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AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 1 Avaliação de Impacto e Licenciamento Ambiental AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 2 Avaliação de Impacto e Licenciamento Ambiental 1. Introdução ao Estudo de Impacto Ambiental 1.1. Conceitos e Tipos de Impacto A terminologia “impacto ambiental” é frequentemente encontrada na mídia e em nosso dia a dia. Comumente, na maioria das vezes, é associada a algum dano à natureza, como a mortandade de peixes, causada por derramamento de óleo ou mesmo baixa oxigenação do meio aquoso onde se encontram, ou ainda, de espécies silvestres atingidas, tratando-se sem dúvida alguma de impacto decorrente de uma situação indesejada tal como o vazamento de uma matéria- prima. Embora tal noção seja ligada ao conceito de impacto ambiental, sua aplicação alcança “apenas” uma parte deste. Do ponto de vista técnico, são várias as definições de impacto ambiental, com quase a totalidade dessas definições contemplando os mesmos elementos básicos, embora formuladas de diferentes maneiras, conforme alguns dos exemplos considerados a seguir (Sánchez, 2006): Qualquer alteração no meio ambiente em um ou mais de seus componentes provocada por ação humana. O efeito sobre o ecossistema, de uma ação induzida pelo homem. A mudança em um parâmetro ambiental, em um determinado período e em uma determinada área, resultante de uma determinada atividade, em comparação com a situação que ocorreria se tal atividade não tivesse sido iniciada. A definição adotada por Wathern (1988), na mesma linha do que propôs Munn (1975), tem por característica apresentar a dimensão dinâmica dos processos do AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 3 meio ambiente como base de entendimento das alterações ambientais denominadas impacto. Na prática de avaliação do impacto ambiental, nem sempre é possível empregar esse conceito em função da dificuldade de se prever a evolução da qualidade ambiental em uma determinada área. Observação: frequentemente, nesses casos o conceito operacional de impacto ambiental finda por ser a diferença entre a provável situação futura de um indicador ambiental e sua situação no presente. Assim, imagine o problema de avaliar o impacto sobre a qualidade do ar por uma nova fonte de emissão de poluentes: o cenário de referência para essa análise e a devida comparação seria o atual em detrimento de um em hipotético futuro, no qual novas fontes contribuiriam para a deterioração da qualidade do ar, visto que essas hipotéticas “novas fontes” não são analisadas hoje, o que, caso venham a ser consideradas no futuro, implicarão a necessidade de análise desse impacto, levando-se em conta a situação do momento futuro. Outra definição de impacto é dada pela norma NBR ISO 14.001/2004: “qualquer modificação no meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização”. Muitas empresas têm adotado em seus sistemas de gestão a base da definição anteriormente exposta, demonstrando, segundo Sánchez (2006), que, sob tal ótica, impacto ambiental é uma consequência de “atividade, produtos ou serviços” de uma organização; ou seja, um processo industrial (atividade), um agrotóxico (produto) ou o transporte de uma mercadoria (serviço ou atividade) são causas de modificações ambientais, ou impactos. Segundo essa definição, impacto é qualquer modificação ambiental, independentemente de sua importância. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 4 1.2. Propósito da Avaliação do Impacto Ambiental O questionamento “Para que serve a avaliação de impacto ambiental (AIA) afinal?” vem sendo debatido desde sua origem. Esse procedimento vem sendo ampliado à proporção que floresce o universo de aplicação da AIA. Se nos primórdios a AIA voltava-se quase que exclusivamente para os projetos de engenharia, atualmente sua aplicabilidade inclui planos, programas e políticas (tendo a avaliação ambiental estratégica se consolidado a partir dos anos 1980); impactos de produção, consumo e descarte de bens e serviços (a avaliação do ciclo de vida dos produtos, consolidada desde os anos de 1990); e avaliação da contribuição líquida de um projeto, plano, programa ou política, voltada para a sustentabilidade, ainda hoje em fase de afirmação. De fundamental importância é a compreensão dos objetivos e dos propósitos da AIA, apreendendo-se suas funções para, assim, ser possível atinar quanto a seu alcance e seus limites. A AIA é “apenas” mais um dos instrumentos de políticas públicas ambientais, não sendo, portanto, a solução para todas as deficiências de planejamento ou “brechas legais” que venham permitir, consentir, tampouco facilitar qualquer tipo de degradação ambiental. Como bem lembrado por Wathern (1988), “o objetivo da AIA não é o de forçar os tomadores de decisão a adotar a alternativa de menor dano ambiental. Se fosse assim, poucos projetos seriam implementados. O impacto ambiental é apenas uma das questões”. A AIA, segundo Ortolano e Shepherd (1995), “gera efeitos” sobre os projetos, influenciando diretamente suas decisões, como, por exemplo, rejeito de projetos inviáveis; legitimação de projetos viáveis; seleção de melhores alternativas locacionais; reformulação de planos e projetos; redefinição de objetivos e responsabilidade dos proponentes dos projetos. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 5 Segundo Glasson, Therivel e Chadwick (1999), essas funções são descritas como de ajuda ao processo decisório; ajuda à elaboração de projetos e propostas de desenvolvimento; um instrumento para o desenvolvimento sustentável. Sánchez (1993), por sua vez, propõe que a AIA será eficaz se desempenhar quatro papéis complementares: ajuda à decisão, ajuda à concepção e ao planejamento de projetos, instrumento de negociação social e instrumento de gestão ambiental. A função da AIA no processo decisório é a mais reconhecida, tratando de prevenir danos – a prevenção requer previsão, ou antecipação de uma provável situação futura, segundo Milaré e Benjamin (1993). Esta pressupõe a racionalidade das decisões públicas, que, geralmente, deveria sempre observar princípios jurídicos administrativos como os da impessoalidade, da moralidade e da publicidade (Mukai, 1992). Sabe-se publicamente decisões de governo sempre foram sujeitas a pressões e interesses privados, não se apresentando o meio ambiente como requisito suficiente para a transformação de práticas há muito enraizadas. Desse modo, pessoas encarregadas de tomada de decisões, sejam de âmbito públicaso ou privado, providenciam acerca daquilo que lhes é submetido. Raramente os tomadores de decisão apresentam-se criativos, inovadores ou empreendedores. Assim, a prevenção do dano ambiental não pode iniciar-se pelo final (tomada de decisão), mas, é claro, pelo início, ou seja, a formulação, a concepção e a criação de projetos e alternativas de solução para os problemas que se apresentam. Dessa forma, a função do processo de AIA seria a de “incentivar os proponentes a conceber projetos ambientais menos agressivos e não simplesmente julgar se os impactos de cada projeto são aceitáveis ou não” (Sánchez, 1993). Tradicionalmente, o que fazem os técnicos (aqui compreendidos os responsáveis por cada projeto) é reproduzir, para cada novo problema, maneiras de solucioná-los que atendam a determinados critérios técnicos e econômicos, enquanto o que se pretende com a AIA é apresentar o conceito de AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 6 viabilidade ambiental, pondo-o em pé de igualdade com os tradicionais critérios de análise de projeto. A busca da AIA se dá por soluções que possam atender aos novos e mais exigentes procedimentos ambientais(critérios), o que, de maneira ideal, resultaria em aprendizado e projetos que levem em consideração os aspectos ambientais desde a sua concepção. Observação: uma das grandes dificuldades enfrentadas pela AIA é fazer com que alternativas de menor impacto sejam formuladas e analisadas de maneira comparativa àquelas tidas por tradicionais. Para a análise ambiental, um projeto pode apresentar-se viável sob determinado ponto de vista, desde que certas condições sejam observadas (o atendimento a requisitos legais, por exemplo). No entanto, os impactos socioambientais de um projeto (que na análise econômica são tratados como externalidades) são distribuídos de maneira desigual. Observação: segundo Sánchez, notório é que “os grupos humanos beneficiados por um projeto geralmente não são os mesmos que suportam as consequências negativas” – um novo aterro sanitário beneficia toda a população de um município, mas pode prejudicar os vizinhos; uma usina hidrelétrica beneficia consumidores residenciais e industriais, no entanto prejudica aqueles que vivem na área de inundação. Assim, ainda segundo Sánchez, o debate sobre ônus e benefícios de projetos de desenvolvimento é atualmente medido pela avaliação de impacto ambiental, que passou a desempenhar um papel de instrumento de negociação entre atores sociais. A AIA possui igualmente o papel de procurar facilitar a gestão ambiental de um futuro empreendimento. A aprovação do projeto implica determinados AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 7 compromissos assumidos pelo empreendedor que foram delineados no estudo de impacto ambiental (EIA), podendo ser modificados em virtude de negociações com os interessados. A maneira de se implementarem as medidas mitigadoras e compensatórias, seu cronograma, a participação de outros atores na qualidade de parceiros e os indicadores de sucesso podem ser estabelecidos durante o processo de AIA, o qual não termina com a aprovação de uma licença, continuando na constância do ciclo de vida do projeto. Assim, os propósitos da avaliação ambiental podem ser elencados da seguinte maneira: 1) Assegurar que as considerações ambientais sejam explicitamente tratadas e incorporadas ao processo decisório. 