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O DISCÍPULO Seguindo a Jesus com profundidade na era na superficialidade Eu, um discípulo? Ser um discípulo é colocar os pés na estrada e “sujar o seu rosto com a areia dos pés de seu mestre”. Essa imagem era um ditado muito comum na época de Jesus. Remonta o período da história em que os jovens de Israel procuravam um mestre para seguir e imitar e, de tanto andar atrás dele, ficavam literalmente cobertos da areia que pulava de suas sandálias. Por isso, o bom discípulo era aquele que vivia coberto da areia dos pés do seu próprio mestre, sinalizando que era um discípulo verdadeiro, presente em todos os momentos da vida do seu professor. De igual forma, ser discípulo de Jesus é andar com ele, é desejar e viver um relacionamento íntimo com ele e, portanto, estar coberto de seus ensinos, palavras e atitudes. A palavra “discípulo” significa, literalmente, ser um aprendiz, alguém que entrou no caminho de como aprender a pensar e viver como o seu Mestre. Este processo de caminhar com Jesus por toda a nossa vida chamamos de Discipulado. É uma caminhada em que o Mestre decide e modela os rumos de toda a nossa história, envolvendo todas as áreas de nossa vida. Se você decidiu firmemente que deseja caminhar o resto de seus dias ao lado de Jesus, você está matriculado no discipulado, porém, não se esqueça que nunca chegará o dia da sua formatura, pois essa é uma caminhada que começa aqui e continua na vida eterna. O objetivo deste livro é preparar você para caminhar com mais profundidade em sua vida com Deus, especialmente para aqueles que ainda não foram batizados e desejam entrar na família de Jesus ou àqueles que foram batizados, mas continuam sem muita coisa sobre ele, ou para você que já anda com Jesus faz muito tempo e gostaria de aprofundar mais ainda seu relacionamento com ele. Ser um discípulo do Salvador envolve tudo o que somos, nosso intelecto, nossas emoções e nossas vontades. Isso significa que andar ao lado do Senhor desenvolve e transforma a nossa maneira de pensar, sentir e realizar. Em outras palavras, um discípulo pensa diferente, um discípulo deseja diferente, um discípulo age diferente. Nós queremos ser como Jesus é. Eu particularmente acredito que o grande desafio dos cristãos no século 21 é conhecer o que realmente é a fé cristã ou o que significa fazer parte do movimento que Jesus iniciou1. Precisamos reconhecer que o cristianismo global experimenta uma grande fase de analfabetismo bíblico e teológico. A única opção que temos para reverter esse quadro é o discipulado; por mais óbvio que pareça, ensinar o que é o cristianismo para os cristãos é a coisa mais urgente que cada Igreja deveria esforçar-se para fazer. Comecei essa jornada especialmente com os novos na fé – aqueles que se convertem e estão crus de toda a bagagem cristã – de nossa comunidade, mas depois de alguns anos ensinando o que significa fazer parte do movimento que Jesus começou para eles, descobri que muita gente que cresceu ouvindo muito sobre isso, sabe, na verdade, muito pouco sobre o que é isso. É por isso que este livro serve tanto para os novos na fé quanto para os já “iniciados” na fé ou comumente conhecidos como “velhos de igreja”. Os temas que você verá aqui foram escolhidos durante a caminhada com adolescentes, jovens, adultos, homens e mulheres – até mesmo crianças. São assuntos que despertavam maior curiosidade entre eles e também aqueles que julguei essenciais que todo cristão precisa conhecer para viver um cristianismo mais autêntico e sólido. Vamos estudar juntos dezoito (18) temas que julgo serem fundamentais para a teoria e prática cristã. Preciso confessar, antes de tudo, que todo 1 Estes autores tem me ajudado muito na compreensão do que significa seguir Jesus: (1) Discípulo Radical, John Stott; (2) Entenda a fé cristã, Wayne Grudem; (3) O Deus Presente, D. A. Carson; (4) Louco Amor, Francis Chan; (5) Fé na era do ceticismo, Tim Keller; (6) O Discípulo, Juan Carlos Ortiz; (7) J. I. Packer, O conhecimento de Deus; e mais recentemente (8) Discipulado Radical, Edmund Chan. discípulo de Jesus precisa ser um teólogo. Não se assuste! Com isso quero defender apenas que todo cristão deveria ter uma mente pensante e minimamente organizada a respeito dos conteúdos da fé. No entanto, é o meu papel aqui defender também que ser um discípulo de Jesus não significa conhecer apenas coisas sobre Jesus, mas conhecer o próprio Jesus. O discípulo é, então, aquele que conhece coisas sobre Jesus e o próprio Jesus. É impossível conhecer Jesus sem saber coisas sobre ele. Por essa razão, tudo o que sabemos sobre Cristo deve nos colocar em movimento no seu caminho. Pense bem, qualquer conhecimento que paralisa o seu discipulado com Cristo não serve mais para nada senão ser digno do seu esquecimento. Eu acho que todos os assuntos escolhidos nos colocarão sempre em movimento no caminho com Cristo. Começamos com a Bíblia, a fonte de tudo aquilo que pensamos e sabemos sobre Deus, até chegarmos à Igreja local, o ambiente de vida em que nós celebramos a Deus com o povo dele. No meio do caminho passaremos pelo ser de Deus, a Trindade: Pai, Filho e Espírito, a grande história que corta toda a Escritura: Criação, Queda, Redenção, Consumação e Restauração, quem é Jesus, qual é a mensagem do Evangelho, qual é a missão da Igreja, o que é oração, o que é a Igreja, quais são as Doutrinas da Graça, o que são os sacramentos Batismo e a Ceia e um pouquinho daquilo que chamamos de tradição reformada, que nos define como protestantes, que são os olhos pelos quais enxergamos as Escrituras e a fé cristã. Meu desejo é que você embarque nesta viagem rumo à pensar, desejar e viver o caminho de Jesus, sinta-se desafiado a amar a Deus com muito mais profundidade e preparado para explicar o que significa seguir Jesus às pessoas que ainda não andam com ele. É hora de começar! ROTEIRO 1. O que é a Bíblia? ......................................................... 6 2. Quem é Deus? ............................................................ 17 3. O que é a Trindade? ................................................... 27 4. Criação: como tudo começou? ................................... 35 5. Queda: o que deu errado com o mundo? .................... 41 6. Redenção: como Deus resgata o mundo? ................... 47 7. Consumação: como será o fim da história? ................ 59 8. Restauração: como será a vida após o fim? ................ 68 9. Quem é Jesus Cristo? .................................................. 75 10. O que é o Evangelho? ................................................ 83 11. Qual é a missão do povo de Deus? .............................90 12. O que é oração?........................................................... 102 13. O que é Igreja? ........................................................... 112 14. O que são Sacramentos? ............................................ 119 15. Quais são as Doutrinas da Graça? .............................. 125 16. O que é a Tradição Reformada? ................................. 132 17. O que é Ética cristã? ................................................... 138 18. Como me envolver com a igreja local? ...................... 144 6 CAPÍTULO 1 O que é a Bíblia? 7 Todo discípulo de Jesus caminha com a sua Bíblia – seja no papel, no celular ou na cabeça. A palavra “Bíblia” vem do latim e significa, literalmente livros. Porém, muito mais do que um livro, ela é, na verdade, uma biblioteca. Você sabia que a Bíblia é uma coleção de 66 livros com a maior riqueza literária do mundo? Nela encontramos histórias, poesias, canções, orações, mandamentos, cartas, biografias, provérbios, parábolas, novelas, genealogias e muito mais.A Bíblia já foi traduzida para mais de 2.400 línguas e é o livro mais lido e vendido em todo o mundo. QUAL É A ESTRUTURA DA BÍBLIA? Pensando numa biblioteca, a Bíblia é basicamente dividida em duas (2) estantes, uma maior e outra menor. A primeira chamamos de Antigo Testamento (A.T.) e a segunda chamamos de Novo Testamento (N.T.). Dentro do A.T. temos mais cinco subdivisões e, da mesma forma, cinco subdivisões no N.T. Saber dessa estrutura vai ajudar você em pelo menos duas coisas: 1. Não se perder na biblioteca; 2. Entender o agir de Deus na história. Existe uma palavra muito importante para entendermos a posição dos livros da Bíblia: “cânon”. Esse termo significa qual é a “régua” ou “lista” de livros inspirados por Deus. De fato, para o Novo Testamento a lista é unânime entre a Igreja Católica, Ortodoxa e Protestante, mas para o Antigo Testamento existem algumas diferenças. Podemos dividir o A.T. em cinco (5) partes: Pentateuco, Históricos, Poéticos, Profetas Maiores e Profetas Menores. O N.T. em 1. Evangelhos; 2. História; 3. Cartas de Paulo; 4. Cartas