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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 1 MÚSICA uu História da Música Brasileira: Anos 1960 aos Dias Atuais SEMESTRE 6 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 2 MÚSICA Créditos e Copyright Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários. A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos. Copyright (c) Unimes Virtual É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato. TOSSINI, Rosa B. História da Música do Século XX aos Dias Atuais. Unimes Virtual. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2015.65p. (Material didático. Curso de musica). Modo de acesso: www.unimes.br 1. Ensino a distância. 2. Música. 3. História da Música do Século XX aos Dias Atuais. I. Título http://www.unimes.br/ UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 3 MÚSICA UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PLANO DE ENSINO CURSO: Licenciatura em Música COMPONENTE CURRICULAR: História da Música Brasileira:Anos 1960 aos Dias Atuais SEMESTRE: 6º CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas EMENTA Apresentar um panorama da História da Música Brasileira, a partir da década de 60, distinguindo e relacionando os diferentes movimentos musicais e o contexto sociológico deste período. OBJETIVO GERAL Promover a reflexão sobre o folclore e a cultura popular enquanto parte dinâmica do processo sociocultural brasileiro tendo como recorte a expressão musical. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Pontuar cronologicamente os principais movimentos musicais surgidos no Brasil, no referido período, destacando seus protagonistas, suas características musicais e sociais; Abordar as mudanças em relação às tecnologias de gravação, distribuição e consumo das obras musicais ao longo deste período; Promover a reflexão crítica sobre a influência de outros países e do momento político vivido pelo Brasil na produção musical da época. UNIDADE I UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 4 MÚSICA História da Música do Brasil no Século XIX: Esta Unidade tem como objetivo pontuar os principais movimentos musicais surgidos no Brasil, no século XIX, destacando seus protagonistas, suas características musicais e sociais. UNIDADE II O modernismo na música brasileira: Esta Unidade aborda as mudanças em relação às tecnologias de gravação, distribuição e consumo das obras musicais ao longo do século XX. UNIDADE III A Música Popular Brasileira: Esta Unidade busca promover a reflexão crítica sobre a influência de outros países e do momento político vivido pelo Brasil na produção musical da época. BIBLIOGRAFIA BÁSICA ALBIN, R. C. A. O livro de ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. DINIZ, A. Almanaque do choro: a história do chorinho. São Paulo: Jorge Zahar, s.d. Enciclopédia da música brasileira: popular, erudita e folclórica. Reimpressão da 2a. ed. São Paulo: Publifolha, s.d. (Disponível em: https://play.google.com/store/books/details/Andr%C3%A9_Diniz_Almanaque_do_ch oro?id=1GcE9Cz9QC4C) TINHORÃO, J. R. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo: Ed. 34, 1998. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ANDRADE, M. Ensaio sobre a música brasileira. São Paulo, Martins, 1965. MARIZ, V. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005. NEVES, José Maria. Música contemporânea brasileira. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2008. SEVERIANO, J. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade. Editora 34, 2006 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 5 MÚSICA WISNIK, J. M. O Coro dos Contrários. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1983. METODOLOGIA As aulas serão desenvolvidas por meio de recursos como: vídeoaulas, fóruns, atividades individuais, atividades em grupo. O desenvolvimento do conteúdo programático se dará por leitura de textos, indicação e exploração de sites, atividades individuais, colaborativas e reflexivas entre os alunos e os professores. AVALIAÇÃO A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações à distância e Presencial, de acordo com a Portaria da Reitoria UNIMES 04/2014. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 6 MÚSICA Sumário Aula 01_Introdução .................................................................................................................................. 8 Aula 02_O Choro .................................................................................................................................... 12 Aula 03_O Brasil no Final do Século XIX ................................................................................................. 16 Aula 04_O carnaval e os conflitos sociais .............................................................................................. 21 Aula 05_Manifestações Carnavalescas .................................................................................................. 26 Aula 06_O Samba ................................................................................................................................... 31 Aula 07_Conflitos sociais na história do samba ..................................................................................... 34 Aula 08_Música erudita no fim do século XIX........................................................................................ 40 Aula 09_O movimento romântico na música brasileira......................................................................... 44 Aula 10_O modernismo na música brasileira ........................................................................................ 46 Aula 11_O disco no Brasil ....................................................................................................................... 50 Aula 12_O rádio no Brasil na primeira metade do século XX ................................................................ 56 Aula 13_A música popular no Estado Novo ........................................................................................... 62 Aula 14_Música Viva .............................................................................................................................. 68 Aula 15_O samba a partir de 1930......................................................................................................... 73 Aula 16_A influência norte-americana na música brasileira ................................................................. 76 Aula 17_A metade do século XX ............................................................................................................ 81 Aula 18_A Bossa Nova ............................................................................................................................ 85 Aula_19 Fases da Bossa Nova ................................................................................................................ 90 Aula 20_A Música Popular Brasileira..................................................................................................... 94 Aula 21_Os Grandes Festivais ................................................................................................................ 97 Aula 22_O Tropicalismo ....................................................................................................................... 101 Aula 23_A Jovem Guarda ..................................................................................................................... 105 Aula 24_Música Nova ........................................................................................................................... 109 Aula 25_ A década de 1970 .................................................................................................................. 112 Aula 26_A Década de 1980 .................................................................................................................. 117 Aula 27_Brock_O Rock Nacional .......................................................................................................... 121 Aula 28_Os Anos 80 e a Vanguarda Paulista ........................................................................................ 125 Aula 29_Os Anos 90 e a "Tecnologia Independente" .......................................................................... 128 Aula 30_Pós Anos 90: Crise ou Re-Configuração? ............................................................................... 131 Aula 31_Os Suportes Digitais para a Música ........................................................................................ 135 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 7 MÚSICA Aula 32_Os Autoprodutores ................................................................................................................ 