. Foi professor catedrático de anatomia e tornou-se patrono,depois de ser diretor da faculdade por 20 anos 8 Mário de Miranda Quintana: Apesar de não ter nascido em Porto Alegre, é uma figura muito presente na história da Capital Gaúcha. Foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro. Mário Quintana fez as primeiras letras em sua cidade natal (Alegrete-RS), mudando-se em 1919 para Porto Alegre, onde estudou no Colégio Militar, publicando ali suas primeiras produções literárias. Trabalhou para a Editora Globo e depois na farmácia paterna. Elis Regina: Nasceu em 17 de março de 1945 em Porto Alegre, RS. Foi a maior cantora brasileira de todos os tempos. Com técnica e garra, lançou alguns dos principais compositores brasileiros, como João Bosco e Aldir Blanc, Renato Teixeira, Fátima Guedes entre outros. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 9 Lupicínio Rodrigues: Lupi, como era chamado desde pequeno, compôs marchinhas de carnaval e sambas-canção, músicas que expressam muito sentimento, principalmente a melancolia por um amor perdido. Foi o inventor do termo dor-de-cotovelo, que se refere à prática de quem crava os cotovelos em um balcão ou mesa de bar, pede um uísque duplo, e chora pela perda da pessoa amada. Ronaldo de Assis Moreira: Mais conhecido como Ronaldinho Gaúcho ou simplesmente Ronaldinho. Nascido em Porto Alegre em 21 de março de 1980. É um ex jogador de futebol que atuava como meia-atacante. Venceu o prêmio Melhor Jogador de Mundo em 2004 e 2005, época em que viveu o grande auge de sua carreira. Foi o primeiro futebolista na história a ter conquistado a Champions League, a Libertadores, a Copa do Mundo e a também ter sido eleito o Melhor do Mundo. Pontos turísticos Porto Alegre 10 Usina do Gasômetro: Usina do Gasômetro, ou simplesmente Gasômetro, é uma antiga usina brasileira de geração de energia localizada na Orla do Rio Guaíba. Casa de Cultura Mario Quintana: Originalmente Hotel Majestic, é um prédio histórico brasileiro e um centro cultural da cidade de Porto Alegre, um dos maiores e melhor aparelhados do Brasil. A Casa foi nomeada em homenagem a um dos maiores poetas brasileiros,Mário Quintana, nascido na cidade gaúcha de Alegrete, mas que adotou Porto Alegre como sua cidade de coração. O escritor viveu no hotel entre 1968 e 1980, no apartamento 217. Teatro São Pedro: O Teatro São Pedro é um teatro brasileiro localizado na cidade de Porto Alegre, e é o teatro mais antigo da cidade. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 11 Igreja da Dores: A Igreja Nossa Senhora das Dores é uma igreja católica localizada na cidade de Porto Alegre, à Rua dos Andradas,587. É a mais antiga igreja da cidade ainda de pé. Mercado Público: O Mercado Público de Porto Alegre é um centro de abastecimento no coração da cidade. Inaugurado em 1869, sobre o primeiro aterro da cidade, conta com 106 estabelecimentos com um mix diferenciado de atividades. Com um diferencial de atendimento, não existe nenhuma loja com o sistema de auto serviço. Por conta disso, somos aproximadamente 1200 pessoas trabalhando diretamente no local. O Mercado Público também atua como espaço para manifestações culturais e comunitárias da cidade, sendo cultuado por religiões afro por ter um importante assentamento de Bará. Orla do Guaíba: Nos fins de semana, a avenida que costeia o lago, a Beira-Rio, é fechada para carros e dá espaço a ciclistas, skatistas, pedestres e moradores em geral, que munidos de uma garrafa térmica e uma cuia de chimarrão, contemplam o sol desaparecer no horizonte. 12 Museu Iberê Camargo: Projetado pelo famoso arquiteto português Álvaro Siza, a Fundação Iberê Camargo, reúne obras do importante artista plástico gaúcho Iberê Camargo, além de abrigar exposições itinerantes. De dentro, os blocos de concreto que forma o moderno prédio são recortados por pequenas janelas de vidro, de onde é possível ver o Guaíba, logo à frente. Parque da Redenção: Está entre os espaços públicos mais movimentados está o Parque Farroupilha, mais conhecido como Redenção.Aos sábados de manhã, uma feira orgânica toma conta de uma das ruas laterais do parque, a Rua José Bonifácio. Aos domingos, é a vez do Brique da Redenção,, a mais famosa feira da cidade, que reúne artesanato e antiguidades. Arena Grêmio: Inaugurada em 2012, a Arena do Grêmio está localizada em uma região próxima ao Aeroporto Salgado Filho e tem capacidade para mais de 55 mil torcedores. Na Arena é possível visitar o Museu do Grêmio e também fazer um tour de bastidores pelos vestiários, corredores e interior do estádio ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 13 Estádio Beira-Rio: A casa do Internacional, fica às margens do Guaíba (bem próximo ao Museu Iberê Camargo). O estádio também oferece visita guiada e há um museu e uma loja de artigos colorados.Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa - Abrange todos os setores de comunicação, da imprensa escrita, à publicidade e propaganda, televisão, vídeo, cinema, rádio e fonografia. Promove cursos, palestras e exposições temporárias. Rua dos Andradas, 959. De segundas a sextas, das 14h às 19h; sábados, das 9h às 14h. Tel: (051) 224-4252. Museu de Porto Alegre - (Solar Lopo Gonçalves) O acervo conta com 357 peças catalogadas, com 39 coleções, 5 mil fotografias da cidade, acervo arqueológico com 6 mil evidencias, miniaturas de antigas residências açorianas. Rua João Alfredo, 582. Tel: (051) 221-6622. De terça à Domingo das 9h às 12h e das 12h30 às 18h. Brique da Redenção - Tradicional feira da cidade que acontece aos domingos, das 9h às 16h. Antigüidades, artesanatos, artes plásticas e eventos culturais paralelos. Av. José Bonifácio (junto ao Parque Farroupilha). Brique da Tristeza - Artesanato e artes plásticas, com área infantil e shows. Aos sábados, das 10h às 18h Av. Wenceslau Escobar, 1886 (ao lado do Supermercado Nacional). Casa do Artesão - Cursos, comercialização de artesanatos, exposições e cadastramento de artesões. Rua Dr. Flores, 455. fone: 226-3055, das 9h às 18h. Arte na Praça - Integrado ao Brique, uma galeria ao ar livre com comercialização de telas, esculturas, fotografias, aquarelas, desenhos, caricaturas, xilogravuras entre outros. Apresentações de dança, música, teatro e declamação poética. Feira da Praça da Alfândega - Exposição de objetos em couro, bijuterias de metal, prata, alpaca, latão, tecido, entalhe em madeira e pintura a óleo. De segunda a sábado, das 9h às 19h, na Praça da Alfândega. Feira da Cidade Antiga - Oferece culinária típica afro-brasileira, alemã, russa, chilena, peruana, italiana, comida campeira e peixe na taquara. Aos sábados, das 10h às 17h. Praça Brigadeiro Sampaio (Início da Rua dos Andradas) Feiras Ecológicas - Aos sábados, das 7h 30 às 12h 30. Av. José Bonifácio (Feira Coolméia - Junto ao Parque Farroupilha) e Av. Princesa Isabel (Esquina com Gomes Jardim) Museu do Exército - Rua dos Andradas em frente a Igreja Nossa Senhora das Dores. A entrada é franca e funciona de segunda a sexta das 09:00 as 17:00. Museu do Banco Meridional - Construção em estilo neoclássico (1927/1932). Apresenta a história do dinheiro e dos bancos, com coleção de cédulas antigas, moedas, máquinas utilizadas 14 em bancos. Rua 7 de setembro, 1028. Tel: (051) 287-5000 ramal 5269. Segunda à sexta das 10h às 16h. Museu do Trabalho - Inaugurado em dezembro de 1982, apresenta acervo composto por equipamentos e materiais que retratam a evolução das atividades produtivas no RS e sua dimensão sociológica. Rua dos Andradas, 230 - Centro -Tel.: (051)227.1450. De terças a domingos, das 13h às 18h Laçador - Estátua em bronze que representa o gaúcho em sua vestimenta típica campeira. Foi executada pelo escultor Antônio Caringi e inaugurada em 1954. Na Praça do Bombeador, bairro São João, na entrada da cidade para quem vem da BR-116. Monumento à Júlio de Castilhos - Com 22,5m de altura, foi executado na França pelo escultor brasileiro Décio Villares e inaugurado em janeiro de 1913. Praça Mal. Deodoro (Praça da Matriz). Fonte Talavera de La Reina - Foi doada à cidade pela colônia espanhola de Porto Alegre em 1935, por ocasião do Centenário da Revolução Farroupilha. Sinaliza o marco zero da cidade. Praça Montevidéo, em frente à Prefeitura Municipal. Monumento ao Expedicionário - Construído em granito, apresenta-se como um duplo Arco do Triunfo e foi inaugurado em 1953 numa homenagem à Força Expedicionári Brasileira. Parque Farroupilha (Redenção). Ponte de Pedra - A ponte, de três arcos planos, concluída em 1854, permitia a ligação viária do centro com as antigas chácaras da cidade. Foi tombada pelo município em 1979. Parque dos Açorianos - Centro. Organização política e territorial Porto Alegre A cidade de Porto Alegre, apresenta a maior densidade demográfica no estado e maior dinâmica econômica entre as demais. Seu prefeito é Nelson Marchezan Júnior, que será sucedido por Sebastião Melo e janeiro de 2021. Área Territorial: 495,390 km² População Estimada: 1.488.252 pessoas Densidade Demográfica: 2.837,53 hab/km² Escolarização: 6 a 14 anos 96,6 % IDHM (Índice de desenvolvimento humano municipal): 0,805 O estado do Rio Grande do Sul, conforme os ditames contidos na Carta Constitucional da República Federativa do Brasil, é governado por três poderes, o Executivo, representado pelo Governador, o Legislativo, representado pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e o Judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul e outros tribunais e juízes. Além dos três poderes, o estado também permite a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos. O Poder Executivo, gaúcho está centralizado no governador do Estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para mandatos de até quatro anos de duração, ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 15 podendo ser reeleito para mais um mandato. Sua sede é o Palácio Piratini, que desde 1921, é a sede do governo gaúcho. A maior corte do Poder Judiciário Estadual é o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, localizada no Centro de Porto Alegre. Há também um Tribunal de Justiça Militar. O Poder Legislativo do Rio Grande do Sul é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, localizado no Palácio Farroupilha. Ela é constituída por 55 deputados, que são eleitos a cada quatro anos. No Congresso Nacional, a representação gaúcha é de 3 senadores e 31 deputados federais. O Rio Grande do Sul está dividido em 496 municípios. O mais populoso deles é a capital, Porto Alegre, com 1,4 milhões de habitantes, sendo a cidade mais rica do estado. Sua região metropolitana, possui aproximadamente 4,1 milhões de habitantes. A geografia de Porto Alegre é, como na maioria das grandes cidades, heterogênea. A maior parte da cidade de Porto Alegre é cercada por prédios. A área do município de Porto Alegre é de 470,25 km² (Censo IBGE/2000). Destes, 44,45 km² estão distribuídos nas 16 ilhas do Delta do Jacuí sob jurisdição do município. Atualmente a cidade conta com 94 bairros. Possui um relevo montanhoso na região mais ao sul, apresentando morros, sendo o mais alto deles o Morro Santana, com 311 metros de elevação acima do nível do mar. A cidade ainda possui 70 km de margens banhadas pelo Lago Guaíba. Ainda existem algumas áreas do território sem denominação oficial (zona indefinida) e que são conhecidas por "apelidos", como é caso do Morro Santana, Passo das Pedras e Aberta dos Morros. Atualmente a cidade conta com 94 bairros oficiais. Os cinco mais populosos e suas respectivas áreas, segundo dados do censo do IBGE de 2010, recalculados pelo ObservaPoa, são: ● Sarandi: 59 711 moradores ● Lomba do Pinheiro: 58 106 moradores ● Restinga: 53 508 moradores ● Paternon: 48 160 moradores ● Santa Tereza: 39 577 moradores Regiões administrativas Porto Alegre Territorialização da Cidade ● Cidade de Porto Alegre sem Contornos; ● Regiões de Planejamento da Cidade; ● Regiões dos Orçamento Participativo; ● Bairros de Porto Alegre. Serviços Municipais Regionalizados na Cidade 16 ● Região 1 - Ilhas e Humaitá/Navegantes; ● Região 2 - Norte e Nordeste; ● Região 3 - Leste; ● Região 4 - Paternon; ● Região 5 - Glória, Cruzeiro e Cristal; ● Região 6 - Sul e Centro Sul; ● Região 7 - Restinga e Extremo Sul; ● Região 8 - Centro; ● Região 9 - Lomba do Pinheiro; ● Região 10 - Eixo Baltazar e Nordeste. Regionalização do IBGE Divisão política Porto Alegre Limites do Município de Porto Alegre Norte: Canoas Nordeste: Cachoeirinha e Alvorada Leste:Viamão e Oeste: Eldorado do Sul Região Geográfica Intermediária Porto Alegre Região Geográfica Imediata Porto Alegre Novo Hamburgo-São ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER17 Leopoldo Tramandaí-Osório Taquara-Parobé-Igrejinha Camaquã Charqueadas-Triunfo-São Jerônimo Montenegro Torres Número de municípios por Região Geográfica 90 23 22 10 06 09 06 07 07 Hierarquia urbana Porto Alegre A hierarquia urbana é a maneira como as cidades organizam-se dentro de uma escala de subordinação. Na prática, ocorre quando vilas e cidades menores subordinam-se às cidades médias, e estas se subordinam às cidades grandes. Por meio da hierarquia urbana, pode-se conhecer a importância de uma cidade e a sua relação de subordinação ou influência sobre as outras que estão à sua volta. Essa teoria não é estabelecida apenas pelo tamanho da cidade ou pelo contingente populacional, mas especialmente pela quantidade e variedade de bens e serviços oferecidos. Quanto maior é a sua importância no processo produtivo, maior é a sua colocação na hierarquia urbana. A ideia de hierarquia urbana, especialmente na atualidade, está vinculada ao conceito de rede urbana, que nada mais é do que a rede de relações econômicas, sociais e culturais que integram as cidades. A rede urbana apresentada neste item é resultado do estudo Rede de Influência das Cidades do IBGE. Nesse estudo, o IBGE atualiza o quadro de referência da rede urbana brasileira de estudos já realizados e publicados em 1972, 1987, 2000 e 2008. Nele, a rede urbana está estruturada em duas dimensões: a hierarquia dos centros urbanos, dividida em cinco níveis; e as regiões de 18 influência, identificadas pela ligação das cidades de menor para as de maior hierarquia urbana. O elo final de cada rede são as Metrópoles, para onde convergem as vinculações de todas as Cidades presentes no Território Nacional. As cidades brasileiras foram classificadas em cinco grandes níveis e estes subdivididos em dois ou três subníveis: 1. Metrópoles – centros urbanos que caracterizam-se por seu grande porte e por fortes relacionamentos entre si, além de, em geral, possuírem extensa área de influência direta. Possui três sub-níveis: Grande Metrópole Nacional, Metrópole nacional e Metrópole. 2. Capitais Regionais – centros urbanos com alta concentração de atividades de gestão, mas com alcance menor em termos de região de influência em comparação com as Metrópoles. Possui também três subdivisões: Capital Regional A, Capital regional B e Capital Regional C. 3. Centro Sub-Regionais – centros com atividades de gestão menos complexas, com áreas de influência de menor extensão que as das Capitais Regionais. Subdivididos em dois grupos: Centro Sub-Regional A e Centro Sub-Regional B. 4. Centros de Zona – nestas as cidades caracterizam-se por menores níveis de atividades de gestão, polarizando um número inferior de Cidades vizinhas em virtude da atração direta da população por comércio e serviços baseada nas relações de proximidade. Estão subdivididos em Centro de Zona A e Centro de Zona B. 5. Centros Locais – cidades que exercem influência restrita aos seus próprios limites territoriais, apresentam fraca centralidade em suas atividades empresariais e de gestão pública, geralmente tendo outros centros urbanos de maior hierarquia como referência para atividades cotidianas de compras e serviços de sua população, bem como acesso a atividades do poder público e dinâmica empresarial. No Rio Grande do Sul a capital representa o mais alto nível nesta classificação. A rede de Porto Alegre se caracteriza por uma importante centralidade da Capital dentro de seu Estado, mas também por um número expressivo de níveis hierárquicos intermediários. No total, a rede de Porto Alegre possui seis Capitais Regionais: as Capitais Regionais B do Arranjo Populacional de Caxias do Sul/ RS e do Município de Passo Fundo (RS), acompanhadas pelas Capitais Regionais C dos Arranjos Populacionais de Lajeado/RS, Santa Cruz do Sul/RS, Santa Maria/RS e Pelotas/RS. Há ainda um número elevado de Centros Sub-Regionais (39 centros urbanos). A rede da Capital gaúcha apresenta uma série de Centros Sub-Regionais e mesmo Centros Locais que se reportam diretamente à Capital, ignorando as Cidades de centralidade intermediária. Essa situação é particularmente pronunciada na metade sul do Estado, caracterizada por uma densidade populacional mais baixa. Na porção norte, de maior fragmentação territorial dos Municípios, ainda há redes de Centros Locais subordinados a Centros Sub-Regionais. Contudo, estes últimos – como o Arranjo Populacional de Santo Ângelo/RS e os Municípios de Santa Rosa (RS), Ijuí (RS) e Cruz Alta (RS) – se ligam a Porto Alegre contornando as Capitais Regionais mais próximas. A rede de Porto Alegre se restringe ao território do próprio Estado. Símbolos Porto Alegre ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 19 Brasão de Porto Alegre Bandeira de Porto Alegre Hino de Porto Alegre Porto Alegre Valerosa Porto Alegre "Valerosa" Com teu céu de puro azul És a jóia mais preciosa Do meu Rio Grande do Sul Tuas mulheres são belas Têm a doçura e a graça Das águas, espelho delas, Do Guaíba que te abraça E quem viu teu sol poente Não esquece tal visão Quem viveu com tua gente Deixa aqui teu coração. Estrutura dos Poderes Porto Alegre 20 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 21 TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO RS TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4 REGIÃO TRIBUNAL JUSTIÇA CÂMARA MEDIAÇÃO ARBITRAGEM DA CENTRAL VALORES DO MERCOSUL TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO GRANDE DO SUL TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR DO ESTADO TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE PORTO ALEGRE JUSTIÇA FEDERAL 1ª VARA CRIMINAL TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4 REGIÃO TRIBUNAL JUSTIÇA TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO Fauna e flora locais Porto Alegre Considerada a cidade mais arborizada do Brasil, ostenta cerca de 1.000.000 de árvores em vias públicas, de 189 espécies, sendo as mais frequentes a extremosa, ligustro, jacarandá, ipês, jacarandás e flamboyãs. Há espécies ameaçadas de extinção protegidas em Unidades de Conservação municipais de Porto Alegre, tais como o Bugio (Alouatta guariba), um macaco que alimenta-se de folhas e frutos e que necessita de amplas áreas de vegetação florestal para sobreviver. Da mesma forma, proteger os processos ecológicos é importante, porque a manutenção dos mesmos propicia condições para que haja vida neste planeta.Um dos objetivos da preservação é prevenir a simplificação dos sistemas naturais decorrente da perda de biodiversidade, resultante da ocupação humana do território e de suas atividades. Para citar um impacto negativo da perda de biodiversidade sobre nossa sociedade, pode-se dizer que plantas com potencial farmacológico deixam de ser conhecidas e pesquisadas, e remédios deixam de ser produzidos por consequência disso. Ao redor de Unidades de Conservação existem zonas de amortecimento, as quais tem o objetivo de evitar, minimizar e compensar impactos negativos sobre elas. Para atingir esse objetivo, nestas zonas as atividades humanas estão sujeitas às normas, restrições e usos específicos. Estes itens, fazem parte de um documento técnico intitulado “Plano de Manejo” da Unidade de Conservação. No Plano de Manejo se estabelecem o zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais. Nas páginas das Unidades de Conservação de Porto Alegre é possível obter cópias digitais dos Planos de Manejo já instituídos. As áreas naturais preservadas em cidades constituem um importante indicador de qualidade de vida para a população, bem como um abrigo para a fauna. Em Porto Alegre, as áreas preservadas abrigam diferentes espécies da flora nativa, inclusive várias ameaçadas de extinção. 22 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 23 24 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 25 26 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 27 28 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 29 30 Hidrografia e relevo Porto Alegre Geologicamente a estruturado terreno portoalegrense é muito antiga. A cidade está localizada dentro dos limites da Bacia do Paraná, uma extensa bacia sedimentar que se estende para o norte até o centro do Brasil, cujos primeiros sedimentos foram depositados no Paleozóico, com vários acúmulos posteriores. Localmente o relevo da cidade é dominado pelo Maciço de Porto Alegre, parte do Cinturão Dom Feliciano, formado entre 2 e 2,4 bilhões de anos atrás e responsável pela existência da cadeia de morros que circunda a cidade. Os morros mais elevados são o Morro Santana, com 331m, o Morro da Polícia, com 291m, e o Morro Pelado, com 298m. A altitude média da cidade é de 10 m acima do nível do mar. Na hidrografia local a formação mais importante é o lago Guaíba, popularmente chamado "rio Guaíba", que limita a cidade a oeste e cujas águas se acumulam no recesso de uma falha geológica que tem origem na cidade de Osório e termina na região de Guaíba, e que são contidas por uma barragem natural na altura da ponta de Itapuã. No lago deságuam os rios acima citados, recebendo também outros tributários menores. A região litorânea possui várias praias, mas sua balneabilidade é comprometida pela poluição. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 31 32 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 33 Matriz produtiva Porto Alegre Número de empregados, massa salarial e média salarial Porto Alegre é a 6ª maior economia do Brasil 34 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 35 Matriz Energética Porto Alegre 36 A oferta de energia no Estado provém de usinas hidrelétricas, de termoelétricas a óleo combustível, a gás natural e a carvão mineral, e de fontes alternativas de energia como eólica e pequenas centrais termo e hidrelétricas. O Rio Grande do Sul vem investindo, ainda, no desenvolvimento de biocombustíveis como biodiesel, etanol e biogás. O Estado já conta, em 2015, com nove usinas para a fabricação de biodiesel, com produção anual de 606 milhões de litros e capacidade nominal anual para produzir 1.363 milhões de litros, sendo o maior produtor nacional (ANP, 2015). Unidades de conservação Porto Alegre As Unidades de Conservação administradas pelo município de Porto Alegre são: o Parque Natural Municipal Saint´Hilaire, o Parque Natural Morro do Osso, a Reserva Biológica do Lami e o Refúgio de Vida Silvestre São Pedro. Parque Natural Municipal Saint’Hilaire O Parque Natural Municipal Saint’Hilaire é uma Unidade de Conservação da Natureza do grupo de Proteção Integral de 1.148 ha, cujos objetivos de proteção da área estão contidos no Decreto 14.289, de 16 de setembro de 2003, que o enquadrou no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e mais recentemente no Sistema Municipal de Unidades de Conservação do Município de Porto Alegre. Os objetivos legais do Parque são: I - proteção e preservação dos ecossistemas e da diversidade biológica; II - obtenção de conhecimentos científicos básicos e incentivo à pesquisa; ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 37 III - integração da Unidade de Conservação com o entorno; IV - educação sócio-ambiental continuada; V - operacionalização da Unidade de Conservação; VI - revisão periódica do Plano de Manejo. Histórico Desde 1898, a antiga Companhia Hidráulica Porto Alegrense, proprietária de grande parte da área, captava água com fins de distribuição à população. Na década de 1940, foi construída a Barragem da Lomba do Sabão, um reservatório para captação de Água com 75 ha de lâmina d'água. A água, captada e tratada, era bombeada para a Hidráulica Moinhos de Vento em Porto Alegre, para distribuição à população. O recalque da água utilizava a madeira para gerar energia, motivo pelo qual a Companhia plantou eucaliptos no local. A importância hídrica foi o motivo pelo qual a Prefeitura de Porto Alegre adquiriu a área em 1944, com fins de proteção da qualidade ambiental da bacia hidrográfica e suas águas. Pela Lei 16, de 29 de novembro, de 1947, passou a ser denominado “Jardim Botânico Municipal Parque Saint’Hilaire”. O nome homenageava o conhecido naturalista e viajante francês Augustin François Cesar Provensal Saint´Hilaire, que deixou um vivo relato sobre aspectos sociais e naturais do Rio Grande do Sul em seu livro Viagem ao Rio Grande do Sul, de 1820. O Jardim Botânico era administrado pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov). Com a criação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre (Smam), em 1977 o então Jardim Botânico passou a ser administrado por esta secretaria sob a denominação de “Parque Saint’Hilaire”, sendo separado em duas áreas: uma de Preservação Permanente com 950 ha e outra de 230 ha destinada à recreação pública. Em 2003 o Parque foi enquadrado no Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, passando a denominar-se Parque Natural Municipal Saint’Hilaire. Seu espaço foi dividido em 8 zonas de uso pelo Plano de Manejo elaborado em 2002, zoneamento este que passou a valer em relação à subdivisão em áreas de preservação e recreação determinada anteriormente. Parte do espaço é considerado área de uso intensivo onde é permitida a visitação, havendo ainda áreas intangíveis, dentre outras caracterizadas no zoneamento do Plano de Manejo. A área de uso intensivo conta com churrasqueiras, quiosques e canchas esportivas. Importância Ambiental O Parque abriga mais de 50 nascentes, as mais distantes da foz do Arroio Dilúvio, possuindo papel fundamental na conservação da bacia hidrográfica. A fitogeografia do Parque é formada pela Floresta Estacional Semi Decidual, ecossistema associado ao Bioma Mata Atlântica, a segunda maior floresta em diversidade biológica e também a segunda mais devastada do planeta, considerada área prioritária para conservação da biodiversidade. A composição da vegetação é dada por 450 ha de mata nativa e cerca de 300 ha de campo nativo. O campo nativo conta com áreas expressivas de butiazais, além de banhados. O butiazal é uma formação altamente ameaçada de extinção no Rio Grande do Sul, devido à expansão urbana, agrícola e pecuária. Entre 1944 e 1946, antes da criação do parque, foram plantados cerca de 450 mil árvores de diferentes variedades de eucaliptos, sobre as áreas de campo nativo. Atualmente, há 120 hectares de Eucalyptus sp divididos em oito manchas e 10 hectares de Pinus sp, espécie exótica invasora. Em setores de planície de inundação em que se processa o extravasamento 38 de águas pluviais, obtém-se banhados. No parque eles se formaram, principalmente, depois da construção da Barragem Lomba do Sabão. É uma área rica em produtividade primária e um refúgio para nidificação de diversas espécies. No Plano de Manejo, feito em 2002, foram identificadas no parque 56 espécies vegetais distribuídas em 27 famílias. Estima-se que esse número ultrapasse as 161 espécies e 54 famílias. Entre as espécies vegetais ameaçadas, destacam-se a canela-preta (Ocotea catharinensis) e, em vias de extinção, a corticeira da terra (Erythrina falccata) e as figueiras do gênero Fícus sp. O parque é um refúgio para a fauna da região metropolitana, com uma biodiversidade composta por 12 espécies diferentes de mamíferos, dentre eles graxaim, ouriço, gambá e mão-pelada, 47 espécies de répteis (cobras, lagartos, lagartixas), 23 de anfíbios (sapos, pererecas e rãs), 14 espécies de peixes que habitam a barragem e 88 espécies de aves, sendo que quatro estão ameaçadas de extinção: chupa-dente (Conopophaga lineata), patinho (Platyrinchus mystaceus niveigularis), cisca-folha (Sclerurus scansor cearensis) e choca-da-mata (Thamnophilus caerulescens cearensis). Conselho Consultivo O conselho Consultivo, criado pelo Decreto 15.223, de 20 de junho, de 2006, é atuante e possui papel fundamental na gestão compartilhada do Parque. É composto por 8 representantes de instituições da sociedade civil ou de ensino e 8 representantes de órgãos públicos. Visitação A entrada é gratuitae visitas orientadas podem ser agendadas por instituições de ensino e pesquisa. Em dias de condições climáticas adversas (chuvas e/ou ventos), o Parque não abre para visitação. Endereço: Avenida Senador Salgado Filho (RS-040), 2785, parada 38, bairro Vera Cruz – Viamão E-mail: sainthilaire@smam.prefpoa.com.br Horário: terças a domingos, das 8h00 às 17h30, com saída às 18h. Parque Natural Morro do Osso O Morro do Osso, com 143m de altura, faz parte da cadeia dos morros graníticos existentes em Porto Alegre e localiza-se próximo à margem do Lago Guaíba. Possui 220 hectares de área natural e constitui-se num importante reduto biológico, praticamente isolado pela urbanização dos bairros Tristeza, Ipanema, Camaquã e Cavalhada, adjacentes ao morro. Do alto do morro tem-se uma das vistas mais belas do município, com o Lago Guaíba, o Delta do Jacuí, os morros Santa Tereza, Teresópolis, Agudo, da Tapera, das Abertas e o da Ponta Grossa. Parte do Morro do Osso constitui-se no Parque Natural do Morro do Osso, com área de 127 hectares. A luta pela preservação do Parque Natural do Morro do Osso tem mais de 20 anos. Por apresentar uma grande biodiversidade e resquícios de Mata Atlântica, o morro motivou ambientalistas do município, comunidades do entorno, universidades e órgãos públicos a buscar a conservação com a criação da Comissão Permanente em Defesa do Morro do Osso. Em 1979, o parque foi transformado em área de preservação ecológico pelo Plano Diretor da cidade. Em 1990, foi realizado o primeiro passeio ecológico para preservação da área e efetivação do parque. Em 1994, foi criado o Parque Natural Morro do Osso. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 39 Atualmente, o parque abrange uma área de 57 hectraes, já desapropriados, com ampliação prevista pelo Plano Diretor para 127 hectares, o que irá garantir a proteção do local Flora Aproximadamente 60% da vegetação natural do Morro do Osso é constituída por formações florestais de dois tipos: a floresta alta e a floresta baixa. O restante é constituído por comunidades herbácea-arbustivas, formadas pelos campos pedregosos e pelas capoeiras e vassourais. Na floresta alta e úmida, com forte influência da Mata Atlântica, destacam-se a figueira-purgante (Ficus insipida), a canela-ferrugem (Nectandra oppositifolia) e a corticeira-da- serra (Erythrina falcata). A floresta baixa geralmente ocupa os topos ou as encostas superiores do morro é representada pela capororoca (Myrsine umbellata), a aroeira-brava (Lithraea brasiliensis), o branquilho (Sebastiania commersoniana ) e o camboim (Myrciaria cuspidata). O Morro do Osso apresenta também algumas espécies arbóreas sob possível ameaça de extinção, como a canela preta (Ocotea catharinensis) e a corticeira-daserra. Além disso, ocorrem espécies com distribuição muito restrita em Porto Alegre, como o sobraji (Colubrina glandulosa). Fauna Levantamento e estudos constataram a existência de grande diversidade de fauna no Morro do Osso. Entre os anuros, destacam-se sapo de cova (Bufo dorbignyi), perereca do banhado (Hyla pulchella), rã criola (Leptodacylus ocellatus) e rã chorona (Physalaemus gracilis). Entre os répteis encontram-se lagartos de papo amarelo (Tupinambis merianae), lagartixa verde (Teius oculatus), serpente papa-pinto (Philodryas patagoniensis), coral verdadeira (Micrurus altirostris) e jararaca pintada (Bothrops neuwiedi). Além dessas espécies, no Morro do Osso foram registrados cerca de 65% da avifauna encontrada em Porto Alegre. Pode-se visualizar espécies de mata aberta, de borda de mata e campo, destacando-se o sabiá-ferreiro (Turdus subalaris), juruvia (Vireo olivaceus), pula-pula (Basileuterus culicivorus) e pica-pau (Veniliornis spilogaster). Além disso, o local abriga aves raras, como o gaviãozinho (Accipiter striatus), o gavião-rabo-curto (Buteo brachyurus) e o beija- flor-de-topete (Stephanoxis lalandi). Alguns mamíferos, como pequenos roedores e espécies raras como o bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitans) e o ouriço-cacheiro (Sphiggurus villosus) também foram identificadas no local. Plano de Manejo Clique aqui para ter acesso ao Plano de Manejo Participativo do Parque Natural do Morro do Osso em PDF. O Parque Natural Morro do Osso disponibiliza visita orientada às quartas e sextas-feiras, das 8h30 às 12h e das 14h às 17h, e sábados, das 8h30 às 12h, para Escolas e grupos com no mínimo 10 (dez) pessoas. E-mail: morrodoosso@smam.prefpoa.com. br Endereço: Rua Irmã Jacobina Veronese, s/nº, bairro Ipanema Telefone: (51) 3289-5070 ou 3289-5071 40 Horário de Funcionamento: de terça-feira a domingo, das 8h às 18h Área: 127 hectares Inaugurado em: 1994 Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger A unidade de conservação possui grande variedade de ambientes, como matas ciliares, banhados, juncais, matas de restinga, maricazais, vassourais e campos arenícolas, contribuindo para a diversidade de espécies da flora e fauna silvestre. A ocorrência da Ephedra tweediana, vegetal considerado raro e endêmico, característico das matas de restinga, e é um dos ecossistemas mais ameaçados no Rio Grande do Su motivou ação inicial para a criação da Reserva Biológica do Lami, em 1975. Ocorrem na Reserva Biológica espécies ameaçadas de extinção em diferentes status de conservação (de acordo com as listas oficiais do Estado)- raras, endêmicas e imunes ao corte. Entre elas, pode-se destacar a figueira da folha miúda (Ficus Cestrifolia), a corticeira do banhado (Erythrina crista-galli) e o butiazeiro (Butia odorata), espécies protegidas por leis municipais e estaduais e imunes ao corte. Por meio de estudos científicos, foram identificadas na Reserva do Lami mais de 300 espécies vegetais nativas, um número muito superior de espécies animais e mais de 200 espécies de aves nativas, inclusive migratórias, locais, regionais e continentais. Os banhados em seus diferentes gradientes de umidade, além daqueles sazonais (que tem seus ciclos vitais atrelados a épocas do ano de cheias), assim como os juncais, são considerados berçários para muitos organismos aquáticos como peixes, anfíbios e moluscos. Além disso, nas elevações arenosas é possível encontrar ovos de tartaruga e de lagartos. A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), o maior roedor do planeta, pode ser encontrada principalmente nas matas ciliares, em razão de seus hábitos semiaquáticos. Também são vistas em transição entre ambientes terrestres próximo a cursos d’água. A espécie vive em pequenos agrupamentos. Há ainda a ocorrência do jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). Espécies ameaçadas de extinção, no status vulnerável, como a lontra (Lontra longicaudis) e o bugio-ruivo também ocorrem na região. A Reserva Biológica do Lami José Lutzeberger presta importantes serviços ambientais com a salvaguarda de seus ecossistemas e biodiversidade. Entre seus principais objetivos estão a conservação da natureza, a pesquisa científica e a educação ambiental. Visitas educativas com grupos podem ser agendadas pelo e-mail reservalami@smam.prefpoa.com.br. Telefone: 3263-1079 - E-mail: reservalami@smam.prefpoa.com.br - Área: 204,04 hectares - Endereço: Avenida Otaviano José Pinto, s/nº, bairro Lami E-mail: reservalami@smam.prefpoa.com.br - Área: 204,04 hectares - Inaugurada em 1975 Refúgio de Vida Silvestre São Pedro Criado por meio do Decreto Municipal 18.818, de 16 de outubro de 2014, o Refúgio de Vida Silvestre São Pedro é uma Unidade de Conservação (UC) da natureza de Proteção Integral, localizado na zona Sul da cidade. O local é habitat de espécies animais raras e ameaçadas de extinção, como o mão-pelada, o graxaim e o bugio-ruivo, e está inserido no maior fragmento de Mata Atlântica de Porto Alegre, com vegetação florestal e campestre. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 41 As UC são áreas protegidas estabelecidas pela Lei Federal 9.985/2000 e pela Lei Complementar municipal 679/2011 e podem ser de duas categorias: de Proteção Integralou de Uso Sustentável. As UC de proteção integral são aquelas em que é permitida apenas a pesquisa, a visitação regrada e instalação de estruturas para garantir a conservação da área e em algumas categorias o lazer em contato com a natureza. No local, é permitido apenas o uso indireto dos recursos naturais, possibilitando a realização de pesquisas científicas, práticas espirituais tradicionais indígenas e o desenvolvimento de atividades de educação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. Conforme o Decreto, a criação do Refúgio de Vida Silvestre São Pedro tem como objetivos assegurar a conservação da biodiversidade local, garantindo condições para a existência da fauna de mamíferos, especialmente do bugio-ruivo (Alouatta guariba clamitan), espécie ameaçada de extinção no Estado do Rio Grande do Sul, segundo o Decreto Estadual nº 41.672, de 11 junho de 2002; proteger integralmente e regenerar os ecossistemas naturais da mata atlântica e dos campos nativos por abrigarem espécies raras e endêmicas; manter e recuperar nascentes de cursos d'água; incentivar o fortalecimento da cultura indígena e consequentemente possibilitar à sociedade em geral aprender o espírito indígena de relacionar-se com a natureza e com o meio ambiente; desenvolver atividades de educação e interpretação ambiental, recreação em contato com a natureza e turismo ecológico; e promover o fortalecimento de ações que oportunizem uma relação sustentável entre a cultura indígena, meio ambiente e sociedade. Histórico da criação - De 16 de setembro a 30 de outubro de 2013, a Smam organizou Consulta Pública on-line sobre o tema. A pesquisa contou com a participação de 334 pessoas e Em 03 de setembro de 2013, ocorreu a Audiência Pública sobre a proposta do município de criação da unidade de conservação da natureza, na sede do Clube Lajeado (avenida Edgar Pires de Castro, 9316). A reunião contou com a participação de mais de 200 pessoas. Limites do Refúgio - Os imóveis que compõem a Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre São Pedro são aqueles registrados na 3ª Zona de Porto Alegre assim descritos: toda a área de terras registrada sob a matrícula nº 54.506, com área de 53,4146ha; toda a área de terras da matrícula nº 119.822, com área de 12ha, registrado no Livro 3AT, fl. 124, nº 37.770 no 3º Cartório de Registro de Imóveis de Porto Alegre, na matrícula nº 119.823, com área de 4ha, registrado no Livro 3-UA, fl. 80, nº 37.770 no 3º Cartório de Registro de Imóveis de Porto Alegre e um excesso de área das duas matrículas referidas acima, com 11,477ha e parte da matrícula nº 16.180, fl. 1 do livro nº 2 do Registro Geral, com área de 64,63ha, tendo como frente o primeiro imóvel citado, situado na Estrada das Quirinas, nº 6301. A área abrangida pela Unidade de Conservação Refúgio de Vida Silvestre São Pedro tem a seguinte descrição: parte-se do ponto situado no extremo sul da propriedade, ponto formado pela esquina da Estrada das Quirinas com o Beco da Taquara, o qual mede 272,5m, um rumo de 43°45’ NE, de seu extremo parte o segundo ali nhamento que tem rumo 52°38’ NE, com comprimento de 138,5m, esse pri meiro e segundo alinhamentos totalizam a divisa SE da propriedade que acompanha a Estrada das Quirinas numa extensão de 411m, do extremo do 2° alinhamento inicia a divisa NE da propriedade com terras que são ou foram de Virgílio Freitas Guimarães, composta unicamente pelo 3° alinhamento numa extensão de 2.488m percorrida sobre o rumo 43°34’ N O até encontrar a margem esquerda de uma sanga, onde encontra o limite da propriedade de terras que são ou foram de Jockey Club do Rio Grande do Sul, parcialmente incluída neste gravame, totalizando 136,14ha de superfície. Endereço: Estrada das Quirinas, 6.301, bairro Lami (entrada pelo Beco Passo da Taquara) 42 História Porto Alegre Localizada em uma região habitada pelo homem desde 11 mil anos atrás, Porto Alegre estabeleceu-se como cidade somente no século XVIII. Até então o território do Rio Grande do Sul ainda pertencia legalmente aos espanhóis, mas desde o século XVII os portugueses começaram a dirigir esforços para a conquista, e foram progressivamente penetrando no território pelo nordeste, chegando através do Caminho dos Conventos, uma extensão da Estrada Real, à região da Vacaria dos Pinhais, e dali descendo para Viamão. A penetração foi realizada por bandeirantes que vinham em busca de escravos índios e por tropeiros que caçavam os grandes rebanhos de gado bovino, mulas e cavalos que viviam livres no estado. Mais tarde os tropeiros passaram a se radicar no sul, transformando-se em estancieiros e solicitando a concessão de sesmarias. A primeira delas foi outorgada em 1732 a Manuel Gonçalves Ribeiro na Parada das Conchas, onde hoje é Viamão. Outra via de penetração foi através do litoral, fundando-se em 1737 uma fortaleza onde hoje é Rio Grande, com o objetivo dar assistência à Colônia do Sacramento, no Uruguai. Depois da assinatura do Tratado de Madrid (1750) o rei de Portugal determinou que fosse reunido um grupo de quatro mil casais dos Açores para povoar o sul, mas efetivamente foram transportados apenas cerca de mil casais, que se espalharam pelo litoral entre Osório e Rio Grande, e um pouco pelo interior. Cerca de 500 pessoas se fixaram em 1752 à beira do lago Guaíba, no chamado Porto de Viamão, o primeiro nome da futura Porto Alegre. Os conflitos locais entre portugueses e espanhóis, porém, não foram contidos pelo Tratado. Rio Grande foi invadida por espanhóis em 1763, a população portuguesa fugiu e o governo da Capitania do Rio Grande de São Pedro se mudou às pressas para Viamão. O Porto de Viamão foi elevado a freguesia, com o nome de Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, em 26 de março de 1772, hoje estabelecida como data oficial da fundação da cidade. Em vista da sua melhor situação geográfica e estratégica, em 25 de julho de 1773 o governador da Capitania, Marcelino de Figueiredo, determinou a transferência da capital de Viamão para lá, quando a freguesia já tinha cerca de 1.500 habitantes. Em 16 de dezembro de 1812 Porto Alegre tornou-se sede da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, recém criada, e cabeça da comarca de São Pedro do Rio Grande e Santa Catarina. Em 1814 o novo governador, Dom Diogo de Sousa, obteve a concessão de uma grande sesmaria ao norte, com o fim expresso de estimular a agricultura local. Com o crescimento de cidades próximas como Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha, e em vista de sua privilegiada situação geográfica, na confluência das duas maiores rotas de navegação interna - a do rio Jacuí e a da Lagoa dos Patos - Porto Alegre começava a se tornar o maior centro comercial da região. A frota permanente que frequentava o porto nesta altura contava com cerca de cem navios, e foi aberta uma alfândega. Também se iniciavam exportações de trigo e charque. Em 1816 se haviam comerciado 400 mil alqueires de trigo para Lisboa, e em 1818 se venderam mais de 120 mil arrobas de charque, produto que logo assumiria a dianteira na economia local. Em 1822 a vila ganhou foro de cidade. A partir de então chegaram os primeiros imigrantes alemães, instalando restaurantes, pensões, pequenas manufaturas, olarias, alambiques e diversos estabelecimentos comerciais. Como a situação econômica da Capitania não ia bem, pressionada por pesados impostos e negligenciada pelo governo imperial, em 1835 estalou em Porto Alegre a Revolução Farroupilha. Tomada em 1836 pelas tropas imperiais, a partir de então a cidade sofreu três longos cercos até o ano de 1838. Foi a resistência a esses cercos que ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 43 fez D. Pedro II dar à cidade o título de "Mui Leal e Valorosa". Apesar do inchaço populacional daqueles tempos, a malha urbana só voltou a crescer em 1845, após o fim da revolução e com a derrubada das muralhas que cercavam a cidade. No período de 1865 a 1870 a Guerra do Paraguai transformou acapital gaúcha na cidade mais próxima do teatro de operações. A cidade recebeu dinheiro do governo central, além de serviço telegráfico, novos estaleiros, quartéis, melhorias na área portuária. Em 1872 as primeiras linhas de bonde entraram em circulação. Construiu-se a Usina do Gasômetro (1874) para geração de energia e implantou-se uma rede de esgotos (1899), enquanto que os bairros da cidade se expandiam. Na virada do século XX Porto Alegre passou a ser imaginada como o cartão de visitas do Rio Grande do Sul, idéia alinhada com os propósitos do Positivismo, corrente filosófica abraçada pelos governos estadual e municipal, e por isso a cidade deveria transmitir uma impressão de ordem e progresso. Para transformar a idéia em fato, a Intendência, a cuja testa estava José Montaury, iniciou um enorme programa de obras públicas. Montaury permaneceu no governo municipal por 27 anos, sendo sucedido por Otávio Rocha e Alberto Bins, que em linhas gerais mantiveram a mesma orientação. A fim de melhor controlar o processo de desenvolvimento, o município atraiu para si a responsabilidade sobre muitos serviços públicos, como o fornecimento de água encanada, iluminação, transporte, educação, policiamento, saneamento e assistência social, em um volume que ultrapassava em muito o hábito da época e superava o que faziam na mesma altura São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1940 o município contava com cerca de 385 mil habitantes e seus índices de crescimento eram positivos para a indústria, a construção civil, a educação, a saúde, a eletrificação, o saneamento, o movimento portuário, os transportes e as obras de urbanização. A segunda metade do século XX foi caracterizada por um acelerado crescimento urbano e populacional, e os sucessivos administradores se empenharam novamente em uma série de investimentos em obras públicas, enquanto a cidade via desaparecer, sob a onda do progresso, boa parte de suas edificações antigas. Paralelamente, a cultura de Porto Alegre se caracterizou por um forte colorido político, reunindo expressivo grupo de intelectuais e produtores artísticos influentes alinhados ao Existencialismo e ao Comunismo. Entre o fim da década de 1950 e os anos que precederam o golpe militar de 64 foram montadas peças teatrais de vanguarda, em polêmicas abordagens de crítica social; as artes plásticas mostravam uma arte realista/expressionista de mesmo perfil, que por vezes adquiria um tom panfletário. Porto Alegre nas últimas décadas se tornou uma das grandes metrópoles brasileiras, internacionalizou sua cultura, se tornou um modelo de administração pública, dinamizou sua economia a ponto de se tornar uma das cidades mais ricas do mundo, e alcançou altos níveis de qualidade de vida, mas ao mesmo tempo passou a experimentar os problemas que afligem outros grandes centros urbanos do Brasil, com o surgimento de favelas, de dificuldades no trânsito e crescimento da poluição e dos índices de criminalidade. Geografia Porto Alegre A área de Porto Alegre, de 496,684 km2 , é um ponto de encontro de distintos sistemas naturais que imprimem uma geografia diversificada à cidade. Um anel de morros graníticos com 730 milhões de anos emoldura a região de planície onde está o grande centro urbano da cidade, ocupando 65% de seu território. Os morros fazem parte de uma plataforma originada de rochas que se fundiram sob pressão e calor intensos no interior da terra e depois emergiram, 44 elevando-se à altura de montanhas. Hoje, desbastadas e fendidas pela erosão de milhões de anos, formam pequenos morros de cume arredondados que dominam a paisagem da capital. O Morro Santana, com 311 m de altura, é o ponto mais alto, com matas e campos nativos, cachoeiras, banhados, charcos, lagos, córregos e cascatas. Esta formação geológica foi uma espécie de contensão natural para a ocupação do município em direção à zona sul, e contribuíu para que Porto Alegre conserve 30% de seu território como área rural, a segunda maior entre as capitais brasileiras. Outra parte do território da capital, cerca de 44 km², estão distribuídos em 16 ilhas do Lago Guaíba sob jurisdição do município. O lago contorna a cidade numa extensão 70 km de orla fluvial a expressão geográfica mais marcante da capital gaúcha. O conjunto de ilhas, parques e de áreas de preservação natural, somado à área rural e ao elevado índice de arborização das vias públicas, fazem de Porto Alegre uma cidade verde, acima do recomendado pela organização Mundial da Saúde (OMS). Outros dados: Fundação oficial: 26 de março de 1772 Localização: Latitude – 30° / Longitude W – Greenwich 51°. Capital mais meridional do Brasil Altitude: 10 m Área: 496,684 km2 Relevo: A cidade ocupa uma área de planície circundada por 40 morros que abrangem 65% da sua área. É limitada pela orla fluvial do lago Guaíba, de 72 quilômetros de extensão. População: 1.409.351 ( Fonte: IBGE - Censo Demográfico 2010 ) IDH (Índice de Desenvolvimento Humano): 0,865 História do Rio Grande do Sul ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 45 A bandeira do estado do Rio Grande do Sul foi adotada como símbolo oficial do estado no ano de 1891 e sua autoria é incerta. Alguns estudos apontam como sendo do major Bernardo Pires, do Exército Republicano, porém outros historiadores afirmam ser de autoria do engenheiro militar José Mariano de Mattos. A bandeira tem origem nos desenhos dos rebeldes da Guerra dos Farrapos, que ocorreu no ano de 1835. A composição original não possuía o brasão de armas. Por muito tempo, a bandeira não possuiu uma lei que a descrevesse ou regulamentasse seu uso. Em 1937, durante o regime político do Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas ordenou que todos os símbolos estaduais fossem abolidos, incluindo bandeiras e brasões. Devido a esse acontecimento, a bandeira só foi reestabelecida novamente no ano de 1966, quando foi sancionada a lei que regulamentava seu uso e descrição. A bandeira do Rio Grande do Sul é formada por um retângulo dividido em três faixas diagonais nas cores verde, vermelho e amarelo. Na seção vermelha, coincidindo com o centro da bandeira, está disposto um círculo branco com o brasão do estado em seu interior. Não há um consenso sobre o significado exato das cores da bandeira sul-rio-grandense. Muitas teorias envolvem aspectos políticos e históricos que entram em contradição em algum momento. Entretanto, a simbologia mais aceitável é a que considera as cores separadamente e atribui um significado a cada uma dela: ● A cor verde representa as matas dos Pampas e a riqueza natural da região; ● A cor vermelha simboliza os ideais revolucionários que marcaram a história do estado, assim como a coragem do povo; ● A cor amarela representa as riquezas do território do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul e sua População O Estado do Rio Grande do Sul está localizado na região Sul do Brasil. A capital é Porto Alegre e a sigla RS. ● Área: 281.737,947 ● Limites: O Rio Grande do Sul limita-se ao sul com o Uruguai, a oeste com a Argentina, a leste com o oceano Atlântico e ao norte com Santa Catarina ● Número de municípios: 497 ● População: 11.377.239 milhões de habitantes, conforme a estimativa do IBGE para 2019 ● Gentílico: gaúcho ● Principal cidade: Porto Alegre Densidade demográfica 39,79 hab/km² [2010] Matrículas no ensino fundamental 1.298.736 matrículas [2018] Matrículas no ensino médio 338.065 matrículas [2018] Docentes no ensino fundamental 73.770 docentes [2018] 46 Docentes no ensino médio 27.771 docentes [2018] Número de estabelecimentos de ensino fundamental 5.926 escolas [2018] Número de estabelecimentos de ensino médio 1.503 escolas [2018] IDH Índice de desenvolvimento humano 0,746 [2010] Rendimento mensal domiciliar per capita 1.705 R$ [2018] Total de veículos 7.077.972 veículos [2018] Rendimento nominal mensal domiciliar per capita 1.705,00 R$ [2018] Pessoal ocupado na Administração pública, defesa e seguridade social 350.956 pessoas [2017] População NativaHabitada inicialmente por índios Charrua/Minuano, Guarani e Kaingang, o território do Rio Grande do Sul passou a pertencer à Espanha com o Tratado de Tordesilhas, em 1494, que estabeleceu os limites com Portugal. A exploração econômica e a possibilidade de escravização dos indígenas atraiu a atenção dos colonizadores europeus, e, ao mesmo tempo, provocou o envio de jesuítas espanhóis para converter os nativos. Um dos primeiros registros que faz referência à região data de 1531, quando os navegadores portugueses Martin Afonso de Souza e Pero Lopes, de passagem pela costa (na qual não desembarcaram), batizaram a barra (onde alguns anos depois, foi aberta a passagem para os navios, do oceano para a Lagoa dos Patos) com o nome de Rio Grande de São Pedro. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 47 Tidos como extintos, os índios charrua sobreviveram 'invisíveis' por décadas e hoje lutam por melhores condições de vida A história da etnia tinha um final conhecido: o confronto de Salsipuedes, em 1831. O embate acabou se tornando um massacre oficial (planejado pelo governo uruguaio) e desleal. Caciques foram convidados a discutir uma aliança contra o Brasil, mas, desarmados, acabaram mortos, presos ou obrigados a trabalharem para estancieiros. Até mães foram separadas de seus filhos. A herança cultural charrua, principalmente a língua, acabou se perdendo ao longo do tempo. parte da etnia conseguiu cruzar a fronteira com o Brasil e se instalar na região das Missões, no noroeste gaúcho. A invisibilidade social viria a se tornar a principal estratégia de sobrevivência. Mas como pode uma versão equivocada da história vigorar por tanto tempo? grupos que acabaram escapando desses massacres, se refugiaram nos fundos de grandes latifúndios, em regiões impróprias para criação de gado, longe das sedes de estâncias, e lá se mantiveram" Dados oficiais dizem que existem atualmente na 6397 Charruas na Argentina e 42 no Rio Grande do Sul (INDEC, 2010) (Siasi/Sesai, 2014). 48 Índios Charrua e Minuano No Rio Grande do Sul, os índios Charrua/Minuano ocupavam áreas de campos do sudoeste, até aproximadamente a altura dos rios Ibicuí e Camaquã, mas também se estendiam para o pampa uruguaio e as pequenas porções do território argentino. Cada uma delas, entretanto, ocupava áreas bem-definidas. Os Charrua “moravam mais para o oeste, ocupando ambas as margens do Rio Uruguai e tiveram maior contato com o colonizador espanhol”, enquanto que os Minuano “se localizavam mais para leste, nas áreas irrigadas pelas lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira, com extensão até as proximidades de Montevidéu; tiveram maior contato com os portugueses” Os Charrua/Minuano praticavam a caça, a pesca e a coleta. Nas primeiras décadas do século XVI, as expedições sobre os territórios Charrua/Minuano foram esporádicas. Entretanto, a partir de meados deste mesmo século e primeiras décadas do século XVII, os interesses das Coroas Ibéricas crescem na região e alianças com lideranças Charrua, como Zapicán, Miní, Guaytán, e lideranças Minuanas, como Cloyan e Lumillan, passam a ser efetivadas. Possivelmente pela lógica nativa, essas alianças possibilitaram vantagens das parcialidades lideradas por estes caciques para lutarem contra os grupos indígenas inimigos que também ocupavam o território. O contato dos Kaingang com a sociedade teve início no final do século XVIII e efetivou-se em meados do século XIX, quando os primeiros chefes políticos tradicionais (Põ’í ou Rekakê) aceitaram aliar-se aos conquistadores brancos (Fóg), transformando-se em ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 49 capitães. Esses capitães foram fundamentais na pacificação de dezenas de grupos arredios que foram vencidos entre 1840 e 1930. Entre os desdobramentos dessa história, destacam-se o processo de expropriação e acirramento de conflitos, não apenas com os invasores de seus territórios, mas intragrupos kaingang. Os Kaingang vivem em mais de 30 Terras Indígenas que representam uma pequena parcela de seus territórios tradicionais. Índio Guarani 50 Os índios Guarani formam o maior povo em quantidade de indivíduos a viver no Brasil. Eles são originários do tronco da família linguística tupi-guarani. No Brasil, os guaranis vivem nos estados brasileiros do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e Tocantins, somente no País, há 57 mil indivíduos, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Também há indígenas guaranis vivendo na Argentina, Bolívia e no Paraguai, a maior parte dos guarani vive na Bolívia, onde há 78,3 mil indivíduos. No Paraguai existem 41, 2 mil e na Argentina 6,5 mil. No Rio Grande do Sul A nação Guarani era dividida em três grandes grupos: Tapes - habitavam a zona oeste e centro-oeste do estado e seriam os futuros índios missioneiros. Arachanes - habitavam a banda oeste da Lagoa dos Patos. Carijós ou Patos - habitavam o litoral norte do Rio Grande do Sul e Porto Alegre. Missões Jesuíticas As missões jesuíticas na América, também chamadas de reduções, foram os aldeamentos indígenas organizados e administrados pelos padres jesuíticas no Novo Mundo, como parte de sua obra de cunho civilizador e evangelizador. O objetivo principal das missões jesuíticas foi o de criar uma sociedade com os benefícios e qualidades da sociedade cristã européia, mas isenta dos seus vícios e maldades. Essas missões foram fundadas pelos jesuítas em toda a América colonial, ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 51 Para conseguirem seu objetivo os jesuítas desenvolveram técnicas de contato e atração dos índios e logo aprenderam suas línguas, e a partir disso os reuniram em povoados que por vezes abrigaram milhares de indivíduos. Eram em larga medida auto-suficientes, dispunham de uma completa infraestrutura administrativa, econômica e cultural que funcionava num regime comunitário, onde os nativos foram educados na fé cristã e ensinados a criar arte às vezes com elevado grau de sofisticação, mas sempre em moldes europeus. Depois de um início assistemático marcado por tentativas frustradas, em meados do século XVII o modelo missioneiro já estava bem consolidado e disseminado por quase toda a América, mas teve de continuar enfrentando a oposição de setores da Igreja Católica que não concordavam com seus métodos, do restante da população colonizadora, para quem os índios não valiam a pena o esforço de cristianizá-los, e os bandos de caçadores de escravos, que aprisionavam os índios para submetê-los ao trabalho forçado na economia colonial exploradora e destruíram diversos povoados, causando muitas mortes. Mesmo com vários problemas a vencer as missões como um todo prosperaram a ponto de em meados do século XVIII os jesuítas se tornarem suspeitos de tentar criar um império independente, o que foi um dos argumentos usados na intensa campanha difamatória que sofreram na América e na Europa e que acabou por resultar na sua expulsão das colônias a partir de 1759 e na dissolução da sua Ordem em 1773. Com isso o sistema missioneiro entrou em colapso, causando a dispersão dos povos indígenas reduzidos. O sistema missioneiro buscou introduzir o Cristianismo e um modo de vida europeizado, integrando, porém, vários dos valores culturais dos próprios índios, e estava baseado no respeito à sua pessoa e às suas tradições grupais, até onde estas não entrassem em conflito direto com os conceitos básicos na nova fé e da justiça. O mérito e a extensão do sucesso dessa tentativa têm sido objeto de muito debate entre os historiadores, mas o fato é que foi de importância central para a primeira organização do território e para o lançamento das fundações da sociedade americana como hoje ela é conhecida. Vários monumentos missioneiros são hoje patrimonial mundial. Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos jesuíticas espanhóis no continentedo Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul composto pelas Reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lorenso Martins, São João Batista, São Luiz Gonzada e Santo Ângelo Custódio. Os Sete Povos também são conhecidos como Missões Orientais, por estarem localizados a leste do Rio Uruguai. Os Sete Povos foram fundados na derradeira onda colonizadora jesuíta na região, depois de terem sido fundadas dezoito reduções em tempos anteriores, todas destruídas pelos bandeirantes brasileiros e exploradores portugueses. Dentre as causas apontadas pelos historiadores para o retorno, estão a abundância de gado na região e o desejo da coroa espanhola de assegurar a posse daquelas terras, em virtude da crescente presença portuguesa no sul. Contudo, essas teses são controversas. Seja como for, a partir de 1682 os Jesuítas começaram a voltar para as suas antigas terras, e neste mesmo ano foi fundado o primeiro dos Sete Povos: São Francisco de Borja, seguido por São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Miguel. No século XVIII, a região estava sob disputa entre Espanha e Portugal. O Tratado de Madri de 1750 havia posto a área à disposição de Portugal em troca da Colônia do Sacramento, e a saída dos Jesuítas espanhóis ali ficou decretada. Mas este Tratado gerou conflitos: nem padres nem índios queriam abandonar suas reduções, nem os portugueses queriam abandonar Sacramento. 52 Houve uma série de confrontos armados que culminaram na Guerra Guaranítica, que deixou um rastro de destruição e sangue que abalou as estruturas do sistema missioneiro. Logo depois veio fim: com a intensa campanha difamatória que os Jesuítas sofreram a partir de meados do século XVIII, a Companhia de Jesus foi expulsa de terras portuguesas em 1759, e em 1767 a Espanha fez o mesmo. No ano seguinte todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos Jesuítas. Então suas terras foram apossadas pelos espanhóis e os índios foram subjugados ou dispersos. Quando em 1801 eclodiu nova guerra entre Portugal e Espanha, os Sete Povos já estavam em tal estado de desintegração que com apenas 40 homens Manuel dos Santos Pedroso e José Borges do Canto conseguiram conquistá-los para Portugal, embora pareça ter havido a participação indígena como facilitadora da tomada de posse. Depois disso Portugal anexou o território ao Rio Grande do Sul, instalando um governo militar na região, encerrando todo um ciclo civilizatório e dando início a outro. Tratados e consolidação do estado ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 53 O Tratado de Tordesilhas foi assinado em 7 de junho de 1494 entre Portugal e Espanha Os Tratados entre Portugal e Espanha, o Tratado de Tordesilhas, as Fronteiras do Brasil, os demais Tratados. Em 1494 foi assinado entre Portugal e Espanha o Tratado de Tordesilhas. O Tratado de Tordesilhas acordado em 07 de junho de 1494 entre os países de Portugal e Espanha na vila de Tordesilhas é o mais famoso documento na história destes países.O documento reflete a hegemonia Ibérica sobre boa parte da terra por causa dos descobrimentos.Este Tratado foi validado em 02 de julho de 1494 pela Espanha na cidade de Arevalo e por Portugal em 05 de setembro de 1494 na cidade de Setúbal. Conflitos eram frequentes entre os espanhóis e portugueses. Houve a necessidade de regularizar a situação, quando foi assinado o Tratado de Madri em 1750. Neste tratado, defendido pelo português Alexandre de Gusmão dava ao Brasil território parecido com o atual.Por este tratado, Portugal entregaria a região da Colônia do Sacramento à Espanha e receberia os Sete Povos das Missões no Rio Grande do Sul, de origem espanhola já que foram os jesuítas espanhóis que catequizaram os índios guaranis. Mas os jesuítas e índios guaranis, liderados pelo índio Sepé Tiarajú, não aceitaram a devolução das terras, originando a Guerra Guaranítica, onde morreram mais de 30.000 índios. Os que não morreram foram escravizados. Diante da guerra, Portugal não entregou a colônia de Sacramento aos espanhóis. No ano de 1761, no Tratado de El Pardo, os Sete Povos continuariam com a Espanha mas já estava em declínio econômico pois estavam sem os jesuítas e os índios guaranis que restavam se empregavam como peões nas fazendas de gado. 54 Os desentendimentos pelas colônias entre Portugal e Espanha continuaram e em 1763, o governador de Buenos Aires, D. Pedro de Cevallos conquistou Sacramento e invadiu a capitania de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, tomando a cidade de Rio Grande até 1776 quando foram expulsos pelas tropas voluntárias gaúchas com auxílio das tropas do reino. Mas em 1777 Cevallos tomou novamente Sacramento e a Ilha de Santa Catarina. Em 1777 foi assinado o Tratado de Santo Ildefonso onde Portugal ficaria com a Ilha de Santa Catarina, enquanto que a Espanha ficaria com os Sete Povos das Missões e Sacramento. A desvantagem territorial portuguesa no sul do Brasil manteve os confrontos na região. Em 1801 foi definitivamente solucionado os confrontos pelas terras com a assinatura do Tratado de Badajós entre Portugal e Espanha que daria ao Brasil o atual território, ficando Sacramento com a Espanha e os Sete Povos das Missões com o Brasil. O território hoje ocupado pelo Rio Grande do Sul está entre as áreas do País que mais demoraram a receber a ocupação do colonizador português. A constituição do território se fundamenta em 1680 por necessidade da Coroa portuguesa em socorrer sua praça meridional, a Colônia do Sacramento, às margens do rio da Prata, que enfrentava investidas de tropas espanholas. Foram os jesuítas em meados de 1682 que fundaram a primeira cidade do Rio Grande do Sul: São Francisco de Borja, a atual São Borja. Durante o século XVIII, houve intensa disputa pelo território por espanhóis e portugueses. Os espanhóis fundaram em 1726, a cidade de Montevidéu, a leste da colônia de Sacramento, fundada criada em 1680. O objetivo da fundação de Montevidéu era reduzir a influência portuguesa. Como resposta, os portugueses fundaram em 1737 o Forte de Jesus Maria José, hoje cidade de Rio Grande. A disputa terminou em 1777, quando Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso. Pelo acordo, a colônia de Sacramento permanecia em posse de Espanha e o Rio Grande ficaria ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 55 com Portugal. Com a consolidação do poderio lusitano no século 17, o então Rio Grande de São Pedro se estabelece como província em 1796. Pouco depois, em 1809, são criados os municípios de Rio Grande, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre - à época, a economia da província se baseava nas charqueadas (produção de carne salgada). O Tratado de Santo Ildefonso, assinado entre Portugal e Espanha, no dia 1 de outubro de 1777, na cidade de Ildefonso, na província de Segóvia, na Espanha, faz parte de uma série de tratados geopolíticos assinados entre os dois estados europeus no decorrer do período colonial. Seu intuito era finalizar os conflitos geopolíticos que ocorriam há três séculos entre as duas nações. O tratado restaurava grande parte do Tratado de Madri (1750) que havia sido anulado com a assinatura do Tratado de El Pardo (1761), resultante do fracasso na promoção da paz nas fronteiras coloniais. Estabelecia novos limites para os territórios localizados ao sul, região de fronteiras entre o Estado do Rio Grande do Sul e o Uruguai, indicando novas extensões geopolíticas que poderiam muito bem ser dimensionadas pelos milhares de indígenas que habitavam a região. A Colônia Portuguesa do Sacramento e os Sete Povos das Missões estavam no meio do litígio. Ali, vários aldeamentos de jesuítas espanhóis acomodavam milhares de Guaranis em processo de evangelização. A localização privilegiada, longe dos centros coloniais, não impediu os invasores que intentavam pôr as mãos nos recursos humanos disponíveis. Não foram raras as ocasiões em que expedições de apresamento invadiram as missões e capturaram milhares de indígenaspara escravizálos. Naquele contexto, missionários e indígenas tiveram o Estado como inimigo comum. Imigração do Rio Grande do Sul 56 Monumento aos Açorianos Em 1740 chegou à região do atual Rio Grande do Sul o primeiro grupo organizado de povoadores. Vindos da ilha dos Açores, contavam com o apoio oficial do governo, que pretendia que se instalassem na vasta área onde anteriormente estavam situadas as Missões. Mas as dificuldades de transporte fizeram com que terminassem por se fixar na área onde hoje está Porto Alegre, a capital do Estado. Praticando a agricultura de pequena propriedade, não encontraram, em um território em que cada estância funcionava como uma célula independente, mercado para seus produtos, e terminaram por se integrar à economia voltada para a pecuária. Posteriormente, em 1780, um fato iria reforçar ainda mais o caráter rural da vida do atual Estado. Foi criada a primeira charqueada comercial em Pelotas. Aos poucos, o charque se tornou o principal produto de exportação do Rio Grande, sendo enviado para as demais regiões do país. Essa situação começou a ser modificada no início do século XIX. A estrutura econômica do Brasil de então se baseava na exportação dos produtos agrícolas plantados em grandes propriedades por trabalhadores escravos. O Rio Grande fornecia o charque para esses trabalhadores, e também para os moradores pobres das grandes cidades. Mas, a partir da década de vinte do século passado, o governo brasileiro resolveu estimular a vinda de imigrantes europeus, para formar uma camada social de homens ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 57 livres que tivessem habilitação profissional, e pudessem oferecer ao país os produtos que até então tinham que ser importados, ou que eram produzidos em escala mínima. Isto significa que o governo queria trazer pequenos produtores - para fornecer alimentos para as cidades - e artesãos. A ideia, apoiada por alguns, era rejeitada pelos senhores de escravos, que temiam que os trabalhadores livres "fossem um mau exemplo", demonstrando que o trabalho pago produzia mais e melhor que o escravo. Moradores de regiões mais ao norte do país, os grandes senhores de escravos conseguiram impedir que os imigrantes fossem destinados às suas regiões. Por isto, o governo terminou por levá-los para o Rio Grande do Sul, que estava situado à margem do grande eixo econômico, no centro do país. Os primeiros imigrantes que chegaram foram os alemães, em 1824. Eles foram assentados em glebas de terra situadas nas proximidades da capital gaúcha. E, em pouco tempo, começaram a mudar o perfil da economia do atual Estado. Primeiramente, introduziram o artesanato em uma escala que, até então, nunca fora praticada. Depois, estabeleceram laços comerciais com seus países de origem, que terminaram por beneficiar o Rio Grande. Pela primeira vez havia, no país, uma região em que predominavam os homens livres, que viviam de seu trabalho, e não da exploração do trabalho alheio. As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado interno e desenvolveram a camada média da população. E, embora o poder político ainda fosse detido pelos grandes senhores das estâncias e charqueadas, o poder econômico dos imigrantes foi, aos poucos, se consolidando. Imigrantes Alemães 58 A primeira colonização maciça, após a tentativa feita com os açorianos, ainda no século XVIII, aconteceria, no Rio Grande do Sul, a partir de 1824, quando começaram a chegar os colonos alemães. Nos primeiros cinquenta anos de imigração foram introduzidos entre 20 e 28 mil alemães no Rio Grande, a quase totalidade deles destinados à colonização agrícola. Essa primeira grande colonização alteraria a ocupação de espaços, levando gente para áreas até então desprezadas. Introduziria também outras grandes modificações. Até então, a classe média brasileira era insignificante, e se concentrava nas cidades. Os colonos alemães iriam formar uma classe de pequenos proprietários e artesãos livres, em uma sociedade dividida entre senhores e escravos. O governo brasileiro, convencido dos benefícios da imigração, enviou em 1822 à Europa o major Georg Anton von Schäffer para de recrutar interessados em emigrarem para o Brasil. O major viajou primeiramente a Hamburgo negociando para estabelecer contrato e enviar emigrantes para o Brasil primeiramente com o Grão-Ducado de Mecklenburg-Schwerin e depois com Birkenfeld, pertencente ao Ducado de Oldenburgo. Para convencer os interessados, o governo brasileiro acenou com uma série de vantagens: 1. Passagem à custa do governo; 2. Concessão gratuita de um lote de terra de 78 hectares; 3. Subsidio diário de um franco ou 160 réis a cada colono no primeiro ano e metade no segundo; 4. Certa quantidade de bois, vacas, cavalos, porcos e galinhas, na porção do número de pessoas de cada família; Em 18 de julho de 1824 chegou a Porto Alegre a primeira leva de 39 imigrantes alemães, depois de passarem pelo Rio de Janeiro, onde eram recebidos e distribuídos pelo Monsenhor Miranda. Foram então enviados para a desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo, localizada à margem esquerda do Rio dos Sinos, onde chegaram em 25 de Julho de 1824. São José do Hortêncio foi o terceiro município a ser colonizado no estado, por volta de 1826. A seguir foram chegando outras levas e foi tentada a criação das colônias de Três Forquilhas e São Pedro de Alcântara das Torres, com pouco sucesso. Os primeiros colonos vieram de Holstein, Hamburgo, Mecklemburgo e Hanôver. Depois, passaram a predominar os oriundos de Hunsrück e do Palatinado. Além desses, vieram da Pomerânia, Vestfália e de Württemberg. Entre 1824 e 1830 entraram no Rio Grande do Sul 5350 alemães. Por problemas políticos e depois por causa da Revolução Farroupilha a imigração ficou interrompida entre 1830 e 1844. Reiniciada a imigração, entre 1844 e 1850 chegaram mais dez mil imigrantes, e entre 1860 e 1889 outros dez mil. Entre 1890 e 1914 chegaram mais 17 mil alemães. Os alemães inicialmente ocuparam o vale do Rio do Sinos, durante a Revolução Farroupilha alguns se deslocaram para Santa Maria, buscando se afastar dos combates. Depois de terminada a Revolução, os colonos se espalharam fundando colônias nos vales dos rios Taquari, Pardo e Pardinho, fundando Santa Cruz do Sul, a Colônia Santo Ângelo e a Colônia de Santa Maria do Mundo Novo. Às margens da Lagoa dos Patos fundaram São Lourenço do Sul. Com a Proclamação da República no Brasil, as terras devolutas passaram para os estados, assim como a responsabilidade pela colonização. No Rio Grande do Sul, o governo positivista defendeu a imigração espontânea e a colonização particular. Rapidamente, o planalto gaúcho foi transformada em zona colonial, com a instalação das colônias novas de iniciativa pública e ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 59 privada, atraídas pelas possibilidades de exploração do comércio de terras e pela obtenção de lucros fáceis. A fronteira da colonização, no início do século XX chegou ao noroeste do estado, criando Ijuí, Santa Rosa, entre outras, para logo depois atravessar o Rio Uruguai e migrar para o oeste de Santa Catarina e Paraná, além de colônias no norte da Argentina e no Paraguai. Passada a Segunda Guerra Mundial a quantidade de imigrantes diminuiu muito, até se extinguir. A última colônia formada foi de um grupo de famílias menonitas que tendo emigrado para Santa Catarina na década de 1930, migraram para o Rio Grande do Sul, fixando-se ao sul de Bagé entre 1949 e 1951. Imigrantes Italianos Em 1870, o governo do Rio Grande do Sul criou colônias na região das Serras gaúchas e esperava-se atrair 40 mil imigrantes alemães, para que ocupassem a região. Porém, as notícias de que os alemães estavam enfrentando problemas no Brasil fizeram com que cada vez menos imigrantes viessem do ImpérioAlemão. Isso obrigou o governo a procurar por uma nova fonte de imigrantes: os italianos. A partir de 1875, chegaram os primeiros grupos, vindos de Piemonte e Lombardia, e depois do Vêneto, e se instalaram nas colônias Conde d'Eu (atualmente a cidade de Garibaldi), Dona Isabel (atualmente a cidade de Bento Gonçalves) e Caxias. Ali eles passaram a viver da plantação de milho, trigo e outros produtos agrícolas; porém, a introdução do cultivo de vinho na região tornou a vinicultura a principal economia dos colonos italianos. De 1875 a 1914, entre 80 a 100 mil italianos foram introduzidos no Rio Grande do Sul. A colonização italiana foi efetuada no planalto ao norte, pois as terras baixas já estavam ocupadas pelos alemães. No decorrer do século XX, houve grandes migrações dentro do estado do Rio 60 Grande do Sul. Muitas famílias italianas abandonaram as serras e se espalharam por todo o estado. No alto das serras sulistas nasceu um Brasil peculiar. Os índios que habitavam a região foram expulsos de suas terras para dar espaço à chegada dos italianos. Ali, os imigrantes criaram vilarejos que remetem àqueles encontrados no norte da Itália. Nas regiões altas do Sul, surgiu um Brasil com influência italiana. O Rio Grande do Sul possui o Talian como patrimônio linguístico aprovado oficialmente no estado. A região do extremo sul do Brasil também foi um território “desbravado” pelos imigrantes japoneses. Ainda que pequena, a presença nikkei em Santa Catarina e Rio Grande do Sul é muito importante. A história no Rio Grande do Sul teve início em agosto de 1956, com o desembarque, no porto do Rio Grande, de 23 imigrantes japoneses, jovens (de 17 a 26 anos) e solteiros, que chegaram, a bordo do navio Brasil Maru, para trabalhar, principalmente na agricultura, em vários municípios gaúchos. Esses são considerados os pioneiros a vir diretamente do Japão para o Rio Grande do Sul, no entanto, algumas famílias de imigrantes japoneses já haviam migrado da região Sudeste para o extremo sul do Brasil. De 1956 até a extinção da migração sistemática em 1963, desembarcaram diretamente do Japão um total de 1.786 japoneses no Rio Grande do Sul. Afirma-se que o primeiro japonês em terras gaúchas foi o médico Yunosuke Nemoto, em 1920, e, algum tempo depois, Eito Asaeda (casado com brasileira) em 1924, ambos vindos de São Paulo. Ivoti,a 55km de Porto Alegre.A cidade ostentao título de“Cidade das Florese dos Nipo-gaúchos Propaganda mostra os navios e o destino, o Brasil imigrantes foram trazidos para cumprir cinco anos de contrato nas lavouras ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 61 Em meados da década de 1930, houve a tentativa da K.K.K.K. (Companhia Ultramarina de Empreendimentos) de fixar 18 famílias japonesas na região de Santa Rosa (RS), no munícipio de Horizontina. A empreitada acabou não dando certo. As cidades gaúchas que se destacam pelo expressivo número de nikkeis são: Ivoti (RS), Gravataí (RS), Pelotas (RS), Santa Maria (RS) Porto Alegre (RS), São Leopoldo (RS), Gravataí (RS), Viamão (RS), Carazinho (RS) e Passo Fundo (RS). Em sua maior parte, os japoneses e seus descendentes estão associados à hortifruticultura e à floricultura. Um exemplo disso é a cidade gaúcha de Ivoti, a 55 km de Porto Alegre. A cidade ostenta o título de “Cidade das Flores e dos Nipo-gaúchos”. O início de tudo ocorreu no ano de 1966, quando autoridades municipais destinaram terras para 26 famílias de imigrantes, dando origem à colônia japonesa da região, produtora de kiwi, uvas de mesa, hortaliças e flores. Em Santa Maria, os primeiros japoneses chegaram em 1958. Eram cerca de 17 famílias, oriundas da província de Kumamoto. Na realidade, esse grupo fazia parte de um contigente de 33 famílias da mesma província, que haviam desembarcado no porto de Rio Grande no ano anterior. Essas famílias foram levadas para uma fazenda produtora de arroz irrigado na cidade de Uruguaiana, mas, devido às péssimas condições de trabalho, romperam o contrato e se dispersaram. Portadocumentos (Passaporte) de imigrantes poloneses que partiram para o Brasil do porto de Bremem-Alemanha O Ano de 1886 é considerado o início da imigração polonesa no Rio Grande do Sul. 300 imigrantes, não conseguindo se adaptar ao clima da Bahia, migra para o norte do estado e funda as colônias Santa Teresa e Santa Bárbara. Em 1888, são demarcados aos lotes da Colônia Mariana Pimentel que recebe as primeiras levas de imigrantes poloneses no ano seguinte. 62 Entre 1890 e 1894 mais poloneses chegam ao Rio Grande do Sul, instalam-se no vale do rio das Antas, região de terreno acidentado, porque os lotes rurais existentes na região alta haviam já sido ocupados pelos imigrantes italianos. Motivo pelo qual a colônia polonesa não prosperou com a italiana nas terras do RS. Não tiveram nenhum tipo de apoio do governo para a emigração, por esse motivo é difícil definir onúmero de poloneses que vieram para o Brasil, outro motivo é a falta de documentos oficiais ou não sobre a viagem e o numemo de emigrantes. No Rio Grande do Sul, ao que tudo indica, entraram cerca de 30.000 poloneses. Municípios do RS que acolheram imigrantes poloneses: Rio Grande, Pelotas, Mariana Pimentel, Porto Alegre, Santa Teresa, Santo Antônio da Patrulha, São Marcos, Antônio Prado, Veranópolis, Nova Prata, Ijuí, Guarani das Missões, Montenegro, Dom Feliciano e Áurea. No começo do século XX, grande parte dos poloneses mudam para o vale do rio Uruguai, próximo à Santa Catarina, em busca de terras mais férteis. Imigrantes Judeus Os primeiros imigrantes judeus chegaram no Rio Grande do Sul já no século XIX, com os alemães. Em 1904 chegaram os primeiros, que se estabeleceram perto de Santa Maria. Lá receberam lotes de terra, moradia, dois bois, duas vacas, cavalo e dinheiro até a primeira colheita. As crianças aprenderam português nas escolas, com outras crianças rio-grandenses. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 63 Saldadas suas dívidas, os judeus mudaram-se para Santa Maria, preferindo radicar-se em zona urbana. Mais tarde novos imigrantes judeus aqui chegaram, morando, nos primeiros anos, em núcleos coloniais, deslocando-se, mais tarde, para os centros urbanos, onde se fixaram como comerciantes. A segunda geração procurou outras profissões, como médico, engenheiro, professor, advogado e arquiteto. Radicaram-se em cidades como Santa Maria, Erechim, Passo Fundo e Porto Alegre. População Negra Os negros entraram no Rio Grande do Sul com os primeiros casais povoadores de Rio Grande e com alguns oficiais militares, na condição de escravos. Mais tarde, alguns estancieiros, donos de sesmarias, também trouxeram escravos. Na região de colonização alemã e italiana, não foi utilizado o trabalho do escravo, devido a uma lei que proibia o trabalho do negro como tal. É na charqueada que a presença do negro escravo se destaca. A presença do negro também se fez presente nas lutas rio-grandenses, defendendo a propriedade do seu senhor dos ataques dos espanhóis, nas lutas pelas fronteiras rio-grandenses e na Revolução Farroupilha. Aos negros escravos que se alistassem às tropas republicanas eram oferecidas cartas de alforria. Mesmo lutando ao lado dos brancos pelo mesmo ideal, os acampamentos de guerra dos negros eram separados daqueles ocupados pelos brancos; além disso, ao negro era proibido o uso de armas de fogo. Nas cidades antigas, o negro escravo fazia a maior parte do serviço que hoje é feito por máquinas: puxava água dos poços ou trazia das fontes, abastecia a casa de alimentos e lenha, cozinhava, lavava, 64 passava roupa, fiava, tecia e costurava à mão; carregava cargas, cuidava de animais domésticos. Os negros escravos eram carpinteiros e marceneiros; nos estabelecimentos comerciais, trabalhavam nos depósitos e não atendiam no balcão. Assim como aconteceu em todo o pais, aqui no Rio Grande do Sul também houve quilombos (lugares onde negros escravos fugidos viviam). Existiram quilombos naSerra de Tapes, perto de Pelotas, e na região do Litoral Norte. Guerra dos Farrapos Entre os anos 1835 e 1845, uma revolução tomou conta do Rio Grande do Sul, então província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Promovida principalmente por fazendeiros e criadores de gado, a Guerra dos Farrapos, também conhecida como Revolução Farroupilha, tinha caráter republicano e lutou contra o domínio do governo imperial. Entenda: Em 1831, o imperador Dom Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho Dom Pedro II. O problema é que ele ainda era criança na época, e não obedecia as determinações de maioridade da antiga Constituição para de fato reinar o país. Deu-se início a um período de Regência, um governo de transição para administrar o Brasil até que o novo imperador tivesse idade suficiente para governar. Mas os gaúchos, que já andavam insatisfeitos com os altos impostos cobrados sobre os produtos riograndenses, como charque, erva mate, couro, sebo e graxa, não gostaram nada disso. Também simpatizavam com ideais republicanos e buscavam maior autonomia. Em 1835, Antônio Rodrigues Fernandes Braga foi nomeado presidente da província, em princípio para acalmar os ânimos. Mas suas ideias não agradaram os liberais, provocando atrito. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 65 No dia 20 de setembro de 1835, revolucionários comandados por Bento Gonçalves tomaram a cidade de Porto Alegre e forçaram a retirada das tropas imperiais do local. Os revoltosos exigiram a nomeação de um novo presidente, mas o novo governante não agradou aos farroupilhas. A revolução expandiu e, em 1836, os rebeldes proclamaram independência com a República de Piratini (cidade que seria capital do novo governo), também chamada de República Rio Grandense, com Bento Gonçalves como presidente — o governo imperial, é claro, não reconheceu a independência e continuou lutando. O líder da revolução chegou a ser preso, mas o movimento já estava consolidado com líderes como o general Antônio Souza Netto, David Canabarro e o italiano Giuseppe Garibaldi, uma das principais figuras da unificação italiana. Nos anos seguintes, conseguiram novas vitórias e, em 1839, chegaram a conquistar a cidade de Laguna, em Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana. Em 1840, Dom Pedro II assumiu o trono e tentou pacificar o país, que tinha revoltas também em outras províncias além do Rio Grande do Sul. A partir de 1842, as forças militares de seu governo, comandadas por Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, começaram a conter a revolta, tomando de volta cidades dominadas pelos farroupilhas. Em 1845, enfraquecidos após diversas derrotas e uma série de negociações entre o Duque de Caxias e as lideranças da revolução, os farroupilhas aceitaram um acordo com o governo, no chamado Tratado de Ponche Verde. Ele reintegrou o território ao império brasileiro e garantiu a anistia dos revoltosos. No dia 28 de fevereiro de 1845 é anunciada a Pacificação da Revolução Farroupilha. A leitura do tratado de paz é feita no dia 25 de fevereiro de 1845 no Acampamento da Carolina, nos campos do Ponche Verde, na cidade de Dom Pedrito. O general David Canabarro está no comando das tropas rio-grandenses. Antonio Vicente da Fontoura, chega do Rio de Janeiro, onde negocia a paz. Ele traz o documento já assinado pelo General Luiz Alves de Lima e Silva, o então Barão de Caxias, designado por decreto pelo império do Brasil para tratar da pacificação. Três dias depois, 28 de fevereiro, o documento é assinado pelo então Presidente da República Rio-grandense, Gomes Jardim, já que Bento Gonçalves está afastado por motivos de saúde, que lhe leva à morte dois anos depois. No dia seguinte, 1º de março de l845, o Barão de Caxias – ciente de que os revolucionários aceitam as cláusulas – faz a sua respectiva proclamação, selando a paz: “Uma só vontade nos una, Rio - grandenses! União e tranqüilidade seja, de hoje em diante, a nossa divisa. O documento de pacificação possui 12 as cláusulas: Art. 1° - Fica nomeado Presidente da Província o indivíduo que for indicado pelos republicanos. Art. 2° - Pleno e inteiro esquecimento de todos os atos praticados pelos republicanos durante a luta, sem ser, em nenhum caso, permitida a instauração de processos contra eles, nem mesmo para reivindicação de interesses privados. Art. 3° - Dar-se-á pronta liberdade a todos os prisioneiros e serão estes, às custas do Governo Imperial, transportados ao seio de suas famílias, inclusive os que estejam como praça no Exército ou na Armada. Art. 4° - Fica garantida a Dívida Pública, segundo o quadro que dela se apresente, em um prazo preventório. Art. 5° - Serão revalidados os atos civis das autoridades republicanas, sempre que nestes se observem as leis vigentes. 66 Art. 6° - Serão revalidados os atos do Vigário Apostólico. Art. 7° - Está garantida pelo Governo Imperial a liberdade dos escravos que tenham servido nas fileiras republicanas, ou nelas existam. Art. 8° - Os oficiais republicanos não serão constrangidos a serviço militar algum; e quando, espontaneamente, queiram servir, serão admitidos em seus postos. Art. 9° - Os soldados republicanos ficam dispensados do recrutamento. Art. 10° - Só os Generais deixam de ser admitidos em seus postos, porém, em tudo mais, gozarão da imunidade concedida aos oficiais. Art. 11° - O direito de propriedade é garantido em toda plenitude. Art. 12° - Ficam perdoados os desertores do Exército Imperial. Os Lanceiros Negros Nem todas cláusulas são integralmente cumpridas pelo império brasileiro: Os farrapos não escolhem seu presidente provincial e o barão de Caxias, General Luiz Alves de Lima e Silva é indicado senador do Império; O Império não ressarce integralmente as dívidas de Guerra contraídas pela província do Rio Grande do Sul, elas não são devidamente contabilizadas e tendo sido pago, a alguns, uma irrisória porcentagem das perdas; Não houve a libertação de todos escravos que lutaram no Exército Farroupilha, a fim de se evitar a insurgência dos negros pelo resto do Império. Alguns são devolvidos aos seus donos, mediante reivindicação, outros são levados para Rio de Janeiro e vendidos a outros senhores. Os que fazem parte do corpo de Lanceiros Negros, comandados ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 67 por Canabarro, são massacrados na Batalha de Porongos, mais conhecida como massacre de Porongos. E, 120 são mandados incorporar por Caxias aos três Regimentos de Cavalaria de Linha do Exército na Província. A partir de 1º de março de 1845 o território do Rio Grande do Sul volta a integrar o império brasileiro e posteriormente, em 15 de novembro de 1889, à República Federativa do Brasil. Todavia o manifesto farroupilha se mantém estampado na bandeira do Estado nos dizeres “República Rio-grandense * 20 de Setembro de 1835 * Liberdade, Igualdade e Humanidade”. Guerra do Paraguai O conflito militar entre 1864 e 1870 colocou o Paraguai frente à Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Liderados pelo ditador Francisco Solano Lopez, os paraguaios aprisionaram o navio brasileiro Marquês de Olinda e atacaram a cidade de Dourados, em Mato Grosso, retaliando a invasão do Brasil ao Uruguai para depor o ditador Aguirre, aliado de Solano Lopez. Foi o estopim para o início dos combates. Em 1865, o Paraguai também fez incursões no território argentino para tentar conquistar o Rio Grande do Sul. A luta chegou ao fim em março de 1870, apesar dos acordos de paz não terem sido concluídos de imediato devido à recusa argentina em reconhecer a independência paraguaia - o que aconteceu somente em 1876 com a Conferência de Buenos Aires. Revolução Federalista 68 Maragatos do Partido Federalista eram liderados por Gumercindo Saraiva (2º da dir. para esq sentado) A Revolução da Degola, como ficou conhecida a Revolução Federalista (1893 e 1895), foi um dos maiores e mais sangrentos conflitos ocorridos em solo brasileiro, envolvendo federalistas (maragatos)e republicanos (pica-paus) durante o governo de Floriano Peixoto. Insatisfeitos com as ações governamentais após a renúncia de Deodoro da Fonseca, os membros do Partido Federalista do Rio Grande do Sul - liderados por Gaspar da Silveira Martins e Gumercindo Saraiva - eram contra o autoritarismo dos governantes estaduais, reivindicando a deposição de Júlio de Castilhos, então presidente do Estado (antiga alcunha dos governadores). O grande número de degolas cometidas para poupar armas e munições foi um marco da guerra, deixando mais de dez mil mortos. Após dois anos de violência, o presidente Prudente de Morais encerrou o conflito em agosto de 1895. Maragato. O termo tinha uma conotação de deboche, ironia, pejorativa, atribuída pelo imperialistas e legalistas aos revoltosos liderados por Gaspar Silveira Martins, que deixaram o exílio, no Uruguai, e entraram no RS à frente de um exército.Como o exílio havia ocorrido no Uruguai numa região colonizada por pessoas originárias da Maragateria (na Espanha), os republicanos apelidaram-nos de "maragatos", buscando caracterizar uma identidade "estrangeira" aos federalistas.Com o tempo, o apelido assumiu significado positivo, aceito e defendido pelos federalistas e seus companheiros. O lenço vermelho identificava o maragato. Chimango. A grafia pode ser ximango. Ave de rapina muito comum na campanha riograndense, falconídea, pessoal rapineiro, oportunista, caçador que é da terra. Alcunha depreciativa dada aos liberais moderados pelos conservadores, no início da monarquia brasileira. No RS, nos anos de 1920, ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 69 foi à codinome dada pelos federalistas aos governistas do PRR. Honório Lemes Maragato contra Flores da Cunha Chimango (pica-pau). O lenço de cor branca identificava os chimangos. Revolução de 23 Joaquim Francisco de Assis Brasil Antônio Augusto Borges de Medeiros 70 A Revolução de 1923 eclodia no estado colocando os oposicionistas - maragatos (assisistas) - em confronto contra o poder constituído - chimangos (borgistas). O primeiro grupo, formado por dissidentes do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), tinha como líder Joaquim Francisco de Assis Brasil. O segundo era comandado por Antônio Augusto Borges de Medeiros, que esteve no poder por mais de duas décadas. Os ânimos se exaltaram após a vitória de Borges de Medeiros na eleição de 1922, considerada fraudulenta e ratificada em uma Assembleia composta majoritariamente por borgistas, autorizando seu quinto mandato. A paz só viria em 14 de dezembro daquele ano com a assinatura do Pacto de Pedras Altas, alterando a Constituição estadual para rejeitar reeleições sucessivas e confirmar a confidencialidade do voto. Revolução de 30 Comitiva de Getúlio Vargas durante a passagem por Itararé (SP), a caminho do Rio de Janeiro, após vitória na revolução A Aliança Liberal (Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul) foi responsável pela Revolução de 1930, iniciada na capital gaúcha no dia 3 de outubro daquele ano. Além de levar Getúlio Vargas a ocupar a presidência do Brasil, após derrota para o paulista Júlio Prestes em eleição considerada fraudulenta, o levante colocou um ponto final na política do café com leite (São Paulo e Minas), dando início à Era Vargas. Charque ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 71 No século 18, enquanto ocorria o ciclo econômico da mineração no Brasil envolvendo os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, havia uma crescente valorização do rebanho de gado existente no Rio Grande do Sul, introduzido pelos jesuítas no século 17. Os bois serviam para a alimentação e as mulas para o transporte dos mineradores. Para que fosse possível manter a carne em estado propício para ser consumida foi dado o início da conservação deste produto, primeiro através da sua secagem ao sol, na região do Ceará, sob a forma de carne de sol ou carne do sertão. Entretanto, uma grande seca no Ceará em 1777 aniquila os rebanhos. Para sorte dos gaúchos, no mesmo período é assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que permitia uma trégua na luta entre espanhóis e portugueses, possibilitando investimentos econômicos na região, até então exclusivamente criadora de gado, através da estância. Em 1779 é registrada a chegada do retirante da seca, o português José Pinto Martins, que transfere-se do Ceará para o RS, estabelecendo a primeira charqueada industrial em Pelotas, dentro dos limites da Vila do Rio Grande, fundada em 1737. Esta primeira charqueada, localizada num dos distritos do futuro município, às margens do arroio Pelotas, protegeria a propriedade do vento e das areias do litoral, que arruinariam a produção. Outro ponto favorecedor era a fácil comunicação com o porto do Rio Grande através de iates. A consolidação das charqueadas, grandes propriedades rurais de caráter industrial, só se dá no século XIX, às margens dos arroios Pelotas, Santa Bárbara, Moreira e canal São Gonçalo. O gado, matéria prima, era proveniente de toda a campanha rio-grandense, introduzido em Pelotas através do Passo do Fragata e vendido na Tablada, grande local dos remates na região das Três Vendas. Ao contrário do que possa parecer, nas charqueadas não se criavam bois. Haviam raras exceções, como aCharqueada da Graça, mas essa criação não dava conta da produção total do charque. Na chamada boca do arroio, entre o São Gonçalo e o arroio Pelotas, as terras foram rapidamente sendo tomadas por escravos. Só então a área adquire o nome de Passo dos Negros. Com o progresso advindo da venda do charque, em 1812 acontece a criação da Freguesia e em 1832 a instalação da vila, oficialmente criada em 1830. Somente em 1835 a vila é elevada à condição de cidade. Charqueadores transferiram-se do Rio Grande e se fixaram em Pelotas, construindo palacetes, principalmente depois da criação da Vila. O charque era utilizado para alimento dos escravos em todo o Brasil e nos países que adotavam o sistema escravista, sobretudo o Caribe (Cuba, principalmente). Do gado, se aproveitava tudo: o couro, o pó dos ossos para fertilizante, o sangue para gelatina, a língua defumada, os chifres para várias utilidades. Esses produtos eram exportados para toda a Europa e os Estados Unidos.O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil. De concorrentes, apenas Uruguai e a Argentina. "Quando esses países estavam em crise, o que era comum em virtude das guerras civis, a produção pelotense atingia maior rentabilidade". 