Gerais e 5. Profecia. Fizemos uma tabela para entender melhor essa lista: 8 ANTIGO TESTAMENTO *Essa ordem representa a lista dos livros de acordo com a Bíblia Protestante, ao todo 39 livros. Contudo, existem outras formas de organizar o texto bíblico. As mais importantes são o Tanakh, que é a estrutura tripla da Bíblia Hebraica: 1. Torah; 2. Profetas; 3. Escritos; e a ordem Católica que apenas acrescenta os doze livros apócrifos. PROFETAS MENORES (28) Oséias (29) Joel (30) Amós (31) Obadias (32) Jonas (33) Miquéias (34) Naum (35) Habacuque (36) Sofonias (37) Ageu (38) Zacarias (39) Malaquias PENTATEUCO (1) Gênesis (2) Êxodo (3) Levítico (4) Números (5) Deuteronômio HISTÓRICOS (6) Josué (7) Juízes (8) Rute (9) I Samuel (10) II Samuel (11) I Reis (12) II Reis (13) I Crônicas (14) II Crônicas (15) Esdras (16) Neemias (17) Ester POÉTICOS (18) Jó (19) Salmos (20) Provérbios (21) Eclesiastes (22) Cantares de Salomão EVANGELHOS (1) Mateus (2) Marcos (3) Lucas (4) João CARTAS GERAIS (19) Hebreus (20) Tiago (21) I Pedro (22) II Pedro (23) I João (24) II João (25) III João (26) Judas PROFETAS MAIORES (23) Isaías (24) Jeremias (25) Lamentações (26) Ezequiel (27) Daniel PROFÉTICO (27) Apocalipse NOVO TESTAMENTO CARTAS DE PAULO (6) Romanos (7) 1 Coríntios (8) 2 Coríntios (9) Gálatas (10) Efésios (11) Filipenses (12) Colossenses (13) 1 Tessalonicenses (14) 2 Tessalonicenses (15) 1 Timóteo (16) 2 Timóteo (17) Tito (18) Filemom PROFÉTICO (27) Apocalipse HISTÓRIA (5) Atos dos Apóstolos 9 COMO A BÍBLIA FOI FORMADA? Qual é a idade do livro que você tem nas mãos? O A.T. e o N.T. foram formados durante aproximadamente 1.500 anos. Outro dado importante: a Bíblia foi escrita originalmente em três (3) línguas: Hebraico e Aramaico2 para o A.T. e Grego para o N.T. A Bíblia possui mais de 30 autores que escreveram em várias épocas, lugares, culturas e em línguas diferentes. O Antigo Testamento foi terminado no século IV a.C. e o Novo Testamento, no século II d.C. Ela permaneceu em vigor durante os séculos por causa das muitas cópias que foram feitas pelos seus ouvintes. POR QUE ACREDITAR NA BÍBLIA? Crer na Bíblia como a própria Palavra de Deus é fundamental. Sem uma voz clara para dirigir os nossos caminhos, qualquer outro caminho será possível, inclusive os errados. Mais à frente vamos analisar evidências científicas de como a Bíblia é perfeitamente confiável, mas antes é prioridade fazer um exame no nosso próprio coração. Parafraseando Mário Quintana, “um bom livro é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele”, certamente é assim com a Bíblia. Escolhi seis critérios pessoais que te ajudarão a crer com o coração que a Bíblia é a Palavra de Deus. Todos eles tem a ver com o testemunho interno que o Espírito Santo dá ao nosso coração no momento em que lemos ou ouvimos algo sobre a Palavra: 1) Ela fala ao meu coração: Salmo 19.7-10; 2) Ela alimenta o meu ser: Deuteronômio 8.3; 3) Ela nos apresenta quem Deus realmente é: João 4.24, 1 João 4.7-8; 4) Ela fala a verdade sobre Jesus Cristo: Hebreus 1.2, João 14.6; 2 Apenas algumas partes do livro de Daniel. 10 5) Ela é inspirada por Deus: 2Tm 3.16-17; 2Pd 1.20-21 6) Ela muda a minha vida: 2Tm 3.15, Salmo 119.11; COMO LER A BÍBLIA? Muita gente lê a Bíblia e não entende absolutamente nada, você se encaixa nesse rol de decepcionados? Por isso, quero dar algumas ferramentas que me ajudaram a entender a Bíblia com mais facilidade não apenas para pregar nos cultos, mas para ouvir Deus falando comigo pessoalmente. Existem livros inteiros que ensinam como ler a Bíblia, vou dar aqui apenas alguns conselhos rápidos: 1) Escolha um livro para ler. Muita gente não entende a Bíblia porque lê apenas “pedaços” ou versículos pinçados dela. Assim você nunca conseguirá entender mesmo, pois a Bíblia foi escrita para ser lida livro a livro, de acordo com as características específicas dele.3 Por exemplo: comece lendo o Evangelho de João do capítulo 1 até o 21, de uma vez só, e você vai se encantar pelo texto Sagrado. Você pode começar por Gênesis também e ir livro por livro, só não faça um quebra- cabeças com a Bíblia que nada irá fazer sentido para você. 2) Faça perguntas para o texto. Aprendi que uma leitura profunda da Bíblia é aquela que faz as perguntas inteligentes ao texto. Quatro perguntas que me ajudam muito são: 1. O que o texto fala sobre Deus? 2. O que o texto fala sobre o pecado ou pecador? 3. O que eu aprendo sobre Jesus? 4. O que eu tenho que fazer como resposta a tudo isso? Faça o teste com Efésios 2.1-11 ou qualquer texto bíblico e você vai ver a diferença na suas interpretações. 3) Leia numa versão adequada ao seu português. Uma das razões por que muita gente não entende a Bíblia se dá pelo fato de escolherem 3 Um dos melhores e mais acessíveis livros em língua portuguesa para entender a Bíblia é “Entendes o que lês”, de Gordon Fee e Douglas Stuart. Outra indicação que vale a pena é “Lendo a Bíblia com o coração e a mente” de Tremper Longman III. Dois livros essenciais para começar a entender a Bíblia. 11 versões incompatíveis com o seu vocabulário. A SBB (Sociedade Bíblica do Brasil) diz que a tradução Almeida tem o vocabulário de 8,38 mil palavras e a NTLH, 4,39 mil. Leve em conta que o brasileiro com escolaridade média fala apenas 3 mil palavras! Conclusão: o vocabulário pobre do brasileiro é uma boa razão para ele não entender a metade das palavras da Bíblia, quanto mais seu significado mais amplo - claro que também levamos em conta a ação do Espírito iluminando os leitores e etc. O ponto é que existem realmente traduções melhores e outras menos, mas se você quer entender a Bíblia, seja realista, comece pela mais simples e vá progredindo. A BÍBLIA FOI ALTERADA COM O TEMPO? Outra coisa importante: você sabia que os documentos originais da Bíblia não existem mais? Não existem mais os autógrafos,4 apenas cópias de cópias de manuscritos. Será, então, que as cópias que temos são confiáveis? Eu posso dizer com tranquilidade: “Sem sombra de dúvidas!” Como? Pelo fato de que os manuscritos antigos não resistiriam por mais de um século e que, dependendo das condições climáticas, se deterioravam bem antes que isso, o judaísmo instituiu, através dos escribas, uma rígida cultura de conservação de documentos que se tornou modelo para outros povos. Quem eram os escribas? Os escribas se dedicavam exclusivamente à reprodução de manuscritos. Seu trabalho era feito com tamanho zelo que, após completarem uma cópia, contavam as palavras e as letras do textooriginal e da cópia, a fim de aferirem a exatidão do documento reproduzido. Eles eram muito cuidadosos, raramente cometiam erros. Além disso, existem quatro argumentos que confirmam que as cópias da Bíblia são confiáveis: 4 Os manuscritos originais que saíram da pena dos autores. 12 1. Achados arqueológicos: Existem várias descobertas que mostram que as informações bíblicas são verdadeiras, algumas delas: vilas desconhecidas e outros lugares, nomes, vasos com desenhos, estátuas de deuses, utensílios de povos antigos, textos que narram episódios do passado entre outros5; 2. Coerência entre os textos: De acordo com os melhores manuscritologistas, a Bíblia possui de 95% a 98% de coerência entre suas cópias, algo muito difícil comparado a outros textos do passado, é simplesmente um milagre. Nem num “telefone sem fio”6 você consegue tanta exatidão assim, imagine no contexto de formação da Bíblia?; 3. Quantidade de cópias preservadas: Existem hoje 5.600 cópias bem preservadas do N.T. e mais de 24 mil cópias e fragmentos preservados da Bíblia toda. Isso é digno de muita confiança. Geralmente estudiosos das ciências humanas não duvidam da confiabilidade das cópias de Platão, Aristóteles, Sófocles, Homero entre outros, quando a Bíblia tem um número esmagador de cópias a mais se comparado a eles. Por exemplo: 1. Platão 7 cópias; 2. Heródoto 8 cópias; 3. Tácito 20 cópias; 4. Aristóteles 49 cópias; 5. Homero 643 cópias; 6. Bíblia, mais de 24 mil. Dá para sustentar que a Bíblia é um documento sem confiança? Quem afirma isso o faz por preconceito ou por ignorância.7 4. Exatidão do mesmo texto em línguas e lugares diferentes: Existem milhares de cópias hebraicas e gregas do A.T. e do N.T. vindas do Egito, Síria, Itália, Israel, Turquia e todas elas mantêm um padrão sólido de coerência. Além da evidência dos escribas e dos quatro argumentos científicos acima, ainda existem três testemunhas confiáveis dizendo que o Antigo 5 Um clássico da arqueologia bíblica: KELLER, Werner. E a Bíblia tinha razão. Ed. Melhoramentos. 