138 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 8 MÚSICA Aula 01_Introdução Olá! Meu nome é Caio e serei o professor autor nesta disciplina, isto é, apresentarei algumas ideias para fundamentar as suas reflexões sobre a História da Música Brasileira. Para facilitar a compreensão desse período tão importante e de mudanças para a música nacional, devemos relembrar um pouco o contexto musical e sociológico desse período. Sendo assim, vamos fazer um breve resumo da situação em que se encontrava a música no país na transição do século XIX para o XX. Nesse período podemos perceber duas maneiras distintas de “civilizar” a música popular no Brasil. A primeira foi por meio do emprego de temas, melodias ou ritmos de origem popular em obras românticas, como já ocorria na Europa. No Antigo Continente esse fenômeno servia às ideologias nacionalistas, trazendo uma reapresentação da música popular mais tradicional, de forma mais “civilizada” ou culta. O mesmo ocorreu no Brasil. A segunda maneira foi a apresentação das danças populares, transformadas em danças de salão com harmonia, formas e instrumentação vindas da Europa. Essa esteve mais próxima das classes médias do período. Os músicos desse período, principalmente os de camadas mais baixas, mulatos e negros, precisavam se enquadrar em padrões aceitos pela elite, que, por sua vez, tentava “civilizar”, ou seja, “europeizar” os músicos e seus produtos. Assim, muitos músicos, socialmente reprimidos pela elites, passaram a apresentar ritmos, danças e canções tradicionais, de forma mais “civilizada”. Essa tentativa de “civilizar” a música popular no país vinha desde o fim do século XIX. Grande parte da cultura “popular”, como danças, músicas, festas e costumes, possuía origem africana e era desprezada pela elite formada pelas famílias de fazendeiros ou comerciantes enriquecidos, igreja e pela pequena classe média emergente. Para as elites urbanas as manifestações da cultura popular eram vistas como símbolo do atraso e se dedicavam a reprimi-las. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 9 MÚSICA Nesse contexto repressivo, somam-se estratégias, muitas vezes violentas, como a retirada das pessoas mais pobres dos centros urbanos e seu deslocamento para as periferias. Leia mais sobre a Reforma Urbana promovida por Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro no link abaixo: Antes da Reforma Pereira Passos (1902 a 1906), Rio de Janeiro era conhecido como "Porto sujo" e "cidade da morte" Esse deslocamento acabou favorecendo o desenvolvimento de práticas artísticas populares, uma vez que, na periferia, a repressão era muito menor do que no centro das cidades. Mas, mesmo assim, as manifestações musicais populares eram malvistas e muitas vezes consideradas obscenas e indecentes pela elite, que, desse modo, circunscrevia o choro, o maxixe, o samba, o batuque, o lundu, o fandango etc para os arredores das cidades. Francisca Edwiges Neves Gonzaga (Chiquinha Gonzaga) 17/10/1847 a 28/02/1935 Exemplo de Maxixe: Corta-Java, de Chiquinha Gonzaga http://campus20162.unimesvirtual.com.br/pluginfile.php/54909/mod_page/cont ent/6/Corta_jaca_1912.ogg http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/passado-que-condena http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/passado-que-condena UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 10 MÚSICA A repressão às músicas populares, porém, não acabou com elas. Ao contrário, como a “limpeza” dos centros urbanos acabou promovendo a multiplicação das práticas artísticas populares nas periferias, isso fez com que a música popular crescesse e começasse a exercer maior pressão sobre a cultura elitizada, que exigia sua “disciplina” nas cidades. A música popular começou a se infiltrar nos centros urbanos, porém, de maneira seletiva e disciplinada, limitando-se aos espaços reservados pela elite. Esse movimento propiciou uma apropriação da cultura popular por parte da elite, que passou a olhá-la com menos desprezo, chegando até a valorizar elementos da música popular. Antonio Carlos Gomes (Carlos Gomes) 11/07/1836 a 16/09/1896 Quanto à música erudita, no final do século XIX, o romantismo era a escola mais forte e seu grande nome era Carlos Gomes que trazia claras influências da cultura brasileira em suas obras. E até a Semana de Arte Moderna, em 1922, que representa a eclosão do movimento nacionalista, a música erudita foi se apropriando de maneira progressiva de elementos da cultura brasileira. Não devemos esquecer, porém, que, nesse movimento de apropriação, o folclore nacional era revestido de trajes europeus, especialmente francês e alemão. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 11 MÚSICA http://campus20162.unimesvirtual.com.br/pluginfile.php/54909/mod_page/content/6/ Carlos_Gomes_-_Alvorada.ogg Chegamos ao fim de nossa primeira aula, em que retomamos um pouco do contexto da música brasileira durante a transição entre os séculos XIX e XX. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 12 MÚSICA Aula 02_O Choro No final do século XIX surgiram nas grandes cidades, principalmente no Rio de Janeiro, conjuntos instrumentais semiprofissionais. Eles atuavam sobretudo no mercado periférico, em salões, clubes carnavalescos e em serenatas de rua. Muitos dos músicos que integravam os conjuntos eram negros ou mulatos, com empregos de baixo salário; outros eram funcionários públicos e outros, ainda, militares ou policiais que atuavam também como músicos em bandas. As músicas que tocavam eram do mesmo tipo que a elite ouvia na época, tais como polcas, mazurcas, valsas, quadrilhas e tangos, porém, executadas de maneira mais popular. Os instrumentos mais utilizados eram os de madeira, comoa flauta e a clarineta; os de metal como o bombardino e o trombone; os de cordas, como o violão (de 6 e de 7 cordas - este último devido a suas notas mais graves, para a "baixaria”, como era conhecida a base grave do choro), e o cavaquinho; e os de percussão, como o pandeiro e o reco-reco. Percebe-se claramente uma herança das bandas nesses grupos, utilizando instrumentos que podiam ser tocados em pé. Instrumentos comumente utilizados no choro. Da esquerda para a direita: Violão de 7 cordas, violão, bandolim, flauta, cavaquinho e pandeiro. A origem do termo choro é controversa. Uma das duas principais hipóteses é a de que ele deriva da expressão "tocar chorado”, ou seja, tocar improvisando; a outra é de que ele provém de "chorar” no sentido de pedir esmolas. Esse gênero musical UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 13 MÚSICA pode ser considerado a primeira música urbana típica do Brasil. Seus músicos, que geralmente eram chamados de "chorões”, reuniam-se nos subúrbios cariocas e nas residências do bairro da Cidade Nova, onde muitos deles moravam. O choro costumava ser dividido em três partes - posteriormente apenas em duas - seguindo a forma rondó, ou seja, retornando sempre à primeira parte depois de passar por cada uma delas. O Choro possui ritmo agitado e alegre e caracteriza-se pelo virtuosismo e pelo improviso, exigindo estudo, técnica e domínio do instrumento por parte do músico. O choro abasteceu a periferia do mercado de consumo em espetáculos de variedades nos teatros da periferia, em serenatas, nos cinemas e nos bailes da classe média. Foi objeto de preconceito até a década de 1910, passando a ser aceito efetivamente apenas na década de 1920, quando estava em processo de transformação em "orquestras típicas”. Posteriormente, seus músicos passaram a se organizar em "conjuntos regionais”, conjuntos de carnaval, orquestras de cassinos, além de ter suas músicas gravadas em discos. Eis aqui algo para se pensar: quanto gêneros musicais nascem marginais sendo depois absorvidos pela cultura dominante e, ás vezes, tornando-se peça fundamental nessa cultura? O choro foi um gênero inovador no âmbito popular, nas primeiras décadas do século XX. Porém é importante deixar claro que não se trata de uma forma musical propriamente dita, mas sim de uma maneira de se tocar diversos gêneros de dança que estavam em voga, como polcas, tangos, valsas e, principalmente, o maxixe. Estas eram executadas com base nos conjuntos de sopro e violões e na constante improvisação, definindo a principal característica do choro. Seu primeiro grande nome foi Joaquim Antônio Callado, exímio flautista e professor do Imperial Conservatório de Música. A sincopação do acompanhamento, como nos tangos de Ernesto Nazareth, utilizada na maioria das formas binárias, era um traço rítmico específico dos chorões. O choro consagrou-se como uma composição binária sincopada, resultado da fusão da polca, do tango e do maxixe, mas até a década de 1920 a pluralidade de formas era muito maior, ao contrário do que passou a predominar nas "orquestras regionais” e "conjuntos regionais” de choro, existentes até os dias de hoje. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 14 MÚSICA No final da década de 1910, os últimos chorões e as primeiras "orquestras regionais” passaram a tocar sambas, um gênero que até hoje acompanha o choro, sendo ambos difundidos através do disco e do rádio após 1922, passando por grandes mudanças. Procure ouvir peças como: Atraente, de Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha Alguns dos grandes nomes do choro são Chiquinha Gonzaga, o já citado Ernesto Nazareth, e Pixinguinha. Este último dirigia o grupo Os Oito Batutas, formado por músicos negros, que tocavam em saguões de cinemas em 1918. A partir de 1922 o grupo alcançou sucesso internacional, demonstrando que esses grupos de chorões estavam sendo substituídos pelas "orquestras típicas” ou "regionais”. Essas UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 15 MÚSICA orquestras, que executavam de acordo com as formas brasileiras, também passaram a fazer o uso de formas provenientes dos Estados Unidos da América, como o one-step, o two-step, a valsa-boston, e principalmente o fox-trot. Sofres porque queres - Pixinguinha 1919 Polca: "Cruzes, minha prima!" Composta por Joaquim Callado. Gravação de 1913 por Agenor Bens (flauta) e Arthur Camilo (piano) UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 16 MÚSICA Aula 03_O Brasil no Final do Século XIX O Brasil se tornou independente em 1822 e foi governado por Dom Pedro I até 1831, quando o então Imperador, abdicou do seu trono. Dom Pedro II, seu filho, tinha apenas 5 anos e, por isso, não podia assumir a coroa e o comando do Império brasileiro.Inaugurou-se, então, o período regencial no país: 1831 a 1840. Nesse período, que foi um dos mais agitados da história do Brasil, sucederam-se quatro regências: a trina Provisória, a trina Permanente, e duas regências unas, a do Padre Feijó e a de Araújo Lima. As revoltas e rebeliões constantes e o descontentamento popular em todo o país levaram ao Golpe da Maioridade, que fez de D. Pedro II imperador,aos quinze anos de idade. Independência ou Morte – Pedro Américo (1888) O Segundo Reinado se estendeu até o ano de 1889, quando foi proclamada a República. Nesse novo período da história,a sociedade brasileira passou por diversos processos de transformação. O Brasil continuou sendo um país agrário, porém, em vez da cana de açúcar, o principal produto de exportação passou a ser o café. As oligarquias agrárias continuaram a ter muito poder no país, especialmente a constituída pelos chamados “barões do café”. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 17 MÚSICA Proclamação da República – Benedito Calixto No contexto Internacional também ocorreram mudanças que afetaram a estrutura da sociedade brasileira. Em 1815, o Congresso de Viena, sob a influência da Inglaterra, decidiu pelo fim do tráfico negreiro para a Europa. A partir de 1845 a Inglaterra passou a reprimir o tráfico de escravos e a pressionar o Brasil que continuava como um dos poucos países escravagistas da América. Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós finalmente extinguiu o tráfico de negros, embora a escravidão tivesse sido preservada. O desabastecimento do mercado de escravos acelerou as transformações políticas, sociais e econômicas. Com o tempo essas transformações produziriam novas formas de compreensão do mundo e da vida. Aos poucos, especialmente nas regiões de produção de café, o trabalho escravo passou a ser substituído pelo trabalho de imigrantes europeus em regime de colonato. As fazendas modernizaram-se,as cidades cresceram e nelas, surgiram as primeiras indústrias. Essa primeira onda de produção de manufaturas atraiu para as cidades, os colonos europeus que trabalhavam nos grandes latifúndios. Nas fazendas, as condições de trabalho e subsistência eram terríveis e eles vinham para a cidade em busca de melhores condições de vida e de emprego. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 18 MÚSICA Em 1871 o Parlamento Brasileiro aprovou a Lei do Ventre Livre – sancionada pela Princesa Isabel – garantindo a liberdade de todos os filhos de escravos que nascessem a partir de então. Neste período surgiram organizações abolicionistas, isto é, que defendiam o fim “efetivo” da escravidão. Em 1884 os estados do Ceará e do Amazonas aboliram a escravidão em seus territórios. Em 1885, outra lei de características abolicionistas foi promulgada, a Lei dos Sexagenários,que garantia a liberdade de escravos com mais de 60 anos. Nesseano também foi proibido o açoitamento de escravos fugitivos, o que, de certa maneira, tornou menos arriscada a fuga para os escravos. O processo da abolição da escravidão no país foi bastante longo e gradual, completando-se oficialmente apenas em 13 de maio de 1888, com a aprovação da Lei Áurea pela Princesa Isabel. As oligarquias rurais eram as mais interessadas em manter a escravidão e pode-se dizer que o seu fim foi um dos principais fatores para que o fortalecimento da oposição ao regime monárquico. Todavia, como disse o sociólogo Gilberto Freyre, a abolição da escravatura foi um fato notável na história da formação brasileira, mas foi muito incompleta, isto é, era preciso resolver o problema da inserção dos negros na sociedade. Alguns dos que trabalhavam no campo por lá ficaram, enquanto outros foram para os centros urbanos. Nas cidades, aumentou o processo de marginalização dos negros que não conseguiam empregos com facilidade, sendo obrigados a viver em cortiços e barracos. Apesar disso, alguns negros e mulatos seguindo a tradição dos “negros de ganho” conseguiram trabalhos nos grandes centros urbanos, como profissionais liberais, cronistas,músicos, policiais etc. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 19 MÚSICA Manuel Deodoro da Fonseca (Marechal Deodoro da Fonseca) 05/08/1827 a 23/09/1892 Proclamador da República Em 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República por meio de um golpe militar. No mesmo dia do golpe, dia 15 de novembro, foi instituído um Governo Provisório que tina o próprio Marechal como chefe e, ao mesmo tempo, presidente da República. Vários membros da maçonaria assumiram os ministérios. Em 1890 foi criada uma nova Constituição, mas a sociedade republicana foi erguida sobre os alicerces de uma sociedade escravista e o resultado foi a constituição de uma República Oligárquica, isto é, comandada pelos grandes fazendeiros, especialmente de Minas Gerais e de São Paulo, agora enriquecidos pelo café. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 20 MÚSICA Rio de Janeiro, 1889 A cidade do Rio de Janeiro, que era a capital do Império, permaneceu como capital e a mais importante cidade da República Brasileira. Devido a todas as mudanças ocorridas na sociedade brasileira no século XIX, o cenário da cidade tornou-se muito heterogêneo: de um lado, havia mansões e palacetes e do outro,bairros miseráveis, com cortiços, barracos e moradias precárias para pessoas de baixa renda. Na rua do Ouvidor, por exemplo, podia-se entrar em contato com as últimas modas e novidades europeias, para felicidade dos mais abastados;enquanto a população mais pobre sofria com a febre amarela e a varíola. Ao mesmo tempo, a aristocracia culta e exigente – parte da elite nacional povoava os salões e os teatros com suas óperas enquanto nas ruas o desemprego e a repressão afastavam milhares de pobres dos centros urbanos, marginalizando se obrigando-os a sobreviver com a fome e a miséria em seus cortiços. A desigualdade começava a fazer a sua história como tema das canções populares. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 21 MÚSICA Aula 04_O carnaval e os conflitos sociais Como vimos na aula passada, a sociedade brasileira passou por diversas transformações no final século XIX, período repleto de conflitos e tensões. O impacto da abolição da escravidão em 13 de maio de 1888 alterou profundamente as relações sociais, políticas e jurídicas no país. Achegada de imigrantes europeus e o início da industrialização alteraram o perfil das cidades. Desde os tempos coloniais, uma vez por ano, nas ruas estreitas do centro da cidade carioca, realizava-se uma festa popular: o carnaval. O carnaval empolgava e coloria as ruas da cidade. A participação da população negra e mestiça era intensa, mesmo nos tempos da escravidão. E aumentou após a abolição, quando muitos negros libertos e sem trabalho nos campos, migraram para a cidade. O papel dos negros no carnaval e sua influência na história da música brasileira foram fundamentais. E para os negros o carnaval tornou-se um espaço em que podiam manifestar seus ideais de vida e de liberdade. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 22 MÚSICA Batalha de Confete, Avenida Beira Mar, Rio de Janeiro, 1907 Uma das brincadeiras carnavalescas da época era o “Zé Pereira”: grupos de foliões que se reuniam e desfilavam pela cidade tocando bumbos, zabumbas e tambores. Em torno do Zé Pereira reuniam-se grupos de mascarados, capoeiras –muitos deles eram negros libertos – como o “Corações de Ouro” ou o Grupo Carnavalesco de São Cristóvão. Alguns desses grupos eram chamados “ranchos”,que possuíam elementos mais teatrais e utilizavam instrumentos de sopro e cantos: outros grupos eram chamados “cordões” que empregavam, sobretudo instrumentos de percussão. Em 1899, estrearam as chamadas marchinhas, das quais a mais conhecida, até hoje, é “Ó Abre Alas!” de Chiquinha Gonzaga,tornando-se mais populares ao longo das primeiras décadas do século XX. Antes das marchinhas, o carnaval era animado por músicas folclóricas, óperas e marchas fúnebres (!) Ó Abre Alas! (1899) https://youtu.be/QCtE2dyvFgg Nesse período, o carnaval também passou por um processo de politização.Foliões embriagados, cantavam, dançavam e expressavam suas críticas sociais de maneira anárquica, assustando as elites, os jornalistas e, até mesmo, as autoridades policiais. No final do século XIX, devido à grande presença de negros, mestiços e pobres, muitos jornalistas chegaram a anunciar a morte do carnaval carioca. Eles contrapunham as festas de rua aos desfiles e bailes das Grandes Sociedades Carnavalescas, que faziam jus a uma cidade que pretendia ser civilizada, moderna, ou seja, mais “europeia”. Muitos afirmavam, ainda, que o “verdadeiro” e “civilizado” carnaval das Grandes Sociedades poderia sucumbir perante o carnaval popular dos blocos de negros e mestiços. Outros defendiam também a limitação das brincadeiras, danças e desfiles de rua, desqualificando qualquer prática que fugisse do “civilizado”. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 23 MÚSICA Charge de Ângelo Agostini, publicado na Revista Ilustrada em 1881, mostrando o uso das bisnagas de água Os setores elitistas irritavam-se e reclamavam das multidões que impediam a locomoção pelas ruas, provocavam pessoas, faziam uso de bisnagas de água,entre outras brincadeiras e preconizavam a necessidade de repressão policial. A festa popular era associada à bagunça e à desordem, creditando, portanto, ao Estado, o papel de intervir por meio da força policial a fim de controlar as práticas das multidões e assegurar a tranquilidade para que as famílias “civilizadas”pudessem fazer o seu carnaval também “civilizado”. Na verdade, o discurso contra as classes mais pobres e baixas não se aplicava apenas ao carnaval, uma vez que o objetivo das camadas mais altas da sociedade carioca era não apenas controlar a festa, mas sim controlar e moldar o povo brasileiro. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 24 MÚSICA Baile de máscaras no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, 1883 Porém, ao mesmo tempo em que havia esse desejo de “civilizar” o carnaval, os jornais veiculavam notícias sobre as “multidões” de foliões, além de anúncios de fantasias, máscaras, bisnagas e instrumentos para o carnaval de rua carioca. Ou seja, os jornais retratavam a contradição existente na sociedade. Para os negros e mestiços a situação era mais complicada, pois eram constantemente acusados como responsáveis pelos distúrbios, sendo perseguidos e presos. Assim, para esconder a cor da pelepassaram a utilizar a máscara. Por outro lado, a influência negra na música tornou-se cada vez maior, aumentando ao longo da História. Porém, esse processo não foi fácil, pois os conflitos e o preconceito racial permearam a evolução da música no Brasil diante da influência negra. Neste período que estamos abordando, além das contradições sociais, havia no Brasil vários gêneros, estilos e ritmos musicais que influenciavam uns aos outros. Havia também um grupo, especialmente de intelectuais e jornalistas liberais, que tentava construir um “verdadeiro Brasil”, buscando manifestações artísticas que fossem genuinamente brasileiras. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 25 MÚSICA Nas próximas aulas abordaremos a continuidade da influência negra na música brasileira, passando não apenas pelas músicas de carnaval, mas por diversos outros gêneros praticados neste período. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 26 MÚSICA Aula 05_Manifestações Carnavalescas Olá! Dando sequência à aula passada, na qual abordamos o carnaval do ponto de vista do conflito social presente na sociedade brasileira, no final do século XIX e início do século XX, voltaremos a nossa atenção para diversos aspectos do carnaval, principalmente do ponto de vista cultural e musical. Compilação de imagens e músicas do Carnaval carioca entre 1912 e 1929 https://youtu.be/U-xI2T1_0oE Na segunda metade do século XIX, nos centros urbanos surgiram as Grandes Sociedades Carnavalescas, criadas, em sua maioria, por membros da elite, que saíam às ruas fantasiados em desfiles organizados. Os temas desses desfiles eram os mais variados e, acompanhando os padrões europeus adotados pela elite nacional, os foliões vestiam fantasias luxuosas e requintadas. Havia muita influência europeia nas Grandes Sociedades,que tentavam até reproduzir o Carnaval de Veneza, jogando confetes,distribuindo flores, fazendo uso de máscaras etc. No início do século XX, os carros alegóricos foram inseridos nos desfiles, muitas vezes puxados por animais de carga. Grupo “As Marrequinhas” no Clube dos Democráticos(mais antiga sociedade carnavalesca), 1913 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 27 MÚSICA No final do século XIX surgiram os cordões e blocos de carnaval. Os participantes desses grupos dançavam e caminhavam em fila um atrás do outro e por isso eram chamados “cordões”. Os foliões, além das fantasias, usavam máscaras de diversos temas, como palhaços, velhos,índios, baianas, diabos etc. O grupo era conduzido por um Mestre e obedecia a um apito de comando. Do ponto de vista musical, os foliões eram embalados por um conjunto de percussão. Eram bastante populares no Rio de Janeiro, que em 1902 contava com aproximadamente 200 cordões licenciados pela polícia. O compositor Pixinguinha participou de alguns deles. Na primeira década do século XX os cordões perderam um pouco de importância e começaram a ser substituídos pelos Ranchos na Capital. A decadência dos cordões deveu-se principalmente a críticas da imprensa e dos intelectuais da elite. Com a reforma urbanística de 1903,entre outras medidas, a cidade estava passando por um processo de modernização, com a abertura de novas e amplas avenidas, e nelas parecia não haver mais lugar para os cordões, que tinham como hábitat natural as ruas estreitas e insalubres da então chamada “antiga” Rio de Janeiro. A polícia logo tratou de proibir as fantasias típicas desse carnaval de rua, alegando que estas não combinavam comum a cidade “civilizada”. Foi por conta dessa imagem depreciativa dada aos cordões que estes passaram a se denominar Blocos Carnavalescos. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 28 MÚSICA Além dos cordões e blocos surgiram também os primeiros Ranchos Carnavalescos, que eram associações que desfilavam pela rua ou faziam cortejo de carnaval de forma organizada. Seus participantes vinham, em sua maioria, das camadas populares. Tratava-se de uma festa fortemente influenciada pela cultura negra, como os congos e os cucumbis, bastantes difundidos na cultura popular. Os cortejos aconteciam com a presença de Rei e Rainha, ao som das marcha-rancho, como “Ó Abre Alas” de Chiquinha Gonzaga, em que eram marcantes os instrumentos de sopro e corda. Nos ranchos havia mestres de harmonia, um mestre de cantos e um mestre de sala (responsável pela coreografia). A bandeira de cada rancho era em forma de estandarte e um casal formado pela porta-estandarte e pelo mestre-sala era responsável por ela. Os ranchos eram bem aceitos tanto pela sociedade em geral como pelas autoridades. O próprio marechal Floriano Peixoto,em 1894, recebeu o “Reis de Ouro”, famoso rancho da época. Assim, no começo do século XX, eles se tornaram uma grande atração do Carnaval do Rio de Janeiro,sendo até mesmo descritos como uma espécie de ópera popular. Em 1911, o Jornal do Brasil organizou a primeira competição oficial entre ranchos, e o Rancho Ameno Resedá foi convidado pelo marechal Hermes da Fonseca para uma visita ao Palácio da Guanabara. Em 1919 foi criada a Liga Metropolitana Carnavalesca, fundada por membros dos principais ranchos da época. Os ranchos começaram a declinar no final da década de 1950, dando espaço para o crescimento das escolas de samba,que surgiram na década de 1930. Também no início do século XX os cortejos e desfiles das grandes sociedades carnavalescas assumiram outro formato, como os corsos de carnaval, as batalhas de confetes e banhos de mar a fantasia. Os corsos eram influenciados pelos carnavais sofisticados do Velho Continente e, portanto, vistos como uma tropicalização das “batalhas das flores”, que aconteciam em Nice, na França. Em 1906, o prefeito Pereira Passos,que desejava modernizar a cidade, promoveu uma dessas batalhas. Basicamente eram desfiles de carruagens enfeitadas com flores, que foram substituídas por automóveis conversíveis, com as respectivas flores. Desfilavam em avenidas cariocas como a Avenida Central e a Avenida Beira-Mar, UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 29 MÚSICA com foliões fantasiados.Quando os veículos se encontravam, os foliões jogavam confetes, serpentinas,água e lança-perfume uns nos outros. Desfile na Avenida Beira Mar, 1930 Os corsos eram manifestações de pessoas de classe média alta e da elite agrária que possuíam veículos ou podiam alugá-los. Figuravam como um dos grandes eventos do carnaval carioca no início da década de 1920 e duravam 3 dias. Em 1907 as filhas do presidente da República Afonso Pena desfilaram pela Av. Beira Mar com o automóvel presidencial, fato que ajudou a divulgar essas manifestações. Esse modelo carnavalesco difundiu-se pelas grandes cidades, sempre apoiado por prefeitos e autoridades, que liberavam as avenidas para a realização dos corsos. Corso carioca, início do século XX. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 30 MÚSICA Como vimos, as diferenças sociais se refletiam no carnaval. Diversas manifestações populares malvistas pela alta sociedade e pelas autoridades passaram por diversas modificações e aos poucos foram aceitas e assimiladas pela elite. Esses aspectos são fundamentais para compreender melhor a história do samba e das escolas de samba, que veremos nas próximas aulas. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 31 MÚSICA Aula 06_O Samba As origens do termo “samba” ainda não foram esclarecidas, mas a explicação mais provável é que ela seja proveniente da palavra angolana “semba”, que significa “umbigada”, um traçocoreográfico presente no batuque e no lundu (dança e canto de origem angolana)de negros e mulatos, desde as últimas décadas do século XVIII .. Desde o final do período colonial o samba já estava presente no país. Contudo só começou a se difundir amplamente no final do Segundo Reinado, com as concentrações de negros e pobres na periferia carioca. Era uma dança exclusiva das classes baixas, negros e mulatos oriundos dos morros, favelas e da periferia do Rio de Janeiro. Uma manifestação oposta à cultura da elite. Tal como o choro, o samba em seu início não apresenta definições tão claras, uma vez que incorporava uma série de expressões de origem africana, influenciadas por contribuições portuguesas. Na estrutura dos primeiros sambas era comum a alternância de um verso ou estrofe cantada (muitas vezes de maneira improvisada) por um solista, seguida por um refrão dos demais participantes, ou seja, um refrão coral, uma estrutura de origem africana. Os samba corridos não apresentavam refrão. Além da estrutura outro elemento que fazia parte do samba primitivo era a umbigada. Uma disputa entre os participantes das rodas de samba pela melhor dança e pelo melhor improviso de versos, acompanhados por instrumentos de percussão ou apenas por palmas ou batuques em objetos (o uso de objetos de cozinha era bastante comum, originando a expressão “cozinha” para a seção de percussão de grupos populares). O samba primitivo consistia em uma roda de pessoas que batucavam enquanto na parte interna do círculo dançavam um homem e uma mulher, que se alternavam entre os outros participantes. Era uma espécie de dança cantada de roda improvisada. É Batucada (1933) - composição: Caninha / Visconde de Bicoíba. https://youtu.be/ByA8g3wYFdU UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 32 MÚSICA Nos últimos anos do século XIX, principalmente após a Abolição, muitos negros se deslocaram do interior para os grandes centros urbanos .No início do século XX, o samba começou a passar por um processo de adaptação, durante o qual samba do morro tornou-se o samba urbano. Assim como aconteceu com o maxixe, o samba foi perdendo o caráter de dança em roda improvisada, adaptando-se para se tornar uma dança de pares nos salões ou uma dança de blocos nos bailes de carnaval. Seu canto também se transformou, adequando-se aos padrões exigidos nos salões de dança e de chorões, que requeriam maior variedade harmônica e melódica, além do uso de um instrumental cada vez mais diversificado, similar ao das “orquestras típicas” da década de 1920. Além disso, se antes o samba baseava-se em versos improvisados alternados por um refrão coral, o samba urbano exigia também uma introdução e uma segunda ou até uma terceira parte, tal como ocorria em tangos, valsas e polcas. Pelo telefone (1917) - composição: Donga e Mauro Almeida. Primeira gravação de um samba. https://youtu.be/1ojqqtWNPSs De acordo com alguns estudiosos do gênero, essa primeira fase de “urbanização” do samba ocorreu entre 1917, ano em que foi gravado o samba Pelo telefone de Donga, até 1930. Depois dessa primeira fase, o samba continuou seu processo evolutivo, apresentando uma visão bem-humorada do cotidiano da classe média e a exaltação nacionalista do Brasil. Do ponto de vista musical, o samba ganhou diversas espécies de manifestações a partir da década de 1920. Conheça algumas delas: - Samba de breque: do inglês “break”, devido à parada para improviso do cantor. - Samba-canção: mais lento que o samba dançado, com maior enfoque para a melodia. - Samba carnavalesco: simples, apresentava letra ingênua e despretensiosa. - Samba-choro: tocado de maneira improvisada pelos “grupos regionais”. - Samba-enredo: tocado nos desfiles de escolas de samba. - Samba-exaltação: tinha o objetivo de louvar alguém, alguma instituição, ou, principalmente, a pátria. https://youtu.be/1ojqqtWNPSs UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 33 MÚSICA - Samba de gafieira: instrumental, executado por “orquestras” ou grupos de salões de dança. - Samba de partido alto: com elementos originais do samba, composto e executado por conhecedores do gênero. Comum no início do século XX, ressurgiu na década de 1940, depois de um período de decadência. - Samba de quadra ou de terreiro: executado em escolas de samba, porém, fora do carnaval. - Sambalada: influenciado pelas baladas norte-americanas da década de 1950, mais lento e romântico. - Sambalanço: mais refinado, surgiu em boates cariocas e paulistas, caracterizando- se pelo deslocamento do acento rítmico, reconhecido como um dos precursores da bossa nova. - Sambolero: influenciado pelo bolero da década de 1950. Samba de fato (1932), composição: Pixinguinha / Baiano https://youtu.be/HgRWf3aDR54 Como vimos nesta aula, o samba passou por diversas mudanças ao longo de sua história. Inicialmente restrito aos negros no Brasil, demorou a ser aceito a reconhecido como algo típico do país. Esse processo não foi simples, muito menos calmo, com muitos conflitos. Na próxima aula, veremos os conflitos sociais que marcaram a história do samba. Esses conflitos não podem ser deixados de lado, uma vez que foram fundamentais para o desenvolvimento do samba como o conhecemos hoje. https://youtu.be/HgRWf3aDR54 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 34 MÚSICA Aula 07_Conflitos sociais na história do samba O samba, atualmente considerado a principal expressão tipicamente brasileira na música,desenvolveu-se no Rio de Janeiro ao longo do século XX. Como vimos na aula passada, o samba carioca tem inúmeras variantes, mas o produzido até 1930 é bastante diferente dos posteriores. No início do século XX, o samba estava ligado principalmente a comunidades de negros e mestiços emigrados da Bahia e de outros estados do Nordeste, que se instalaram, no Rio de Janeiro, em bairros próximos ao cais do porto, como a Saúde, a Praça Onze e a Cidade Nova. Nesses bairros, havia demanda por trabalho braçal e, portanto, possibilidade de emprego. Assim, festas, danças e tradições musicais foram retomadas por essas pessoas, incentivadas principalmente pelas mulheres. A maioria delas vendia doces na rua e tinha ligações com o candomblé,tornando-se as grandes responsáveis pela preservação dos festejos africanos.Entre elas, estavam tia Amélia (mãe de Donga), tia Prisciliana (mãe de João de Baiana), tia Mônica (mãe de Pendengo e Carmen da Xibuca) e, a mais conhecida,tia Ciata. Foi na casa desta última, na Cidade Nova, que o samba adquiriu forma, tornando-se quase que simultaneamente um gênero musical do morro e da cidade. Tia Ciata UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 35 MÚSICA Os negros trouxeram, portanto, muitas tradições de sua terra natal, inclusive suas festas de “sambas”, palavra que também usavam para designar a modalidade musical coreográfica que consistia em formar uma roda, em cujo centro alguém começava a dançar e, dançando, escolhia um parceiro do sexo oposto com uma umbigada. O samba como dança e festa coletiva acontecia não apenas nos quintais, mas também tomava ruas e desfilava na forma de cordões. Como música e composição, porém, deu seus primeiros passos na casa de tia Ciata, preservando os estribilhos, cantados e dançados em ambos os lugares. Era lá que se reuniam bons ritmistas, compositores e verdadeiros mestres da música popular, como Sinhô, Pixinguinha, Donga, Caninha, Heitor dos Prazeres, entre outros. Caboclo do Mato (1937) – João da Baiana,Pixinguinha e Janir Martins https://youtu.be/8inPJ7RbTYI Entre os sambistas havia uma divisão em dois grupos. O primeiro era formado pelos nascidos nas últimas décadas do século XIX, que circulavam em rodas de samba da Saúde e daCidade Nova. Eram frequentadores dos candomblés, das festas das baianas famosas e da comunidade festeira da região. Esse grupo incluía grandes nomes, como Baiano, Caninha, Pixinguinha, Donga, Sinhô, entre outros,que praticavam um samba amaxixado, próximo do choro, com sua base musical centrada nos instrumentos de corda e sopro, e um pandeiro, além das palmas. O outro grupo era identificado pelo “padrão Estácio”, de características mais pesadas, https://youtu.be/8inPJ7RbTYI UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 36 MÚSICA com instrumentos de percussão que executavam uma estrutura rítmica bastante particular, bastante próxima do que encontramos atualmente. Era formado por nascidos principalmente no século XX, como Marçal, Paulo da Portela, Baiaco,Ismael Silva, entre outros. A divisão não é meramente etária, mas sim de identidades. Até a década de 1920 os dois grupos estavam claramente divididos,embora se cruzassem em eventos como a festa da Penha, desfiles de cordões ou blocos da Praça Onze, nos botequins da zona do meretrício da Lapa etc. Assim,de um lado tínhamos o Estácio, do outro, a Cidade Nova, e em cada um desses lados um padrão musical e um conjunto diferenciado de valores. Entre eles, uma disputa: o que é o verdadeiro samba? Foi só a partir de 1917, com a gravação de Pelo telefone, que o samba apareceu como gênero musical propriamente dito, e foi com ele que essa discussão ganhou força, gerando diversos atritos entre os sambistas. Além disso, o ano de 1917 foi fundamental para a música popular brasileira, já que Pelo telefone é considerado o primeiro samba oficialmente registrado no Brasil, e foi sucesso absoluto no carnaval daquele ano, servindo de fundo musical para todos os desfiles de clubes carnavalescos ocorridos na Avenida Central. Ismael Silva Devemos ressaltar que o samba não nasceu nos morros, mas foi deslocado para lá à medida que as classes mais baixas foram “empurradas” da região central da UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 37 MÚSICA cidade para as favelas, devido ao processo de reurbanização decorrente da invasão da classe média nos antigos redutos das comunidades de negros e pobres. O samba muitas vezes é tratado como um elemento da cultura popular, que veio das camadas mais baixas e depois foi aceito e reconhecido pelas classes mais