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Regência, Canto Coral e Pós-Modernidade de Guilherme Giordano

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“Técnico em Regência pela ETEC “Jacinto Ferreira de Sá”. E-mail: menuraiz@hotmail.com 
Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza 
ETEC. “Jacinto Ferreira de Sá” 
Técnico em Regência 
 
 
 
Regência, Canto Coral e Pós-Modernidade 
 
Guilherme Giordano Braga de Souza Coelho de Moraes 
 
 
Resumo 
Este artigo pretende analisar o papel do Regente, Canto Coral e o mundo pós-
moderno. Dialogar com a problemática de um contexto, onde a margem da 
sociedade se perde ao meio liquido de um mundo capitalizado, exclusivista e 
pós-moderno; isso força a arte canto coral e o regente a se intrometer, e, 
sobreviver em uma inserção sócio cultural, haja vista que o estado expele o ser 
humano e o aprisiona numa sociedade parasitária deixando ao mercado total 
controle, dos meios de comunicação e do querer comum. 
Palavras chave: Regência. Canto Coral. Pós-Modernidade. 
 
 
 
 
 
Regency, Choral Music and the Postmodern World 
Abstract 
This work intends to analyze Regency, Choral Music and the postmodern world, 
to dialogue with the problematic of a context, where the margin of society are 
lost to the liquid medium of a capitalized world, exclusivist and post modernist; 
this forces the choral singing art and the regent to intrude, and survive in a 
socio-cultural insertion, since the state expels the human being and imprisons 
him in a parasitic society, leaving to the market total control, the means of 
communication and the common will. 
 
Keywords: Regency. Choral Music. Postmodern World. 
 
2 
 
 
Introdução 
 Analisando o contexto do mercado musical, e a conjuntura política que se 
reflete no meio comunicativo (mídia, rádio e TV), expõem-se a fraqueza cultural 
e substancial do profissional Regente Musical, desvalorizado no meio social e 
cada vez mais usado como joguete de grandes mídias e seus reais motivos, 
numa era pós-moderna de fácil esquecimento onde tudo se copia e nada se 
constrói. 
 Em tempos difíceis, a Arte se firma como resgate da condição humana, esta 
desvalorizada por seu corpo, forma, raça, gênero e condição monetária, dessa 
forma, o Regente e o canto coral servirá de condutor no resgate de seres 
esquecidos da sociedade: criança, jovem e idoso, que pelo azar do destino ou 
pela estratégia de dominação da elite governante, tiveram suas vidas 
marginalizadas. O uso da ferramenta canto coral serve para diversos universos 
como agente de inclusão social e educador musical, como exemplo nas 
comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, RJ, direcionado a crianças; 
no CCI - Centro de Convivência do Idoso em Palmital, SP; Projeto da Grota, 
Niterói, RJ entre muitos outros grupos que buscam interiorizar o ser musical. 
 O uso da arte como resgate social serve para desmontar a máscara e 
subjetivar o “EU ARTISTA”, serve para evidenciar o agente político e de 
entretenimento, para fomentar cultura, profissionalizar o cidadão e resgatar a 
memória. É mais que imprescindível a manutenção de grupos que fortalecem 
o cidadão e fazem a manutenção da Arte num país que a mesma é 
desvalorizada e esquecida. 
 A formalização de uma educação musical e a contextualização musical tem 
origem na Grécia antiga, como parte da educação infantil e juvenil, com ênfase 
na forma de canto. Inclui-se, para reflexão, o conceito de Paideia 
“A história do canto coral tem raízes intimamente associadas à 
história da música e da própria humanidade. As primeiras 
melodias foram proferidas durante o canto coletivo de tribos 
primitivas em rituais religiosos para clemência e 
agradecimento aos deuses. Já no período clássico, foram 
estabelecidos os pilares do canto coral dentro da cultura grega 
e entre cristãos. O termo choros nasce na Grécia e diz respeito 
aos grupos de cantores e dançarinos que uniam suas vozes 
para formar melodias distintas entre si. Com esse povo, o coro 
ultrapassou os limites religiosos e adentrou as festividades 
populares. O cristianismo, por sua vez, utilizou a música com a 
3 
 
