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Literatura vol 12 Positivo

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Volume 12
Literatura
23
24
Sumário
Literatura Contemporânea I ........................ 4
A cultura literária no contexto contemporâneo .............................................. 8
Manifestações da arte contemporânea brasileira: Concretismo ...................... 9
Oposições ao Concretismo .............................................................................................................. 12
 Neoconcretismo ...................................................................................................................................... 12
 Poesia Práxis ........................................................................................................................................... 12
Cultura e Contracultura ................................................................................... 15
 Poesia marginal ...................................................................................................................................... 15
 Tropicalismo ............................................................................................................................................ 16
Poesia contemporânea africana de língua portuguesa ................................... 19
Literatura Contemporânea II ...................... 29
Tendências da literatura contemporânea: poesia ............................................ 30 
Tendências da literatura contemporânea: prosa ............................................. 32
Tendências da literatura contemporânea: teatro ............................................ 35
Prosa contemporânea africana de língua portuguesa ..................................... 36
Acesse o livro digital e 
conheça os objetos digitais 
e slides deste volume.
Literatura 
Contemporânea I
Ponto de partida 
23
1. Na imagem, um homem caminha por um ambiente que se caracteriza por quais elementos?
2. As projeções no fundo da imagem, além de aparecerem na parede, também podem ser vistas ao longo do corpo 
da pessoa que caminha. Que sentido podemos atribuir a essa representação?
3. Na imagem, o homem caminha na mesma direção das linhas em que estão representados os códigos projetados. 
Como esse fato pode ser entendido?
Getty Images/Peter Macdiarmid
4
Objetivos da unidade: 
 apresentar algumas vertentes da poesia brasileira contemporânea;
 caracterizar, em linhas gerais, o contexto sociocultural que serviu de pano de fundo para a pro-
dução poética a partir do final dos anos de 1950;
 associar a produção literária a outras manifestações artísticas, especialmente à música e às 
artes plásticas;
 compreender o papel político de resistência da poesia;
 aproximar a produção poética brasileira daquela escrita por autores africanos de língua portuguesa. 
Lendo a literatura
Leia o poema “razão de ser”, do escritor curitibano 
Paulo Leminski.
razão de ser
 Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
 preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
 Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
 lembram letras no papel.
quando o poema me anoitece.
 A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
 Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2013. p. 218.
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Paulo Leminski nasceu em Curitiba, em 1944. Filho de pai polonês e mãe negra, desde 
cedo demonstrou grande interesse não somente pela literatura mas também por outras 
manifestações artísticas, como a música. Dialogou com diversas tendências estéticas 
contemporâneas, como o Concretismo, a Tropicália e a poesia marginal. Além de poe-
sia, escreveu prosa, foi professor, tradutor (dominava seis idiomas: japonês, espanhol, 
francês, latim, inglês e grego), trabalhou com publicidade e foi faixa-preta de judô. 
Morreu em 1989.
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2. No plano da forma, o poema apresenta dois aspectos que chamam a atenção: a maneira como os versos se organizam 
para compor a estrofe e a sonoridade. Comente cada um deles.
3. No verso “Escrevo porque amanhece”, o eu lírico se vale de um argumento que se ampara em um fato corriqueiro. O 
que isso indica a respeito da concepção da escrita poética apresentada no texto? 
a) Significa que a escrita da poesia é, para o eu lírico, um fato que deve ser repetido todos os dias, assim como o sol 
nasce todas as manhãs.
b) Indica que a poesia, por ser uma repetição cotidiana, torna-se um fardo para aquele que a produz.
c) Aponta para a ideia de que a criação poética está associada à criação do próprio mundo, o qual se renova a cada 
manhã.
d) Indica que a escrita poética, para o eu lírico, não precisa de um motivo extraordinário; simplesmente acontece, 
assim como os dias amanhecem. 
4. Os versos “A aranha tece teias / O peixe beija e morde o que vê” estabelecem, no poema, uma comparação, 
a) aproximando a atividade de escrita poética a um comportamento animal.
b) apresentando exemplos que não se relacionam diretamente com a escrita poética.
c) chamando a atenção para o fato de que, assim como é natural as aranhas tecerem teias e os peixes beijarem e 
morderem o que veem, a escrita de poesia é inerente ao modo de ser do eu lírico. 
d) destacando a escrita poética como uma atividade que é natural a todos que se sentem comprometidos com o 
desejo de se expressar. 
1. Que relação o título estabelece com o poema?
5. Como podem ser entendidos os versos “e as estrelas lá no céu / lembram letras no papel.” no contexto do poema?
6 Volume 12
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CAILLEBOTTE, Gustave. Retrato de Henri Cordier. 1883. 
1 óleo sobre tela, color., 65 cm × 82 cm. Museu D’Órsay, Paris.
6. Leia as imagens a seguir, cujo tema, assim como o poema de Leminski, é a escrita.
 Escritora britânica Agatha Christie escrevendo 
em sua casa, 1946
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 Em cada imagem, que elementos podem ser relacionados à definição do ato de escrever presente no poema de Paulo 
Leminski? Justifique sua resposta, explorando elementos presentes tanto no texto escrito quanto nas imagens. 
 Representação medieval de um homem escrevendo 
em sua mesa de trabalho
Literatura 7
Acontecia
A cultura literária no contexto contemporâneo
As décadas que seguiram o período pós-Segunda Guerra, particularmente os anos de 1960 até 1990, foram mar-
cadas por uma série de transformações. No caso brasileiro, a feição agrário-exportadora do país foi, aos poucos, se 
modificando e dando lugar a uma sociedade centrada na produção e no consumo de bens de diversas ordens. 
Ainda que as desigualdades sociais tenham persistido como marcas negativas, tanto do ponto de vista regional 
(fruto de um desenvolvimento historicamente desnivelado) quanto do ponto de vista social (parcelas da população 
ainda não têm acesso igualitário a bens e serviços básicos para seu desenvolvimento), houve uma significativa altera-
ção no perfil econômico, social e cultural dos brasileiros.
Nas últimas décadas, a globalização da economia, o processo de massificação da cultura e o consumismo impacta-
ram de modo decisivo a cultura literária. A circulação vertiginosa de informações em razão dos avanços da tecnologia 
e da internet permitiu novas maneiras de veicular o texto literário, que passou a ser disponibilizado digitalmente – sem, 
contudo, deixar de ser difundido também no formato do livro de papel. Isso fez com que acervos difíceis de ser consul-
tados se tornassem cada vez mais de fácil acesso.
Apesar dessas transformações, a literatura, no que se refere à sua relação com a sociedade e com o indivíduo, con-
servou seu papel de registrar as diferentes sensibilidades. Em diálogo permanente com a realidade, atualmente, prosa 
e poesia se deparam com novos desafios, como o de equilibrar suas funções de entreter e de analisar criticamente os 
modos de ser contemporâneos. 
A relação da literatura com outras linguagensartísticas e com novas mídias, como cinema e televisão, acrescentou 
novos valores ao texto literário, assim como ampliou seu público. Formas novas, como poemas que se valem de ele-
mentos visuais, convivem com formas tradicionais, como a literatura de cordel.
Com a disponibilidade de obras literárias em plataforma digital e o acesso a redes de informação praticamente 
infinitas, o leitor contemporâneo tem como grande desafio desenvolver habilidades de leitura que lhe permitam 
não transformar o ato de ler em uma experiência mecânica e meramente consumista. A capacidade de realizar uma 
leitura crítica, a qual é constantemente desenvolvida, permite a autonomia diante do texto, pressupõe um leitor que 
consegue identificar os textos pouco significativos e fáceis de digerir.
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8 Volume 12
Manifestações da arte contemporânea brasileira: 
Concretismo 
O Concretismo iniciou-se na década de 1950 e teve como objetivo promover uma retomada do espírito de ino-
vação característico das vanguardas artísticas ocorridas no início do século XX no Brasil e no mundo. Afastando-se 
das concepções defendidas pela maioria dos poetas da terceira geração modernista, que entendiam ser necessária 
uma aproximação do texto poético a uma escrita mais tradicional, os jovens escritores paulistas Décio Pignatari, Ha-
roldo de Campos e Augusto de Campos publicaram a revista literária Noigandres, não apenas introduzindo uma nova 
concepção da produção literária como promovendo um diálogo entre a literatura brasileira e expoentes da literatura 
mundial – tais como o norte-americano Ezra Pound e o russo Vladimir Maiakovski, além de artistas como Max Bill (artes 
plásticas) e Pierre Schaeffer (música). João Cabral de Melo Neto, Oswald de Andrade e Murilo Mendes também são 
referências decisivas para o movimento concretista.
O surgimento oficial da poesia concreta ocorreu no ano de 1956, com a realização da I Exposição Nacional de Arte 
Concreta, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, mobilizando não somente poetas, mas pintores cariocas e paulistas 
que se vincularam ao movimento. Mais tarde, em 1958, os principais aspectos da estética concretista foram organizados 
sob a forma de um manifesto publicado no número 4 da revista Noigandres, chamado de plano-piloto para poesia 
concreta. 
Olhar literário
 Capa da edição nº. 4 da revista 
Noigandres
poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas.
dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade 
rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar 
conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural. espaço 
qualificado: estrutura espácio-temporal, em vez de 
desenvolvimento meramente temporístico-linear. daí a 
importância da ideia de ideograma, desde o seu sentido geral 
de sintaxe espacial ou visual, até o seu sentido específico
(fenollosa/pound) de método de compor baseado na
 justaposição direta – analógica, não lógico-discursiva – de
elementos. [...]
Entendida por seus fundadores como uma “evolução crítica das formas” (crítica no sentido de consciente, intencio-
nal), a poesia concreta propôs uma superação da estrutura básica do poema, isto é, de sua forma de escrita em versos, 
indicando a “ocupação de todo o espaço possível para sua representação”. Desse modo, não se enfatizam o ritmo e o 
encadeamento das palavras; estas são consideradas “objeto” (daí a expressão palavra-objeto, empregada pelos concre-
tistas), com propriedades visuais, o que conferiu mais destaque à sua forma (significante) do que aos seus significados.
