Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Fungos e infecções fúngicas ................................. 5 3. Anfotericina B .............................................................. 8 4. Flucitosina ...................................................................11 5. Azóis .............................................................................14 6. Equinocandinas ........................................................22 7. Fármacos usados contra micoses cutâneas .24 Referências bibliográficas .........................................29 3ANTIFÚNGICOS 1. INTRODUÇÃO As doenças infecciosas causadas por fungos são denominadas micoses e, com frequência, são de natureza crô- nica. As infecções micóticas podem ser superficiais e envolver apenas a pele (micoses cutâneas que se limi- tam até a epiderme), e outras podem penetrar a pele, causando infecções subcutâneas ou sistêmicas. As características dos fungos são tão singulares e diversas que eles podem ser classificados em seu próprio rei- no. Diferentemente de bactérias, os fungos são eucariotos, com paredes celulares rígidas compostas larga- mente de quitina em vez de peptide- oglicano (um componente caracterís- tico da maioria das paredes celulares bacterianas). Além disso, as membra- nas celulares dos fungos contêm er- gosterol, em vez de colesterol, encon- trado nas membranas de mamíferos. Essas características estruturais são úteis no direcionamento dos fárma- cos quimioterápicos contra as infec- ções fúngicas. As infecções fúngicas em geral são resistentes aos antimi- crobianos, assim como as bactérias são resistentes aos antifúngicos. Equinocandinas Azóis Terbinafilina Naftifina Amorolfina Anfotericina Sistema de microtúbulos Griseofulvina Flucitosina Parede celular fúngica rica em β-glucanoMembrana celular fúngica rica em ergosterol Figura 1. Locais de ação dos fármacos antifúngicos comuns. Os fungos são morfologicamente microrganismos muito diversos, e esse diagrama de um fungo “típico” não tem a intenção de ser tecnicamente correto. Os principais locais de ação dos agentes antifúngicos estão indicados como se vê acima. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016 4ANTIFÚNGICOS A incidência de infecções fúngicas como a candidemia tem aumentado nas últimas décadas. Isso é atribuído ao aumento do número de pacientes com supressão imune crônica devido a transplante de órgãos, quimioterapia anticâncer ou infecção com vírus da imunodeficiência humana (HIV). Nes- se mesmo período, novas opções tera- pêuticas se tornaram disponíveis para o tratamento das infecções por fungos. Os agentes terapêuticos atuais po- dem ser amplamente classificados em dois grupos: o primeiro, com- posto pelos antibióticos antifúngicos que ocorrem naturalmente, como os polienos e as equinocandinas, e o segundo, pelos fármacos sintéticos, incluindo os azóis e as pirimidinas fluoradas. Como muitas infecções são superficiais, há inúmeras prepa- rações tópicas. Muitos agentes an- tifúngicos são bastante tóxicos e, quando o tratamento sistêmico se faz necessário, esses agentes têm de ser usados frequentemente sob supervi- são médica estrita. MAPA MENTAL: INTRODUÇÃO AOS ANTIFÚNGICOS Sítios de ação dos antifúngicos Anfotericina B Equinocandinas Flucitosina Azóis Inibidores da esqualeno epoxidase Função da membrana Síntese da parede celular Síntese de ácidos nucleicos Síntese de ergosterol 5ANTIFÚNGICOS 2. FUNGOS E INFECÇÕES FÚNGICAS Os fungos são células eucarióticas sem mobilidade. Aproximadamente cinquenta tipos são patogênicos aos seres humanos. Esses organismos estão presentes no meio ambiente ou podem coexistir com os seres huma- nos como comensais, sem causar al- gum risco aberto à saúde. SE LIGA! Desde os anos de 1970, tem havido aumento estável na incidência das infecções fúngicas sistêmicas se- cundárias graves. Um dos fatores contri- buintes foi o uso generalizado de antibi- óticos de amplo espectro, que erradicam as populações bacterianas não patogê- nicas, as quais, em geral, competem com os fungos pelos recursos nutricionais. Outras causas incluem a disseminação da AIDS e o uso de imunossupresso- res ou agentes quimioterápicos para o câncer. O resultado foi o aumento da prevalência das infecções oportunistas, ou seja, infecções que raramente cau- sam doença nos indivíduos saudáveis. Pessoas idosas ou diabéticas, mulheres grávidas e vítimas de queimadura estão particularmente em risco em relação às infecções fúngicas, como, por exemplo, a candidíase. Os fungos clinicamente importantes podem ser classificados em quatro tipos principais, com base em suas características morfológicas e outras. Os principais grupos são: • Leveduras (ex: Cryptococcus neoformans); • Fungos semelhantes à levedura, que produzem estrutura similar ao micélio (ex: Candida albicans); • Fungos filamentosos com micé- lio verdadeiro (ex: Aspergillus fumigatus); • Fungos “dimórficos”, que, depen- dendo das limitações nutricio- nais, podem crescer tanto como leveduras quanto como fungos filamentosos (ex: Histoplasma capsulatum). Outro organismo, o Pneumocystis carinii (também conhecido como P. jirovecii), partilha características tan- to de protozoários quanto de fungos; trata-se de um importante patógeno oportunista em pacientes com o sis- tema imunológico comprometido (ex: aqueles com AIDS), mas não é susce- tível aos fármacos antifúngicos. As infecções fúngicas superficiais podem ser classificadas em derma- tomicoses e candidíase. As derma- tomicoses incluem as infecções de pele, cabelo e unhas (onicomicose). São mais comumente causadas por Trichophyton, Microsporum ou Epi- dermophyton, dando origem a vários tipos de “tinhas” (não confundir com as infecções helmínticas genuínas) ou tineas. A Tinea