 
intenção de transmitir palavras litúrgicas e atrair mais fiéis para 
sua Igreja em expansão, depois que o imperador romano 
Constantino I permitiu a liberdade de culto, no ano 313. Dentro 
de templos cristãos funcionavam verdadeiras escolas de canto 
coral, sendo a primeira delas fundada pelo papa Silvestre I, no 
século 4. 
Com a reforma protestante do século 16, foi reforçado o uso 
do canto coral em ambiente religioso, condição que se 
manteve até meados dos séculos 18 e 19. No entanto, as 
transformações políticas e econômicas desse período 
provocaram alterações profundas na sociedade. A classe 
média emergia e também procurava sofisticações culturais. 
Para satisfazer essa demanda, houve um grande aumento no 
número de corais desligados das igrejas, nascidos em várias 
regiões da Europa, especialmente França, Áustria e 
Alemanha. Esse é o caso do coro alemão Berliner 
Singakademie, fundado em 1791 e que se apresenta até hoje. 
A tradição é enorme. Hoje, entre pessoas comuns como 
médicos e advogados alemães, praticamente todos participam 
ou já estiveram em algum grupo de canto, conta Marcos 
Câmara, maestro e regente do Coral Madrigal. Esse grupo 
brasileiro surgiu em 1996 organizado pelo Centro Cultural São 
Paulo, e é aberto a todos os funcionários e usuários da 
instituição, gratuitamente. 
Marcos Câmara, 
 
(http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2005/espaco62dez/at
ualiza/cultura.htm) 
 
Desenvolvimento 
 
Canto Coral 
 O conceito surgiu nos tempos homéricos e permaneceu, em sua essência, 
inalterado ao longo dos séculos, embora variando suas formas de aplicação e 
as disciplinas envolvidas; continua a interessar muitos educadores e 
pensadores contemporâneos. 
 Platão diz que, a música é a forma de relação entre a alma e as progressões 
musicais. Diz, também, que é uma forma de dominação de outros povos: 
domine sua música e dominará o povo. 
 Aristóteles, discípulo de Platão, afirma que é de grande importância a música 
para a educação, embora a manifestação artística seja a imitação das paixões 
e preceitos da alma. 
4 
 
 
 Tendo em vista esse contexto histórico pode se observar a preocupação 
sobre a arte e sociedade desde a Grécia antiga e a gênese da educação 
musical na formação do ser. O termo original de Coro surge na Grécia antiga 
como Choros - forma a um canto coletivo de cunho educativo-musical - vale 
frisar que a forma cantada e as técnicas usadas diferem da contemporânea, 
pois há uma metamorfose na trajetória musical, no que diz respeito à 
sonoridade que cada sociedade consegue e se educa a ouvir e apreciar. A 
Música só é entendida se a escuta cultural a concebe e aceita. 
 O grande incentivador da prática canto coral no Brasil foi Heitor Villa Lobos 
(Rio de Janeiro, 5 de março de 1887 — Rio de Janeiro, 17 de novembro de 
1959), em 1931 ele realiza o projeto de canto orfeônico nas escolas, e em 1932 
cria o Serviço de Educação Musical e Artística (SEMA). Heitor Villa Lobos é o 
expoente e mais importante músico brasileiro da modernidade, original na 
vanguarda nacionalista brasileira e mundial. Fica crível que há uma 
preocupação, desde a antiguidade grega e romana, sobre a educação musical 
como instrumento o canto coral na formação do indivíduo, mesmo que seja 
vulnerável a política, educação musical, cultural, social do Brasil e do mundo. 
 
Vanguarda Modernista 
 O período moderno foi de grande explosão musical e cultural. O uso de 
tecnologias, a fácil distribuição dos trabalhos, e, novos conceitos musicais, 
tornam-se expostos a uma sociedade em constante mudança. Guerras, 
conceitos midiáticos, e, estrutura político-econômico sofrem metamorfoses 
escancaradas e de rápida absorção. Novas formas experimentais surgem com 
a proposta fundamentada na experiência do social e sua história. Helicópteros, 
silêncio, armas, pregos, radinhos de pilha, transformaçãoharmônica e 
melódica ditam a era de mudança social, midiática e política. 
 Levando em conta a ânsia do período moderno de se tornar autônomo, a 
arte extrapola conjunturas sociais e mercadológicas, força sua independência e 
determina a vontade vanguardista, muda padrões e se afirma num âmbito 
social, vontade essa de reestruturar as relações sociais tendo em vista que a 
5 
 