O Concretismo caracteriza-se como um movimento em que o racionalismo se torna o eixo de escrita do poema. 
Explorando o geometrismo e a visualidade das palavras no espaço em branco do papel, o poema concretista procura 
impactar seu leitor antes mesmo da compreensão do significado das palavras. A impressão é a de que os termos se 
movimentam na folha, rompendo com a linearidade previsível do verso. Desse modo, o “desenho” composto com as 
palavras também significa algo. 
CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. Plano-piloto para 
poesia concreta. In: ______. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos – 
1950-1960. São Paulo: Duas Cidades, 1975. p. 156.
Literatura 9
Atividades
1. (UFES) 
 A obra acima se intitula Pluvial, de 1959, e pertence ao livro Poesia (1949/1979), de Augusto de Campos. Dela NÃO 
se pode afirmar que 
a) lança mão da paronomásia (sons parecidos e significados diferentes). 
b) pode ser lida e vista vertical (chuva que cai) e horizontalmente (rio que corre).
c) aponta para o projeto estético concretista da “arte pela arte”.
d) rompe com a estrutura frásica do verso tradicional.
e) utiliza os espaços brancos da página de forma significativa.
2. (UFRGS – RS) Leia o poema a seguir, de Décio Pignatari, e considere as afirmações que seguem.
 I. Trata-se de um exemplo de poesia con-
creta, vanguarda do século XX que alte-
rou radicalmente os recursos materiais da 
construção poética, valendo-se inclusive, 
de técnicas da publicidade.
 II. No poema, o uso do imperativo e o jogo 
lúdico das aliterações contribuem para 
denunciar a forma persuasiva e sedutora 
da mensagem publicitária que induz ao 
consumo.
 III. O último verso é a síntese da intenção sa-
tírica do poema, que desqualifica o produ-
to anunciado e, por extensão, a sociedade 
de consumo que ele representa.
10 Volume 12
3. Arnaldo Antunes é um dos poetas contemporâneos que têm suas raízes ligadas ao Concretismo. Leia, a seguir, um 
poema desse escritor e músico e responda às questões propostas.
 Quais estão corretas? 
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.
ANTUNES, Arnaldo. 2 ou + corpos no mesmo espaço. São Paulo: Perspectiva, 2005. p. 119.
a) Aponte três características do poema que permitem que ele seja classificado como concretista.
b) Explorar a distribuição das palavras na página é uma das marcas do Concretismo. No poema de Arnaldo Antunes, 
que relação pode ser estabelecida entre o significado do termo agouro e o modo como as palavras ocupam o 
espaço da folha?
Literatura 11
Oposições ao Concretismo
Neoconcretismo
Ainda na década de 1950, alguns artistas vinculados ao Concretismo começaram a questionar os rumos desse mo-
vimento, especialmente posturas consideradas limitantes e doutrinárias demais: a aproximação do trabalho artístico 
com o trabalho industrial afastava qualquer sentido lírico ou simbólico da obra de arte. 
Nas artes plásticas, a tela concretista pressupunha a utilização de figuras, planos e cores que deveriam apontar 
somente para a própria obra, ou seja, não poderiam se relacionar com aspectos sociais, por exemplo. Para os artistas 
concretos, particularmente os paulistas, a realidade não era um elemento significativo a ser explorado na obra, cuja 
importância maior era a articulação formal, que buscava atingir o conceito de pura visualidade. 
Aos poucos, formou-se um grupo de artistas, no Rio de Janeiro, que discordava dessa rígida abordagem do concre-
tismo. Defendiam uma arte que, de modo mais evidente, estivesse vinculada com a realidade. Para eles, a obra de arte 
não deveria ser entendida como uma máquina ou como um objeto estético racional. O artista deveria adotar uma 
postura intuitiva no processo de criação artística.
Em 1957, um ano depois da I Exposição Nacional da Arte Concreta, ocorrida em 
São Paulo, aconteceram as primeiras manifestações de artistas que propunham uma 
nova abordagem estética, o Neoconcretismo – consolidado em 1959, com a publi-
cação de um manifesto que defendia, entre seus pressupostos, a liberdade de experi-
mentação e a retomada da subjetividade como essenciais ao fazer artístico.
Na poesia, o grande expoente do Neoconcretismo foi Ferreira Gullar. Poeta im-
portante no contexto da literatura contemporânea brasileira, em 1954, teve contato 
com os concretistas paulistas, fato que determinou sua integração ao movimento. 
Participou de modo ativoda I Exposição Nacional da Arte Concreta, mas, logo a seguir, 
desentendeu-se com o grupo paulista, aderindo, então, ao Neoconcretismo.
Nos anos de 1960, Ferreira Gullar se voltou também para a produção teatral. Per-
seguido pela Ditadura Militar por ser militante ativo do Partido Comunista Brasileiro, 
fugiu do país em 1971, retornando apenas em 1977. Em 2010, recebeu o Prêmio Ca-
mões, um dos mais importantes reconhecimentos de sua obra literária. Suas prin-
cipais obras são A luta corporal (1954), João Boa-Morte, cabra marcado para morrer 
(1962) e Poema sujo (1983). 
Poesia Práxis
Poesia Práxis foi um movimento, surgido em 1962, que, assim como o Neoconcretismo, se opunha a uma série 
de aspectos da arte concreta. A publicação do livro Lavra lavra, cujo posfácio é o Manifesto didático da Poesia Práxis, de 
Mário Chamie, é tida como o ponto de partida dessa nova estética.
Na Poesia Práxis, cada palavra é considerada não só por seu significado, mas também pelos significados que ela ad-
quire juntamente com as outras palavras que compõem poema. Outros fatores importantes para esse movimento são 
a escolha dos temas, que devem estar em relação direta com a realidade social, e a “participação” do leitor, cujo papel 
deixa de ser passivo na composição do texto literário. Visando a essa interação, o poema deve buscar uma linguagem 
que seja entendida pelo leitor. 
Olhar literário
 Primeira página do Suplemento 
Dominical do Jornal do 
Brasil, de 21 de março de 
1959, que marcou o início do 
Neoconcretismo – desenho 
gráfico de Amílcar de Castro
12 Volume 12
Os poetas da Práxis consideravam as propostas concretistas ultrapassadas e contraditórias, principalmente porque 
tentavam resgatar modelos poéticos do passado. Sobre o distanciamento dos concretistas em relação à realidade so-
cial, afirmavam que a literatura não poderia ser desenvolvida sem envolver outros discursos que atravessam o espaço 
social.
Outra crítica feita pela Poesia Práxis ao Concretismo referia-se à seleção dos poetas considerados referências para o 
projeto concretista. A opção por excluir de sua poesia a visão social e política permitiu que escritores com ideais muito 
diferentes (e até mesmo opostos) fossem considerados como precursores do movimento concreto. 
Além de Mário Chamie, outro poeta ligado à Poesia Práxis é Cassiano Ricardo, que havia participado da fase mo-
dernista de 1922.
1. (UFPR) O poema que se segue integra o volume intitu-
lado Muitas vozes, publicado por Ferreira Gullar no ano 
de 1999.
Atividades
Ouvindo apenas
e gato e passarinho
 e gato
e passarinho (na manhã
veloz
 e azul
 de ventania e ar
 vores
 voando)
 e cão
latindo e gato e passarinho (só
 rumores
de cão
e gato
e passarinho
 ouço
 deitado
 no quarto
às dez da manhã
 de um novembro
 no Brasil)
 I. No plano da linguagem poética, pelo menos um dos 
procedimentos empregados pelo autor em Muitas 
vozes encontra-se exemplificado em “Ouvindo ape-
nas”: o texto espacializado (a linguagem de base 
visual).
 II. O sujeito lírico de “Ouvindo apenas” mantém-se 
desligado do mundo objetivo, mostrando-se insen-
sível a estímulos físicos.
 III. O emprego de quadras e tercetos isométricos associa 
“Ouvindo apenas” ao modelo estrutural do soneto.
 IV. O poema justapõe dois registros da realidade: fora 
dos parênteses, os elementos da realidade são 
relacionados de forma objetiva; dentro dos parên-
teses, fica evidenciada a atuação do componente 
subjetivo.
 V. Embora use recursos do fazer poético concretista, 
Ferreira Gullar harmoniza a ousadia formal com a 
representação da emoção.
 Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e III são verdadeiras. 
b) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. 
c) Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras. 
d) Somente as afirmativas II, III e V são verdadeiras. 
e) Somente as afirmativas II, IV e V são verdadeiras. 
 
 Acerca do poema acima reproduzido, considere as se-
guintes afirmativas:
Literatura 13
2. (PUC-Rio – RJ) Leia atentamente o texto abaixo e responda às questões propostas.
Maio 1964
(fragmento)
Na leiteria a tarde se reparte
 em iogurtes, coalhadas, copos
 de leite
 e no espelho meu rosto. São
quatro horas da tarde, em maio.
Tenho 33 anos e uma gastrite. Amo
a vida
 que é cheia de crianças, de flores
 e mulheres, a vida,
esse direito de estar no mundo,
 ter dois pés e mãos, uma cara
 e a fome de tudo, a esperança.
Esse direito de todos
 que nenhum ato
 institucional ou constitucional
 pode cassar ou legar.
Mas quantos amigos presos!
 quantos em cárceres escuros
 onde a tarde fede a urina e terror.
Há muitas famílias sem rumo esta tarde
 nos subúrbios de ferro e gás
onde brinca irremida a infância da classe operária.
....................................................................
Ferreira Gullar. Dentro da noite veloz. São Paulo: Círculo do Livro, s/d, p.53.
a) Comente as seguintes afirmações:
 Há inúmeros elementos no texto de Ferreira Gullar, a começar pelo título, que o aproximam de fatos da história 
brasileira recente. Percebe-se no poema o contraste entre os valores e sentimentos do eu lírico e a realidade por 
ele observada.