2) Antecipar, evitar, minimizar ou compensar os efeitos negativos relevantes biofísicos, sociais e outros. 3) Proteger a produtividade e a capacidade dos sistemas naturais, assim como os processos ecológicos que mantêm suas funções. 4) Promover o desenvolvimento sustentável e otimizar o uso e as oportunidades de gestão de recursos. 1.3. Levantamento de Aspectos e Impactos A expressão avaliação de impacto ambiental (AIA) passou a fazer parte da terminologia e da literatura ambiental a partir de uma legislação pioneira que criou esse instrumento de planejamento para o meio ambiente – National Environmental Policy Act (Nepa) –, sendo esta a lei de política nacional ambiental dos Estados Unidos. Tal lei, aprovada pelo Congresso daquele país em 1969, passou a vigorar em 1o de janeiro de 1970 e acabou se transformando em modelo para legislações similares por todo o mundo. A referida norma exige a preparação AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 8 de uma “declaração detalhada” sobre o impacto ambiental proveniente de iniciativas do governo federal americano. Tal declaração – statement – equivale ao atual estudo de impacto ambiental necessário em diversos países para a possível aprovação de novos projetos que venham causar impactos ambientais significativos. Assim, o termo assessment passou a ser empregado na literatura ambiental para designar o processo de preparação dos estudos de impacto ambiental. Contudo, essa palavra utilizada pela língua inglesa possui raiz latina – sendo a origem de assentar ou sentar, em português – e ésinônimo de evaluation, outra palavra de origem latina, o mesmo que avaliar. Daí a tradução comumente utilizada em línguas latinas para environmental impact assessment como avaliação de impacto ambiental, evaluación de impacto ambiental, évaluation d’impact sur l’environnement, valutazione d’impatto ambientale. O significado e o objetivo da avaliação de impacto ambiental se prestam a um sem-número de interpretações. Sem dúvida, seu sentido depende de uma perspectiva, de um ponto de vista e do propósito de se avaliarem impactos. Uma definição sintética é adotada pela International Association for Impact Assessment (IAIA): “avaliação de impacto, simplesmente definida, é o processo de identificar as consequências futuras de uma ação presente ou proposta”. A avaliação de impacto ambiental é apresentada, seja como instrumento seja como procedimento ou mesmo ambos, com o objetivo de antever possíveis consequências de uma decisão. Embora a noção de impacto ambiental presente na avaliação por esta atendida seja fundamentalmente a mesma daquela da AIA preventiva, o objetivo do estudo não é o mesmo, tampouco o foco das investigações. Nesse caso, a preocupação maior é com os danos causados, ou seja, os impactos negativos, apresentando oportunamente procedimentos investigatórios diferentes, não se tratando da AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 9 antecipação de uma situação futura, mas de tentar mensurar o dano ambiental, valorando ocasionalmente de maneira econômica as perdas ocorridas. Em sua preocupação com o presente, com o futuro e também com o passado existe um procedimento comum de buscar fazer a comparação atual do ambiente e a que se supõe ter existido em algum momento pretérito. Na AIA, parte-se da descrição da situação atual do ambiente para que se possa ter uma projeção futura, com e sem o projeto em análise. Necessita-se, em ambos os casos, de conhecimento da situação atual do ambiente. Observação: denomina-se diagnóstico ambiental a descrição das condições ambientais existentes em determinada área no momento presente. A abrangência e a profundidade desse diagnóstico dependerão do objetivo e do escopo dos estudos desenvolvidos. Nessa preocupação com o passado, outra expressão bastante empregada é passivo ambiental, ora entendida como “o valor monetário necessário para a reparação dos danos ambientais ocorridos” (Sánchez, 2001), mas também usada para designar a própria manifestação física desse dano e os procedimentos necessários para sua reparação, a fim de que seja mantida a qualidade ambiental de determinado local. 1.4 Análise das Legislações Pertinentes para o Estudo de Impacto Ambiental O acesso à informação ambiental apresenta-se no art. 4o da convenção, que estabelece que as autoridades governamentais (Poder Público) devem colocar à disposição da população as informações que esta solicitar “sem que o público tenha que invocar um interesse particular”. A Lei Federal no 10.650/2003 dispõe sobre o direito à informação ambiental. Por tratar-se de um direito universal, não existe a obrigatoriedade de demonstração das razões do interesse do cidadão na demanda por determinada informação de cunho ambiental, AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 10 havendo exceções somente quando se tratar de segurança pública e propriedade intelectual. Há previsão também quanto à participação popular, no art. 6o da mesma convenção com relação à tomada de decisão em certas atividades envolvendo meio ambiente, listadas no Anexo 1 da convenção. Este se refere a uma série de atividades que, pela norma, deveriam estar sujeitas à atuação pública antes da tomada de decisão pelas autoridades governamentais e sujeitas ao processo de AIA. Além disso, as Resoluções do Conselho Nacional do meio Ambiente (Conama) vieram também nesta área, desde 1986, apresentar, dirimir e implantar procedimentos inerentes a avaliação de impacto ambiental: Conama no 1: dispõe sobre critériosbásicos e diretrizes gerais para o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) (1986). Conama no 237: regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente (1997). Conama no 279: estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental simplificado de empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental (2001). Conama no 306: estabelece os requisitos mínimos e o termo de referência para realização de auditorias ambientais (2002). Conama no 369: dispõe sobre os casos excepcionais, de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental, que possibilitam a intervenção ou a supressão de vegetação em área de preservação permanente (APP) (2006). Conama no 428: dispõe, no âmbito do licenciamento ambiental sobre a autorização do órgão responsável pela administração da Unidade de Conservação (UC), de que trata o §3o do artigo 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, bem como sobre a ciência do órgão responsável pela AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 11 administração da UC no caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA-Rima e dá outras providências (2010). Conama no 473: prorroga os prazos previstos no §2o do art. 1o e inciso III do art. 5o da Resolução no 428, de 17 de dezembro de 2010, que dispõe no âmbito do licenciamento ambiental sobre a autorização do órgão responsável pela administração da UC, de que trata o §3o do artigo 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, bem como sobre a ciência do órgão responsável pela administração da UC no caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA-Rima e dá outras providências (2015). Portaria Conjunta no 259: inclusão obrigatória no Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima), de alternativas de tecnologias mais limpas (MDL) para reduzir os impactos na saúde do trabalhador e no meio ambiente. Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV): a Lei Federal no 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) previu um novo instrumento de mediação entre os interesses privados daqueles que empreendem, garantindo o direito à qualidade urbana de quem nele vive ou transita. As interferências na utilização ou na ocupação de uma determinada área urbana produzem impactos de toda a natureza, positivos, negativos e sobre o seu entorno, interferindo diretamente na vivência e na dinâmica urbana. Assim, quanto maior vier a ser o empreendimento, maior o impacto causado por ele sobre a vizinhança (entorno), com previsão legal em seus arts. 36 a 38, no que se refere ao estudo a ser elaborado pelo empreendedor, para análise e posterior aprovação pelo poder público. De maneira geral, a maioria dos municípios brasileiros tem introduzido a “obrigatoriedade do Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV)” em seus planos diretores, levando em consideração: 1) O adensamento populacional. 2) Os equipamentos urbanos e comunitários. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 12 3) A valorização imobiliária. 4) O uso e a ocupação do solo. 5) A demanda por transporte público. 6) A geração de tráfego. 7) A paisagem urbana. 8) O patrimônio natural e cultural. Por meio desse estudo é possível um maior controle sobre os efeitos do planejamento urbano e ambiental de empreendimentos, propondo-se ações mitigadoras e compensatórias no intuito de minimizar danos ambientais e descontroles urbanísticos. Portanto, o EIV é considerado um instrumento importantíssimo de análise e controle nas questões de políticas públicas urbanas. Seu objetivo é democratizar a tomada de decisão sobre os empreendimentos considerados grandes nas cidades, sugerindo melhor adequação, bem como melhorias no projeto. 