6 Uma brincadeira em que uma pessoa fala uma frase e ela vai sendo reproduzida pessoa a pessoa e geralmente há uma confusão no último que a ouve. 7 Um livro bem legal sobre esses dados é “Merece confiança o Novo Testamento”, de F.F. Bruce, grande estudioso dessa área. 13 Testamento é a palavra de Deus. Jesus, Paulo e Pedro citam o A.T. como um texto escrito por homens, mas homens movidos durante o processo pelo Espírito Santo. Confira os textos: 1. Jesus: Lucas 24.448; 2. Paulo9: 2 Timóteo 3.16; 3. Pedro: 2 Pedro 1.20-21. O Antigo Testamento é realmente muito confiável e certamente isso também vale para o Novo Testamento. Tive o privilégio de conhecer pessoalmente Donald Carson10, talvez um dos maiores estudiosos vivos do N.T., e em um de seus livros ele apresenta com base no estudo dos Pais da Igreja pelo menos três critérios que levaram a Igreja primitiva a receber como normativos os vinte e sete (27) livros do N.T: 1. Apostolicidade: Todos os livros vem de uma fonte apostólica (Mateus a Apocalipse), ou seja, ainda que todos os escritores não fossem apóstolos, todos receberam a influência deles. A única exceção é o livro de Hebreus11; 2. Catolicidade: Todos os livros foram aceitos pela igreja universal, tanto no Ocidente quanto no Oriente. A Igreja acreditava que os vinte e sete (27) livros do N.T. eram norma de fé e vida; 3. Coerência teológica: Todos os livros têm coerência com a mensagem do Evangelho, por isso Hebreus e Apocalipse, os dois livros mais debatidos, entraram também na lista bíblica, pois em nada diferem das doutrinas essenciais cristãs, antes, as confirmam. O QUE SÃO OS LIVROS APÓCRIFOS? Algumas pessoas têm a Bíblia Católica Romana e perceberam que ela é um pouco maior. Se você se encontra nessa situação, você está 8 O Antigo Testamento Hebraico é dividido em três partes: Torá (Lei), Profetas e Escritos (Salmos). 9 Na época de Paulo o Novo Testamento ainda não estava terminada, ele estava se referindo ao Antigo Testamento. 10 A opinião toda de Carson está em “Introdução ao Novo Testamento”, no capítulo 24. 11 Como a autoria de Hebreus era desconhecida, ele foi aceito pela igreja pelos dois critérios subsequentes. 14 certo! A versão Católica Romana da Bíblia contém alguns livros que nós chamamos de “apócrifos” que a Bíblia protestante não tem. Muita gente tem dúvidas a respeito desses livros. Vamos compreender as coisas mais importantes que você precisa saber sobre os livros apócrifos. Primeiro, a palavra “apócrifo” significa literalmente “não autêntico” e foi cunhada pelo teólogo Jerônimo (347-420 d.C) para se referir aos livros que não tem autoridade como Palavra de Deus para o povo de Deus, pois ao invés de inspirados, são tidos como suspeitos e duvidosos em suas afirmações. Segundo, todos os livros apócrifos pertencem ao Antigo Testamento da Bíblia católica e foram escritos durante o período intertestamentário, isto é, o período de 400 anos entre o último profeta bíblico, Malaquias, até o nascimento de Jesus. Terceiro, a Bíblia católica possui sete livros e dois acréscimos a mais que a Bíblia protestante. São eles: Tobias, Judite, Baruque, Sabedoria, Eclesiástico, 1 e 2 Macabeus e seis capítulos a mais em Ester (11-16) e três capítulos a mais em Daniel (3, 13,14). Cabe aqui lembrar que os católicos romanos não chamam tais livros de apócrifos e sim de deutero-canônicos, isto é, que só num “segundo” (deutero) tempo foram considerados como canônicos. Todos eles foram escritos em grego e não em hebraico, pois foram compilados na Septuaginta, a primeira tradução grega do Antigo Testamento. Quarto, Jerônimo no quinto século fez uma tradução da Bíblia toda para o latim que ficou conhecida como Vulgata — sem dúvidas a versão mais utilizada das Escrituras em toda Idade Média — e no prefácio dela Jerônimo explicitamente disse que os apócrifos não eram livros canônicos, portanto, não deveriam servir de fundamento para doutrina e vida da Igreja. Esses sete livros a mais foram considerados “canônicos” pela Igreja Católica Apostólica Romana apenas no século XVI, no 15 Concílio de Trento, de modo que não foram os protestantes que excluíram tais livros, foram os católicos que os acrescentaram. Quinto, nós não os aceitamos como Palavra de Deus porque, embora sejam considerados bons documentos históricos e devocionais, tais livros são apenas escritos humanos. O 2º livro de Macabeus é um bom exemplo disso, pois no final dele o autor se desculpa caso tenha errado em alguma coisa que escreveu. Por essa razão os apócrifos não servem para orientar nossas vidas. Sexto, eles são contraditórios com boa parte das Escrituras, possuem informações históricas erradas e, às vezes, incentivam o povo de Deus em coisas que o próprio Deus proíbe, como a oração em favor dos mortos. Sétimo, os judeus que viviam na época em que os livros foram escritos não os aceitaram como parte do Antigo Testamento, nem na época do Novo Testamento, nem aceitam atualmente. Da mesma forma, os apócrifos não foram reconhecidos como inspirados pela maioria dos primeiros cristãos. Portanto, nós podemos ler esses livros sem medo algum, como fizeram Lutero e Calvino escrevendo até comentários sobre eles, pois são bons livros de história intertestamentária, mas não devemos pensar que eles sejam Palavra de Deus para guiar nossa fé e prática de vida. 16 RECAPITULANDO O que é a Bíblia? 1. Quantos livros tem a Bíblia? 2. Cite três gêneros literários que encontramos na Bíblia. 3. Quais são as línguas originais da Bíblia? 4. Quantos autores aproximadamente escreveram a Bíblia? 5. Cite 4 argumentos pessoaisdo por que você acredita na Bíblia? 6. Os documentos originais do A.T. e N.T. ainda existem? 7. Nós sabemos que não existem mais os documentos originais da Bíblia, restaram apenas cópias das cópias. Por que as cópias da Bíblia são confiáveis? 8. O que é um livro apócrifo? O que nós pensamos sobre estes livros? 9. Quais são as três testemunhas do Novo Testamento que confirmam a veracidade do Antigo Testamento? 10. Os teólogos F.F. Bruce e D.A. Carson apresentam três argumentos para confirmar que o Novo Testamento é a palavra de Deus. Quais são? 17 CAPÍTULO 2 Quem é Deus? 18 Deus é realmente o assunto mais interessante do mundo. Todos querem saber quem é Deus e se ele realmente existe. Deus existe? Essa é a maior pergunta que já se fez em toda a história porque Deus é o assunto mais relevante do mundo. Então, quem é Deus? Todo discípulo de Jesus precisa ter uma noção clara do Deus que está seguindo. Mas antes de vermos quem é Deus, pensemos primeiro em quem Deus não é, para evitarmos algumas confusões. QUEM DEUS NÃO É? Algumas pessoas pensam que assumir uma fé e por causa dela rejeitar as demais é uma forma de fanatismo. Outros chamam isso de “espalhar ódio entre as pessoas”. Nós cremos que não é bem assim. Se somos cristãos, então somos seguidores de Jesus e cremos na autoridade da Bíblia. Qualquer pesquisa por mais rasa que seja feita nas outras concepções sobre Deus vai apresentar lógicas em conflito 12 . Não podemos pegar o conceito Deus, bater no liquidificador e dizer que todos creem na divindade e ponto final13. Vamos fazer um panorama daquilo que, para nós, Deus não é: (1) Energia: para a Astrologia, Nova Era e religiões espiritualistas Deus é uma força que está no Universo sustentando todas as coisas. Para os cristãos Deus não é uma energia, mas um Deus pessoal, ele fala, geme, ama, cria, vê, ouve, toca, ira-se, agrada-se, alegra-se, entristece-se, sofre, corrige, entre outras coisas mais. (2) Tudo: para as religiões panteístas Deus é e está em todas as coisas. Ele é a natureza, o homem, a alma, chuva, água, animais e etc., as principais vertentes que assumem essa visão são: Hinduísmo e o 12 No Anexo 3 apresento algumas razões porque todas as religiões não podem estar corretas. 13 Um ótimo livro para entender com maior profundidade outras maneiras de enxergar Deus é SIRE, James. Universo Ao Lado. São Paulo: Editora Hagnos. Vale muito a pena a leitura de todo o livro. 19 Budismo. Para os cristãos Deus é diferente da sua criação, ele é Criador e não criatura. (3) Vários: para os politeístas não existem apenas um Deus, mas vários. Isso foi comum na Grécia e continua sendo predominante em países animistas. Para os cristãos Deus é único. (4) Indiferente: para aqueles que abraçam o Deísmo, existe realmente um Deus criador do mundo, mas esse Deus não tem nenhum contato, muito menos interfere em suas relações. Para os cristãos Deus é relacional, ama e interfere sua criação. (5) Limitado: bem próximo ao Deísmo estão os defensores do conceito Teísmo Aberto. Esta é uma visão na qual Deus é relacional, mas não é soberano, não conhece todas as coisas antes delas acontecerem. Deus é como um cavalheiro, ele não interfere – e nem pode interferir - no mundo, por isso vive convidando a humanidade ao seu amor. Ele é pego de surpresa em Tsunamis e terremotos e a única coisa que pode fazer diante do sofrimento humano é sofrer junto conosco. Para os cristãos Deus não apenas sofre junto conosco, ele está plenamente no controle de todas as coisas. (6) Unipessoal: para o Judaísmo Deus é um em Natureza – nisso concordamos e recebemos seu legado – mas apenas um em Pessoa. Por isso, o judaísmo não aceita a divindade de Jesus. Para os cristãos Deus é um em Natureza e três em Pessoa: Pai, Filho e Espírito Santo. (7) Ditador: para os mulçumanos Alá também é unipessoal, e embora seja bondoso e misericordioso em alguns momentos, em essência, é o Deus Soberano e Déspota que exige submissão e obediência de todos os humanos. No islamismo é impossível ter a certeza do perdão divino e o relacionamento se fundamenta apenas em regras. Para os cristãos Deus também é Soberano, mas sua relação com a humanidade é baseada no amor de Jesus Cristo. 