3. Indique um aspecto que diferencie a poesia concreta da poesia práxis.
14 Volume 12
Cultura e Contracultura
Em meio à pulverização de sistemas e tendências estéticas, surgiu, na década de 1960, nos Estados Unidos, um mo-
vimento que ficou conhecido como Contracultura. Em síntese, foi um movimento de contestação social e política que 
rapidamente se espalhou, fazendo com que jovens do mundo inteiro começassem a questionar os padrões de uma 
sociedade baseada em valores conservadores. Propunham formas de relacionamento pautadas em posicionamentos 
mais libertários e identificadas com uma cultura underground (fora dos padrões comerciais). 
A proposição de novos valores vinha acompanhada de um comportamento que valorizava, ao mesmo tempo, de-
sejos e interesses individuais e necessidades coletivas. Houve também uma valorização das culturas orientais (como 
uma resposta ao pragmatismo e consumismo do ocidente capitalista), o que promoveu a incorporação de elementos 
religiosos para a tomada de uma consciência mística inédita até então. 
A seguir, duas manifestações estéticas ocorridas no contexto brasileiro que podem ser associadas em grande me-
dida ao movimento da Contracultura. 
Poesia marginal
A poesia marginal, produzida entre os anos de 1970 e 1980, foi uma espécie de resposta aos mecanismos de cen-
sura impostos pela Ditadura Militar. Essa geração de poetas também é chamada de Geração do Mimeógrafo.
Sua principal marca foi a substituição dos meios tradicionais de circulação das obras – vendidas em formatos 
de livros produzidos por editoras e comercializados em livrarias – por meios alternativos. Com pequenas tiragens, as 
cópias eram mimeografadas e comercializadas a custos baixíssimos e geralmente eram vendidas de mão em mão nos 
espaços culturais. Dessa forma, essa literatura “escapava” da repressão da censura, que, nesse momento, exercia de 
forma violenta o controle de bens culturais em território nacional.
Nomes importantes como Paulo Leminski, Francis-
co Alvim, Waly Salomão, Torquato Neto, José Agripino de 
Paula e Chacal destacam-se nesse movimento. Além do 
campo literário, a poesia marginal influenciou diretamente 
outras linguagens artísticas. Na música, por exemplo, Tom 
Zé, Jorge Mautner, Jards Macalé e Luiz Melodia dialogaram 
com os poetas marginais, fato que lhes valeu a alcunha, 
dada pela imprensa da época, de “compositores maldi-
tos”. Esses músicos não encontravam espaço nas grandes 
gravadoras por serem considerados “alternativos” e pouco 
“vendáveis”, segundo o padrões comerciais.
Subversão era uma das palavras de ordem dos poetas 
marginais. Opondo-se frontalmente à cultura oficial literá-
ria brasileira, essa produção poética utilizava, para compor 
seu jogo expressivo, uma linguagem com fortes marcas 
de coloquialidadee formas diretas e curtas. O tom de 
brincadeira, a espontaneidade, os jogos de palavras e a 
tendência a observar a vida comum por uma perspectiva 
carregada de cinismo estabeleciam um diálogo imediato 
com parte da poesia modernista de 1922.
Olhar literário
 Bandeira serigrafada, intitulada Seja marginal, seja herói, obra 
de Hélio Oiticica, de 1968, propunha, em meio à truculência da 
repressão militar, uma espécie de “desobediência criativa”
Literatura 15
Tropicalismo
A Tropicália, ou Tropicalismo, foi um movimento de expressão artística e cultural que estabeleceu, na virada da 
década de 1960 para a de 1970, uma relação com a literatura e com as artes desenvolvidas com base no Modernismo. 
Acompanhando uma tendência de internacionalização da cultura que marcou as transformações artísticas desde o 
Concretismo, a Tropicália dialogou com muitas vanguardas europeias e norte-americanas, como a Pop Art. Apesar de 
ter seu eixo central focado na tentativa de inovar a música popular brasileira (MPB), foi um movimento que se estendeu 
ao cinema, às artes plásticas e à literatura. 
Misturando elementos de linguagens variadas, como aspectos visuais e realização de performances nos espetáculos 
musicais, a Tropicália aproximou a cultura erudita da cultura pop, mesclando intencionalmente valores universais e 
atemporais a elementos da cultura de massa, produtos de uma sociedade industrializada e consumista em que a arte, 
como qualquer objeto, se transforma em algo a ser consumido e descartado.
Seu marco inicial ocorreu durante o III Festival de Música Popular Bra-
sileira, em 1967. Nesse festival, as canções “Domingo no parque” (Gilberto 
Gil) e “Alegria, alegria” (Caetano Veloso) apresentaram letras e melodias ino-
vadoras, o que as distanciou de uma grande parte das canções lançadas 
nessa mesma ocasião, continuadoras do samba, da bossa nova e ligadas às 
canções de protesto. 
Entre as inovações apresentadas, destaca-se a utilização de cortes cine-
matográficos na sequência das ações descritas nas letras, o uso conjunto 
do violão e da guitarra elétrica (considerada, nessa época, um instrumen-
to musical ilegítimo para uma música popular brasileira) e a miscelânea 
de sons derivados de vários estilos musicais (como o rock, a bossa nova, o 
baião, o samba e o bolero). 
A Tropicália marcou um ponto de articulação entre as manifestações 
estéticas e políticas que configuraram o cenário nacional da 
época, como o Cinema Novo (por exemplo, o cinema de 
Glauber Rocha, que rompeu radicalmente com o formato do 
cinema norte-americano), a bossa nova, a poesia concre-
ta e o teatro revolucionário de José Celso Martinez Corrêa 
com seu resgate da antropofagia modernista. 
Em função do regime militar imposto à nação em 1964, 
ao longo da década de 1960, a sociedade brasileira passou 
por um processo de restrição da liberdade de expressão cada 
vez mais profundo. Grupos de resistência viam na manuten-
ção de uma cultura de origem popular um meio de con-
servar traços da identidade nacional e de se opor à entrada 
do que consideravam “lixo cultural”, produzido pelos países 
desenvolvidos como forma de subjugar ideologicamente o 
Brasil. 
O Tropicalismo pode ser considerado uma força de sín-
tese da arte brasileira, pois resgatou as raízes da cultura 
nacional (integrando ritmos tradicionais a novos registros 
musicais) e abriu-se de modo crítico aos movimentos so-
ciais e culturais internacionais.
As canções de protesto eram composições 
de música popular que tinham como um de 
seus elementos principais a denúncia, escrita 
de modo poético, de uma situação de caráter 
político, social ou econômico. No Brasil, muitas 
dessas canções foram compostas nas décadas 
de 1960 e 1970, sobretudo como críticas à Di-
tadura Militar. Entre seus principais composi-
tores, encontravam-se Chico Buarque, Geraldo 
Vandré, Edu Lobo e Sérgio Ricardo.
 Capa do disco Panis et circencis, de 1968, obra coletiva que 
veiculou várias canções tropicalistas 
16 Volume 12
Atividades
1. Leia os versos a seguir, que fazem parte de uma canção de Gilberto Gil e Torquato Neto. 
Geleia Geral
Um poeta desfolha a bandeira
E a manhã tropical se inicia
Resplendente, cadente, fagueira
Num calor girassol com alegria
Na geleia geral brasileira
Que o Jornal do Brasil anuncia 
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi
A alegria é a prova dos nove
E a tristeza é teu porto seguro
Minha terra é onde o sol é mais limpo
E Mangueira é onde o samba é mais puro
Tumbadora na selva-selvagem
Pindorama, país do futuro 
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi 
É a mesma dança na sala
No Canecão, na TV
E quem não dança não fala
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala
As relíquias do Brasil:
Doce mulata malvada
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril
Santo barroco baiano
Superpoder de paisano
Formiplac e céu de anil
Três destaques da Portela
Carne-seca na janela
Alguém que chora por mim
Um carnaval de verdade
Hospitaleira amizade
Brutalidade jardim 
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi 
Plurialva, contente e brejeira
Miss linda Brasil diz “bom dia”
E outra moça também, Carolina
Da janela examina a folia
Salve o lindo pendão dos seus olhos
E a saúde que o olhar irradia 
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi 
Um poeta desfolha a bandeira
E eu me sinto melhor colorido
Pego um jato, viajo, arrebento
Com o roteiro do sexto sentido
Voz do morro, pilão de concreto
Tropicália, bananas ao vento 
Ê, bumba-yê-yê-boi
Ano que vem, mês que foi
Ê, bumba-yê-yê-yê
É a mesma dança, meu boi
GIL, Gilberto. Geleia Geral. In: RENNO, Carlos (Org.). Gilberto Gil: todas as letras. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 97.
©Gege Edições (Brasil e América do Sul)/Preta Music (resto do mundo)
©Warner Chappell Edições Musicais Ltda.
Literatura 17
a) Uma das marcas formais dessa canção é sua es-
trutura fragmentária, em que elementos que ca-
racterizam o Brasil são sobrepostos uns aos outros. 
Selecione e comente uma passagem da canção em 
que se possa observar a utilização desse recurso.
b) Que aproximações podem ser feitas entre a forma 
fragmentária da canção e o Manifesto Antropofágico?
2. Leia o poema de Chacal, um dos mais significativos 
escritores da poesia marginal. Em seguida, responda 
às questões propostas. 
Amor puro
nosso amor puro
pulou o muro
caiu na vida
jamais seremos
o par romântico
que outrora fomos.
CHACAL. Amor puro. In: ______. Belvedere [1971-2007]. São 
Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. p. 247.
a) A poesia marginal apresentou algumas marcas es-
pecíficas no que diz respeito aos usos da linguagem 
poética. Indique duas dessas marcas presentes no 
poema lido.
b) Qual é o significado do terceiro verso, “caiu na vida”, 
no contexto do poema?
c) Há um paradoxo no poema construído com base na 
relação temporal nos três últimos versos. Que para-
doxo é esse?
3. (ITA – SP) Leia o poema a seguir, “Na contramão”, de 
Chacal.
ela ali tão sem
eu aqui sem chão
nós assim ninguém
cada um na mão
Acerca desse poema, considere as seguintes afirmações:
 I. Ele possui uma das marcas mais típicas da poesia 
contemporânea, que é a brevidade.