2. Métodos para Avaliação de Impacto Ambiental 2.1. Taxonomia dos Métodos para Avaliação de Impacto Ambiental Os estudos de impacto ambiental são feitos normalmente dentro de um contexto legal que estabelece requisitos a serem observados e procedimentos a serem cumpridos. Dentro do processo de AIA, a etapa de avaliação ou análise técnica dos estudos ambientais apresentados tem a função de verificação da conformidade desses estudos em relação a critérios preestabelecidos. Normalmente, os critérios observados são a regulamentação técnica aplicável em vigor na jurisdição onde foi realizado o estudo e os termos de referência previamente formulados. Eventualmente, o objetivo da análise poderá ser verificado à luz de alguma prática recomendada, tais como normas e diretrizes internas e até mesmo referências internacionais. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 13 Um balanço adequado entre descrição e análise, levando-se sempre em consideração o rigor metodológico e a isenção na aplicação das técnicas empregadas, está entre as qualidades desejáveis de todo estudo ambiental. É importante notar que um estudo exaustivamente descritivo sem a devida interpretação dos dados e com a pouca aplicação destes na análise dos impactos não apresenta qualquer relevância quanto ao resultado final, comprometendo sobremaneira os dados coletados ou compilados. Observação: uma definição bem simples do que seria uma boa AIA é dada por Lee (2000): “é aquela que apresenta, de uma forma apropriada para os usuários, constatações e conclusões que cubram todas as tarefas da avaliação, empregando métodos apropriados de coleta de informação, análise e comunicação”. Em outras palavras, uma boa AIA é aquela que apresenta as qualidades dos bons relatórios técnicos, analisando-se sempre forma e conteúdo. 2.2. Tipos de Métodos As linhas metodológicas de avaliação são mecanismos estruturados para comparar, organizar, analisar e avaliar informações sobre impactos ambientais de uma proposta, incluindo os meios de apresentação escrita e visual dessas informações (Cunha e Guerra, 2004). Existem de forma básica, as distintas linhas metodológicas desenvolvidas para a avaliação de impactos ambientais a seguir: Metodologias espontâneas (ad hoc). São métodos com base no conhecimento empírico de experts no assunto e/ou na área sob análise em questão. Metodologia de listagem (checklist). Em uma fase inicial, a listagem representa um dos métodos mais utilizados em AIA. Consiste em identificação e enumeração AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 14 dos impactos a partir da diagnose ambiental realizada por especialistas dos meios físico, biótico e socioeconômico. Assim, os especialistas deverão relacionar os impactos decorrentes das fases de implantação e operação do empreendimento, categorizando-os em positivos ou negativos conforme o tipo de modificação antrópica que esteja sendo introduzido no sistema analisado. Matrizes de interações. As matrizes tiveram início como uma tentativa de suprir as deficiências das listagens (checklist). Uma das mais difundidas em âmbitos nacional e internacional foi a matriz de Leopold (Leopold, 1971). Esta foi projetada para avaliação de impactos associados a quase todos os tipos de implantação de projetos, sendo os atributos de impacto classificados nominalmente em: a) Tipo de ação: primária, secundária e enésima, definidas respectivamente como uma simples relação de causa e efeito, como reação secundária em relação à ação, quando faz parte de uma cadeia de reações, ou como uma relação enésima em relação à ação. b) Ignição: imediata, médio e longo prazos; são definidas como imediata quando o efeito surge simultaneamente com a ocorrência da ação; quando o efeito se manifesta com certa defasagem de tempo em relação à ação, essa variação é considerada como sendo de médio ou longo prazo. c) Sinergia e criticidade: alta, média e baixa; definidas como o nível de interatividade entre os fatores, de modo a aumentar o poder de modificaçãodo impacto. d) Extensão: maior, igual ou menor do que a bacia hidrográfica; definidas respectivamente quando o impacto sobre o subsistema abrange uma área maior, igual ou menor do que a bacia em questão. e) Periodicidade: permanente, variável e temporária; definidas respectivamente quando os efeitos não cessam sua manifestação enquanto AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 15 perdurar a ação, ou quando não se tem conhecimento preciso de quanto tempo vai durar um determinado efeito e, ainda, quando o efeito tem duração limitada. f) Intensidade: alta, média e baixa; definidas pela quantificação da ação impactante. Redes de interações (networks). Essa metodologia procura estabelecer a sequência de impactos ambientais a partir de uma determinada intervenção utilizando método gráfico. A rede mais difundida é a Sorensen (1974). Segundo Bolea (1984), existem outros sistemas de redes, como o método CNYRPAB (frequentemente utilizado nos EUA), o Bereno (Alasca), além das considerações do Banco Mundial sobre redes de interações modificadas, como muitas empregadas no Brasil. Metodologias quantitativas. Os métodos quantitativos pretendem associar valores às considerações qualitativas que possam ser formuladas quando da avaliação dos impactos de um projeto. Um dos métodos quantitativos mais importantes foi o apresentado pelo Betelle Columbus Laboratories, em 1972, para o US Bureau of Reclamation, que utiliza, basicamente, indicadores de qualidade ambiental expressos por gráficos que relacionam o estado de determinados compartimentos ou segmentos ambientais com um estado de qualidade que varia de 0 a 1. Os indicadores são denominados parâmetros, oferecendo 71 gráficos dessa qualidade do ambiente com eles relacionados. Modelos de Simulação. Desenvolvido desde a década de 1970, são relativos à inteligência artificial ou a modelos matemáticos destinados a representar tanto quanto possível o comportamento de parâmetros ambientais ou as relações e interações entre as causas e os efeitos de determinadas ações. São bastante úteis em projetos de usos múltiplos e podem ser utilizados mesmo após o início de operação de um projeto. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 16 Mapas de superposição. As técnicas cartográficas são utilizadas na localização/extensão de impactos, na determinação de aptidão e uso do solo, na resolução de áreas de relevante interesse ecológico, cultural, arqueológico, socioeconômico e logicamente em zoneamentos e gerenciamentos ambientais; essa técnica consiste na confecção de uma série de cartas temáticas, uma para cada compartimento ambiental. Projeção de cenários. Esse método baseia-se na análise de situações ambientais prováveis em termos de evolução de um ambiente (cada situação corresponde a um cenário) e/ou de situações hipotéticas, referentes a situações diferenciadas geradas por proposição de alternativas de projetos e programas. Segundo Ávila e Santos (1989), os cenários podem ser classificados em três categorias: a) Cenários evolutivos e antecipatórios: os primeiros descrevem as trajetórias do sistema em estudo, desde o presente até um dado horizonte, procurando notar as consequências de decisões tomadas hoje e no futuro próximo. Já os cenários antecipatórios descrevem um estado futuro do sistema, omitindo considerações de como chegar lá. b) Cenários tendenciais e cenários alternativos: a distinção entre tendências e alternativas está no escopo da análise. Nos cenários tendenciais, políticas e situações não diferem radicalmente das tradicionais; para alternativos, no entanto, procura-se investigar possibilidades estruturalmente distintas daquelas. c) Cenários exploratórios e cenários normativos: os cenários exploratórios procuram, para uma determinada situação, analisar as consequências de várias políticas escolhidas a priori ou de maneira interativa; ao contrário, os normativos estabelecem as consequências desejadas e procuram determinar, para cada situação, quais políticas permitem alcançar a meta desejada. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 17 2.3. Características Gerais Graças a diversidade e complexidade dos métodos de AIA existentes, em que muitos não se apresentam compatíveis com as condições socioeconômicas e política do país, quando se faz necessária uma seleção voltada às nossas condições, em muitos casos, essas condições são adaptadas por meio de modificações e/ou revisões, para que se apresentem realmente úteis no momento da tomada de decisão acerca de um projeto. Apresenta-se a cargo então de cada equipe técnica a seleção daquele(s) método(s) mais apropriado(s), ou mesmo parte(s), conforme as atividades propostas. Observação: conforme visto, definir uma metodologia de avaliação de impactos ambientais consiste em igualmente definir os procedimentos técnicos, lógicos e operacionais capazes de permitir que o processo, anteriormente referido, seja completado. De acordo com os estudos analíticos de metodologias voltadas à AIA propostos nos âmbitos nacional e internacional, é de fundamental importância a incorporação de um conjunto de critérios básicos por atuais métodos empregados nessas análises, como: integração dos aspectos físicos, biológicos e socioeconômicos, não se esquecendo de incluir o fator tempo e a utilização de indicadores que possam facilitar a tarefa de prospecção e setorização do território, mecanismo este que permita realizar a soma dos impactos parciais para se obter o impacto total sobre a área. Assim, devem ser levadas em conta quanto ao método selecionado sua capacidade de extrapolação e arquivamento de dados, inclusive para a aplicação em outras áreas a serem igualmente estudadas, sua aplicação em diferentes escalas e a participação pública nas tomadas de decisões. Todos os critérios anteriormente apresentados procuram tornar cada vez mais eficazes a avaliação e a interpretação do ambiente, possibilitando a consequente AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 18 análise de viabilidade e identificação de possíveis alternativas para prevenção, recuperação e/ou reconstituição do ambiente. 