20 (8) Um mistério: para os agnósticos Deus é um ser que não pode ser conhecido, logo, tudo aquilo que se fala sobre Deus, sua existência, amor, ira, salvação, juízo é tudo mera especulação. Para os cristãos Deus é um mistério, mas o mistério que foi descortinado na Pessoa extraordinária de Jesus. (9) Uma mentira: Os ateus, diferente dos agnósticos, não dizem que “é impossível saber”, afirmam com toda força baseado em seu naturalismo filosófico: Deus não existe. Para os cristãos Deus colocou em todos nós o desejo por Deus, podemos mascarar com ideologias a sua inexistência, mas no coração de todo homem existe uma semente divina. DEUS POSSUI CARACTERÍSTICAS INCOMUNICÁVEIS Para entendermos melhor a Deus necessário é saber que ele possui características incomunicáveis. Essas qualidades apenas Deus possui e não comunica a nenhuma de suas criaturas, caso contrário, todas seriam deuses como ele é. Vamos entender melhor o que são os atributos incomunicáveis de Deus14: (1) Deus é onipotente: A palavra omni significa “todo” e potente é igual a “poderoso”. Aqueles que andam com Jesus sabem que Deus é Todo-Poderoso, isto é, tem total domínio sobre todas as coisas que foram criadas por ele mesmo e ninguém pode resistir sua vontade. Deus é Soberano e nada que acontece no mundo saiu da sintonia fina de seus propósitos. Deus não tem um Plano B. Pode até parecer às vezes que o mundo está fora de controle, mas ele sempre sinaliza que está assentado no trono da história. Para mim, o texto apaixonante sobre esse adjetivo de Deus foi registrado em Isaías 40.12-31. Faça uma pausa e descubra você mesmo. 14 Um livro indispensável para aprofundar sua visão sobre o caráter de Deus foi escrito por Arthur Pink em “Os Atributos de Deus”. 21 (2) Deus é onisciente: Junte omni novamente e adicione ciente, então você tem Todo-Conhecedor. O que estamos dizendo é que o nosso Deus tem o conhecimento de todas as coisas, tanto as do passado, presente e futuro. A Bíblia diz que Deus já conhece todas as coisas desde a eternidade. Leia a história do nascimento do profeta Jeremias e observe este conceito ali presente, Jeremias 1.4-5. (3) Deus é onipresente: Agora é omni mais presente, essa ficou fácil: Todo-Presente. A fé cristã entende que Deus está em todo lugar porque ele é maior do que o Universo criado. Alguns, por isso, dizem que é o Universo que está em Deus. Deus está na Terra, no Céu e até mesmo no Inferno, certamente com nuances diferentes. Não existe texto mais lindo para contemplar a total presença de Deus neste mundo e em nossas vidas do que o Salmo 139. Aprenda com Davi sobre essa bela doutrina. (4) Deus é eterno: Muito cuidado agora. Muitas pessoas ouvem a palavra “eternidade” e de cara imaginam algo que não tem fim. Essa é uma meia verdade. Sim, tudo aquilo que é eterno não tem fim, mas para isso damos o nome específico de “infinito” ou “imortal”. A eternidade de Deus é mais ampla, envolve o fato de que Deus não tem fim e nem começo. Ele, por isso, é antes de todas as coisas, incriado e sempre existiu. Injete uma dose da eternidade de Deus em sua compreensão dele lendo Apocalipse 4 e 5. É demais. (5) Deus é único e trino: Vamos entender melhor o que isso significa no próximo capítulo. Por hora, vamos entender apenas esta definição: Deus é “um” em sua Natureza, mas “três” em Pessoas. Não cremos em três deuses, mas também não cremos que ele é unipessoal. Difícil, não é? Aguardeo próximo capítulo que talvez sua compreensão melhore. Para dar um gostinho na boca compare dois textos: Deuteronômio 6.4 – Deus é único – com Mateus 28.19 – Três Pessoas existindo dentro da divindade. 22 (6) Deus é espírito: Isso significa que Deus é invisível e não está limitado à matéria física – a não ser pelo corpo humano de Jesus, Segunda Pessoa da Trindade. O apóstolo João foi quem mais trabalhou em cima desse ponto, leia o que ele disse em João 1.18 e 4.24. (7) Deus é imutável: O significado de imutável é simples, mas pode gerar confusões, “Deus não muda”. Em que sentido Deus não muda? Diferente do que ensinava Aristóteles, Deus não é um Motor Imóvel, Deus está sempre em constante movimento no mundo. O que ele não pode mudar são suas promessas e seu caráter santo. Neste sentido Deus não pode se arrepender, pois não pratica o mal. Veja o que diz Tiago 1.17. Contudo, frequentemente nas Escrituras é dito que Deus muda (ou se arrepende) a sua forma de agir. Sem dúvidas uma das coisas que mais move o coração de Deus é o arrependimento dos pecadores. Uma das cenas mais lindas do Antigo Testamento é a história de Jonas. Dê uma olhada em Jonas 4 e reflita na compreensão que Jonas tem do caráter de Deus. Espero que você tenha chegado a mesma conclusão que eu cheguei após me deparar com esse conhecimento de Deus. Tente aplicar cada um dos sete atributos incomunicáveis de Deus as suas experiências de vida e uma atitude você irá tomar: adorar. DEUS POSSUI CARACTERÍSTICAS COMUNICÁVEIS Por outro lado, como poderemos nos relacionar com um Deus tão diferente assim? A resposta é que Deus possui também características comunicáveis, isto é, aquelas características que ele compartilha com os seres humanos. Ele simplifica a si mesmo para que possamos entendê-lo melhor e assim interagirmos com ele em nossa caminhada de fé. É neste sentido que a nossa vida também reflete a glória de Deus. Vamos entender melhor quais são: 23 (1) Deus é bom: Poderíamos gastar páginas e páginas descrevendo a bondade de Deus em todo o registro bíblico, mas uma coisa nos é suficiente, saber qual é a definição da bondade de Deus. Na minha compreensão Deus é o único que consegue experimentar prazer perfeito enquanto faz o bem às suas criaturas. A alegria de Deus é abençoar. Foi por isso que Jesus afirmou para um jovem: “Ninguém é bom, senão um, que é Deus” Marcos 10.18. Contudo, como esse é um atributo comunicável, Deus empresta um pouco da sua bondade para nós para que também possamos praticar boas obras. (2) Deus é fiel: por fidelidade de Deus estamos dizendo que ele é fiel porque cumpre o que diz e não abandona a aliança que fez com o seu povo. Deus é plenamente confiável, nele você pode esperar e caminhar, descansar e agir, ele prometeu estar ao seu lado e seu amor não falha. Deus prometeu uma coisa que jamais deixará de cumprir sempre que passarmos por tentações, descubra o que é em 1 Coríntios 10.13. (3) Deus é justo: Esse talvez seja um dos atributos de Deus que o mundo mais se esquece: justiça. Por justo estamos afirmando que Deus não faz acepção de pessoas, é imparcial e faz justiça na terra. Em alguns momentos a sua justiça pode em nossa visão “demorar”, mas Deus nunca chega atrasado. Deus é o nosso verdadeiro Juiz e julgará com justiça todas as situações da história humana. Uma das histórias mais dramáticas da Bíblia é a de Jó. Aparentemente Deus foi injusto com ele ao deixa-lo sofrer nas mãos cruéis de Satanás, contudo o próprio Jó, durante e depois da sua dor reconheceu a sabedoria e a justiça de Deus. Leia Jó 38-42. (4) Deus é verdadeiro: Pode ser de fácil compreensão saber que Deus não pode mentir, enganar e sempre expressar a verdade em tudo o que diz e faz. Mas, às vezes, nós duvidamos de suas palavras de sabedoria, de suas escolhas, de seus planos. Nosso dever é descansar em 24 Deus por saber que tudo o que ele é faz e fala é a verdadeira verdade. O próprio Jesus fez essa afirmação no Evangelho de João 14.6. (5) Deus é misericordioso: Para algumas pessoas bondade, fidelidade, misericórdia, amor e etc., são tudo a mesma coisa. Se pensarmos assim perderemos muito da beleza do caráter divino, principalmente da sua misericórdia. O que é, então, misericórdia? Significa que Deus não nos pune de acordo com os nossos pecados. Provavelmente você teve pai e mãe. Será que seus pais sempre te puniram de acordo com aquilo que você merecia? Creio que não. Nossos pais em muitas ocasiões nos tratam com misericórdia, eles não nos punem de acordo com o que merecemos. Deus tem que ter misericórdia de nós diariamente, caso contrário seríamos destruídos. Veja o lamento do profeta Jeremias e como ele se