capitis afeta o couro cabeludo; a Tinea cruris, a vi- rilha (“prurido na virilha”); a Tinea pe- dis, os pés (“pé de atleta”); e a Tinea 6ANTIFÚNGICOS corporis, o corpo. Na candidíase su- perficial, o organismo semelhante à levedura pode infectar as membra- nas mucosas da boca (“sapinho”) ou da vagina, ou, ainda, a pele. As infec- ções bacterianas secundárias podem complicar a evolução e o tratamento dessas manifestações. Doenças fúngicas sistêmicas (ou “disseminadas”) são muito mais gra- ves do que as infecções superficiais. A mais comum é a candidíase. Ou- tras situações graves são a meningi- te criptocócica, a endocardite, a as- pergilose pulmonar e a mucormicose rinocerebral. Atualmente, a aspergi- lose pulmonar invasiva é uma causa importante de morte entre os recep- tores de transplante de medula ós- sea ou indivíduos com neutropenia. A colonização pelo Aspergillus nos pul- mões do paciente com asma ou com fibrose cística pode levar a uma situ- ação similar, denominada aspergilose broncopulmonar alérgica. Em outras partes do mundo, as infecções fúngi- cas sistêmicas incluem blastomicose, histoplasmose, coccidioidomicose e paracoccidioidomicose; estas são fre- quentemente infecções primárias, ou seja, não são secundárias à redução da função imunológica ou à alteração dos microrganismos comensais. 7ANTIFÚNGICOS MAPA MENTAL: FUNGOS E INFECÇÕES FÚNGICAS INFECÇÕES FÚNGICAS Cryptococcus neoformans Candida albicans Trichophyton spp., Epidermophyton floccosum, Microsporum spp. Aspergillus fumigatus Histoplasma capsulatum Coccidioides immitis Blastomyces dermatidis Leveduras Fungos semelhantes a leveduras Fungos filamentosos Fungos dimórficos Doença principal: Meningite Doenças principais: Sapinhos, Candidíase sistêmica Doenças principais: infecções na pele e nas unhas Doença principal: Aspergilose pulmonar Doença principal: Histoplasmose Doença principal: Coccidioidomicose Doença principal: Blastomicose Tratamentos comuns: Anfotericina, flucitosina, fluconazol Tratamentos comuns: Fluconazol, itraconazol Tratamentos comuns:Itraconazol, terbinafina, griseofulvina Tratamentos comuns: Voriconazol, anfotericina, caspofungina, outros azóis Tratamentos comuns: Itraconazol, anfotericina Tratamentos comuns: Itraconazol, anfotericina Tratamentos comuns: Itraconazol, anfotericina 8ANTIFÚNGICOS 3. ANFOTERICINA B A anfotericina B é um antifúngico po- liênico natural produzido pelo Strep- tomyces nodosus. Ela se liga ao er- gosterol nas membranas plasmáticas das células dos fungos sensíveis. Ali ela forma poros (canais) que precisam de interações hidrofóbicas entre o segmento lipofílico do antifúngico po- lieno e o esterol. O poro desorganiza a função da membrana, permitindo o vazamento de eletrólitos (particular- mente potássio) e pequenas molécu- las, resultando na morte da célula. A anfotericina B interage hidrofobicamente com o ergosterol na célula do fungo, formando um poro O potássio e outras pequenas moléculas são perdidos através do poro, causando morte celular Anfotericina B Potássio e outras pequenas moléculas CÉLULA DO FUNGO Figura 2. Modelo do poro formado pela anfotericina B na membrana lipídica bimolecular. Fonte: Farmacologia ilustrada, 2016 A anfotericina B é fungicida ou fun- gistática, dependendo do microrga- nismo e da sua concentração. Ela é eficaz contra uma ampla variedade de fungos, incluindo Candida albicans, Histoplasma capsulatum, Crypto- coccus neoformans, Coccidioides immitis, Blastomyces dermatitidis e várias cepas de Aspergillus. A an- fotericina B também é usada no tra- tamento de uma infecção por proto- zoário, a leishmaniose. A resistência dos fungos, embora infrequente, está associada à diminuição do conteúdo de ergosterol na membrana fúngica. A anfotericina é muito pouco absorvi- da quando administrada oralmente, e essa via é usada apenas para o trata- mento das infecções fúngicas do tra- to gastrointestinal superior. Pode ser utilizada topicamente, mas, no caso das infecções sistêmicas, é, em geral, administrada através da formulação em lipossomos, ou outras prepara- ções que contenham lipídios, por in- fusão intravenosa lenta. Isso melho- ra a farmacocinética e reduz o peso considerável dos efeitos adversos. A anfotericina está fortemente ligada à proteína, penetrando pouco nos te- cidos e nas membranas (ex: a barreira hematoencefálica), embora seja en- contrada em concentrações bastante elevadas nos exsudatos inflamatórios e possa atravessar a barreira hema- toencefálica mais prontamente quan- do as meninges estão inflamadas. É eliminada muito lentamente através 9ANTIFÚNGICOS do rim, sendo seus traços encontra- dos na urina por dois meses ou mais após o fim da administração. Penetração mínima do SNC, humor vítreo ou líquido amniótico Alguma eliminação pela bile Parte da dose aparece na urina durante um longo período Anfotericina B Tópica Figura 3. Administração e destino da anfotericina B. Legenda: SNC, sistema nervoso central. Fonte: Farma- cologia ilustrada, 2016 As doses de anfotericina B intraveno- sa variam de 0,1 a 1,5 mg/kg por dia. A dose habitual para a maioria das micoses sistêmicas é de 0,5 a 1 mg/ kg por dia. As doses do complexo lipí- dico de anfotericina B são geralmente 5 mg/kg por dia. A dose de anfoteri- cina B lipossomal varia de 3 a 5 mg/ kg por dia (dependendo da indica- ção), enquanto o complexo de coles- teril sulfato de anfotericina B é mais comumente administrado em doses que variam de 3 a 4 mg/kg por dia. SE LIGA! As formulações à base de li- pídios de anfotericina B foram introduzi- das na tentativa de reduzir a toxicidade associada à anfotericina B e são subs- tancialmente menos nefrotóxicas. Os efeitos adversos incluem: • Febre e calafrios: Ocorrem com maior frequência entre 1 e 