2.4. Exemplos. Avaliação e Seleção de Métodos Conforme demonstrado no item 2.2, a necessidade de análises e avaliações abrangentes dos impactos gerados por projetos, planos, programas e políticas tem se tornado cada vez mais consistente. Assim, os procedimentos voltados para a AIA desenvolvidos nos últimos tempos foram, e ainda são em âmbito mundial, resultados dessas necessidades. Conforme visto anteriormente, não existe, ainda, uma metodologia ideal, que se apresente completa para atender todos os diferentes Estudos de Impacto Ambiental e suas respectivas fases. Assim, uma seleção metodológica entendida como mais apropriada para atender aos requisitos e normas legais estabelecidos para a execução dos estudos, se dá em função do tempo, bem como dos recursos financeiros disponíveis e, alguns casos, dos dados existentes. Observação: dessa maneira, é importante selecionar as metodologias na medida em que seus princípios possam ser utilizados ou mesmo adaptados às condições específicas de cada estudo ambiental, assim também quanto a cada realidade local ou mesmo nacional. Na verdade, os métodos a serem empregados terão já como princípio a obrigação à adaptação e ao reconhecimento das características e particularidades da área sob análise, até por conta do meio físico no qual atuarão (água e ar). Ressalte-se por oportuno a experiência profissional dos técnicos que se servirão de tais procedimentos em suas respectivas avaliações, contribuindo sobremaneira para reduzir o risco, por exemplo, da implantação de uma política pública inadequada. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 19 3. Licençae Autorização Ambiental 3.1. Autorização e Licença no Direito Administrativo Autorizações e licenças são atos administrativos referentes à outorga de direitos. Trata-se de terminologia técnico-jurídica cujos significados se distinguem, impedindo qualquer aplicação ou utilização de forma simultânea. Assim, autorização é ato administrativo discricionário e precário, por intermédio do qual a autoridade competente faculta ao administrado, conforme seja o caso em concreto, o exercício ou a aquisição de um direito. Significa dizer que a autoridade irá analisar de maneira discricionária, segundo seu critério de conveniência e oportunidade, a solicitação recebida em face do pedido do exercício da atividade pretendida. A licença é ato administrativo vinculado e definitivo que implica obrigação do Poder Público para atender a pedido de um interessado, quando cumpridos os requisitos pertinentes previstos em lei, isto é, os requisitos para o exercício da atividade pretendida, cumpridos pelo requerente, não cabendo recusa por parte da Administração Pública à sua efetivação, visto que deste cumprimento nasce o direito subjetivo do administrado à referida licença. Depreende-se, assim, quanto aos dois institutos, que, a autorização envolve interesse, tendo como característica ser um ato discricionário, porquanto a licença envolve direito, caracterizando-se por ser um ato vinculado. Em outras palavras: “A autorização é ato constitutivo e a licença é ato declaratório de direito preexistente” (Maria Sylvia Zanella de Pietro). Segundo a lei brasileira, o meio ambiente é qualificado como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido para uso da coletividade, ou, na linguagem do constituinte, bem de uso comum do povo, essencial à AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 20 sadia qualidade de vida. Por ser de todos em geral e de ninguém em particular, inexiste direito subjetivo à sua utilização, que, evidentemente, pode ser legitimado apenas por ato próprio do Poder Público. Autorizações e licenças são típicas de atos administrativos referentes à outorga de direitos. São termos técnico-jurídicos com significados distintos, que tornam impossível qualquer utilização simultânea ou crítica, seja por parte do legislador ou do intérprete. A grande distinção entre os dois institutos reside no fato de que autorização envolve interesse, é caracterizada por ser ato discricionário; já a licença envolve direito, caracterizando-se como ato vinculado. Assim, “não há qualquer direito subjetivo à obtenção ou à continuidade da autorização, daí porque a Administração pode negá-la conforme sua vontade, bem como pode cassar o alvará a qualquer momento, sem qualquer indenização”, porquanto “a licença resulta de um direito subjetivo do interessado, razão pela qual a Administração não pode negá-la, o que uma vez expedida, gera presunção definitiva. Sua invalidação só pode ocorrer por ilegalidade na expedição do alvará, por descumprimento do titular na execução da atividade ou por interesse público superveniente, caso em que se impõe a correspondente indenização”. 3.2. Licença ambiental Procedimento indelegável por parte do Poder Público, o licenciamento constitui-se em importante instrumento de gestão do meio ambiente, uma vez que, por intermédio dele, a Administração Pública exerce o controle necessário sobre as atividades do homem que interferem nas condições ambientais. Por outro lado, como exercício do poder de polícia administrativa, não deve apresentar-se como um entrave ao desenvolvimento da sociedade. Assim, como todo procedimento administrativo, o licenciamento ambiental pode ser visto como “uma sucessão itinerária e encadeada de atos administrativos que AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 21 tendem, todos, a um resultado final e conclusivo” (Édis Milaré). Conforme disposto no art. 1o da Resolução Conama no 237/1997, este é o “procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso”. Ponto de equilíbrio delicado, a licença ambiental deve não apenas cuidar da dinâmica e da adequação das atividades a serem exercidas, sem comprometer seu desenvolvimento, como resguardar os fatores de equilíbrio ambientais que possam por ela ser afetados. É, portanto, a qualificação do licenciamento um instrumento poderoso em meio à atual Política Nacional de Meio Ambiente. 3.3. Etapas do licenciamento Procedimento de ato uno, de caráter complexo, com atuação de diversos agentes dos vários órgãos do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), deve ser precedido de estudos técnicos que subsidiem sua análise (Conama no 237/1997, arts. 1o, III, e 3o, caput), assim como de EIA-Rima sempre que apresente significativo impacto ambiental. As etapas do licenciamento se fazem presentes no disposto no art. 10, da Resolução Conama no 237/1997, que apresenta como desdobramento (em caso positivo), em seu inciso VIII: a) Licença prévia (LP): ato pelo qual o administrador aprova a localização e a concepção do empreendimento ou atividade, atestando a sua viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos, assim como as condicionantes a serem atendidas nos passos seguintes de sua implementação. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 22 b) Licença de instalação (LI): apresenta de forma expressa o consentimento para o início da implementação do empreendimento ou atividade, em conformidade com as especificações presentes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo nesta as medidas relativas ao controle ambiental e aos demais condicionantes. c) Licença de operação (LO): expressa manifestação de concordância com a operação da atividade ou do empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do conteúdo das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação. 3.4. Natureza Jurídica De natureza sui generis, que se apresenta em razão das condicionantes atreladas, uma vez não se aplicarem a esta os procedimentos e as características da licença administrativa propriamente dita, o que a caracteriza por não se sujeitar nem a decisão vinculada nem a discricionariedade técnica. Trata-se de decisão em razão do projeto apresentado (conveniência), afastando o ato administrativo originário do modelo usual de procedimento de licenciamento, assemelhando-o muito mais a uma autorização. Dúvidas têm surgido quanto à sua natureza, por isso, em nome de uma coerência voltada a uma melhor caracterização de procedimentos, “o correto seria considerar a licença ambiental como uma nova espécie de ato administrativo, que reúne características das duas categorias tradicionais” (MILARÉ, 2009). Assim, a licença ambiental, apesar de conter prazo de validade, desfruta do caráter da estabilidade; por lei, não poderá ser suspensa ou revogada por simples discricionariedade e, menos ainda, por qualquer arbitrariedade do administrador público. Sua capacidade de renovação não provoca conflitos em relação à sua AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 23 estabilidade, sujeitando-se, contudo, à revisão, sendo passível de suspensão ou cancelamento em caso de interesse público, ilegalidade superveniente ou se houver descumprimento de requisitos preestabelecidos no processo de licenciamento – uma peculiaridade do Direito Ambiental. 