altas. Na verdade, isso não passa de uma ilusão, uma vez que o samba não foi construído apenas por negros e pobres. Seu processo evolutivo foi influenciado também por membros da classe média e da elite, muitas vezes interessados em forjar uma identidade brasileira. O samba é, portanto, o resultado de uma relação de negociação entre as classes dominantes e as classes baixas, unidas pelo interesse em criar uma identidade brasileira comum. Para compreender melhor como o samba se situa nessa relação, temos de levar em conta o contexto. Num primeiro momento, o samba não foi aceito pelas elites e seu ritmo foi muitas vezes repudiado e ridicularizado. Num segundo momento, ele passou a ser aceito, despertando o interesse de intelectuais e sendo tocado nos redutos da elite. Num depoimento ainda na época da ditadura, Donga afirmou que os sambistas eram perseguidos pela polícia e que ser sambista na década de 1960 era quase equivalente a ser comunista. Essa perseguição foi resultado do processo histórico que modificou o espaço geográfico da cidade para adequá-lo aos moldes ditados pela burguesia, tendo como ideais a modernização europeia, afim de “civilizar” o Rio. Os sambistas foram expulsos das áreas centrais entre 1900 e 1930 e seus redutos foram substituídos por grandes avenidas. A reforma urbana de Pereira Passos a partir de 1903 foi de grande impacto para essa situação. Reforma Urbana de 1903 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 38 MÚSICA Além disso, para “civilizar” a capital, era preciso reprimir certas práticas sociais e culturais dos trabalhadores, consideradas imorais e bárbaras pelas autoridades, que classificavam os pobres como “classes perigosas”. Também era necessário adequar os trabalhadores às novas relações de trabalho, uma vez que este possuía uma carga negativa proveniente dos tempos da escravidão. Para construir uma nova ideologia do trabalho, não bastou apenas redefinir seu conceito, mas foi preciso recorrer também à repressão e à perseguição. Para uma sociedade que passou a colocar o trabalho como valor supremo, sinônimo de ordem e civilidade, a presença de “vagabundos” era perigosa, pois a ociosidade levaria essas pessoas ao crime e aos vícios que as camadas mais altas queriam eliminar. Com isso, muitos trabalhadores da região do porto, vendedores ambulantes, entre outros que não possuíam horário de trabalho regular, ou trabalho fixo, foram levados para as prisões por serem considerados”vagabundos”. Muito sambistas passaram por essa situação. João da Baiana No entanto, havia trocas culturais entre essas classes, ou seja, alguns indivíduos da classe dominante, policiais e autoridades tinham interesse no samba, e muitas vezes davam proteção aos sambistas, como ocorreu com a casa de tia Ciata, protegida por policiais, devido a contatos particulares de seu marido com a polícia. Um caso que demonstra bem isso é o de João da Baiana,quando foi preso e teve seu pandeiro apreendido numa festa da Penha, sendo impedido de comparecer a um compromisso com o senador Pinheiro Machado,admirador do samba. Ao saber da situação, o senador considerou-a absurda e assinou o pandeiro de João da Baiana, que passou a ser então utilizado como proteção contra as prisões. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 39 MÚSICA Floriano Vieira de Araújo Peixoto 30/04/1839 a 29/07/1895 Essa relação conflituosa influenciou o modo de vida da classe trabalhadora, mas isso não ocorreu sem críticas, constituindo principalmente uma estratégia para escapar da vigilância e da repressão policial. O samba enquanto música, assim como os sambistas, também foram se adaptando, apropriando-se, assim, de elementos impostos pelas classes mais altas. Esse processo teve como resultado a progressiva transformação do samba, até sua aceitação pelas classes dominantes. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 40 MÚSICA Aula 08_Música erudita no fim do século XIX Nas últimas décadas do século XIX, as danças, festas e costumes “populares” eram desprezados pela elite, que viam essas manifestações como símbolos do atraso.As classes dominantes interessavam-se em urbanização, tecnologia e nas máquinas, ou seja, em modernidade e progresso. Por isso, olhavam admiradas para a Europa, vendo-a como o modelo a ser seguido. Assim, no período conhecido como “Belle époque brasileira”, que compreende desde a proclamação da República, até a Primeira Grande Guerra Mundial, os conceitos de música popular e de música culta separaram-se, ocorrendo a importação de música “culta” europeia (principalmente do romantismo francês e alemão) e a incorporação seletiva e disciplinada da cultura popular nos meios urbanos. Alberto Nepomuceno 06/07/1864 a 16/10/1920 Uma das primeiras providências do governo republicano foi acabar com o Conservatório, cujo objetivo era formar músicos voltados para a composição e execução de óperas italianas. Este deu espaço para a criação do Instituto Nacional de Música em 1890, que teve como seu primeiro diretor um conhecedor do estilo romântico, Leopoldo Miguez. Em 1895, o Ministro da Justiça e Negócios Interiores UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 41 MÚSICA deu-lhe a tarefa de estudar a organização de conservatórios europeus, a fim de aperfeiçoar o ensino musical noBrasil. Em seu relatório, Miguez concluiu que os conservatórios alemães eram superiores aos outros. Com a morte do diretor em 1902, seu lugar foi ocupado por Alberto Nepomuceno até o final daquele ano, sendo substituído por Henrique Oswald até 1906, quando Nepomuceno retornou ao cargo de direção. Em 1909, Nepomuceno apresentou outro relatório, resultado de uma nova pesquisa sobre os conservatórios do Antigo Continente. Noturno número 2 - Alberto Nepomuceno (1912) https://youtu.be/-r_lKoEvnks Nesses relatórios era possível notar claramente um anseio de se adequar a música aos padrões cultos provenientes da Europa. E em 1904, em São Paulo, foi fundado o Conservatório Dramático e Musical, com o objetivo de difundir a música culta, tal como o Instituto Nacional de Música no Rio. Durante esse período, paralelamente foram construídos grandes teatros municipais, imitando padrões europeus, em especial o da Ópera Séria de Paris. Foram construídos o Teatro Amazonas em 1896, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1909 e o Teatro Municipal de São Paulo em 1910. Destinavam-se a óperas, concertos orquestrais, de pianos, e à exibição de virtuoses, bem como de peças teatrais. Nesse período surgiram as grandes orquestras, na época denominadas Sociedades de Concertos Sinfônicos. Esses teatros eram voltados para as classes mais altas, mas teatros menores foram construídos para a execução de operetas e revistas para as classes médias. Leopoldo Américo Miguez (Leopoldo Miguez) 09/09/1850 a 06/07/1902 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 42 MÚSICA Com esse processo, o repertório tido como “culto” mudou e, embora as óperas italianas tenham sido mantidas, os teatros e as instituições oficiais de ensino musical foram preenchidos por obras do romantismo francês e alemão. A composição musical brasileira, até então restrita a óperas, músicas religiosas, canções e danças de salão,concentrou-se em torno de sinfonias, poemas sinfônicos, peças para piano ou orquestra, sonatas, música de câmara, entre outras. O movimento musical romântico surgiu nos anos de 1830 na França e na Alemanha, e tinha como características o interesse pelos assuntos alheios ao cotidiano e a busca de uma ligação intensa com a literatura. O romantismo trabalhava com melodias líricas, com o rompimento da forma, com a ampliação da harmonia até os limites do sistema tonal, à procura dos mais variados timbres, efeitos e combinações orquestrais,bem como da criação de conjuntos e sonoridades grandiosos e exuberantes. No Brasil, o movimento romântico manifestou-se após 40 anos de seu início na Europa, ligado à elite,concentrando-se nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo. Os compositores viajavam para a Europa para conhecer o estilo ou para aprimorar seu conhecimento sobre ele. Sem essa viagem, o músico era considerado despreparado,portador de limitações técnicas e sociais para a atuação musical junto à elite.Entre os principais compositores, podemos citar: Leopoldo Miguez, Alberto Nepomuceno, Henrique Oswald, Alexandre Levy, Francisco Braga, entre outros. A Sertaneja (1896) - Brasílio Itiberê https://youtu.be/BaslJMaMXkA Na década de 1860, já existiam ideais de “nacionalização” da música no Brasil, mas não havia uma proposta estética definida, não se tratava de uma tendência nacionalista, e sim de uma manifestação patriótica através da inserção de elementos de temática nacional nas composições. A ideia era inserir referências poéticas ou musicais ao Brasil em composições que seguiam o padrão estético europeu. Essa tendência estimulou a composição de óperas em português e com temática brasileira. Essa temática também era encontrada nos hinos patrióticos, acadêmicos, triunfais ou de guerra escritos durante essa década. Na música instrumental, porém, UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 43 MÚSICA podemos encontrara inserção desses elementos em temas musicais de origem reconhecidamente brasileira. Nela destaca-se o nome de Carlos Gomes. Antonio Carlos Gomes (Carlos Gomes) 11/07/1836 a 16/09/1896 Antônio Carlos Gomes fez uso da temática brasileira, como em A Cayumba, que em sua terceira