3 horas após o início da administração IV, mas em geral diminuem com a re- petição das administrações. • Lesão renal: Apesar dos baixos ní- veis de fármaco excretados na uri- na, os pacientes podem apresentar diminuição da velocidade de filtra- ção glomerular e da função tubular renal. Em geral, a função renal vol- ta com a suspensão do fármaco, mas com doses maiores permane- cem lesões residuais. A azotemia é agravada por outros fármacos nefrotóxicos, como aminoglicosí- deos, ciclosporina, pentamidina e vancomicina, embora a hidratação adequada possa reduzir a gravi- dade. Para minimizar a nefrotoxici- dade, pode-se usar uma carga de sódio com a infusão salina normal e a anfotericina B em base lipídica. • Hipotensão: Pode ocorrer queda da pressão arterial tipo choque acompanhada de hipopotasse- mia, exigindo suplementação de potássio. Deve-se ter cautela em pacientes que usam digoxina e 10ANTIFÚNGICOS outros fármacos que podem cau- sar flutuações de potássio. • Tromboflebites: A adição de he- parina à infusão pode aliviar esse problema. Febre Calafrios Insuficiência renal Hipotensão Anemia Figura 4. Efeitos adversos da anfotericina B. Fonte: Farmacologia ilustrada, 2016 As seguintes interações medicamen- tosas são particularmente preocu- pantes com o uso de anfotericina B: • A anfotericina B não deve ser ad- ministrada concomitantemente ou sequencialmente com outros agentes nefrotóxicos, se possível. • Pacientes que recebem digoxina ou relaxantes musculares podem estar predispostos à toxicidade ou ao efeito aumentado desses agen- tes após hipocalemia induzida por anfotericina B. • Existem dados que vinculam an- fotericina B e reações pulmonares agudas em pacientes que rece- bem transfusões concomitantes de leucócitos, mas essas reações também podem ocorrer sem as transfusões. As infusões de anfo- tericina B devem ser o mais afas- tadas possível das transfusões de leucócitos. SE LIGA! Apesar da introdução de no- vos agentes antifúngicos para o trata- mento de micoses sistêmicas, a anfo- tericina B continua sendo o tratamento padrão para muitas infecções fúngicas invasivas graves. No entanto, devido às toxicidades associadas ao seu uso intravenoso, juntamente com a dispo- nibilidade ampliada de opções de trata- mento mais seguras, é frequentemente reservado para pacientes com infecções fúngicas invasivas graves e com risco de vida ou incapazes de tolerar agentes an- tifúngicos alternativos. 11ANTIFÚNGICOS 4. FLUCITOSINA A flucitosina (5-FC) é um agente an- tifúngico sintético ativo por via oral que se mostra efetivo contra certa faixa limitada (principalmente levedu- ras) de infecções fúngicas sistêmicas. Se administrada de forma isolada, comumente a resistência ao fármaco ocorre durante o tratamento, de modo que é usualmente combinada com a anfotericina no caso de infecções sis- têmicas graves, como a candidíase e a meningite criptocócica. MAPA MENTAL: ANFOTERICINA B Anfotericina B Vias de administração: Oral (infecção do TGI superior), IV (principal) Via primária de eliminação: desconhecida Usos: Infecções invasivas graves Efeitos adversos: febre e calafrios, lesão renal, hipotensão, tromboflebites, anemia Local de ação: função da membrana plasmática Formulações à base de lipídios: menor nefrotoxicidade SAIBA MAIS! A flucitosina é um agente antifúngico originalmente desenvolvido em 1957 como um antime- tabólito. Embora não tenha encontrado nenhum papel como agente antitumoral, é usado no tratamento de certas infecções fúngicas. 12ANTIFÚNGICOS A flucitosina exerce seus efeitos an- tifúngicos interferindo na síntese de DNA e proteínas. A 5-FC entra nas células do fungo por uma permease citosina-específica, que é uma enzi- ma que não ocorre nas células dos mamíferos. Na sequência, é conver- tida em uma série de compostos, in- cluindo 5-fluorouracila (5-FU) e 5-flu- orodesoxiuridina 5′-monofosfato, que interrompe a síntese de ácido nu- cleico e de proteínas. A anfotericina B aumenta a permeabilidade celular, permitindo que mais 5-FC entre na célula e gere efeitos sinérgicos. Pode ocorrer resistência durante o tratamento por diminuição dos níveis das enzimas que convertem5-FC em 5-FU e outros ou pelo aumento da síntese de citosina. Essa é a razão primária pela qual a 5-FC não é usada como antifúngico único. A velocidade de emergência das células fúngicas resistentes é menor com a associação de 5-FC mais um outro antifúngico do que com a 5-FC sozinha. A 5-FC possui atividade in vitro con- tra Cryptococcus neoformans, mui- tos Candida spp, Rhodotorula spp, Saccharomyces cerevisiae, a maio- ria dos organismos responsáveis pela cromoblastomicose e alguns fungos dematiáceos. Anfotericina B Flucitosina CÉLULA DO FUNGO Permease Citosina desaminase NH3 5-Fluoracilo 5-FdUMP dUMP dTMP Timidilato sintetase DNA A diminuição de dTMP leva à inibição da síntese de DNA e da divisão celular Figura 5. Mecanismo de ação da 5-FC. Legenda: 5-FdUMP, 5-fluorodesoxiuridina; 5’-monofosfato; dTMP, desoxitimidina; 5’-monofosfato. Fonte: Farmaco- logia ilustrada, 2016 A 5-FC é bem absorvida pela via oral. Distribui-se por toda a água corpo- ral e penetra bem no LCS. A 5-FU é detectável em pacientes e provavel- mente resulta da biotransformação da 5-FC pelas bactérias intestinais. A excreção do fármaco e seus poucos 13ANTIFÚNGICOS metabólitos é por filtração glomeru- lar, e a dosagem precisa ser ajusta- da em pacientes com função renal comprometida. A 5-FC deve ser administrado por via oral em quatro doses divididas (25 mg/kg em intervalos de 6 horas) em pacientes adultos e pediátricos. Em- bora o intervalo de doses publicado de 5-FC em adultos com função re- nal normal seja de 100 a 150 mg/kg por dia, recomenda-se que uma dose total de 100 mg/kg por dia não seja