3.5. Características da Licença Ambiental a) Divide-se em três subespécies:licença prévia, licença de instalação e licença de operação. b) Exigência de estudo prévio como condição à concessão da licença, sempre que a obra ou a atividade pretendida representar significativa degradação ambiental (avaliação prévia de impactos – EIA/RIMA). c) A emissão desta não assegura ao seu titular a manutenção do status quo que vigorava ao tempo de sua expedição. Encontrando-se sujeita a prazos de validade, obrigando seu detentor a periódicas renovações suscetíveis de novas exigências em face de novos procedimentos técnicos ou mudanças no ambiente onde se localiza o empreendimento ou a obra. 4. Licenciamento Ambiental – Competências 4.1. Competência para o Licenciamento Ambiental O licenciamento no meio ambiente de forma já conhecida é executado em diversos Estados por intermédio de leis locais, editadas principalmente a partir da Conferência de Estocolmo de 1972, ganha arcabouço definitivo com a edição da Lei no 6.938/81, ao lhe conferir o status de “Instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente”. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 24 Assim, sob a égide da Constituição de 1988, o art. 10 do referido diploma legal, com redação dada pela Lei no 7.804/89, atribui competência para o licenciamento ao órgão estadual integrante do Sisnama, e ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em caráter supletivo, sem prejuízo de outras licenças exigíveis. Percebe-se que, dentre outras coisas, um dos critérios definidores da competência para o licenciamento se funda no alcance do “impacto ambiental”. O Decreto no 99.274/90 substituiu e reproduziu algumas disposições contidas na Lei no 6.938/81 – o Decreto no 88.351/83 –, disciplinou o licenciamento ambiental com relativo detalhamento, orientado por um procedimento de três fases, caracterizadas por licença prévia (LP), licença de instalação (LI) e licença de operação (LO). De outra feita aponta Milaré (2013) que a Constituição de 1988, ao proclamar a autonomia dos diversos entes da Federação (arts. 1o e 18), recepcionando a Lei no 6.938/81, deixou claro que eles devem partilhar responsabilidades sobre a condução das questões ambientais, tanto no que tange à competência legislativa quanto no que diz respeito à competência dita implementadora ou de execução. E continua, assim, integrando o licenciamento no âmbito da competência de implementação, os três níveis de governo estão habilitados a licenciar empreendimentos com impactos ambientais, cabendo, portanto, a cada um dos entes integrantes do Sisnama promover a adequação de sua estrutura administrativa com o objetivo de cumprir essa função, que decorre, insista-se, diretamente da Constituição. 4.1.1. Critério para Definição do Órgão Licenciador No caminho do que defende a Lei no 6.938/81, depreende-se da Resolução Conama no 237/97 que o critério para a identificação do órgão AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 25 preponderantemente habilitado para o licenciamento é determinado pela área de influência direta do impacto ambiental. Desse modo, apenas os impactos diretos são determinantes para tal, pois os indiretos podem alcançar proporções inimagináveis, de modo a despertar o interesse da própria aldeia global. Segundo Hamilton Alonso Jr., “o raio de influência ambiental é que indicará o interesse gerador da fixação da atribuição, traçando-se uma identificação da competência jurisdicional (art. 2o da Lei Federal no 7.347/85 – local do dano ambiental)”. Assim, pouco importa a titularidade da área onde será implementada a obra ou atividade. Fundado nas consequências dos impactos ambientais, e na projeção destes em função do tempo e da potencialidade com que podem ocorrer, os órgãos afetos ao procedimento licenciatório se apresentam de forma distinta. Assim, os três níveis de governo estão habilitados a licenciar, cabendo a cada um dos integrantes do Sisnama promover adequadamente sua estrutura administrativa objetivando essa função. Diante do que se apresenta na Lei no 6.938/1981, compreende-se por oportuno o disposto na Resolução Conama no 237/1997, quanto ao critério para a identificação do órgão habilitado ao licenciamento, que parte da área de influência direta do impacto ambiental, não importando muito a titularidade da área onde irá implantar-se a obra ou o empreendimento. Desse modo, a jurisprudência em vigor, no intuito de dirimir controvérsias, vem referendando entendimento com relação ao licenciamento ambiental da seguinte maneira: (a) “A competência para licenciar projeto de obra ou atividade potencialmente danosa ao meio ambiente não se fixa pela titularidade dos bens nele contemplados, mas pelo alcance dos seus possíveis impactos ambientais”. (TRF-5a AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 26 Região, Apelação Cível 327022, rel. Des. Federal Ridalvo Costa, DJ 17.05.2003, p. 659, un; TRF-4a Região, Apelação Cível 2002.72.08.003119-8, rel. Des. Valdemar Capeletti, DJ 27.07.2005) (b) “A regra geral, portanto, é o licenciamento ocorrer sempre por meio de ato emitido pelos órgãos estaduais (caput do art. 10, da Lei no 6.938/1981), exceto ‘no caso de atividades e obras com significativo impacto ambiental, de âmbito nacional ou regional’ (§4o), quando a competência é privativa do Ibama. Assim, pouco importa quem seja o proprietário do imóvel (terreno de marinha, por exemplo) em que esteja a obra ou atividade a ser licenciada, pois o que determina a competência da Autarquia é a magnitude do impacto ambiental que elas possam causar”. (Ação Ordinária [procedimento comum ordinário] 2006.72.00.013209- 0/SC, Juiz Federal Julio Schattschneider, j. 28.07.2008) 4.1.2. Licenciamento Federal Ao se configurar um impacto de âmbito nacional (aquele que afeta diretamente todo o país) ou regional (aquele que afeta diretamente, no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados), a competência para licenciar é atribuída ao órgão da esfera federal da Administração, ou seja, o Ibama. Conforme apontado no art. 4o da Resolução Conama no 237/97, os empreendimentos e atividades ali contemplados. Dessa forma, no curso do licenciamento em comento, o qual seguirá a liturgia presente na Instrução Normativa no 184/2008, o Ibama deverá considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localiza o empreendimento ou a atividade, bem como, quando couber, outros órgãos públicos de qualquer esfera administrativa envolvidos no procedimento, não havendo para com esses últimos caráter vinculante com relação a exames e pareceres eventualmente por eles produzidos. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 27 4.1.3. Licenciamento estadual ou distrital Aos órgãos ambientais estaduais ou do Distrito Federal, é pertinente, geralmente, o licenciamento dos empreendimentos e atividades com impacto microrregional (aquele que ultrapassa os limites territoriais de um ou mais Municípios), conforme disposto no art. 5o da Resolução Conama no 237/97. Nesses casos, o órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal realizará o licenciamento após as considerações sobre o exame técnico realizado pelos órgãos ambientais dos Municípios nos quais se localizam a atividade ou o empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos públicos de qualquer esfera administrativa envolvidos no procedimento de licenciamento, não havendo igualmente com relação a esses últimos caráter vinculante com relação a exames e pareceres eventualmente por eles produzidos. 4.1.4. Licenciamento Municipal Em conformidade com o disposto no art. 6o da Resolução Conama no 237/97, é de competência do órgão ambiental municipal o licenciamento de atividades e empreendimentos causadores de impacto local(aquele circunscrito aos limites territoriais do município) e também dos que lhe forem delegados pelo Estado, por intermédio de instrumento legal ou convênio, sendo exigido quanto a esse seguimento a oitiva dos demais órgãos públicos envolvidos. Volta-se a atenção, no entanto, ao Município, uma vez que, para o cumprimento de tal objetivo, deve ter este implementado seu Conselho de Meio Ambiente, o qual possui caráter deliberativo e de participação social, e ainda possuindo em seus quadros ou mesmo à sua disposição, profissionais legalmente habilitados. Um dado, porém, chama a atenção. Segundo o IBGE, até 2008, dos 5.564 municípios brasileiros à época, somente 18,7% haviam adotado a gestão plena, com estrutura, conselho ativo e recursos voltados especificamente para o setor. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 28 5. Prazos Recorrentes no Processo de Licenciamento 5.1. Prazos para Análise das Licenças Ao suprir omissão da Lei Federal, a Resolução Conama no 237/97 inovou ao estabelecer prazos para a análise das licenças, podendo, contudo, ser alterados por regras próprias, porém restritivas, tanto dos estados quanto dos próprios Municípios, uma vez terem suas autonomias asseguradas constitucionalmente. Tal apreciação ocorrerá, em princípio, segundo o disposto no art. 14, caput, da Resolução mencionada. Carecendo, no entanto, o órgão ambiental de esclarecimentos ou mesmo de estudos ambientais complementares, a contagem dos referidos prazos será suspensa até a solução do incidente procedimental, o que deverá ocorrer dentro do prazo máximo de 4 meses, a contar da data em que tiver sido notificado o empreendedor. Outrossim, desde que justificados e com a concordância do órgão ambiental, poderão os prazos ser alterados, na conformidade do que se encontra disposto no caso concreto. 