 
arte não é absorvida por qualquer ser, pois tal movimento se perpetua em 
diferentes direções e estratificações: monetária, classe e cultural. 
 A vanguarda, linha de frente cultural criativa, incita argumentos e pretensões, 
ganhando autonomia pela porta dos fundos de uma contracultura capitalizada. 
De forma servil, se põe à mercê do enfraquecimento artístico construído pela 
mesma cultura, mesmo que não intencional; assim se torna joguete numa 
relação entre sociedade e capital ainda não formalizada. 
“Estilos em outras épocas duravam centenas de anos, no 
século passado não chegavam a ultrapassar uma década. O 
custo dessa “velocidade de criação” para a relação autor-
ouvinte, porém, foi muito alto. [...] Aqui, o “alto custo” foi para a 
qualidade musical. Quanto mais se desenvolveu essa 
“indústria de comunicação” e, os milhares de equipamentos, e, 
meios de transmissão sonora, mais medíocre se tornou o 
conteúdo cultural por ela propagado e veiculado em todo o 
mundo. Tendo transformado cultura em mercadoria 
industrializada, a grande máquina produtiva não quer saber de 
objetos “eternos”, como sinfonias de Beethoven. Quer coisas 
descartáveis. Lamentavelmente, consumo e descarte é a 
filosofia moderna, também para a relação produção-consumo 
em música. ” (MEDAGLIA, 2008, P. 143-144) 
 
Canto Orfeônico 
 A música erudita cai em desuso, os instrumentos populares se tornam 
presentes na sociedade, e o prestígio do canto coral se resume em música 
sacra e erudita em língua estrangeira, Italiano, Latim e Francês e para uma 
elite Brasileira que se molda a Europeização. Em 1930 Após a semana da Arte 
Moderna de 1922, com o fomento da nacionalidade Estatal, Mario de Andrade 
percursor e grave atuante da formalização de um caráter cultural popular 
nacional, intensifica sua epopeia de luta em prol da música folclórica e popular, 
como grande literário não se contenta na não difusão musical-linguística 
Brasileira, entre espetáculos e críticas, o furor nacionalista se expande nas 
camadas mais conservadoras brasileiras além de possibilitar uma pratica 
terapêutica do canto em conjunto. 
 
...”mas os nossos compositores deviam de insistir no coral por 
causa do valor social que ele pode ter. País de povo 
desleixado onde o conceito de pátria é quase uma quimera a 
não ser pros que se aproveitam dela; país onde um movimento 
mais franco de progresso já desumaniza os seus homens na 
6 
 
 
vaidade dos separatismos; pais de que a nacionalidade, a 
unanimidade psicológica, uniformes e comoventes 
independeram até agora dos homens dele que tudo fazem 
para desvirtua-las e estraga-las; o compositor que saiba ver 
um bocado além dos desejos de celebridade tem uma função 
social neste país. O coro unanimisa os indivíduos(...). 
Ensaio sobre a Musica Brasileira Mario de Andrade 
 
 No final Estado Novo e com o florescimento cultural nacionalista, o 
Orfeonismo foi implantado com fins pedagógicos principalmente em São Paulo 
e no Rio de Janeiro, encabeçando este projeto estava, João Gomes Junior, 
Carlos Alberto Gomes Cardim, Lázaro Lozano e João Batista Julião, tal 
prenuncio foi ponta de lança para um projeto muito mais audaz, um movimento 
didático e político nacionalista como disciplina obrigatória nas escolas onde o 
coordenador geral Villa-Lobos adjunto ao decreto de Getúlio Vargas propagava 
uma alfabetização musical política, e de caráter nacional. 
 O canto Orfeônico sempre teve, como finalidade, despertar a vontade da Arte 
nos alunos e o conhecimento histórico da música enquanto canto em conjunto, 
coral, fazendo com que assim houvesse o interesse de se conhecer músicos 
nacionais e estrangeiros e suas contribuições a arte, além disso se afirmava a 
postura política de Getúlio Vargas, sua afirmação popular e o controle de 
ordem cívica, o Orfeonismo foi uma educação popular cívica musical de 
controle das massas, e a ascensão de uma cultura capitalista e uma nova 
classe consumidora de tal música, classe média e proletária, visando assim 
uma agregação Nacionalista e Populista. 
 Villa-Lobos foi superintendente do Serviço de Educação Musical e Artística, 
que mais para a frente foi rebatizado como Superintendência de Educação 
Musical e Artística (Sema). La Villa-Lobos construiu a forma do ensino do 
Canto Orfeônico, criou materiais pedagógicos (Guia de Canto Orfeônico, 
publicado em dois volumes), criou cursos de Pedagogia da Música e do Canto 
Orfeônico, para que se formassem professores prontos a lecionar a disciplina e 
também apresentou diversas mostras populares de canto orfeônico com o 
intuito de despertar a nova velha cultura aos ouvidos culturalmente virgens da 
época. 
 