excedida. Raramente existe uma in- dicação para doses superiores a 100 mg/kg por dia, mas, se usado, o risco de toxicidade é significativo. Os efeitos adversos incluem neu- tropenia, trombocitopenia reversível e depressão dose-dependente da medula óssea. Deve-se ter cautela em pacientes submetidos a radia- ção ou quimioterapia com fármacos que deprimem a medula óssea. Pode ocorrer disfunção hepática reversível com elevação das transaminases e fosfatase alcalina sérica. Distúrbios gastrintestinais (GI), como náuseas, êmese e diarreia, são comuns, e pode ocorrer também enterocolite grave. SE LIGA! As concentrações séricas de 5-FC devem ser monitoradas para redu- zir o risco de toxicidade, particularmente toxicidade hematológica. A medição das concentrações séricas de 5-FC é reco- mendada após três a cinco dias de tera- pia, quando disponível, e deve ser obti- da duas horas após a administração da dose. Em locais em que as concentra- ções séricas de 5-FC não estão dispo- níveis, o monitoramento do hemograma duas a três vezes por semana fornece um método indireto de triagem para do- ses excessivas. As seguintes interações medicamen- tosas podem ocorrer: • O hidróxido de alumínio ou hidróxi- do de magnésio administrado con- comitantemente atrasa a absorção do 5-FC. • A administração concomitante de agentes com toxicidade semelhan- te ao 5-FC deve ser abordada com cautela. Como exemplo, pacien- tes com AIDS tratados com 5-FC para meningite criptocócica po- dem estar recebendo outros agen- tes com toxicidade hematológica, como zidovudina, ganciclovir ou trimetoprim-sulfametoxazol. Além disso, medicamentos conhecidos por causar disfunção re- nal (como anfotericina B e foscarnet) podem alterar a eliminação do 5-FC e pre- dispor a toxicidades relacio- nadas a concentrações ex- cessivas de 5-FC. 14ANTIFÚNGICOS Devido à conversão in vivo de 5-FC para 5-fluorouracil e a possível tera- togenicidade de ambos os compos- tos, o 5-FC deve ser evitado durante a gravidez, se possível. SE LIGA! A terapia combinada de 5-FC com anfotericina B é recomendada para o tratamento inicial de pneumonia criptocó- cica grave e meningoencefalite e, menos frequentemente, para infecções por can- didíase invasivas selecionadas. A 5-FC também é usada como parte de um regi- me totalmente oral em combinação com fluconazol para meningoencefalite cripto- cócica em países onde é difícil administrar anfotericina B. Devido a uma alta incidên- cia de resistência primária e/ou adquirida, o uso de flucitosina como monoterapia é significativamente restrito. MAPA MENTAL: FLUCITOSINA Flucitosina Vias de administração: Oral Via primária de eliminação: Renal Alta resistência (uso como monoterapia é restrito) Usos: Pneumonia criptocócica grave, meningoencefalite, candidíase invasiva Local de ação: síntese de DNA e proteínas Efeitos adversos: neutropenia, trombocitopenia reversível, depressão da medula óssea, disfunção hepática, distúrbios do TGI 5. AZÓIS Os azóis são um grupo de agentes fungistáticos sintéticos, com um am- plo espectro de atividade antifúngica. Clotrimazol, econazol, fenticonazol, cetoconazol, miconazol, tioconazol e sulconazol se baseiam no núcleo imidazol, e itraconazol, posaconazol, 15ANTIFÚNGICOS voriconazol e fluconazol são deriva- dos triazóis. Os azóis inibem a C-14 α-desmetila- se (uma enzima CYP450), bloquean- do, assim, a desmetilação do lanoste- rol em ergosterol, o principal esterol das membranas dos fungos. A inibi- ção da biossíntese do ergosterol de- sorganiza a estrutura e a função da membrana, o que, por sua vez, inibe o crescimento da célula fúngica. Fluconazol Lanosterol A inibição da síntese de ergosterol desorganiza a função da membrana e aumenta a permeabilidade Ergosterol P450 CH3 Figura 6. Mecanismo de ação dos antifúngicos azóis. Fonte: Farmacologia ilustrada, 2016 A resistência aos antifúngicos azóis vem se tornando um problema clíni- co significativo, particularmente com o tratamento prolongado necessário nos pacientes imunocomprometidos, como aqueles com AIDS avançada ou transplante de medula. Os meca- nismos de resistência incluem muta- ções no gene da C-14 α-desmetila- se, o que diminui a ligação dos azóis. Adicionalmente, algumas cepas de fungos desenvolveram bombas de efluxo que bombeia o azol para fora da célula. Os azóis variam muito em relação ao espectro de atividade, perfis far- macocinéticos e toxicidades, embora fluconazol, itraconazol, voriconazol, posaconazol e isavuconazol demons- trem atividade semelhante contra a maioria das espécies de Candida. Por exemplo, o fluconazol possui exce- lente atividade contra leveduras. O itraconazol fornece um espectro es- tendido, mas a biodisponibilidade in- consistente limita o uso desse agente em pacientes graves. O voriconazol é o agente de primeira linha no trata- mento da aspergilose invasiva, mas sua biodisponibilidade é imprevisível e determinada geneticamente, está associada a efeitos colaterais únicos e carece de atividade contra os Mu- corales, agentes da mucormicose. Entre os azóis, posaconazol e isavu- conazol têm o mais amplo espectro de atividade. Ambos estão disponí- veis como formulações intravenosas e orais. O cetoconazol é ativo contra as micoses endêmicas, dermatófitos e Candida spp. 16ANTIFÚNGICOS SE LIGA! Os membros da família tria- zol são alguns dos agentes antifúngicos mais utilizados. Os medicamentos desta classe oferecem atividade contra mui- tos patógenos fúngicos sem os graves efeitos nefrotóxicos observados com a anfotericina B. Novos agentes azólicos surgiram como terapias de primeira li- nha para várias doenças fúngicas gra- ves, como a aspergilose invasiva, para a qual o voriconazol se tornou o padrão de cuidado. Algumas das indicações mais comuns desses