72 A safra era sazonal e durava de novembro a abril. As charqueadas tinham em média 80 escravos, ocupados nos intervalos da safra em olarias nas próprias charqueadas, derrubadas de mato e plantações de milho, feijão e abóbora nas pequenas chácaras que cada charqueador possuía na Serra dos Tapes, onde ficam hoje a Cascata e as colônias de Pelotas. Os navios que levavam o charque não voltavam vazios. Traziam mantimentos, livros, revistas de moda, móveis, louças da Europa - e açúcar do Nordeste, consolidando a tradição do doce em Pelotas. "Embora aqui não se plantasse cana-de-açúcar, os doces de Pelotas chegaram a ser rivais dos do Nordeste, região açucareira por excelência." Em 1820, eram 22 charqueadas e, em 1873, 38. Outro dado espantoso é o número de abates, num total de 400 mil cabeças de gado por ano. Simões Lopes Neto, na Revista do Primeiro Centenário de Pelotas, editada em 1911, comenta que até aquela data foram abatidas 45 milhões de reses e umas 200 firmas se sucederam. O poder dos charqueadores pelotenses foi oficialmente consolidado a partir de 1829, quando o imperador Dom Pedro I outorgou o primeiro título de nobreza a um fazendeiro do ramo. Coube a Domingos de Castro Antiqueira, proprietário da Charqueada do Cascalho - localizada na margem direita do arroio Pelotas - ostentar um título nobiliário em Pelotas: o de Barão de Jaguari. Antiqueira, foi também o primeiro e um dos únicos a ascender na hierarquia da nobreza brasileira, quando em 1846 foi declarado Viscondede Jaguari. Até o final do período imperial, dez charqueadores receberam títulos de nobreza. "A outorga do baronato, que tinha como condição, quase sempre, certa fortuna acumulada, significava o reconhecimento oficial da Monarquia ao poder e ao prestígio de quem era agraciado". Além de Antiqueira, apenas João Simões Lopes ascendeu à condição de visconde e passou para a história como o Visconde da Graça, em uma referência direta a sua propriedade, a Charqueada da Graça, localizada na margem esquerda do arroio Pelotas. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 73 As causas do encerramento do ciclo do charque foram várias. Uma das principais, a abolição dos escravos, quando deixa de existir o verdadeiro consumidor do produto. A concorrência de regiões gaúchas que antes apenas produziam a matéria-prima também foi outro golpe contra os charqueadores locais. "Depois de 1884, fundaram-se charqueadas em algumas cidades da fronteira, porque nesse ano estabeleceu-se a linha férrea, que permitia o escoamento do produto até o porto de Rio Grande." O advento dos frigoríficos, na década de 1910, foi outra. Em 1918, restaram apenas cinco charqueadas em Pelotas. "O coronel Pedro Osório, que começou como charqueador, passou a plantar arroz em 1905, transformando-se no maior industrial do setor no mundo e conhecido como Rei do Arroz". Hino Rio Grandense O Hino Rio-Grandense que hoje cantamos tem a sua história particular e, porque não dizer, peculiar. Porque muitas controvérsias apresentou, desde seus tempos de criação até os tempos de então. Oficialmente existe o registro de três letras para o hino, desde os tempos do Decênio Heróico até aos nossos dias. Num espaço de tempo de quase um século foram utilizadas três letras diferentes até que finalmente foi resolvido, por uma comissão abalizada, que somente um deles deveria figurar como hino oficial. O Segundo Hino Quase um ano após a tomada de Rio Pardo, foi composta uma nova letra e que foi cantada como Hino Nacional, o autor deste hino é desconhecido, oficialmente ele é dado como criação de autor ignorado. O jornal “O Povo”, considerado o jornal da República Riograndense em sua edição de 4 de maio de 1839 chamou-o de “o Hino da Nação”. O Terceiro Hino 74 Após o término do movimento apareceu uma terceira letra, desta vez com autor conhecido: Francisco Pinto da Fontoura, vulgo “o Chiquinho da Vovó”. Esta terceira versão foi a que mais caiu no agrado da alma popular. Um fato que contribui para isto foi que o autor, depois de pronto este terceiro hino, continuou ensinando aos seus contemporâneos o hino com sua letra. A letra deste autor é basicamente a mesma adotada como sendo a oficial até hoje, mas a segunda estrofe, que foi suprimida posteriormente, era a seguinte: Entre nós reviva Atenas Para assombro dos tiranos; Sejamos gregos na Glória, E na virtude, romanos. O Hino Definitivo Estas três letras foram interpretadas ao gosto de cada um até meados do ano de 1933, ano em que estavam no auge os preparativos para a “Semana do Centenário da Revolução Farroupilha”. Nesse momento um grupo de intelectuais resolveu escolher uma das versões para ser a letra oficial do hino do Rio Grande do Sul. A partir daí, o Instituto Histórico contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, fez a harmonização e a oficialização do hino. O Hino foi então adotado naquele ano de 1934, com a letra total conforme fora escrito pelo autor, no século passado, caindo em desuso os outros poemas. No ano de 1966, o Hino foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5213 de 05 de janeiro de 1966, quando foi suprimida a segunda estrofe. LETRA: Francisco Pinto da Fontoura - MÚSICA: Comendador Maestro Joaquim José de Mendanha HARMONIZAÇÃO: Antônio Corte Real Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o Vinte de Setembro o precursor da liberdade. Mostremos valor, constância, Nesta ímpia e injusta guerra, Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra, De modelo a toda terra. Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra. Mas não basta pra ser livre ser forte, aguerrido e bravo, ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 75 povo que não tem virtude acaba por ser escravo. Mostremos valor, constância, Nesta ímpia e injusta guerra, Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra, De modelo a toda terra. Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra. As primeiras mudas O imigrante italiano, afeiçoado à viticultura por tradição e por vocação, obrigatoriamente viria a cultivar a videira em sua terra, como já haviam feito os imigrantes que se estabeleceram em outras regiões da América e da Ásia. O colono italiano recém chegado em 1875 ainda não tinha as mudas de videiras para iniciar o cultivo nas terras que foi desbravando, em substituição às florestas que foram derrubadas. Foi somente ao descer a serra para São Sebastião do Caí e Montenegro para levar seus produtos e buscar suprimentos que tomou contato com as videiras, da variedade Isabe, que os agricultores alemães cultivavam há algum tempo para seu próprio consumo. Os imigrantes alemães também era viticultores De 1824, ano de início da colonização alemã, até 1875, início da chegada dos italianos na serra, a uva foi cultivada pelos imigrantes alemães na região de São Leopoldo e levada por eles até 76 Montenegro, São Sebastião do Caí, Bom Princípio e Feliz, entre outros povoados. Há registros de que em 1825, um ano após a chegada dos imigrantes alemães, o cidadão João Batista Orsi chegou à região com uma carta autografada por Dom Pedro I incentivando o cultivo da vinha, juntamente com as primeiras mudas. A produção da uva nesta região bem como a produção de vinho, no entanto, limitaram-se ao consumo doméstico. Origem da uva no Rio Grande do Sul O Rio Grande do Sul faz parte do complexo histórico da vitivinicultura hispano-americana por ter raízes históricas situadas ora do lado espanhol, ora do lado português. Por volta de 1626 teria sido o padre jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz o precursor e pioneiro da vitivinicultura rio-grandense. Ele, ao fundar a Redução Cristã de San Nicolao na margem esquerda do rio Uruguai (Região dos Sete Povos das Missões), trouxe cepas de origem espanhola. Pode-se constatar nessa época a trajetória do desenvolvimento da vitivinicultura paralela ou sobreposta aos caminhos da marcha da Igreja Católica. Em 1737 ocorreu a imigração dos açorianos ao litoral gaúcho, onde eles fundaram Porto Alegre e disseminaram as vinhas portuguesas, originadas da Ilha dos Açores e Madeira. Esse cultivo, apesar de feito através de fixação dos colonos para o povoanento na zona litorânea, não foi de grande expressão. Essas foram as duas regiões bem distintas e as duas origens da Vitis Vinífera na história da vitivinicultura gaúcha até o ano de 1800. As primeiras variedades de uva da Serra Gaúcha A viticultura tornou-se expressiva com a introdução de uvas americanas, particularmente a Isabel. Por onde se expandia, por exuberância, resistência e produtividade, a Isabel ia desestimulando e substituindo os poucos vinhedos de viníferas européias que ainda existiam. Foi entre os anos de 1839 e 1842 que a uva americana, principalmente a Isabel, foi introduzida no Rio Grande do Sul. Teria sido o cidadão gaúcho Marques Lisboa a remeter os bacelos dessa variedade, de Washington, ao comerciante Thomas Messiter, que com eles plantou os primeiros vinhedos na Ilha dos Marinheiros, tornando-se assim o iniciador do cultivo da uva Isabel no Estado. Com os italianos, o desenvolvimento da vitivinicultura O cultivo da videira Isabel tomou expressão acentuada após a chegada dos imigrantes italianos aos altos da Serra, a partir de 1875. No início, cultivavam apenas para o consumo da família. Por volta de 1890 o êxito dessa variedade era tão surpreendente que os colonos iniciaram a comercialização do vinho Isabel para a capital do Estado e outras cidades. O transporte erafeito em lombo de burro, alojado em dois barris de 40 litros cada, colocados um de cada lado do animal. As filas de 10 ou 12 animais percorriam a distância entre a propriedade rural até os pequenos núcleos ou povoados onde havia uma casa de comércio ou armazém colonial. O colono negociava seus produtos por troca. Trocava o vinho (além dos demais produtos rurais como: queijo, porcos, feijão, trigo, etc.) por café, açúcar, tecidos, querosene e ferramentas agrícolas. Quando chegava à casa do negociante, o vinho era transferido do barril em que vinha sendo transportado no lombo do burro para uma pipa. O barril em que era transportado tinha formato próprio e adequado à viagem e deveria retornar ao produtor. Não raro o vinho encontrava-se em condições sanitárias deficientes devido à precariedade de condições de produção e transporte. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 77 Do negociante até os centros de consumo locais – Porto Alegre, São Sebastião do Caí, Montenegro, São Leopoldo – o vinho era transportado, às vezes, em carretões puxados por mulas, que enfrentavam os precários caminhos e intempéries por dias a fio para chegar ao destino. Daí surge a figura épica do carreteiro que conduzia as duplas de animais puxando enormes e pesadas carretas percorrendo a íngreme serra gaúcha, que tão bem identifica a origem da colonização de Bento Gonçalves e cidades vizinhas. Outras vezes o vinho era transportado em lombo de burros, formando longas filas de animais até o destino. Para Porto Alegre, tem-se notícias de que os primeiros embarques ocorreram em 1884. Transporte do vinho em carreta puxada por mulas Colheita da uva 78 Familia de imigrantes Italianos Porão típico dos imigrantes italianos O progresso da vitivinicultura e da região A partir do momento em que se iniciou o comércio do vinho, surge a figura do tanoeiro, o construtor dos barris. Além de bastante habilidade, o tanoeiro também devia apresentar muita força física. Gradativamente as tanoarias se multiplicaram para comportar a produção e o comércio do vinho. A abertura de estradas tem franca expansão na primeira década de 1900. Em 1908 surge a estrada Buarque de Macedo, uma importante ligação entre Montenegro e Lagoa Vermelha, passando por Garibaldi, Bento Gonçalves, Alfredo Chaves (Veranópolis) e Nova Prata. Muitos quilômetros de estradas municipais também foram abertos nessa época em toda a região. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 79 Entre 1900 e 1910 inicia o transportes em carretas entre as regiões de consumo. Em 1898 acontece a primeira grande expedição de comercialização e transporte do vinho gaúcho em direção aos mercados do centro do país. Antônio Pierucini, agricultor natural de Luca (Itália) empreende a grande aventura de conduzir o carregamento do vinho da serra em lombos de burros até São Simão, interior de São Paulo. Dois anos depois, Abramo Éberle, natural de Vicenza (Itália) arrisca-se na longa viagem e chega com o primeiro carregamento de vinho à capital paulista. Ambos conseguem vender todo o lote. Desta forma, iniciou-se uma nova fase no progresso da colônia italiana, que passaria a fornecer vinhos aos outros Estados. A vitivinicultura tomou grande impulso com a ligação ferroviária de Montenegro a Caxias do Sul, concluída em 1910. A área plantada foi expandida e a produção de vinho foi elevada, seguindo de trem até Porto Alegre. O vinho dos colonos italianos O plantio dos pequenos vinhedos de cada família era feito em terreno já cultivado ou logo após o desmatamento. A fertilidade do solo virgem, a umidade e o sol quente do verão da serra, aliados ao vigor natural da videira Isabel, faziam as plantas crescerem admiravelmente, com longos galhos e enormes folhas robustas. A frutificação era abundante. O entusiasmo era muito grande e, seguramente, a videira foi o bálsamo e o reencontro do imigrante com a sua terra de origem. Uma nova e promissora cultura se apresentava para manter a alegria e coragem e refazer as energias dos desbravadores da região. Com a aumento das famílias, a melhoria das condições de vida e o desenvolvimento da promissora cultura da videira, tornou-se necessária e possível a construção de novas casas, com a maior espaço e mais comodidade. Aí surgem as casas com porão e algumas com sótão. O porão teve como uma das causas preponderantes do seu surgimento a elaboração, envelhecimento e guarda do vinho nas pipas, o qual deveria durar e abastecer o consumo da família até a colheita do ano seguinte. O processo de fabricação A uva era colhida em balaios feitos com cipó e esmagada com os pés. A fermentação se processava em pipas de madeira instaladas no porão da casa, onde todas as operações de vinificação eram feitas pela própria família. Logo após o esmagamento da uva, o mosto doce era bebido por todos. Na época também era muito habitual comer-se o pão molhado nesse mosto. Não eram raras as reuniões de famílias, especialmente no dia 6 de janeiro, para comemorar a festa do pão e do vinho, aproveitando o mosto obtido das uvas mais precoces. Fermentado, o mosto era transformado em vinho, quase todo ele tinto, de uva Isabel, e consumido já nos meses de abril e maio, devendo durar até a próxima colheita. O imigrante havia encontrado finalmente um fator importante e decisivo para sua fixação e adoção definitiva da nova Pátria. Uma vez mais a vitivinicultura evidenciava-se como elemento de fixação do homem a uma região, por ser ela um componente da civilização humana ligado à cultura e com características universais. Industria Calçadista 80 Os alemães estavam habituados a usarem calçados em virtude do frio de seu país de origem, todavia, no Brasil os calçados eram usados apenas para proteção à picada de insetos. Os calçados trazidos por eles gastaramse e foi assim que surgiu a indústria, inicialmente de forma artesanal. “O seu início foi artesanal, não havia máquinas que pudessem tornar mais fácil a confecção dos calçados. O material usado eram os retalhos que sobravam da fabricação dos arreios, e o calçado era feito sob medida e sob encomenda. O setor calçadista iniciou suas atividades no século XIX no Estado do Rio Grande do Sul, com o surgimento de curtumes implantados pelos imigrantes alemães e italianos. De acordo com o autor, com os avanços tecnológicos oriundos da Europa no final do século XIX, o sistema artesanal de produção passou a ser uma atividade fabril. Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, a Abicalçados (2015), no ano de 1888, surgiu, no Vale dos Sinos, Estado do Rio Grande do Sul, a primeira fábrica de calçados do Brasil, formada pelo filho de imigrantes Pedro 12 Adams Filho, que, por sua vez, também possuía um curtume e uma fábrica de arreios. A partir daí, o Rio Grande do Sul aumentava a demanda por calçados, o que permitiu a expansão da produção a cada ano, tornando o Estado reconhecido mundialmente no setor ao longo do tempo. A necessidade de ampliar a comercialização de calçados para o exterior surgiu no início da década de 60. A primeira exportação brasileira em larga escala ocorreu em 1968, com o embarque das sandálias Franciscano, da empresa Strassburguer, encomenda entregue nos Estados Unidos. Já a produção nacional, na mesma década, era de 80 milhões de pares anuais. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 81 Erva Mate 1554, o General Irala, chegou a região de Guairá, situada à oeste do atual território do Paraná e encontrou lá uma tribo de guaranis pacíficos e hospitaleiros. Um dos hábitos destes indígenas lhe despertou muita curiosidade. Tratava-se do uso generalizado de uma bebida feita de folhas picotadas, tomadas dentro de um porongo, por intermédio de um canudo de taquara. Ao indagar sobre a origem daquela bebida, responderam os índios tratar-se da "caá-i", um hábito que teria sido inicialmente de uso exclusivo dos pajés em suas práticas de magia, mas que foi estendido aos outros guerreiros, durante períodos de guerra emvirtude de seus diversos benefícios. E, mesmo depois do término das guerras, o seu uso continuou, pois seus efeitos estimulantes, fortaleciam tanto o corpo quanto a alma. "Caá" era o nome da ervateira e a "caá-i" era bebida do mate. Esta bebida nativa foi um estrondoso sucesso entre os soldados de Irala. E, quando retornaram a Assunção, levaram um carregamento da erva para apresentá-la aos amigos. Esta bebida impressionou tanto os espanhóis por sua natureza curativa e revitalizante, que despertou o interesse dos comerciantes de Assunção que visavam antes de tudo, o lucro financeiro. Acredita-se que os carijós, no litoral, assim como os guenoas da Campanha, também fossem apreciadores de um gostoso mate, mas inexistindo nestas redondezas, bosques de "caá", este hábito somente poderia ser mantido por intercâmbio com os guaranis. Quando do Tratado de Madri de 1750 e da sua subseqüente Guerra Guaranítica, o uso do mate já tinha se tornado costume entre os dragões e demais soldados dos quartéis do Rio Grande e Rio Pardo. Depois da Guerra Guaranítica efetuou-se a expulsão da Companhia de Jesus dos territórios europeus e coloniais de Portugal e da Espanha. Desde modo, os Trinta Povos das Missões de Guaranis perderam a unidade, subdividindo-se em quatro grandes províncias. Cada povo passou a ser gerido por uma espécie de administração mista, a cargo de um vigário e 82 de um comandante militar. Em 1801, como reflexo de nova guerra na Europa, um grupo de aventureiros rio-grandenses pratica a extraordinária façanha de incorporar para o Brasil a região dos Sete Povos. A partir dessa incorporação, normalizou o fornecimento da erva missioneira para a Capitania do Rio Grande do Sul, já sem burlas "aduanas"ou pagar direitos alfandegários, pois tudo agora era Brasil. Por volta de 1820 o hábito do chimarrão já se enraizara definitivamente nas cidades e nos campos da Capitania. O grande papel que desempenhou a erva-mate na sociedade gaúcha pode der avaliado por sua presença dentre os símbolos nacionais farroupilhas. No brasão da República já encontrávamos ramos de erva-mate contornando o barrete frígio e perdura até hoje no brasão e na bandeira do Estado do Rio Grande do Sul. O Mito do Gaúcho, por Moacyr Flores https://falando historia.blogspot.com/2010/08/o mito do gaucho por moacyr flores.html Paixão Côrtes Expressão TCHÊ! A expressão TCHÊ (Brasil) e ou CHE (Uruguay e Argentina) muito utilizado na região do Pampa, segundo historiadores provem das línguas e ou dialetos indígenas de tribos que habitavam esta região. Segue abaixo exemplos. CHE = GENTE ( Língua QUECHUA, de origem andina, cultura AYMARA) Ex: TEHUEL-CHE ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 83 (gente de tehuel) CHE = HOMEM ( Língua MAPUCHE, de origem andina, cultura ARAUCANA) CHÉ = AMIGO (Língua AVAÑÉE, Guarani Missioneiro, companhia de Jesus) CHE = TU (Pronome de Tratamento ESPANHOL ATUAL) Ex: ?Che, cuanto cuesta um vaso de vino? TCHÊ = TU (Aportuguesamento da expressão CHE, por uma questão de pronuncia) Expressão Tri! Durante a copa do mundo de 70 no México que o brasil alcançou o tri campeonato se passou a falar que tudo que era legal e bacana ficou sendo Tri! Expressão Bah! Inicialmente pode-se pensar que o Bah é um diminutivo de barbaridade, mas está mais para Pá dos portugueses, mas não se tem certeza exata da origem do termo. Sepe Tiaraju Sepé Tiaraju foi um chefe indígena dos Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai (território hoje integrado ao estado do Rio Grande do Sul) que virou herói para seu povo. Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, pelo qual Portugal cederia a Colônia do Sacramento (fundada pelos portugueses onde hoje é o Uruguai) à Espanha em troca da região dos Sete Povos. Para concretizar o acordo, os povos guaranis deveriam abandonar as sete aldeias da margem oriental do rio Uruguai. 84 Induzidos pelos jesuítas, os índios não aceitaram o tratado, e pegaram em armas para defender suas terras. Teve início, assim, a Guerra Guaranítica, que opôs os nativos a tropas espanholas e portuguesas. O chefe indígena Sepé Tiaraju, líder das forças missioneiras, tinha sido alferes do exército espanhol. Estava habituado ao convívio com os europeus. Seu nome cristão era José. Ele sabia ler e escrever, possuía treinamento militar e exercia grande influência sobre os comandados. Os guaranis foram conseguindo muitas vitórias, mas no final de 1755 a maré da guerra começou a mudar. A 7 de fevereiro de 1756, após uma série de derrotas, cerca de 1.500 guaranis foram dizimados na batalha de Caiboaté (nas proximidades da cidade gaúcha de São Gabriel). Sepé Tiaraju morreu em combate. A partir desse momento, história e lenda se confundem. O capitão indígena se tornou herói popular. Sua obstinada resistência foi sintetizada numa frase que, provavelmente, ele nunca pronunciou: “Esta terra tem dono”. Como o corpo do bravo guerreiro não foi encontrado no campo de batalha, espalhou-se a crença de que ele subira aos céus. Surgiu, assim, a veneração a São Sepé, um santo não reconhecido pela Igreja Católica, mas que dá nome a um município do Rio Grande do Sul. Cavalos no Rio Grande do Sul Antes do ano 1500 da nossa era, não havia cavalos nas Américas. Não existe, nas línguas originais do Continente Americano, nenhum termo que signifique cavalo. Todos os vocábulos que atualmente existem são derivações da palavra caballo do espanhol: cavayú em guarani, caavarú em tupi, cahuellu ou cahuallo em araucano, cahualk em gennaken, cahuel em tehuelche, cavallo nos acomas, cavaio nos moquis, cavayo em paiute, cahuay nos kansas, cahua nos osages, kaviyo nos pimas. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 85 Cristóvão Colombo, em 1493, quando em sua segunda viajem à Ilha La Española, hoje Repúplica Dominicana, no porto de Santo Domingo, na América Central, foi o responsável pela introdução do cavalo na América, dezessete veleiros e entre 25 e 30 cavalos. Introduzidos em 1509 ao continente através do Panamá, sete animais e através da Colômbia, 12 animais. Os exploradores necessitavam dos animais para carregar os seus pertences nas incurções realizadas. Descendo pela Cordilheira dos Andes em direção ao sul da América os exploradores iam abandonando os cavalos que se machucavam ou que adoeciam. Obviamente nem todos os animais abandonados morreram e com isso os mesmos sem um predador natural iam se reproduzindo. Os Indígenas ao encontrarem os primeiros cavalos, achavam que eram monstros e tentavam matá-los, até perceberem que os exploradores os utilizavam como meio de transporte e carga. A partir daí, com exíme técnica aprenderam a domar o cavalo e assim utilizá-lo como companheiro no transporte e caça, além de auxiliá-los na batalha contra os europeus que tentavam invadir sua região pampeana. Com o passar do tempo os indígenas se tornaram excelentes cavaleiros. Por volta de 1580, os cavalos abandonados na região do Prata em 1536, tinham se multiplicado aos milhares. Tanto que, em 1600, não podiam mais ser contados em suas gigantescas manadas. Os Pampas do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina estavam povoados de cavalos chimarrões (cimarrones) e o povo que vivia nessa região, unida pela semelhança ambiental, se tornou um povo cavaleiro. Por definição o cavalo Crioulo é o conjunto de animais descendentes dos cavalos trazidos da península ibérica, no século XVI, quando pela conquista da América. Adquiriram características únicas e próprias após quatro séculos de adaptação e evolução no meio ambiente sul americano. A origem do cavalo crioulo se dá na população eqüina da península ibérica, mais precisamente nos territórios de Portugal e Espanha do século XV. Naquela época, várias raças eram criadas na região, porém, acredita-se que o cavalo crioulo é originário de duas, sendo elas: Andaluz: Tem pelo menos quatro mil anos de história e é conhecida como uma raça guerreira. Sofreu grande influência dos cavalos trazidos do norte daÁfrica pelos mouros que estiveram presentes, na península ibérica, por oito séculos. Jacas: Também conhecida por Rocines. Antiga raça de cavalos nativos espanhóis das regiões da Galícia, Navarras e Andaluzia. Eram conhecidos pela valentia e resistência. A partir da chegada de Colombo na América, em 1492, várias foram as expedições espanholas que trouxeram estes cavalos para o novo continente. Os Andaluzes e os Jacas teriam sido escolhidos para cruzar o oceano por serem os mais resistentes e aptos para afrontar as dificuldades no novo continente; e pelo fato dos portos de embarque das expedições estarem localizados nas regiões onde estes cavalos eram criados. A história do tropeirismo – um dos capítulos mais importantes da formação gaúcha e um dos menos lembrados – integrou diferentes regiões do Brasil, e traçou a rota da formação de muitas cidades da região Sul e Sudeste. Foi através dessa atividade que se consolidou o movimento comercial do país, que se definiram vocações econômicas regionais, e que as enormes extensões de pampas gaúchos encontraram seu destino, que marca a atividade econômica de algumas regiões do Estado até os dias atuais. No início do século XVII chegaram jesuítas à região formada pelos atuais estados do Paraná e Rio Grande do Sul, e pela Argentina e Paraguai. Esses padres estabeleceram as Missões Jesuíticas, 86 onde reuniam, em torno de pequenos grupos de religiosos, um grande número de índios guaranis convertidos. Para sustentar essas populações, foi introduzida a atividade pecuária, com o gado solto nas pradarias. Dessa maneira a região passou a oferecer dois atrativos para os forasteiros: o índio que seria escravizado e o gado. Várias expedições de bandeirantes paulistas atacaram a região - destaca-se a expedição comandada por Antonio Raposo Tavares - até 1640. Em 1628 já havia relatos sobre a presença de rebanhos nas reduções jesuíticas. Mas acredita- se que tenham levado os animais da margem direita para a esquerda do rio Uruguai em 1629, dando origem a um rebanho imenso que ficaria conhecido como Vacaria do Mar na área situada entre a Laguna dos Patos e os rios Jacuí e Negro. Essa Vacaria era regularmente predada por espanhóis e portugueses, e para garantir o gado os jesuítas criam a Vacaria dos Pinhais, na região de campos de cima da serra que ficou conhecia como Campos da Vacaria. A ação dos bandeirantes e os conflitos fronteiriços entre Portugal e Espanha fizeram com que os jesuítas transferissem as reduções para a região noroeste do Rio Grande, onde fundaram os Sete Povos das Missões, que funcionavam de forma independente dos governos europeus metropolitanos e não se preocuparam em respeitar as decisões adotadas a partir de 1750. Essa situação motivou a repressão às Missões. Apesar da resistência por parte de padres e índios, as Missões foram desmanteladas, mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia gaúcha: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias. A formação das Vacarias permitiu que se realizasse, na área do atual Estado, a atividade de preia do gado selvagem. Caçava-se o gado e se retirava o couro, que era exportado para a Europa. A carne que não era consumida pelos predadores, era deixada no campo, apodrecendo. Todos predavam gado: portugueses, índios de aldeamentos, moradores das terras espanholas que tinham permissão de suas autoridades para vaquear, indivíduos que vaquejavam por conta própria. Enquanto isso, Portugal e Espanha continuavam na sua dança para ver quem, afinal, seria o dono do Sul do Continente. Tratados não cumpridos por ambas as partes e a política de “é de quem conseguir manter” tornavam a região que é o atual Rio Grande do Sul uma terra de ninguém, onde as duas coroas disputavam a posse do território. Era ainda esse o quadro do território riograndense quando, no final do século XVII, se descobriu ouro na região das Minas Gerais. A descoberta de ouro (e depois de diamantes) causou um grande afluxo populacional para a região. A população da área cresceu exponencialmente, causando a falta de alimentos e de produtos básicos. De 1700 a 1760, calcula-se que por volta de 700 mil pessoas imigraram para o Brasil com destino à Minas Gerais. A esses, se somaram um grande número de escravos africanos, bem como migrantes vindos de outras áreas do Brasil e escravos transferidos ilegalmente da região de produção de açúcar no Nordeste. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 87 Não é de se admirar, portanto, que no início do século XVIII a falta de gêneros alimentícios tenha causado grandes crises, acompanhadas por expressiva mortalidade. As crises mais fortes foram as de 1697-1698, 1700-1701 e 1713. A atividade mineradora, o crescimento das cidades e a formação de uma elite com recursos aumentaram a necessidade de animais para transporte de carga. Onde encontrar esses animais? A resposta era fácil – no sul do continente, onde estavam as enormes Vacarias. A bem da verdade, a região não era propriamente portuguesa. No início do período de mineração a América ainda era dividida pelo Tratado de Tordesilhas, e teoricamente os rebanhos pertenciam à Espanha. Mas isso era um detalhe, resolvido pela política de ocupação efetiva do território. E foi assim, vindo de uma região de posse duvidosa, que o gado gaúcho entrou na história brasileira. O primeiro grande tropeiro foi um fidalgo português, Cristóvão Pereira de Abreu, descendente do condestável Nuno Álvares Pereira. Cristóvão de Abreu nasceu em Ponte de Lima, em 1680, e veio para o Rio de Janeiro aos 24 anos. Aqui, casou com D. Clara de Amorim, com quem não teve filhos. Em 1722, aos 42, fez um grande negócio. Arrematou o monopólio de couros do sul do Brasil, mediante o compromisso de pagar 70 mil cruzados para a Fazenda Real anualmente. Tratou de começar a explorar esse manancial de ganhos, chegando a exportar 500 mil peças de boi por ano, através da Colônia de Sacramento (então de posse dos Portugueses). Cristóvão de Abreu também instalou sua própria estância, situada entre o Canal de Rio Grande e a planície de Quintão. Mas o seu grande feito seria estabelecer um caminho por terra entre os pampas e o mercado que clamava por gado. Francisco de Souza Faria, morador de Laguna, havia levado dois anos abrindo uma estrada que ia de Morro dos Conventos, em Araranguá, na planície costeira da atual Santa Catarina, até os Campos de Curitiba, no planalto. A obra teve início em 1717, e por essa estrada Cristóvão Pereira subiu pela primeira vez levando 800 cavalos e mulas, possibilitando a ligação entre o Sul e a vila de Sorocaba em São Paulo, que se tornou o grande entreposto de venda de gado durante o período da mineração, no ano de 1931. No ano seguinte, em uma segunda viagem – agora com 3 mil animais e 130 tropeiros – Cristóvão de Abreu alargou e melhorou o caminho, construindo vários pontilhões. Levou um ano e dois meses para atingir Sorocaba – e iniciou um novo ciclo da economia gaúcha. Mais tarde, Cristóvão Pereira abriu um novo caminho, que ligava diretamente os campos de Viamão aos Campos de Lajes. Ao longo desse caminho foram surgindo povoados: Santo Antonio da Patrulha, São Francisco de Paula, Capela de Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria. As aventuras do primeiro tropeiro não pararam por ai. Mais tarde, em 1735, foi convocado pelo governo português para defender as fronteiras portuguesas por terra, enquanto o Brigadeiro José da Silva Paes prestava apoio marítimo. O governo português tinha conhecimento de que os espanhóis pretendiam ocupar toda a área que ia até a ilha de santa Catarina, e era preciso garantir a presença portuguesa. Cristóvão aceitou o desafio e com 160 homens partiu para o Sul, sustentando a entrada do canal de Rio Grande por cinco meses, até que o Brigadeiro Silva Pais chegou com suas tropas por mar. No ponto onde Cristóvão de Abreu havia se instalado com seus homens, e onde o brigadeiro desembarcou, foi fundado o 88 quartele vila de Rio Grande. E seria ali que, em 1755, morreria Cristóvão Pereira de Abreu, o homem que colocou o Rio Grande do Sul no mapa econômico do Brasil. As duas rotas originais estabelecidas por Cristóvão de Abreu perderam importância quando se passa a explorar diretamente a região das Missões, e se passa a utilizar um caminho que leva diretamente à essa área, partindo de Vacaria e indo direto a Cruz Alta, então na fronteira entre Portugal e Espanha. Uma vez estabelecidas as rotas de transporte, as tropas se multiplicaram e o comércio de gado deslanchou. A preferência era pelos muares, já que mulas e burros eram mais adequados para o transporte em uma região montanhosa como Minas Gerais. Mas também se exportava gado vacum e cavalos. Estabelecer um número exato de animais exportados é quase impossível. Há relatos falando em mais de 50 mil animais, com grande predominância de muares, na metade do século XVIII. As tropas saiam do Rio Grande do Sul em setembro ou outubro, época em que, graças às chuvas, encontrariam melhores pastos pelo caminho. Prosseguiam até Curitiba, onde ficavam por algum tempo, engordando o gado. De lá, partiam para Sorocaba, o grande centro de comércio de gado, a tempo de participar das grandes feiras que se realizavam entre abril e maio. O fim de um ciclo A atividade de tropeiragem teve seu auge ente 1725 e o final do século, quando a atividade mineradora começou a declinar. Nessa época, entretanto, um novo produto permitiu que o Rio Grande do Sul continuasse a desempenhar o seu papel de fornecedor de outros centros produtores brasileiros. Era o charque, que começou a ser produzido na região de Pelotas por volta de 1780. Com ele, os rebanhos gaúchos encontrariam uma nova destinação. Entretanto, os tropeiros continuaram a percorrer os caminhos do Sul, ainda que em menor escala. A tropeiragem sofreu um grande baque com a instalação das ferrovias, no final do século XIX. Manteve-se, contudo, em menor escala, até o a década de 50 do século XX. Centro de Tradições Gaúchas ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 89 A Sociedade Sul-Riograndense foi fundada em 08 de novembro de 1857 pelo professor e filólogo Antônio Alvares Pereira Coruja. É, portanto, a mais antiga entidade representativa do povo gaúcho que existe, seguida de longe pelo "Grêmio Gaúcho", fundado em 22 de maio de 1898, a "União Gaúcha de Pelotas", em 10 de setembro de 1899, "O Centro Gaúcho de Bagé", em 20 de setembro de 1899 e o "Grêmio Gaúcho de Santa Maria" e, 08 de setembro de 1901. Em 1947, o jovem estudante do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, de Porto Alegre, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, recém chegado de Santana do Livramento, sai para tomar um cafezinho e avista uma bandeira do Rio Grande do Sul servindo de cortina para tapar o vidro de uma janela do bar, entre cachaça e cigarro. O comerciante não sabia do que se tratava aquele pano. Foi a gota d'água. Naquele ano Paixão Côrtes cria, juntamente com alguns colegas, o Departamento de Tradições Gaúchas, no Colégio Julinho. O grupo acompanha de-a-cavalo o traslado dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro. A primeira Ronda Crioula é criada para preservar, desenvolver e proporcionar a revitalização à cultura rio-grandense. O DTG comemora os 112 anos da Revolução Farroupilha. Acende-se da Pira da Pátria pela primeira vez o fogo que os tradicionalistas denominam de Chama Crioula. Em 24 de abril de 1948 é fundado o 35 CTG, o pioneiro daquelas entidades. Hoje são mais de 1700 CTGs em todo o País. Em 1959, quando é criado o Conselho Coordenador, o Estado já conta com diversos CTGs. Em 1966 cria-se o Movimento Tradicionalista Gaúcho e em 1975, o Conselho Coordenador transforma-se em Conselho Diretor, ativo até a atualidade. Encontro de Artes e Tradição Gaúcha Na década de 70, o MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização. empenhava-se em combater o alto nível de analfabetismo no país. No Rio Grande do Sul, além de alfabetizar, também almejava divulgar a cultura como forma de elevar a auto-estima da população e oportunizar o surgimento de novos valores artísticos. O professor e advogado Praxedes da Silva Machado, responsável cultural pelo Mobral, buscou a parceria do Movimento Tradicionalista Gaúcho e, com a participação do IGTF Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, criaram o Festival 90 Estadual de Arte Popular e Folclore, que se popularizou como Festival Estadual do Mobral. O evento foi idealizado para ser itinerante, isto é, cada ano em uma cidade diferente. A primeira edição deste festival foi no ano de 1977, cuja fase final foi realizada na cidade de Bento Gonçalves. A 2a em 1978 - Porto Alegre, a 3a em 1979 -Lajeado, a 4a em 1980 - Cachoeira do Sul, a 5a em 1981 - Lagoa Vermelha, a 6a em 1982 - Canguçu, a 7a em 1983 - Soledade e a 8a em 1984 - Farroupilha. Em 1985, a 9a edição seria em Rio Pardo. Como as autoridades do município desistiram, Farroupilha passou a sediar novamente. Decidiu- se, então, não mais alternar o local, uma vez que Farroupilha se propunha em continuar realizando anualmente a final. A partir de 1986, o evento passa a ser promovido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, em parceria com a Prefeitura Municipal de Farroupilha e o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore -IGTF, passando a ser denominado FEGART - Festival Gaúcho de Arte e Tradição. Sua realização acontecia sempre no último final de semana de outubro, permanecendo em Farroupilha da 1ª à 11ª edições, portanto, ate o ano de 1996. Tendo em vista o crescimento do festival e das necessidades estruturais e financeiras para sua realização e a manifestação da Prefeitura de Farroupilha de não mais sediar o evento, em 1997, a 12a edição, foi transferida para Santa Cruz do Sul. O evento passou a ser realizado no segundo final de semana de novembro de cada ano. Por questões que envolveram o nome do festival, reivindicado pela Prefeitura de Farroupilha, houve a necessidade de mudança, no ano de 1999, passando a denominar-se ENART - Encontro de Artes e Tradição Gaúcha. No ano de 2013 será realizada a 28ª edição e 37ª edição desde o festival originário. Nativismo O movimento nativista surge com a criação da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana, em 1971 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 91 A Califórnia da Canção é promovida por um grupo ligado ao CTG Sinuelo do Pago, em Uruguaiana Na primeira edição, sessenta pessoas fazem a platéia Nos tempos de ouro da Califórnia, entre a décima e a vigésima edição, chega atrair 60 mil pessoas Na década de 80 surgem novos festivais e um verdadeiro turbilhão nativista começa a tomar conta do Estado Os jovens passam a vestir bombachas, sair às ruas dos grandes centros com suas mateiras e formar rodas de mate nas praças Apressadamente alguns tradicionalistas julgam que o movimento é apenas um modismo Hoje já contabiliza três décadas de atuação e centenas de títulos de festivais Atualmente são em média 40 festivais por ano, mas já houve época com mais eventos deste tipo do que finais de semana Com a grande produção musical gerada pelo nativismo surgem novos programas de rádio e televisão A mídia começa olhar com atenção para os nativistas e vê fundamento nos temas que são abordados pelos novos valores que começam surgir ano a ano Os festivais tornam se mercado de trabalho e hoje há um elenco de mais de mil nomes cadastrados como compositores, músicos e intérpretes deste gênero musical só no Rio Grande do Sul Na década de 80 surge a primeira emissora de rádio segmentada exclusivamente na cultura gaúcha, a Rádio Liberdade FM A Salamanca do Jarau No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia. 92 Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. Vai então, levantou-se, assoleadoe foi até a beira da lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo. Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante e qual não é a surpresa do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo. Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá - os padres diziam isso!- tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens e arrastava todos para o inferno. Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada jamais tocada por homem. Aquele pelo qual se apaixonasse seria feliz para sempre. Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniagá na guampa e voltou correndo para a igreja, sem se importar com o calor. Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco que chegasse a noite. Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos. Ora, vinho só o da Santa Missa. Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite. No outro dia, o sacristão não prestava para nada. Mas, quando chegou a noite, tudo se repetiu. E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. A princesa moura transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai, mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor foi preso e acorrentado. Como o crime era horrível - contra Deus e a Igreja! - foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado. No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé. Então, lá das barrancas do rio Uruguai a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo. Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, um valos enormes, rasgando tudo. Por um desses valos ela finalmente chegou à igreja bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão. O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo afundou e tudo desapareceu de vista. E quando as coisas clarearam a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai. Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá e ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz. Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida. E lá foram morar, os dois. Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse 7 Provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida. Na Salamanca do Jarau a Teiniaguá e o sacristão se tornaram os pais dos primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro e pula uma elevação para outra. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 93 O Gaúcho é uma denominação dada às pessoas ligadas à atividade pecuária em regiões de ocorrência de campos naturais, do bioma denominado pampa, que ocorre no sul da América do Sul, em países como a Argentina, Brasil e Uruguai, e também aos nascidos no estado brasileiro de Rio Grande do Sul. As peculiares características do seu modo de vida pastoril teriam forjado uma cultura própria, derivada do amálgama da cultura ibérica e indígena, adaptada ao trabalho executado nas propriedades denominadas estâncias. É assim conhecido no Brasil, enquanto que em países de língua espanhola, como Argentina e Uruguai é chamado de gaucho (acento tônico no "a", diverso do português, cujo acento tônico é no "u"). Algumas vezes o termo também é considerado similar ou equivalente a outros estilos de vida rurais em outras culturas, como o americano cowboy, chileno huaso e mexicano charro, por exemplo. O termo também é correntemente usado como gentílico para denominar os nascidos no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Além disso, serve para denominar um tipo folclórico e um conjunto de tradições codificadas e difundidas por um movimento cultural agrupado em agremiações, criadas com esse fim e conhecidas como Centro de Tradições Gaúchas ou CTG. Brasão do Rio Grande do Sul Escudo oval. Em campo de prata: um quadrilátero de prata com um sabre de ouro, em pala, sustentando na ponta um barrete frígio, de vermelho, entre dois ramos floridos de fumo e erva- mate, de sua cor, que se cruzam sobre o punho do sabre; inscrito num losango, com duas estrelas de cinco pontas de ouro colocadas nos ângulos superior e inferior; ladeado por duas colunas jônicas compostas com capitel e três anéis no terço inferior de fuste liso de ouro, encimadas por uma bala de canhão antigo, de preto assentes sobre um campo ondulado de verde em ponta. Uma bordadura de azul, perfurada de preto, carregada com a inscrição REPÚBLICA RIO- GRANDENSE e a data 20 DE SETEMBRO DE 1835, de ouro, separadas por duas estrelas de cinco pontas, também de ouro 94 Um listel de prata com a legenda "LIBERDADE IGUALDADE HUMANIDADE", de negro. O escudo fica sobreposto sobre quatro bandeiras tricolores (verde, vermelho e amarelo) entre-cruzadas duas a duas com hastes rematadas de Flor-de-lis invertida, de outro. As duas bandeiras dos extremos estão decoradas com uma faixa vermelha com bordas de ouro, atada junto à ponta flor-de-lisada; uma lança de cavalaria, de vermelho, rematada por uma flor-de-lis invertida, de ouro, entre quatro fuzis armados de baionetas de ouro, e na base do conjunto dois tuboscanhão, de negro, entrecruzados, semi-encobertos pelas bandeiras. Fauna e flora locais O Estado do Rio Grande do Sul pode ser dividido em quatro principais domínios geológicos: a Planície Costeira do Rio Grande do Sul, o Planalto das Araucárias, Depressão Central e o Escudo Sul-Riograndense, de acordo com o mapa ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 95 96 Matriz produtiva Número de empregados, massa salarial e média salarial Porto Alegre é a 6ª maior economia do Brasil ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 97 98 Dentro da indústria de transformação, o Rio Grande do Sul possui destaque nacional em vários segmentos: Maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Fumo - 49,7% ● Couro e Calçados - 29,0% ● Automação ● Biodiesel – 28% ● Máquinas agrícolas e rodoviárias – 46,7% ● Vinhos – aproximadamente 90% ● Reboques e carrocerias Segundo maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Produtos de metal - 13,5% ● Máquinas e equipamentos - 16,8% ● Móveis - 20,9% Terceiro maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Produtos de borracha e material plástico - 8,4%¹ Quarto maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Alimentos - 7,9% ● Produtos de Madeira - 8,3% ● Produtos Químicos - 9,2% ● Veículos automotores - 9,1% ● Embarcações, aeronaves, veículos militares e outros equipamentos de transporte - 6,7% Matriz energética O Rio Grande do Sul possui mais de 300 empreendimentos em operação, com 9,3 GW de potência, conforme informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Para os próximos anos, está prevista uma adição de 2,7 GW na capacidade de geração do Estado, proveniente de 20 empreendimentos em construção e mais 31 com a outorga assinada. A oferta de energia no Estado provém de usinas hidrelétricas, de termoelétricas a óleo combustível, a gás natural e a carvão mineral, e de fontes alternativas de energia como eólica e pequenas centrais termo e hidrelétricas. O Rio Grande do Sul vem investindo, ainda, no desenvolvimentode biocombustíveis como biodiesel, etanol e biogás. O Estado já conta, em 2015, com nove ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 99 usinas para a fabricação de biodiesel, com produção anual de 606 milhões de litros e capacidade nominal anual para produzir 1.363 milhões de litros, sendo o maior produtor nacional (ANP, 2015). A distribuição de energia elétrica é feita principalmente por três grandes concessionárias: Distribuidora Gaúcha de Energia S.A. (AES Sul), Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e Rio Grande Energia S.A. (RGE). Também há cinco pequenas concessionárias e 15 cooperativas de eletrificação rural. Carvão O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro com o maior número de plantas termelétricas – quatro das 13 usinas instaladas no país. Aproximadamente 90% das reservas brasileiras de carvão estão no Estado, o que representa 28 bilhões de toneladas. No município de Candiota, está a maior reserva de carvão mineral do Brasil, 38% do total nacional. O município abriga as usinas Presidente Médici (446 MW) e Candiota III (350 MW), estando em construção a usina Pampa Sul (340 MW). As outras duas usinas estão em Charqueadas (72 MW) e São Jerônimo (20 MW). O Estado busca fomentar o desenvolvimento de tecnologias que visem ao melhor aproveitamento do carvão mineral, pesquisando alternativas de uso, além da queima direta para a geração de energia elétrica. Outra prioridade é estudar as potencialidades de utilizar o carvão gaúcho para a indústria carboquímica. Parques Eólicos O RS é um dos Estados brasileiros com maior potencial de energia eólica, sediando inclusive o maior complexo eólico da América Latina, o de Campos Neutrais, localizado no Litoral Sul. Em consonância com o país, o Rio Grande do Sul vem investindo fortemente nessa fonte de energia desde 2006. Até 2018, o Estado terá capacidade instalada de 2.029,6 MW em 105 parques, contabilizando investimentos de R$ 8,4 bilhões. O potencial de energia eólica em solo gaúcho é estimado em 115 GW para a altura de 100 metros (Atlas Eólico Rio Grande do Sul, 2014). Além disso, há uma boa infraestrutura de redes de transmissão e distribuição de energia elétrica e grande facilidade de conexão nas regiões com maior potencial de ventos. Apresenta ainda boa interligação entre os sistemas elétricos de transmissão da Região Sul e do Sudeste. 100 Evolução da capacidade instalada de Geração Elétrica no RS 2005-2017 (MW) ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 101 Matriz de transporte O Rio Grande do Sul conta com uma rede multimodal de transportes relativamente bem estruturada e capilarizada. Entretanto, possui uma matriz excessivamente centrada no transporte rodoviário. Considerando a matriz modal do Rio Grande do Sul, em 2014 as rodovias eram responsáveis por 88% do total transportado¹. Dados mais recentes² indicam que, em 2017 o modal rodoviário do Rio Grande do Sul continuava respondendo por aproximadamente 88% do total transportado, enquanto no Brasil a participação deste modal atingia 65%. No Rio Grande do Sul há rotas hidroviárias interiores e portos importantes como o de Porto Alegre e de Rio Grande e uma rede ferroviária extensa, com potencial para ser explorado. Há também uma rede de aeroportos regionais e três aeroportos internacionais , com destaque para o Aeroporto Salgado Filho, na capital do Estado, que apresenta a maior movimentação de passageiros e de cargas. Há, ainda, uma rede dutoviária que serve principalmente o nordeste do Estado com transporte de petróleo e derivados e gás natural. No entanto, a movimentação de cargas e de passageiros é realizada predominantemente por rodovias que interligam as várias regiões do Estado aos outros estados brasileiros e aos países do MERCOSUL. Devido à sua localização geográfica, passam pelo Estado boa parte dos produtos comercializados entre o Brasil e o bloco de países do MERCOSUL, principalmente a Argentina. Com isso, rodovias como a BR-116, BR-101, BR-386 e BR-290, entre outras, apresentam volumes de tráfego cada vez mais pesado, principalmente em momentos de escoamento de safra agrícola. A tradição exportadora de grande parte da agricultura e indústria gaúchas também contribui para definir a conformação das redes modais que ligam as várias regiões produtoras do Estado à capital, ao Porto de Rio Grande e a Uruguaiana. Estruturas importantes como os pontos alfandegados e portos secos alfandegados, localizados em pontos estratégicos do Estado, dão suporte à movimentação de cargas pelos diferentes modais, fornecendo desembaraço aduaneiro e fiscalização. Quanto à atuação de Operadores de Transporte Multimodal (OTM), em maio de 2020 no RS estavam cadastradas pela ANTT – Agência Nacional de transportes Terrestres, 41 empresas com sede em 11 municípios. Das 41 empresas de OTM com operação nacional e internacional, 11 operavam no MERCOSUL³. 102 O RS possui aproximadamente 17.000km de rodovias federais e estaduais O sistema rodoviário é responsável pela movimentação da maior parte da carga transportada no Rio Grande do Sul e pela quase totalidade do transporte de passageiros. De acordo com o Departamento Autônomo de Estadas de Rodagem - DAER, o estado conta com aproximadamente 17.464 km de rodovias federais e estaduais, além das malhas municipais. A malha federal estrutura a rede de transporte com rodovias longitudinais, diagonais, transversais e de ligação. A rede estadual articula-se a federal, sendo mais densa e capilarizada nas regiões norte e nordeste do estado em função do maior número de municípios e de núcleos urbanos. Segundo o DAER, a malha rodoviária pavimentada do Estado conta com uma extensão aproximada de 13.742 km. Destes, cerca de 5.585 km correspondem a rodovias federais e 8.000 km correspondem a rodovias estaduais¹. Possui também aproximadamente 3.722 km de estradas federais e estaduais não pavimentadas, dentre as quais 1.326 Km encontram- se em obras de pavimentação. As rodovias BR-116, BR-101, BR-386 e BR-290 recebem grandes fluxos de escoamento da produção, especialmente da safra agrícola, apresentando os volumes de tráfego mais elevados por estabelecerem as ligações entre o Portos de Rio Grande e Porto Alegre, Uruguaiana e os países do MERCOSUL e os demais estados brasileiros. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 103 A malha ferroviária gaúcha, controlada por longo período pela Rede Ferroviária Federal - RFFSA, foi concedida para a iniciativa privada em 1997 à empresa América Latina Logística - ALL que, até 2013, detinha também áreas de concessão do norte da Argentina. A operação de concessão mais recente é da empresa Rumo, nova companhia resultante da fusão Rumo - América Latina Logística – ALL. Com concessão para o período de 1997 a 2027 e operação das malhas dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo é chamada de RMS – Rumo Malha Sul. A malha aeroviária do Estado conta com um conjunto de aeroportos regionais e locais e três aeroportos internacionais, dentre os quais o mais importante é o Aeroporto Internacional Salgado Filho, localizado em Porto Alegre, capital do Estado. Segundo a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, em 2018, o Aeroporto Salgado filho foi o 9º aeroporto do Brasil em número de decolagens no mercado doméstico e transportou 3.797.970 passageiros. Os aeroportos em operação no Rio Grande do Sul atendem principalmente a movimentação de passageiros em vôos comerciais regulares e vôos particulares e militares. Há também infraestrutura para movimentação de cargas nos aeroportos de Porto Alegre, Caxias do Sul, Passo Fundo e Santo Ângelo. Em Rio Grande e Pelotas, Santa Maria e Canoas há movimentação de cargas militares e científicas. Os campos de pouso servem como apoio ao sistema aeroportuário e são utilizados principalmente para vôos agrícolas, de turismo e lazer e de instrução. 104 Principais Portos do Rio Grande do Sul O Rio Grande do Sul apresenta uma importante malha hidroviária concentradanas bacias hidrográficas do Guaíba e Litorânea. Os principais rios navegáveis: Jacuí e Taquari, Sinos, Caí e Gravataí em menor proporção. Lago Guaíba e Laguna dos Patos são utilizados quase exclusivamente para o transporte de cargas através dos terminais públicos e privados. Os principais portos públicos são os Portos do Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre e Estrela, onde operam também Terminais de Uso Privativo - TUPs. Atualmente há TUPs distribuídos pelas hidrovias fora dos portos públicos com registros de movimentação crescente.Porto ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 105 PORTO DE RIO GRANDE 106 A denominação "Rio Grande" vem do fato de, dois séculos atrás, os navegantes que se dirigiam à Colônia do Sacramento entenderem que a embocadura da Lagoa dos Patos fosse a foz de um grande rio. O primeiro registro de transposição da Barra do Rio Grande é de 1737, quando o Brigadeiro José da Silva Paes chegou para iniciar o povoamento desta região que passou a ser conhecida como Rio Grande de São Pedro ou São Pedro do Rio Grande, e construiu a fortificação de madeira denominada de Forte Jesus Maria José. Segundo historiadores, muitos que visitavam a região não acreditavam no seu desenvolvimento, ou mesmo que viesse a se constituir uma cidade aqui, devido às condições naturais pouco favoráveis. A primeira providência oficial para melhorar a segurança da navegação ocorreu em 1846, quando o Governo Imperial criou a Inspetoria da Praticagem da Barra. Após esta providência, reduziram-se consideravelmente os acidentes na Barra. Passou a desenvolver-se uma crescente navegação através da Barra, sendo contadas em 1847, 668 embarcações que a transpuseram. Surgiu um pequeno porto, localizado onde hoje é o Porto Velho, no centro da cidade, freqüentado principalmente por embarcações a vela. A contínua agitação das águas na embocadura, as freqüentes mutações dos canais e as profundidades insuficientes que raramente ultrapassavam 3,6 metros, tornavam a transposição da Barra extremamente perigosa, cobrando um pesado tributo à navegação em acidentes marinhos, inviabilizando o comércio e o desenvolvimento da região. Em 1855, o Ministério da Marinha enviou o Ten.Cel. Eng. Ricardo Gomes Jardim, especializado em engenharia hidráulica, para estudar a Barra e o Porto e concluiu "que devem reputar-se inexeqüíveis, senão mais nocivos do que úteis, quaisquer construção de pedra ou de madeira, no intuito de prolongar o leito do rio ou dar maior força à corrente". A seguir, outros consideraram a Barra "não suscetível de melhoramentos por meio de trabalhos hidráulicos". Em 1860, a profundidade da Barra não ia além de 2,20 metros. Somente em 1875, Sir John Hawkshaw, comissionado pelo Governo Imperial, visitou o Porto do Rio Grande e propôs a construção de quebra-mares partindo do litoral para o oceano, de um e outro lado da embocadura com uma extensão de cerca de 2 milhas (3.220m) cada. Em 1906, o engenheiro Elmer Lawrence Cortheill foi contratado pelo Governo brasileiro para executar as obras de fixação da Barra de Rio Grande, com aprofundamento para 10m, e a construção de dois molhes convergentes e um novo porto na cidade do Rio Grande (hoje conhecido como Porto Novo). Cortheill organizou a companhia "Port of Rio Grande do Sul", com sede em Portland, Estados Unidos, que construiria e exploraria o porto por 70 anos. O projeto da Barra, a ser executado, originou-se da comissão presidida pelo engenheiro Honório Bicalho em 1883, posteriormente pouco alterado, analisado e aprovado pelo engenheiro holandês Pieter Caland, em 1885, que propôs a adoção de molhes convergentes. Em 1908, devido às dificuldades do engenheiro Cortheill conseguir nos EUA o capital necessário à execução das obras, constituiu-se em Paris a "Compagnie Française du Port du Rio Grande do Sul", com capitais europeus, à qual foi transferido o contrato através do decreto nº 7.021, de 09 de julho de 1908. Dois anos depois, iniciaram-se efetivamente os trabalhos de construção dos molhes e do novo porto. Em 1º de março de 1915, aproximadamente às 17h30min, o navio-escola Benjamin Constant, da Armada nacional, calando 6,35 metros, transpôs a Barra. Por volta das 18h30min, atracou no cais do Porto Novo do Rio ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 107 Grande, em meio a solenidades festivas. Em 15 de novembro de 1915, foi inaugurado o primeiro trecho de cais do Porto Novo, numa extensão de 500 metros, logo entregues à operação. O trabalho teve continuidade em 1919, quando, em vista das dificuldades enfrentadas pela companhia francesa, após a 1ª Grande Guerra, foram encampadas pela União e transferidas ao Estado do Rio Grande do Sul as obras da Barra e do Porto do Rio Grande. Em 1934, a União renovou o contrato de concessão portuária ao Estado do Rio Grande do Sul, pelo prazo de 60 anos, incluindo a manutenção de hidrovias do Estado. Em 1951, face à importância que passou a adquirir o complexo hidro-portuário riograndense, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul criou, através da lei nº 1561, de 1º de outubro de 1951, o Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais - Deprc, autarquia que englobou os serviços concedidos, entre eles o Porto do Rio Grande, e outros executados pelo Estado na área hidroviária. Em 1970, pela dragagem do canal de acesso da Barra para navios calando até 40 pés e pela incorporação da área de expansão (Superporto), abriram- se amplas perspectivas de crescimento e desenvolvimento do Porto do Rio Grande. No ano de 1994, mês de agosto, expirou o prazo do Contrato de Concessão Portuária ao Estado, que foi prorrogado até 31 de março de 1997 para possibilitar os ajustes impostos pela Lei nº 8.630/93. A Lei 8.630/93 mudou significativamente as relações de trabalho e a operação nos portos brasileiros, e em Rio Grande não foi diferente. Hoje, entre outras alterações, a operação portuária é feita totalmente por operadores portuários privados. Porto de Porto Alegre O porto de Porto Alegre, mesmo possuindo características fluviais, é classificado como porto marítimo, conforme Resolução Nº 2969 -ANTAQ, de 4 de julho de 2013. Mantém oito quilômetros de cais acostável, dividido entre os cais Mauá, Navegantes e Marcílio Dias. Sua estrutura envolve 25 armazéns com 70 mil m², numa área total de 450 mil m². Desde o primeiro semestre de 2005, a área de operação do porto público está concentrada no cais 108 Navegantes, que encontra-se regido pelas normas internacionais de segurança ISPS-CODE, desde 2010. Possui capacidade de operação de até 3 navios de longo curso, simultaneamente. Desde o final de 2012, o porto da Capital participa do programa desenvolvido pelo Governo Federal, denominado Porto Sem Papel - PSP, onde se concentram todos seus dados portuários, compartilhando-os com os órgãos anuentes ( Polícia Federal, Receita Federal, VIGIAGRO, ANVISA, Marinha do Brasil, dentre outros). O zoneamento do porto da Capital gaúcha dispõe de áreas distintas para terminais multipropósito, de grãos, de fertilizantes e carga geral. Nos últimos cinco anos, o porto de Porto Alegre juntamente com os terminais privados movimentou cerca de 6 milhões de toneladas/ano, em produtos, tais como, cabos de amarração de plataforma marítima, fertilizantes, sal, grãos vegetais, transformadores elétricos e celulose. O Porto de Pelotas, administrado pela Superintendência de Portos e Hidrovias, exerce importante papel no processo de desenvolvimento econômico da metade sul na geração de trabalho e renda e na diminuição dos custos logísticos para as empresas exportadoras e importadoras da região. As operações de cargas e descargas são efetuadas com rapidez e segurança, garantidas pela constante qualificação do trabalho, da modernização dos seus equipamentos, da conservação e adequação dos armazéns e da segurança realizada por profissionais especializados. O porto recuperou a sua condição de porto alfandegado, pela Receita Federal e considerando sua proximidade com o portode Rio Grande, é também um porto alimentador. Tem boa disponibilidade de armazenagem em áreas fechadas ou abertas. O porto oferece os serviços de suprimento de água e energia elétrica e mão-de-obra cadastrada no Orgão Gestor de Mão–de-Obra. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 109 110 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 111 Unidades de conservação 112 ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 113 O Rio Grande do Sul é considerado pioneiro no trato de questões ambientais desde os anos 50. Conforme dados disponíveis, o Estado conta atualmente com 108 Unidades de Conservação, Destas, 10 são de competência federal, 24 estaduais, 35 municipais e 39 são Reservas Particulares do Patrimônio Natural. 114 Organização política e territorial Divisão política Regiões administrativas Hierarquia urbana Regionalização do IBGE ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 115 O Brasil é uma nação independente e autônoma politicamente, dispõe de uma região separada em estados, que nessa condição são 26, fora o distrito federal que corresponde a uma unidade da federação que foi estabelecida com o objetivo de acolher a metrópole do Brasil e também o polo do Governo Federal. Foram diversas as razões que conduziram o Brasil a fazer uma separação interna da região, dentre eles os principais foram os aspectos político-administrativos e históricos. Esse procedimento começou ainda no período colonial, instante esse que o Brasil estava separado em capitanias hereditárias, dessa maneira estados como Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte são provenientes de velhas capitanias constituídas no antigo momento onde prevalecia esse modelo de separação. Uma das razões que beneficiavam a separação interna da nação é quanto à gestão administrativa da região, onde se separa as obrigações de fiscalizar em porções menores, pois grandes distancias territoriais sem posse e inexistência de estado pode gerar uma sequência de problemas, até a perda de regiões para nações vizinhas. No final do século XIX quase todos os estados estavam com seus próprios formatos atuais, contudo certos estados apareceram depois, como Tocantins, em 1988, e Mato Grosso do Sul, em 1977, gerando uma reorganização na posição cartográfica e governamental do interior da nação. Estado quer dizer unidade da federação brasileira. O Brasil apresenta leis específicas, uma vez que está estruturado politicamente e retém toda autonomia. As leis são formuladas em padrão federal e são independentes, contudo, municípios e estados apresentam leis específicas, porém que são submetidas às leis nacionais, nesse caso, a Constituição Federal. 116 Além da separação em federações há uma no interior dos estados, a regionalização em cidade, que apresenta leis próprias que são dependentes das leis federais, essa regionalização ainda pode ser separada em distritos. Na separação administrativa do Brasil, têm-se os estados, os municípios, os distritos e o distrito federal. Estados: unidades federativas do país. São gerenciados por governos estaduais, que são dependentes do Governo Federal. Cada estado tem sua própria capital, no qual está implantada a sua matriz administrativa. Municípios: equivalem as unidades administrativas que são menores que os estados. São gerenciadas pelos governos municipais, mais popularmente conhecidos como prefeituras, que são dependentes do Governo Federal e do Governo Estadual. Distritos: são unidades governamentais que fazem parte dos municípios. Um município pode ser formado por um ou mais distritos. O distrito matriz normalmente apresenta o mesmo nome que o município e os outros distritos costumam ser denominados de vilas. Quando uma vila se expande, ela é promovida a município. Distrito Federal: é a matriz do governo federal, lugar onde está a metrópole do país. É no Distrito Federal que estão às matrizes dos poderes executivo, legislativo e judiciário. No Brasil, o Distrito Federal está localizado no estado de Goiás, e a capital brasileira em Brasília. Região Norte A região Norte é composta por sete estados, onde estão localizadas a Floresta Amazônica e a Bacia Amazônica. É a maior região brasileira, mas a menos habitada. O clima encontrado na região norte é o equatorial. Região Nordeste A região nordeste apresenta noves estados. É a segunda região com a maior quantidade de habitantes. O clima pode mudar conforme a localização, sendo semi-árido no centro e úmido nas regiões ocidental e oriental. Região Centro-Oeste A região Centro-Oeste apresente só três estados mais o Distrito Federal. É a segunda maior região brasileira, mas a menos povoada. Tem a agropecuária como principal atividade econômica. O clima dominante é o tropical. Região Sudeste A região Sudeste apresenta quatro estado. É a região mais avançada, em razão do grande crescimento econômico, agrícola e industrial, além de ser a com mais habitantes. O clima muda conforme a localização, sendo tropical de altitude nos planaltos, e tropical atlântico no litoral. Região Sul A região Sul apresenta três estado. É a menor região do Brasil, mas a que possui grande influencia européia, principalmente germânica e italiana. O clima dominante é o subtropical. Dessa forma, o Brasil apresente o quinto maior território com relação aos demais países. O território do Brasil já passou por diversas divisões regionais. A primeira proposta de regionalização foi realizada em 1913 e depois dela outras propostas surgiram, tentando adaptar a divisão regional às características econômicas, culturais, físicas e sociais dos estados. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 117 A regionalização atual é de 1970, adaptada em 1990, em razão das alterações da Constituição de 1988. O órgão responsável pela divisão regional do Brasil é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A primeira proposta de divisão regional do Brasil surgiu em 1913, para ser utilizada no ensino de geografia. Os critérios utilizados para esse processo foram apenas aspectos físicos – clima, vegetação e relevo. Dividia o país em cinco regiões: Setentrional, Norte Oriental, Oriental, Meridional. Em 1940, o IBGE elaborou uma nova proposta de divisão para o país que, além dos aspectos físicos, levou em consideração aspectos socioeconômicos. A região Norte era composta pelos estados de Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí e o território do Acre. Goiás e Mato Grosso formavam com Minas Gerais a região Centro. Bahia, Sergipe e Espírito Santo formavam a região Leste. O Nordeste era composto por Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro pertenciam à região Sul. Conforme a divisão regional de 1945, o Brasil possuía sete regiões: Norte, Nordeste Ocidental, Nordeste Oriental, Centro-Oeste, Leste Setentrional, Leste Meridional e Sul. Na porção norte do Amazonas foi criado o território de Rio Branco, atual estado de Roraima; no norte do Pará foi criado o estado do Amapá. Mato Grosso perdeu uma porção a noroeste (batizado como território de Guaporé) e outra ao sul (chamado território de Ponta Porã). No Sul, Paraná e Santa Catariana foram cortados a oeste e o território de Iguaçu foi criado. Os territórios de Ponta Porã e Iguaçu foram extintos e os estados do Maranhão e do Piauí passaram a integrar a região Nordeste. Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro formavam a região Leste. Em 1960, Brasília foi criada e o Distrito Federal, capital do país, foi transferido do Sudeste para o Centro-Oeste. Em 1962, o Acre tornou-se estado autônomo e o território de Rio Branco ganhou o nome de Roraima. 118 Em 1970, o Brasil ganhou o desenho regional atual. Nasceu o Sudeste, com São Paulo e Rio de Janeiro sendo agrupados a Minas Gerais e Espírito Santo. O Nordeste recebeu Bahia e Sergipe. Todo o território de Goiás, ainda não dividido, pertencia ao Centro-Oeste. Mato Grosso foi dividido alguns anos depois,dando origem ao estado de Mato Grosso do Sul. Com as mudanças da Constituição de 1988, ficou definida a divisão brasileira que permanece até os dias atuais. O estado do Tocantins foi criado a partir da divisão de Goiás e incorporado à região Norte; Roraima, Amapá e Rondônia tornaram-se estados autônomos; Fernando de Noronha deixou de ser federal e foi incorporado a Pernambuco. Microrregião - é definida como parte das mesorregiões que apresentam especificidades quanto à organização do espaço. Essas especificidades referem-se à estrutura de produção, agropecuária, industrial, extrativismo mineral ou pesca. A organização do espaço microrregional é também identificada pela vida de relações em nível local, isto é, pela interação entre as áreas de produção e locais de beneficiamento e pela distribuição de bens e serviços de consumo freqüente. Assim, a estrutura da produção para identificação das microrregiões é considerada em sentido totalizante, envolvendo a produção propriamente dita, distribuição, troca e consumo, incluindo atividades urbanas e rurais. Composição da Microrregião Osório - 23 municípios • Arroio do Sal • Balneário Pinhal • Capão da Canoa • Capivari do Sul • Caraá • Cidreira • Dom Pedro de Alcântara • Imbé • Itati • Mampituba • Maquiné • Morrinhos do Sul • Mostardas • Osório • Palmaresdo Sul • Santo Antônio da Patrulha • Tavares • Terra de Areia • Torres ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 119 • Tramandaí • Três Cachoeiras • Três Forquilhas • Xangri lá Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) - criados pela Lei nº 10.283, de 17 de outubro de 1994, os Coredes têm por objetivo a promoção do desenvolvimento regional, harmônico e sustentável, através da integração dos recursos e das ações de governo na região, visando à melhoria da qualidade de vida da população, à distribuição eqüitativa da riqueza produzida, ao estímulo à permanência do homem em sua região e à preservação e recuperação do meio ambiente. Compete aos Coredes as seguintes atribuições, dentre outras: promover a participação de todos os segmentos da sociedade regional no diagnóstico de suas necessidades e potencialidades, para a formulação e a implementação das políticas de desenvolvimento integrado da região; elaborar planos estratégicos de desenvolvimento regional; manter espaço permanente de participação democrática, resgatando a cidadania, através da valorização da ação política; constituir-se em instância de regionalização do orçamento do Estado, conforme estabelece o art. 149, parágrafo 8º, da Constituição do Estado; orientar e acompanhar, de forma sistemática, o desempenho das ações dos Governos Estadual e Federal na região; e respaldar as ações do Governo do Estado na busca de maior participação nas decisões nacionais. Composição do Corede Litoral - 2008 - 21 municípios Arroio do Sal - Balneário Pinhal - Capão da Canoa - Capivari do Sul - Caraá - Cidreira - Dom Pedro de Alcântara - Imbé - Itati - Mampituba - Maquiné - Morrinhos do Sul - Mostardas 120 - Osório - Palmares do Sul - Terra de Areia - Torres - Tramandaí - Três Cachoeiras - Três Forquilhas - Xangri-lá A hierarquia urbana é a maneira como as cidades organizam-se dentro de uma escala de subordinação. Na prática, ocorre quando vilas e cidades menores subordinam-se às cidades médias, e estas se subordinam às cidades grandes. Por meio da hierarquia urbana, pode-se conhecer a importância de uma cidade e a sua relação de subordinação ou influência sobre as outras que estão à sua volta. Essa teoria não é estabelecida apenas pelo tamanho da cidade ou pelo contingente populacional, mas especialmente pela quantidade e variedade de bens e serviços oferecidos. Quanto maior é a sua importância no processo produtivo, maior é a sua colocação na hierarquia urbana. A ideia de hierarquia urbana, especialmente na atualidade, está vinculada ao conceito de rede urbana, que nada mais é do que a rede de relações econômicas, sociais e culturais que integram as cidades. O esquema clássico da hierarquia urbana sofreu modificações importantes no decorrer das últimas décadas. A razão é a história das cidades e a evolução dos meios de comunicação e transportes, que são resultados do processo de Globalização. O processo de subordinação não mais obedece a uma escala contínua. Em diversas situações, os habitantes de cidades menores direcionam-se diretamente a centros urbanos como metrópoles regionais ou nacionais para adquirir bens ou serviços. Há três principais tipos de metrópoles no Brasil: as globais, as nacionais e as regionais. Metrópoles Globais representam as cidades com maior grau de complexidade socioeconômica e geográfica. Nesse sentido, suas respectivas redes de transporte e comunicação, bem como a sua integração territorial, possuem um nível de alcance que, muitas vezes, extrapola as fronteiras nacionais. são : RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO. Metrópoles Nacionais atuam basicamente da mesma forma que as globais, porém com um nível de abrangência que alcança somente a escala nacional, pois suas relações exteriores encontram-se apenas parcialmente desenvolvidas. Mesmo assim, essas cidades também são importantes pontos nas redes financeiras do Brasil. As metrópoles nacionais são: Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Brasília (DF), Salvador (BA) e Curitiba (PR). Metrópoles Regionais restringem suas áreas de influência a um nível regional não muito bem definido. Sendo assim, sua polarização é limitada, bem como os serviços por elas oferecidos. Em geral, as metrópoles regionais possuem uma forte conexão com metrópoles nacionais ou globais próximas. As metrópoles regionais brasileiras são: Goiânia (GO), Belém (PA) e Manaus (AM). Metrópole Porto Alegre; Capitais Regionais B: Caxias do Sul, Passo Fundo e Santa Maria; Capitais Regionais C: Ijuí, Novo Hamburgo e Pelotas-Rio Grande ; Centros Subregionais A: Bagé, Bento Gonçalves, Erechim, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Santa Rosa, Santo Ângelo e Uruguaiana; Centros Subregionais B: Carazinho, Cruz Alta e Frederico Westphalen; Centros de Zona A: Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Camaquã, Cerro Largo, Encantado, Estrela, Guaporé, Ibirubá, Lagoa Vermelha, Marau, Montenegro, Nova Prata, Osório, Palmeira das Missões, Santiago, São Borja, São Gabriel, São Jerônimo, São Luiz Gonzaga, Sarandi, Soledade, Taquara, Torres, Três de Maio, Três Passos, Vacaria e Venâncio Aires; Centros de Zona B: Alegrete, Arroio do Meio, Arvorezinha, Boa Vista do Buricá, Capão da Canoa, Casca, Constantina, Espumoso, Garibaldi, Getúlio Vargas, Horizontina, Itaqui, Mostardas, Muçum, Nonoai, Nova Petrópolis, Pinheiro Machado, Rodeio Bonito, Salto do Jacuí, Salvador do Sul, ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 121 Sananduva, Santana do Livramento, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha, Santo Augusto, São Sebastião do Caí, São Valentim, Serafina Corrêa, Sinimbu, Sobradinho, Tapejara, Tapes, Tenente Portela, Teutônia, Tramandaí, Tucunduva e Veranópolis . Cidade População Censo 2010 População estimada 2019 Porto Alegre 1 450 555 1 483 771 Caxias do Sul 435 564 510 906 Canoas 323 827 346 616 Pelotas 328 275 342 405 Santa Mari a 261 031 282 123 Gravataí 255 762 281 519 Viamão 239 384 255 224 Novo Hamburgo 239 051 2 46 748 São Leopoldo 214 210 236 835 Rio Grande 197 253 211 00 Questões 1 - 2015 - Banca MPE-RS - MPE-RS - Assessor Bacharel em História Com relação ao processo histórico de formação do atual estado do Rio Grande do Sul, assinale a alternativa correta. 122 (A) Em razão do seu caráter fronteiriço e da distância geográfica em relação aos demais mercados da colônia, a integração econômica da região se deu apenas no século XIX por iniciativa do governo Imperial. (B) Enquanto a ocupação dos Campos de Viamão teve um caráter privado, atendendo predominantemente a interesses econômicos particulares, a fundação de Rio Grande se insere nas estratégias metropolitanasde garantia da presença portuguesa na região. (C) A presença açoriana na região sul da América portuguesa foi causada por um movimento migratório espontâneo, motivado pela busca de melhores condições de vida e sem a participação ou incentivo por parte da administração portuguesa para isso. (D) No século XIX, a elite política local protagonizou processos emancipatórios de caráter republicano, como a Guerra da Cisplatina que tentou implementar uma República do Prata, e a Guerra dos Farrapos, que chegou a implementar um governo republicano. (E) Importantes para a formação do Rio Grande do Sul, comunidades de origem germânica e italiana iniciaram o fluxo migratório para a região após a unificação nacional da Alemanha e da Itália no contexto da transição da mão de obra escrava para a livre no Brasil. 2 - 2017 - Banca FEPESE - Órgão CIDASC - Médico Veterinário Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus Ribeiro) teve, junto ao seu companheiro o italiano Giuseppe Garibaldi, marcante participação em um memorável fato da história catarinense ocorrido no século XIX. Tropas que lutavam contra o governo central, vindas do Rio Grande do Sul, conquistaram Laguna e ali proclamaram a “Republica Catarinense” (ou República Juliana). O fato acima está associado à: (A) Guerra do Contestado. (B) Guerra dos Emboabas. (C) Revolução Liberal do Porto. (D) Revolução Federalista. (E) Revolução Farroupilha. 3 - 2016 - Banca LEGALLE Concursos - Órgão Prefeitura de Portão - RS Psicólogo O município de Portão teve início em terras do antigo município de: (A)Alegrete. (B)Santa Maria. (C)Porto Alegre. (D)Uruguaiana. (E)Torres. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 123 4 - 2014 - Banca CISLIPA - Órgão CISLIPA - Técnico de Informática O Litoral Sul é formado pelos estados: (A)Paraná, Antonina e Morretes. (B)Paraná e Santa Catarina. (C)Paraná, Rio Grande do Sul e Guaratuba. (D)Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 5 - Instituto Excelência - 2019 - FUNBEPE - Técnico de Enfermagem Leia o trecho abaixo: Foi um advogado, político e presidente do Brasil nascido na cidade de São Borja (RS), no dia 19 de abril de 1882 e falecido em 24 de agosto de 1954. Ele fez sua carreira política no Rio Grande do Sul e alcançou a presidência da República em 1930. Foi o presidente que mais tempo ficou no cargo em toda história republicana do Brasil. Estamos se referindo ao: (A)Fernando Collor. (B)Getúlio Vargas. (C)Prudente de Morais. (D)Nenhuma das alternativas. 6 - 2013 - Banca FDRH - Órgão PC-RS - Escrivão e Inspetor de Polícia - 2° Parte A atividade de criação de gado bovino no Rio Grande do Sul tem-se modificado com o passar do tempo, apresentando-se hoje como uma pecuária empresarial que busca melhoramentos genéticos, bem como a melhoria na alimentação dos animais por meio do plantio de pastagens, da resteva das lavouras de arroz e de soja e da produção de silagens. Essa atividade econômica no Rio Grande do Sul está localizada, principalmente, na região conhecida como (A) campos do planalto. (B) vale do rio Taquari. (C)planalto gaúcho. (D)campanha do sudoeste. (E) litoral norte. 7 - 2010 - Banca FEPESE - Órgão AL-SC - Técnico Legislativo Analise o texto abaixo. A Bacia do Uruguai drena terras ________, Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina. 124 Seu principal rio é o Uruguai, que resulta da confluência entre os rios __________ e Pelotas, e deságua no estuário do Rio da Prata. Assinale a alternativa que preenche correta e sequencialmente as lacunas. (A) do Paraná ; Canoas (B) do Paraná ; Paraguai (C)de Santa Catarina ; Itajaí (D)de Santa Catarina ; Iguaçu (E) de Santa Catarina ; Canoas 8 - 2015 - Banca MPE-RS - Órgão MPE-RS - Assessor Bacharel em História Com relação à história do Rio Grande do Sul durante a Primeira República, assinale a alternativa correta. (A) A crise do Império e a decadência política dos grandes estancieiros gerou uma situação de profunda estagnação econômica no estado, sanada apenas com o contexto de industrialização iniciado durante a década de 1930. (B) Fundado ainda em 1882 com ideais contrários ao Partido Conservador, o Partido Republicano Riograndense caracterizou sua administração pelo combate ao liberalismo econômico e pela defesa dos ideais democráticos e patrióticos no estado. (C) De caráter predominantemente agrícola, a economia estadual, centrada no cultivo do arroz no litoral, era voltada, sobretudo, para o mercado externo da região platina, garantindo estabilidade diante da crise internacional dos preços na década de 1920. (D) Uma das principais características do republicanismo sul-rio-grandense durante a Primeira República foi a incorporação dos ideais políticos e filosóficos do Positivismo, definindo, ao mesmo tempo, uma posição progressista em termos econômicos e conservadora em termos político-sociais. (E) Consolidado ao longo da gestão de Júlio de Castilhos, o governo republicano no Rio Grande do Sul sofreu forte oposição, como se manifesta nos episódios da Revolução Federalista e na sucessão de Castilhos pelo seu desafeto político do Partido Federalista, Borges de Medeiros. 9 - 2015 - Banca MPE-RS - Órgão MPE-RS - Assessor Bacharel em História Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as seguintes afirmações, relativas à história do Brasil na primeira metade do século XX. ( ) A ascensão de Getúlio Vargas em 1930 provocou uma cisão local na oligarquia gaúcha, resultando na criação do Partido Republicano Liberal, de oposição ao governo central. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 125 ( ) O golpe de Estado realizado por Getúlio Vargas em 1937 ocasionou forte resistência da elite política paulista, culminando com a chamada Revolução Constitucionalista. ( ) O Estado Novo definiu-se por uma política de massas marcada pela centralidade da figura do líder e pela crítica ao sistema liberal. ( ) Com uma economia ainda centrada na produção agrícola, a legislação sindical na Era Vargas foi predominantemente voltada para os trabalhadores do mundo rural. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é (A) V – V – V – F. (B) V – V – F – V. (C) V – F – V – F. (D) F – F – V – F. (E) F – F – F – V. 10 - 2012 - Banca FAURGS - Órgão TJ-RS - Historiógrafo Com relação ao Alvará de 16 de dezembro de 1812 que criou a Comarca de São Pedro e Santa Catarina, elevando Porto Alegre à Cabeça de Comarca e fazendo com que o Rio Grande do Sul adquirisse sua autonomia judiciária, considere as afirmações abaixo. I - Estabelecia que o Rio Grande do Sul denominar- se-ia Capitania de São Pedro do Rio Grande. II - Determinava a vila de Porto Alegre como a capital da Capitania de São Pedro do Rio Grande. III - Estabelecia que os Ouvidores-Gerais, que anteriormente se chamavam Ouvidores da Comarca de Santa Catarina, deveriam residir no Desterro. IV - Estabelecia que o Governador e Capitão-General teriam residência no Desterro. Quais estão corretas? (A) Apenas I. (B) Apenas II. (C) Apenas I e II. (D) Apenas III e IV. (E) Apenas II, III e IV. 11 - 2012 Banca FAURGS - Órgão TJ-RS - Historiógrafo Durante mais de trinta anos o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) manteve sua hegemonia política por sua capacidade de criar uma máquina político-administrativa eficiente e com ramificações em todo o estado. Esse poder inquestionável, com contornos 126 ditatoriais, pode ser expresso pelas características abaixo, EXCETO por uma delas. Assinale-a. (A) A proibição de que a Brigada Militar fosse utilizada para finalidades políticas. (B) A presença, nos municípios, de “coronéis” que controlavam os assuntos partidários e eram leais ao governador. (C) A capacidade de mobilização de “coronéis” em perí- odos eleitorais, os quais utilizavam, se preciso, a fraude e a violência. (D) O poder de intervenção do governador, em nível local, que podia, inclusive, cancelar eleições. (E) A existência de apenas dois partidos que disputavam o poder político do estado desde oinício do período republicano. 12 - 2012 - Banca FAURGS - Órgão TJ-RS - Historiógrafo A República Rio-grandense foi proclamada em 12 de setembro de 1836. Assinale a afirmação INCORRETA no que se refere a essa República. (A) Antonio de Souza Neto proclamou a República Rio-grandense. (B) Um dos motivos apontados para a Revolução Farroupilha, segundo um manifesto de Bento Gonçalves, datado de 5 de setembro de 1836, era a falta de um Tribunal de Segunda Instância na Província. (C) O Governo da República Rio-grandense manteve provisoriamente a Constituição Brasileira e suas leis em vigor, enquanto não fosse convocada uma Assembleia Constituinte. (D) Domingos José de Almeida, secretário da Fazenda da República Rio-grandense, em 31 de julho de 1839, esclareceu aos juízes da República que, a partir do ato solene de sua proclamação, continuariam em vigor as Decisões da Relação do Rio de Janeiro. (E) A Assembleia Constituinte da República não chegou a votar o projeto de Constituição, pois, com a intensificação das lutas, a maior parte dos Deputados, que eram militares, afastouse para assumir seus postos no Exército da República. 13 - 2018 - Banca FUNDATEC - Órgão PC-RS - Escrivão e de Inspetor de Polícia - Tarde De acordo com publicação no Jornal Correio do Povo, em 04/07/2017, Paixão Côrtes, um dos grandes ícones da cultura gaúcha do Rio Grande do Sul, anunciou, por carta, seu afastamento da vida pública aos 90 anos de idade. João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, nascido em Sant’Ana do Livramento, em 12 de julho de 1927, é engenheiro agrônomo, folclorista, radialista e um dos principais líderes do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Paixão Côrtes é um dedicado pesquisador da cultura, hábitos e costumes populares do Rio Grande do Sul e do Brasil. Analise abaixo as afirmações sobre a vida de Paixão Côrtes: I. Paixão Côrtes participou ativamente do grupo que fundou, o “35 Centro de Tradições Gaúchas”, compondo a primeira diretoria como Patrão de Honra. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 127 II. Seu trabalho foi reconhecido no âmbito Estadual e Nacional. Do governo do Estado do Rio Grande do Sul, recebeu a Medalha Negrinho do Pastoreio como reconhecimento por serviços prestados à cultura e a Medalha Assis Brasil em destaque por seu trabalho em prol da agropecuária. Nacionalmente, foi distinguido pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso com a Comenda da Ordem ao Mérito Cultural por serviços prestados à cultura brasileira. III. Paixão Côrtes serviu como modelo para o escultor Antônio Caringi, quando posou com suas roupas campeiras e laço para o artista esculpir a estátua O Laçador, obra escultural eternizada em bronze que foi erguida em praça pública à entrada de Porto Alegre, sendo deslocada, em 2007, para o Sítio do Laçador. IV. O folclorista Paixão Côrtes também recebeu homenagem da sua cidade natal, Sant’Ana do Livramento, com uma obra estatutária de Sérgio Coirolo, colocada na entrada da cidade, saudando o visitante da fronteira. Quais estão corretas? (A)Apenas III. (B)Apenas I e II. (C)Apenas I e III. (D)Apenas I, III e IV. (E)I, II, III e IV. 14 - 2018 - Banca FUNDATEC - Órgão - PC-RS - Escrivão e de Inspetor de Polícia Analise a sentença abaixo: Em 2017, o médico gaúcho César Gomes Victora foi vencedor do prêmio ___________________ pelo conjunto de seus estudos na área de amamentação e nutrição materno-infantil, considerado responsável por profundo impacto para a saúde nos países em desenvolvimento. Ele é o ___________ cientista brasileiro a ser contemplado com a premiação, uma das mais respeitadas mundialmente na área de ciências da saúde. A pesquisa que motivou a premiação foi realizada em __________ e resultou na descoberta de que a criança que não é amamentada exclusivamente com o leite materno até os primeiros seis meses de vida corre mais risco de morrer por causa de diarreia e pneumonia. Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas do trecho acima. (A) Gairdner de Saúde Global – segundo – 2005 (B) Gairdner de Saúde Global – segundo – 1985 (C) Gairdner de Saúde Global – primeiro –1985 (D) Nobel de Medicina – primeiro – 2005 (E) Nobel de Medicina – segundo – 2005 128 15 - 2017 - Banca Fundação La Salle - Órgão SUSEPE-RS - Agente Penitenciário De acordo com os indicadores sociais pesquisados nos estados brasileiros, analise as afirmações abaixo. I - De acordo com o Censo Demográfico do IBGE, o Rio Grande do Sul está entre os cinco Estados mais alfabetizados do país. Atingiu em 2010 uma taxa de alfabetização de 95,5% da população acima de 15 anos de idade. II - Entre as unidades da federação, o Rio Grande do Sul apresenta o menor Coeficiente de Mortalidade Infantil do Brasil. De acordo com o IBGE, o RS registrou em 2011, 11,4 óbitos por 1.000 nascidos vivos. III-A proporção de casos de gravidez na adolescência no Estado é um dos menores do Brasil. Em 2010, segundo o DATASUS, era de 16,39% a proporção de nascidos vivos de mães com menos de 20 anos de idade, enquanto a média do Brasil era de 19,31%. Das afirmações acima, qual(is) está(ão) correta(s)? (A) I, II e III. (B) Apenas I e II. (C) Apenas II e III. (D) Apenas I e III. (E) Apenas a II. 16 - 2017 - Banca Fundação La Salle - Órgão SUSEPE-RS - Agente Penitenciário Ainda tomando o texto como referência inicial, julgue (C ou E) os itens subseqüentes, relativos ao Brasil da Primeira República. Borges de Medeiros manteve-se como detentor do poder oligárquico no governo do Rio Grande do Sul por mais de duas décadas. ● Certo ● Errado ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 129 17 - 2015 - Banca LEGALLE Concursos - Órgão: Prefeitura de Nova Esperança do Sul - Contador No extremo sul do Rio Grande do Sul, na cidade de Santa Vitória do Palmar, passará a funcionar um Parque de geração de energia alternativa. Trata-se de energia: (A)Nuclear. (B)Eólica. (C)Solar. (D)Hidrelétrica. (E)Fóssil. 