apoia na misericórdia de Deus, Lamentações 3.22. (6) Deus é amor: Acho que essa é uma das frases mais conhecidas que você deve ter ouvido, e embora um pouco “clichê”, é pura verdade. Deus não apenas pratica amor, amor é aquilo que ele é. Porém, diferente da forma como o amor é entendido nos dias atuais, como sentimento, paixão, fogo, desejo, Deus ama com atitudes. E mais, Deus ama quem não o ama de volta. Deus ama pecadores. Consegue amar assim? Pare um pouco rumine várias vezes o que o apóstolo João disse sobre o amor de Deus: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 João 4.10). (7) Deus é belo: Ouço muito pouca gente reverberando a beleza de Deus. Dá para entender a razão, para os religiosos Deus é algo útil, para cristãos é alguém lindo. Para a religião Deus é aquilo que pode nos oferecer, para o seu povo Deus é aquilo que ele é. Ele é invisível, mas a 25 glória de seu caráter e a perfeição de suas palavras e ações embelezam a vida. Leia o Salmo 27 e comprove essa linda verdade. Deus é muito maior do que podemos imaginar, belo, alegre, generoso, paciente e etc. Tentaríamos enumerar milhares de atributos mais, porém, essas sete já são suficientes para entendermos como Deus empresta qualidades dele para nós, essas são suas qualidades comunicáveis. DEUS É RELACIONAL Deus quer andar com você. É para um relacionamento com este Deus que as Escrituras nos chamam. Uma das regras de ouro da vida cristã é que quanto mais andamos com Deus mais nos parecemos com ele. É impossível andar com ele e não compartilhar de suas marcas. Como afirma o apóstolo João: "... aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou." 1 João 2.6. Viver com Deus é ter a certeza de que, enquanto caminhamos com ele, o nosso caminho muda também. O que você achou deste Deus? Percebeu o quanto ele é glorioso e diferente de nós? Você acha que a partir do que vimos sua relação com ele ganhou mais profundidade? Você quer andar com ele e parecer-se com ele? Andar com Jesus é a coisa mais inteligente e prazerosa que você pode fazer na sua vida. A melhor coisa a fazer depois de conversarmos sobre Deus é fazer uma pausa e louvá-lo. Faça isso agora. 26 RECAPITULANDO Quem é Deus? 1. Mencione quatro ideias que distorcem a verdadeira visão sobre Deus. 2. O que é um atributo incomunicável de Deus? 3. Cite quatro atributos incomunicáveis de Deus e comente brevemente algo sobre eles. 4. O que é um atributo comunicável de Deus? 5. Cite 6 atributos comunicáveis de Deus e comente algo sobre três deles. 6. “Quanto mais andamos com Deus mais nos parecemos com ele.” Isso é verdade em sua vida? 7. Qual é a diferença entre os ateus e os agnósticos? 8. O que mais te marcou neste estudo sobre “Quem é Deus?” (pergunta pessoal). 9. O que você achou das 9 visões sobre quem Deus não é apresentadas aqui? O que o nosso Deus tem de diferente? 10. Por que faz diferença saber quem realmente é Deus? 27 CAPÍTULO3 O que é a Trindade? 28 Como eu prometi, vamos entender melhor o que significa “um” em Natureza e “três” em Pessoa. Já deu para perceber que a doutrina da Trindade não é algo fácil de entender. A Igreja cristã demorou três séculos para entender melhor a Triunidade de Deus e até hoje não conseguimos entender isso com tanta precisão, pois Deus é imenso e infinito para as nossas mentes finitas. É fato que não existe a palavra “Trindade” na Bíblia. Porém, isso não significa que a Bíblia não ensine esta doutrina. O Antigo Testamento ensina que há um só Deus, você já viu isso em Deuteronômio 6.4. Viu também que Jesus enviou seus discípulos em missão no mundo para batizar em nome do Pai, Filho e Espírito Santo (Mt 28.19). Como entender essa mudança de perspectiva? (1) EXISTE APENAS UM DEUS Vamos bem devagar colocar os fundamentos. A questão é a seguinte, tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento dizem que há um só Deus, isto é, nós enquanto cristãos somos monoteístas. A acusação que sofremos por parte dos judeus não procede. O apóstolo Paulo cita o mesmo texto de Dt 6.4 em 1Co 8.4-6, afirmando que há um só Deus. Todavia, ele adiciona o Senhorio de Cristo, aqui as coisas precisam ser melhor resolvidas. Vamos à próxima ideia. (2) DEUS É UM EM NATUREZA E TRÊS EM PESSOA Esta é a definição básica da Trindade. Embora Deus tenha uma só essência ou natureza (seu Ser), dentro de sua essência subsistem (ficam dentro dele) três pessoas. Grave e repita o que eu acabei de dizer várias vezes. Isso significa que as três pessoas da Trindade, Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo compartilham da mesma essência-natureza, 29 pois as três tem os mesmos atributos divinos – os incomunicáveis do capítulo anterior. O Pai é Todo-Poderoso igual ao Filho e ao Espírito. O Filho sabe de todas as coisas igual ao Pai e ao Espírito. O Espírito está presente em todo lugar como o Filho e o Pai. Apenas uma observação: o Filho também está em todo lugar (Mt 28.20), não corporalmente, mas espiritualmente, pois seu corpo ressurreto está no céu ao lado do Pai (Hb 10.12). Fora isso, o Pai é eterno e incriado tal como o Filho e o Espírito. O Filho é espiritual tal como o Pai e o Espírito. O Espírito é imutável tal como o Filho e o Pai. Demorei-me nisso para cravar uma estaca em sua mente: O Pai, Filho e Espírito são o único Deus porque partilham dos mesmos atributos divinos. No entanto, embora os três sejam idênticos em natureza, possuem diferenças quanto as suas pessoalidades. As diferenças de cada Pessoa da Trindade estão relacionadas à singularidade de suas funções. Isso ficará mais claro no próximo tópico. (3) AS TRÊS PESSOAS TEM FUNÇÕES ESPECÍFICAS As três pessoas têm o mesmo poder, a mesma glória e as três são dignas da mesma adoração, pois são o Único e Verdadeiro Deus, porém tem papéis ou funções diferentes. (1) Deus Pai: A função do Pai é a de liderar o Filho e o Espírito. Percebemos esta noção de liderança paterna no ensino apostólico de João quando Jesus afirma “este mandato recebi de meu Pai” (Jo 10.18). Outra afirmação de Jesus que denota essa nuance de autoridade do Pai é: “O Pai é maior do que eu” (Jo 14.28). Alguns usam essa frase para concluir que Jesus não é divino, mas eles se esquecem que ele também disse: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30). Ou, mais a frente disse: “glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com 30 a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.5). Jesus faz duas afirmações suficientes de sua divindade aqui: 1. O Pai glorifica o Filho; 2. Ele é eterno junto com o Pai. Por essa razão entendemos que Jesus não estava dizendo que seu Pai é maior em “divindade” do que ele, mas em função, como seu líder. Dois textos a mais colaboram para esse entendimento funcional da superioridade do Pai em relação ao Filho, João 15.10: “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço.” Numa discussão com os fariseus ele afirmou: “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só, porque eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8.29). Nítido como cristal: Jesus se submete ao Pai não por ser menor que o Pai, mas por ser liderado dele. Em Apocalipse 4 e 5 também fica bem clara a noção do Pai assentado no Trono concedendo ao Filho, à sua direita, a autoridade para dirigir a história, mas falar de Apocalipse é assunto para outro livro. Vamos pensar agora no Deus Filho. (2) Deus Filho: Se o Pai é o líder, o Filho é o fiel executor dos planos de seu líder e Pai. Fora os textos que já citamos, outros nos auxiliam ainda mais. Note o tom trinitário da oração de Jesus em João 17.4: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer.” Podemos entender o Pai como grande Arquiteto (Hb 11.10), e o filho como o grande Construtor da obra. Qual é a grande obra do Filho? Várias, uma delas revelar quem é o Pai. João 1.18 diz: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.” Respondendo à pergunta de Filipe Jesus disse: “Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14.9). Paulo diz que Jesus é a “imagem do Deus invisível” (Col 1.15), para o autor de Hebreus é 31 aquele por meio de quem Deus fala, pois é a expressão exata do seu ser (Hb 1.2-3). Além de revelar quem é o Pai para o mundo, Jesus veio para cumprir outro desejo do Pai, o de salvar aqueles que são amados desde a eternidade. Note a conversa de Jesus com o Pai em João 17.2: “Pois tens dado ao Filho autoridade sobre todos os seres humanos para que ele dê a vida eterna a todos os que lhe deste” (NTLH). E mais adiante no verso 6: “Eu revelei teu nome àqueles que do mundo me deste. Eles eram teus; tu os deste a mim, e eles têm obedecido à tua palavra” (NVI). Vale a pena relembrar o verso tão conhecido que sintetiza a missão principal que o Pai deu ao Filho: “Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Esse é o papel do filho, executar