seção incorpora um ritmo originário de danças negras,embora prevaleçam o ritmo e a textura da polca de salão. Outro exemplo é A sertaneja, de Brasílio Itibetê da Cunha, de 1869, onde podemos encontrar duas canções tradicionais brasileiras,porém tratadas com o ritmo da habanera e inseridas numa textura romântica. Essa tendência continuou até a década de 1920 mesmo entre compositores românticos brasileiros cujas obras não tinham como elemento principal o uso dessa temática. Em nossa próxima aula vamos aprofundar mais o romantismo brasileiro, e entender sua importância para a música brasileira. A Cayumba (1857) – Carlos Gomes https://youtu.be/0iqP_SFKoK8 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 44 MÚSICA Aula 09_O movimento romântico na música brasileira Como vimos na aula passada, no começo do século XX compositores brasileiros eram bastante influenciados pela música vinda da Europa, em especial pelo romantismo alemão e francês. Os principais compositores do romantismo brasileiro são Carlos Gomes,Leopoldo Miguez, Henrique Oswald, Alberto Nepomuceno e Francisco Braga. Há uma tendência em qualificar esses compositores de acordo com o grau com que eles se envolviam na construção do mito do nacionalismo musical. Em outras palavras, a importância do compositor é muitas vezes condicionada pelo grau de inclusão de características nacionais em sua obra, uma vez que muitos historiadores da música brasileira entendem que eles eram influenciados demais pela cultura européia. Sob esse ponto de vista, os músicos mais renomados desse período são Alberto Nepomuceno e Carlos Gomes. Muitos veem Nepomuceno como o “pai” do nacionalismo musical brasileiro, sempre lutando pelo uso do canto em português. Por outro lado, não se pode negar a importância das obras de Carlos Gomes, sobretudo das óperas, para o nacionalismo Mesmo cantadas em italiano, elas possuem elementos concretos louvados pelos defensores da escola nacionalista, como a temática indianista de Il Guarany. Abertura de II Guarany - Carlos Gomes http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b6/Overture_to_Il_Guarany_- _U.S._Marine_Band.ogg Outros compositores desse período, como Leopoldo Miguez e Henrique Oswald, são desprezados por muitos críticos, por não apresentarem características brasileiras em suas peças. O primeiro chegou a ser considerado pejorativamente um compositor wagneriano, e o termo “afrancesado” foi muitas vezes utilizado para definir o segundo, que empregava elementos do impressionismo musical francês. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 45 MÚSICA Apesar do olhar preconceituoso sobre muitos dos compositores deste período, deve- se ressaltar que o o movimento musical nacionalista só se organizou de maneira efetiva ao final da década de 1920, embora o sentimento patriótico e nacionalista já estivesse presente na produção dos românticos desde o século XIX. Além disso, a sociedade brasileira do início do século XX sofria forte influência europeizada Europa, sob os mais diversos aspectos, inclusive o musical, sendo relativamente “natural” a busca de referências europeias. “Trovas Alegre”, “Dolor Supremus” e “Cantigas” de Alberto Nepomuceno https://youtu.be/ga8SFLh1K2E Esses compositores são fundamentais para o desenvolvimento de uma música autenticamente brasileira, chamando a atenção para os elementos nacionais. O folclore nacional era um elemento muito importante em diversas de suas composições, mesmo que ainda fosse muito forte a aproximação musical com os modelos europeus. Eles passaram a incorporarelementos típicos do Brasil em suas obras, abrindo caminho para o movimento nacionalista, que se tornará mais forte a partir da Semana de Arte Moderna em 1922. Piano Concerto Opus 10 de Henrique Oswald https://youtu.be/fblCzvvEteA O romantismo no Brasil com características nacionalistas, tal como o programa político do final do século XIX, visava contribuir para a consolidação da independência do Brasil,construindo, para isso, uma imagem cosmopolita, e mais distante de Portugal,apesar de tomar como exemplos outros países europeus. Foi, portanto, um movimento que buscava uma identidade nacional, fazendo uso de elementos nativos, sem se afastar do Velho Continente. O distanciamento musical de cunho nacionalista ganhou contornos mais firmes somente com o surgimento do Modernismo, que tem como marco inicial a Semana de Arte Moderna em 1922, temas que serão abordados em nossa próxima aula. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 46 MÚSICA Aula 10_O modernismo na música brasileira As tendências modernistas na música chegaram ao Brasil de maneira bastante gradual. No início do século XX, jovens músicos brasileiros discutiam e polemizavam sobre a estética musical, aproximando-se de uma proposta modernista ao retratar em suas reflexões a dinâmica social das camadas populares. Músicos como Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Villa-Lobos, por exemplo, buscavam em suas obras uma mistura com a cultura popular brasileira, principalmente a africana, vista como elemento nacionalista e original. Esses músicos voltavam-se para a música popular em busca de uma representação do Brasil. Esse processo enriqueceu a música erudita e influenciou a poesia modernista brasileira,constituindo uma ponte entre essas duas manifestações artísticas. A música modernista no Brasil influenciou e foi influenciada pela música europeia, que passava por um processo de transformação intensa, principalmente quanto à estrutura harmônica.As discussões no país foram bastante influenciadas pelo politonalismo francês,sobretudo de Darius Milhaud, com a proposta da sobreposição de tonalidades na música. Villa-Lobos utilizou em suas obras elementos mais próximos do estilo de Debussy, Bartók e Stravinsky, que afetam a estrutura harmônica e primam por elementos estranhos, violentos, estridentes e fortes. Heitor Villa-Lobos 05/03/1887 a 17/11/1959 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 47 MÚSICA Em busca da valorização do país,Villa-Lobos fez uso de elementos da cultura popular, mas não como um elemento exótico como fizeram antes outros compositores, e sim como parte da composição.Podemos notar essa preocupação pelo título de algumas de suas peças: Danças africanas (1914), Amazônia (1917), Lenda do caboclo (1920),entre outras. A presença de europeus, como a passagem de Dariu Milhaud pelo Rio de Janeiro em 1917-1918, contribuiu para uma atmosfera modernista musical no país, ampliando seu conceito e repertório, além de dar relevância a compositores nacionais que utilizavam tangos brasileiros em axixes, como Ernesto Nazareth e Marcelo Tupinambá. É importante ressaltar que esses ritmos não eram bem aceitos pelas elites intelectuais da época. Heitor Villa-lobos – Uirapuru - 1917 https://youtu.be/Wgh8CzHPKok O compositor francês também influenciou o compositor Oswald Guerra e sua esposa, a instrumentista Nininha,ambos interessados na música modernista francesa. O casal, por sua vez, também influenciou Milhaud. Além disso, este https://youtu.be/Wgh8CzHPKok UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 48 MÚSICA criticou a ignorância de compositores em relação ao folclore do Brasil. Seu interesse era aproximar a atitude dos jovens compositores brasileiros à dos compositores franceses, que buscavam uma originalidade desvinculada dos compositores russos ou alemães, procurando adquirir uma identidade própria. Cartaz da Semana de Arte Moderna para a apresentação de Villa lobos Muitos músicos e compositores participaram do movimento musical que se construiu em torno da Semana de Arte Moderna. Além dos considerados velhos, como Henrique Oswald e Francisco Braga,a Semana também teve a participação de músicos mais recentes, como Villa-Lobos e Luciano Gallet. Glauco Velazques, professor de Gallet, foi homenageado.Incluíam-se também outros nomes, ligados a gerações que darão prosseguimento às renovações do início do século XX, como Ernani Braga, Fructuoso Vianna,Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Radamés Gnatalli e Luis Cosme. Muitos desses compositores entraram em contato com poetas modernistas, criando obras baseadas em seus poemas. Para esses poetas, a música era um caminho didático utilizado para propor uma renovação da linguagem artística, em uma poética envolvida socialmente. Além disso, o folclore era uma expressão da nacionalidade, que deveria ser absorvido pela cultura erudita. Heitor Villa lobos – Dança africana número 1 Revistas especializadas, como a Ariel,que publicava crônicas e críticas sobre concertos e composições, contribuíram para o desenvolvimento crítico do pensamento modernista. Villa-Lobos foi o músico mais próximo desse movimento UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 49 MÚSICA modernista, e suas obras possuíam caráter selvagem e folclórico, embora estivessem mescladas de maneira moderna com técnicas cosmopolitas concomitantes com a representação de um mundo mágico e selvagem. O compositor procurava um equilíbrio entre a cultura popular e erudita,e suas composições iniciais exemplificam as ideias modernistas de renovação artística e estética, aproveitando características da música popular como tema,além de buscar a elaboração de uma técnica renovadora. Radamés Gnatalli – Radamés Interpreta Radamés (álbum) - 1958 O início do século XX foi bastante turbulento no país sob os mais diversos aspectos: mudanças artísticas e sociais, crescimento urbano crescente, em especial o da periferia e da população negra. Essas mudanças foram fundamentais para o estabelecimento de uma identidade cultural urbana, que se reflete na música do período. Desde os músicos do romantismo brasileiro, já havia a tentativa de construir uma identidade nacional, com base na inserção de elementos “exóticos” nacionais. O nacionalismo ganhou força com o modernismo, com características já presentes antes da Semana da Arte Moderna. Organizou-se como movimento a partir desta, sobretudo com o diálogo entre a música erudita, a música popular e a literatura. Foi nesse contexto que as propostas modernistas se fortaleceram.Podemos dizer que, a partir daí, observa-se a formação de uma arte genuinamente brasileira, tanto erudita quanto popular, estabelecendo padrões próprios com base no diálogo entre as diferentes artes. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 50 MÚSICA Aula 11_O disco no Brasil Inventado pelo norte-americano Thomas Edison na década de 1870, como gravador de voz para uso em escritório, o fonógrafo foi apresentado pela primeira vez na Academia de Ciências de Paris em 1878. Na ocasião, os apresentadores foram acusados de trapacear, fazendo uso de ventriloquismo. No Brasil, o interesse pelo aparelho foi bastante alto e rápido, sendo já conhecido em Porto Alegre em 1879. O fonógrafo não foi inventado para a música. Na verdade, Thomas Edison não apreciava música e se dizia insatisfeito ao ver que seu invento passara a ser utilizado para o entretenimento. Fonógrafo Em 1888, foram criados cilindros de papelão, cobertos por uma camada de cera, e assim surgiu o gramofone, invenção de Charles Summer Tainter, que trabalhava para Thomas Edison. O grande mérito do gramofone é que ele facilitavaa gravação e a reprodução de vozes faladas ou cantadas. No Brasil, foi utilizado pela família imperial poucas semanas antes da Proclamação da República, em 1889, para a gravação da voz e de solfejos. O imigrante tchecoslovaco de origem judaica Friedrich Figner foi o pioneiro dos aparelhos de reprodução sonora no Brasil. Em 1897, Figner passou a pagar Baiano (Manual Pedro dos Santos) e Cadete (Antônio da Costa Moreira) e a banda do UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 51 MÚSICA Corpo de Bombeiros para registrar em cilindros modinhas, lundus, valsas, entre outros gêneros. Três anos depois, Figner fundou a Casa Edison, destinada a comercializar fonógrafos, gramofones, cilindros, discos importados e fonogramas gravados por ele próprio.Assim, iniciou-se um mercado de música gravada que passou a veicular por quase todo o país diversos gêneros musicais populares urbanos surgidos principalmente no Rio de Janeiro. Gramofone e Émile Berliner Em 1902, a Casa Edison passou a gravar em discos, criados pelo alemão Émile Berliner. Conhecidos como “chapas”, esses dias possuíam um ou dois lados e sua venda foi bastante alta, predominando no Brasil a partir de 1904. Para a reprodução sonora das “chapas” eram utilizados gramofones, que usavam uma tuba para amplificar o som, reproduzido através da vibração da agulha. A gravação dos discos foi feita de maneira mecânica até 1927 e não permitia altos volumes sonoros, que danificavam a matriz de cera. Isso exigia movimentos de aproximação e distanciamento do aparelho, dependendo dos sons que emitiam. Como o som de violinos não eram bem gravados por esse sistema, a música orquestral teve de ser totalmente transcrita para instrumentos de sopro, como flautas e clarinetas. Esse fato culminou na valorização do uso de instrumentos de sopros e e de cordas populares, como violões e cavaquinhos. Por esse motivo, a utilização de instrumentos de corda tradicionais, como o violino, a viola e o violoncelo, era muito reduzida nessas gravações. Outro fator interessante em relação a esses discos é que eles tinham como limite de gravação aproximadamente 3 minutos. Assim, o tempo de cada música teve de ser reduzido,e isso se converteu num elemento formal dessa época. Cartaz de anúncio do comerciante Fred. Figner (como era conhecido Friedrich Figner) UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 52 MÚSICA UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 53 MÚSICA A gravação elétrica surgiu em 1927 e foi muito explorada pela Victor Talking Machine, empresa norte-americana que difundia um novo aparelho de reprodução em substituição aos gramofones. Eram as eletrolas, que ficaram conhecidas como “victorolas”, ou “vitrolas” (termos originários do nome Victor). Elas trouxeram diversas inovações ao processo de gravação e rapidamente conquistaram um grande mercado. Com menos limitações técnicas, os intérpretes desenvolveram novos estilos de canto popular,distanciando-se do canto tradicional de traços operísticos dos intérpretes das décadas anteriores. A criação do disco teve muito impacto na música ao vivo, sendo que a partir da década de 1920 poucos grupos conseguiriam se manter sem vender sua música nesse formato. Em 1934, a empresa alemã Basf desenvolveu a fita magnética, que revolucionou novamente o processo de gravação de discos. Em 1917, a Casa Edison lançou o samba Pelo telefone, de Donga, que teve grande destaque no mercado.Durante a década de 1920, o disco ajudou a propagar diversos gêneros de dança e de música no país, tanto nacionais como importados. Os principais foram: valsa vienense, valsa romena, valsa serenata, ranchera, toadas nordestinas e canções regionais, o tango argentino e o brasileiro, marcha, marcha carnavalesca,marcha rancho, one-step, two-step, o fox-trot, o samba, o samba carnavalesco, a polca, o maxixe, entre outros. E pouco a poucos esses gêneros saíram de seus espaços tradicionais, integrando-se a um novo sistema de circulação de produção e de consumo, numa espécie de processo de apropriação capitalista da canção. Catálogo da Casa Edison de discos gravados por Baiano UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 54 MÚSICA UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 55 MÚSICA A expansão do mercado fonográfico trouxe gravações de gêneros estrangeiros, iniciando assim o processo de hibridação musical entre a música local e a de outros países. Entre as décadas de 1930 e meados da década de 1950, não era possível definir os meios de comunicação como indústria cultural, pois eles não apresentavam um nível de desenvolvimento e de organização sistêmica que permitisse tal definição. Além disso, a urbanização do país estava em seu começo e a industrialização dava seus primeiros passos, assim, o desenvolvimento de uma economia de mercado ainda era pequeno, não sendo possível reconhecer a existência de uma sociedade de consumo, base social da cultura de massa. Por essas razões, eram os meios de comunicação, com baixo desenvolvimento, que veiculavam a cultura produzida industrialmente. Os meios de comunicação de massa atuavam mais como mediadores nas relações entre o Estado e as massas urbanas do que como estruturas geradoras de uma cultura massificada e integradora. Esse modelo que prevaleceu no Brasil e em outros países latino-americanos ficou conhecido como modelo populista de formação da cultura de massas. Na próxima aula vamos abordar o papel do rádio no país e sua contribuição para o desenvolvimento da música brasileira. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 56 MÚSICA Aula 12_O rádio no Brasil na primeira metade do século XX A primeira apresentação pública e oficial do rádio no Brasil foi em 1922, na Exposição Nacional em comemoração ao Centenário da Independência do Brasil. Prática comum na época, as exposições nacionais eram eventos de projeção internacional,servindo como uma vitrina onde os países participantes exibiam novidades tecnológicas, entre outras coisas. A Exposição Nacional de 1922 era fundamental para o país, uma oportunidade de se mostrar próspero, saudável, desenvolvido e,principalmente, moderno aos olhares europeus. A empresa norte-americana Westinghouse trouxe uma estação transmissora, montada no alto do Corcovado, e instalou aparelhos para a recepção das transmissões nos pavilhões da Exposição,assim como nas cidades de São Paulo, Petrópolis e Niterói. No dia da abertura da Exposição Nacional, transmitiram o discurso de Epitácio Pessoa, Presidente da República, e a ópera Il Guarany de Carlos Gomes, executada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, encantando o público. Com o sucesso e a repercussão das primeiras transmissões radiofônicas no país, no ano seguinte Roquette Pinto e Henrique Morize fundaram a primeira emissora de rádio nacional. A ideia era de que a emissora fosse utilizada apenas para fins culturais e educativos, como algumas rádios que estavam surgindo em alguns países da Europa. Assim, em 1923,foi fundada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Médico, antropólogo e etnólogo, o fundador da primeira rádio brasileira, Roquette Pinto, aos 27 anos, com crianças da tribo Kozarini, em 1912 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 57 MÚSICA O setor radiofônico desenvolveu-se lentamente no país, devido aos altos custos de investimento necessários, e em 1930 o país contava com apenas 16 emissoras, número pequeno quando se consideram as dimensões territoriais do país. Além disso, o preço do aparelho receptor, o rádio de galena, também era bastante elevado. Eram aparelhos de escuta individual, através de um fone de ouvido,
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