fármacos são: • Candidíase; • Aspergilose; • Criptococose; • Histoplasmose; • Blastomicose; • Coccidioidomicose; • Profilaxia de infecções fúngicas invasivas. Fluconazol O fluconazol foi o primeiro membro da classe dos antifúngicos triazóis. Ele é o menos ativo de todos os tria- zóis, com a maioria do seu espectro limitado a leveduras e alguns fungos dimórficos. Não tem utilidade no tra- tamento da aspergilose ou da zigo- micose. Ele é altamente ativo contra C. neoformans e certas espécies de Candida, incluindoC. albicans e C. parapsilosis. A resistência é uma preocupação com outras espécies, incluindo C. krusei e C. glabrata. O fluconazol é usado na profilaxia con- tra infecções fúngicas invasivas em receptores de transplantes de medu- la. Ele também é o fármaco de esco- lha contra C. neoformans após tra- tamento de indução com anfotericina B e 5-FC e é usado no tratamento da candidemia e da coccidioidomicose. O fluconazol é eficaz contra a maioria das formas mucocutâneas de candi- díase. Ele é usado comumente como tratamento oral de dose simples con- tra vulvovaginite por candidíase. O fluconazol está disponível em for- mulações de uso oral ou IV. É bem absorvido após administração oral e distribui-se amplamente pelos líqui- dos e tecidos do organismo. A maior parte do fármaco é excretada inalte- rada por via renal, e as doses preci- sam ser reduzidas em pacientes com disfunção renal. Os efeitos adversos mais comuns com o fluconazol são náuseas, êmese, cefaleia e urticária. Pode ocorrer hepatotoxicidade, e o fármaco deve ser usado com cautela em pacientes com disfunção hepática. Itraconazol O itraconazol é um triazol sintético que tem amplo espectro antifúngico comparado com o fluconazol. O itra- conazol atualmente é o fármaco de escolha para o tratamento de blasto- micose, esporotricose, paracoccidioi- domicose e histoplasmose. Ele rara- mente é usado para o tratamento de infecções por espécies de Candida e 17ANTIFÚNGICOS Aspergillus, devido à disponibilidade de fármacos novos e mais eficazes. O itraconazol está disponível em duas formas farmacêuticas de uso oral: cápsula e solução oral. A cápsula oral deve ser ingerida com alimento e ide- almente com uma bebida ácida, para aumentar a absorção. Em contras- te, a solução deve ser tomada com o estômago vazio, pois a alimentação diminui sua absorção. O fármaco se distribui bem na maioria dos tecidos, incluindo ossos e tecido adiposo. O itraconazol é biotransformado ex- tensamente no fígado, e o fármaco e seus metabólitos são excretados na urina e nas fezes. Os efeitos ad- versos incluem náuseas, êmese, ur- ticária (especialmente nos pacientes imunocomprometidos), hipopotasse- mia, hipertensão, edema e cefaleia. Pode ocorrer hepatotoxicidade, es- pecialmente quando é administrado com outros fármacos que afetam a fígado. O itraconazol tem efeito ino- trópico negativo e deve ser evitado em pacientes com evidência de dis- função ventricular, como insuficiência cardíaca. Posaconazol Posaconazol, um triazol sintético, é um antifúngico de amplo espectro es- truturalmente similar ao itraconazol. Ele está disponível como suspensão e comprimido orais e como formula- ção IV. O posaconazol é usado comumente para tratamento e profilaxia de infec- ções invasivas por Candida e Asper- gillus em pacientes gravemente imu- nocomprometidos. Devido ao amplo espectro de atividade, o posaconazol é usado também no tratamento de in- fecções fúngicas invasivas causadas por Scedosporium e Zygomycetes. O posaconazol tem baixa biodisponi- bilidade oral e deve ser administrado com alimentos. Embora o posacona- zol tenha meia-vida longa, a suspen- são é administrada em doses dividi- das ao longo do dia devido à absorção saturável no intestino; o comprimido é administrado uma vez ao dia. Dife- rentemente dos outros azóis, o po- saconazol não é biotransformado no fígado pela CYP450, mas é eliminado por glicuronidação. Os efeitos adver- sos mais comuns incluem distúrbios gastrointestinais (náuseas, êmese e diarreia) e cefaleia. Como outros azóis, o posaconazol pode causar elevação nas transaminases hepáti- cas séricas. Fármacos que alteram o pH gástrico (ex: inibidores da bomba de prótons) podem diminuir a absor- ção oral de posaconazol e devem ser evitados quando possível. Devido à potente inibição da CYP3A4, o uso concomitante de posaconazol com inúmeros fármacos (ex: alcaloides do ergot, atorvastatina, citalopram, risperidona, pimozida e quinidina) é contraindicado. 18ANTIFÚNGICOS Voriconazol O voriconazol, um triazol sintético relacionado com o fluconazol, tem a vantagem de ser de amplo espec- tro antifúngico disponível em formas de dosagem oral e IV. O voriconazol substituiu a anfotericina B como o fármaco de escolha contra aspergi- lose invasiva. Está aprovado para o tratamento de candidíase invasiva, bem como infecções graves causa- das por espécies de Scedosporium e Fusarium. O voriconazol tem alta biodisponibi- lidade oral e penetra bem em todos os tecidos. A eliminação é primaria- mente por biotransformação pelas enzimas CYP450. O voriconazol pos- sui cinética não linear, que pode ser afetada por interações com fármacos, e variabilidade farmacogenética, par- ticularmente polimorfismo CYP2C19. Os efeitos adversos são similares aos dos outros azóis; contudo, concentra- ções elevadas e constantes são as- sociadas com alucinações visuais e auditivas e aumento da incidência de hepatotoxicidade. O voriconazol não só é substrato, mas também inibidor das isoenzi- mas CYP2C19, 2C9 e 3A4. Inibido- res e indutores dessas enzimas po- dem impactar nas concentrações de voriconazol, causando toxicidade ou falha clínica, respectivamente. Além disso, fármacos que são substratos dessas enzimas são impactados pelo