 II. É notória a informalidade da linguagem, que afasta 
o poema da tradição culta e erudita.
 III. Há um sentimentalismo contemporâneo que filtra os 
excessos da expressão sentimental.
 IV. Existe a persistência do tema do desencontro amo-
roso (tradicional na literatura).
Está(ão) CORRETA(s)
a) apenas I.
b) apenas I e II.
c) apenas I, II e III.
d) apenas III e IV.
e) todas.
18 Volume 12
Poesia contemporânea africana de língua portuguesa
Acompanhando algumas das tendências mundiais da produção poética, a literatura em versos escrita por autores 
africanos de expressão portuguesa pode ser caracterizada como bastante diversa, seja em relação a seu repertório 
temático,seja em relação às formas. 
ConexõesConexões
Com uma consciência muito clara do processo que constitui sua trajetória, essa poesia revela uma capacidade de 
se situar em relação a etapas anteriores do fazer poético. Ou seja, do ponto de vista tanto dos estilos individuais quanto 
das questões relacionadas a uma dimensão social e coletiva, a poesia africana contemporânea de língua portuguesa 
vive um momento de afirmação de suas raízes e, paralelamente, estabelece com outros centros culturais mundiais 
um diálogo cada vez mais intenso e significativo. 
Um rápido olhar sobre a produção de três países (Angola, Moçambique e Cabo Verde) pode oferecer uma com-
preensão sobre alguns dos caminhos trilhados pelos poetas contemporâneos.
Em Angola, elementos relacionados à melancolia podem ser considerados constantes na produção poética das 
últimas décadas. Uma visão da realidade humana marcada pela incerteza e pela perplexidade aparece nos poemas 
sob o viés da desconstrução e da metalinguagem, da transgressão e do erotismo, do sentimento de errância e do 
questionamento relacionado ao pertencimento. Esses elementos são explorados nos textos cujas formas variam da 
revitalização da oralidade e da tradição ao rompimento com os laços que possam remeter poeta e leitor a modelos 
poéticos do passado. 
No escuro. No silêncio.
dobrei os arcos de papel
debaixo
do tecido de areia.
no escuro, no silêncio
por habitar
venci as lágrimas.
nas estrelas ou nas cortinas
ou nos plátanos
mastiguei os sonhos.
e vi os sonhos
se diluírem entre as árvores
no rosto do asfalto esquecido.
no escuro, no silêncio.
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MAIMONA, João. No escuro. No silêncio. In: DÁSKALOS, 
Maria Alexandre et al. Poesia africana de língua portuguesa. 
Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 2003. p. 111.
Literatura 19
A expressão da melancolia é um dos eixos do poema. A tristeza se reflete na imagem dos sonhos que são destruí-
dos (mastigados e diluídos), reforçando o sentimento de desesperança (“venci as lágrimas”). O espaço do “escuro” e do 
“silêncio” remete-se a uma realidade associada, a um só tempo, ao medo e à morte. Como que contraditoriamente, 
porém, a imagem dos “plátanos” aponta para a vida. A oscilação entre vida e morte, entre destruição e renascimento, e 
a contradição da existência humana no mundo contemporâneo são, enfim, algumas das expressões perceptíveis nesse 
poema.
Entre os poetas angolanos, destacam-se, além de João Maimona, Duarte de Carvalho, João Tala, Arlindo Barbeitos, 
Maria Alexandre Dáskalos, Maria Amélia Dalomba, Paula Tavares e Abreu Paxe.
João Maimona nasceu em 1955, em Quiboclo, Angola. Na cidade de Huambo, 
em seu país natal, participou da fundação do grupo Brigada Jovem de Literatu-
ra, em 1981, que exaltava os valores da independência de Angola. Entre suas 
principais obras estão Quando se ouvir os sinos das sementes (1993) e Idade 
das palavras (1997), ambos livros de poemas.
Maria Alexandre Dáskalos, Mar
a sombra dos teus olhos,
a testa clara, a linha que vai
das sobrancelhas à cartilagem
marfim, estática,
e onde nenhum vento já irriga
o tumultuar do sangue o rio
aberto em teus lábios;
a sombra dos teus olhos,
amêndoas perfiladas,
e o sorriso, colcha
rendilhada afagando o Tempo;
a sombra dos teus olhos,
Mãe,
no retrato.
PATRAQUIM, Luís Carlos. In: DÁSKALOS, Maria Alexandre 
et al. Poesia africana de língua portuguesa. Rio de Janeiro: 
Lacerda Editores, 2003. p. 231.
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plátanos: árvores ornamentais, utilizadas em parques e jardins por 
sua capacidade de “viver intensamente” todas as estações do ano – suas 
folhas trocam de coloração em cada fase dos períodos anuais.
Em Moçambique, três grandes poetas, todos falecidos, são responsáveis pela produção mais importante ocorrida 
na língua portuguesa desse país no século passado: José Craveirinha, Rui Knopfli e Noêmia de Souza. Destacam-se, 
nessa produção, a exploração estética de sonoridades típicas do falar moçambicano, no plano da forma, assim 
como o confronto entre os modos de ser africano e europeu, no plano do conteúdo. Um questionamento das 
situações de opressão e exploração humana, muitas delas referindo-se a acontecimentos que encontram uma fun-
damentação na História, também surge como uma constante dessa poesia.
Em épocas mais atuais, a poesia de Moçambique tem como marca um apelo mais subjetivo, procurando represen-
tar poeticamente uma dimensão mais intimista do humano. 
Luís Carlos Patraquim nasceu na cidade de Lourenço 
Marques, Moçambique, em 1953. Mora em Portu-
gal desde 1980, escrevendo textos para a impressa 
desse país e de seu país natal. Autor de roteiros de 
cinema e de peças teatrais, ganhou o Prémio Na-
cional de Poesia, de Moçambique, em 1995. Entre 
suas obras encontram-se Monção (1980), A inadiá-
vel viagem (1985) e O osso côncavo (2005). 
20 Volume 12
ELÍSIO, Filinto. Acerca do amor. In: DÁSKALOS, Maria 
Alexandre et al. Poesia africana de língua portuguesa. Rio 
de Janeiro: Lacerda Editores, 2003. p. 171.
Acerca do amor
Do amor só digo isto:
o sol adormece ao crepúsculo
no oferecido colo do poente
e nada é tão belo e íntimo.
O resto é business dos amantes.
Dizê-lo seria fragmentar a lua inteira.
Esse poema é composto de três estrofes que partem de um verso que se repete e que focaliza sempre como ponto 
inicial os olhos, delineando a figura de um rosto feminino materno. Note que há certa regularidade decrescente 
nessa descrição, que parte de uma estrofe de sete versos, passando para uma estrofe de quatro versos para, finalmente, 
chegar à última estrofe de três versos. A trajetória decrescente pode também ser vista na diminuição do número de 
palavras em cada estrofe (34 na primeira, 15 na segunda e 8 na terceira), indicando quase uma redução de termos 
pela metade em cada estrofe. Conforme a observação vai se repetindo, a percepção se torna mais objetiva: na última 
estrofe, não há metáforas para designar o rosto, diferentemente das duas primeiras estrofes, carregadas de imagens 
sugestivas que misturam elementos humanos e naturais (olhos, testas, sobrancelhas, lábios, sangue, sorriso X vento, 
rio, marfim, amêndoas, Tempo). 
Uma possibilidade de análise, portanto, aponta para uma transição entre um modo subjetivo de observar o rosto 
materno (descrito a partir de um número considerável de metáforas que adjetivam a face da mulher) e uma maneira ob-
jetiva de falar desse mesmo rosto (com poucas palavras substantivas). Passando gradativamente das imagens metafóricas 
à identificação com um “retrato”, o poema “desmetaforiza” a imagem, tornando-a uma expressão literal, direta, concreta.
Essa interpretação do poema, que é apenas uma entre muitas outras possibilidades, é um exemplo de uma poesia 
moçambicana contemporânea que se afasta de questões sociais para mergulhar na subjetividade.
Destacam-se, no contexto da produção poética de Moçambique atual, além de Luís Carlos Patraquim, Virgílio de 
Lemos, Eduardo White, Nélson Saúte e Armando Arthur.
Em Cabo Verde, apesar de a diversidade de propostas ser talvez uma das marcas mais claras da produção poética 
contemporânea, escritores como Corsino Fortes, José Vicente Lopes, Vera Duarte, Dina Salústio, Filinto Elísio e José Luis 
Tavares atualizam a tradição poética desse país. Temas como fome, condição insular (o país é formado por um con-
junto de ilhas), paisagem marítima e seca, constantes que atravessam a literatura caboverdiana, são abordados com 
base em questionamentos de caráter cosmopolita.
DKO Estúdio. 2016.
 Digital.
Literatura 21
Organize as ideias
Como proposta de síntese dos conteúdos trabalhados nesta unidade, elabore um texto dissertativo cujo tema é: 
A literatura contemporânea produzida a partir da década de 1950 pode ser considerada uma continuidade do 
Modernismo ou é possível entendê-la como uma nova etapa, um novo estilo de época?
Para escrever esse texto, você deve prestar atenção nos critérios de avaliação a seguir.Filinto Elísio
No poema, o sentimento amoroso (ou melhor, a parte que dele é impor-
tante, segundo o eu lírico) é transfigurado na paisagem do anoitecer. A essa 
beleza, porém, o poema apresenta um “oposto”: o amor “business”, a nego-
ciação amorosa entre os amantes. O amor, como é expresso nesses versos, 
apresenta duas faces: uma altamente lírica, tradicional, que, como em ou-
tros poemas do passado, projeta-se eternamente sobre a natureza como algo 
“belo e íntimo”; outra antilírica, contemporânea, o amor como um negócio 
(business). Assim, o poema de Filinto Elísio atualiza um sentimento bastante 
explorado em poemas, o amor, criando uma contraposição entre passado e 
presente, entre natural e negócio, entre tradição e contemporaneidade. 