os planos do Pai. Vamos, por fim, analisar o papel – um pouco esquecido – do Espírito Santo. (3) Deus Espírito Santo: O Pai é o líder, o Filho é o executor, quem é o Espírito Santo? Preste atenção nesta definição: O Espírito Santo é a fonte de poder do Pai para liderar, fonte de poder do Filho para executar e fonte de poder da Igreja para cumprir sua missão no mundo. Dá para gastarmos muitos neurônios decifrando essa pequena frase. Compreender o agir do Espírito Santo é essencial para ser um discípulo de Jesus. Primeiro de tudo, não pode haver dúvidas de que o Espírito Santo é Deus. Nós também adoramos o Espírito Santo, como diz Paulo: “... nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne” (Fl 3.3). Ele estava na criação junto com o Pai sendo a fonte de sua sabedoria, pois o Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gn 1.2). Foi através do Espírito Santo que o poder do Pai fecundou Maria para o nascimento de Jesus. Veja que obra magnífica: “Descerá sobre ti o 32 Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Jesus recebeu esse poder do Espírito Santo no batismo. Faça uma pausa e leia com calma a linda descrição dessa cena em Mateus 3.13-17. Veja a interação perfeita das três Pessoas. Foi no poder do Espírito Santo que Jesus cumpriu o seu ministério: “Então, Jesus, no poder do Espírito...” mais à frente: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos,para pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4.14,18). Tudo o que Jesus fazia vinha da sua fonte de poder, o Espírito Santo. Se em João vemos repetidas vezes a menção do Pai e do Filho, em Lucas o lugar é do Espírito, “E o poder do Senhor estava com ele para curar” (Lc 5.17). Ele também é o responsável por agir no povo de Deus de várias formas. Regenerando (Jo 3.6-8), habitando e consolando (Jo 14.16-17, 26, 15.26), santificando (1Co 6.11), oferecendo dons espirituais (1Co 12 e 14), capacitando para a missão. Essa última missão do Espírito vale ser citada: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). Esse é o papel do Espírito, fonte de poder para o Pai, Filho e para o povo deste Deus maravilhoso. (4) AS TRÊS PESSOAS SEMPRE TRABALHAM JUNTAS As três Pessoas trabalham e estão juntas ao mesmo tempo, em todas as coisas, em todos os momentos na eternidade e no tempo. No entanto, para efeitos didáticos, é possível entendermos a função de cada Pessoa em determinada ação: 33 Exemplo 1: Criação 1) Deus Pai – Planejou a criação 2) Deus Filho – Criou o mundo 3) Deus Espírito – Deu sabedoria ao Pai para planejar e poder ao Filho para criar o mundo. Ele também capacita o homem a entender como Deus está por trás da criação. Exemplo 2: Salvação 1) Deus Pai – Planejou a nossa salvação 2) Deus Filho – Executou a nossa salvação 3) Deus Espírito – Deu sabedoria ao Pai para planejar nossa salvação e poder ao Filho para executá-la. Ao mesmo tempo ele aplica a vontade do Pai e o trabalho do Filho em nosso coração. Embora trabalhando sempre juntos em todas as coisas, é facilmente perceptível na Bíblia que cada Pessoa da Trindade recebe mais ênfase em suas funções em relação às outras. Vamos perceber isso olhando para a nossa salvação: 1. Eleição: Deus Pai nos escolheu na eternidade para sermos salvos; 2. Justificação: Deus Filho nos justificou dos pecados morrendo por nós na história; 3. Regeneração: Deus Espírito implanta sua vida em nós em nossa história pessoal. Para concluir este estudo, podemos afirmar que a maneira mais fácil de entendermos o plano de Deus para nossa salvação é olhá-lo a partir das ações da Trindade: “Nós somos eleitos pelo Pai na eternidade, justificados pelo Filho na história e regenerados pelo Espírito Santo em nossa história pessoal.” Isso é quase o mais próximo que podemos chegar, para articular a doutrina histórica da Trindade. 34 RECAPITULANDO: O que é a Trindade? 1. Quantos séculos a Igreja cristã demorou a entender melhor a doutrina da Trindade? 2. Qual é a definição básica da Trindade? 3. Responda se é verdadeiro (V) ou falso (F): “Embora Deus tenha uma só essência, dentro de sua essência subsistem três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.” ( ) 4. Quais são os papéis principais de cada Pessoa da Trindade? 5. Complete a frase: “As três pessoas da Trindade têm o mesmo poder e glória e são dignas da nossa ___________, pois são o único Deus verdadeiro. Porém, as três têm _______________ diferentes.” 6. Explique quais são as funções da Trindade na Criação: 7. Explique quais são as funções da Trindade na Salvação: 8. “Nosso Deus trabalha tanto na eternidade quanto no tempo.” (V) ou (F)? 9. Determine quando a Trindade realizou cada uma das coisas abaixo: Eleição: Deus Pai nos escolhe na _________________. Justificação: Deus Filho nos justifica dos pecados na________________. Regeneração: Deus Espírito implanta sua vida em nós em nossa __________________. 10. O que você achou mais interessante no estudo da Trindade? 35 CAPÍTULO 4 Criação: Como tudo começou? 36 Alguns pensadores cristãos reformados escolheram quatro palavras que resumem os principais temas da Bíblia, são eles: 1. Criação; 2. Queda; 3. Redenção; 4. Consumação. Nós adicionamos uma quinta palavra: 5. Restauração. Acreditamos que se soubermos estes cinco conceitos, entender a Bíblia não será mais uma tarefa difícil. Vamos estudar hoje o primeiro deles: Criação. Todos nós ficamos curiosos em relação à origem da vida e muitas respostas atualmente têm sido oferecidas. Neste estudo vamos ler os dois primeiros capítulos da Bíblia, Gênesis 1-2, para respondermos às seguintes perguntas: Como tudo começou? Quem criou tudo o que existe? Quem é o ser humano? Existe algum propósito para a vida? 1. COMO TUDO COMEÇOU? Deus criou o mundo que conhecemos. Tudo começa com Deus, o mundo vem depois dele, pois ele é o seu Criador. O mundo não surgiu do acaso, por uma explosão ou de forma espontânea. Deus é a inteligência por trás da maravilhosa criação que temos o privilégio de ver e viver. Mas o que foi criado e como foi criado? Note como o livro de Gênesis traça ordem dos elementos criados por Deus: Dia 1 Dia 2 Dia 3 Dia e noite Céu e água Terra Dia 4 Dia 5 Dia 6 Sol, lua e estrelas Aves e peixes Animais e seres humanos Um dos propósitos do autor de Gênesis, a partir desse olhar literário, é apresentar a organização da criação. A relação é 1x4, 2x5, 3x6: primeiro Deus cria os habitats, depois os habitantes. A divisão em 6 37 dias é uma forma poética e didática para entendermos o que é o mundo criado por Deus. Se o tempo que Deus levou para criar o Universo foram 6 dias literais de 24 horas ou não é assunto para outro livro e provavelmente não era a intenção do autor. E o sétimo dia? Por que ele é chamado “dia do Descanso”? Deus parou de trabalhar? De maneira alguma! O sétimo dia, no qual Deus termina o seu trabalho de criar todas as coisas, é só o início do trabalho de Deus. A partir desta primeira obra, Deus agora vai cuidar da criação. O termo descansar neste texto lembra o que faz um artista depois de perceber que sua pintura ficou magnífica: “Voilà” 15 Deus sentiu-se satisfeito com o que havia criado, pois o mundo ficou “muito bom!” Deus criou o mundo perfeito e bom. Este mundo em que vivemos é bom e tem um dono, o próprio Deus Criador. O diabo não é o dono do universo e nem está dominando sobre ele. Além disso, a criação ou natureza não é eterna, pois teve um início. Podemos dizer também, diferente de outras religiões que a criação não deve ser adorada, pois é a criatura que deve adorar ao Criador. 2. QUEM É O HOMEM? O homem e a mulher são a obra prima da criação de Deus. Nós não viemos do acaso, nem somos produto de bilhões de anos de evolução, muito menos somos “animais racionais”, somos a imagem de Deus. Podemos afirmar que “Deus nos criou para se ver.” Somos o reflexo de Deus, seus representantes na terra criada. Ele nos criou para que o mundo olhasse para nós e enxergasse a Ele mesmo. Deus nos criou para refletir o seu glorioso ser na terra. Somos a fotografia de Deus no mundo. Nenhuma criação anterior tem esse privilégio, por isso o salmo 8.5 diz que somos a “coroa” da criação. Não 15 Voilà – leia-se voalá – é a expressão francesa de apreço por algo que quer dizer: “Veja lá!” 38 somos nada menos que a obra prima da arte criativa de Deus. Somos os únicos seres criados à imagem e semelhança de Deus. 3. EXISTE PROPÓSITO NA VIDA? Além de nos ter criado com toda essa dignidade, em Gênesis 1.26- 28, Deus nos deu três ordens, que são as três tarefas criacionais da vida humana. São coisas que fazemos desde que existimos. O ser humano precisa equilibrar estas três ordens em sua vida e, a menos que faça isso, nunca experimentará o sentido da existência: 1. Desenvolver relacionamentos: o ser humano é um ser social Quando Deus diz para multiplicarmo-nos na terra, ele estava nos comissionando um mandato social, isto é, constituirmos família, gerarmos filhos, sermos irmãos uns dos outros, sermosseres relacionais entendendo que nós precisamos de Deus, mas também precisamos de pessoas. A menos que sejamos seres relacionais jamais nos sentiremos satisfeitos com a vida. Nós existimos para nos relacionar com outras pessoas. Uma boa ilustração disso é o dilema de solidão que o ator Tom Hanks vive no filme “O Náufrago.” 