5.2. Prazos de Validade das Licenças A Lei no 6.938/81, ao prever a revisão do licenciamento e ao mencionar sua renovação, pôs em evidência uma das características da licença ambiental – sua eficácia temporal –, visando impedir a perenização de padrões que habitualmente são superados tecnologicamente. Regulamentada a matéria no âmbito de sua competência, a Resolução Conama no 237/97 fixou prazos de validade para as licenças ambientais expressamente, conforme disposto em seu art. 18. E, tal qual nos prazos para análise destas, desde que justificados e com a concordância do órgão ambiental, poderão também esses prazos ser alterados, na conformidade do que se encontra disposto no caso concreto, quanto à necessidade de sua renovação. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 29 5.3. Alterações e Retiradas das Licenças A licença ambiental, desde que validamente outorgada, garante ao seu titular uma estabilidade meramente temporal, mas não o direito adquirido de operar ad aeternum. Verdadeiramente, o licenciamento ambiental foi idealizado e deve ser entendido como se fosse um compromisso estabelecido entre o empreendedor e o Poder Público, em que, de um lado, o empresário compromete-se na implantação e operação da atividade, segundo as condicionantes presentes nos alvarás de licença recebidos e, do outro lado, o Poder Público garantindo-lhe que, durante o prazo de vigência da licença, uma vez obedecidas suas condicionantes, em circunstâncias normais, nada mais lhe será exigido a título de amparo ambiental. Por outro lado, em havendo descumprimentos quanto à sua concessão, o art. 19 da Resolução Conama no 237/97 autoriza ao órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, modificar, suspender ou mesmo cancelar a licença expedida. 5.4. Modificações das Licenças A palavra modificar advém do latim modificare (dispor novamente, reordenar, limitar, regular), significa “alteração ou substituição de alguma coisa, em parte ou no todo, cujo modo de ser era um, transformando-se em nova forma, nova ordem ou nova disposição”. Nessa linha de raciocínio, modificação tem o sentido de “ação de dar nova configuração ou nova ordem ao que existia anteriormente”. Não implica a bem da verdade nulidade do ato, mas uma conformação das condicionantes e das medidas de um determinado controle e adequação, de modo a conjurar ou minorar os riscos de danos ambientais. É o que se depreende da redação do art. 19, caput, da Resolução Conama no 237/97. Podem ocorrer, porém, situações imprevisíveis no momento da emissão da licença, as quais venham a impactar de maneira sensível a atividade econômica desenvolvida ao longo de período de sua validade. Em tais casos, enseja-se de AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 30 maneira excepcional a possibilidade de se modificar o ato autorizativo, a fim de tornar possível o prosseguimento da atividade econômica licenciada, desde que isso não implique prejuízos não mitigáveis ao meio ambiente. Não só isso, outras situações podem apresentar-se; por isso, é importante notar que tanto as realidades socioambientais quanto as socioeconômicas sofrem modificações aceleradas as quais podem determinar situações de mudança a serem ponderadas, seja na manutenção seja na modificação da licença, podendo estas ser não apenas restritivas, mas também deliberativas. 5.5. Suspensões das Licenças Suspender, do latim suspendere (deter, sustar, pendurar, deixar pendente), apresenta-se, no sentido jurídico, da mesma maneira que “interromper, sobrestar, impedir, privar, proibir, sempre em sentido temporário ou limitado”. Assim, suspender uma licença significa sustá-la ou sobrestá-la até que a obra ou atividade se apresente adequada aos procedimentos ambientais exigidos, ensejando nas hipóteses de omissão de informações relevantes durante o processo licenciatório, passível de sanção, e superveniência de graves riscos para o ambiente e a saúde, superáveis mediante a adoção de medidas de controle e adequação. Igualmente nesse caso as medidas recomendadas para a adaptação serão suportadas pelo empreendedor, segundo os princípios constitucionais já apontados, referentes à função socioambiental da propriedade e do meio ambiente sadio como direito fundamental da pessoa humana. 5.6. Cancelamento das Licenças Cancelar, do latim cancellare (cobrir com grade, riscar, borrar, inutilizar), em sentido amplo, significa “o ato pelo qual se desfaz, anula-se ou se torna ineficaz o que anteriormente fora praticado, seja porque tenha ela já cumprido sua AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 31 finalidade, ou porque haja motivo para essa anulação”. É pertinente nos casos em que a licença é expedida em flagrante dissonância com a ordem jurídica, é subsidiada por falsa descrição de informações relevantes, ou mesmo pela superveniência de graves riscos para o ambiente e a saúde, não suscetíveis de superação mediante a adoção de medidas de controle e adequação. Há, contudo, de se verificar se a invalidade é fruto ou não de má-fé do empreendedor para que se possa aferir quanto a uma eventual indenização administrativa – responsabilidade objetiva do Estado ‒ passível de ação de regresso quando houver dolo ou culpa do funcionário. 5.7. Direito à Indenização Uma vez qualificada a licença como ato administrativo vinculado, questiona-se a pertinência do pleito indenizatório em favor do titular inocente, em caso de retirada do ato. Para Hely Lopes Meirelles, “a situação só poderá ser solucionada pela supressão do ato mediante indenização completa dos prejuízos suportados pelo seu beneficiário. Insto porque, se, de um lado não pode o particular manter situações prejudiciais ao interesse público, de outro, não é lícito ao Poder Público suprimir direitos e vantagens individuais, adquiridos legitimamente pelo particular”. Odete Medauar, por sua vez, diz que o poder de revogar encontra limite no tocante aos atos vinculados,editados na conformidade de requisitos e condições, pré-fixados na norma, e atendidos pelo interessado (...). É o caso das licenças. Se a administração revogar ato de que decorreu direito, caberá o pagamento de indenização pelos danos causados. Celso Antonio Bandeira de Mello vai além, e, para ele, “não cabe à Administração decidir que revoga e remeter o lesado às vias judiciais para composição patrimonial dos danos. Isto corresponderá à ofensa de um direito e à prática de AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 32 um ato ilegítimo que o judiciário deve fulminar se o interessado o requerer (...). Assim, depois de concedida regularmente uma licença para edificar e iniciada a construção, a Administração não pode ‘revogar’ ou ‘cassar’ esta licença sob alegação de que mudou o interesse público ou de que se alterou a legislação a respeito. Se o fizer, o Judiciário, em havendo pedido do interessado, deve anular o ato abusivo, pois cumpre à Administração expropriar o direito de construir naqueles termos. Não é o mesmo ter que buscar em juízo uma indenização por danos e ser buscado no Judiciário (uma expropriação), com indenização prévia. São caminhos diferentes. Desassiste ao Poder Público, através de comportamento abusivo, lançar o administrado em via menos conveniente para ele”. Assim, se é verdade que, em caso de dano, sempre responde objetivamente o administrado, também é certo que este mesmo ônus é imposto ao Estado, em atenção ao princípio da solidariedade que norteia a responsabilidade ambiental e ao comando constitucional de que as pessoas jurídicas de Direito Público não estão contrárias aos atos danosos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros. Dessa forma, se assim não fosse, não fosse o peso da defesa e da proteção ambiental recairia exclusivamente sobre os ombros do administrado, em dissonância com o disposto no art. 225 da Constituição, por força do qual o Poder Público e a coletividade devem compartilhar solidariamente o ônus da responsabilidade ambiental. 5.8. Licenciamento Corretivo de Fontes de Poluição e Direito Adquirido As inovações legislativas em matéria ambiental, principalmente no que concerne ao controle da poluição, ao uso de recursos naturais e às normas de uso e ocupação do solo, podem tornar desconformes situações consolidadas sob o império de lei antiga. Daí os possíveis questionamentos sobre a incidência da regra nova sobre as atividades efetiva e potencialmente degradadoras e as obras AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 33 já consolidadas, que, em última análise, refletem conflitos relacionados com a aplicação da lei no tempo. A Constituição Federal assegura a irretroatividade da lei, por meio da proteção, contra a lei nova, do direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada. Assim, por exemplo, aponta Milaré (2013), em relação ao exercício de uma determinada atividade ou ao direito de construir, que se tem, na verdade, a aplicabilidade imediata da lei nova, se a atividade ou a obra não foi iniciada. Entretanto, se já estiverem em operação com base em licença ambiental, deverão aguardar a renovação do ato autorizativo para serem incorporadas as novas exigências, salvo nos casos em que a lei impuser condições e prazos específicos. Cumpre dizer que isso não implica ofensa ao direito adquirido nem ao ato juridicamente perfeito, pois a própria legislação ambiental impõe a renovação da licença para atividades potencial ou efetivamente poluidoras, exatamente para permitir a atualização tecnológica do controle da poluição. Além da regra contida presente no Decreto no 4.340/2002 merecem destaque, entre outros, o disposto no art. 12, § 5o, da Resolução Conama no 006/87, e o art. 71-A, § 1o, do Decreto no 8.468/76, com a redação que lhe foi dada pelo Decreto no 47.397/2002, do Estado de São Paulo. Portanto, respeitadas as garantias constitucionais, é possível exigir a correção do licenciamento daquele que já o fez, bem como daquele que não o fez, sob pena de se consentir com a poluição e a degradação em detrimento do direito de todos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Por esse mesmo entendimento, não se pode esquecer de que a operação de atividade potencialmente poluidora sem a devida licença ambiental é tipificada como crime ambiental nos termos do disposto no art. 60 da Lei no 9.605/98. Portanto, a partir do momento em que a legislação passa a não tolerar a conduta AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 34 daquele que opera sem a devida licença (considerando inclusive como crime tal atitude), em momento algum, sua ausência pode ser justificada. 