Tipo de texto e abordagem: Atenção para atender aos padrões de uma disserta-
ção, que pressupõe uma apresentação articulada de ideias, bem como uma ade-
quação ao tema. Para embasar as ideias que você vai expor em seu texto, consulte 
não só os textos que fazem parte desta unidade, mas também outros, que possam 
ser coletados em fontes diversas (livros, enciclopédias, internet, etc.). Lembre-se de 
que as fontes devem ser confiáveis, ou seja, não colete dados de lugares que não 
pareçam adequados, pois informações equivocadas podem desqualificar seu texto.
Estrutura: Nesse aspecto, são avaliados a coerência do texto, a composição dos 
parágrafos, os elementos de coesão, assim como a organização dos argumentos e 
seu encadeamento.
Expressividade: Atente aos aspectos gramaticais, tais como ortografia, pontuação 
e demais adequações. Além disso, lembre-se de que você deve defender um ponto 
de vista de modo claro.
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22 Volume 12
Hora de estudo
1. (UEPG – PR) Com referência ao texto poético a seguir 
(“Caprichos e Relaxos”), de autoria de Paulo Leminski, 
como também a respeito de sua obra como um todo, 
assinale o que for correto.
cansei da frase polida
por anjos de cara pálida
palmeiras batendo palmas
ao passarem paradas
agora eu quero a pedrada
chuva de pedras palavras
distribuindo pauladas. 
(01) O lirismo reflexivo de Leminski nos impulsiona 
para a leitura intertextual dos seus versos; perce-
bemos que a partir da linguagem se autorreferen-
cia em uma atitude crítica diante do mundo. 
(02) A metalinguagem constitui um traço marcante 
desse poeta; ao mesmo tempo que elabora a 
poesia, discute o fazer poético.
(04) Leminski indica que não quer ser formal, poli-
do, bater palmas para o nacionalismo/militaris-
mo (“paradas”); prefere a verdade das “pedras 
palavras”.
(08) A inquietude do autor diante dos movimentos com 
os quais travou diálogo – concretismo, poesia 
marginal, poesia oriental e tropicalismo – e nos 
quais nunca se fixou, revela a atitude de alguém 
que procurava sua própria direção no espaço 
literário.
2. (CFTMG) No Concretismo, vertente da poesia contem-
porânea surgida a partir dos anos 50, a característica 
essencial é a(o) 
a) emprego de aliterações. 
b) apreço pela musicalidade. 
c) exploração do significante. 
d) uso de versos tradicionais. 
3. (ITA – SP) Leia os textos seguintes:
 (1)
[...]
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
[...]
(Dias, Gonçalves. “Poesias completas”. São Paulo: 
Saraiva, 1957.)
 (2) lá?
 ah!
 Sabiá...
 papá...
 maná...
 Sofá...
 sinhá...
 cá?
 bah!
(Paes, J. P. “Um por todos. Poesia reunida.” São 
Paulo: Brasiliense, 1986.)
a) Aponte uma característica do texto (1) que o filia 
ao Romantismo e uma do texto (2) que o filia ao 
Concretismo.
b) É possível relacionar o texto (2) com o (1)? Justifique. 
4. (UFES) 
Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci! oh queima cuidara,
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Pois mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Literatura 23
24 Volume 12
c) 1-Arcadismo; 2-concreta; 3-árcades; 4-concreto; 
5-concreta. 
d) 1-Concretismo; 2-árcade; 3-árcades; 4-árcade; 
5-concreta. 
e) 1-Arcadismo; 2-árcade; 3-árcades; 4-concreto; 
5-árcade. 
5. (UFRGS – RS) Considere as seguintes afirmações sobre 
o Concretismo.
 I. Buscou na visualidade um dos suportes para atingir 
rupturas radicais com a ordem discursiva da língua 
portuguesa.
 II. Teve como integrantes fundamentais Haroldo de 
Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.
 III. Foi um projeto de renovação formal e estética da 
poesia brasileira, cuja importância fica restrita à dé-
cada de 1950.
 Quais estão corretas? 
a) Apenas I 
b) Apenas II 
c) Apenas III 
d) Apenas I e II 
e) I, II e III 
6. (INSPER – SP) 
Dois e dois: quatro
Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena.
Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena
como é azul o oceano
e a lagoa, serena
como um tempo de alegria
por trás do terror me acena
e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena
– sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.
(Ferreira Gullar)
Vós, que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei; que Amor tirano,
Onde há mais resistência, mas se apura.
(Cláudio Manuel da Costa)
ruaruaruasol
ruaruasolrua
ruasolruarua
solruaruarua
ruaruaruas
(Ronaldo Azeredo)
 Considerando as obras supracitadas como ilustrati-
vas da poesia árcade e da poesia concreta, assinale a 
opção cuja ordem preenche CORRETAMENTE as afir-
mativas seguintes:
 1 - “O __________ é, pois, consciência de integra-
ção: de ajustamento a uma ordem natural, social 
e literária, decorrendo disso a estética da imitação, 
por meio da qual o espírito reproduz as formas na-
turais, não apenas como elas aparecem à razão, 
mas como as conceberam e recriaram os bons au-
tores da Antiguidade.”
 2 - “Os elementos de composição característicos 
da poesia _________ são a organização geo-
métrica do espaço e o jogo de semelhanças de 
significantes.”
 3 - “Os ___________ se recusavam a uma explora-
ção mais completa da psicologia humana, assim 
como se tinham negado a uma concepção mais 
imaginativa da linguagem.”
 4 - “Talvez se pudesse concluir que um poema 
__________ seja definido mais ou menos assim: 
um tipo de composição poética centrada na utili-
zação de poucos elementos dispostos no papel de 
modo a valorizar a distribuição espacial, o tamanho 
e a forma dos caracteres tipográficos e as seme-
lhanças fônicas entre as palavras.”
 5 - A poesia __________ significou o reconhecimen-
to do poema como objeto também espacial, e da 
necessidade de procedimentos composicionais 
compatíveis com essa realidade.” 
a) 1-Arcadismo; 2-concreta; 3-concretistas; 4-con-
creto; 5-árcade. 
b) 1-Concretismo; 2-concreta; 3-concretistas; 4-árca-
de; 5-concreta. 
 Assinale a alternativa em que se analisa corretamente 
o sentido dos versos de Ferreira Gullar. 
a) A partir de uma visão niilista, o poeta encara as difi-
culdades existenciais que enfrenta como insolúveis. 
b) A visão determinista do poeta define o seu desti-
no em relação à amada, tal como uma operação 
matemática. 
c) Trata-se de um poema com discurso panfletário 
contra os problemas sociais e a falta de liberdade 
no país.
d) No poema, o eu lírico tem consciência dos proble-
mas, mas se norteia pela certeza da validade da 
vida. 
e) O poeta tem convicção da validade da vida, mas he-
sita diante da projeção de um ideal a ser alcançado. 
7. (UEPG – PR) 
Redundâncias
 Ferreira Gullar
Ter medo da morte
é coisa dos vivos
o morto está livre
de tudo o que é vida
Ter apego ao mundo
é coisa dos vivos
para o morto não há
(não houve)
raios rios risos
E ninguém vive a morte
quer morto quer vivo
mera noção que existe
só enquanto existo
 Analise as proposições e, considerandoos aspectos do 
poema e a obra em que está inserido, assinale o que 
for correto.
(01) Esse poema de Ferreira Gullar, do livro Muitas Vo-
zes, reitera a temática da obra – a morte – algo 
simples, no entanto redundante, como o próprio 
título nos aponta. 
(02) Para o eu lírico o vivo tem a ideia fixa da morte; o 
morto não tem noção do próprio estado em que 
se encontra, estado de puro nada. 
(04) Depreende-se no poema que para o morto, em 
seu estado atual, não há raios (metonímia: tem-
pestades – metáfora das tristezas), rios (metáfora 
das travessias da vida), e risos (metáfora das ale-
grias), só o estado do nada. 
(08) A repetição sonora da consoante “R” (nono verso: 
“raios rios risos”), sem a pausa forçada das vír-
gulas, sugere a passagem veloz das imagens da 
vida – imagens condenadas ao nada. 
(16) Os poemas que compõem Muitas Vozes conden-
sam toda experiência do poeta, acumulada ao 
longo de quase sete décadas, em alguns, a morte 
ganha significados diferentes. 
8. (UFU – MG) Leia os versos do poeta Ferreira Gullar.
[...]
Quantas tardes numa tarde!
 e era outra, fresca,
debaixo das árvores boas a tarde
na praia do Jenipapeiro
[...]
 Muitos
Muitos dias há num dia só
 porque as coisas mesmas
os compõem
com sua carne (ou ferro
 que nome tenha essa
matéria tempo
 suja ou
 não)
[...]
 É impossível dizer
em quantas velocidades diferentes
 se move uma cidade
 a cada instante
“Melhores poemas.”
 Com relação ao fragmento acima, marque a afirmativa 
correta. 
a) O poeta faz uma reflexão sobre a simultaneidade e a 
temporalidade das coisas, excluindo, implicitamen-
te, a reflexão da temporalidade humana. 
b) As lembranças e associações evocadas pela memó-
ria atualizam o passado, fazendo-o repetir-se sem 
alterações, como se vê na primeira estrofe. c) A 
assimetria dos versos e a forma como são dispostos 
Literatura 25
26 Volume 12
10. (UNITAU – SP) Segundo o poeta Mário Chamie, deter-
minado movimento poético “opõe à palavra-coisa, do 
concretismo, a palavra-energia; não considera o poema 
como um objeto estático e fechado e sim como um pro-
duto dinâmico, passível de transformação pela influência 
ou manipulação do leitor”. Trata-se de referência ao(à) 
a) Hermetismo. 
b) Dadaísmo. 
c) Cubismo. 
d) Poesia Práxis. 
e) Simbolismo. 
11. (UFRGS – RS) No bloco superior abaixo, estão listadas 
duas obras, apresentadas ora separadas, ora combina-
das; no inferior, afirmações referentes a essas obras. 