7 
 
 
“Em 1930 o termômetro de nossa cultura musical havia 
descido quase a zero. A estagnação era de alarmar. Ausência 
completa de iniciativa. Ação corruptora de agentes poderosos, 
como a falsa ‘música popular’ e o seu temível aliado, o rádio, 
nessa época tão precariamente orientado, ainda, e em 
tumultuoso início de comercialização” 
Luiz Heitor, Música e músicos do brasil, Rio, Casa do 
estudante do Brasil, p. 380. 
 
 Em 1931 em São Paulo Villa-Lobos rege mais de 12000 vozes o Hino 
Nacional Brasileiro, de forma que é a primeira manifestação coral brasileira 
popular, sob tutela de João Alberto, como demonstração de uma nova cultura 
pedagógico Social, de influência psicológica estudantil. O canto orfeônico é 
uma realidade de importância educacional que jamais foi vista no âmbito 
cientifico brasileiro, é de longe a maior contribuição musical brasileira para a 
educação e foi uma revolução cantada, regida e psicologicamente construída 
na cultura popular folclórica brasileira em vista que o caráter nacionalista era o 
principal expoente de luta a uma sociedade elitista culturalmente europeizada. 
 
“Ao projetar a hegemonia da música erudita (bebida no ethos 
popular folclórico) sobre a música popular-comercial urbana e 
as inovações mais radicais da vanguarda europeia (o que se 
acentuará de certo modo no fim da década de 30, frente à 
atuação no Brasil do compositor Hans Joachin Koellreuter), o 
nacionalismo brasileiro estava adotando sem saber a última 
solução platônica para a questão da cultura frente ao avanço 
crescente da indústria cultural. 
As discussões que pontuam A Republica de Platão incidindo 
sobre o lugar político-pedagógico da música lançam luz sobre 
os rumos do nacionalismo musical no Brasil desde o Ensaio 
sobre a música brasileira até a atuação de Villa-Lobos no 
Estado Novo, regendo as grandes concentrações orfeônicas 
em nome de uma concepção cívico-autoritária copidescada 
pelo Departamento de Imprensa e Propaganda do Estado 
Novo. Aqui não se pode falar em influencia, mas talvez de uma 
longa permanência, na tradição ocidental, de certo 
equacionamento do poder psico-político-social da música em 
vista de sua utilização pelo Estado (como fator disciplinador) 
em contraponto com sua utilização nas festas/ritos populares 
(como elemento de propiciação da mania, isto é da possessão, 
do transporte dionisíaco, do êxtase da liberação de energias 
eróticas, da reversão paródica das hierarquias, ou da alegre 
dessublimação da corporalidade).” 
(Squeff, Enio e Wisnik, José Miguel Música o nacional e o 
popular na cultura brasileira, Pg 138-139, 1983) 
 