2. Desenvolver trabalho e cultura: o ser humano é um ser artesanal16 Em Gn 2.15 lemos o seguinte: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.” Esta é a nossa segunda tarefa nesta vida: cuidar do mundo em que vivemos, administrar os animais e a terra que Deus fez. Deus nos criou para desenvolver o mundo, sermos engenheiros do progresso da criação. Nós fazemos isso produzindo cultura, cuidando da terra, desenvolvendo as potencialidades da mesma para o seu progresso e 16 O ser humano é alguém que produz arte no trabalho e na vida comum. 39 também para o desenvolvimento da sociedade. Hoje em dia, nós cumprimos o mandato cultural através das nossas profissões que o próprio Deus nos dá em algum momento da nossa história e de todas as nossas ocupações, hobbyes, artes, serviços, etc. A menos que encontremos algo que nos torne úteis para melhorarmos o mundo criado, não nos sentiremos satisfeitos. 3. Desenvolver um relacionamento com Deus: o ser humano é um ser espiritual Além da necessidade de nos envolvermos com outras pessoas e termos alguma utilidade no mundo, todos nós nascemos para ter um encontro com Deus. E enquanto isso não acontecer, sempre iremos atrás de atalhos e refúgios que não nos tornarão satisfeitos. Estaremos inquietos sem Deus. Como disse Agostinho: “o nosso coração não encontra descanso, até que descanse em Ti”. Ou como Matthew Henry em suas últimas palavras, que estão até hoje na lápide de seu túmulo: “uma vida investida em comunhão com Deus é a vida mais prazerosa do mundo inteiro.” É a prioridade dentre os três. Se tivermos intimidade com Deus, iremos desejar desempenhar os dois mandatos anteriores. Sem a doutrina da criação como base para a nossa vida é impossível responder as perguntas: Como tudo começou? Quem somos nós? E qual é o nosso propósito na vida? Deus tem respostas para nós, respostas que podem satisfazer por completo o nosso coração e de toda a humanidade. Quando nós internalizamos a doutrina da criação em nosso coração passamos a ver a sabedoria de Deus esculpida em cada parte da natureza. 40 RECAPITULANDO: Criação: Como tudo começou? 1. Quais são os dois capítulos da Bíblia que nos apresentam o relato da Criação? 2. O mundo foi criado ao acaso ou de forma espontânea? 3. Qual é a relação do que Deus criou entre os dias 1-3 e os dias 4-6? 4. Qual é o significado do Sétimo dia? 5. O mundo é uma criação boa ou má? Explique. 6. Quem é o homem? 7. Quais são as três ordens ou mandatos que Deus deu para o ser humano no jardim? 8. Qual é a importância da doutrina da criação para a sua vida? 9. O que significa para você ter sido criado à imagem e semelhança de Deus? 10. Qual é a relação que você vê entre o ser humano e os demais animais? Leia Gênesis 1-2. 41 CAPÍTULO 5 Queda: O que deu errado com o mundo? Todos nós sabemos que algo deu de errado com o mundo. “Não era para ser assim” é o sussurro mais sincero da alma humana, pois há tanto 42 sofrimento, dor, perdas e tristezas na vida que a existência do mal não pode ser ignorada. Afinal, o que deu errado com a criação boa de Deus? Essa é a importância do estudo da Queda. Esta palavra é um sinônimo de pecado. É a expressão que resume como o ser humano caiu em pecado logo no início da história humana registrada em Gênesis 3.1-22. Leia este relato e entenda melhor a origem do mal e do sofrimento. 1. DE ONDE VEIO MAL E O SOFRIMENTO? Deus fez um acordo com o homem (cf. Gn 2.16-17). Ele ofereceu liberdade total ao homem para desfrutar de toda a criação que ele mesmo tinha feito. A única restrição seria comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois se eles a comessem experimentariam a morte. O primeiro casal humano viveu neste estado de liberdade e comunhão com Deus por algum tempo, no entanto, a serpente veio ao jardim para tentá- los. Leia atentamente Gn 3.1-5 e veja como a proposta da serpente era astuta e fatal. No diálogo da serpente com o casal, o diabo propôs três coisas: Dúvida, contradição e indução: Dúvida: “Foi isso mesmo que Deus disse?” Contradição: “Vocês certamente não morrerão!” Indução: “No dia em que vocês comerem, serão como Deus!” A questão essencial aqui é perceber o que significava comer ou deixar de comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Conhecer o bem e o mal naquele caso significava poder decidir, independente de Deus, o que seria bom e o que seria mal. Em outras palavras, a proposta do diabo era a seguinte: “Sejam independentes e 43 criem suas próprias leis, vivam do jeito que vocês quiserem, assumam o comando de seu destino e não dependam mais de Deus para viver.” A serpente conseguiu enganar o casal. O ato de comer o fruto não foi um gesto passivo ou sem importância – não foi "sem querer querendo" – eles decidiram conscientemente que deixariam tudo o que Deus criou, a maneira de cuidar da criação, jogariam tudo fora para começar a viver, do zero, por eles mesmos. Por isso, o pecado é o homem querendo ser o seu próprio deus. Pecado é o desenho se rebelando contra o Desenhista. O vaso se rebelando contra o Oleiro. A pintura se rebelando contra o Pintor. Por isso, o mal, o pecado, o sofrimento e a morte são os frutos da quebra da dependência entre criatura e Criador que aconteceu no Éden com os nossos primeiros pais. Todo o sofrimento que a humanidade experimentou e ainda experimenta através de guerras, fome, doenças, catástrofes, assaltos, crimes e morte são consequências diretas do pecado original. 2. TODOS NÓS SOMOS PECADORES? Já ouvi muita gente dizer: “fulano é tão bonzinho, não acho que ele será condenado!” Ou outras pessoas que dizem: “fulano é perfeito, só falta ser crente!”. O que é que está por trás dessas frases? Com certeza, uma visão bem “aguada” do impacto que o pecado tem em nossas vidas. O salmo 14.3 é bem claro quando diz que “todos se rebelaram e juntamente se corromperam, não há quem faça o bem, não há nenhum sequer.” Esse “TODOS” inclui crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos. Todos nós fomos infectados pelo vírus do pecado. Talvez você possa dizer: “Conheço pessoas que não são crentes, mas são pessoas maravilhosas, cheias de amor; para elas só falta Jesus.” Eu respondo: conviva mais tempo com essas pessoas “boazinhas” e você 44 verá claramente que as marcas do pecado estão em sua vida. Ninguém escapa! Leia também Romanos 3.9-26, 5.12-21. No próprio jardim, o homem, depois do pecado, se torna um grande fugitivo de Deus. 3. QUAIS SÃO OS RESULTADOS PRÁTICOS DA REBELIÃO DO PECADO? Depois de o pecado ser introduzido na vida humana, pelo menos quatro consequências diretas afetaram a vida de toda a humanidade: 1) O ser humano está desconectado de Deus (v.8-10). Todos os seres humanos carregam em si mesmos o DNA do pecado, isto é, têm o pecado gravado em todas as áreas do seu coração. O homem não busca mais a Deus, pelo contrário, agora foge dele. O homem está morto em seus pecados. 2) O ser humano está desconectado dos outros seres humanos (v.7, 11-13, 16). Todos os relacionamentos depois do pecado foram fragmentados. Não existe paz absoluta. A partir desse momento brigas e guerras são inevitáveis. Viver em sociedade agora é um problema, casamentos são desfeitos, relacionamentos são descartáveis e sem compromisso, há roubo, assassinatos ecaos social. 3) O ser humano está desconectado do seu trabalho e distorce a cultura (v.17-19). Todos os seres humanos terão que suar bastante para desenvolverem seu trabalho. Agora, o trabalho é fonte de canseira e desgosto. A terra boa foi amaldiçoada por causa do pecado do homem. Até a criação sofre com o pecado humano. A cultura do homem não reflete mais a beleza de Deus. 4) O ser humano está desconectado da própria vida (Gn 5) . Todos os seres humanos agora experimentam a realidade da morte física. O salário do pecado é a morte. Esta é a trágica recompensa do pecado da 45 humanidade, o homem estar desconectado da própria vida criada por Deus. Em outras palavras, o pecado do casal não apenas afetou o seu relacionamento com Deus, mas todas as dimensões da vida, a relacional, a espiritual, a cultural e a individual. O mundo inteiro está em desarmonia e há sofrimento em todas as áreas da vida porque o relacionamento central – com Deus – foi quebrado. 