 Associe adequadamente o bloco inferior ao superior. 
 1. Tropicália ou Panis et Circencis
 2. O amor de Pedro por João
 3. Tropicália ou Panis et Circencis e O amor de Pedro 
por João
( ) Presença do contexto da ditadura civil militar bra-
sileira.
( ) Apresentação de experimentações formais.
( ) Acompanhamento de trajetória de quem aderiu à 
luta armada.
( ) Lançamento durante os anos de chumbo da dita-
dura militar brasileira.
 A sequência correta de preenchimento dos parênteses, 
de cima para baixo, é 
a) 1 - 3 - 1 - 2. 
b) 3 - 3 - 2 - 1. 
c) 2 - 1 - 3 - 1. 
d) 3 - 1 - 2 - 2. 
e) 1 - 2 - 3 - 3. 
12. (UFRGS – RS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) 
as afirmações a seguir sobre o movimento tropicalista.
( ) Constituiu um movimento contracultural do final dos 
anos 60, liderado pelos músicos Caetano Veloso e 
Gilberto Gil.
( ) A sua estética compreendia o estilhaçamento da 
linguagem discursiva, a miscigenação de sons, 
ritmos e instrumentos diferenciados, a valorização 
do corpo e o tom parodístico das composições.
c) A assimetria dos versos e a forma como são dis-
postos no papel representam um estilo literário e 
desconsideram o tratamento temático do texto. 
d) Os versos são marcados pela ideia de simultaneida-
de, tanto da lembrança quanto da existência real das 
coisas, o que leva o poeta à reflexão sobre o tempo. 
9. (ENEM) Ferreira Gullar, um dos grandes poetas brasi-
leiros da atualidade, é autor de “Bicho urbano”, poema 
sobre a sua relação com as pequenas e grandes 
cidades.
Bicho urbano
Se disser que prefiro morar em Pirapemas 
ou em outra qualquer pequena cidade do país
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã
lavar o rosto no orvalho
e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada.
A natureza me assusta.
Com seus matos sombrios suas águas
suas aves que são como aparições 
me assusta quase tanto quanto 
esse abismo
de gases e de estrelas 
aberto sob minha cabeça.
(GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio 
Editora, 1991)
 Embora não opte por viver numa pequena cidade, o 
poeta reconhece elementos de valor no cotidiano das 
pequenas comunidades. Para expressar a relação do 
homem com alguns desses elementos, ele recorre à 
sinestesia, construção de linguagem em que se mes-
clam impressões sensoriais diversas. Assinale a opção 
em que se observa esse recurso. 
a) “e o pão preserve aquele branco / sabor de alvorada.” 
b) “ainda que lá se possa de manhã / lavar o rosto no 
orvalho”
c) “A natureza me assusta. / Com seus matos som-
brios suas águas” 
d) “suas aves que são como aparições / me assusta 
quase tanto quanto” 
e) “me assusta quase tanto quanto / esse abismo / de 
gases e de estrelas” 
Literatura 27
( ) Em 1968, a apresentação da canção “É Proibido 
Proibir”, por Caetano Veloso, no Festival Interna-
cional da Canção, foi a primeira manifestação des-
se movimento e teve uma recepção calorosa por 
parte do público e da crítica.
( ) As canções tropicalistas afinavam-se e davam 
continuidade à chamada «canção de protesto», 
da década de 60, por priorizarem o conteúdo 
sociopolítico.
( ) Além das obras musicais, são consideradas ma-
nifestações do tropicalismo no Brasil a encenação 
da peça “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, 
pelo dramaturgo Celso Martinez Corrêa, e os fil-
mes de Glauber Rocha.
 A sequência correta de preenchimento dos parênteses, 
de cima para baixo, é 
a) V - V - F - F - V. 
b) F - V - V - F - F.
c) V - F - V - F - V.
d) F - F - V - V - F. 
e) V - F - F - V - V
13. (UFES) 
Como atitude, o tropicalismo está presen-
te em outras produções culturais da época, 
como a encenação de “O Rei da Vela”; de Os-
wald de Andrade, pelo Grupo Oficina; ou no 
filme “Terra em transe”, de Glauber Rocha; ou 
nas experiências de artes plásticas de Hélio 
Oiticica. O tropicalismo é a expressão de uma 
crise, uma opção estética que inclui um pro-
jeto de vida, em que o comportamento passa 
a ser elemento crítico, subvertendo a ordem 
mesma do cotidiano e marcando os traços 
que vão influenciar de maneira decisiva as 
tendências literárias marginais. O tropicalis-
mo revaloriza a necessidade de revolucionar 
o corpo e o comportamento. Será inclusive 
por esse aspecto da crítica comportamental 
que Caetano Veloso e Gilberto Gil serão exi-
lados pelo regime militar. As preocupações 
com o corpo, o erotismo, as drogas, a sub-
versão de valores apareciam como demons-
trações da insatisfação com um momento em 
que a permanência do regime de restrição 
promovia a inquietação, a dúvida e a crise da 
intelectualidade.
 Com base no trecho – retirado do estudo “Literatura 
marginal e o comportamento desviante”, de 1979, 
de autoria de Ana Cristina Cesar –, assinale a opção 
CORRETA. 
a) A obra de João Cabral e a Poesia Concreta repre-
sentam uma forte influência nas produções tropica-
listas e marginais. 
b) As letras das canções tropicalistas – como “Domin-
go no parque” e “Alegria, alegria” – pregam a toma-
da do poder pela via armada. 
c) Caetano Veloso e Gilberto Gil, no Manifesto Tropica-
lista, retomam as propostas oswaldinas de implan-
tação do Matriarcado de Pindorama.
d) Em suas produções, os tropicalistas mostraram a 
convivência do arcaico com o moderno e os poetas 
marginais privilegiam a linguagem coloquial. 
e) Parte da poesia feita nos anos 70 denominou-se 
marginal porque os poetas eram bandidos, subver-
sivos e perseguidos pelo regime militar. 
14. (UFSC) Leia.
As aparências revelam
Afirma uma Firma que o Brasilconfirma: “Vamos substituir o
Café pelo Aço”.
Vai ser duríssimo descondicionar
o paladar
Não há na violência
que a linguagem imita
algo da violência
propriamente dita?
CACASO. As aparências revelam. In: WEINTRAUB, Fabio (Org.). 
Poesia marginal. São Paulo: Ática, 2004. p. 61. Para gostar de ler 
39.
 Com base no texto, na leitura da coletânea de poemas 
Poesia marginal e no contexto de produção desses 
poemas, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S). 
(01) Entre as temáticas das quais se ocupou a poe-
sia marginal da década de 1970, havia espaço 
para painéis sociais, para a memória afetiva e a 
pesquisa poética e para o registro literário da inti-
midade. Sem grandes exageros, a única regra era 
atender aos princípios da norma padrão da língua. 
28
16. (UFMG) Leia este poema:
PAPO DE ÍNDIO
Veio uns ômi di saia preta
cheiu di caixinha e pó branco
qui êles disserum qui chamava açucri
Aí êles falaram e nós fechamu a cara
depois êles arrepitirum e nós fechamu o corpo
Aí êles insistiram e nós comemu êles.
CHACAL. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (Org.). “26 poetas 
hoje”. 6. ed. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2007. p. 219.
 REDIJA um texto, indicando três características desse 
poema que permitem reconhecê-lo como continuidade 
da poética modernista, particularmente da poesia pau-
-brasil de Oswald de Andrade. 
17. Leia o poema a seguir de autoria de Ana Cristina César.
Cabeceira
Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
“da sombra daquele beijo
que farei?”
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão
CÉSAR, Ana Cristina. Cabeceira. In: ______. Poética. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2013. p. 106.
 Destaque três elementos, entre aspectos formais e de 
conteúdo, que permitam compreender possíveis senti-
dos para esse poema.
(02) Os versos “Vai ser duríssimo descondicionar / o 
paladar” podem ser entendidos metaforicamen-
te como uma referência a sacrifícios impostos à 
população, obrigada a acomodar-se a uma nova 
ordem econômica. 
(04) Nos poemas reunidos em Poesia marginal, os 
autores enfocam a denúncia e a crítica social de 
uma maneira sisuda, sem apelar para o humor, 
pois visam conferir credibilidade ao que é dito. 
(08) A frase “Vamos substituir o Café pelo Aço” pode 
ser interpretada como uma referência à abertura 
do país para a exportação de minérios, defendida 
por empresários e pelo Governo à época da Dita-
dura Militar. 
(16) No primeiro e segundo versos, no jogo de pala-
vras “Afirma”, “Firma” e “confirma”, repete-se o 
segmento firma; isso pode ser interpretado como 
uma referência à influência das grandes empre-
sas nas políticas estatais. 
(32) Na estrofe final, observa-se como Cacaso procura 
desvincular a linguagem das práticas sociais, ao 
propor que não há violência nas palavras em si, 
mas apenas na realidade a que elas se referem. 
15. (ENEM) 
Reclame
Se o mundo não vai bem
a seus olhos, use lentes
... ou transforme o mundo
ótica olho vivo
agradece a preferência
CHACAL et al. Poesia marginal. São Paulo: Ática, 2006.
 Chacal é um dos representantes da geração poética de 
1970. A produção literária dessa geração, considerada 
marginal e engajada, de que é representativo o poema 
apresentado, valoriza 
a) o experimentalismo em versos curtos e tom jocoso. 
b) a sociedade de consumo, com o uso da linguagem 
publicitária. 
c) a construção do poema, em detrimento do conteúdo. 
d) a experimentação formal dos neossimbolistas. 
e) o uso de versos curtos e uniformes quanto à métrica. 
Volume 12
Literatura 
Contemporânea II
Ponto de partida 
24
1. A imagem representa páginas de um livro reproduzidas em uma plataforma digital. Como leitor, você já teve 
algum contato com uma publicação como essa? Qual era essa publicação?
2. No que se refere especificamente a obras literárias, qual é sua experiência de leitura em um suporte como esse?
3. Para você, existe diferença entre a leitura realizada em um suporte tradicional em papel e a realizada em uma 
tela de computador? Por quê?