8 
 
 
 Em 1936 Mario de Andrade funda o Coral Paulistano, com os ideais 
nacionalistas, apresentar a cultura brasileira ao brasileiro, e mais ainda a elite 
brasileira que desconhecia a riqueza cultural e folclórica de seu próprio povo. 
Villa-Lobospor sua vez lança em dois números um conjunto de músicas do 
folclore brasileiro, marchas, canções, cantos cívicos, marciais e artísticos 
harmonizados para o canto orfeônico e assim pela primeira vez a cultura do 
canto brasileiro, é eternizada em forma de escrita musical, isso tudo para uma 
educação musical brasileira adotada nas escolas e nos cursos especializados 
do “Serviço de Educação Musical e Artístico” (SEMA). 
 A década de 40 foi marcada em canto orfeônico pelas inúmeras 
concentrações orfeônicas em estádios, onde reuniu coros gigantescos Regidos 
por Villa Lobos, os números são astronômicos, Villa Lobos reuniu no estádio do 
Vasco da Gama 40 mil estudantes do canto orfeônico no dia 7 do 9 de 1940 em 
um só coro, tal demonstração cívica, demonstrava o poder nacionalista e 
formalização de uma ordem vigente nacional, e sua formalização decorrente da 
música. Villa Lobos foi assim o maior Regente Político Brasileiro sob a batuta e 
os interesses de Getúlio. 
[...] ao se promover a integração das manifestações culturais 
dos de baixo ao universo simbólico da nação, procedeu-se não 
só a uma seleção – incluindo ou excluindo no plano simbólico, 
determinados grupos e ideologias do poder – como também 
uma re-apropriação destes elementos, atribuindo-lhes novos 
significados e descartando outros (GARCIA, 2008, p. 3). 
 
 O resgate popular do canto coral só vai ocorrer no Brasil na década de 70 
com a contracultura da tropicália, e, da MPB e sua absorção do mundo erudito 
pelo Rock Progressivo e artistas como os Mutantes, Sá Rodrix e Guarabyra, 
Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé entre outros. Artistas estes que muitas 
vezes foram reconhecidos por “malditos” em decorrência da dificuldade musical 
empregada. 
 Com os avanços dos meios de comunicação e seu total monopólio na 
década de 70, há um novo plano para o Brasil, a formalização dos ícones 
nacionais, financiado pelo estilo televisivo da Warner Bros Television, Pelé, 
Roberto Carlos e outros ícones nacionais são propagados ao mundo, são 
criados então eventos populistas de aprisionamento cultural e social, como o 
9 
 
 
famoso especial de natal com o “REI” Roberto Carlos, criado em 1974 o 
programa existe até os dias de hoje, a única vez que não foi ao ar foi em 1999 
com o agravamento da doença de Maria Rita esposa de Roberto Carlos. 
Artistas midiáticos ficam em primeiro plano patrocinados pela grande mídia 
como Roberto Carlos, ele mesmo um grande angariador de fiéis para a Igreja 
Católica em sua conjuntura musical popular inserida nas missas, com seu 
canto simples, letra simples e de total absorção populista. 
 
O Regente e a Pós-Modernidade 
 O papel do Regente fica difuso a esta atmosfera singular do canto, o 
Regente serve como personagem alegórica nos meios de comunicação, onde o 
artista se põe a frente de uma harmonia discreta, e se torna um mero adorno. 
Os arranjos básicos e a harmonia funcional fazem com que o trabalho 
desenvolvido por Villa Lobos na alfabetização musical brasileira em cima do 
canto orfeônico, mesmo que com um caráter nacionalista seja riscado do mapa 
cultural brasileiro. 
 A individualização do canto se torna mais presente, pela manutenção de 
um mercado: o cantor solo se torna mais impactante, barato e mais fácil de 
controlar. A força midiática já estabelecida dita as ordens de mercado e sua 
sociabilidade, a interação do meio com o artista se torna líquido; será mais um 
resgate a obras já criadas do que a explanação de uma nova tendência ou 
conceito; as rédeas artísticas ficam sob encargo do patrão (dono das 
emissoras ou das gravadoras), e sua confiabilidade. O artista se vende e 
sobrevive em estado de aparência, e abraça todo um contexto social muito 
diferente dos vanguardistas e seu ímpeto pelo novo. 
 
BRANDVIK (1993, p.149) afirma que 95% dos cantores corais 
de todo mundo, “não estudam canto com um professor 
particular”, podendo concluir que o preparo vocal desses 
milhões de cantores corais está nas mãos de seus regentes. 
 
Conversando com o Regente Marcio Selles do projeto Grota de Niterói 
RJ pode-se compreender mais a fundo o papel do regente no cenário brasileiro 
10 
 
 
atual, a preocupação social e o desenvolvimento humano do ser no mundo 
pós-moderno. 
 