6. A Publicidade no Licenciamento Ambiental O Princípio da Publicidade legitima o ato, seja ele jurídico ou administrativo. Assim, em consonância com o disposto no art. 10, § 1o, da Lei no 6.938/81, “os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados em jornal oficial do Estado, bem como em um periódico regional ou local de grande circulação”. O Decreto no 99.274/90, ao regulamentar tal dispositivo, dispôs no §4o do art. 17 a exigência do ato, legitimando-o frente ao ordenamento jurídico. formado mesmo modo, a Lei no 10.650/2003, ao dispor sobre o acesso público a dados e informações existentes em órgãos e entidades integrantes do Sisnama, estabeleceu que listagens e relações contendo os dados de pedidos de licenciamento, suas renovações e a respectiva expedição deverão ser publicadas em Diário Oficial e ficar disponíveis, no respectivo órgão, em local de fácil acesso ao público. A publicidade, segundo Hely Lopes Meirelles, “é a divulgação oficial do ato para conhecimento público e início de seus efeitos externos. Daí por que as leis, atos e contratos administrativos, que produzem consequência jurídicas fora dos órgãos que os emitem, exigem publicidade para adquirirem validade universal, isto é, perante as partes e terceiros. A publicidade não é elemento formativo do ato; é requisito de eficácia e moralidade”. E arremata: “os atos e contratos administrativos que omitirem ou desatenderem à publicidade necessária não só deixam de produzir seus regulares efeitos como se expõem a invalidação por falta desse requisito de eficácia e moralidade”. Assim, a falta de publicidade ou a sonegação indevida de informações durante o desenvolvimento do licenciamento ambiental macula a legalidade do ato, que AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 35 pode, em consequência, ser anulado pela própria Administração ou pelo Poder Judiciário, por ação popular ou ação civil pública. 7. Responsabilidade Penal por Informação Falsa, Incompleta ou Enganosa no Licenciamento O meio ambiente, para ser compreendido e protegido de maneira adequada, demanda a atuação de pessoal técnico capacitado nos mais diversos ramos do conhecimento, a chamada multidisciplinaridade. A importância do conhecimento desses experts se amplia quando seus estudos, avaliações, pareceres e diagnósticos são requeridos na instrução de licenciamentos ambientais ou de outros procedimentos administrativos instaurados com vistas à aprovação de determinadas intervenções humanas no meio ambiente. Assim, embora presente em nosso ordenamento a Lei no 9.605/98, que concretizou a previsão constitucional quanto à responsabilidade criminal daquele que age em detrimento do meio ambiente, no caso do art. 69-A, disposto na Lei de Crimes Ambientais por determinação do art. 82, da Lei no 11.284/2006, parece ter havido, por parte do Legislador, um infundado exagero na cominação da pena, desenganadamente a mais gravosa dentre todas as previstas para os crimes ambientais. Nesse particular, há flagrante ofensa ao princípio da proporcionalidade. Mais assombrosa ainda é a pena a que o peritoestá sujeito caso a informação errada, falsa ou omitida no estudo técnico dê causa a significativo dano ambiental, conforme insculpido no mesmo art. 69-A, da lei anteriormente citada, sendo esta o dobro do máximo previsto para quem se vê processado por poluição qualificada (art. 54, §2o, da Lei de Crimes Ambientais). Isto também atenta igualmente contra os princípios da ofensividade e igualdade, assim atingidos por tamanha disparidade de tratamento, por exemplo, entre o técnico, cujo trabalho seja AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 36 castigado a partir de falha, engano ou omissão, e o funcionário público que, tendo constatado a dita falha, silencia e promove o deferimento do pedido de autorização, licença ou permissão, quando será apenado, no máximo, na conformidade do disposto no art. 67, da Lei no 9.605/98, que prevê sanção bem mais branda. Em função de tais previsões, descontadas as situações em que haja comprovada má-fé e o propósito de ludibriar o órgão ambiental, não se pode afirmar, de plano, que toda discrepância de cunho científico trazida à baila no âmbito de um procedimento administrativo ambiental se origine de má-fé ou falta de capacitação técnica de algumas das partes. 8. Controle da Validade das Licenças Tal procedimento é de cabimento tanto da Administração Pública quanto do Poder Judiciário. Como bem aponta Marcelo Dawalidi, “ato administrativo é essencialmente revogável, e, se, posteriormente à sua prática, houver interesse público que justifique a sua revisão, nada impede que a Administração Pública o faça, seja ele vinculado ou discricionário. Se o fundamento máximo do Poder de Polícia, e, de resto, de toda a atividade administrativa, é a supremacia do interesse público sobre o individual, é óbvio que a Administração Pública poderá, sempre, rever qualquer ato que, supervenientemente à sua edição, se mostre contrário ao interesse coletivo, revogando-o em benefício da sociedade”. Omitindo-se a administração quanto a esse poder-dever que lhe foi conferido pelo legislador, enseja-se a interferência do Poder Judiciário, a pedido de um dos colegitimados para a ação civil pública ou de qualquer cidadão, em ação popular, para que seja determinada a revisão ou até a invalidação da licença. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 37 9. Licenciamento Ambiental Especial Determinados empreendimentos, dotados de características específicas, em razão do porte, da natureza, da localização, da dinâmica de exploração e demais especificidades, rebelam-se ao trâmite normal do licenciamento, estabelecido no art. 10 da Resolução Conama no 237/97. Isso não significa que a sua análise venha a ser superficial, mas apenas que deverá adequar-se, por exemplo, às fases de implementação da atividade ou mesmo às suas particularidades mais simples nos casos em que seus impactos não se apresentem significativos. Ademais, previu igualmente a Resolução no 237/97 que, além das tradicionais licenças prévia, de instalação e de operação, “o Conama definirá, quando necessário, licenças ambientais específicas, observadas a natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e operação”. Como exemplo pode ser citada a licença de instalação e operação (LIO), prevista na Resolução no 387/2006, que disciplina o licenciamento de projetos de assentamentos de reforma agrária. Tomando-se por base as particularidades apontadas no art. 12, da Resolução Conama no 237/97, quando o Conama deixa a critério do órgão licenciador o estabelecimento de regras complementares à legislação existente, como, por exemplo, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo, ao expedir a Resolução no 019/96, definindo procedimento próprio para o licenciamento de sistemas urbanos de esgotamento sanitário. Até o presente momento, o Conama editou as seguintes normas específicas relativas ao licenciamento ambiental: 1) Resolução no 006/1987: obras de grande porte, como geração de energia elétrica. 2) Resolução no 005/1988: obras de saneamento. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 38 3) Resolução no 009/1980: extração mineral, classes I, II, IX. 4) Resolução no 010/1990: extração mineral, classe II. 5) Resolução no 023/1994: atividades de exploração e lavra de jazidas de combustíveis líquidos e gás natural. 6) Resolução no 010/1996: empreendimentos ou atividades em praias nas quais ocorre a desova de tartarugas marinhas. 7) Resolução no 264/1999: fornos rotativos de produção de clínquer para atividades de coprocessamento de resíduos. 8) Resolução no 273/2000: postos de combustíveis e serviços. 9) Resolução no 279/2001: empreendimentos elétricos com pequeno potencial de impacto ambiental. 10) Resolução no 284/2001: empreendimentos de irrigação. 11) Resolução no 286/2001: empreendimentos nas regiões endêmicas de malária. 12) Resolução no 305/2002: atividades e empreendimentos com organismos geneticamente modificados e seus derivados. 13) Resolução no 312/2002: empreendimentos de carcinicultura na zona costeira. 14) Resolução no 313/2002: controle de resíduos existentes ou gerados pelas atividades industriais. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 39 15) Resolução no 316/2002: sistema de tratamento térmico de resíduos. 16) Resolução no 334/2003: estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos. 17) Resolução no 335/2003: cemitérios, alterada pelas Resoluções Conama no 368/2006 e no 402/2008. 