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Objetivos da unidade: 
 apresentar algumas tendências da poesia brasileira contemporânea;
 apresentar algumas tendências da literatura brasileira contemporânea em prosa;
 apresentar algumas tendências do teatro contemporâneo;
 apresentar algumas tendências da produção em prosa escrita por autores de países africanos 
de língua portuguesa. 
Acontecia
Nas últimas décadas, as transformações sociais e econômicas modificaram os 
modos como a literatura é produzida no Brasil. Livros de todos os tipos e para todos os 
gostos passaram a ser mais acessíveis a uma parcela considerável da população. Pro-
gramas governamentais e iniciativas individuais ou institucionais tornaram o livro um 
objeto menos distante do brasileiro. Essa transformação, porém, não significa neces-
sariamente uma leitura mais qualificada: em vez de obras de grande valor literário, os 
leitores optam, muitas vezes, por best-sellers, livros que seguem modelos mais simples 
para agradar ao leitor.
Novos canais de circulação do texto literário surgem e ganham espaço antes ocu-
pado pelo livro “tradicional”. Em meio à revolução tecnológica, observa-se um fenô-
meno que se dá não somente no Brasil, mas em grande parte do mundo: a prosa de 
ficção é hoje o tipo de literatura mais consumido pelos leitores. Acompanhando o 
romance, as narrativas curtas também têm cumprido o papel de formar leitores. As 
crônicas, que ainda circulam nos jornais, impressos e digitais, são apreciadas por muitos. Os contos, por sua vez, satis-
fazem os leitores que procuram uma narrativa mais “rápida”.
Apesar da preferência pela prosa, os poemas também são produzidos e lidos. A poesia contemporânea tem se 
revelado muito imaginativa, explorando os limites da linguagem e propiciando ao leitor novas descobertas sobre si 
mesmo e sobre a realidade que o cerca. O experimentalismo, a ruptura dos limites do próprio gênero poético e a 
mistura entre poesia e outras linguagens caracterizam nosso tempo, tornando a leitura de poemas uma atividade 
ao mesmo tempo prazerosa e reflexiva.
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Tendências da literatura contemporânea: poesia
Assim como grande parte das manifestações artísticas criadas e compartilhadas em tempos atuais, os caminhos da 
poesia contemporânea são marcados pela diversidade. Valendo-se, por vezes, de uma linguagem inusitada, exploran-
do temáticas relacionadas à violência, à perplexidade do sujeito em um mundo estranho e ao subjetivismo, a poesia 
brasileira das últimas décadas tem, na metalinguagem, na ironia e na contradição, algumas de suas ferramentas para 
sensibilizar o leitor.
Uma vertente da produção poética baseia-se na expressão da subjetividade, aprofundando e registrando uma ex-
periência lírica que, muitas vezes, se contrapõe a uma realidade caracterizada pelo consumismo, pela falta de reflexão 
e pela sensação de que os homens de hoje são mais individualistas e mais alienados.
Olhar literário
30 Volume 12
Em outra vertente da escrita poética, o experimentalismo de novas formas e a ampliação de temas indicam uma 
espécie de continuidade com o Modernismo de 1922. Essa poesia acaba por se tornar uma escrita que faz referência a 
literaturas passadas, revisitando poetas de momentos anteriores e estabelecendo com eles novos diálogos poéticos.
A exploração de sons, os rompimentos com as estruturas linguísticas e sintáticas, a aproximação da escrita poética 
com outras linguagens (artes visuais, cinema, vídeos, performances, música, HQ, etc.), a criação de novas palavras e 
outros recursos mostram um enorme vigor na busca de formas de expressão de nosso tempo.
As iniciativas de descentralizar a poesia, realizadas por um 
conjunto de poetas considerados “marginais” por procura-
rem se manter “à margem”da produção e do consumo cultural 
comercial e de grande distribuição, têm favorecido o surgimen-
to de escritores excelentes, embora pouco conhecidos. Nesse 
novo contexto, em que a poesia deixa de ser um produto “re-
quintado”, de circulação restrita, a produção poética passa a dar 
voz a realidades que poucas vezes haviam sido efetivamente 
problematizadas. Temáticas específicas surgem e determinam 
uma mudança radical na linguagem poética, como a violência, a 
solidão, a discriminação, a fragilidade humana e a sexualidade.
Atividades
só
me consolaria:
o ejetor de teias
do homem-aranha
só lá no alto
entre prédios
não se veria
este coração
sem plumas
– algum vilão
por aí
usa um
colar de penas
made in
my heart –
só lá em cima
entre edifícios
com o aval
das pombas
uma criança
olha pra cima
mamãe, mamãe
é a mulher
-aranha?
não seja tola
ela está
limpando
janelas
só
me consolaria:
o ejetor de teias
do homem-aranha
só lá no alto
entre prédios
não se veria
um coração
sem planos
FREITAS, Angélica. Rilke Shake. São Paulo: Cosac Naify; Rio de 
Janeiro: 7 Letras, 2007. p. 47-48.
 Leia o poema a seguir, escrito por Angélica Freitas.
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Alguns dos poetas considerados “marginais” s
e envolvem 
diretamente em iniciativas relacionadas à produçã
o e à circu-
lação de literatura nas zonas periféricas dos gran
des centros 
urbanos brasileiros. Uma delas, denominada Coop
erifa, é as-
sim descrita por Sérgio Vaz, um de seus idealizador
es: “um mo-
vimento cultural de/para periferia. É um movime
nto cultural 
realizado e pensado sob a benção da comunidade”.
 Foi fundada 
em 2000, em Taboão da Serra. Seu objetivo é reun
ir artistas da 
periferia, desenvolvendo, com base em seus trabal
hos, ativida-
des culturais (teatro, exposições, saraus, shows de m
úsica, etc.). 
Literatura 31
a) Uma das características do livro de poemas Rilke Shake, um trocadilho elaborado com o nome do poeta tcheco 
Rainer Maria Rilke e da bebida milk-shake, é a associação entre o universo pop e o cotidiano das cidades. Identi-
fique uma citação presente no poema que comprova essa associação.
b) Ao termo “só”, presente várias vezes no poema, podem ser atribuídos dois sentidos diferentes. Quais são eles?
c) A ironia e o humor, heranças do Modernismo, estão presentes no poema. Retire do texto uma passagem em que 
essa utilização esteja evidente.
d) Interprete o sentido da expressão “coração sem planos”, que finaliza o poema.
Tendências da literatura contemporânea: prosa
Os múltiplos rumos tomados pelas produções literárias em prosa na contemporaneidade, assim como os poemas, 
têm como marca uma diversidade que dificulta sua sistematização. 
De um lado, os estilos dos autores apresentam preocupações estéticas singulares, o que faz com que o projeto 
literário de cada escritor já traga em si um conjunto de questões próprias. Um exemplo disso diz respeito a influências 
ou diálogos que cada escritor estabelece com a tradição literária que o antecedeu. É comum, em eventos públicos, 
como palestras e fóruns de discussão sobre literatura, os escritores apresentarem em suas falas seus entendimentos 
sobre a “herança” que receberam de um grupo de autores que fazem parte de seu “repertório” pessoal como leitores. 
Questões como “que autores mais influenciam sua escrita?” ou “que obras literárias influenciam sua literatura?” são co-
locadas para os autores para que se compreenda algo de sua produção.
Olhar literário
32 Volume 12
A prosa contemporânea vive uma espécie de contra-
dição: assimila a influência recebida da produção literá-
ria do passado (inserindo-se em uma tradição literária) 
e, ao mesmo tempo, busca uma ruptura, uma negação, 
em relação ao que já foi escrito. Cabe destacar que esse 
impasse é algo relativamente novo no campo da literatu-
ra. Antes do Modernismo, os escritores empenhavam-se 
em produzir obras que fossem reconhecidas como boas 
representações de um estilo (por exemplo: o escritor da 
literatura clássico-renascentista era valorizado por imitar 
as obras da Antiguidade Clássica; o escritor romântico, ao 
escrever romance históricos, por exemplo, tinha por meta 
construir personagens que representassem um ideal de 
coragem, caráter e justiça – aspectos que eram tidos 
como valores na literatura da época).
A seguir, algumas tendências que aproximam as obras 
escritas nos últimos cinquenta anos: 
 • uma espécie de ultrarrealismo, que se baseia 
na representação da violência como aspecto im-
portante para a composição da narrativa – nessa 
prosa literária, geralmente o cenário em que se 
dão os acontecimentos é urbano;
 • uma retomada regionalista, que procura exaltar personagens como representantes de pequenas comunida-
des, situadas em contextos que mesclam os universos rural e urbano – nessa literatura, os modos de falar do 
narrador e do personagem são caracterizados pela utilização de expressões linguísticas identificadas com uma 
região;
 • o romance histórico, que mistura o ficcional a fatos que ocorreram; 
 • a narrativa de caráter psicológico, que explora dimensões mais subjetivas da realidade em que os persona-
gens se inserem – nesses textos, predominam as narrativas em primeira pessoa, o que aproxima o leitor e a 
intimidade das personagens.
Evidentemente, há obras mistas, que se inserem em mais de uma dessas tendências, e ainda obras que fogem a 
essas classificações.
Em relação à recepção das produções literárias (não só em prosa, mas também no que se refere à produção de poe-
mas), merecem destaque os novos espaços por meio dos quais escritores e leitores têm mantido trocas, influenciando-
-se mutuamente:
 • revistas literárias, acadêmicas ou não, impressas e digitais, apresentam novos escritores para o público leitor;
 • blogs literários, alimentados tanto por escritores quanto por leitores, têm constituído espaços de trocas de 
ideias, o que alimenta o processo de recepção das obras;
 • crítica de jornal, que surgiu no século XIX, se mantém prestigiada, apresentando obras novas ou reedições, aju-
dando a divulgar novos textos e cumprindo um papel de formar leitores (oferecendo ao leitor um olhar crítico 
em relação aos textos literários);
 • crítica acadêmica, que tem mostrado um interesse efetivo na análise e interpretação de escritores em atividade 
e obras lançadas recentemente. 