“A diferença mais marcante que aqui nos interessa seria que, 
enquanto no liberalismo a liberdade do mercado era entendida 
como algo natural, espontâneo, no sistema neoliberal a 
liberdade deve ser continuamente produzida e exercitada sob 
a forma de competição. O princípio de inteligibilidade do libera-
lismo enfatizava a troca de mercadorias: a liberdade era 
entendida como a possibilidade de que as trocas se dessem 
de modo espontâneo. O princípio de inteligibilidade do 
neoliberalismo passa a ser a competição: a mentalidade do 
governo neoliberal intervirá para maximizar a competição, para 
produzir liberdade para que todos possam estar no jogo 
econômico.” 
(Saraiva, Karla e Veiga Neto, Alfredo Modernidade Líquida, 
Capitalismo Cognitivo e Educação Contemporânea PG 187-
199 2009) 
 
 
 O papel do regente contemporâneo do Brasil desmistifica a imagem do 
regente de outrora, fica exposta a imagem fundamental do educador, e sua 
postura pedagógica-social. O regente é hoje um agente de inclusão social e de 
cultura. Ao longo do Brasil vemos o trabalho social feito por diversos regentes e 
em diferentes áreas, como grupo de jovens, centros de convivência de idosos, 
casas abrigo, ONGs entre outros. E este trabalho é de grande importância ao 
perceber que a música não é pura forma de lazer e muito mais que isso, 
inclusão social, alfabetização, profissionalização musical e reconhecimento do 
ser, em vista que o Estado e o mercado profissional o expelem de forma que a 
cultura surja como resgate e de modo mais pueril uma luz no fim do túnel, 
mesmo que pequena. 
Grupos de aprendizagem musical, desenvolvimento vocal, 
integração e inclusão social, sendo ambientes permeados por 
complexas relações interpessoais e de ensino-aprendizagem. 
Nesse sentido, o ofício da regência coral requer de seu 
praticante um conjunto de habilidades inter-relacionadas 
referentes não somente ao preparo técnico-musical, mas 
também à gestão e condução de um conjunto de pessoas que 
buscam motivação, educação musical e convivência em um 
grupo social. Adjacentes a tais habilidades estão os saberes 
interdisciplinares — educacionais, musicais, fonoaudiológicos, 
históricos etc. —, os quais, em sinergia, conduzem a uma 
prática de canto em conjunto concomitantemente gratificante 
aos seus participantes e aos ouvintes, com desempenho social 
e musicalmente ativo. (FUCCI AMATO, 2008, p. 15) 
 
11 
 
 
Para que se possa intender melhor este contexto social, o Regente 
Marcio Selles residente em Niterói RJ, Coordenador da Orquestra de Cordas 
da Grota RJ, Musico da UFF (Universidade Federal Fluminense), Gerente do 
curso de Música Antiga da UFF e Núcleo Apolo - Orquestra de Cordas da 
Grota Multiplicando Talentos explica melhor seu trabalho e como o Regente se 
posiciona à contemporaneidade. Núcleo Apolo - Orquestra de Cordas da Grota 
Multiplicando Talentos: 
“O Núcleo Apolo é fruto do Programa Multiplicando Talentos 
do Espaço Cultural da Grota, que visa socializar a experiência 
da Orquestra de Cordas da Grota em outras comunidades da 
cidade de Niterói e em outros municípios vizinhos. Neste caso, 
o projeto social Música no Apolo está localizado no Bairro do 
Apolo II, município de Itaboraí. 
O projeto teve início no Apolo em 2007, iniciando o processo 
de musicalização através da Flauta Doce. Atualmente o projeto 
no Apolo atende turmas de musicalização, no turno da manhã 
e da tarde, com flauta doce e violino de nível iniciante e 
intermediário. ” 
https://www.facebook.com/NucleoApoloOCG/ 
 