voriconazol. Devido às significativas interações, o uso do voriconazol é contraindicado com vários fármacos (ex: rifampicina, rifabutina, carbama- zepina e a erva-de-são-joão). Voriconazol Metabólitos A concentração sérica aumenta Ciclosporina Fenitoína Triazolam Varfarina P450 Figura 7. Inibindo o CYP450, o voriconazol pode po- tencializar a toxicidade de outros fármacos. Fonte: Farmacologia ilustrada, 2016 SE LIGA! Os triazóis são geralmente bem tolerados. Os sintomas gastroin- testinais (GI) são mais frequentemente relatados, incluindo náusea, dor abdo- minal, vômito e diarreia. Anormalidades da função hepática estão associadas a todos os azóis. Variam de elevações le- ves nas transaminases a reações hepá- ticas graves, incluindo hepatite, colesta- se e insuficiência hepática fulminante. Cada um dos azóis possui um perfil de efeitos adversos exclusivo, como visto anteriormente. Em muitos centros, tor- nou-se padrão de atendimento monito- rar as concentrações séricas dos azóis. 19ANTIFÚNGICOS FÁRMACOS EXIBINDO CONCENTRAÇÕES PLASMÁTICAS ELEVADAS QUANDO ADMINISTRADOS SIMULTANEAMENTE AOS AGENTES AZÓIS ANTIFÚNGICOS Alfentanila Eplerenona Losartano Saquinavir Alprazolam Alcaloides do ergot Lovastatina Sildenafila Astemizol Erlotinibe Metadona Sirolimos Carbamazepina Fexofenadina Nevirapina Tacrolimos Cisaprida Gefitinibe Omeprazol Triazolam Ciclosporina Glimepirida Fenitoína Vardenafila Digoxina Glipizida Pimozida Alcaloides da vinca Docetaxel Halofantrina Quinidina Varfarina Dofetilida Haloperidol Ramelteon Zidovudina Efavirenzo Imatinibe Ranolazina Zolpidem Eletriptana Irinotecano Pisperidona Eszopiclona Metilprednisolona Solifenacina Buspirona Tabela 1. Fármacos exibindo concentrações plasmáticas elevadas quando administrados simultaneamente aos agen- tes azóis antifúngicos. Fonte: As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman, 2012 FÁRMACO FLUCONAZOL VORICONAZOL ITRACONAZOL POSACONAZOL Antiácidos (simultâneo) - + - Barbituratos + + Carbamazepina + + + + Antagonistas do H2 + + Didanosina + Efavirenzo + + Nevirapina + + Inibidores da bom- ba de próton - - + + Fenitoína - + + + Rifampicina + + + + Rifabutina + + + Ritonavir + + Tabela 2. Alguns fármacos que reduzem a concentração de azol quando administrados simultaneamente. Fonte: As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman, 2012 20ANTIFÚNGICOS FÁRMACO FLUCONAZOL VORICONAZOL ITRACONAZOL POSACONAZOL Alfuzosina X X X Artemeter X X Bepridil X Clopidogrel X Conivaptana X X X X Dabigatrana X Darunavir X Dronedarona X X X X Everolimos X X X X Lopinavir X Lumefantrino X X Mesoridazina X Nilotinibe X X X X Nisoldipina Usar com cautelaX X X Quinino X X Rifapentina X Usar com cautela Usar com cautela Ritonavir X Usar com cautela Rivaroxabana X X Salmeterol X X X Silodosina X X X Sinvastatina Usar com cautela X Erva-de-são-joão X Tetrabenazina X X Tioridazina X X Tolvaptana X X X Tolvaptana X X Topotecana X Ziprasidona X X Tabela 3. Algumas combinações adicionais de azóis contraindicadas. Fonte: As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman, 2012 Durante a gravidez, deve-se evitar a terapia sistêmica com azóis, princi- palmente durante o primeiro trimes- tre, porque pode aumentar o risco de aborto espontâneo e altas doses pa- recem aumentar o risco de defeitos congênitos. Dados os riscos de toxi- cidade fetal, o uso de qualquer azol durante a gravidez deve ser cuida- dosamente ponderado com base na relação risco-benefício. 21ANTIFÚNGICOS MAPA MENTAL: AZÓIS Espectro de atividade: + FLUCONAZOL Vias de administração: Oral, IV Via primária de eliminação: Renal Enzima CYP450 inibida: CYP3A4, 2C9, 2C19 Meia-vida: 25h Penetração no LCS: Sim Recomendação de monitorar o fármaco: Não Espectro de atividade: ++ ITRACONAZOL Vias de administração: Oral Via primária de eliminação: Hepática CYP3A4 Enzima CYP450 inibida: CYP3A4, 2C9 Meia-vida: 30-40h Penetração no LCS: Não Recomendação de monitorar o fármaco: Sim (Eficácia) Espectro de atividade: +++ VORICONAZOL Vias de administração: Oral, IV Via primária de eliminação: Hepática CYP2C19, 2C9, 3A4 Enzima CYP450 inibida: CYP2C19, 2C9, 3A4 Meia-vida: Dose dependente Penetração no LCS: Sim Recomendação de monitorar o fármaco: Sim (Eficácia e segurança) Espectro de atividade: ++++ POSACONAZOL Vias de administração: Oral, IV Via primária de eliminação: Glicuronidação hepática Enzima CYP450 inibida: CYP3A4 Meia-vida: 20-66h Penetração no LCS: Sim Recomendação de monitorar o fármaco: Sim (Eficácia) 22ANTIFÚNGICOS 6. EQUINOCANDINAS As equinocandinas são compostas por um anel de seis aminoácidos li- gados a uma cadeia lateral lipofílica. Todos os fármacos nesse grupo são modificações sintéticas da equino- candina B, que é encontrada natural- mente no Aspergillus nidulans. SAIBA MAIS! O desenvolvimento de equinocandinas, a primeira classe de antifúngicos que age na parede celular dos fungos, foi um marco na quimioterapia antifúngica. As equinocandinas foram des- cobertas como metabólitos da fermentação com atividade antifúngica durante programas de triagem de novos antibióticos. As moléculas candidatas foram posteriormente modificadas para melhorar a solubilidade, o espectro antifúngico de atividade e as características farma- cocinéticas. Três derivados semi-sintéticos da equinocandina foram desenvolvidos para uso clínico: caspofungina, micafungina e anidulafungina. As equinocandinas interferem com a síntese da parede fúngica por inibir a síntese de b-(1,3)-D-glicano, um po- límero de glicose necessário à manu- tenção da estrutura da parede celular fúngica. Na ausência desse polímero, as células fúngicas perdem a integri- dade, ocorrendo, então, lise celular. As principais vantagens das equino- candinas em relação a outros agentes