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PROCESSO PENAL II - ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE

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ESPÉCIES DE PRISÃO EM FLAGRANTE
a) Flagrante próprio
I - está cometendo a infração penal;
II - acaba de cometê-la;
 Entende-se em flagrante próprio, perfeito, real ou verdadeiro, o agente que é surpreendido cometendo uma infração penal ou quando acaba de cometê-la (CPP, art. 302, incisos I e II). A expressão “acaba de cometê-la” deve ser interpretada de forma restritiva, no sentido de absoluta imediatidade (sem qualquer intervalo de tempo). Em outras palavras, o agente é encontrado imediatamente após cometer a infração penal, sem que tenha conseguido se afastar da vítima e do lugar do delito (Renato Brasileiro de Lima)
 A análise que se faz, no momento da captura do agente, restringe-se à análise da tipicidade formal (Renato Brasileiro de Lima)
b) Flagrante impróprio
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração;
Art. 290.  Se o réu, sendo perseguido, passar ao território de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à autoridade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de flagrante, providenciará para a remoção do preso.
§ 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do réu, quando:
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, embora depois o tenha perdido de vista;
 A perseguição exige continuidade, mesmo que perca de vista o perseguido
 “Logo após” é um requisito temporal, sendo considerado como pequeno intervalo entre a prática do delito e o início da perseguição
 “Logo após” NÃO É DA CAPTURA, É DO INÍCIO DA PERSEGUIÇÃO
 Perseguição, desde que se inicie logo após o delito, pode durar infinitas horas
 Exige o flagrante impróprio a conjugação de 3 (três) fatores: a) perseguição (requisito de atividade); b) logo após o cometimento da infração penal (requisito temporal); c) situação que faça presumir a autoria (requisito circunstancial). (Renato Brasileiro de Lima)
 O importante, no quase-flagrante, é que a perseguição tenha início logo após o cometimento do fato delituoso, podendo perdurar por várias horas, desde que seja ininterrupta e contínua, sem qualquer solução de continuidade. Carece de fundamento legal, portanto, a regra popular segundo a qual a prisão em flagrante só pode ser levada a efeito em até 24 (vinte e quatro) horas após o cometimento do crime. Isso porque, nos casos de flagrante impróprio, desde que a perseguição seja ininterrupta e tenha tido início logo após a prática do delito, é cabível a prisão em flagrante mesmo após o decurso desse lapso temporal. (Renato Brasileiro de Lima)
c) Flagrante presumido ou ficto
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
 Trata-se de um flagrante mais fraco, mais frágil. A lei não exige perseguição, mas que seja a pessoa encontrada logo depois do crime
 Nesse caso, a lei não exige que haja perseguição, bastando que a pessoa seja encontrada logo depois da prática do ilícito com coisas que traduzam um veemente indício da autoria ou participação no crime. (Renato Brasileiro de Lima)
Ex: agentes encontrados algumas horas depois do crime em circunstâncias suspeitas, aptas a autorizar a presunção de serem os autores do delito, por estarem na posse do automóvel e dos objetos da vítima, além do fato de tentarem fugir, ao perceberem a presença de viatura policial (Renato Brasileiro de Lima)
 Segundo parte da doutrina, a expressão logo depois constante do inciso IV não indica prazo certo, devendo ser compreendida com maior elasticidade que logo após (Renato Brasileiro de Lima)
d) Flagrante preparado (ver súmula 145 do STF)
 É ilegal, pois há preparação do flagrante, sendo que tal situação não passa de uma cilada/armação
 Ocorre quando alguém (particular ou autoridade policial), de forma insidiosa, instiga o agente à prática do delito com o objetivo de prendê-lo em flagrante, ao mesmo tempo em que adota todas as providências para que o delito não se consume. Como adverte a doutrina, nessa hipótese de flagrante o suposto autor do delito não passa de um protagonista inconsciente de uma comédia, cooperando para a ardilosa averiguação da autoria de crimes anteriores, ou da simulação da exterioridade de um crime. (Renato Brasileiro de Lima)
Exemplificando, suponha-se que, após prender o traficante de uma pequena cidade, e com ele apreender seu computador pessoal no qual consta um cronograma de distribuição de drogas, a autoridade policial passe a efetuar ligações aos usuários, simulando uma venda de droga. Os usuários comparecem, então, ao local marcado, efetuando o pagamento pela aquisição da droga. Alguns minutos depois, são presos por agentes policias que se encontravam à paisana. (Renato Brasileiro de Lima)
 Nesse caso, estará caracterizado o flagrante preparado, como espécie de crime impossível, em face da ineficácia absoluta dos meios empregados. Logo, diante da ausência de vontade livre e espontânea dos autores e da ocorrência de crime impossível (CP, art. 17), a conduta deve ser considerada atípica. Cuidando-se de flagrante preparado, e, por conseguinte, ilegal, pois alguém se vê preso em face de conduta atípica, afigura-se cabível o relaxamento da prisão pela autoridade judiciária competente (Renato Brasileiro de Lima)