 Porque a música é importante para a formação do sujeito? Acho que a arte 
é importante para formação das pessoase você ter uma possibilidade de 
vivenciar uma atividade musical como coral é uma maneira de propiciar 
desenvolvimento pessoal e interpessoal. De que maneira ela pode ser 
trabalhada? O Coral propicia além do desenvolvimento musical uma vivencia 
social de você aprender a escutar a esperar sua vez, de se fortalecer com o 
grupo e ao mesmo tempo fortalecer o grupo. Aprender a trabalhar em grupo. 
Ser mais cooperativo. 
 Como o canto coral pode se articular às novas práticas sociais? No caso do 
grupo em que trabalho, a pratica coral é mais uma atividade lúdica e de 
desenvolvimento social. Com isso muitos dos integrantes buscam estudar e 
desenvolver outras habilidades musicais, como flauta doce, canto, solfejo que 
agregam à pratica coral. 
 Qual a relação Coral que atua em vista do mercado musical? São pessoas 
em sua maioria acima de 50 anos e não buscam com atividade entrar no 
mercado de trabalho. Qual a relação do Regente no mercado musical? Quanto 
12 
 
 
ao mercado de trabalho para o regente, acredito que existe uma expansão em 
corais de empresa e pessoas que buscam participar em corais como meio de 
lazer. 
 Quais os Regentes que o inspiraram? Os regentes que me inspiram são os 
que conheci e tive oportunidade de trabalhar ao longo de minha vida. Cito dois 
Roberto Duarte com quem comecei aqui na UFF e Elza Lakschevitz da qual fui 
aluno em curso de Férias e integrante do Canto em Canto por pouco tempo. 
 Quais as relações entre música sacra, Erudita e Comercial no canto coral? 
No meu entender a pratica coral deve também oferecer aos participantes um 
panorama histórico desde a Idade Média até a música contemporânea inclusive 
a MPB. É como estudar história ou filosofia você deve conhecer um pouco de 
seus antepassados, inclusive e principalmente a música sacra. A escrita 
musical nasceu na Igreja, as universidades nasceram a partir das igrejas... não 
temos, no meu entender, como negá-las. 
 Quais as dificuldades de se manter um coro num mundo Pós-Moderno? O 
mundo pós-moderno tem muitas facilidades para o coro: aplicativos para 
aprender as vozes (naipes), não funciona muito, mas é uma ferramenta e tanto. 
Facilidades para se obter uma partitura, facilidades para ouvir outros grupos... 
é uma beleza. Por outro lado, tem outros concorrentes, a pessoa tem menos 
tempo e disponibilidade para ensaios (principalmente em cidades grandes onde 
se necessita grandes deslocamentos). 
 
Conclusão 
 Hoje o regente no Brasil tem um papel social maior que o próprio Artista 
Musico, o regente que habita várias esferas sociais tem de se moldar ao 
contexto empregado. No geral o regente é o primeiro professor musical de 
indivíduos que participam de grupos construídos para fomentar a cultura de um 
território, então sendo assim o regente passa a ser mais um agente 
sociocultural do que músico, o olhar do regente para a música fica em segundo 
plano já que existe uma preocupação de existência muito maior a trabalhar, 
como o convívio e trabalho em grupo, inserção no mercado de trabalho, 
resgate e manutenção de saúde dos participantes do projeto entre outros. 
13 
 
 
Cada projeto tem sua direção, seja sócio cultural, ambiental, saúde ou outro. 
No caso da regência, o motivo condutor é a música, ela insere e aprofunda 
conhecimento, mas para que essa inserção ocorra tem de se conhecer todo um 
mundo, toda uma vivência e como ela se desenvolve pelos participantes do 
projeto. 
 Nos dias de hoje a música está diferente, em decorrência da rapidez de 
consumo e da forma líquida de se trabalhar o sujeito, nossas relações são mais 
rápidas e absorvidas assim como a música e sua relação com o meio 
empregado. Não há a possibilidade de forçar Mozart se a cabeça não está 
acostumada com tal contexto, há de se preparar território e fazer com que isso 
de alguma forma se torne algo prazeroso a quem usufrui, dando possibilidade 
de uma vida melhor e mais sociável e devido a situação social que 
encontramos pelo Brasil muitos e muitos músicos, regentes, entusiastas, 
médicos, artistas entre outros tipos de formação adentram e fazem do caos seu 
meio de vida e sua contribuição à sociedade, mesmo que no caso do regente, 
esse tipo de trabalho seja uma das poucas oportunidades de entrar no mundo 
da regência. Este trabalho não visa explicitar o tipo de regente ou onde ele 
atua, mas sim a dificuldade de ser Regente e trabalhar no Brasil em seu nicho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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