antifúngicos são sua atividade fungi- cida contra Candida spp, incluindo C. glabrata e C. krusei resistentes ao fluconazol, combinadas com seu po- tencial relativamente baixo de toxici- dade renal ou hepática ou interações medicamentosas importantes. SE LIGA! A experiência com esta clas- se de antifúngicos sugere que esta é a classe mais tolerada e mais segura disponível. Caspofungina, micafungina e ani- dulafungina estão disponíveis para administração IV, uma vez ao dia. A micafungina é a única equinocan- dina que não requer dose de carga. As equinocandinas têm atividade potente contra Aspergillus e contra a maioria das espécies de Candida, incluindo aquelas espécies resisten- tes ao azóis. Contudo, elas têm ati- vidade mínima contra outros fungos. Os três fármacos são bem tolerados, podendo apresentar, como efeitos adversos, febre, urticária, náuseas e flebite no local da injeção. Eles tam- bém causam reação tipo histamina (ruborização) quando infundidos mui- to rapidamente. A caspofungina é a primeira opção para pacientes com candidíase invasi- va, incluindo candidemia, e a segunda opção para a aspergilose invasiva em 23ANTIFÚNGICOS pacientes nos quais a anfotericina B ou o azol falharam ou não foram tolera- dos. A dose de caspofungina não pre- cisa ser ajustada na insuficiência renal, mas é necessária na disfunção hepáti- ca, mesmo moderada. A administração concomitante da caspofungina com certos indutores das enzimas CYP450 (ex: rifampicina) pode necessitar de au- mento da dose diária administrada. A caspofungina não deve ser administra- da junto com ciclosporina, devido à alta incidência de aumento das transami- nases hepáticas no uso concorrente. Micafungina e anidulafungina são op- ções de primeira linha para o tratamen- to de candidíase invasiva, incluindo candidemia. A micafungina também é indicada para a profilaxia de infec- ção invasiva por Candida em pacien- tes que serão submetidos ao trans- plante de células-tronco. Micafungina e anidulafungina não necessitam ser ajustadas na insuficiência renal nem na disfunção hepática leve ou moderada. A anidulafungina pode ser administra- da em disfunção hepática grave, mas a micafungina não foi estudada nessa condição. Elas não são substratos para as enzimas CYP450 e não têm intera- ções farmacológicas conhecidas. SE LIGA! Todas as três equinocandinas podem ser usadas para o tratamento de candidíase esofágica e candidíase invasiva em adultos, e a caspofungina foi aprovada para essas indicações em crianças com mais de três meses de ida- de. A caspofungina também pode ser usada como agente antifúngico empírico para neutropenia febril e para terapia de resgate de aspergilose invasiva em pa- cientes que falharam ou são intoleran- tes a outros antifúngicos. A micafungina também pode ser usada como agente profilático para a prevenção de infecções por Candida em adultos submetidos a transplante de células hematopoiéticas. MAPA MENTAL: EQUINOCANDINAS Equinocandinas Vias de administração: IV Efeitos adversos: febre, urticária, náuseas, flebite, reação tipo histamina Classe mais tolerada e mais segura Usos: Candidíase esofágica e invasiva, aspergilose invasiva, profilaxia de candidíase Local de ação: síntese da parede celular 24ANTIFÚNGICOS 7. FÁRMACOS USADOS CONTRA MICOSES CUTÂNEAS Inibidores da esqualeno epoxidase Estes fármacos atuam inibindo a es- qualeno epoxidase, bloqueando, as- sim, a biossíntese do ergosterol, um componente essencial da membra- na celular dos fungos. O acúmulo de quantidades tóxicas de esqualeno resultam em aumento da permeabili- dade da membrana e morte da célula fúngica. Morte das células do fungo Terbinafina Naftifina Butenafina Esqualeno Esqualeno epoxidase Morte das células do fungo Ergosterol Produtos tóxicos Figura 8. Mecanismo de ação dos inibidores da es- qualeno epoxidase. Fonte: Farmacologia ilustrada, 2016 A terbinafina oral é o fármaco de es- colha para o tratamento da derma- tófito-onicomicose (infeção fúngica das unhas). Ela é mais bem tolerada, requer menor duração de tratamento e é mais eficaz do que itraconazol ou griseofulvina. O tratamento é longo (em geral, cerca de 3 meses). Tam- bém pode ser usada contra Tinea capitis (infecção do escalpo). Terbi- nafina tópica (pomada, gel ou solução a 1%) é usada para combater Tinea pedis, Tinea corporis (ringworm) e Tinea cruris (infecção da virilha). A duração do tratamento em geral é de 1 semana. A terbinafina é ativa contra Tricho- phyton. Também pode ser eficaz contra Candida, Epidermophyton e Scopulariopsis, mas a eficácia no tra- tamento de infecções clínicas destes patógenos não está estabelecida. A terbinafina está disponível para ad- ministração oral e tópica, embora sua biodisponibilidade seja de apenas 40%, devido à biotransformaçãode primeira passagem. É extensamente ligada às proteínas plasmáticas e se deposita na pele, nas unhas e no te- cido adiposo. Ela se acumula no leite e, por isso, não deve ser administrada a lactantes. A longa meia-vida termi- nal, de 200 a 400 horas, pode refle- tir a lenta liberação desses tecidos. A terbinafina oral é extensamente bio- transformada por várias isoenzimas CYP450 e é excretada principalmen- te via urina. Ela deve ser evitada em 25ANTIFÚNGICOS pacientes com insuficiência renal mo- derada e grave ou disfunção hepática. Os efeitos adversos mais comuns da terbinafina incluem distúrbios gas- trointestinais (diarreia, dispepsia e náuseas), cefaleia e urticária. Foram relatados distúrbios de paladar e vi- são, bem como elevação temporária das transaminases hepáticas no soro. A terbinafina é um inibidor da isoen- zima CYP2D6, e o uso concomitan- te com substratos dessa isoenzima pode resultar em aumento do risco de efeitos adversos desses fármacos. A naftifina