e) Flagrante esperado
 Policial espera para prender (não pode contribuir para a mudança fática, pois senão é preparado)
 Nesse caso, a polícia não induz ou instiga ninguém, apenas coloca-se em vigilância
 Nessa espécie de flagrante, não há qualquer atividade de induzimento, instigação ou provocação. Valendo-se de investigação anterior, sem a utilização de um agente provocador, a autoridade policial ou terceiro limita-se a aguardar o momento do cometimento do delito para efetuar a prisão em flagrante, respondendo o agente pelo crime praticado na modalidade consumada, ou, a depender do caso, tentada. Tratando-se de flagrante legal, não há falar em relaxamento da prisão nos casos de flagrante esperado, funcionando a liberdade provisória com ou sem fiança como medida de contracautela (Renato Brasileiro de Lima)
 A “campana” realizada pelos policiais a espera dos fatos não se amolda à figura do flagrante preparado (Renato Brasileiro de Lima)
 A jurisprudência reluta em aceitar a hipótese de crime impossível no flagrante esperado. E isso porque a simples presença de sistemas de vigilância, ou monitoramento por policiais, não tornam o agente absolutamente incapaz de consumar o delito. Ter-se-ia, portanto, ineficácia relativa do meio empregado. (Renato Brasileiro de Lima)
f) Flagrante forjado
 É uma conduta atípica
 Trata-se de uma situação criada para tentar legitimar a prisão (ex: colocar drogas na mochila de alguém)
 Nesse caso, a par da inexistência do delito, responde a autoridade policial criminalmente pelo delito de abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65, art. 3º, “a”), caso o delito seja praticado em razão de suas funções, ao passo que o particular pode responder pelo crime de denunciação caluniosa (CP, art. 339). (Renato Brasileiro de Lima)
g) Flagrante protelado ou diferido
 Retardar para compreender a organização criminosa (deve ser previamente comunicado ao juiz)
 Somente aplicado a casos de organização criminosa, ocasião em que o juiz autoriza a polícia (exigência de comunicação prévia ao magistrado) a retardar a intervenção, que será realizada em momento posterior
Obs:
Prisão em flagrante em crime permanente (posse ilegal de armas; armazenamento de drogas) (art. 303, CPP)
 Enquanto não cessar a permanência, o agente encontra-se em situação de flagrância, ensejando, assim, a efetivação de sua prisão em flagrante, independentemente de prévia autorização judicial. (Renato Brasileiro de Lima)
 Não precisa da venda, basta haver depósito
 Estado de flagrância se mantém, pois o crime se mantém
 Vejamos alguns exemplos de crimes permanentes: a) sequestro e cárcere privado (CP, art. 148); b) redução à condição análoga de escravo (CP, art. 149);c) extorsão mediante sequestro (CP, art. 159, caput, e parágrafos); d) receptação, nas modalidades de transportar, ocultar, ter em depósito (CP, art. 180); e) ocultação de cadáver (CP, art. 211, caput); f) quadrilha ou bando (CP, antiga redação do art. 288); g) associação para o tráfico de drogas (Lei nº 11.343/06, art. 35): permite a prisão em flagrante delito durante cada momento em que subsistir vínculo associativo entre os consortes; h) ocultação de bens, direitos e valores (Lei nº 9.613/98, art. 1º); i) evasão de divisas, nas modalidades de manutenção de depósitos não informados no exterior (Lei nº 7.492/86, art. 22, parágrafo único); j) tráfico de drogas (Lei nº 11.343/06, art. 33, caput), em algumas modalidades como guardar, trazer consigo, transportar, ter em depósito, etc (Renato Brasileiro de Lima)
Obs 2:
 A apresentação espontânea impede a prisão em flagrante. No entanto, não quer dizer que o juiz não possa decretar a prisão preventiva, se estiverem presentes os requisitos do artigo 312 e 313 do CPP
Obs 3:
 Não se pode estabelecer uma vedação absoluta à prisão em flagrante em crimes habituais. Na verdade, a possibilidade de efetivação da prisão em flagrante em crimes habituais deve estar diretamente ligada à comprovação, no ato, da reiteração da prática delituosa pelo agente (Renato Brasileiro de Lima)
Procedimento/atos da prisão em flagrante
Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto.    
§ 1o  Resultando das respostas fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja.
§ 2o  A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade.
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste.       
§ 4o  Da lavratura do auto de prisão em flagrante deverá constar a informação sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos filhos, indicado pela pessoa presa.   
 Após a prisão, o preso será apresentado à autoridade policial, oportunidade em que será ouvido o condutor (aquele que realizou a prisão e conduziu o preso). Após isso, as testemunhas que presenciaram o fato e a prisão serão ouvidas e ao final o preso será interrogado. É imprescindível a presença do Defensor do acusado. Ao final será dado ao preso a nota de culpa.
**Obs: há importantes garantias a serem observadas
a) Art. 306.  A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada
b) O auto de prisão em flagrante será encaminhado em até 24 horas ao juiz

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