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Literatura 33
 Leia um trecho de um dos romances escritos por Chico Buarque.
Atividades
Antes de exibir a alguém o que lhe dito, você me faça o favor de submeter o texto a um gramá-
tico, para que seus erros de ortografia não me sejam imputados. E não se esqueça que meu nome 
de família é Assumpção, e não Assunção, como em geral se escreve, como é capaz de constar até aí 
no prontuário. Assunção, na forma assim mais popular, foi o sobrenome que aquele escravo Balbino 
adotou, como a pedir licença para entrar na família sem sapatos. Curioso é que seu filho, também 
Balbino, foi cavalariço do meu pai. E o filho deste, Balbino Assunção Neto, um preto meio roliço, foi 
meu amigo de infância. Esse me ensinou a soltar pipa, a fazer arapucas de caçar passarinho, me fas-
cinavam seus malabarismos com uma laranja nos pés, quando nem se falava em futebol. Mas depois 
que entrei no ginásio, minhas idas à fazenda escassearam, ele cresceu sem estudos e perdemos as 
afinidades. Só o reencontrava nas férias de julho, e então volta e meia lhe pedia um favor à-toa, mas 
para agradar a ele mesmo, que era de índole prestativa. Às vezes também o chamava para ficar por ali 
à disposição, porque a quietude da fazenda me aborrecia, naquele tempo a gente era veloz e o tempo 
se arrastava. Daí a eterna impaciência, e adoro ver seus olhos de rapariga rondando a enfermaria: eu, 
o relógio, a televisão, o celular, eu, a cama do tetraplégico, o soro, a sonda, o velho do Alzheimer, o 
celular, a televisão, eu, o relógio de novo, e não deu nem um minuto.
BUARQUE, Chico. Leite derramado. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.p. 18-19.
imputados: atribuídos.
Chico Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro, em 1944. É cantor e compositor, 
reconhecidamente um dos maiores músicos de MPB. Foi duramente censurado na 
época da Ditadura Militar. Além das canções, escreveu peças teatrais, literatura infan-
tojuvenil e ficção. Publicou os romances Estorvo (1992), Benjamin (1995), Budapeste 
(2003), Leite derramado (2009) e O irmão alemão (2014).
a) O romance Leite derramado retrata a história de Eulálio Assumpção, um senhor idoso, internado em um hospital, 
filho de um senador, que narra de maneira não linear a trajetória de sua família decadente para sua filha e as en-
fermeiras que cuidam dele. Que recurso o narrador em primeira pessoa utiliza para demarcar a não linearidade da 
narrativa no trecho apresentado? Cite um fragmento que exemplifique sua resposta.
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34 Volume 12
b) Eulálio, como se pode ler no trecho, faz questão de diferenciar seu nome chamando a atenção para a presença da 
letra p. Esse comportamento indica que característica da personagem?
c) A mentalidade aristocrática de Eulálio se revela no momento em que ele relata suas lembranças sobre Balbino. Que 
traço ideológico e período histórico é possível depreender da fala de Eulálio a esse respeito? 
d) Considerando as tendências da literatura contemporânea em prosa estudadas nesta unidade, qual(is) aspecto(s) 
dessa literatura pode(m) ser relacionado(s) a esse trecho da obra de Chico Buarque?
Tendências da literatura contemporânea: teatro 
Com o fim da ditadura, em meados da década de 1980, diversos grupos teatrais começam a se organizar, o que deu 
novo fôlego ao teatro nacional. Entre eles, destacam-se o pioneiro Asdrúbal Trouxe o Trombone e o grupo Tapa, que 
sempre pautou sua atuação pela escolha de textos dramáticos de grande qualidade.
Nos anos de 1990, a Companhia do Latão e a companhia de teatro Os Satyros afirmaram-se com montagens ino-
vadoras. Também o grupo do Teatro da Vertigem merece relevo. Seu diretor, Antonio Araújo, inovou as encenações 
Olhar literário
Literatura 35
levando o público a espaços inusitados da cidade de São Paulo, como um hospital abandonado, uma prisão em ruínas 
e as margens do Rio Tietê.
Do ponto de vista da produção de textos dramáticos, inúmeros autores brasileiros contemporâneos têm escrito 
peças consideradas pela crítica como de grande qualidade. Algumas delas tendem ao cômico, divertindo um público 
mais amplo. Outras estabelecem uma crítica social mais contundente. Como autores significativos, podem ser citados: 
Juca de Oliveira, Mauro Rasi, Miguel Falabella, Maria Adelaide Amaral, Millôr Fernandes, Renata Pallottini, Mário Prata, 
Antônio Fagundes, Fernando Bonassi, Mário Bortolotto e Rubens Rewald. Já no âmbito da direção teatral, é possível 
afirmar que três grandes diretores contribuíram de maneira decisiva para a afirmação do teatro brasileiro contemporâ-
neo, em termos tanto de formação de atores como de realização de espetáculos. São eles: José Celso Martinez Corrêa, 
Antunes Filho e Gerald Thomas.
Entrelaçamentos
Prosa contemporânea africana de língua portuguesa
Depois de anos de conflito armado em razão das lutas pela inde-
pendência política, os países africanos de expressão portuguesa ex-
perimentam um longo tempo de paz social. Depois de tornarem-se 
independentes, muitos dos países vivenciaram um período de guerra 
civil, o que resultou em marcas que não se apagaram da memória indi-
vidual e coletiva. Se muito da ficção produzida entre os anos de 1960 e 
1970 tinha os conflitos contra os portugueses e as lutas internas entre 
etnias como temas recorrentes, o período atual pode ser caracterizado 
pela exploração de temáticas comuns a outros lugares e povos: a 
corrupção, a condição da mulher, os modos de vida e as desigualdades 
sociais são alguns exemplos.
Do ponto de vista dos recursos de linguagem, traços de ironia, me-
talinguagem, rompimento com a linearidade temporal ou com a conti-
nuidade espacial, multiplicidade dos pontos de vista sobre um mesmo 
fato, mistura de modos de falar antigos e contemporâneos, resgates do insólito e do fantástico, expressões de um certo 
lirismo, etc. estão entre as estratégias empregadas pelos escritores africanos.
Pode-se verificar também que, mais do que nunca, a literatura africana de língua portuguesa se integra a um con-
junto de códigos estéticos compartilhados com uma literatura mundializada, resultado do processo de globalização 
cultural.
 Ondjaki
Em Angola, o percurso da formação do romance pode ser considerado não 
somente um dado significativo do ponto de vista literário, como também uma 
parte importante do ponto de vista histórico e social. Nesse país, a ficção se con-
solidou antes se comparada às produções de outros países africanos que escre-
vem em língua portuguesa. Escritores como Pepetela, José Eduardo Agualusa e 
Arnaldo Santos escrevem obras em que a dimensão ficcional se mistura com pas-
sagens históricas a fim de resgatar as marcas do passado colonial que se projeta 
ainda sobre a realidade presente. Articulando inovação estilística e temática so-
cial, escritores como Luandino Vieira, Ondjaki, Manuel Rui, Uanhenga Xitu e Boa-
ventura Cardoso contribuem com suas obras para que se possam compreender a 
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36 Volume 12
complexidade da vida social angolana e os dilemas resultantes de uma cultura carac-
terizada pelo confronto constante entre as referências do mundo contemporâneo e 
as raízes tradicionais que fundamentam a identidade do país.
Em Moçambique, o romance tem ganhado destaque principalmente a partir da 
década de 1980. Com uma vasta produção de qualidade, ao longo das últimas déca-
das, a literatura moçambicana foi se destacando no campo da ficção com escritores 
como João Paulo Borges Coelho, Ungulani Ba Ka Khosa, Paulina Chiziane, Lilia Mom-
plé, Aldino Muianga e Nelson Saúte. O surgimento de uma geração nova de escritores 
voltados para a produção literária em prosa pode ser 
explicado por vários fatores, entre os quais a pressão 
editorial que, nos dias de hoje, comercializa mais a prosa que a poesia e a adequação 
do gênero romance a questões específicas das sociedades contemporâneas (como a 
denúncia da desigualdade social, as questões raciais, o choque entre o regional e 
o universal, etc.).
Um escritor que merece destaque é Mia Couto, cuja qualidade literária o coloca 
entre os escritores contemporâneos mais importantes do mundo. 
Em Cabo Verde, a publicação de contos e romances tem se tornado mais intensa 
com o passar dos anos. Escritores como Germano Almeida, Arménio Vieira, Fátima 
Bettencourt, Dina Salústio e Carlos Araújo estão entre os mais importantes nesse 
contexto. 
 Paulina Chiziane
 Germano Almeida
1. Leia um trecho de um romance de Mia Couto. 
Deus já foi mulher. Antes de se exilar para longe da sua criação e quando ainda não se chamava 
Nungu, o atual Senhor do Universo parecia-se com todas as mães deste mundo. Nesse outro tempo, 
falávamos a mesma língua dos mares, da terra e dos céus. O meu avô diz que esse reinado há muito 
que morreu. Mas resta, algures dentro de nós, memória dessa época longínqua. Sobrevivem ilusões 
e certezas que, na nossa aldeia de Kulumani, são passadas de geração em geração. Todos sabemos, 
por exemplo, que o céu ainda não está acabado. São as mulheres que, desde há milénios, vão tecendo 
esse infinito véu. Quando os seus ventres se arredondam, uma porção de céu fica acrescentada. Ao 
inverso, quando perdem um filho, esse pedaço de firmamento volta a definhar. 
Talvez por essa razão a minha mãe, Hanifa Assulua, não tenha parado de contemplar as nuvens 
durante o enterro da sua filha mais velha. A minha irmã, Silência, foi a última vítima dos leões que, 
desde há algumas semanas, atormentam a nossa povoação. 
Porque morreu desfigurada, deitaram o que lhe sobrava do corpo sobre o lado esquerdo, com a 
cabeça

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