é ativa contra Trichophy- ton, Microsporum e Epidermophyton. Creme e gel de naftifina a 1% são usados topicamente contra Tinea corporis, Tinea cruris e Tinea pedis. Em geral, a duração do tratamento é de 2 semanas. A butenafina é ativa contra Tricho- phyton rubrum, Epidermophyton e Malassezia. Como a naftifina, a po- mada de butenafina a 1% é usada topicamente para combater infecções por Tinea. Griseofulvina A griseofulvina causa ruptura do fuso mitótico e inibição da mitose do fun- go. Ela foi amplamente substituída pela terbinafina oral para o tratamen- to de onicomicose, embora continue em uso contra dermatofitoses do es- calpo e dos cabelos. A griseofulvina é fungistática e requer longa duração do tratamento (ex: 6-12 meses con- tra onicomicose). Griseofulvina Figura 9. Inibição da mitose pela griseofulvina. Fonte: Farmacologia ilustrada, 2016 Preparações cristalinas ultrafinas são adequadamente absorvidas no trato GI (TGI); a absorção aumenta com ali- mentos ricos em gordura. A griseoful- vina se concentra na pele, nos pelos, nas unhas e no tecido adiposo. Ela in- duz à atividade da CYP450 hepática, o que aumenta a velocidade de bio- transformação de inúmeros fárma- cos, incluindo anticoagulantes. O uso da griseofulvina é contraindicado em gestantes e pacientes com porfiria. Nistatina A nistatina é um antifúngico poliêni- co, e sua estrutura, química, meca- nismo de ação e perfil de resistência se assemelham aos da anfotericina 26ANTIFÚNGICOS B. Ela é usada para o tratamento de infecções cutâneas e orais por Candi- da. A absorção no TGI é desprezível, e não é usada por via parenteral devi- do à toxicidade sistêmica (efeitos ad- versos relacionados à infusão aguda e nefrotoxicidade). Ela é administrada como um fármaco oral (“gargareje e engula” ou “gargareje e cuspa”) para o tratamento da candidíase orofarín- gea (afta, sapinho); intravaginal, con- tra candidíase vulvovaginal; e tópico, contra candidíase cutânea. Os efeitos adversos são raros após administra- ção oral, mas náusea e êmese ocor- rem ocasionalmente. Formas tópicas e vaginais podem causar irritação cutânea. Imidazóis Os imidazóis são derivados azóis e atualmente incluem butoconazol, clotrimazol, econazol, cetoconazol, miconazol, oxiconazol, sertaconazol, sulconazol, terconazol e tioconazol. Como classe de fármacos tópicos, eles têm ampla faixa de atividade contra Epidermophyton, Microspo- rum, Trichophyton, Candida e Malas- sezia, dependendo do fármaco. Os imidazóis tópicos têm uma varieda- de de usos, incluindo Tinea corporis, Tinea cruris, Tinea pedis e candíase orofaríngea e vulvovaginal. O uso tópico está associado à derma- tite de contato, à irritação vulvar e ao edema. O clotrimazol também está disponível como pastilha (trocisco), e o miconazol, como um comprimido bucal para o tratamento de aftas. SE LIGA! O cetoconazol por via oral foi usado historicamente para o tratamento de infecções fúngicas sistêmicas, mas hoje é raramente usado devido ao ris- co de lesão hepática grave, insuficiência suprarrenal e interações farmacológicas adversas. Ciclopirox O ciclopirox inibe o transporte de ele- mentos essenciais na célula fúngica, interrompendo a síntese de DNA, RNA e proteínas. Ele é eficaz contra Trichophyton, Epidermophyton, Mi- crosporum, Candida e Malassezia. Está disponível em formulação injetá- vel. Xampu com ciclopirox a 1% é usa- do contra dermatite seborreica. Tinea pedis, Tinea corporis, Tinea cruris, candidíase cutânea e Tinea versico- lor podem ser combatidas com po- mada, gel ou suspensão a 0,77%. Tolnaftato O tolnaftato distorce as hifas e in- terrompe o crescimento micelial dos fungos suscetíveis. Ele é ativo con- tra Epidermophyton, Microsporum e Malassezia furfur. O tolnaftato não é eficaz contra Candida. O tolnaftato é usado para tratar Tinea pedis, Tinea cruris e Tinea corporis. Está dispo- nível como pó, creme e solução a 1%. 27ANTIFÚNGICOS MAPA MENTAL: FÁRMACOS USADOS CONTRA MICOSES CUTÂNEAS Inibidores da esqualeno oxidase Fármacos usados contra micoses cutâneas Griseofulvina Nistatina Imidazóis Ciclopirox Tolnaftato Vias de administração: Oral, tópica Vias de administração: Oral Vias de administração: Oral (“gargareje e cuspa”), vaginal, tópica Vias de administração: Tópica, comprimido bucal Vias de administração: IV, tópica Vias de administração: Tópica 28ANTIFÚNGICOS MAPA MENTAL: GERAL Anfotericina B Caspofungina Micafungina Anidulafungina Imidazóis Triazóis Fluocitosina Inibidores da esqualeno epoxidase Griseofulvina Nistatina Imidazóis Ciclopirox Tolnaftato EquinocandinasPolienos Antibióticos antifúngicos Clotrimazol, econazol, fenticonazol, cetoconazol, miconazol, tioconazol, sulconazol Itraconazol, posaconazol, voriconazol, fluconazol Azóis Pirimidinas fluoradas Sintéticos Usados contra micoses cutâneas Antifúngicos 29ANTIFÚNGICOS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Whalen, Karen. Finkel, Richard. Panaveli, Thomas A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Rang H. P., et al. Rang & Dale: farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. Bruntos, Laurence L. Chabner, Bruce A. Knollmann, Bjorn C. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. Drew, Richard H. Pharmacology of amphotericin B. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 21 de abril de 2020). Drew, Richard H. Pharmacology of flucytosine (5-FC). Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 21 de abril de 2020). Ashley, Elizabeth Dodds. Pharmacology of azoles. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 21 de abril de 2020). Lewis, Russell E. Pharmacology of echinocandins. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. http://www.uptodate.com (Acesso em 21 de abril de 2020). 30ANTIFÚNGICOS
Compartilhar