18) Resolução no 347/2004: intervenções no patrimônio espeleológico. 19) Resolução no 349/2004: empreendimentos ferroviários de pequeno potencial de impacto ambiental. 20) Resolução no 350/2004: atividades de aquisição de dados sísmicos marítimos e em zonas de transição. 21) Resolução no 377/2006: sistemas de esgotamento sanitário. 22) Resolução no 385/2006: agroindústrias de pequeno porte e baixo potencial de impacto ambiental. 23) Resolução no 387/2006: procedimentos para projetos de assentamentos de reforma agrária. 24) Resolução no 404/2008: estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de aterro sanitário de pequeno porte de resíduos sólidos urbanos. 25) Resolução no 406/2009: estabelece parâmetros técnicos a serem adotados na elaboração, apresentação, avaliação técnica e execução de Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) com fins AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 40 madeireiros, para florestas nativas e suas formas de sucessão no bioma Amazônia. 26) Resolução no 410/2009: prorroga o prazo para complementação das condições e padrões de lançamento de efluentes, previsto no art. 44 da Resolução no 357, de 17 de março de 2005, e no art. 3o da Resolução no 397, de 3 de abril de 2008. 27) Resolução no 411/2009: dispõe sobre procedimentos para inspeção de indústrias consumidoras ou transformadoras de produtos e subprodutos florestais madeireiros de origem nativa, bem como os respectivos padrões de nomenclatura e coeficientes de rendimento volumétricos, inclusive carvão vegetal e resíduos de serraria. 28) Resolução no 412/2009: estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental de novos empreendimentos destinados à construção de habitações de interesse social. 29) Resolução no 413/2009: dispõe sobre o licenciamento ambiental da aquicultura e dá outras providências. 30) Resolução no 416/2009: dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental causada por pneus inservíveis e sua destinação ambientalmente adequada e dá outras providências. 31) Resolução no 420/2009: dispõe sobre critérios e valores orientadoresde qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 41 32) Resolução no 425/2010: dispõe sobre critérios para a caracterização de atividades e empreendimentos agropecuários sustentáveis do agricultor familiar, do empreendedor rural familiar e de povos e comunidades tradicionais como de interesse social para fins de produção, intervenção e recuperação de APP e outras de uso limitado. 33) Resolução no 428/2010: dispõe, no âmbito do licenciamento ambiental, sobre a autorização do órgão responsável pela administração da C, de que trata o §3o do art. 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, bem como sobre a ciência do órgão responsável pela administração da UC no caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA-Rima e dá outras providências. 34) Resolução no 429/2011: dispõe sobre a metodologia de recuperação das APP. 35) Resolução no 430/2011: dispõe sobre condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução Conama no 357, de 17 de março de 2005. 36) Resolução no 432/2011: estabelece novas fases de controle de emissões de gases poluentes por ciclomotores, motociclos e veículos similares novos e dá outras providências. 37) Resolução no 433/2011: dispõe sobre a inclusão no Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) e estabelece limites máximos de emissão de ruídos para máquinas agrícolas e rodoviárias novas. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 42 38) Resolução no 436/2011: estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas instaladas ou com pedido de licença de instalação anteriores a 02 de janeiro de 2007. 39) Resolução no 458/2013: estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental em assentamento de reforma agrária e dá outras providências. 40) Resolução no 459/2013: altera a Resolução Conama no 413, de 26 de junho de 2009, que dispõe sobre o licenciamento ambiental da aquicultura, e dá outras providências. 41) Resolução no 462/2014: estabelece procedimentos para o licenciamento ambiental de empreendimentos de geração de energia elétrica a partir de fonte eólica em superfície terrestre, altera o art. 1o da Resolução Conama no 279, de 27 de julho de 2001, e dá outras providências. 42) Resolução no 465/2014: dispõe sobre os requisitos e os critérios técnicos mínimos necessários para o licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens de agrotóxicos e afins, vazias ou contendo resíduos. 43) Resolução no 470/2015: estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental dos aeroportos regionais. 44) Resolução no 473/2015: prorroga os prazos previstos no §2o do art. 1o e inciso III do art. 5o da Resolução no 428, de 17 de dezembro de 2010, que dispõe no âmbito do licenciamento ambiental sobre a autorização do órgão responsável pela administração da UC, de que trata o §3o do art. 36 da Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000, bem como sobre a ciência do órgão responsável pela administração da AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 43 UC no caso de licenciamento ambiental de empreendimentos não sujeitos a EIA-Rima e dá outras providências. 10. Atividades Sujeitas ao Licenciamento Ambiental Alguns empreendimentos e atividades impactantes, apesar de serem agentes de transformação tecnológica e de desenvolvimento econômico, podem trazer impactos ambientais negativos ao meio ambiente, visto que as atividades produtivas desempenhadas poderão ocasionar danos ambientais, diminuindo a qualidade ambiental e acentuando a poluição, trazendo riscos para a saúde pública e ameaçando de extinção espécies raras. Entre as atividades e os empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, de acordo com o Anexo 1 da Resolução no 237/97, podem ser citados: a. Extração e tratamento de minerais Pesquisa mineral com guia de utilização. Lavra a céu aberto, inclusive de aluvião, com ou sem beneficiamento. Lavra subterrânea com ou sem beneficiamento. Lavra garimpeira. Perfuração de poços e produção de petróleo e gás natural. b. Indústria de produtos minerais não metálicos Beneficiamento de minerais não metálicos, não associados à extração. Fabricação e elaboração de produtos minerais não metálicos tais como: produção de material cerâmico, cimento, gesso, amianto e vidro, entre outros. c. Indústria metalúrgica Fabricação de aço e de produtos siderúrgicos. Produção de fundidos de ferro e aço/forjados/arames/relaminados com AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 44 ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Metalurgia dos metais não ferrosos, em formas primárias e secundárias, inclusive ouro. Produção de laminados/ligas/artefatos de metais não ferrosos com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Relaminação de metais não ferrosos, inclusive ligas. Produção de soldas e anodos. Metalurgia de metais preciosos. Metalurgia do pó, inclusive peças moldadas. Fabricação de estruturas metálicas com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Fabricação de artefatos de ferro/aço e de metais não ferrosos com ou sem tratamento de superfície, inclusive galvanoplastia. Têmpera e cementação de aço, recozimento de arames, tratamento de superfície. d. Indústria mecânica Fabricação de máquinas, aparelhos, peças, utensílios e acessórios com e sem tratamento térmico e/ou de superfície. e. Indústria de material elétrico, eletrônico e comunicações Fabricação de pilhas, baterias e outros acumuladores. Fabricação de materiais elétrico e eletrônico e equipamentos para telecomunicação e informática. Fabricação de aparelhos elétricos e eletrodomésticos. f. Indústria de material de transporte Fabricação e montagem de veículos rodoviários e ferroviários, peças e acessórios. Fabricação e montagem de aeronaves. Fabricação e reparo de embarcações e estruturas flutuantes. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 45 g. Indústria de madeira Serraria e desdobramento de madeira. Preservação de madeira. Fabricação de chapas, placas de madeira aglomerada, prensada e compensada. Fabricação de estruturas de madeira e de móveis. h. Indústria de papel e celulose Fabricação de celulose e pasta mecânica. Fabricação de papel e papelão. Fabricação de artefatos de papel, papelão, cartolina, cartão e fibra prensada. i. Indústria de borracha Beneficiamento de borracha natural. Fabricação de câmara de ar e fabricação e recondicionamento de pneumáticos. Fabricação de laminados e fios de borracha. Fabricação de espuma de borracha e de artefatos de espuma de borracha, inclusive látex. j. Indústria de couros e peles Secagem e salga de couros e peles. Curtimento e outras preparações de couros e peles. Fabricação de artefatos diversos de couros e peles. Fabricação de cola animal. k. Indústria química Produção de substâncias e fabricação de produtos químicos. Fabricação de produtos derivados do processamento de petróleo, de rochas betuminosas e da madeira. AVALIAÇÃO DE IMPACTO E LICENCIAMENTO AMBIENTAL 46 Fabricação de combustíveis não derivados de petróleo. Produção de óleos/gorduras/ceras vegetais-animais/óleos essenciais vegetais e outros produtos da destilação da madeira. Fabricação de resinas e de fibras e fios artificiais e sintéticos e de borracha e látex sintéticos. Fabricação de pólvora/explosivos/detonantes/munição para caça- desporto,
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