18 - 2011 - Banca MS CONCURSOS - Órgão Prefeitura de São Borja - RS - Agente Administrativo Auxiliar Na bandeira atual do estado do Rio Grande do Sul existem palavras relacionadas a valores universais. Qual das palavras, encontradas na bandeira gaúcha, NÃO figura entre os princípios universais estabelecidos pela Revolução Francesa? (A) Liberdade. (B) Igualdade. (C)Fraternidade (D)Humanidade. 19 - 2016 - Banca LEGALLE Concursos - Órgão Prefeitura de Turuçu - RS - Assistente Social Em abril deste ano, o Supremo Tribunal Federal suspendeu, por sessenta dias, um processo que reflete no estado do Rio Grande do Sul. O governador do Estado, José Ivo Sartori, juntamente com outros governadores, estava solicitando________________ . Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna: (A) A renegociação da dívida do estado com a União. 130 (B) O aumento do investimento no combate ao mosquito Aedes aegypti. (C)Mudanças na divisão dos royalties de petróleo do pré-sal. (D)Diminuição de impostos de natureza federal. (E)Autorização para redução salarial do funcionalismo público. 20 - 2013 - Banca CESPE - Órgão DPF - Perito Criminal Federal - Cargo 5 Julgue o item subsequente, a respeito da paleontologia. As florestas petrificadas dos sítios paleobotânicos do arenito Mata, nos municípios de Mata e São Pedro do Sul, no Rio Grande do Sul, representam importantes registros de lenhos fósseis silicificados: de pequeno até grande porte, com troncos gigantescos, consistem em formas gimnospérmicas relacionadas a coníferas, representando uma flora mesofírica, originadas por mudanças climáticas iniciadas na passagem do Meso-neotriássico. ● Certo ● Errado 21 - 2009 Banca TJ-SC - Órgão TJ-SC - Analista Administrativo Sobre a Revolução Farroupilha, leia as proposições que seguem: I. A Revolução Farroupilha, também chamada de Guerra dos Farrapos, foi o mais longo movimento de revolta civil brasileira. Eclodiu na província do Rio Grande do Sul e durou dez anos, de 1835 a 1845. II. Foi ummovimento de revolta promovida pelos estancieiros gaúchos, denominação dada aos proprietários de grandes fazendas criadoras de gado na região. III. Como causa econômica desta revolução, podemos citar o fato de que a província do Rio Grande do Sul tinha uma economia baseada na pecuária, com a criação de gado e produção do charque. Os estancieiros gaúchos, porém, reclamavam da concorrência que sofriam do charque platino e que também era comercializado nas províncias brasileiras. Como os impostos de importação do charque platino eram mais baixos, isto facilitava sua comercialização a um preço melhor que o charque gaúcho. IV. Em 1835, os rebeldes dominaram Porto Alegre, a capital da província do Rio Grande do Sul. O governo central reagiu imediatamente, mas não conseguiu derrotá-los. A rebelião farroupilha expandiu-se e, em 1836 foi proclamada a República de Piratini. V. Giuseppe Garibaldi tornou-se o primeiro presidente da República de Piratini. Assinale a alternativa correta: (A) Apenas a proposições III está incorreta. (B) Apenas as proposições I, II, e IV estão corretas. (C) Apenas as proposições I e III estão corretas. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 131 (D) Apenas as proposições I, II, III e IV estão corretas. (E) Todas as proposições estão corretas. 22 - 2018 - Banca Dédalus Concursos - Órgão IPRED - SP - Contador Geograficamente o Brasil faz fronteira com outros dez países da América do Sul. Com base nesta informação, analise: I- Na região norte do Brasil o país é fronteiriço com o Suriname, a Guiana, a Venezuela e um território pertencente à França, a Guiana Francesa; II- O estado do Rio Grande do Sul faz fronteira com Bolívia e Uruguai; III- O Peru faz fronteira com o Brasil no estado do Mato Grosso do Sul; IV- O Chile faz fronteira com o Brasil no estado de Santa Catarina. Dos itens acima: (A) Apenas os itens I, II e III estão corretos. (B) Apenas os itens I, III e IV estão corretos. (C) Apenas os itens II e IV estão corretos. (D) Apenas os itens II, III e IV estão corretos. (E) Apenas o item I está correto. 23 - 2017 - Banca Alternative Concursos - Órgão Prefeitura de Sul Brasil - SC - Agente Educativo O incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, completa neste mês _____ anos. Centenas de jovens foram intoxicados pela fumaça produzida pela queima de uma espuma acústica após o vocalista da banda que tocava na festa "Agromerados" ter acendido um artefato pirotécnico dentro do estabelecimento. A tragédia terminou com 242 mortos e mais de 600 feridos. Assinale a alternativa que contempla corretamente o trecho acima: (A) 4 (B) 3 (C)2 (D)5 (E) 6 24 - 2011 - Banca MS CONCURSOS - Órgão Prefeitura de São Borja - RS - Agente Administrativo Auxiliar 132 “Nasceu em 26 de setembro 1936, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Nessa cidade, iniciou seus estudos, tendo passado por escolas nos Estados Unidos quando morou lá, em virtude de seu pai ter ido lecionar em uma universidade da Califórnia, por dois anos. Voltou a morar nos EUA quando tinha 16 anos, tendo cursado a Roosevelt High School de Washington, onde também estudou música, sendo até hoje inseparável de seu saxofone” . Trata-se de um dos mais importantes escritores brasileiros. Dele, NÃO se pode afirmar: (A) Participou da televisão, criando quadros para o programa "Planeta dos Homens", na Rede Globo, e contribuiu para a série "Comédias da Vida Privada" (B) São de sua autoria: “A Grande Mulher Nua”,” Ed Mort e Outras Histórias”, “Sexo na Cabeça”, “O Analista de Bagé”, “A Velhinha de Taubaté”. (C) Seu pai foi escritor, deixando obras memoráveis como “Olhai os Lírios do Campo”, “O Tempo e o Vento”, “O Senhor Embaixador”, “Incidente em Antares”, entre outras. (D) É membro da Academia Brasileira de Letras desde 2002, ocupando a cadeira número 21, pelo vasto conjunto de sua obra. 25 - 2011 - Banca TJ-SC - Órgão TJ-SC - Técnico Judiciário - Auxiliar Foi o mais longo movimento de revolta civil brasileira. Eclodiu na província do Rio Grande do Sul e durou dez anos, de 1835 a 1845. Foi um movimento de revolta promovida pelos ricos estancieiros gaúchos, denominação dada aos proprietários de grandes fazendas criadoras de gado na região. Os interesses econômicos desta classe dominante estão entre as principais causas do movimento, que teve como um de seus objetivos separar-se politicamente do Brasil. O texto acima se refere: (A) À Guerra dos Farrapos (B)À revolta dos Maleses. (C)À guerra Juliana. (D)À Sabinada. (E) À Revolução de 1930. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 133 26 - 2015 - FAURGS - 2015 - TJ-RS - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Provimento O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, na região central do estado do Rio Grande do Sul, começou na madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando uma das bandas da noite teria usado recursos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado no teto da casa noturna. Sem conseguir sair do estabelecimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. O inquérito instaurado constatou que (A) a espuma empregada no isolamento acústico da casa noturna estava e consonância com as normas de segurança do município (B) o acesso dos bombeiros foi dificultado em função de a boate estar localizada em prédio com vários andares. (C)a ausência de seguranças na boate dificultou a abertura das portas e a evacuação do recinto. (D)o alvará do Plano de Prevenção de Combate a Incêndio estava vencido. 27 - 2014 - FUNDATEC - 2014 - SUSEPE-RS - Agente Penitenciário “Com alta de 44,3%, Rio Grande do Sul bate recorde histórico de exportações em 2013: Com o desempenho positivo, o Rio Grande do Sul se tornou o terceiro Estado com maior valor de embarques em 2013, ganhando duas posições em relação a 2012, ao ultrapassar Paraná e Rio de Janeiro. Os gaúchos tiveram o maior incremento de vendas externas entre todos os Estados no ano passado, respondendo a 10,36% das exportações brasileiras”. (Zero Hora, 21/01/2014). As vendas externas gaúchas foram impulsionadas principalmente devido às exportações de: (A)Trigo (B)Arroz. (C)Carvão (D)Soja. (E)Milho. 28 - FUNDATEC - 2018 - PC-RS - Escrivão e de Inspetor de Polícia - Tarde Segundo notícia veiculada na GaúchaZH, datada de 14/12/2017, dez municípios gaúchos respondem por 42% do Produto Interno Bruto (PIB) total do Rio Grande do Sul. Dentre as cidades abaixo, qual apresenta o maior PIB per capita (produto interno bruto, dividido pela quantidade de habitantes) do Estado em 2015? (A)Porto Alegre. (B)Gravataí. (C)Triunfo. 134 (D)Novo Hamburgo. (E)Passo Fundo. 29 - FUNDATEC - 2018 - PC-RS - Escrivão e de Inspetor de Polícia - Tarde Conforme notícia do Jornal Correio do Povo, veiculada em 24/11/2017, com base em pesquisa divulgada pelo IBGE, o Rio Grande do Sul tem 11,2 milhões de residentes em 2016, o que representa um aumento de 1,5% em relação a 2012. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ainda trouxe outros dados referentes à população idosa, perfil de cor ou raça, condição de domicílio da população e lares gaúchos com acesso à internet. Com base nessa notícia, assinale a alternativa INCORRETA. (A) Em relação à idade, o levantamento indicou um crescimento considerável na população idosa (com mais de 60 anos), que passou de 1,7 milhão para mais de 2 milhões, representando crescimento de 15% entre 2012 e 2016. Por outro lado, houve redução na população jovem, especialmente na faixa etária entre 5 e 19 anos. (B) O acesso à internet foi outro ponto pesquisado pelo IBGE. No Rio Grande do Sul, 67% dos lares gaúchos não têm internet, sendo que o maior acesso é pelo telefone celular. (C) A pesquisa também analisou o perfil de cor ou raça, de acordo com a autodeclaração. Nesse aspecto, a população gaúcha é predominantemente branca (81,5%), enquanto que parda seria de 13% e preta, de 5,2%. (D) No estado do RS, a maior parte da população (36,9%) é responsávelpelo seu domicílio. Nas demais categorias, 31,4% são filhos ou enteados que moram com os pais; 23,5% moram com companheiros; e 8,2% declararam outra classificação (E) Entre os bens, 96,3% dos lares possuem pelo menos um telefone celular e 54,4% computadores. 30 - IOPLAN - 2017 - Câmara Municipal de Sarandi - RS - Agente de Manutenção (Servente) Foi uma cantora brasileira, conhecida por sua competência vocal, musicalidade e presença de palco. É considerada por muitos críticos a melhor cantora popular do Brasil. Nasceu na cidade de Porto Alegre, em 1945, onde começou sua carreira como cantora aos onze anos de idade em um programa de rádio para crianças. Entre suas composições mais famosas está: “Alô, alô, Marciano Aqui quem fala é da Terra Pra variar, estamos em guerra Você não imagina a loucura (...)” Quem é esta cantora? (A) Cássia Eller (B) Elis Regina. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 135 (C) Gal Costa. (D) Marisa Monte. (E) Paula Fernandes. 31 - Fundação La Salle - 2017 - SUSEPE-RS - Agente Penitenciário A Susepe deu início à ocupação da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba (PEFG) em abril de 2011. O estabelecimento tem capacidade para 432 detentas e 7,7 mil metros quadrados de área construída. O estabelecimento conta com unidade para atendimento médico, área para trabalho prisional e salas de aula. O investimento foi de R$ 22,7 milhões com recursos do Governo do Estado. Em dezembro, foi inaugurada a Unidade Materno Infantil. A ala criada é destinada para detentas com filhos nas idades de seis meses a um ano, já que as presas com filhos menores que esta faixa, permanecem na Penitenciária Feminina Madre Pelletier (PFMP), em Porto Alegre. A entrega da unidade contou com a colaboração do Conselho da Comunidade de Guaíba. Em relação às mulheres em privação de liberdade é correto afirmar que: (A) trata-se de um problema secundário, a atenção da sociedade deve voltar-se para a recuperação dos apenados do sexo masculino por estarem em maior número em relação às mulheres. (B) dificilmente são recuperadas voltando a delinquir sob a influência do elemento masculino. (C) o efetivo carcerário feminino diminuiu nos últimos anos, isso se deve as precárias condições dispensadas as detentas e de seus filhos (D) estatísticas demonstram que a criminalidade feminina já supera a criminalidade masculina, isto se deve as inúmeras transformações sociais das últimas décadas (E) pesquisa realizada no ano de 2008 apontou que os homens presos recebiam mais visitas de familiares do que as mulheres. 32 - CONTEMAX - 2019 - Prefeitura de Aroeiras - PB - Agente Administrativo Considere os itens, colocando (V) ou (F) nos parênteses se caso for verdadeiro ou falso, respectivamente São Estados produtores de Petróleo no Brasil: ( ) Rio de Janeiro; ( ) São Paulo; ( ) Rio Grande do Sul; ( ) Maranhão. A sequência correta é: 136 (A) V – F – F – F (B) V – V – F – F (C)V – F – V – V (D)F – V – V – F (E) V – V – F – V 33 - Dédalus Concursos - 2018 - IPRED - SP - Contador Geograficamente o Brasil faz fronteira com outros dez países da América do Sul. Com base nesta informação, analise: I- Na região norte do Brasil o país é fronteiriço com o Suriname, a Guiana, a Venezuela e um território pertencente à França, a Guiana Francesa; II- O estado do Rio Grande do Sul faz fronteira com Bolívia e Uruguai; III- O Peru faz fronteira com o Brasil no estado do Mato Grosso do Sul; IV- O Chile faz fronteira com o Brasil no estado de Santa Catarina. Dos itens acima: (A) Apenas os itens I, II e III estão corretos. (B) Apenas os itens I, III e IV estão corretos (C)Apenas os itens II e IV estão corretos. (D)Apenas os itens II, III e IV estão corretos. (E) Apenas o item I está correto. 34 - FUNDATEC - 2021 - Prefeitura de Panambi - RS - Professor - Educação Infantil e Anos Iniciais Conforme o site educacao.rs.gov.br, em julho de 2020, diante dos desafios impostos pela pandemia de Coronavírus e da necessidade de acolhimento dos educadores, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), em parceria com o Instituto Península, disponibilizou uma plataforma de apoio socioemocional para os professores da Rede Estadual de Ensino. A Vivescer é uma plataforma online, 100% gratuita, que oferece quatro cursos certificados com 32 horas cada. A live de lançamento contou com a presença do Secretário Estadual da Educação do Rio Grande do Sul: (A)Cláudio Gastal. (B)Faisal Karam (C)Milton Ribeiro. (D)Otomar Vivian. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 137 (E)Ranolfo Vieira Júnior. 35 - FUNDATEC - 2016 - Prefeitura de Viamão - RS - Médico Clínico Geral A Campanha de Vacinação contra a Gripe A – H1N1 iniciou em todo estado do Rio Grande do Sul no dia 25 de abril de 2016, destinada a todas as pessoas que integram os grupos prioritários para vacinação, entre elas, pessoas com doenças crônicas. São consideradas doenças crônicas pelo Ministério da Saúde, entre outras: I. Asma em uso de corticoide inalatório ou sistêmico (moderada ou grave). II. Doenças cardíacas crônicas. III. Diabetes tipos I e II (em uso de medicamentos). IV. Síndrome de Down. V. Obesidade grau III. Quais estão corretas? (A) Apenas I, II e III. (B) Apenas I, IV e V. (C) Apenas II, III e IV. (D) Apenas III, IV e V. (E) I, II, III, IV e V. 36 - FUNDATEC - 2021 - Prefeitura de Panambi - RS - Professor - Educação Infantil e Anos Iniciais Leia trechos da matéria divulgada no site da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul, em 09/07/2020: “CREs apostam em busca ativa para garantir Aulas Remotas a todos os alunos – as 30 Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) do Rio Grande do Sul têm se empenhado na universalização do acesso de alunos e professores. (...) A Escola Adolfo Kepler, de Panambi, abrangida pela 36ª CRE, tem buscado novas alternativas de trabalho em sua instituição. Para a diretora, como os alunos anseiam por novidades, os professores precisam se reinventar, conhecer e usar as ferramentas digitais para proporcionar aulas dinâmicas e interativas. A instituição de ensino já conseguiu fazer o primeiro acesso de todos os alunos matriculados e, desde então, trabalha no aprimoramento pedagógico.” Conforme citado pela notícia acima, durante a quarentena devido ao Coronavírus, muitas instituições de ensino públicas e privadas, com a suspensão das aulas presenciais, tiveram que recorrer a plataformas de ensino on-line para dar continuidade às atividades escolares de maneira remota. Uma dessas plataformas é disponibilizada pelo Google, conhecida como ________________. É uma ferramenta gratuita para todos os usuários, incluindo professores e estudantes, pode ser acessada pelo computador ou pelo celular, auxiliando os professores no gerenciamento das atividades e criação de aulas interativas. O serviço ainda permite criar diferentes turmas, distribuir tarefas e enviar e receber notas e feedbacks. Assinale a alternativa que preenche corretamente a lacuna do trecho acima. (A) Lternativa 138 (B) Hangout (C) Keeproom (D) Classroom (E) Meet (F) Moodle 37 - VUNESP - 2018 - SAAE de Barretos - SP - Caixa Os primeiros sinais de queda nas coberturas vacinais em todo o país começaram a aparecer ainda em 2016. De lá para cá, doenças já erradicadas voltaram a ser motivo de preocupação entre autoridades sanitárias e profissionais de saúde. Amazonas, Roraima, Rio Grande do Sul, Rondônia e Rio de Janeiro são alguns dos estados que já confirmaram casos da doença neste ano. O grupo de doenças pode voltar a circular no Brasil caso a cobertura vacinal, sobretudo entre crianças, não aumente. (https://bit.ly/2zt2imk. Adaptado) O grupo de doenças que volta a ameaçar as crianças no Brasil que, de acordo com o Ministério da Saúde, deve-se principalmente à baixa cobertura vacinal dos últimos anos e a vinda de estrangeiros de países em que as doenças estão ativas, é (A) sarampo, pólio e rubéola. (B) dengue, febre amarela e difteria. (C) coqueluche, HPV e tossecomprida. (D) rotavírus, meningite e varicela. (E) tétano, catapora e caxumba. 38 - AMEOSC - 2019 - Prefeitura de São José do Cedro - SC - Auxiliar de Ensino O casario de alvenaria, construído pelos imigrantes italianos, no final do século 19 em Antônio Prado, foi declarado patrimônio histórico e artístico, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, em 1989. São 48 edificações localizadas nas principais ruas do centro da cidade. Essas se revestem de significativo valor para a história da cultura da cidade, região e do Brasil. O casario mencionado está localizado em qual estado brasileiro? (A)Paraná. (B)Mato Grosso do Sul. (C)Rio Grande do Sul. (D)Santa Catarina. ATUALIDADE E GEOPOLÍTICA - RS | FABRICIO MULLER 139 39 - MetroCapital Soluções - 2021 - Prefeitura de Nova Odessa - SP - Professor de Educação Básica - PEB I Observe a imagem: Temos à imagem, um dos 13 patrimônios culturais da Humanidade, no Brasil, as Ruínas de São Miguel das Missões, localizada em qual estado brasileiro? (A)Piauí (B)Goiás. (C)Pernambuco. (D)Minas Gerais. (E)Rio Grande do Sul. Gabarito 1 B - 2 E - 3 C - 4 D - 5 D - 6 B - 7 E - 8 D - 9 D - 10 C 11 A - 12 D - 13 E - 14 C - 15 D - 16 C - 17 B - 18 D 19 A - 20 C - 21 D - 22 E - 23 D - 24 D - 25 A - 26 D 27 D - 28 C - 29 C - 30 B - 31 E - 32 B - 33 E - 34 B 35 E - 36 C - 37 A - 38 C - 39 E ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL VIDEOAULA PROF. FABRÍCIO MÜLLER www.acasadoconcurseiro.com.br ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL 3 História do Rio Grande do Sul A bandeira do estado do Rio Grande do Sul foi adotada como símbolo oficial do estado no ano de 1891 e sua autoria é incerta. Alguns estudos apontam como sendo do major Bernardo Pires, do Exército Republicano, porém outros historiadores afirmam ser de autoria do engenheiro militar José Mariano de Mattos. A bandeira tem origem nos desenhos dos rebeldes da Guerra dos Farrapos, que ocorreu no ano de 1835. A composição original não possuía o brasão de armas. Por muito tempo, a bandeira não possuiu uma lei que a descrevesse ou regulamentasse seu uso. Em 1937, durante o regime político do Estado Novo, o presidente Getúlio Vargas ordenou que todos os símbolos estaduais fossem abolidos, incluindo bandeiras e brasões. Devido a esse acontecimento, a bandeira só foi reestabelecida novamente no ano de 1966, quando foi sancionada a lei que regulamentava seu uso e descrição. A bandeira do Rio Grande do Sul é formada por um retângulo dividido em três faixas diagonais nas cores verde, vermelho e amarelo. Na seção vermelha, coincidindo com o centro da bandeira, está disposto um círculo branco com o brasão do estado em seu interior. Não há um consenso sobre o significado exato das cores da bandeira sul-rio-grandense. Muitas teorias envolvem aspectos políticos e históricos que entram em contradição em algum momento. Entretanto, a simbologia mais aceitável é a que considera as cores separadamente e atribui um significado a cada uma dela: 4 ● A cor verde representa as matas dos Pampas e a riqueza natural da região; ● A cor vermelha simboliza os ideais revolucionários que marcaram a história do estado, assim como a coragem do povo; ● A cor amarela representa as riquezas do território do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul e sua População O Estado do Rio Grande do Sul está localizado na região Sul do Brasil. A capital é Porto Alegre e a sigla RS. ● Área: 281.737,947 ● Limites: O Rio Grande do Sul limita-se ao sul com o Uruguai, a oeste com a Argentina, a leste com o oceano Atlântico e ao norte com Santa Catarina ● Número de municípios: 497 ● População: 11.377.239 milhões de habitantes, conforme a estimativa do IBGE para 2019 ● Gentílico: gaúcho ● Principal cidade: Porto Alegre Densidade demográfica 39,79 hab/km² [2010] Matrículas no ensino fundamental 1.298.736 matrículas [2018] Matrículas no ensino médio 338.065 matrículas [2018] Docentes no ensino fundamental 73.770 docentes [2018] Docentes no ensino médio 27.771 docentes [2018] Número de estabelecimentos de ensino fundamental 5.926 escolas [2018] Número de estabelecimentos de ensino médio 1.503 escolas [2018] IDH Índice de desenvolvimento humano 0,746 [2010] Rendimento mensal domiciliar per capita 1.705 R$ [2018] Total de veículos 7.077.972 veículos [2018] Rendimento nominal mensal domiciliar per capita 1.705,00 R$ [2018] Pessoal ocupado na Administração pública, defesa e seguridade social 350.956 pessoas [2017] População Nativa Habitada inicialmente por índios Charrua/Minuano, Guarani e Kaingang, o território do Rio Grande do Sul passou a pertencer à Espanha com o Tratado de Tordesilhas, em 1494, que estabeleceu os limites com Portugal. A exploração econômica e a possibilidade de escravização ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 5 dos indígenas atraiu a atenção dos colonizadores europeus, e, ao mesmo tempo, provocou o envio de jesuítas espanhóis para converter os nativos. Um dos primeiros registros que faz referência à região data de 1531, quando os navegadores portugueses Martin Afonso de Souza e Pero Lopes, de passagem pela costa (na qual não desembarcaram), batizaram a barra (onde alguns anos depois, foi aberta a passagem para os navios, do oceano para a Lagoa dos Patos) com o nome de Rio Grande de São Pedro. 6 Tidos como extintos, os índios charrua sobreviveram 'invisíveis' por décadas e hoje lutam por melhores condições de vida A história da etnia tinha um final conhecido: o confronto de Salsipuedes, em 1831. O embate acabou se tornando um massacre oficial (planejado pelo governo uruguaio) e desleal. Caciques foram convidados a discutir uma aliança contra o Brasil, mas, desarmados, acabaram mortos, presos ou obrigados a trabalharem para estancieiros. Até mães foram separadas de seus filhos. A herança cultural charrua, principalmente a língua, acabou se perdendo ao longo do tempo. parte da etnia conseguiu cruzar a fronteira com o Brasil e se instalar na região das Missões, no noroeste gaúcho. A invisibilidade social viria a se tornar a principal estratégia de sobrevivência. Mas como pode uma versão equivocada da história vigorar por tanto tempo? grupos que acabaram escapando desses massacres, se refugiaram nos fundos de grandes latifúndios, em regiões impróprias para criação de gado, longe das sedes de estâncias, e lá se mantiveram" Dados oficiais dizem que existem atualmente na 6397 Charruas na Argentina e 42 no Rio Grande do Sul (INDEC, 2010) (Siasi/Sesai, 2014). Índios Charrua e Minuano No Rio Grande do Sul, os índios Charrua/Minuano ocupavam áreas de campos do sudoeste, até aproximadamente a altura dos rios Ibicuí e Camaquã, mas também se estendiam para o pampa uruguaio e as pequenas porções do território argentino. Cada uma delas, entretanto, ocupava áreas bem-definidas. Os Charrua “moravam mais para o oeste, ocupando ambas as margens do Rio Uruguai e tiveram maior contato com o colonizador espanhol”, enquanto que os Minuano “se localizavam mais para leste, nas áreas irrigadas pelas ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 7 lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira, com extensão até as proximidades de Montevidéu; tiveram maior contato com os portugueses” Os Charrua/Minuano praticavam a caça, a pesca e a coleta. Nas primeiras décadas do século XVI, as expedições sobre os territórios Charrua/Minuano foram esporádicas. Entretanto, a partir de meados deste mesmo século e primeiras décadas do século XVII, os interesses das Coroas Ibéricas crescem na região e alianças com lideranças Charrua, como Zapicán, Miní, Guaytán, e lideranças Minuanas, como Cloyan e Lumillan, passam a ser efetivadas. Possivelmente pela lógica nativa, essas alianças possibilitaram vantagens das parcialidades lideradas por estes caciques para lutarem contra os grupos indígenas inimigos que também ocupavam o território. O contato dos Kaingang com a sociedade teve início no final do século XVIII e efetivou-se em meados do século XIX, quandoos primeiros chefes políticos tradicionais (Põ’í ou Rekakê) aceitaram aliar-se aos conquistadores brancos (Fóg), transformando-se em capitães. Esses capitães foram fundamentais na pacificação de dezenas de grupos arredios que foram vencidos entre 1840 e 1930. Entre os desdobramentos dessa história, destacam-se o processo de expropriação e acirramento de conflitos, não apenas com os invasores de seus territórios, mas intragrupos kaingang. Os Kaingang vivem em mais de 30 Terras Indígenas que representam uma pequena parcela de seus territórios tradicionais. 8 Índio Guarani Os índios Guarani formam o maior povo em quantidade de indivíduos a viver no Brasil. Eles são originários do tronco da família linguística tupi-guarani. No Brasil, os guaranis vivem nos estados brasileiros do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e Tocantins, somente no País, há 57 mil indivíduos, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Também há indígenas guaranis vivendo na Argentina, Bolívia e no Paraguai, a maior parte dos guarani vive na Bolívia, onde há 78,3 mil indivíduos. No Paraguai existem 41, 2 mil e na Argentina 6,5 mil. No Rio Grande do Sul A nação Guarani era dividida em três grandes grupos: Tapes - habitavam a zona oeste e centro-oeste do estado e seriam os futuros índios missioneiros. Arachanes - habitavam a banda oeste da Lagoa dos Patos. Carijós ou Patos - habitavam o litoral norte do Rio Grande do Sul e Porto Alegre. Missões Jesuíticas As missões jesuíticas na América, também chamadas de reduções, foram os aldeamentos indígenas organizados e administrados pelos padres jesuíticas no Novo Mundo, como parte de sua obra de cunho civilizador e evangelizador. O objetivo principal das missões jesuíticas foi o de criar uma sociedade com os benefícios e qualidades da sociedade cristã européia, mas isenta dos seus vícios e maldades. Essas missões foram fundadas pelos jesuítas em toda a América colonial, ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 9 Para conseguirem seu objetivo os jesuítas desenvolveram técnicas de contato e atração dos índios e logo aprenderam suas línguas, e a partir disso os reuniram em povoados que por vezes abrigaram milhares de indivíduos. Eram em larga medida auto-suficientes, dispunham de uma completa infraestrutura administrativa, econômica e cultural que funcionava num regime comunitário, onde os nativos foram educados na fé cristã e ensinados a criar arte às vezes com elevado grau de sofisticação, mas sempre em moldes europeus. Depois de um início assistemático marcado por tentativas frustradas, em meados do século XVII o modelo missioneiro já estava bem consolidado e disseminado por quase toda a América, mas teve de continuar enfrentando a oposição de setores da Igreja Católica que não concordavam com seus métodos, do restante da população colonizadora, para quem os índios não valiam a pena o esforço de cristianizá-los, e os bandos de caçadores de escravos, que aprisionavam os índios para submetê-los ao trabalho forçado na economia colonial exploradora e destruíram diversos povoados, causando muitas mortes. Mesmo com vários problemas a vencer as missões como um todo prosperaram a ponto de em meados do século XVIII os jesuítas se tornarem suspeitos de tentar criar um império independente, o que foi um dos argumentos usados na intensa campanha difamatória que sofreram na América e na Europa e que acabou por resultar na sua expulsão das colônias a partir de 1759 e na dissolução da sua Ordem em 1773. Com isso o sistema missioneiro entrou em colapso, causando a dispersão dos povos indígenas reduzidos. O sistema missioneiro buscou introduzir o Cristianismo e um modo de vida europeizado, integrando, porém, vários dos valores culturais dos próprios índios, e estava baseado no respeito à sua pessoa e às suas tradições grupais, até onde estas não entrassem em conflito direto com os conceitos básicos na nova fé e da justiça. O mérito e a extensão do sucesso dessa tentativa têm sido objeto de muito debate entre os historiadores, mas o fato é que foi de importância central para a primeira organização do território e para o lançamento das fundações da sociedade americana como hoje ela é conhecida. Vários monumentos missioneiros são hoje patrimonial mundial. Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos indígenas fundados pelos jesuíticas espanhóis no continente do Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul composto pelas Reduções de São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lorenso Martins, São João Batista, São Luiz Gonzada e Santo Ângelo Custódio. Os Sete Povos também são conhecidos como Missões Orientais, por estarem localizados a leste do Rio Uruguai. Os Sete Povos foram fundados na derradeira onda colonizadora jesuíta na região, depois de terem sido fundadas dezoito reduções em tempos anteriores, todas destruídas pelos bandeirantes brasileiros e exploradores portugueses. Dentre as causas apontadas pelos historiadores para o retorno, estão a abundância de gado na região e o desejo da coroa espanhola de assegurar a posse daquelas terras, em virtude da crescente presença portuguesa no sul. Contudo, essas teses são controversas. Seja como for, a partir de 1682 os Jesuítas começaram a voltar para as suas antigas terras, e neste mesmo ano foi fundado o primeiro dos Sete Povos: São Francisco de Borja, seguido por São Nicolau, São Luiz Gonzaga e São Miguel. No século XVIII, a região estava sob disputa entre Espanha e Portugal. O Tratado de Madri de 1750 havia posto a área à disposição de Portugal em troca da Colônia do Sacramento, e a saída dos Jesuítas espanhóis ali ficou decretada. Mas este Tratado gerou conflitos: nem padres nem índios queriam abandonar suas reduções, nem os portugueses queriam abandonar Sacramento. 10 Houve uma série de confrontos armados que culminaram na Guerra Guaranítica, que deixou um rastro de destruição e sangue que abalou as estruturas do sistema missioneiro. Logo depois veio fim: com a intensa campanha difamatória que os Jesuítas sofreram a partir de meados do século XVIII, a Companhia de Jesus foi expulsa de terras portuguesas em 1759, e em 1767 a Espanha fez o mesmo. No ano seguinte todas as reduções foram esvaziadas, com a retirada final dos Jesuítas. Então suas terras foram apossadas pelos espanhóis e os índios foram subjugados ou dispersos. Quando em 1801 eclodiu nova guerra entre Portugal e Espanha, os Sete Povos já estavam em tal estado de desintegração que com apenas 40 homens Manuel dos Santos Pedroso e José Borges do Canto conseguiram conquistá-los para Portugal, embora pareça ter havido a participação indígena como facilitadora da tomada de posse. Depois disso Portugal anexou o território ao Rio Grande do Sul, instalando um governo militar na região, encerrando todo um ciclo civilizatório e dando início a outro. Tratados e consolidação do estado ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 11 O Tratado de Tordesilhas foi assinado em 7 de junho de 1494 entre Portugal e Espanha Os Tratados entre Portugal e Espanha, o Tratado de Tordesilhas, as Fronteiras do Brasil, os demais Tratados. Em 1494 foi assinado entre Portugal e Espanha o Tratado de Tordesilhas. O Tratado de Tordesilhas acordado em 07 de junho de 1494 entre os países de Portugal e Espanha na vila de Tordesilhas é o mais famoso documento na história destes países.O documento reflete a hegemonia Ibérica sobre boa parte da terra por causa dos descobrimentos.Este Tratado foi validado em 02 de julho de 1494 pela Espanha na cidade de Arevalo e por Portugal em 05 de setembro de 1494 na cidade de Setúbal. Conflitos eram frequentes entre os espanhóis e portugueses. Houve a necessidade de regularizar a situação, quando foi assinado o Tratado de Madri em 1750. Neste tratado, defendido pelo português Alexandre de Gusmão dava ao Brasil território parecidocom o atual.Por este tratado, Portugal entregaria a região da Colônia do Sacramento à Espanha e receberia os Sete Povos das Missões no Rio Grande do Sul, de origem espanhola já que foram os jesuítas espanhóis que catequizaram os índios guaranis. Mas os jesuítas e índios guaranis, liderados pelo índio Sepé Tiarajú, não aceitaram a devolução das terras, originando a Guerra Guaranítica, onde morreram mais de 30.000 índios. Os que não morreram foram escravizados. Diante da guerra, Portugal não entregou a colônia de Sacramento aos espanhóis. No ano de 1761, no Tratado de El Pardo, os Sete Povos continuariam com a Espanha mas já estava em declínio econômico pois estavam sem os jesuítas e os índios guaranis que restavam se empregavam como peões nas fazendas de gado. Os desentendimentos pelas colônias entre Portugal e Espanha continuaram e em 1763, o governador de Buenos Aires, D. Pedro de Cevallos conquistou Sacramento e invadiu a capitania de São Pedro, atual Rio Grande do Sul, tomando a cidade de Rio Grande até 1776 quando foram expulsos pelas tropas voluntárias gaúchas com auxílio das tropas do reino. Mas em 1777 Cevallos tomou novamente Sacramento e a Ilha de Santa Catarina. Em 1777 foi assinado o Tratado de Santo Ildefonso onde Portugal ficaria com a Ilha de Santa Catarina, enquanto que a Espanha ficaria com os Sete Povos das Missões e Sacramento. A desvantagem territorial portuguesa no sul do Brasil manteve os confrontos na região. Em 1801 foi definitivamente solucionado os confrontos pelas terras com a assinatura do Tratado de Badajós entre Portugal e Espanha que daria ao Brasil o atual território, ficando Sacramento com a Espanha e os Sete Povos das Missões com o Brasil. 12 O território hoje ocupado pelo Rio Grande do Sul está entre as áreas do País que mais demoraram a receber a ocupação do colonizador português. A constituição do território se fundamenta em 1680 por necessidade da Coroa portuguesa em socorrer sua praça meridional, a Colônia do Sacramento, às margens do rio da Prata, que enfrentava investidas de tropas espanholas. Foram os jesuítas em meados de 1682 que fundaram a primeira cidade do Rio Grande do Sul: São Francisco de Borja, a atual São Borja. Durante o século XVIII, houve intensa disputa pelo território por espanhóis e portugueses. Os espanhóis fundaram em 1726, a cidade de Montevidéu, a leste da colônia de Sacramento, fundada criada em 1680. O objetivo da fundação de Montevidéu era reduzir a influência portuguesa. Como resposta, os portugueses fundaram em 1737 o Forte de Jesus Maria José, hoje cidade de Rio Grande. A disputa terminou em 1777, quando Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Santo Ildefonso. Pelo acordo, a colônia de Sacramento permanecia em posse de Espanha e o Rio Grande ficaria com Portugal. Com a consolidação do poderio lusitano no século 17, o então Rio Grande de São Pedro se estabelece como província em 1796. Pouco depois, em 1809, são criados os municípios de Rio Grande, Rio Pardo, Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre - à época, a economia da província se baseava nas charqueadas (produção de carne salgada). O Tratado de Santo Ildefonso, assinado entre Portugal e Espanha, no dia 1 de outubro de 1777, na cidade de Ildefonso, na província de Segóvia, na Espanha, faz parte de uma série de tratados geopolíticos assinados entre os dois estados europeus no decorrer do período colonial. Seu intuito era finalizar os conflitos geopolíticos que ocorriam há três séculos entre as duas nações. O tratado restaurava grande parte do Tratado de Madri (1750) que havia sido anulado com a assinatura do Tratado de El Pardo (1761), resultante do fracasso na promoção da paz nas fronteiras coloniais. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 13 Estabelecia novos limites para os territórios localizados ao sul, região de fronteiras entre o Estado do Rio Grande do Sul e o Uruguai, indicando novas extensões geopolíticas que poderiam muito bem ser dimensionadas pelos milhares de indígenas que habitavam a região. A Colônia Portuguesa do Sacramento e os Sete Povos das Missões estavam no meio do litígio. Ali, vários aldeamentos de jesuítas espanhóis acomodavam milhares de Guaranis em processo de evangelização. A localização privilegiada, longe dos centros coloniais, não impediu os invasores que intentavam pôr as mãos nos recursos humanos disponíveis. Não foram raras as ocasiões em que expedições de apresamento invadiram as missões e capturaram milhares de indígenas para escravizálos. Naquele contexto, missionários e indígenas tiveram o Estado como inimigo comum. Imigração do Rio Grande do Sul 14 Monumento aos Açorianos Em 1740 chegou à região do atual Rio Grande do Sul o primeiro grupo organizado de povoadores. Vindos da ilha dos Açores, contavam com o apoio oficial do governo, que pretendia que se instalassem na vasta área onde anteriormente estavam situadas as Missões. Mas as dificuldades de transporte fizeram com que terminassem por se fixar na área onde hoje está Porto Alegre, a capital do Estado. Praticando a agricultura de pequena propriedade, não encontraram, em um território em que cada estância funcionava como uma célula independente, mercado para seus produtos, e terminaram por se integrar à economia voltada para a pecuária. Posteriormente, em 1780, um fato iria reforçar ainda mais o caráter rural da vida do atual Estado. Foi criada a primeira charqueada comercial em Pelotas. Aos poucos, o charque se tornou o principal produto de exportação do Rio Grande, sendo enviado para as demais regiões do país. Essa situação começou a ser modificada no início do século XIX. A estrutura econômica do Brasil de então se baseava na exportação dos produtos agrícolas plantados em grandes propriedades por trabalhadores escravos. O Rio Grande fornecia o charque para esses trabalhadores, e também para os moradores pobres das grandes cidades. Mas, a partir da década de vinte do século passado, o governo brasileiro resolveu estimular a vinda de imigrantes europeus, para formar uma camada social de homens livres que tivessem habilitação profissional, e pudessem oferecer ao país os produtos que até então tinham que ser importados, ou que eram produzidos em escala mínima. Isto significa que o governo queria trazer pequenos produtores - para fornecer alimentos para as cidades - e artesãos. A ideia, apoiada por alguns, era rejeitada pelos senhores de escravos, que temiam que os trabalhadores livres "fossem um mau exemplo", demonstrando que o trabalho pago produzia mais e melhor que o escravo. Moradores de regiões mais ao norte do país, os grandes senhores de escravos conseguiram impedir que os imigrantes fossem destinados às suas regiões. Por isto, o governo terminou por levá-los para o Rio Grande do Sul, que estava situado à margem do grande eixo econômico, no centro do país. Os primeiros imigrantes que chegaram foram os alemães, em 1824. Eles foram assentados em glebas de terra situadas nas proximidades da capital gaúcha. E, em pouco tempo, começaram a mudar o perfil da economia do atual Estado. Primeiramente, introduziram o artesanato em uma escala que, até então, nunca fora praticada. Depois, estabeleceram laços comerciais com seus países de origem, que terminaram por beneficiar o Rio Grande. Pela primeira vez havia, no país, uma região em que predominavam os homens livres, que viviam de seu trabalho, e não da exploração do trabalho alheio. As levas de imigrantes se sucederam, e aos poucos transformaram o perfil do Rio Grande. Trouxeram a agricultura de pequena propriedade e o artesanato. Através dessas atividades, consolidaram um mercado interno e desenvolveram a camada média da população. E, embora o poder político ainda fosse detido pelos grandes senhores das estâncias e charqueadas, o poder econômico dos imigrantes foi, aos poucos, se consolidando. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 15 Imigrantes Alemães A primeira colonização maciça, após a tentativa feitacom os açorianos, ainda no século XVIII, aconteceria, no Rio Grande do Sul, a partir de 1824, quando começaram a chegar os colonos alemães. Nos primeiros cinquenta anos de imigração foram introduzidos entre 20 e 28 mil alemães no Rio Grande, a quase totalidade deles destinados à colonização agrícola. Essa primeira grande colonização alteraria a ocupação de espaços, levando gente para áreas até então desprezadas. Introduziria também outras grandes modificações. Até então, a classe média brasileira era insignificante, e se concentrava nas cidades. Os colonos alemães iriam formar uma classe de pequenos proprietários e artesãos livres, em uma sociedade dividida entre senhores e escravos. O governo brasileiro, convencido dos benefícios da imigração, enviou em 1822 à Europa o major Georg Anton von Schäffer para de recrutar interessados em emigrarem para o Brasil. O major viajou primeiramente a Hamburgo negociando para estabelecer contrato e enviar emigrantes para o Brasil primeiramente com o Grão-Ducado de Mecklenburg-Schwerin e depois com Birkenfeld, pertencente ao Ducado de Oldenburgo. Para convencer os interessados, o governo brasileiro acenou com uma série de vantagens: 1. Passagem à custa do governo; 2. Concessão gratuita de um lote de terra de 78 hectares; 3. Subsidio diário de um franco ou 160 réis a cada colono no primeiro ano e metade no segundo; 4. Certa quantidade de bois, vacas, cavalos, porcos e galinhas, na porção do número de pessoas de cada família; 16 Em 18 de julho de 1824 chegou a Porto Alegre a primeira leva de 39 imigrantes alemães, depois de passarem pelo Rio de Janeiro, onde eram recebidos e distribuídos pelo Monsenhor Miranda. Foram então enviados para a desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo, localizada à margem esquerda do Rio dos Sinos, onde chegaram em 25 de Julho de 1824. São José do Hortêncio foi o terceiro município a ser colonizado no estado, por volta de 1826. A seguir foram chegando outras levas e foi tentada a criação das colônias de Três Forquilhas e São Pedro de Alcântara das Torres, com pouco sucesso. Os primeiros colonos vieram de Holstein, Hamburgo, Mecklemburgo e Hanôver. Depois, passaram a predominar os oriundos de Hunsrück e do Palatinado. Além desses, vieram da Pomerânia, Vestfália e de Württemberg. Entre 1824 e 1830 entraram no Rio Grande do Sul 5350 alemães. Por problemas políticos e depois por causa da Revolução Farroupilha a imigração ficou interrompida entre 1830 e 1844. Reiniciada a imigração, entre 1844 e 1850 chegaram mais dez mil imigrantes, e entre 1860 e 1889 outros dez mil. Entre 1890 e 1914 chegaram mais 17 mil alemães. Os alemães inicialmente ocuparam o vale do Rio do Sinos, durante a Revolução Farroupilha alguns se deslocaram para Santa Maria, buscando se afastar dos combates. Depois de terminada a Revolução, os colonos se espalharam fundando colônias nos vales dos rios Taquari, Pardo e Pardinho, fundando Santa Cruz do Sul, a Colônia Santo Ângelo e a Colônia de Santa Maria do Mundo Novo. Às margens da Lagoa dos Patos fundaram São Lourenço do Sul. Com a Proclamação da República no Brasil, as terras devolutas passaram para os estados, assim como a responsabilidade pela colonização. No Rio Grande do Sul, o governo positivista defendeu a imigração espontânea e a colonização particular. Rapidamente, o planalto gaúcho foi transformada em zona colonial, com a instalação das colônias novas de iniciativa pública e privada, atraídas pelas possibilidades de exploração do comércio de terras e pela obtenção de lucros fáceis. A fronteira da colonização, no início do século XX chegou ao noroeste do estado, criando Ijuí, Santa Rosa, entre outras, para logo depois atravessar o Rio Uruguai e migrar para o oeste de Santa Catarina e Paraná, além de colônias no norte da Argentina e no Paraguai. Passada a Segunda Guerra Mundial a quantidade de imigrantes diminuiu muito, até se extinguir. A última colônia formada foi de um grupo de famílias menonitas que tendo emigrado para Santa Catarina na década de 1930, migraram para o Rio Grande do Sul, fixando-se ao sul de Bagé entre 1949 e 1951. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 17 Imigrantes Italianos Em 1870, o governo do Rio Grande do Sul criou colônias na região das Serras gaúchas e esperava-se atrair 40 mil imigrantes alemães, para que ocupassem a região. Porém, as notícias de que os alemães estavam enfrentando problemas no Brasil fizeram com que cada vez menos imigrantes viessem do Império Alemão. Isso obrigou o governo a procurar por uma nova fonte de imigrantes: os italianos. A partir de 1875, chegaram os primeiros grupos, vindos de Piemonte e Lombardia, e depois do Vêneto, e se instalaram nas colônias Conde d'Eu (atualmente a cidade de Garibaldi), Dona Isabel (atualmente a cidade de Bento Gonçalves) e Caxias. Ali eles passaram a viver da plantação de milho, trigo e outros produtos agrícolas; porém, a introdução do cultivo de vinho na região tornou a vinicultura a principal economia dos colonos italianos. De 1875 a 1914, entre 80 a 100 mil italianos foram introduzidos no Rio Grande do Sul. A colonização italiana foi efetuada no planalto ao norte, pois as terras baixas já estavam ocupadas pelos alemães. No decorrer do século XX, houve grandes migrações dentro do estado do Rio Grande do Sul. Muitas famílias italianas abandonaram as serras e se espalharam por todo o estado. No alto das serras sulistas nasceu um Brasil peculiar. Os índios que habitavam a região foram expulsos de suas terras para dar espaço à chegada dos italianos. Ali, os imigrantes criaram vilarejos que remetem àqueles encontrados no norte da Itália. Nas regiões altas do Sul, surgiu um Brasil com influência italiana. O Rio Grande do Sul possui o Talian como patrimônio linguístico aprovado oficialmente no estado. Ivoti,a 55km de Porto Alegre.A cidade ostentao título de“Cidade das Florese dos Nipo-gaúchos Propaganda mostra os navios e o destino, o Brasil imigrantes foram trazidos para cumprir cinco anos de contrato nas lavouras 18 A região do extremo sul do Brasil também foi um território “desbravado” pelos imigrantes japoneses. Ainda que pequena, a presença nikkei em Santa Catarina e Rio Grande do Sul é muito importante. A história no Rio Grande do Sul teve início em agosto de 1956, com o desembarque, no porto do Rio Grande, de 23 imigrantes japoneses, jovens (de 17 a 26 anos) e solteiros, que chegaram, a bordo do navio Brasil Maru, para trabalhar, principalmente na agricultura, em vários municípios gaúchos. Esses são considerados os pioneiros a vir diretamente do Japão para o Rio Grande do Sul, no entanto, algumas famílias de imigrantes japoneses já haviam migrado da região Sudeste para o extremo sul do Brasil. De 1956 até a extinção da migração sistemática em 1963, desembarcaram diretamente do Japão um total de 1.786 japoneses no Rio Grande do Sul. Afirma-se que o primeiro japonês em terras gaúchas foi o médico Yunosuke Nemoto, em 1920, e, algum tempo depois, Eito Asaeda (casado com brasileira) em 1924, ambos vindos de São Paulo. Em meados da década de 1930, houve a tentativa da K.K.K.K. (Companhia Ultramarina de Empreendimentos) de fixar 18 famílias japonesas na região de Santa Rosa (RS), no munícipio de Horizontina. A empreitada acabou não dando certo. As cidades gaúchas que se destacam pelo expressivo número de nikkeis são: Ivoti (RS), Gravataí (RS), Pelotas (RS), Santa Maria (RS) Porto Alegre (RS), São Leopoldo (RS), Gravataí (RS), Viamão (RS), Carazinho (RS) e Passo Fundo (RS). Em sua maior parte, os japoneses e seus descendentes estão associados à hortifruticultura e à floricultura. Um exemplo disso é a cidade gaúcha de Ivoti, a 55 km de Porto Alegre. A cidade ostenta o título de “Cidade das Flores e dos Nipo-gaúchos”. O início de tudo ocorreu no ano de 1966, quando autoridades municipais destinaram terras para 26 famílias de imigrantes, dando origem à colônia japonesa da região, produtora de kiwi, uvas de mesa, hortaliçase flores. Em Santa Maria, os primeiros japoneses chegaram em 1958. Eram cerca de 17 famílias, oriundas da província de Kumamoto. Na realidade, esse grupo fazia parte de um contigente de 33 famílias da mesma província, que haviam desembarcado no porto de Rio Grande no ano anterior. Essas famílias foram levadas para uma fazenda produtora de arroz irrigado na cidade de Uruguaiana, mas, devido às péssimas condições de trabalho, romperam o contrato e se dispersaram. Portadocumentos (Passaporte) de imigrantes poloneses que partiram para o Brasil do porto de Bremem-Alemanha ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 19 O Ano de 1886 é considerado o início da imigração polonesa no Rio Grande do Sul. 300 imigrantes, não conseguindo se adaptar ao clima da Bahia, migra para o norte do estado e funda as colônias Santa Teresa e Santa Bárbara. Em 1888, são demarcados aos lotes da Colônia Mariana Pimentel que recebe as primeiras levas de imigrantes poloneses no ano seguinte. Entre 1890 e 1894 mais poloneses chegam ao Rio Grande do Sul, instalam-se no vale do rio das Antas, região de terreno acidentado, porque os lotes rurais existentes na região alta haviam já sido ocupados pelos imigrantes italianos. Motivo pelo qual a colônia polonesa não prosperou com a italiana nas terras do RS. Não tiveram nenhum tipo de apoio do governo para a emigração, por esse motivo é difícil definir onúmero de poloneses que vieram para o Brasil, outro motivo é a falta de documentos oficiais ou não sobre a viagem e o numemo de emigrantes. No Rio Grande do Sul, ao que tudo indica, entraram cerca de 30.000 poloneses. Municípios do RS que acolheram imigrantes poloneses: Rio Grande, Pelotas, Mariana Pimentel, Porto Alegre, Santa Teresa, Santo Antônio da Patrulha, São Marcos, Antônio Prado, Veranópolis, Nova Prata, Ijuí, Guarani das Missões, Montenegro, Dom Feliciano e Áurea. No começo do século XX, grande parte dos poloneses mudam para o vale do rio Uruguai, próximo à Santa Catarina, em busca de terras mais férteis. Imigrantes Judeus 20 Os primeiros imigrantes judeus chegaram no Rio Grande do Sul já no século XIX, com os alemães. Em 1904 chegaram os primeiros, que se estabeleceram perto de Santa Maria. Lá receberam lotes de terra, moradia, dois bois, duas vacas, cavalo e dinheiro até a primeira colheita. As crianças aprenderam português nas escolas, com outras crianças rio-grandenses. Saldadas suas dívidas, os judeus mudaram-se para Santa Maria, preferindo radicar-se em zona urbana. Mais tarde novos imigrantes judeus aqui chegaram, morando, nos primeiros anos, em núcleos coloniais, deslocando-se, mais tarde, para os centros urbanos, onde se fixaram como comerciantes. A segunda geração procurou outras profissões, como médico, engenheiro, professor, advogado e arquiteto. Radicaram-se em cidades como Santa Maria, Erechim, Passo Fundo e Porto Alegre. População Negra Os negros entraram no Rio Grande do Sul com os primeiros casais povoadores de Rio Grande e com alguns oficiais militares, na condição de escravos. Mais tarde, alguns estancieiros, donos de sesmarias, também trouxeram escravos. Na região de colonização alemã e italiana, não foi utilizado o trabalho do escravo, devido a uma lei que proibia o trabalho do negro como tal. É na charqueada que a presença do negro escravo se destaca. A presença do negro também se fez presente nas lutas rio-grandenses, defendendo a propriedade do seu senhor dos ataques dos espanhóis, nas lutas pelas fronteiras rio-grandenses e na Revolução Farroupilha. Aos negros escravos que se alistassem às tropas republicanas eram oferecidas cartas de alforria. Mesmo lutando ao lado dos brancos pelo mesmo ideal, os acampamentos de guerra dos negros eram separados daqueles ocupados pelos brancos; além disso, ao negro era proibido o uso de armas de fogo. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 21 Nas cidades antigas, o negro escravo fazia a maior parte do serviço que hoje é feito por máquinas: puxava água dos poços ou trazia das fontes, abastecia a casa de alimentos e lenha, cozinhava, lavava, passava roupa, fiava, tecia e costurava à mão; carregava cargas, cuidava de animais domésticos. Os negros escravos eram carpinteiros e marceneiros; nos estabelecimentos comerciais, trabalhavam nos depósitos e não atendiam no balcão. Assim como aconteceu em todo o pais, aqui no Rio Grande do Sul também houve quilombos (lugares onde negros escravos fugidos viviam). Existiram quilombos na Serra de Tapes, perto de Pelotas, e na região do Litoral Norte. Guerra dos Farrapos População Negra Os negros entraram no Rio Grande do Sul com os primeiros casais povoadores de Rio Grande e com alguns oficiais militares, na condição de escravos. Mais tarde, alguns estancieiros, donos de sesmarias, também trouxeram escravos. Na região de colonização alemã e italiana, não foi utilizado o trabalho do escravo, devido a uma lei que proibia o trabalho do negro como tal. É na charqueada que a presença do negro escravo se destaca. A presença do negro também se fez presente nas lutas rio-grandenses, defendendo a propriedade do seu senhor dos ataques dos espanhóis, nas lutas pelas fronteiras rio-grandenses e na Revolução Farroupilha. Aos negros escravos que se alistassem às tropas republicanas eram oferecidas cartas de alforria. Mesmo lutando ao lado dos brancos pelo mesmo ideal, os acampamentos de guerra dos negros eram separados daqueles ocupados pelos brancos; além disso, ao negro era proibido o uso de armas de fogo. Nas cidades antigas, o negro escravo fazia a maior parte do serviço que hoje é feito por máquinas: puxava água dos poços ou trazia das fontes, abastecia a casa de alimentos e lenha, cozinhava, lavava, passava roupa, fiava, tecia e costurava à mão; carregava cargas, cuidava de animais domésticos. Os negros escravos eram carpinteiros e marceneiros; nos estabelecimentos comerciais, trabalhavam nos depósitos e não atendiam no balcão. Assim como aconteceu em todo o pais, aqui no Rio Grande do Sul também houve quilombos (lugares onde negros escravos fugidos viviam). Existiram quilombos na Serra de Tapes, perto de Pelotas, e na região do Litoral Norte. Guerra dos Farrapos . 22 de São Pedro do Rio Grande do Sul. Promovida principalmente por fazendeiros e criadores de gado, a Guerra dos Farrapos, também conhecida como Revolução Farroupilha, tinha caráter republicano e lutou contra o domínio do governo imperial. Entenda: Em 1831, o imperador Dom Pedro I abdicou do trono em favor de seu filho Dom Pedro II. O problema é que ele ainda era criança na época, e não obedecia as determinações de maioridade da antiga Constituição para de fato reinar o país. Deu-se início a um período de Regência, um governo de transição para administrar o Brasil até que o novo imperador tivesse idade suficiente para governar. Mas os gaúchos, que já andavam insatisfeitos com os altos impostos cobrados sobre os produtos riograndenses, como charque, erva mate, couro, sebo e graxa, não gostaram nada disso. Também simpatizavam com ideais republicanos e buscavam maior autonomia. Em 1835, Antônio Rodrigues Fernandes Braga foi nomeado presidente da província, em princípio para acalmar os ânimos. Mas suas ideias não agradaram os liberais, provocando atrito. No dia 20 de setembro de 1835, revolucionários comandados por Bento Gonçalves tomaram a cidade de Porto Alegre e forçaram a retirada das tropas imperiais do local. Os revoltosos exigiram a nomeação de um novo presidente, mas o novo governante não agradou aos farroupilhas. A revolução expandiu e, em 1836, os rebeldes proclamaram independência com a República de Piratini (cidade que seria capital do novo governo), também chamada de República Rio Grandense, com Bento Gonçalves como presidente — o governo imperial, é claro, não reconheceu a independência e continuou lutando. O líder da revolução chegou a ser preso, mas o movimento já estava consolidado com líderes como o general Antônio Souza Netto, DavidCanabarro e o italiano Giuseppe Garibaldi, uma das principais figuras da unificação italiana. Nos anos seguintes, conseguiram novas vitórias e, ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 23 em 1839, chegaram a conquistar a cidade de Laguna, em Santa Catarina, onde proclamaram a República Juliana. Em 1840, Dom Pedro II assumiu o trono e tentou pacificar o país, que tinha revoltas também em outras províncias além do Rio Grande do Sul. A partir de 1842, as forças militares de seu governo, comandadas por Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, começaram a conter a revolta, tomando de volta cidades dominadas pelos farroupilhas. Em 1845, enfraquecidos após diversas derrotas e uma série de negociações entre o Duque de Caxias e as lideranças da revolução, os farroupilhas aceitaram um acordo com o governo, no chamado Tratado de Ponche Verde. Ele reintegrou o território ao império brasileiro e garantiu a anistia dos revoltosos. No dia 28 de fevereiro de 1845 é anunciada a Pacificação da Revolução Farroupilha. A leitura do tratado de paz é feita no dia 25 de fevereiro de 1845 no Acampamento da Carolina, nos campos do Ponche Verde, na cidade de Dom Pedrito. O general David Canabarro está no comando das tropas rio-grandenses. Antonio Vicente da Fontoura, chega do Rio de Janeiro, onde negocia a paz. Ele traz o documento já assinado pelo General Luiz Alves de Lima e Silva, o então Barão de Caxias, designado por decreto pelo império do Brasil para tratar da pacificação. Três dias depois, 28 de fevereiro, o documento é assinado pelo então Presidente da República Rio-grandense, Gomes Jardim, já que Bento Gonçalves está afastado por motivos de saúde, que lhe leva à morte dois anos depois. No dia seguinte, 1º de março de l845, o Barão de Caxias – ciente de que os revolucionários aceitam as cláusulas – faz a sua respectiva proclamação, selando a paz: “Uma só vontade nos una, Rio - grandenses! União e tranqüilidade seja, de hoje em diante, a nossa divisa. O documento de pacificação possui 12 as cláusulas: Art. 1° - Fica nomeado Presidente da Província o indivíduo que for indicado pelos republicanos. Art. 2° - Pleno e inteiro esquecimento de todos os atos praticados pelos republicanos durante a luta, sem ser, em nenhum caso, permitida a instauração de processos contra eles, nem mesmo para reivindicação de interesses privados. Art. 3° - Dar-se-á pronta liberdade a todos os prisioneiros e serão estes, às custas do Governo Imperial, transportados ao seio de suas famílias, inclusive os que estejam como praça no Exército ou na Armada. Art. 4° - Fica garantida a Dívida Pública, segundo o quadro que dela se apresente, em um prazo preventório. Art. 5° - Serão revalidados os atos civis das autoridades republicanas, sempre que nestes se observem as leis vigentes. Art. 6° - Serão revalidados os atos do Vigário Apostólico. Art. 7° - Está garantida pelo Governo Imperial a liberdade dos escravos que tenham servido nas fileiras republicanas, ou nelas existam. Art. 8° - Os oficiais republicanos não serão constrangidos a serviço militar algum; e quando, espontaneamente, queiram servir, serão admitidos em seus postos. Art. 9° - Os soldados republicanos ficam dispensados do recrutamento. Art. 10° - Só os Generais deixam de ser admitidos em seus postos, porém, em tudo mais, gozarão da imunidade concedida aos oficiais. 24 Art. 11° - O direito de propriedade é garantido em toda plenitude. Art. 12° - Ficam perdoados os desertores do Exército Imperial. Os Lanceiros Negros Nem todas cláusulas são integralmente cumpridas pelo império brasileiro: Os farrapos não escolhem seu presidente provincial e o barão de Caxias, General Luiz Alves de Lima e Silva é indicado senador do Império; O Império não ressarce integralmente as dívidas de Guerra contraídas pela província do Rio Grande do Sul, elas não são devidamente contabilizadas e tendo sido pago, a alguns, uma irrisória porcentagem das perdas; Não houve a libertação de todos escravos que lutaram no Exército Farroupilha, a fim de se evitar a insurgência dos negros pelo resto do Império. Alguns são devolvidos aos seus donos, mediante reivindicação, outros são levados para Rio de Janeiro e vendidos a outros senhores. Os que fazem parte do corpo de Lanceiros Negros, comandados por Canabarro, são massacrados na Batalha de Porongos, mais conhecida como massacre de Porongos. E, 120 são mandados incorporar por Caxias aos três Regimentos de Cavalaria de Linha do Exército na Província. A partir de 1º de março de 1845 o território do Rio Grande do Sul volta a integrar o império brasileiro e posteriormente, em 15 de novembro de 1889, à República Federativa do Brasil. Todavia o manifesto farroupilha se mantém estampado na bandeira do Estado nos dizeres “República Rio-grandense * 20 de Setembro de 1835 * Liberdade, Igualdade e Humanidade”. Guerra do Paraguai ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 25 O conflito militar entre 1864 e 1870 colocou o Paraguai frente à Tríplice Aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Liderados pelo ditador Francisco Solano Lopez, os paraguaios aprisionaram o navio brasileiro Marquês de Olinda e atacaram a cidade de Dourados, em Mato Grosso, retaliando a invasão do Brasil ao Uruguai para depor o ditador Aguirre, aliado de Solano Lopez. Foi o estopim para o início dos combates. Em 1865, o Paraguai também fez incursões no território argentino para tentar conquistar o Rio Grande do Sul. A luta chegou ao fim em março de 1870, apesar dos acordos de paz não terem sido concluídos de imediato devido à recusa argentina em reconhecer a independência paraguaia - o que aconteceu somente em 1876 com a Conferência de Buenos Aires. Revolução Federalista 26 Maragatos do Partido Federalista eram liderados por Gumercindo Saraiva (2º da dir. para esq sentado) A Revolução da Degola, como ficou conhecida a Revolução Federalista (1893 e 1895), foi um dos maiores e mais sangrentos conflitos ocorridos em solo brasileiro, envolvendo federalistas (maragatos) e republicanos (pica-paus) durante o governo de Floriano Peixoto. Insatisfeitos com as ações governamentais após a renúncia de Deodoro da Fonseca, os membros do Partido Federalista do Rio Grande do Sul - liderados por Gaspar da Silveira Martins e Gumercindo Saraiva - eram contra o autoritarismo dos governantes estaduais, reivindicando a deposição de Júlio de Castilhos, então presidente do Estado (antiga alcunha dos governadores). O grande número de degolas cometidas para poupar armas e munições foi um marco da guerra, deixando mais de dez mil mortos. Após dois anos de violência, o presidente Prudente de Morais encerrou o conflito em agosto de 1895. Maragato. O termo tinha uma conotação de deboche, ironia, pejorativa, atribuída pelo imperialistas e legalistas aos revoltosos liderados por Gaspar Silveira Martins, que deixaram o exílio, no Uruguai, e entraram no RS à frente de um exército.Como o exílio havia ocorrido no Uruguai numa região colonizada por pessoas originárias da Maragateria (na Espanha), os republicanos apelidaram-nos de "maragatos", buscando caracterizar uma identidade "estrangeira" aos federalistas.Com o tempo, o apelido assumiu significado positivo, aceito e defendido pelos federalistas e seus companheiros. O lenço vermelho identificava o maragato. Chimango. A grafia pode ser ximango. Ave de rapina muito comum na campanha riograndense, falconídea, pessoal rapineiro, oportunista, caçador que é da terra. Alcunha depreciativa dada aos liberais moderados pelos conservadores, no início da monarquia brasileira. No RS, nos anos de 1920, foi à codinome dada pelos federalistas aos governistas do PRR. Honório Lemes Maragato contra Flores da Cunha Chimango (pica-pau). O lenço de cor branca identificava os chimangos. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 27 Revolução de 23 Joaquim Francisco de Assis Brasil Antônio Augusto Borges de Medeiros A Revolução de 1923 eclodia no estado colocandoos oposicionistas - maragatos (assisistas) - em confronto contra o poder constituído - chimangos (borgistas). O primeiro grupo, formado por dissidentes do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), tinha como líder Joaquim Francisco de Assis Brasil. O segundo era comandado por Antônio Augusto Borges de Medeiros, que esteve no poder por mais de duas décadas. Os ânimos se exaltaram após a vitória de Borges de Medeiros na eleição de 1922, considerada fraudulenta e ratificada em uma Assembleia composta majoritariamente por borgistas, autorizando seu quinto mandato. A paz só viria em 14 de dezembro daquele ano com a assinatura do Pacto de Pedras Altas, alterando a Constituição estadual para rejeitar reeleições sucessivas e confirmar a confidencialidade do voto. Revolução de 30 28 Comitiva de Getúlio Vargas durante a passagem por Itararé (SP), a caminho do Rio de Janeiro, após vitória na revolução A Aliança Liberal (Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul) foi responsável pela Revolução de 1930, iniciada na capital gaúcha no dia 3 de outubro daquele ano. Além de levar Getúlio Vargas a ocupar a presidência do Brasil, após derrota para o paulista Júlio Prestes em eleição considerada fraudulenta, o levante colocou um ponto final na política do café com leite (São Paulo e Minas), dando início à Era Vargas. Charque No século 18, enquanto ocorria o ciclo econômico da mineração no Brasil envolvendo os estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, havia uma crescente valorização do rebanho de gado existente no Rio Grande do Sul, introduzido pelos jesuítas no século 17. Os bois serviam para a alimentação e as mulas para o transporte dos mineradores. Para que fosse possível manter a carne em estado propício para ser consumida foi dado o início da conservação deste produto, primeiro através da sua secagem ao sol, na região do Ceará, sob a forma de carne de sol ou carne do sertão. Entretanto, uma grande seca no Ceará em 1777 aniquila os rebanhos. Para sorte dos gaúchos, no mesmo período é assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que permitia uma trégua na luta entre espanhóis e portugueses, possibilitando investimentos econômicos na região, até então exclusivamente criadora de gado, através da estância. Em 1779 é registrada a chegada do retirante da seca, o português José Pinto Martins, que transfere-se do Ceará para o RS, estabelecendo a primeira charqueada industrial em Pelotas, dentro dos limites da Vila do Rio Grande, fundada em 1737. Esta primeira charqueada, localizada num dos distritos do futuro município, às margens do arroio Pelotas, protegeria a propriedade do vento e das areias do litoral, que arruinariam a produção. Outro ponto favorecedor era a fácil comunicação com o porto do Rio Grande através de iates. A consolidação das charqueadas, grandes propriedades rurais de caráter industrial, só se dá no século XIX, às margens dos arroios Pelotas, Santa Bárbara, Moreira e canal São Gonçalo. O gado, matéria prima, era proveniente de toda a campanha rio-grandense, introduzido em Pelotas através do Passo do Fragata e vendido na Tablada, grande local dos remates na região das Três Vendas. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 29 Ao contrário do que possa parecer, nas charqueadas não se criavam bois. Haviam raras exceções, como aCharqueada da Graça, mas essa criação não dava conta da produção total do charque. Na chamada boca do arroio, entre o São Gonçalo e o arroio Pelotas, as terras foram rapidamente sendo tomadas por escravos. Só então a área adquire o nome de Passo dos Negros. Com o progresso advindo da venda do charque, em 1812 acontece a criação da Freguesia e em 1832 a instalação da vila, oficialmente criada em 1830. Somente em 1835 a vila é elevada à condição de cidade. Charqueadores transferiram-se do Rio Grande e se fixaram em Pelotas, construindo palacetes, principalmente depois da criação da Vila. O charque era utilizado para alimento dos escravos em todo o Brasil e nos países que adotavam o sistema escravista, sobretudo o Caribe (Cuba, principalmente). Do gado, se aproveitava tudo: o couro, o pó dos ossos para fertilizante, o sangue para gelatina, a língua defumada, os chifres para várias utilidades. Esses produtos eram exportados para toda a Europa e os Estados Unidos.O charque era quase exclusivamente produzido pelo Brasil. De concorrentes, apenas Uruguai e a Argentina. "Quando esses países estavam em crise, o que era comum em virtude das guerras civis, a produção pelotense atingia maior rentabilidade". A safra era sazonal e durava de novembro a abril. As charqueadas tinham em média 80 escravos, ocupados nos intervalos da safra em olarias nas próprias charqueadas, derrubadas de mato e plantações de milho, feijão e abóbora nas pequenas chácaras que cada charqueador possuía na Serra dos Tapes, onde ficam hoje a Cascata e as colônias de Pelotas. Os navios que levavam o charque não voltavam vazios. Traziam mantimentos, livros, revistas de moda, móveis, louças da Europa - e açúcar do Nordeste, consolidando a tradição do doce em Pelotas. "Embora aqui não se plantasse cana-de-açúcar, os doces de Pelotas chegaram a ser rivais dos do Nordeste, região açucareira por excelência." 30 Em 1820, eram 22 charqueadas e, em 1873, 38. Outro dado espantoso é o número de abates, num total de 400 mil cabeças de gado por ano. Simões Lopes Neto, na Revista do Primeiro Centenário de Pelotas, editada em 1911, comenta que até aquela data foram abatidas 45 milhões de reses e umas 200 firmas se sucederam. O poder dos charqueadores pelotenses foi oficialmente consolidado a partir de 1829, quando o imperador Dom Pedro I outorgou o primeiro título de nobreza a um fazendeiro do ramo. Coube a Domingos de Castro Antiqueira, proprietário da Charqueada do Cascalho - localizada na margem direita do arroio Pelotas - ostentar um título nobiliário em Pelotas: o de Barão de Jaguari. Antiqueira, foi também o primeiro e um dos únicos a ascender na hierarquia da nobreza brasileira, quando em 1846 foi declarado Visconde de Jaguari. Até o final do período imperial, dez charqueadores receberam títulos de nobreza. "A outorga do baronato, que tinha como condição, quase sempre, certa fortuna acumulada, significava o reconhecimento oficial da Monarquia ao poder e ao prestígio de quem era agraciado". Além de Antiqueira, apenas João Simões Lopes ascendeu à condição de visconde e passou para a história como o Visconde da Graça, em uma referência direta a sua propriedade, a Charqueada da Graça, localizada na margem esquerda do arroio Pelotas. As causas do encerramento do ciclo do charque foram várias. Uma das principais, a abolição dos escravos, quando deixa de existir o verdadeiro consumidor do produto. A concorrência de regiões gaúchas que antes apenas produziam a matéria-prima também foi outro golpe contra os charqueadores locais. "Depois de 1884, fundaram-se charqueadas em algumas cidades da fronteira, porque nesse ano estabeleceu-se a linha férrea, que permitia o escoamento do produto até o porto de Rio Grande." O advento dos frigoríficos, na década de 1910, foi outra. Em 1918, restaram apenas cinco charqueadas em Pelotas. "O coronel Pedro Osório, que começou como charqueador, passou a plantar arroz em 1905, transformando-se no maior industrial do setor no mundo e conhecido como Rei do Arroz". Hino Rio Grandense ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 31 O Hino Rio-Grandense que hoje cantamos tem a sua história particular e, porque não dizer, peculiar. Porque muitas controvérsias apresentou, desde seus tempos de criação até os tempos de então. Oficialmente existe o registro de três letras para o hino, desde os tempos do Decênio Heróico até aos nossos dias. Num espaço de tempo de quase um século foram utilizadas três letras diferentes até que finalmente foi resolvido, por uma comissão abalizada, que somente um deles deveria figurar como hino oficial. O Segundo Hino Quase um ano após a tomada de Rio Pardo, foi compostauma nova letra e que foi cantada como Hino Nacional, o autor deste hino é desconhecido, oficialmente ele é dado como criação de autor ignorado. O jornal “O Povo”, considerado o jornal da República Riograndense em sua edição de 4 de maio de 1839 chamou-o de “o Hino da Nação”. O Terceiro Hino Após o término do movimento apareceu uma terceira letra, desta vez com autor conhecido: Francisco Pinto da Fontoura, vulgo “o Chiquinho da Vovó”. Esta terceira versão foi a que mais caiu no agrado da alma popular. Um fato que contribui para isto foi que o autor, depois de pronto este terceiro hino, continuou ensinando aos seus contemporâneos o hino com sua letra. A letra deste autor é basicamente a mesma adotada como sendo a oficial até hoje, mas a segunda estrofe, que foi suprimida posteriormente, era a seguinte: Entre nós reviva Atenas Para assombro dos tiranos; Sejamos gregos na Glória, E na virtude, romanos. O Hino Definitivo Estas três letras foram interpretadas ao gosto de cada um até meados do ano de 1933, ano em que estavam no auge os preparativos para a “Semana do Centenário da Revolução Farroupilha”. Nesse momento um grupo de intelectuais resolveu escolher uma das versões para ser a letra oficial do hino do Rio Grande do Sul. A partir daí, o Instituto Histórico contando com a colaboração da Sociedade Rio-Grandense de Educação, fez a harmonização e a oficialização do hino. O Hino foi então adotado naquele ano de 1934, com a letra total conforme fora escrito pelo autor, no século passado, caindo em desuso os outros poemas. No ano de 1966, o Hino foi oficializado como Hino Farroupilha ou Hino Rio-Grandense, por força da lei 5213 de 05 de janeiro de 1966, quando foi suprimida a segunda estrofe. LETRA: Francisco Pinto da Fontoura - MÚSICA: Comendador Maestro Joaquim José de Mendanha HARMONIZAÇÃO: Antônio Corte Real Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o Vinte de Setembro o precursor da liberdade. 32 Mostremos valor, constância, Nesta ímpia e injusta guerra, Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra, De modelo a toda terra. Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra. Mas não basta pra ser livre ser forte, aguerrido e bravo, povo que não tem virtude acaba por ser escravo. Mostremos valor, constância, Nesta ímpia e injusta guerra, Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra, De modelo a toda terra. Sirvam nossas façanhas De modelo a toda terra. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 33 As primeiras mudas O imigrante italiano, afeiçoado à viticultura por tradição e por vocação, obrigatoriamente viria a cultivar a videira em sua terra, como já haviam feito os imigrantes que se estabeleceram em outras regiões da América e da Ásia. O colono italiano recém chegado em 1875 ainda não tinha as mudas de videiras para iniciar o cultivo nas terras que foi desbravando, em substituição às florestas que foram derrubadas. Foi somente ao descer a serra para São Sebastião do Caí e Montenegro para levar seus produtos e buscar suprimentos que tomou contato com as videiras, da variedade Isabe, que os agricultores alemães cultivavam há algum tempo para seu próprio consumo. Os imigrantes alemães também era viticultores De 1824, ano de início da colonização alemã, até 1875, início da chegada dos italianos na serra, a uva foi cultivada pelos imigrantes alemães na região de São Leopoldo e levada por eles até Montenegro, São Sebastião do Caí, Bom Princípio e Feliz, entre outros povoados. Há registros de que em 1825, um ano após a chegada dos imigrantes alemães, o cidadão João Batista Orsi chegou à região com uma carta autografada por Dom Pedro I incentivando o cultivo da vinha, juntamente com as primeiras mudas. A produção da uva nesta região bem como a produção de vinho, no entanto, limitaram-se ao consumo doméstico. Origem da uva no Rio Grande do Sul O Rio Grande do Sul faz parte do complexo histórico da vitivinicultura hispano-americana por ter raízes históricas situadas ora do lado espanhol, ora do lado português. Por volta de 1626 teria sido o padre jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz o precursor e pioneiro da vitivinicultura rio-grandense. Ele, ao fundar a Redução Cristã de San Nicolao na margem esquerda do rio Uruguai (Região dos Sete Povos das Missões), trouxe cepas de origem espanhola. Pode-se constatar nessa época a trajetória do desenvolvimento da vitivinicultura paralela ou sobreposta aos caminhos da marcha da Igreja Católica. Em 1737 ocorreu a imigração dos açorianos ao litoral gaúcho, onde eles fundaram Porto Alegre e disseminaram as vinhas portuguesas, originadas da Ilha dos Açores e Madeira. Esse cultivo, apesar de feito através de fixação dos colonos para o povoanento na zona litorânea, não foi de grande expressão. Essas foram as duas regiões bem distintas e as duas origens da Vitis Vinífera na história da vitivinicultura gaúcha até o ano de 1800. As primeiras variedades de uva da Serra Gaúcha A viticultura tornou-se expressiva com a introdução de uvas americanas, particularmente a Isabel. Por onde se expandia, por exuberância, resistência e produtividade, a Isabel ia desestimulando e substituindo os poucos vinhedos de viníferas européias que ainda existiam. Foi entre os anos de 1839 e 1842 que a uva americana, principalmente a Isabel, foi introduzida no Rio Grande do Sul. Teria sido o cidadão gaúcho Marques Lisboa a remeter os bacelos dessa variedade, de Washington, ao comerciante Thomas Messiter, que com eles plantou os primeiros vinhedos na Ilha dos Marinheiros, tornando-se assim o iniciador do cultivo da uva Isabel no Estado. Com os italianos, o desenvolvimento da vitivinicultura 34 O cultivo da videira Isabel tomou expressão acentuada após a chegada dos imigrantes italianos aos altos da Serra, a partir de 1875. No início, cultivavam apenas para o consumo da família. Por volta de 1890 o êxito dessa variedade era tão surpreendente que os colonos iniciaram a comercialização do vinho Isabel para a capital do Estado e outras cidades. O transporte era feito em lombo de burro, alojado em dois barris de 40 litros cada, colocados um de cada lado do animal. As filas de 10 ou 12 animais percorriam a distância entre a propriedade rural até os pequenos núcleos ou povoados onde havia uma casa de comércio ou armazém colonial. O colono negociava seus produtos por troca. Trocava o vinho (além dos demais produtos rurais como: queijo, porcos, feijão, trigo, etc.) por café, açúcar, tecidos, querosene e ferramentas agrícolas. Quando chegava à casa do negociante, o vinho era transferido do barril em que vinha sendo transportado no lombo do burro para uma pipa. O barril em que era transportado tinha formato próprio e adequado à viagem e deveria retornar ao produtor. Não raro o vinho encontrava-se em condições sanitárias deficientes devido à precariedade de condições de produção e transporte. Do negociante até os centros de consumo locais – Porto Alegre, São Sebastião do Caí, Montenegro, São Leopoldo – o vinho era transportado, às vezes, em carretões puxados por mulas, que enfrentavam os precários caminhos e intempéries por dias a fio para chegar ao destino. Daí surge a figura épica do carreteiro que conduzia as duplas de animais puxando enormes e pesadas carretas percorrendo a íngreme serra gaúcha, que tão bem identifica a origem da colonização de Bento Gonçalves e cidades vizinhas. Outras vezes o vinho era transportado em lombo de burros, formando longas filas de animais até o destino. Para Porto Alegre, tem-se notícias de que os primeiros embarques ocorreram em 1884. Transporte do vinho em carreta puxada por mulas ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 35 Colheita da uva Porão típico dos imigrantes italianos O progresso da vitivinicultura e da região A partir do momento em que se iniciou o comércio do vinho, surge a figura do tanoeiro, o construtor dos barris. Além de bastante habilidade, o tanoeiro também devia apresentar muita força física. Gradativamenteas tanoarias se multiplicaram para comportar a produção e o comércio do vinho. A abertura de estradas tem franca expansão na primeira década de 1900. Em 1908 surge a estrada Buarque de Macedo, uma importante ligação entre Montenegro e Lagoa Vermelha, passando por Garibaldi, Bento Gonçalves, Alfredo Chaves (Veranópolis) e Nova Prata. Muitos quilômetros de estradas municipais também foram abertos nessa época em toda a região. Entre 1900 e 1910 inicia o transportes em carretas entre as regiões de consumo. Em 1898 acontece a primeira grande expedição de comercialização e transporte do vinho gaúcho em direção aos mercados do centro do país. Antônio Pierucini, agricultor natural de Luca (Itália) 36 empreende a grande aventura de conduzir o carregamento do vinho da serra em lombos de burros até São Simão, interior de São Paulo. Dois anos depois, Abramo Éberle, natural de Vicenza (Itália) arrisca-se na longa viagem e chega com o primeiro carregamento de vinho à capital paulista. Ambos conseguem vender todo o lote. Desta forma, iniciou-se uma nova fase no progresso da colônia italiana, que passaria a fornecer vinhos aos outros Estados. A vitivinicultura tomou grande impulso com a ligação ferroviária de Montenegro a Caxias do Sul, concluída em 1910. A área plantada foi expandida e a produção de vinho foi elevada, seguindo de trem até Porto Alegre. O vinho dos colonos italianos O plantio dos pequenos vinhedos de cada família era feito em terreno já cultivado ou logo após o desmatamento. A fertilidade do solo virgem, a umidade e o sol quente do verão da serra, aliados ao vigor natural da videira Isabel, faziam as plantas crescerem admiravelmente, com longos galhos e enormes folhas robustas. A frutificação era abundante. O entusiasmo era muito grande e, seguramente, a videira foi o bálsamo e o reencontro do imigrante com a sua terra de origem. Uma nova e promissora cultura se apresentava para manter a alegria e coragem e refazer as energias dos desbravadores da região. Com a aumento das famílias, a melhoria das condições de vida e o desenvolvimento da promissora cultura da videira, tornou-se necessária e possível a construção de novas casas, com a maior espaço e mais comodidade. Aí surgem as casas com porão e algumas com sótão. O porão teve como uma das causas preponderantes do seu surgimento a elaboração, envelhecimento e guarda do vinho nas pipas, o qual deveria durar e abastecer o consumo da família até a colheita do ano seguinte. O processo de fabricação A uva era colhida em balaios feitos com cipó e esmagada com os pés. A fermentação se processava em pipas de madeira instaladas no porão da casa, onde todas as operações de vinificação eram feitas pela própria família. Logo após o esmagamento da uva, o mosto doce era bebido por todos. Na época também era muito habitual comer-se o pão molhado nesse mosto. Não eram raras as reuniões de famílias, especialmente no dia 6 de janeiro, para comemorar a festa do pão e do vinho, aproveitando o mosto obtido das uvas mais precoces. Fermentado, o mosto era transformado em vinho, quase todo ele tinto, de uva Isabel, e consumido já nos meses de abril e maio, devendo durar até a próxima colheita. O imigrante havia encontrado finalmente um fator importante e decisivo para sua fixação e adoção definitiva da nova Pátria. Uma vez mais a vitivinicultura evidenciava-se como elemento de fixação do homem a uma região, por ser ela um componente da civilização humana ligado à cultura e com características universais. Industria Calçadista ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 37 Os alemães estavam habituados a usarem calçados em virtude do frio de seu país de origem, todavia, no Brasil os calçados eram usados apenas para proteção à picada de insetos. Os calçados trazidos por eles gastaramse e foi assim que surgiu a indústria, inicialmente de forma artesanal. “O seu início foi artesanal, não havia máquinas que pudessem tornar mais fácil a confecção dos calçados. O material usado eram os retalhos que sobravam da fabricação dos arreios, e o calçado era feito sob medida e sob encomenda. O setor calçadista iniciou suas atividades no século XIX no Estado do Rio Grande do Sul, com o surgimento de curtumes implantados pelos imigrantes alemães e italianos. De acordo com o autor, com os avanços tecnológicos oriundos da Europa no final do século XIX, o sistema artesanal de produção passou a ser uma atividade fabril. Conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados, a Abicalçados (2015), no ano de 1888, surgiu, no Vale dos Sinos, Estado do Rio Grande do Sul, a primeira fábrica de calçados do Brasil, formada pelo filho de imigrantes Pedro 12 Adams Filho, que, por sua vez, também possuía um curtume e uma fábrica de arreios. A partir daí, o Rio Grande do Sul aumentava a demanda por calçados, o que permitiu a expansão da produção a cada ano, tornando o Estado reconhecido mundialmente no setor ao longo do tempo. A necessidade de ampliar a comercialização de calçados para o exterior surgiu no início da década de 60. A primeira exportação brasileira em larga escala ocorreu em 1968, com o embarque das sandálias Franciscano, da empresa Strassburguer, encomenda entregue nos Estados Unidos. Já a produção nacional, na mesma década, era de 80 milhões de pares anuais. Erva Mate 38 1554, o General Irala, chegou a região de Guairá, situada à oeste do atual território do Paraná e encontrou lá uma tribo de guaranis pacíficos e hospitaleiros. Um dos hábitos destes indígenas lhe despertou muita curiosidade. Tratava-se do uso generalizado de uma bebida feita de folhas picotadas, tomadas dentro de um porongo, por intermédio de um canudo de taquara. Ao indagar sobre a origem daquela bebida, responderam os índios tratar-se da "caá-i", um hábito que teria sido inicialmente de uso exclusivo dos pajés em suas práticas de magia, mas que foi estendido aos outros guerreiros, durante períodos de guerra em virtude de seus diversos benefícios. E, mesmo depois do término das guerras, o seu uso continuou, pois seus efeitos estimulantes, fortaleciam tanto o corpo quanto a alma. "Caá" era o nome da ervateira e a "caá-i" era bebida do mate. Esta bebida nativa foi um estrondoso sucesso entre os soldados de Irala. E, quando retornaram a Assunção, levaram um carregamento da erva para apresentá-la aos amigos. Esta bebida impressionou tanto os espanhóis por sua natureza curativa e revitalizante, que despertou o interesse dos comerciantes de Assunção que visavam antes de tudo, o lucro financeiro. Acredita-se que os carijós, no litoral, assim como os guenoas da Campanha, também fossem apreciadores de um gostoso mate, mas inexistindo nestas redondezas, bosques de "caá", este hábito somente poderia ser mantido por intercâmbio com os guaranis. Quando do Tratado de Madri de 1750 e da sua subseqüente Guerra Guaranítica, o uso do mate já tinha se tornado costume entre os dragões e demais soldados dos quartéis do Rio Grande e Rio Pardo. Depois da Guerra Guaranítica efetuou-se a expulsão da Companhia de Jesus dos territórios europeus e coloniais de Portugal e da Espanha. Desde modo, os Trinta Povos das Missões de Guaranis perderam a unidade, subdividindo-se em quatro grandes províncias. Cada povo passou a ser gerido por uma espécie de administração mista, a cargo de um vigário e de um comandante militar. Em 1801, como reflexo de nova guerra na Europa, um grupo de aventureiros rio-grandenses pratica a extraordinária façanha de incorporar para o Brasil a região dos Sete Povos. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 39 A partir dessa incorporação, normalizou o fornecimento da erva missioneira para a Capitania do Rio Grande do Sul, já sem burlas "aduanas"ou pagar direitos alfandegários, pois tudo agora era Brasil. Por volta de 1820 o hábito do chimarrão já se enraizara definitivamente nas cidades e nos campos da Capitania. O grande papel que desempenhou a erva-mate na sociedade gaúcha pode der avaliado porsua presença dentre os símbolos nacionais farroupilhas. No brasão da República já encontrávamos ramos de erva-mate contornando o barrete frígio e perdura até hoje no brasão e na bandeira do Estado do Rio Grande do Sul. O Mito do Gaúcho, por Moacyr Flores https://falando historia.blogspot.com/2010/08/o mito do gaucho por moacyr flores.html Expressão TCHÊ! A expressão TCHÊ (Brasil) e ou CHE (Uruguay e Argentina) muito utilizado na região do Pampa, segundo historiadores provem das línguas e ou dialetos indígenas de tribos que habitavam esta região. Segue abaixo exemplos. CHE = GENTE ( Língua QUECHUA, de origem andina, cultura AYMARA) Ex: TEHUEL-CHE (gente de tehuel) CHE = HOMEM ( Língua MAPUCHE, de origem andina, cultura ARAUCANA) CHÉ = AMIGO (Língua AVAÑÉE, Guarani Missioneiro, companhia de Jesus) 40 CHE = TU (Pronome de Tratamento ESPANHOL ATUAL) Ex: ?Che, cuanto cuesta um vaso de vino? TCHÊ = TU (Aportuguesamento da expressão CHE, por uma questão de pronuncia) Expressão Tri! Durante a copa do mundo de 70 no México que o brasil alcançou o tri campeonato se passou a falar que tudo que era legal e bacana ficou sendo Tri! Expressão Bah! Inicialmente pode-se pensar que o Bah é um diminutivo de barbaridade, mas está mais para Pá dos portugueses, mas não se tem certeza exata da origem do termo. Sepe Tiaraju Sepé Tiaraju foi um chefe indígena dos Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai (território hoje integrado ao estado do Rio Grande do Sul) que virou herói para seu povo. Em 1750, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Madri, pelo qual Portugal cederia a Colônia do Sacramento (fundada pelos portugueses onde hoje é o Uruguai) à Espanha em troca da região dos Sete Povos. Para concretizar o acordo, os povos guaranis deveriam abandonar as sete aldeias da margem oriental do rio Uruguai. Induzidos pelos jesuítas, os índios não aceitaram o tratado, e pegaram em armas para defender suas terras. Teve início, assim, a Guerra Guaranítica, que opôs os nativos a tropas espanholas e portuguesas. O chefe indígena Sepé Tiaraju, líder das forças missioneiras, tinha sido alferes do exército espanhol. Estava habituado ao convívio com os europeus. Seu nome cristão era José. Ele sabia ler e escrever, possuía treinamento militar e exercia grande influência sobre os comandados. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 41 Os guaranis foram conseguindo muitas vitórias, mas no final de 1755 a maré da guerra começou a mudar. A 7 de fevereiro de 1756, após uma série de derrotas, cerca de 1.500 guaranis foram dizimados na batalha de Caiboaté (nas proximidades da cidade gaúcha de São Gabriel). Sepé Tiaraju morreu em combate. A partir desse momento, história e lenda se confundem. O capitão indígena se tornou herói popular. Sua obstinada resistência foi sintetizada numa frase que, provavelmente, ele nunca pronunciou: “Esta terra tem dono”. Como o corpo do bravo guerreiro não foi encontrado no campo de batalha, espalhou-se a crença de que ele subira aos céus. Surgiu, assim, a veneração a São Sepé, um santo não reconhecido pela Igreja Católica, mas que dá nome a um município do Rio Grande do Sul. Cavalos no Rio Grande do Sul Antes do ano 1500 da nossa era, não havia cavalos nas Américas. Não existe, nas línguas originais do Continente Americano, nenhum termo que signifique cavalo. Todos os vocábulos que atualmente existem são derivações da palavra caballo do espanhol: cavayú em guarani, caavarú em tupi, cahuellu ou cahuallo em araucano, cahualk em gennaken, cahuel em tehuelche, cavallo nos acomas, cavaio nos moquis, cavayo em paiute, cahuay nos kansas, cahua nos osages, kaviyo nos pimas. Cristóvão Colombo, em 1493, quando em sua segunda viajem à Ilha La Española, hoje Repúplica Dominicana, no porto de Santo Domingo, na América Central, foi o responsável pela introdução do cavalo na América, dezessete veleiros e entre 25 e 30 cavalos. Introduzidos em 1509 ao continente através do Panamá, sete animais e através da Colômbia, 12 animais. Os exploradores necessitavam dos animais para carregar os seus pertences nas incurções realizadas. Descendo pela Cordilheira dos Andes em direção ao sul da América os exploradores iam abandonando os cavalos que se machucavam ou que adoeciam. Obviamente nem todos 42 os animais abandonados morreram e com isso os mesmos sem um predador natural iam se reproduzindo. Os Indígenas ao encontrarem os primeiros cavalos, achavam que eram monstros e tentavam matá-los, até perceberem que os exploradores os utilizavam como meio de transporte e carga. A partir daí, com exíme técnica aprenderam a domar o cavalo e assim utilizá-lo como companheiro no transporte e caça, além de auxiliá-los na batalha contra os europeus que tentavam invadir sua região pampeana. Com o passar do tempo os indígenas se tornaram excelentes cavaleiros. Por volta de 1580, os cavalos abandonados na região do Prata em 1536, tinham se multiplicado aos milhares. Tanto que, em 1600, não podiam mais ser contados em suas gigantescas manadas. Os Pampas do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina estavam povoados de cavalos chimarrões (cimarrones) e o povo que vivia nessa região, unida pela semelhança ambiental, se tornou um povo cavaleiro. Por definição o cavalo Crioulo é o conjunto de animais descendentes dos cavalos trazidos da península ibérica, no século XVI, quando pela conquista da América. Adquiriram características únicas e próprias após quatro séculos de adaptação e evolução no meio ambiente sul americano. A origem do cavalo crioulo se dá na população eqüina da península ibérica, mais precisamente nos territórios de Portugal e Espanha do século XV. Naquela época, várias raças eram criadas na região, porém, acredita-se que o cavalo crioulo é originário de duas, sendo elas: Andaluz: Tem pelo menos quatro mil anos de história e é conhecida como uma raça guerreira. Sofreu grande influência dos cavalos trazidos do norte da África pelos mouros que estiveram presentes, na península ibérica, por oito séculos. Jacas: Também conhecida por Rocines. Antiga raça de cavalos nativos espanhóis das regiões da Galícia, Navarras e Andaluzia. Eram conhecidos pela valentia e resistência. A partir da chegada de Colombo na América, em 1492, várias foram as expedições espanholas que trouxeram estes cavalos para o novo continente. Os Andaluzes e os Jacas teriam sido escolhidos para cruzar o oceano por serem os mais resistentes e aptos para afrontar as dificuldades no novo continente; e pelo fato dos portos de embarque das expedições estarem localizados nas regiões onde estes cavalos eram criados. A história do tropeirismo – um dos capítulos mais importantes da formação gaúcha e um dos menos lembrados – integrou diferentes regiões do Brasil, e traçou a rota da formação de muitas cidades da região Sul e Sudeste. Foi através dessa atividade que se consolidou o movimento comercial do país, que se definiram vocações econômicas regionais, e que as enormes extensões de pampas gaúchos encontraram seu destino, que marca a atividade econômica de algumas regiões do Estado até os dias atuais. No início do século XVII chegaram jesuítas à região formada pelos atuais estados do Paraná e Rio Grande do Sul, e pela Argentina e Paraguai. Esses padres estabeleceram as Missões Jesuíticas, onde reuniam, em torno de pequenos grupos de religiosos, um grande número de índios guaranis convertidos. Para sustentar essas populações, foi introduzida a atividade pecuária, com o gado solto nas pradarias. Dessa maneira a região passou a oferecer dois atrativos para os forasteiros: o índio que seria escravizado e o gado. Várias expedições de bandeirantes paulistas atacaram a região - destaca-se a expedição comandada por Antonio Raposo Tavares - até 1640. Em 1628 já havia relatos sobre a presença de rebanhos nas reduções jesuíticas. Mas acredita- se que tenham levado os animais da margem direita para a esquerda do rio Uruguai em 1629, ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER43 dando origem a um rebanho imenso que ficaria conhecido como Vacaria do Mar na área situada entre a Laguna dos Patos e os rios Jacuí e Negro. Essa Vacaria era regularmente predada por espanhóis e portugueses, e para garantir o gado os jesuítas criam a Vacaria dos Pinhais, na região de campos de cima da serra que ficou conhecia como Campos da Vacaria. A ação dos bandeirantes e os conflitos fronteiriços entre Portugal e Espanha fizeram com que os jesuítas transferissem as reduções para a região noroeste do Rio Grande, onde fundaram os Sete Povos das Missões, que funcionavam de forma independente dos governos europeus metropolitanos e não se preocuparam em respeitar as decisões adotadas a partir de 1750. Essa situação motivou a repressão às Missões. Apesar da resistência por parte de padres e índios, as Missões foram desmanteladas, mas deixaram um legado que, por muito tempo, seria a base da economia gaúcha: os grandes rebanhos de bovinos e cavalos, criados soltos pelas pradarias. A formação das Vacarias permitiu que se realizasse, na área do atual Estado, a atividade de preia do gado selvagem. Caçava-se o gado e se retirava o couro, que era exportado para a Europa. A carne que não era consumida pelos predadores, era deixada no campo, apodrecendo. Todos predavam gado: portugueses, índios de aldeamentos, moradores das terras espanholas que tinham permissão de suas autoridades para vaquear, indivíduos que vaquejavam por conta própria. Enquanto isso, Portugal e Espanha continuavam na sua dança para ver quem, afinal, seria o dono do Sul do Continente. Tratados não cumpridos por ambas as partes e a política de “é de quem conseguir manter” tornavam a região que é o atual Rio Grande do Sul uma terra de ninguém, onde as duas coroas disputavam a posse do território. Era ainda esse o quadro do território riograndense quando, no final do século XVII, se descobriu ouro na região das Minas Gerais. A descoberta de ouro (e depois de diamantes) causou um grande afluxo populacional para a região. A população da área cresceu exponencialmente, causando a falta de alimentos e de produtos básicos. De 1700 a 1760, calcula-se que por volta de 700 mil pessoas imigraram para o Brasil com destino à Minas Gerais. A esses, se somaram um grande número de escravos africanos, bem como migrantes vindos de outras áreas do Brasil e escravos transferidos ilegalmente da região de produção de açúcar no Nordeste. 44 Não é de se admirar, portanto, que no início do século XVIII a falta de gêneros alimentícios tenha causado grandes crises, acompanhadas por expressiva mortalidade. As crises mais fortes foram as de 1697-1698, 1700-1701 e 1713. A atividade mineradora, o crescimento das cidades e a formação de uma elite com recursos aumentaram a necessidade de animais para transporte de carga. Onde encontrar esses animais? A resposta era fácil – no sul do continente, onde estavam as enormes Vacarias. A bem da verdade, a região não era propriamente portuguesa. No início do período de mineração a América ainda era dividida pelo Tratado de Tordesilhas, e teoricamente os rebanhos pertenciam à Espanha. Mas isso era um detalhe, resolvido pela política de ocupação efetiva do território. E foi assim, vindo de uma região de posse duvidosa, que o gado gaúcho entrou na história brasileira. O primeiro grande tropeiro foi um fidalgo português, Cristóvão Pereira de Abreu, descendente do condestável Nuno Álvares Pereira. Cristóvão de Abreu nasceu em Ponte de Lima, em 1680, e veio para o Rio de Janeiro aos 24 anos. Aqui, casou com D. Clara de Amorim, com quem não teve filhos. Em 1722, aos 42, fez um grande negócio. Arrematou o monopólio de couros do sul do Brasil, mediante o compromisso de pagar 70 mil cruzados para a Fazenda Real anualmente. Tratou de começar a explorar esse manancial de ganhos, chegando a exportar 500 mil peças de boi por ano, através da Colônia de Sacramento (então de posse dos Portugueses). Cristóvão de Abreu também instalou sua própria estância, situada entre o Canal de Rio Grande e a planície de Quintão. Mas o seu grande feito seria estabelecer um caminho por terra entre os pampas e o mercado que clamava por gado. Francisco de Souza Faria, morador de Laguna, havia levado dois anos abrindo uma estrada que ia de Morro dos Conventos, em Araranguá, na planície costeira da atual Santa Catarina, até os Campos de Curitiba, no planalto. A obra teve início em 1717, e por essa estrada Cristóvão Pereira subiu pela primeira vez levando 800 cavalos e mulas, possibilitando a ligação entre o Sul e a vila de Sorocaba em São Paulo, que se tornou o grande entreposto de venda de gado durante o período da mineração, no ano de 1931. No ano seguinte, em uma segunda viagem – agora com 3 mil animais e 130 tropeiros – Cristóvão de Abreu alargou e melhorou o caminho, construindo vários pontilhões. Levou um ano e dois meses para atingir Sorocaba – e iniciou um novo ciclo da economia gaúcha. Mais tarde, Cristóvão Pereira abriu um novo caminho, que ligava diretamente os campos de Viamão aos Campos de Lajes. Ao longo desse caminho foram surgindo povoados: Santo Antonio da Patrulha, São Francisco de Paula, Capela de Nossa Senhora da Oliveira da Vacaria. As aventuras do primeiro tropeiro não pararam por ai. Mais tarde, em 1735, foi convocado pelo governo português para defender as fronteiras portuguesas por terra, enquanto o Brigadeiro José da Silva Paes prestava apoio marítimo. O governo português tinha conhecimento de que os espanhóis pretendiam ocupar toda a área que ia até a ilha de santa Catarina, e era preciso garantir a presença portuguesa. Cristóvão aceitou o desafio e com 160 homens partiu para o Sul, sustentando a entrada do canal de Rio Grande por cinco meses, até que o Brigadeiro Silva Pais chegou com suas tropas por mar. No ponto onde Cristóvão de Abreu havia se instalado com seus homens, e onde o brigadeiro desembarcou, foi fundado o ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 45 quartel e vila de Rio Grande. E seria ali que, em 1755, morreria Cristóvão Pereira de Abreu, o homem que colocou o Rio Grande do Sul no mapa econômico do Brasil. As duas rotas originais estabelecidas por Cristóvão de Abreu perderam importância quando se passa a explorar diretamente a região das Missões, e se passa a utilizar um caminho que leva diretamente à essa área, partindo de Vacaria e indo direto a Cruz Alta, então na fronteira entre Portugal e Espanha. Uma vez estabelecidas as rotas de transporte, as tropas se multiplicaram e o comércio de gado deslanchou. A preferência era pelos muares, já que mulas e burros eram mais adequados para o transporte em uma região montanhosa como Minas Gerais. Mas também se exportava gado vacum e cavalos. Estabelecer um número exato de animais exportados é quase impossível. Há relatos falando em mais de 50 mil animais, com grande predominância de muares, na metade do século XVIII. As tropas saiam do Rio Grande do Sul em setembro ou outubro, época em que, graças às chuvas, encontrariam melhores pastos pelo caminho. Prosseguiam até Curitiba, onde ficavam por algum tempo, engordando o gado. De lá, partiam para Sorocaba, o grande centro de comércio de gado, a tempo de participar das grandes feiras que se realizavam entre abril e maio. O fim de um ciclo A atividade de tropeiragem teve seu auge ente 1725 e o final do século, quando a atividade mineradora começou a declinar. Nessa época, entretanto, um novo produto permitiu que o Rio Grande do Sul continuasse a desempenhar o seu papel de fornecedor de outros centros produtores brasileiros. Era o charque, que começou a ser produzido na região de Pelotas por volta de 1780. Com ele, os rebanhos gaúchos encontrariam uma nova destinação. Entretanto, os tropeiros continuaram a percorrer os caminhos do Sul, ainda que em menor escala. A tropeiragem sofreu um grande baque com a instalação das ferrovias, no final do século XIX. Manteve-se, contudo, em menor escala, até o a década de 50 do século XX.Centro de Tradições Gaúchas 46 A Sociedade Sul-Riograndense foi fundada em 08 de novembro de 1857 pelo professor e filólogo Antônio Alvares Pereira Coruja. É, portanto, a mais antiga entidade representativa do povo gaúcho que existe, seguida de longe pelo "Grêmio Gaúcho", fundado em 22 de maio de 1898, a "União Gaúcha de Pelotas", em 10 de setembro de 1899, "O Centro Gaúcho de Bagé", em 20 de setembro de 1899 e o "Grêmio Gaúcho de Santa Maria" e, 08 de setembro de 1901. Em 1947, o jovem estudante do Colégio Estadual Júlio de Castilhos, de Porto Alegre, João Carlos D'Ávila Paixão Côrtes, recém chegado de Santana do Livramento, sai para tomar um cafezinho e avista uma bandeira do Rio Grande do Sul servindo de cortina para tapar o vidro de uma janela do bar, entre cachaça e cigarro. O comerciante não sabia do que se tratava aquele pano. Foi a gota d'água. Naquele ano Paixão Côrtes cria, juntamente com alguns colegas, o Departamento de Tradições Gaúchas, no Colégio Julinho. O grupo acompanha de-a-cavalo o traslado dos restos mortais do General Farroupilha David Canabarro. A primeira Ronda Crioula é criada para preservar, desenvolver e proporcionar a revitalização à cultura rio-grandense. O DTG comemora os 112 anos da Revolução Farroupilha. Acende-se da Pira da Pátria pela primeira vez o fogo que os tradicionalistas denominam de Chama Crioula. Em 24 de abril de 1948 é fundado o 35 CTG, o pioneiro daquelas entidades. Hoje são mais de 1700 CTGs em todo o País. Em 1959, quando é criado o Conselho Coordenador, o Estado já conta com diversos CTGs. Em 1966 cria-se o Movimento Tradicionalista Gaúcho e em 1975, o Conselho Coordenador transforma-se em Conselho Diretor, ativo até a atualidade. Encontro de Artes e Tradição Gaúcha Na década de 70, o MOBRAL - Movimento Brasileiro de Alfabetização. empenhava-se em combater o alto nível de analfabetismo no país. No Rio Grande do Sul, além de alfabetizar, também almejava divulgar a cultura como forma de elevar a auto-estima da população e oportunizar o surgimento de novos valores artísticos. O professor e advogado Praxedes da Silva Machado, responsável cultural pelo Mobral, buscou a parceria do Movimento Tradicionalista Gaúcho e, com a participação do IGTF Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, criaram o Festival ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 47 Estadual de Arte Popular e Folclore, que se popularizou como Festival Estadual do Mobral. O evento foi idealizado para ser itinerante, isto é, cada ano em uma cidade diferente. A primeira edição deste festival foi no ano de 1977, cuja fase final foi realizada na cidade de Bento Gonçalves. A 2a em 1978 - Porto Alegre, a 3a em 1979 -Lajeado, a 4a em 1980 - Cachoeira do Sul, a 5a em 1981 - Lagoa Vermelha, a 6a em 1982 - Canguçu, a 7a em 1983 - Soledade e a 8a em 1984 - Farroupilha. Em 1985, a 9a edição seria em Rio Pardo. Como as autoridades do município desistiram, Farroupilha passou a sediar novamente. Decidiu- se, então, não mais alternar o local, uma vez que Farroupilha se propunha em continuar realizando anualmente a final. A partir de 1986, o evento passa a ser promovido pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, em parceria com a Prefeitura Municipal de Farroupilha e o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore -IGTF, passando a ser denominado FEGART - Festival Gaúcho de Arte e Tradição. Sua realização acontecia sempre no último final de semana de outubro, permanecendo em Farroupilha da 1ª à 11ª edições, portanto, ate o ano de 1996. Tendo em vista o crescimento do festival e das necessidades estruturais e financeiras para sua realização e a manifestação da Prefeitura de Farroupilha de não mais sediar o evento, em 1997, a 12a edição, foi transferida para Santa Cruz do Sul. O evento passou a ser realizado no segundo final de semana de novembro de cada ano. Por questões que envolveram o nome do festival, reivindicado pela Prefeitura de Farroupilha, houve a necessidade de mudança, no ano de 1999, passando a denominar-se ENART - Encontro de Artes e Tradição Gaúcha. No ano de 2013 será realizada a 28ª edição e 37ª edição desde o festival originário. Nativismo O movimento nativista surge com a criação da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana, em 1971 48 A Califórnia da Canção é promovida por um grupo ligado ao CTG Sinuelo do Pago, em Uruguaiana Na primeira edição, sessenta pessoas fazem a platéia Nos tempos de ouro da Califórnia, entre a décima e a vigésima edição, chega atrair 60 mil pessoas Na década de 80 surgem novos festivais e um verdadeiro turbilhão nativista começa a tomar conta do Estado Os jovens passam a vestir bombachas, sair às ruas dos grandes centros com suas mateiras e formar rodas de mate nas praças Apressadamente alguns tradicionalistas julgam que o movimento é apenas um modismo Hoje já contabiliza três décadas de atuação e centenas de títulos de festivais Atualmente são em média 40 festivais por ano, mas já houve época com mais eventos deste tipo do que finais de semana Com a grande produção musical gerada pelo nativismo surgem novos programas de rádio e televisão A mídia começa olhar com atenção para os nativistas e vê fundamento nos temas que são abordados pelos novos valores que começam surgir ano a ano Os festivais tornam se mercado de trabalho e hoje há um elenco de mais de mil nomes cadastrados como compositores, músicos e intérpretes deste gênero musical só no Rio Grande do Sul Na década de 80 surge a primeira emissora de rádio segmentada exclusivamente na cultura gaúcha, a Rádio Liberdade FM A Salamanca do Jarau No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 49 Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. Vai então, levantou-se, assoleado e foi até a beira da lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo. Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante e qual não é a surpresa do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo. Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá - os padres diziam isso!- tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens e arrastava todos para o inferno. Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada jamais tocada por homem. Aquele pelo qual se apaixonasse seria feliz para sempre. Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniagá na guampa e voltou correndo para a igreja, sem se importar com o calor. Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco que chegasse a noite. Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos. Ora, vinho só o da Santa Missa. Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite. No outro dia, o sacristão não prestava para nada. Mas, quando chegou a noite, tudo se repetiu. E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. A princesa moura transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai, mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor foi preso e acorrentado. Como o crime era horrível - contra Deus e a Igreja! - foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado. No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé. Então, lá das barrancas do rio Uruguai a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo. Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, um valos enormes, rasgandotudo. Por um desses valos ela finalmente chegou à igreja bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão. O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo afundou e tudo desapareceu de vista. E quando as coisas clarearam a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai. Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá e ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz. Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida. E lá foram morar, os dois. Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse 7 Provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida. Na Salamanca do Jarau a Teiniaguá e o sacristão se tornaram os pais dos primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro e pula uma elevação para outra. 50 O Gaúcho é uma denominação dada às pessoas ligadas à atividade pecuária em regiões de ocorrência de campos naturais, do bioma denominado pampa, que ocorre no sul da América do Sul, em países como a Argentina, Brasil e Uruguai, e também aos nascidos no estado brasileiro de Rio Grande do Sul. As peculiares características do seu modo de vida pastoril teriam forjado uma cultura própria, derivada do amálgama da cultura ibérica e indígena, adaptada ao trabalho executado nas propriedades denominadas estâncias. É assim conhecido no Brasil, enquanto que em países de língua espanhola, como Argentina e Uruguai é chamado de gaucho (acento tônico no "a", diverso do português, cujo acento tônico é no "u"). Algumas vezes o termo também é considerado similar ou equivalente a outros estilos de vida rurais em outras culturas, como o americano cowboy, chileno huaso e mexicano charro, por exemplo. O termo também é correntemente usado como gentílico para denominar os nascidos no estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Além disso, serve para denominar um tipo folclórico e um conjunto de tradições codificadas e difundidas por um movimento cultural agrupado em agremiações, criadas com esse fim e conhecidas como Centro de Tradições Gaúchas ou CTG. Brasão do Rio Grande do Sul Escudo oval. Em campo de prata: um quadrilátero de prata com um sabre de ouro, em pala, sustentando na ponta um barrete frígio, de vermelho, entre dois ramos floridos de fumo e erva- mate, de sua cor, que se cruzam sobre o punho do sabre; inscrito num losango, com duas estrelas de cinco pontas de ouro colocadas nos ângulos superior e inferior; ladeado por duas colunas jônicas compostas com capitel e três anéis no terço inferior de fuste liso de ouro, encimadas por uma bala de canhão antigo, de preto assentes sobre um campo ondulado de verde em ponta. Uma bordadura de azul, perfurada de preto, carregada com a inscrição REPÚBLICA RIO- GRANDENSE e a data 20 DE SETEMBRO DE 1835, de ouro, separadas por duas estrelas de cinco pontas, também de ouro ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 51 Um listel de prata com a legenda "LIBERDADE IGUALDADE HUMANIDADE", de negro. O escudo fica sobreposto sobre quatro bandeiras tricolores (verde, vermelho e amarelo) entre-cruzadas duas a duas com hastes rematadas de Flor-de-lis invertida, de outro. As duas bandeiras dos extremos estão decoradas com uma faixa vermelha com bordas de ouro, atada junto à ponta flor-de-lisada; uma lança de cavalaria, de vermelho, rematada por uma flor-de-lis invertida, de ouro, entre quatro fuzis armados de baionetas de ouro, e na base do conjunto dois tuboscanhão, de negro, entrecruzados, semi-encobertos pelas bandeiras. Fauna e flora locais O Estado do Rio Grande do Sul pode ser dividido em quatro principais domínios geológicos: a Planície Costeira do Rio Grande do Sul, o Planalto das Araucárias, Depressão Central e o Escudo Sul-Riograndense, de acordo com o mapa 52 ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 53 Matriz produtiva Número de empregados, massa salarial e média salarial Porto Alegre é a 6ª maior economia do Brasil 54 ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 55 Dentro da indústria de transformação, o Rio Grande do Sul possui destaque nacional em vários segmentos: Maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Fumo - 49,7% ● Couro e Calçados - 29,0% ● Automação ● Biodiesel – 28% ● Máquinas agrícolas e rodoviárias – 46,7% ● Vinhos – aproximadamente 90% ● Reboques e carrocerias Segundo maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Produtos de metal - 13,5% ● Máquinas e equipamentos - 16,8% ● Móveis - 20,9% Terceiro maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Produtos de borracha e material plástico - 8,4%¹ Quarto maior parque industrial do Brasil (% produção nacional): ● Alimentos - 7,9% ● Produtos de Madeira - 8,3% ● Produtos Químicos - 9,2% ● Veículos automotores - 9,1% ● Embarcações, aeronaves, veículos militares e outros equipamentos de transporte - 6,7% Matriz energética O Rio Grande do Sul possui mais de 300 empreendimentos em operação, com 9,3 GW de potência, conforme informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Para os próximos anos, está prevista uma adição de 2,7 GW na capacidade de geração do Estado, proveniente de 20 empreendimentos em construção e mais 31 com a outorga assinada. A oferta de energia no Estado provém de usinas hidrelétricas, de termoelétricas a óleo combustível, a gás natural e a carvão mineral, e de fontes alternativas de energia como eólica e pequenas centrais termo e hidrelétricas. O Rio Grande do Sul vem investindo, ainda, no desenvolvimento de biocombustíveis como biodiesel, etanol e biogás. O Estado já conta, em 2015, com nove 56 usinas para a fabricação de biodiesel, com produção anual de 606 milhões de litros e capacidade nominal anual para produzir 1.363 milhões de litros, sendo o maior produtor nacional (ANP, 2015). A distribuição de energia elétrica é feita principalmente por três grandes concessionárias: Distribuidora Gaúcha de Energia S.A. (AES Sul), Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e Rio Grande Energia S.A. (RGE). Também há cinco pequenas concessionárias e 15 cooperativas de eletrificação rural. Carvão O Rio Grande do Sul é o Estado brasileiro com o maior número de plantas termelétricas – quatro das 13 usinas instaladas no país. Aproximadamente 90% das reservas brasileiras de carvão estão no Estado, o que representa 28 bilhões de toneladas. No município de Candiota, está a maior reserva de carvão mineral do Brasil, 38% do total nacional. O município abriga as usinas Presidente Médici (446 MW) e Candiota III (350 MW), estando em construção a usina Pampa Sul (340 MW). As outras duas usinas estão em Charqueadas (72 MW) e São Jerônimo (20 MW). O Estado busca fomentar o desenvolvimento de tecnologias que visem ao melhor aproveitamento do carvão mineral, pesquisando alternativas de uso, além da queima direta para a geração de energia elétrica. Outra prioridade é estudar as potencialidades de utilizar o carvão gaúcho para a indústria carboquímica. Parques Eólicos O RS é um dos Estados brasileiros com maior potencial de energia eólica, sediando inclusive o maior complexo eólico da América Latina, o de Campos Neutrais, localizado no Litoral Sul. Em consonância com o país, o Rio Grande do Sul vem investindo fortemente nessa fonte de energia desde 2006. Até 2018, o Estado terá capacidade instalada de 2.029,6 MW em 105 parques, contabilizando investimentos de R$ 8,4 bilhões. O potencial de energia eólica em solo gaúcho é estimado em 115 GW para a altura de 100 metros (AtlasEólico Rio Grande do Sul, 2014). Além disso, há uma boa infraestrutura de redes de transmissão e distribuição de energia elétrica e grande facilidade de conexão nas regiões com maior potencial de ventos. Apresenta ainda boa interligação entre os sistemas elétricos de transmissão da Região Sul e do Sudeste. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 57 Evolução da capacidade instalada de Geração Elétrica no RS 2005-2017 (MW) 58 Matriz de transporte O Rio Grande do Sul conta com uma rede multimodal de transportes relativamente bem estruturada e capilarizada. Entretanto, possui uma matriz excessivamente centrada no transporte rodoviário. Considerando a matriz modal do Rio Grande do Sul, em 2014 as rodovias eram responsáveis por 88% do total transportado¹. Dados mais recentes² indicam que, em 2017 o modal rodoviário do Rio Grande do Sul continuava respondendo por aproximadamente 88% do total transportado, enquanto no Brasil a participação deste modal atingia 65%. No Rio Grande do Sul há rotas hidroviárias interiores e portos importantes como o de Porto Alegre e de Rio Grande e uma rede ferroviária extensa, com potencial para ser explorado. Há também uma rede de aeroportos regionais e três aeroportos internacionais , com destaque para o Aeroporto Salgado Filho, na capital do Estado, que apresenta a maior movimentação de passageiros e de cargas. Há, ainda, uma rede dutoviária que serve principalmente o nordeste do Estado com transporte de petróleo e derivados e gás natural. No entanto, a movimentação de cargas e de passageiros é realizada predominantemente por rodovias que interligam as várias regiões do Estado aos outros estados brasileiros e aos países do MERCOSUL. Devido à sua localização geográfica, passam pelo Estado boa parte dos produtos comercializados entre o Brasil e o bloco de países do MERCOSUL, principalmente a Argentina. Com isso, rodovias como a BR-116, BR-101, BR-386 e BR-290, entre outras, apresentam volumes de tráfego cada vez mais pesado, principalmente em momentos de escoamento de safra agrícola. A tradição exportadora de grande parte da agricultura e indústria gaúchas também contribui para definir a conformação das redes modais que ligam as várias regiões produtoras do Estado à capital, ao Porto de Rio Grande e a Uruguaiana. Estruturas importantes como os pontos alfandegados e portos secos alfandegados, localizados em pontos estratégicos do Estado, dão suporte à movimentação de cargas pelos diferentes modais, fornecendo desembaraço aduaneiro e fiscalização. Quanto à atuação de Operadores de Transporte Multimodal (OTM), em maio de 2020 no RS estavam cadastradas pela ANTT – Agência Nacional de transportes Terrestres, 41 empresas com sede em 11 municípios. Das 41 empresas de OTM com operação nacional e internacional, 11 operavam no MERCOSUL³. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 59 O RS possui aproximadamente 17.000km de rodovias federais e estaduais O sistema rodoviário é responsável pela movimentação da maior parte da carga transportada no Rio Grande do Sul e pela quase totalidade do transporte de passageiros. De acordo com o Departamento Autônomo de Estadas de Rodagem - DAER, o estado conta com aproximadamente 17.464 km de rodovias federais e estaduais, além das malhas municipais. A malha federal estrutura a rede de transporte com rodovias longitudinais, diagonais, transversais e de ligação. A rede estadual articula-se a federal, sendo mais densa e capilarizada nas regiões norte e nordeste do estado em função do maior número de municípios e de núcleos urbanos. Segundo o DAER, a malha rodoviária pavimentada do Estado conta com uma extensão aproximada de 13.742 km. Destes, cerca de 5.585 km correspondem a rodovias federais e 8.000 km correspondem a rodovias estaduais¹. Possui também aproximadamente 3.722 km de estradas federais e estaduais não pavimentadas, dentre as quais 1.326 Km encontram- se em obras de pavimentação. As rodovias BR-116, BR-101, BR-386 e BR-290 recebem grandes fluxos de escoamento da produção, especialmente da safra agrícola, apresentando os volumes de tráfego mais elevados por estabelecerem as ligações entre o Portos de Rio Grande e Porto Alegre, Uruguaiana e os países do MERCOSUL e os demais estados brasileiros. 60 A malha ferroviária gaúcha, controlada por longo período pela Rede Ferroviária Federal - RFFSA, foi concedida para a iniciativa privada em 1997 à empresa América Latina Logística - ALL que, até 2013, detinha também áreas de concessão do norte da Argentina. A operação de concessão mais recente é da empresa Rumo, nova companhia resultante da fusão Rumo - América Latina Logística – ALL. Com concessão para o período de 1997 a 2027 e operação das malhas dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo é chamada de RMS – Rumo Malha Sul. A malha aeroviária do Estado conta com um conjunto de aeroportos regionais e locais e três aeroportos internacionais, dentre os quais o mais importante é o Aeroporto Internacional Salgado Filho, localizado em Porto Alegre, capital do Estado. Segundo a ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil, em 2018, o Aeroporto Salgado filho foi o 9º aeroporto do Brasil em número de decolagens no mercado doméstico e transportou 3.797.970 passageiros. Os aeroportos em operação no Rio Grande do Sul atendem principalmente a movimentação de passageiros em vôos comerciais regulares e vôos particulares e militares. Há também infraestrutura para movimentação de cargas nos aeroportos de Porto Alegre, Caxias do Sul, Passo Fundo e Santo Ângelo. Em Rio Grande e Pelotas, Santa Maria e Canoas há movimentação de cargas militares e científicas. Os campos de pouso servem como apoio ao sistema aeroportuário e são utilizados principalmente para vôos agrícolas, de turismo e lazer e de instrução. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 61 Principais Portos do Rio Grande do Sul O Rio Grande do Sul apresenta uma importante malha hidroviária concentrada nas bacias hidrográficas do Guaíba e Litorânea. Os principais rios navegáveis: Jacuí e Taquari, Sinos, Caí e Gravataí em menor proporção. Lago Guaíba e Laguna dos Patos são utilizados quase exclusivamente para o transporte de cargas através dos terminais públicos e privados. Os principais portos públicos são os Portos do Rio Grande, Pelotas, Porto Alegre e Estrela, onde operam também Terminais de Uso Privativo - TUPs. Atualmente há TUPs distribuídos pelas hidrovias fora dos portos públicos com registros de movimentação crescente.Porto 62 PORTO DE RIO GRANDE ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 63 A denominação "Rio Grande" vem do fato de, dois séculos atrás, os navegantes que se dirigiam à Colônia do Sacramento entenderem que a embocadura da Lagoa dos Patos fosse a foz de um grande rio. O primeiro registro de transposição da Barra do Rio Grande é de 1737, quando o Brigadeiro José da Silva Paes chegou para iniciar o povoamento desta região que passou a ser conhecida como Rio Grande de São Pedro ou São Pedro do Rio Grande, e construiu a fortificação de madeira denominada de Forte Jesus Maria José. Segundo historiadores, muitos que visitavam a região não acreditavam no seu desenvolvimento, ou mesmo que viesse a se constituir uma cidade aqui, devido às condições naturais pouco favoráveis. A primeira providência oficial para melhorar a segurança da navegação ocorreu em 1846, quando o Governo Imperial criou a Inspetoria da Praticagem da Barra. Após esta providência, reduziram-se consideravelmente os acidentes na Barra. Passou a desenvolver-se uma crescente navegação através da Barra, sendo contadas em 1847, 668 embarcações que a transpuseram. Surgiu um pequeno porto, localizado onde hoje é o Porto Velho, no centro da cidade, freqüentado principalmente por embarcações a vela. A contínua agitação das águas na embocadura, as freqüentes mutações dos canais e as profundidades insuficientes que raramente ultrapassavam 3,6 metros, tornavam a transposiçãoda Barra extremamente perigosa, cobrando um pesado tributo à navegação em acidentes marinhos, inviabilizando o comércio e o desenvolvimento da região. Em 1855, o Ministério da Marinha enviou o Ten.Cel. Eng. Ricardo Gomes Jardim, especializado em engenharia hidráulica, para estudar a Barra e o Porto e concluiu "que devem reputar-se inexeqüíveis, senão mais nocivos do que úteis, quaisquer construção de pedra ou de madeira, no intuito de prolongar o leito do rio ou dar maior força à corrente". A seguir, outros consideraram a Barra "não suscetível de melhoramentos por meio de trabalhos hidráulicos". Em 1860, a profundidade da Barra não ia além de 2,20 metros. Somente em 1875, Sir John Hawkshaw, comissionado pelo Governo Imperial, visitou o Porto do Rio Grande e propôs a construção de quebra-mares partindo do litoral para o oceano, de um e outro lado da embocadura com uma extensão de cerca de 2 milhas (3.220m) cada. Em 1906, o engenheiro Elmer Lawrence Cortheill foi contratado pelo Governo brasileiro para executar as obras de fixação da Barra de Rio Grande, com aprofundamento para 10m, e a construção de dois molhes convergentes e um novo porto na cidade do Rio Grande (hoje conhecido como Porto Novo). Cortheill organizou a companhia "Port of Rio Grande do Sul", com sede em Portland, Estados Unidos, que construiria e exploraria o porto por 70 anos. O projeto da Barra, a ser executado, originou-se da comissão presidida pelo engenheiro Honório Bicalho em 1883, posteriormente pouco alterado, analisado e aprovado pelo engenheiro holandês Pieter Caland, em 1885, que propôs a adoção de molhes convergentes. Em 1908, devido às dificuldades do engenheiro Cortheill conseguir nos EUA o capital necessário à execução das obras, constituiu-se em Paris a "Compagnie Française du Port du Rio Grande do Sul", com capitais europeus, à qual foi transferido o contrato através do decreto nº 7.021, de 09 de julho de 1908. Dois anos depois, iniciaram-se efetivamente os trabalhos de construção dos molhes e do novo porto. Em 1º de março de 1915, aproximadamente às 17h30min, o navio-escola Benjamin Constant, da Armada nacional, calando 6,35 metros, transpôs a Barra. Por volta das 18h30min, atracou no cais do Porto Novo do Rio 64 Grande, em meio a solenidades festivas. Em 15 de novembro de 1915, foi inaugurado o primeiro trecho de cais do Porto Novo, numa extensão de 500 metros, logo entregues à operação. O trabalho teve continuidade em 1919, quando, em vista das dificuldades enfrentadas pela companhia francesa, após a 1ª Grande Guerra, foram encampadas pela União e transferidas ao Estado do Rio Grande do Sul as obras da Barra e do Porto do Rio Grande. Em 1934, a União renovou o contrato de concessão portuária ao Estado do Rio Grande do Sul, pelo prazo de 60 anos, incluindo a manutenção de hidrovias do Estado. Em 1951, face à importância que passou a adquirir o complexo hidro-portuário riograndense, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul criou, através da lei nº 1561, de 1º de outubro de 1951, o Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais - Deprc, autarquia que englobou os serviços concedidos, entre eles o Porto do Rio Grande, e outros executados pelo Estado na área hidroviária. Em 1970, pela dragagem do canal de acesso da Barra para navios calando até 40 pés e pela incorporação da área de expansão (Superporto), abriram- se amplas perspectivas de crescimento e desenvolvimento do Porto do Rio Grande. No ano de 1994, mês de agosto, expirou o prazo do Contrato de Concessão Portuária ao Estado, que foi prorrogado até 31 de março de 1997 para possibilitar os ajustes impostos pela Lei nº 8.630/93. A Lei 8.630/93 mudou significativamente as relações de trabalho e a operação nos portos brasileiros, e em Rio Grande não foi diferente. Hoje, entre outras alterações, a operação portuária é feita totalmente por operadores portuários privados. Porto de Porto Alegre O porto de Porto Alegre, mesmo possuindo características fluviais, é classificado como porto marítimo, conforme Resolução Nº 2969 -ANTAQ, de 4 de julho de 2013. Mantém oito quilômetros de cais acostável, dividido entre os cais Mauá, Navegantes e Marcílio Dias. Sua estrutura envolve 25 armazéns com 70 mil m², numa área total de 450 mil m². Desde o primeiro semestre de 2005, a área de operação do porto público está concentrada no cais ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 65 Navegantes, que encontra-se regido pelas normas internacionais de segurança ISPS-CODE, desde 2010. Possui capacidade de operação de até 3 navios de longo curso, simultaneamente. Desde o final de 2012, o porto da Capital participa do programa desenvolvido pelo Governo Federal, denominado Porto Sem Papel - PSP, onde se concentram todos seus dados portuários, compartilhando-os com os órgãos anuentes ( Polícia Federal, Receita Federal, VIGIAGRO, ANVISA, Marinha do Brasil, dentre outros). O zoneamento do porto da Capital gaúcha dispõe de áreas distintas para terminais multipropósito, de grãos, de fertilizantes e carga geral. Nos últimos cinco anos, o porto de Porto Alegre juntamente com os terminais privados movimentou cerca de 6 milhões de toneladas/ano, em produtos, tais como, cabos de amarração de plataforma marítima, fertilizantes, sal, grãos vegetais, transformadores elétricos e celulose. O Porto de Pelotas, administrado pela Superintendência de Portos e Hidrovias, exerce importante papel no processo de desenvolvimento econômico da metade sul na geração de trabalho e renda e na diminuição dos custos logísticos para as empresas exportadoras e importadoras da região. As operações de cargas e descargas são efetuadas com rapidez e segurança, garantidas pela constante qualificação do trabalho, da modernização dos seus equipamentos, da conservação e adequação dos armazéns e da segurança realizada por profissionais especializados. O porto recuperou a sua condição de porto alfandegado, pela Receita Federal e considerando sua proximidade com o porto de Rio Grande, é também um porto alimentador. Tem boa disponibilidade de armazenagem em áreas fechadas ou abertas. O porto oferece os serviços de suprimento de água e energia elétrica e mão-de-obra cadastrada no Orgão Gestor de Mão–de-Obra. 66 ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 67 68 Unidades de conservação ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 69 70 O Rio Grande do Sul é considerado pioneiro no trato de questões ambientais desde os anos 50. Conforme dados disponíveis, o Estado conta atualmente com 108 Unidades de Conservação, Destas, 10 são de competência federal, 24 estaduais, 35 municipais e 39 são Reservas Particulares do Patrimônio Natural. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 71 Organização política e territorial Divisão política Regiões administrativas Hierarquia urbana Regionalização do IBGE 72 O Brasil é uma nação independente e autônoma politicamente, dispõe de uma região separada em estados, que nessa condição são 26, fora o distrito federal que corresponde a uma unidade da federação que foi estabelecida com o objetivo de acolher a metrópole do Brasil e também o polo do Governo Federal. Foram diversas as razões que conduziram o Brasil a fazer uma separação interna da região, dentre eles os principais foram os aspectos político-administrativos e históricos. Esse procedimento começou ainda no período colonial, instante esse que o Brasil estava separado em capitanias hereditárias, dessa maneira estados como Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte são provenientes de velhas capitanias constituídas no antigo momento onde prevalecia esse modelo de separação. Uma das razões que beneficiavam a separação interna da nação é quanto à gestão administrativa da região, onde se separa as obrigações de fiscalizar em porções menores, pois grandes distancias territoriais sem posse e inexistência de estado pode gerar uma sequência de problemas, até a perda de regiões para nações vizinhas. No final do séculoXIX quase todos os estados estavam com seus próprios formatos atuais, contudo certos estados apareceram depois, como Tocantins, em 1988, e Mato Grosso do Sul, em 1977, gerando uma reorganização na posição cartográfica e governamental do interior da nação. Estado quer dizer unidade da federação brasileira. O Brasil apresenta leis específicas, uma vez que está estruturado politicamente e retém toda autonomia. As leis são formuladas em padrão federal e são independentes, contudo, municípios e estados apresentam leis específicas, porém que são submetidas às leis nacionais, nesse caso, a Constituição Federal. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 73 Além da separação em federações há uma no interior dos estados, a regionalização em cidade, que apresenta leis próprias que são dependentes das leis federais, essa regionalização ainda pode ser separada em distritos. Na separação administrativa do Brasil, têm-se os estados, os municípios, os distritos e o distrito federal. Estados: unidades federativas do país. São gerenciados por governos estaduais, que são dependentes do Governo Federal. Cada estado tem sua própria capital, no qual está implantada a sua matriz administrativa. Municípios: equivalem as unidades administrativas que são menores que os estados. São gerenciadas pelos governos municipais, mais popularmente conhecidos como prefeituras, que são dependentes do Governo Federal e do Governo Estadual. Distritos: são unidades governamentais que fazem parte dos municípios. Um município pode ser formado por um ou mais distritos. O distrito matriz normalmente apresenta o mesmo nome que o município e os outros distritos costumam ser denominados de vilas. Quando uma vila se expande, ela é promovida a município. Distrito Federal: é a matriz do governo federal, lugar onde está a metrópole do país. É no Distrito Federal que estão às matrizes dos poderes executivo, legislativo e judiciário. No Brasil, o Distrito Federal está localizado no estado de Goiás, e a capital brasileira em Brasília. Região Norte A região Norte é composta por sete estados, onde estão localizadas a Floresta Amazônica e a Bacia Amazônica. É a maior região brasileira, mas a menos habitada. O clima encontrado na região norte é o equatorial. Região Nordeste A região nordeste apresenta noves estados. É a segunda região com a maior quantidade de habitantes. O clima pode mudar conforme a localização, sendo semi-árido no centro e úmido nas regiões ocidental e oriental. Região Centro-Oeste A região Centro-Oeste apresente só três estados mais o Distrito Federal. É a segunda maior região brasileira, mas a menos povoada. Tem a agropecuária como principal atividade econômica. O clima dominante é o tropical. Região Sudeste A região Sudeste apresenta quatro estado. É a região mais avançada, em razão do grande crescimento econômico, agrícola e industrial, além de ser a com mais habitantes. O clima muda conforme a localização, sendo tropical de altitude nos planaltos, e tropical atlântico no litoral. Região Sul A região Sul apresenta três estado. É a menor região do Brasil, mas a que possui grande influencia européia, principalmente germânica e italiana. O clima dominante é o subtropical. Dessa forma, o Brasil apresente o quinto maior território com relação aos demais países. O território do Brasil já passou por diversas divisões regionais. A primeira proposta de regionalização foi realizada em 1913 e depois dela outras propostas surgiram, tentando adaptar a divisão regional às características econômicas, culturais, físicas e sociais dos estados. 74 A regionalização atual é de 1970, adaptada em 1990, em razão das alterações da Constituição de 1988. O órgão responsável pela divisão regional do Brasil é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A primeira proposta de divisão regional do Brasil surgiu em 1913, para ser utilizada no ensino de geografia. Os critérios utilizados para esse processo foram apenas aspectos físicos – clima, vegetação e relevo. Dividia o país em cinco regiões: Setentrional, Norte Oriental, Oriental, Meridional. Em 1940, o IBGE elaborou uma nova proposta de divisão para o país que, além dos aspectos físicos, levou em consideração aspectos socioeconômicos. A região Norte era composta pelos estados de Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí e o território do Acre. Goiás e Mato Grosso formavam com Minas Gerais a região Centro. Bahia, Sergipe e Espírito Santo formavam a região Leste. O Nordeste era composto por Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro pertenciam à região Sul. Conforme a divisão regional de 1945, o Brasil possuía sete regiões: Norte, Nordeste Ocidental, Nordeste Oriental, Centro-Oeste, Leste Setentrional, Leste Meridional e Sul. Na porção norte do Amazonas foi criado o território de Rio Branco, atual estado de Roraima; no norte do Pará foi criado o estado do Amapá. Mato Grosso perdeu uma porção a noroeste (batizado como território de Guaporé) e outra ao sul (chamado território de Ponta Porã). No Sul, Paraná e Santa Catariana foram cortados a oeste e o território de Iguaçu foi criado. Os territórios de Ponta Porã e Iguaçu foram extintos e os estados do Maranhão e do Piauí passaram a integrar a região Nordeste. Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro formavam a região Leste. Em 1960, Brasília foi criada e o Distrito Federal, capital do país, foi transferido do Sudeste para o Centro-Oeste. Em 1962, o Acre tornou-se estado autônomo e o território de Rio Branco ganhou o nome de Roraima. ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 75 Em 1970, o Brasil ganhou o desenho regional atual. Nasceu o Sudeste, com São Paulo e Rio de Janeiro sendo agrupados a Minas Gerais e Espírito Santo. O Nordeste recebeu Bahia e Sergipe. Todo o território de Goiás, ainda não dividido, pertencia ao Centro-Oeste. Mato Grosso foi dividido alguns anos depois, dando origem ao estado de Mato Grosso do Sul. Com as mudanças da Constituição de 1988, ficou definida a divisão brasileira que permanece até os dias atuais. O estado do Tocantins foi criado a partir da divisão de Goiás e incorporado à região Norte; Roraima, Amapá e Rondônia tornaram-se estados autônomos; Fernando de Noronha deixou de ser federal e foi incorporado a Pernambuco. Microrregião - é definida como parte das mesorregiões que apresentam especificidades quanto à organização do espaço. Essas especificidades referem-se à estrutura de produção, agropecuária, industrial, extrativismo mineral ou pesca. A organização do espaço microrregional é também identificada pela vida de relações em nível local, isto é, pela interação entre as áreas de produção e locais de beneficiamento e pela distribuição de bens e serviços de consumo freqüente. Assim, a estrutura da produção para identificação das microrregiões é considerada em sentido totalizante, envolvendo a produção propriamente dita, distribuição, troca e consumo, incluindo atividades urbanas e rurais. Composição da Microrregião Osório - 23 municípios • Arroio do Sal • Balneário Pinhal • Capão da Canoa • Capivari do Sul • Caraá • Cidreira • Dom Pedro de Alcântara • Imbé • Itati • Mampituba • Maquiné • Morrinhos do Sul • Mostardas • Osório • Palmaresdo Sul • Santo Antônio da Patrulha • Tavares • Terra de Areia • Torres 76 • Tramandaí • Três Cachoeiras • Três Forquilhas • Xangri lá Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) - criados pela Lei nº 10.283, de 17 de outubro de 1994, os Coredes têm por objetivo a promoção do desenvolvimento regional, harmônico e sustentável, através da integração dos recursos e das ações de governo na região, visando à melhoria da qualidade de vida da população, à distribuição eqüitativa da riqueza produzida, ao estímulo à permanência do homem em sua região e à preservação e recuperação do meio ambiente. Compete aos Coredes as seguintes atribuições,dentre outras: promover a participação de todos os segmentos da sociedade regional no diagnóstico de suas necessidades e potencialidades, para a formulação e a implementação das políticas de desenvolvimento integrado da região; elaborar planos estratégicos de desenvolvimento regional; manter espaço permanente de participação democrática, resgatando a cidadania, através da valorização da ação política; constituir-se em instância de regionalização do orçamento do Estado, conforme estabelece o art. 149, parágrafo 8º, da Constituição do Estado; orientar e acompanhar, de forma sistemática, o desempenho das ações dos Governos Estadual e Federal na região; e respaldar as ações do Governo do Estado na busca de maior participação nas decisões nacionais. Composição do Corede Litoral - 2008 - 21 municípios Arroio do Sal - Balneário Pinhal - Capão da Canoa - Capivari do Sul - Caraá - Cidreira - Dom Pedro de Alcântara - Imbé - Itati - Mampituba - Maquiné - Morrinhos do Sul - Mostardas ATUALIDADES RIO GRANDE DO SUL | FABRÍCIO MÜLLER 77 - Osório - Palmares do Sul - Terra de Areia - Torres - Tramandaí - Três Cachoeiras - Três Forquilhas - Xangri-lá A hierarquia urbana é a maneira como as cidades organizam-se dentro de uma escala de subordinação. Na prática, ocorre quando vilas e cidades menores subordinam-se às cidades médias, e estas se subordinam às cidades grandes. Por meio da hierarquia urbana, pode-se conhecer a importância de uma cidade e a sua relação de subordinação ou influência sobre as outras que estão à sua volta. Essa teoria não é estabelecida apenas pelo tamanho da cidade ou pelo contingente populacional, mas especialmente pela quantidade e variedade de bens e serviços oferecidos. Quanto maior é a sua importância no processo produtivo, maior é a sua colocação na hierarquia urbana. A ideia de hierarquia urbana, especialmente na atualidade, está vinculada ao conceito de rede urbana, que nada mais é do que a rede de relações econômicas, sociais e culturais que integram as cidades. O esquema clássico da hierarquia urbana sofreu modificações importantes no decorrer das últimas décadas. A razão é a história das cidades e a evolução dos meios de comunicação e transportes, que são resultados do processo de Globalização. O processo de subordinação não mais obedece a uma escala contínua. Em diversas situações, os habitantes de cidades menores direcionam-se diretamente a centros urbanos como metrópoles regionais ou nacionais para adquirir bens ou serviços. Há três principais tipos de metrópoles no Brasil: as globais, as nacionais e as regionais. Metrópoles Globais representam as cidades com maior grau de complexidade socioeconômica e geográfica. Nesse sentido, suas respectivas redes de transporte e comunicação, bem como a sua integração territorial, possuem um nível de alcance que, muitas vezes, extrapola as fronteiras nacionais. são : RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO. Metrópoles Nacionais atuam basicamente da mesma forma que as globais, porém com um nível de abrangência que alcança somente a escala nacional, pois suas relações exteriores encontram-se apenas parcialmente desenvolvidas. Mesmo assim, essas cidades também são importantes pontos nas redes financeiras do Brasil. As metrópoles nacionais são: Porto Alegre (RS), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Brasília (DF), Salvador (BA) e Curitiba (PR). Metrópoles Regionais restringem suas áreas de influência a um nível regional não muito bem definido. Sendo assim, sua polarização é limitada, bem como os serviços por elas oferecidos. Em geral, as metrópoles regionais possuem uma forte conexão com metrópoles nacionais ou globais próximas. As metrópoles regionais brasileiras são: Goiânia (GO), Belém (PA) e Manaus (AM). Metrópole Porto Alegre; Capitais Regionais B: Caxias do Sul, Passo Fundo e Santa Maria; Capitais Regionais C: Ijuí, Novo Hamburgo e Pelotas-Rio Grande ; Centros Subregionais A: Bagé, Bento Gonçalves, Erechim, Lajeado, Santa Cruz do Sul, Santa Rosa, Santo Ângelo e Uruguaiana; Centros Subregionais B: Carazinho, Cruz Alta e Frederico Westphalen; Centros de Zona A: Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Camaquã, Cerro Largo, Encantado, Estrela, Guaporé, Ibirubá, Lagoa Vermelha, Marau, Montenegro, Nova Prata, Osório, Palmeira das Missões, Santiago, São Borja, São Gabriel, São Jerônimo, São Luiz Gonzaga, Sarandi, Soledade, Taquara, Torres, Três de Maio, Três Passos, Vacaria e Venâncio Aires; Centros de Zona B: Alegrete, Arroio do Meio, Arvorezinha, Boa Vista do Buricá, Capão da Canoa, Casca, Constantina, Espumoso, Garibaldi, Getúlio Vargas, Horizontina, Itaqui, Mostardas, Muçum, Nonoai, Nova Petrópolis, Pinheiro Machado, Rodeio Bonito, Salto do Jacuí, Salvador do Sul, 78 Sananduva, Santana do Livramento, Santa Vitória do Palmar, Santo Antônio da Patrulha, Santo Augusto, São Sebastião do Caí, São Valentim, Serafina Corrêa, Sinimbu, Sobradinho, Tapejara, Tapes, Tenente Portela, Teutônia, Tramandaí, Tucunduva e Veranópolis . Cidade População Censo 2010 População estimada 2019 Porto Alegre 1 450 555 1 483 771 Caxias do Sul 435 564 510 906 Canoas 323 827 346 616 Pelotas 328 275 342 405 Santa Mari a 261 031 282 123 Gravataí 255 762 281 519 Viamão 239 384 255 224 Novo Hamburgo 239 051 2 46 748 São Leopoldo 214 210 236 835 Rio Grande 197 253 211 00 BASA Proffabriciomuller Conjuntura Geopolítica Internacional Uma ordem mundial diz respeito às configurações gerais das hierarquias de poder existentes entre os países do mundo. Dessa forma, as ordens mundiais modificam-se a cada oscilação em seu contexto histórico. Portanto, ao falar de uma nova ordem mundial, estamos nos referindo ao atual contexto das relações políticas e econômicas internacionais de poder. Durante a Guerra Fria, existiam duas nações principais que dominavam e polarizavam as relações de poder no globo: Estados Unidos e União Soviética. Essa ordem mundial era notadamente marcada pelas corridas armamentista e espacial e pelas disputas geopolíticas no que se refere ao grau de influência de cada uma no plano internacional. Este era o mundo bipolar. A partir do final da década de 1980 e início dos anos 1990, mais especificamente após a queda do Muro de Berlim e do esfacelamento da União Soviética, o mundo passou a conhecer apenas uma grande potência econômica e, principalmente, militar: os EUA. Analistas e cientistas políticos passaram a nomear a então ordem mundial vigente como unipolar. Hoje essa disputa se mostra mais econômica entre EUA X China. Durante a ordem geopolítica bipolar, o mundo era rotineiramente dividido entre leste e oeste. O Oeste era a representação do Capitalismo liderado pelos EUA, enquanto o Leste demarcava o mundo Socialista representado pela URSS. Essa divisão não era necessariamente fiel aos critérios cartográficos, pois no Oeste havia nações socialistas (a exemplo de Cuba) e no leste havia nações capitalistas. Contudo, esse modelo ruiu. Atualmente, o mundo é dividido entre Norte e Sul, de modo que no Norte encontram-se as nações desenvolvidas e, ao sul, encontram-se as nações subdesenvolvidas ou emergentes. Tal divisão também segue os ditames da Nova Ordem Mundial, em considerar preferencialmente os critérios econômicos em detrimento do poderio bélico. Observa-se que também nessa nova divisão do mundo não há uma total fidelidade aos critérios cartográficos, uma vez que alguns poucos países localizados ao sul pertencem ao “Norte” (como a Austrália) e alguns países do norte pertencem ao “Sul” (como a China). A Otan é uma aliança militar intergovernamental criada após o final da Segunda Guerra Mundial no contexto da bipolaridade formada entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, no período da Guerra Fria. O objetivo da aliança é baseado em três pilares: ● a defesa coletiva dos Estados membros (ou seja, os Estados concordam em se unir contra ameaças externas caso algum dos países participantes da organização seja atacado);● impedir o revigoramento do militarismo nacionalista na Europa, através de uma forte presença norte-americana no continente; ● e encorajar a integração política europeia. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, havia uma preocupação por parte de países europeus em formar uma aliança que servisse de defesa para a Europa Ocidental. Para isso, países como Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França e Reino Unido criaram o Tratado de Bruxelas. O tratado era um passo para a integração dos países envolvidos em assuntos como defesa e segurança. A participação dos EUA no tratado foi vista como fundamental, principalmente pelo poderio militar que tinham. Os países então se reuniram para a criação de um novo tratado que fosse além do alcance da Europa Ocidental, desta vez com a participação de novos membros, contando com: EUA, Canadá, Portugal, Itália, Noruega, Dinamarca e Islândia. Foi nesse contexto que surgiu a OTAN, em abril de 1949, em ato constitutivo firmado em Washington, capital dos EUA. OTAN E O PACTO DE VARSÓVIA Em contraposição à criação da OTAN, a URSS e seus aliados do bloco socialista criaram o Pacto de Varsóvia, em 1955. O Pacto estabelecia o compromisso de ajuda mútua dos países participantes em casos de agressões militares contra algum deles. Embora tenha sido criado com esse objetivo, o acordo de Varsóvia serviu principalmente para conter revoltas internas em seus próprios territórios. O período de bipolaridade entre EUA e URSS dividiu o mundo. Os dois países e seus respectivos aliados mantinham-se em alerta para eventuais ataques. A OTAN investiu em tecnologia de defesa, na produção de armas estratégicas e também espalhou pelas fronteiras soviéticas sistemas de defesa de antimísseis. Mas, apesar dos grandes investimentos no campo militar e de ambos se envolverem em conflitos regionais, eles nunca chegaram a se enfrentar diretamente. Isso porque o poder bélico destrutivo que os dois países possuíam bloqueava um conflito direto. As consequências de um conflito nuclear poderiam ser irreversíveis. Os Estados-membros do Pacto de Varsóvia eram: URSS, Bulgária, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, República Democrática Alemã, Albânia e Romênia. Com a Guerra Fria chegando ao final e a crise na União Soviética, o Pacto de Varsóvia foi extinto em 1991. A ruptura da União Soviética veio oficialmente em 1991, mas antes já era possível ver seu declínio. Na fase final da Guerra Fria, a OTAN passou a assumir novos papéis. Até então, ela não havia feito nenhuma intervenção fora de fronteiras territoriais de seus países membros. No início de 1990, porém, sob demanda do Conselho de Segurança da ONU, a organização resolveu intervir no conflito da ex-Iugoslávia. Foi a primeira vez que agiu em território de um Estado não-membro. Organização do Tratado de Segurança Coletiva A CSTO é uma organização regional internacional, cujas ações são destinadas à manutenção da paz, segurança e estabilidade regional e internacional, à proteção da soberania e integridade territorial dos Estados-membros em uma base coletiva, segundo a Carta da entidade. A CSTO foi fundada em 15 de maio de 1992 pela ratificação do Tratado de Segurança Coletiva em Tashkent. No início, o tratado foi assinado por Armênia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão. Em 1993, à CSTO se juntaram Azerbaijão, Belarus e Geórgia. Posteriormente, Azerbaijão, Geórgia e Uzbequistão deixaram a união e agora seis países integram o Tratado: Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão. Tropas da Rússia desembarcaram nesta quinta-feira no Cazaquistão, depois que o presidente do país da Ásia Central pediu ajuda para conter os protestos contra o governo. É a primeira vez que a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO, por sua sigla em inglês), fundada após a dissolução da União Soviética e composta por seis ex-membros, concorda em enviar "forças de paz" para ajudar um país-membro. Embora o bloco seja visto há muito tempo como a resposta da Rússia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), sua primeira ação conjunta é encerrar um protesto interno, em vez de combater um ataque de uma força externa. O que está em jogo é especialmente importante para a Rússia, efetivamente o líder da aliança, pois sua presença corre o risco de alienar um público que exige uma mudança no regime do Cazaquistão, mas ainda não mostrou qualquer sentimento anti-russo. A agitação, que começou no domingo, também ocorre em um momento difícil para o Kremlin, em meio a um aumento de tropas perto da fronteira com a Ucrânia e antes das negociações da próxima semana com os Estados Unidos sobre as garantias que a Rússia exigiu da Otan de que não se expanda ou coopere com os ex-países soviéticos. As manifestações começaram no fim de semana na região oeste do Cazaquistão, rica em petróleo, por causa dos altos preços da energia e se espalharam para outros lugares, incluindo Almaty, a maior cidade do país. Na quarta-feira, os manifestantes incendiaram prefeituras em todo o país e ocuparam brevemente o aeroporto de Almaty. Parte da raiva parecia ser dirigida a Nursultan Nazarbayev, o ex-presidente autoritário do país, que continua a exercer um poder significativo nos bastidores sob o título oficial de "pai da nação". Forças separatistas pró-Rússia na Ucrânia A Rússia vai invadir a Ucrânia? Representantes da Rússia terão encontros com diferentes organizações internacionais, como a Otan, para falar sobre a Ucrânia nos primeiros dias de 2022. Americanos e europeus acusam o governo russo de preparar uma ofensiva militar na Ucrânia. Entenda: ● No fim de 2021, a Rússia reforçou a quantidade de soldados na região próxima da fronteira com a Ucrânia. ● O governo da Ucrânia está preparando seus reservistas para um conflito. ● A disputa já se arrasta há alguns anos: em 2014, a Rússia tomou uma parte do território da Ucrânia, a península da Crimeia. Naquele ano, também começou uma guerra separatista em uma outra região ucraniana, o Donbass. Os confrontos já deixaram mais de 13 mil mortos. O Mar Negro é um dos palcos marítimos onde tensões entre Rússia e Ocidente tornam-se proeminentes. Eventos como a construção da ponte do Estreito de Kerch em 2018 e a recente concentração de tropas russas na fronteira ucraniana fomentam a preocupação internacional relacionada à segurança marítima e à iminência de um conflito direto. Para tanto, Kiev conta com apoio militar e econômico de potências como Estados Unidos e Reino Unido, países que se alternam ora no fornecimento de armamentos, ora nos investimentos no setor naval. Desde 2018, a Ucrânia investe na expansão de suas capacidades navais, visando salvaguardar os interesses do país no Mar de Azov e Mar Negro. A medida está em consonância com a Estratégia para o Desenvolvimento das Forças Navais até 2035, que prevê a construção de uma base naval em Berdyansk em sua primeira fase (2019-2025). A notícia foi divulgada no início de novembro pelo novo ministro de Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, chamando a atenção principalmente do Kremlin. Dias depois, em 11 de novembro, o exercício de passagem marítima (PASSEX, na sigla em inglês) reuniu navios militares dos Estados Unidos, Romênia, Turquia e Ucrânia. Dentre as embarcações participantes, destacamse os navios da 6ª Esquadra estadunidense: o USS Mount Whitney e o contratorpedeiro USS Porter, e o naviopatrulha ucraniano da classe Sloviansk. Foram realizadas manobras táticas e exercícios básicos de comunicações, com o objetivo de exercitar a interoperabilidade segundo os padrões da OTAN. Embora considerado um exercício regular da Ucrânia, a atividade consternou o Ministério de Defesa russo. Isso contribui diretamente para o recrudescimento da presença militar russa, como estratégia de desestabilização, principalmente na região de Donbass. Enquanto não-membro da OTAN, não há garantias, no escopo do Artigo V da Aliança, de defesa mútua, à Ucrânia em caso de um conflito direto coma Rússia. Além disso, alguns Estados-membros, inclusive os Estados Unidos, não pretendem expandir a Aliança Atlântica a um país que já se encontra travado em hostilidades. A relação entre o Japão e a Rússia é historicamente marcada por disputas territoriais. Entre o estabelecimento de vínculos diplomáticos e comerciais com o Tratado de Shimoda de 1855, e a sua normalização pós 2ª Guerra Mundial, com a Declaração Conjunta Soviético-Japonesa de 1956, estas disputas estiveram sempre presentes. A principal fonte deste atrito são as Ilhas Curilas - quatro ilhas ocupadas pelos russos desde o fim da 2ª Guerra Mundial e reivindicadas pelos japoneses. Com a proximidade da formação do novo governo japonês, este texto busca observar a atual dinâmica diplomática russo-japonesa no que diz respeito às ilhas Curilas Uma recente declaração do presidente Vladimir Putin criou um desconforto com os nipônicos. No dia 03 de setembro de 2021, durante o Fórum Econômico do Leste, o líder russo manifestou o interesse em estabelecer uma Zona Econômica Especial nas ilhas reivindicadas pelo Japão. Este cenário possibilitaria a atuação de empresas estrangeiras na região, que ficariam isentas de pagar impostos de renda e propriedade por dez anos. Essa medida também asseguraria a aplicação da legislação russa sob tais instituições, não somente contrariando os interesses japoneses em mantê-las sob sua jurisdição, mas também acirrando a concorrência contra suas empresas. Este movimento russo surge como consequência da falta de continuidade da política ativa de cooperação econômica e diplomática japonesa. Durante o mandato do ex-primeiro-ministro Shinzo Abe, recorrentes encontros entre os líderes foram promovidos, além da realização de projetos para o desenvolvimento da região pautados pelo Plano de Cooperação Econômica de oito pontos de 2016. Em contraste, a administração de Yoshihide Suga demonstrou pouco interesse nesta agenda, o que, somado à visita do primeiro-ministro russo às ilhas em julho deste ano, dificultou um eventual acordo entre as partes envolvidas. Diante disso, a formação do novo governo japonês, encabeçado por Fumio Kishida, e o relativo controle dos casos de COVID-19 no país podem modificar esse cenário. Segundo o Ministro das Relações Exteriores do Japão, Toshimitsu Motegi, há intenção de continuar o diálogo com a Rússia para resolver a questão das ilhas e assinar um tratado de paz. No entanto, o homólogo russo, Sergey Lavrov, afirmou que é muito cedo para avaliar o futuro diálogo antes da formação e consolidação do novo governo japonês. Portanto, o futuro das relações bilaterais nipo-russas depende da resolução da questão das ilhas Curilas. Cabe observar como Kishida conduzirá as negociações. Após prisão de 12 mil pessoas, russos dizem que 'missão está terminada' e deixam Cazaquistão 12 mil presos, centenas de feridos e muitos mortos. O Cazaquistão, um país com reputação de estabilidade, foi abalado na semana passada por uma onda de revolta social e violência que não era vista desde sua independência, em 1991. Tudo começou no domingo (2), após o anúncio de aumento do preço de gás. A medida explodiu em manifestações contra o governo. A repressão aos movimentos foi dura, com o presidente afirmando que os organizadores eram terroristas e pedindo à polícia para atirar para matar. Centenas de pessoas ficaram feridas e, pelo menos, 12 mil pessoas foram presas ao longo da semana. Não se sabe quantas pessoas foram mortas, no último domingo o ministério da Informação chegou a publicar um balanço de 164 vítimas fatais, mas voltou atrás. A calma volta a prevalecer em Almaty As piores cenas de violência foram vistas em Almaty, capital econômica do país. Houve saques a lojas, tiroteios nas ruas e edifícios públicos foram incendiados. Os mais de 2 mil soldados liderados pela Rússia começaram a deixar o Cazaquistão nesta quinta-feira (13), após declararem que sua operação de “manutenção de paz” terminava no país, que viveu uma semana de grandes manifestações contidas com forte repressão. Mais de 12 mil pessoas foram presas desde o início da crise, no dia 2 de janeiro. Pela manhã, uma cerimônia solene foi organizada em Almaty, maior cidade cazaque, para a retirada dos soldados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO), uma aliança militar liderada pela Rússia. "A operação de manutenção da paz terminou, as tarefas foram cumpridas": sentenciou o general russo Andrei Serdyukov, comandante do contingente de mais de 2000 soldados, entre eles russos, belarussos e armênios. A tropa deve terminar sua retirada até o dia 22 de janeiro. Com a partida das forças estrangeiras, a segurança dos edifícios públicos e de infraestrutura do Cazaquistão voltam a ser de responsabilidade das forças armadas do país, sob as leis cazaques. Atualmente, as embarcações com propulsão nuclear são majoritariamente de uso militar, operadas por potências nucleares como China, Estados Unidos, França, Índia, Reino Unido e Rússia, esta última que também opera navios quebra-gelo movidos por energia nuclear. Existem, ainda, os casos de países como Austrália e Brasil, que não possuem armas nucleares; entretanto, planejam e desenvolvem projetos estratégicos de submarinos dotados de propulsão nuclear. Destaca-se que entre 1964 a 1972 os EUA já operavam o NS Savannah, primeiro navio mercante com propulsão nuclear. Ademais, no contexto atual, esta tecnologia é uma proposta que se mostra cada vez mais como uma opção viável, a ser considerada pela indústria marítima internacional. De acordo com especialistas, a ideia é que estas embarcações comerciais possam operar com pequenos reatores nucleares modulares (SMR, em inglês), tecnologia em franco desenvolvimento. Ainda, apesar dos elevados custos operacionais e de manutenção da tecnologia nuclear, estes poderiam ser compensados pela economia de combustível e maior velocidade atingida durante o percurso marítimo, o que reduziria o tempo de viagem, possibilitando maior lucro, além de evitar a emissão dos GEE e degradação ambiental. Entretanto, ainda se trata de uma possibilidade. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a América do Sul será afetada de múltiplas maneiras pelo aquecimento global. A região enfrentará elevação do nível do mar, inundações, secas e desertificações, com desdobramentos socioeconômicos. A Cordilheira dos Andes estará em evidência nesse processo, por ser fonte de recursos hídricos, alimentares e energéticos, além de regular o clima regional. Dessa forma, quais desdobramentos geopolíticos as mudanças climáticas podem impulsionar nos Andes? A Cordilheira dos Andes é responsável pelo equilíbrio climático regional, pois algumas de suas geleiras são o berço das nascentes do Rio Amazonas, além de redirecionar a umidade proveniente da Amazônia. As mudanças climáticas intensificam o derretimento da neve dos Andes, promovendo inundações nos sete países cortados pela Cordilheira. Por outro lado, as alterações nos padrões pluviométricos e a elevação da temperatura regional acima da média global aceleram a seca e a desertificação, pois a água evapora rápido, os rios e lagos desabastecem-se e deixam de existir. Ou seja, um risco à segurança hídrica e energética local. O Chile, por exemplo, já enfrenta os efeitos das mudanças climáticas em razão das constantes secas e avanço da desertificação em regiões como Coquimbo e Biobío. Os recursos energéticos são os primeiros a darem sinal de alerta, pois a incapacidade de produção de energia hidrelétrica tem sido frequente, forçando o governo a utilizar usinas de carvão para suprir o déficit energético, ainda que tal medida seja contraproducente na mitigação do aquecimento global. Vale ressaltar que o Chile inaugurou em junho de 2021 o primeiro parque energético heliotérmico da América do Sul: Cerro Dominador, orçado em US$ 1,4 bilhão. É imperativa a abertura de mais usinas heliotérmicas, de modo a reduzir a dependência energética de recursosnão-renováveis, embora falte incentivo político e econômico dos Estados para tal. Dessa forma, as mudanças climáticas já impactam os Andes e podem afetar todo o subcontinente. Não será possível manter o atual sistema de produção energética vigente devido às secas e desertificações, impactando diretamente a sociedade. A insegurança alimentar e hídrica impulsionarão crises econômicas pela inflação dos alimentos, elevarão a fome, promoverão disputas por recursos ainda no século XXI, além de alavancar migrações forçadas, produzindo refugiados ambientais. É importante, nesse sentido, que as lideranças políticas desenvolvam planos de contingência e fundos para executá-los antes que as crises se tornem cotidianas e promovam o caos socioambiental no subcontinente. A guerra civil na Etiópia vai se alastrar? A Etiópia, a segunda nação mais populosa da África, vive uma guerra civil, e o conflito pode piorar a situação não só do próprio país, mas, também, de uma região importante para o comércio global: o Chifre da África. ● A luta é travada entre o governo do país e a Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF). No fim de dezembro, os rebeldes do Tigré foram encurralados no extremo mais ao norte da Etiópia. ● As forças do governo, inicialmente, perderam muito território, mas depois acumularam vitórias militares consecutivas. As perspectivas de paz permanecem, contudo, incertas. A China vai agir em relação a Taiwan? Não é novidade que a China considera que Taiwan é parte de seu território desde 1945, mas nos dois últimos anos os chineses aumentaram a pressão militar e diplomática para afirmar que têm soberania da ilha, o que causa revolta em Taiwan e uma preocupação nos EUA. ● A China continental nunca considerou que Taiwan fosse um país autônomo, mas os dois já tiveram uma relação mais harmônica, especialmente entre o fim dos anos 1990 e 2016. ● Forças Armadas do Japão e dos EUA elaboraram o esboço de um plano para uma operação conjunta no caso de uma possível emergência em Taiwan, segundo a agência de notícias japonesa Kyodo. As atividades do Exército da Libertação Popular (PLA em inglês) contra Taiwan, têm crescido de forma constante. Somente nos primeiros quatro dias de outubro de 2021, 149 aviões de guerra chineses entraram na Zona de Identificação de Defesa Aérea (ZIDA) da ilha. Segundo Taiwan, a Força Aérea do PLA promoveu mais de 260 incursões à ZIDA local entre setembro de 2020 e novembro deste ano. Mais recentemente, revelouse a presença de militares estadunidenses prestando treinamentos à Taipei. Diante desse cenário, quais os elementos a serem considerados em uma possível anexação de Taiwan pelos chineses? Desde o início do século XXI, nota-se um processo de reforma dentro do PLA, que se intensificou durante o governo de Xi Jinping. A Marinha tem recebido atenção especial no contexto dessas reformas, tendo aumentado significativamente sua capacidade anfíbia nos últimos anos, comissionando novas embarcações e meios de aviação naval. Nesse sentido, Taiwan tem sido uma questão protagonista dentro dos documentos oficiais da China continental, como no caso do Livro Branco China's National Defense in the New Era (2019) que evidencia que, se necessário, Pequim utilizará a força para impedir uma maior independência de Taiwan. É conveniente para a China anexar a ilha de forma pacífica, pois assim se pouparia dos perigos, dificuldades e custos de uma guerra. Contudo, é cada vez mais duvidoso que Taiwan não responda de forma agressiva, considerando o constante aumento de capacidade da ilha para guerra assimétrica. Além disso, as crescentes tensões entre os Estados Unidos (EUA) e a China contribuem para que Taipei tenha maior apoio internacional. Apesar de os EUA e seus aliados tradicionais não manterem relações diplomáticas oficiais com o território, já demonstraram prontidão para defendê-lo em contexto de investida mais agressiva da China continental. Levando em consideração os fatores analisados acima, conclui-se que, no momento, uma operação de retomada de Taiwan possuiria um risco muito alto para Pequim. Apesar dos avanços do poder do PLA, um desembarque anfíbio na ilha poderia ser bem-sucedido, mas seria extremamente custoso para Pequim. Devese considerar que Taiwan possui Forças Armadas estruturadas. Além disso, Pequim enfrentaria resistência dos EUA, que possuem forte poderio militar e diversos aliados na região, como a Austrália, a Coreia do Sul e o Japão. Assim, mesmo com o recente escalonamento das tensões no Estreito de Taiwan, a tendência principal é a manutenção do status quo. Mesmo sendo um dos Estados mais presentes no continente antártico, a Rússia vem subfinanciando seu investimento no sexto continente há décadas, fornecendo espaço competitivo para outras potências polares. É nesse sentido que a restauração de suas instalações antárticas ilustra a retomada de sua capacidade de projeção de poder e influência na região. A fim de modernizar sua presença no território, o país anunciou a reconstrução de toda a Estação Vostok, uma das estações mais insulares da Antártica e a principal da Rússia. Seria a retomada de investimentos na estratégia antártica russa capaz de manter o seu status quo no sexto continente? O Paraguai não possui acesso ao mar, sendo dependente de suas hidrovias e rodovias para escoar suas exportações e receber as importações. Como resultado dessa dependência, sua frota de embarcações fluviais é a terceira maior do mundo. Entretanto, o Rio Paraguai, principal do país, encontra-se em seca histórica, atingindo a marca de -75 centímetros abaixo de seu nível habitual no início de outubro de 2021, no Porto fluvial de Assunção. Dessa forma, como o nível das águas fluviais impacta em áreas estratégicas para o país e seus vizinhos? Para o Paraguai, economicamente, o baixo nível da água representa um aumento no preço e no tempo do transporte de produtos, já que a carga total das embarcações teve de ser reduzida para 40% da capacidade total. Representantes do ramo logístico fluvial alertam que, em 2020, aproximadamente US$ 300 milhões em trocas comerciais foram inviabilizados pela situação do rio e que, caso o Porto de Assunção se tornasse inutilizável nessa baixa, somar-se-iam mais US$ 100 milhões em prejuízos. Ademais, as comunidades pesqueiras paraguaias também se encontram em iminência de insegurança alimentar, pois há menor quantidade de peixes no rio, o que fez necessário um auxílio financeiro governamental às famílias impactadas. A curto prazo, a situação é também preocupante. De acordo com a agência estadunidense National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), há 70% de chances do fenômeno “La Niña” ocorrer entre outubro desse ano e fevereiro de 2022, aumentando a seca e diminuindo ainda mais o nível do rio. Previsões indicam que os países da Bacia do Prata serão ainda mais afetados (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai) pela seca já em curso. Ademais, a crise hídrica poderá transformar-se em energética, já que o baixo nível d’ água registrado diminui a produtividade das usinas hidrelétricas, causando uma futura crise de abastecimento que pode refletir-se em indicadores econômicos, como a inflação. Portanto, a baixa histórica do Rio Paraguai afeta setores estratégicos importantes para os países da região, como a produção energética, causando insegurança no abastecimento elétrico; a segurança alimentar, já que muitas populações dependem do rio para a pesca como fonte de renda e de alimento; e, principalmente, para o Paraguai na esfera econômica, impossibilitando a normalidade do transporte hidroviário, aumentando os prejuízos e, consequentemente, diminuindo o fluxo comercial da região. Logo, por ser um país sem costa, a inviabilidade da navegação fluvial paraguaia afetaria o Estado mais gravemente, se comparado com demais países da Bacia Platina. As consequências socioeconômicas advindas tendem a agravar as tensões, com impactos além da fronteira. O ex-presidentedos EUA, Donald Trump, mostra sua assinatura oficializando a retirada do país do acordo nuclear com o Irã, retomando as sanções contra o país. Trata-se de uma das mais contundentes decisões de política externa do americano O Irã vai voltar ao acordo nuclear de 2015? Em 2015, o Irã chegou a um acordo com um grupo de nações pelo qual as sanções ao país seriam aliviadas e, em troca, os iranianos iriam interromper seu programa de desenvolvimento nuclear. Porém, quando Donald Trump foi eleito, ele retirou os EUA desse acordo e, desde então, o Irã tem enriquecido urânio a taxas mais elevadas do que havia sido pactuado. ● Em 2021, houve oito rodadas de negociações para voltar ao acordo. ● Acabar com as sanções americanas é a prioridade para o Irã. O país quer vender petróleo facilmente, sem limites, e que a receita com a venda chegue às contas bancárias em moeda estrangeira. O que vai acontecer no Afeganistão? Uma das surpresas de 2022 foi a velocidade com a qual o Talibã retomou o poder no Afeganistão. Os afegãos ainda têm dificuldade de entender o que aconteceu, e o que será do futuro. Oficialmente, o Talibã afirma que pretende fazer uma gestão diferente daquela entre os anos de 1996 e 2001. ● O Talibã precisa montar uma estrutura funcional, conseguir criar órgãos administrativos e de fato governar o país, algo muito diferente de ser uma força insurgente. Desde a retomada do poder, há funcionários públicos que não recebem salários. ● A população enfrenta riscos de um país pobre em colapso: falta de comida e emprego. O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU afirmou que que quase 22,8 milhões de pessoas, ou 55% da população, enfrentarão uma "crise de emergência" alimentar no inverno. ● Para os Estados Unidos e seus aliados, as condições podem se deteriorar a ponto de forçar milhares afegãos a buscar refúgio no exterior, e grupos terroristas como a Al-Qaeda podem voltar a se instalar no país. Governo e oposição na Venezuela vão chegar a um acordo? Desde o início de 2019 a oposição da Venezuela afirma que é o governo legítimo e que o presidente do país é Juan Guaidó, pois a votação de 2018, na qual Nicolás Maduro foi reeleito para um mandato de seis anos, teria sido fraudulenta. Os EUA e outros países não reconhecem Nicolás Maduro como o presidente, mas, sim, Guaidó. No entanto, na prática Guaidó não tem o controle do país. ● Houve tentativas, da Noruega, para intermediar acordos entre o governo de fato e a oposição para que as partes cheguem a um acordo sobre eleições. ● Dentro da oposição tem havido dissidências –o ministro de Relações Exteriores do grupo de Guaidó recentemente apresentou sua renúncia e fez críticas ao seu próprio grupo. ● O Tribunal Penal Internacional investiga a Venezuela por possíveis crimes contra a humanidade pela repressão a manifestações em 2017, quando pelo menos 125 pessoas morreram. Haverá protestos em Cuba? No meio de 2021 houve algo muito raro em Cuba: manifestações de rua contra o regime do Partido Comunista da ilha. Houve uma segunda tentativa de fazer protestos que não progrediu. De acordo com opositores, quase 700 pessoas ainda estão presas pelos protestos que ocorreram em julho. ● O governo cubano afirma que as manifestações foram orquestradas a partir dos Estados Unidos e não comunicou nenhuma sentença, nem divulgou informações sobre os julgamentos. ● Cuba tenta implementar uma reforma monetária para aumentar os salários, mas isso tem causado inflação –foi de 70% em 2021. A política migratória turca: Erdogan e a construção de muros. Após o Talibã assumir o poder no Afeganistão, cerca de 300.000 refugiados começaram a migrar através do território do Irã e da Turquia. Esta iniciou rapidamente a construção de um muro por cerca de 20 quilômetros. Além desse muro em construção, a Turquia também possui barreiras em suas fronteiras com Bulgária, Geórgia, Grécia e Síria, que podem se estender até Armênia e Irã. Tradicionalmente, o país sempre acolheu a maior parte dos refugiados em direção à Europa, porém, dessa vez, está se fechando. Quais as possíveis razões para isso? Percebe-se que fatores políticos domésticos e geopolíticos esclarecem essa questão. Com uma posição geográfica ímpar, a Turquia é um importante entreposto estratégico para os europeus, servindo como escudo para os impactos das instabilidades políticas do Oriente Médio sobre a Europa, principal destino dos refugiados. Inclusive, na crise migratória em 2015, o país realizou um acordo com a União Europeia (UE), pelo qual regularizava a situação de refugiados antes de prosseguirem aos membros do bloco. Porém, esse posicionamento provocou severos impactos econômicos e demográficos no país. Nesse sentido, assim como na Europa, movimentos anti-refugiados nasceram na Turquia, e estão colocando pressão sobre o presidente Erdogan e seu partido, o AKP. O movimento Angry Young Turks, que se refere aos antigos “jovens turcos” que lutaram contra os sultões otomanos, carrega hoje o slogan: The border is our honor (em português, “A fronteira é nossa honra”), realizando ataques violentos no país e considerados terroristas pelo governo. As próximas eleições na Turquia serão em 2023, e Erdogan vem perdendo força ao não conseguir lidar com problemas como incêndios, inundações, crise econômica e, agora, a sobrecarga de refugiados, gerando tensão na população civil, a qual foi potencializada pela crise política no Afeganistão nesse ano. Os muros parecem ser, portanto, uma tentativa de reequilibrar o país, que chegou ao seu limite. No tabuleiro geopolítico europeu: Belarus vs União Europeia Durante os últimos meses, a União Europeia (UE) vem acusando Belarus de orquestrar o aumento do fluxo de migrantes em suas fronteiras com a Polônia e a Lituânia como uma forma de retaliação pelas sanções crescentes que o país tem recebido. Nesse contexto, uma situação perigosa está se desenvolvendo com a escalada de tensões na passagem de fronteira de Bruzgi-Kuznica, com milhares de imigrantes acampados em condições precárias, com temperaturas congelantes, na esperança de ingressar na Europa. Diante do impasse, como a União Europeia e, em especial a Polônia, vem movendo-se perante a crise? De acordo com o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, entre as medidas previstas está o "fechamento total da fronteira para cortar as vantagens econômicas do regime", buscando atingir as fragilizadas bases econômicas de Belarus. De maneira mais agressiva, no dia 16 de novembro de 2021, forças militares polonesas dispararam gás lacrimogênio e canhões de água contra os migrantes que tentavam cruzar a fronteira, enquanto estes atiravam pedras contra os agentes. Fora tais ações e com as recentes ameaças bielarussas de restringir o fluxo de petróleo enviado à UE, a Polônia, com forte apoio da Lituânia, está prestes a invocar uma medida excepcional da OTAN que só se aplica em situações de emergência. De maneira estratégica, Belarus explora a vulnerabilidade europeia com relação a sua política de migrantes no bloco. A escalada da crise sublinha novamente a porosidade das fronteiras europeias em meio a uma corrida por espaço geoestratégico na região. A tensão não será resolvida rapidamente. A preparação para os próximos meses ditará quem sairá na frente na disputa, o que pode desencadear ações de instabilidade em massa por toda região. Os Emirados Árabes Unidos (EAU) são o principal centro financeiro do Oriente Médio, da África e do Sul da Ásia. O país usufrui de uma área de alta relevância estratégica para o comércio internacional: o trajeto entre Golfo Pérsico e Mar Mediterrâneo interliga-se à Ásia e à Europa e perpassa algumas das principais rotas marítimas globais. Apesar da importância da segurança marítima para a estabilidade econômica da região, os Estados do Golfo Pérsico historicamente priorizaram forças aéreas e terrestres em detrimento das navais. Entretanto, desde o início da Guerra no Iêmen, os EAU têmrealizado esforços para impulsionar sua Marinha. Globalmente, outros atores têm expandido suas relações com os EAU, conforme a cooperação marítima viabilizada pela aproximação diplomática com Israel em 2020 . Os EAU, para além de seus interesses comerciais, iniciaram no dia 10 de novembro de 2021 o inédito exercício de segurança marítima com a 5ª Esquadra da Marinha dos Estados Unidos (EUA) e as forças navais de Bahrein e Israel, no Mar Vermelho. As expectativas para o futuro político da Líbia Em 5 de fevereiro, os membros do Fórum de Diálogo Político da Líbia (LPDF) elegeram um novo governo interino com Al-Menfi como presidente do Conselho Presidencial e Abdul Hamid Dbeibeh como primeiro-ministro, visando finalizar a guerra civil que assola o país desde o assassinato do ditador Muammar al-Gaddafi em 2011. Esse talvez seja o período mais estável da última década, graças a um longo processo de negociações diplomáticas envolvendo os principais grupos internos, países vizinhos e potências estrangeiras. A eleição se apresentou como uma solução às disputas de poder, mas, na prática, seu resultado poderá extinguir o cessar-fogo e retornar o país ao caos. O presidente do governo interino da Líbia, Mohammad Younes Menfi (esq.) encontra o senhor da guerra Khalifa Haftar (dir.) em Benghazi, Líbia A Base Industrial de Defesa (BID) é um importante vetor econômico e de inserção internacional para a Rússia. O país é o segundo maior vendedor de armas do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (EUA), e sua BID tem como principais clientes a Índia e a China. Com esses dados, cabe questionar qual o impacto geopolítico da BID russa no tabuleiro geopolítico da Ásia. Recentemente, o periódico russo RT anunciou que a Índia poderia ser sancionada pelos EUA pela intenção de Nova Délhi em obter o sistema antimísseis russo S400. A Índia é o maior cliente da BID russa, tendo comprado quase US$ 1 bilhão em armamentos russos em 2020, quase o dobro da China – que comprou pouco mais de US$ 500 milhões no mesmo ano –, segundo a base de dados do Stockholm International Peace Institute (SIPRI). Ocorre, no entanto, que Índia e EUA têm se aproximado no âmbito geopolítico devido a preocupações mútuas com relação à China, Em outubro de 2021, a China aprovou a Lei de Fronteiras Terrestres, que estabelece os princípios para a gestão de suas fronteiras. Ressalta-se que o país compartilha fronteiras terrestres com quatorze países, sem consenso apenas com Índia e Butão na chamada Linha de Controle Real (LAC, em inglês), região de intensas disputas militares. Apesar de dispor sobre as fronteiras chinesas de modo geral, a lei preocupa a Índia porque imbrica as negociações para a delimitação da LAC. Diante disso, como a nova Lei de Fronteiras da China pode afetar as negociações lindeiras com a Índia? A lei chinesa estipula que a soberania e a integridade territorial do país são sagradas e invioláveis, além de estabelecer que o país deve tomar medidas militares para manutenção da integridade territorial e desenvolver econômica e socialmente as regiões fronteiriças. Discorre também sobre medidas para proteger a estabilidade dos rios e lagos transfronteiriços, abrindo a possibilidade de a China limitar o fluxo de água no Rio Brahmaputra/ Yarlung Zangbo, que flui do país para a Índia (Boletim 64). Com isso, a China pode inviabilizar projetos hídricos passíveis de ameaçar os ecossistemas aquáticos compartilhados com a Índia. A ascensão de Índia e Indonésia no cenário internacional Em 2021, a Índia celebrou o aniversário de 75 anos de sua independência do Reino Unido, simbolizando sua busca em se consolidar internacionalmente como potência. Na região do Indo-Pacífico, o país tem se projetado e demonstrado força, especialmente no Oceano Índico. Em movimento similar, a Indonésia, principal país do Sudeste Asiático, tem exercido liderança na região e chamado atenção de atores externos ao Sul e Sudeste da Ásia, principalmente agora, ao assumir a presidência do G20. A Índia possui hoje a segunda maior população mundial, e está a caminho de tornar-se a primeira, ultrapassando a China antes de 2030. Ademais, o país está entre as maiores economias mundiais e tem investido intensamente em sua indústria de Defesa - é o terceiro país que mais investe neste setor no mundo, a Índia possui o segundo maior contingente de militares ativos da Ásia, atrás apenas da China. Além disso, é importante lembrar que o país é uma potência militar nuclear. A Indonésia, por sua vez, é o oitavo país asiático em quantidade de militares ativos, ficando atrás apenas do Vietnã no Sudeste Asiático, de acordo com o think tank International Institute for Strategic Studies. Além disso, tem exercido ainda papel central na ASEAN no que diz respeito às negociações com Mianmar e os desdobramentos do golpe militar que ocorreu no início do ano. As forças armadas indonésias estão em processo de modernização há cerca de uma década. O Ministério da Defesa do país é hoje liderado por um ex-General do Exército, Prabowo Subianto, que chegou a concorrer à presidência contra Joko Widodo. Apesar de terem sido rivais nas eleições, eles têm trabalhado conjuntamente para ampliar as capacidades militares de Jacarta (IISS, 2021). Assim, a ascensão em relevância de Nova Delhi e Jacarta torna o tabuleiro regional mais complexo em termos de presença militar e projeção internacional. É válido, então, acompanhar a dinâmica de equilíbrio de forças, principalmente no Oceano Índico e no Pacífico Ocidental, que despertam interesses e movimentam forças militares de vários Estados pelo mundo. A dama da decepção: uma Nobel da Paz criticada por seus pares Aung San Suu Kyi, símbolo da luta democrática em Mianmar, alvo de críticas por não defender minoria A líder deposta de Mianmar, Aung San Suu Kyi, foi condenada por um tribunal especial a dois anos de prisão por acusações de incitação à agitação popular e violação de regras sanitárias na pandemia de covid-19, disse um porta-voz da junta militar que governa o país. Inicialmente, a sentença era de quatro anos, mas, segundo informou a imprensa estatal, a pena acabou reduzida após perdões parciais concedidos pelos líderes militares. O julgamento foi criticado pela organização de direitos humanos Anistia Internacional, que afirmou que as acusações são falsas. "As pesadas penas infligidas a Aung San Suu Kyi, com base em acusações falsas, são o mais recente exemplo da determinação dos militares em eliminar toda a oposição e sufocar as liberdades", afirmou a Anistia. "A decisão absurda e corrupta do tribunal faz parte de um padrão devastador de sanções arbitrárias", acrescentou o diretor-adjunto regional da organização, Ming Yu Hah. Consequentemente, mais de 1 milhão de pessoas já deixaram o país, boa parte indo para a Índia e Tailândia. Portanto, a situação birmanesa tem se agravado profundamente, gerando insegurança nacional cujos efeitos já estão sendo sentidos em países do entorno, que recebem hordas de imigrantes. Embora haja constante pressão ao Conselho de Segurança da ONU para que tenha um posicionamento mais robusto, a proximidade política e diplomática entre China e Mianmar dificulta que ações mais contundentes sejam realizadas. A ex-líder de Mianmar Aung San Suu Kyi e o presidente deposto Win Myint enfrentarão cinco acusações adicionais de corrupção, cada uma com no máximo 15 anos de prisão, disse uma fonte familiarizada com o processo nesta sexta-feira. Os casos se concentram na contratação de um helicóptero durante o mandato, disse a fonte, que não quis ser identificada porque não estava autorizada a falar com a mídia. A empresa pública Servicios de la Marina (SIMA) anunciou, em novembro de 2021, que uma companhia sul-coreana – Dowha Engineering – entregou à Marinha do Peru um estudo para a modernização dos estaleiros nacionais de Callao, Chimbote e Iquitos. O trio compõe uma base importante para a construção naval peruana,