4. O PLANO DE DEUS FOI DESTRUÍDO? Será que o projeto de Deus foi totalmente estragado? O projeto de Deus foi destruído pelo Diabo e pelo ser humano? Não. O pecado e a morte não são a última palavra no livro de Gênesis. Quais são as atitudes de Deus no jardim que nos mostram que Deus não foi pego de surpresa pelo pecado da raça humana? Temos “três pistas de esperança” aqui: 1) Deus prometeu que um menino nasceria da mulher e iria destruir a serpente v. 3.15 2) Deus vestiu o casal com pele de animais, isto é, alguém morreu por eles (houve o primeiro sacrifício) v.21 3) Deus expulsou o casal do jardim para que não vivessem eternamente em pecado v.22-23 Vejam que coisa extraordinária em Gênesis 3! Você percebeu que Deus já tinha um plano para nos salvar, antes mesmo do nosso pecado? RECAPITULANDO: 46 Queda: o que Deus errado com o mundo? 1. Você concorda que dentro do coração da humanidade há uma noção geral de que “algo está errado” ou que o mundo e a vida “não eram para ser assim”? 2. Qual é o capítulo da Bíblia que descreve o relato da Queda? 3. De onde veio o mal e o sofrimento que experimentamos? Explique. 4. Quais foram as 3 estratégias de Satanás para seduzir o primeiro casal à rebelião do pecado? 5. Qual é o significado mais profundo de “comer o fruto da árvore do bem e do mal?” Explique. 6. Defina o que é pecado. 7. Todos nós somos pecadores? Por quê? 8. Quais são as 4 consequências ou “desconexões” geradas pelo pecado original? 9. Deus foi pego de surpresa pela Queda ou tinha já tinha um plano em mente? 10. O que mais te marcou no estudo da Queda? 47 CAPÍTULO 6 Redenção: Como Deus resgata o mundo caído? 48 Você já ouviu falar em “final feliz?” Com certeza sim. Da mesma forma que a maioria de nós aceita que algo deu errado com o mundo, também acreditamos que de alguma forma “viveremos felizes para sempre.” Foi por isso que a humanidade inventou os heróis, aqueles que aparecem quando tudo está prestes a ser destruído e, de forma miraculosa, eles restauram a paz mundial. Nossas histórias infantis estão repletas de “...e viveram felizes para sempre”. Dentro de nós há uma sede por salvação. Entretanto, essa Redenção não veio através do Homem de Ferro, do Batman, do Homem Aranha, do Thor, do Lanterna Verde ou de quem quer que seja. Veio, sim, através de Jesus Cristo. Para descobrirmos o plano de Deus para nos salvar precisamos fazer pelo menos seis perguntas: 1. Do que precisamos ser salvos? 2. Por qual razão Deus quer nos salvar? 3. Quem pode nos salvar? 4. Como ele pode nos salvar? 5. Quais são os resultados práticos desta salvação aqui e agora? 6. Por que, embora salvos, continuamos pecando? 1. DO QUE PRECISAMOS SER SALVOS? Precisamos ser salvos do pecado e da morte. Já vimos no estudo anterior, sobre a Queda, que o mal, o pecado, o sofrimento e a morte são os frutos da quebra da dependência entre criatura e Criador que aconteceu no Éden com os nossos primeiros pais. A menos que entendamos o nosso problema jamais reconheceremos que precisamos de um salvador. Somente quando estamos à beira da morte que gritamos por um salva- vidas. Assim deve acontecer com todos nós, precisamos entender bem a nossa condição para que tenhamos as motivações corretas para gritar “socorro” para o nosso Salvador. Não adianta pensarmos que o nosso real problema são os nossos sintomas, como a tristeza, o desânimo, 49 sofrimento, doenças, pobreza, depressão, decepções etc. Sem dúvidas todas estas coisas são um problema real para nós, mas são os nossos sintomas, não a causa de nossos problemas. Como Médico dos Médicos, Deus sabe muito bem que não adianta atacar os sintomas para curar a causa da nossa vida caótica, ele precisa atacar a causa. E é exatamente isso que Deus planejou para nos salvar, ele atacou o principal câncer do coração humano: o pecado e o seu principal resultado, a morte. 2. POR QUE DEUS QUER NOS SALVAR? A única motivação que Deus tem para nos resgatar do pecado e da morte é o seu amor cheio de compaixão e graça. Como diz o apóstolo João no clássico texto: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Fica muito claro nesta passagem que a motivação existente em Deus para que o mundo não pereça é o seu grande amor. Outro texto muito importante é Efésios 2.5: “e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos”. A graça de Deus é a motivação que anda de mãos dadas com o amor de Deus – podemos dizer que amor e graça são coisas diferentes, mas aqui funcionam como sinônimos. O amor é a decisão livre – sem razão – de Deus em querer nos fazer bem. De forma franca, Deus só deveria ter motivos para rejeitar o ser humano, pelo fato de todos terem se rebelado da sua presença. Mas, por causa do seu grande e inexplicável amor, ele decidiu e escolheu nos aceitar, por isso elaborou este plano salvífico para nos libertar do pecado e morte. 50 A graça funciona como um sinônimo do amor, pois ela é um favor que Deus concede a nós sem que tenhamos qualquer mérito. Graça é oferecer um presente a quem não pode pagar por isso ou dar uma benção para quem merece maldição. Portanto, se quisermos por qual razão Deus escolheu nos salvar do pecado e da morte, é essencial compreendermos que nada em nós mesmos é capaz de cativar o coração justo de Deus, nem nossas obras ou feitos notáveis, pois todos somos igualmente pecadores e nossas boas obras não podem compensar nossas atitudes más. Pelo contrário, somente o amor e graça livres de Deus são capazes de mover o coração justo de Deus em direção de pecadores. É por esta razão que costumamos dizer que a graça de Deus é maravilhosa! 3. QUEM PODE NOS SALVAR? O requisito fundamental do Salvador precisa ser a sua total santidade e sua total humanidade. Em primeiro lugar, o nosso Salvador precisa ser alguém totalmente santo porque um pecador não poderia salvar outros pecadores, da mesma forma que um cego não pode devolver a vista a outros cegos. Ele precisa ser totalmente livre de pecado para que possa resgatar pecadores. Isso nos leva a seguinte pergunta: existe algum ser humano que não tenha cometido pecado? E a resposta é obviamente não. É por esta causa que o Salvador só pode ser ninguém mais, ninguém menos que o próprio Deus. Somente ele comporta o caráter santo e puro que todos nós não possuímos. Por outro lado, temos que fazer outra pergunta: Como um Deus santo pode receber os pecados dos pecadores? E a resposta é, ele não pode. O salario do pecado é a morte, sendo assim, como Deus poderia morrer? Novamente a resposta é não, é impossível que Deus morra. A 51 únicaforma de Deus pagar o preço (morte) dos nossos pecados seria se ele fosse, além de Deus, totalmente humano. E é por esta razão que Deus decidiu encarnar-se. Em outras palavras, o próprio Deus, que não tem pecado, precisou encarnar-se, isto é, assumir uma natureza corpórea e somente com esta natureza corpórea ele poderia morrer pelos homens. Quem pode nos salvar? Alguém que fosse exclusivamente e perfeitamente Deus e homem. Não serviria se fosse apenas Deus ou apenas homem, mas necessariamente Deus e homem, como diriam os cristãos primitivos: “duas naturezas em uma só pessoa”. Quem é essa pessoa que tem duas naturezas, uma divina e outra humana? É o nosso senhor Jesus Cristo, ele é o único que pode ser nosso Salvador. É exatamente por isso que Jesus precisava nascer necessariamente de uma virgem. Como assim? Caso Jesus tivesse nascido da relação natural de um homem com outra mulher, qual seria o resultado? Um homem naturalmente pecador. Poderia um homem naturalmente pecador dar sua vida aos pecadores? Não, pois não seria santo e impecável. Portanto, Jesus é ao mesmo tempo Deus e homem porque recebeu sua plena humanidade de Maria, mas continuou sendo Deus porque a fecundação de sua mãe ocorreu por intermédio do Espírito Santo, não pela relação sexual normal. De uma forma mais concreta, biologicamente falando, Jesus foi trazido à existência por um óvulo humano (Maria) que foi fecundado por uma semente – espermatozoide – divina (Espírito Santo). Assim, em uma só pessoa Jesus possuí duas naturezas, a divina e humana. O nascimento virginal de Jesus não é uma opção, mas uma necessidade, já que não haveria possibilidade de Jesus ser Deus e homem ao mesmo tempo sem que o fosse por intermédio de um milagre. Veja só o relato de Lucas: 52 “Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus [...] Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lucas 1.31,34-35). 4. COMO ELE PODE NOS SALVAR? Não tendo mais dúvidas a respeito da competência para ser o nosso Salvador, precisamos perguntar agora: Como Jesus nos salva dos nossos pecados? Em primeiro lugar, por meio da sua obediência. Ele precisa passar por tudo o que os seres humanos passaram, mas sem pecar. É por isso que o apóstolo Paulo disse: “Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos” (Romanos 5.19). Por meio da obediência e perfeição moral de Cristo ele adquire, como homem, o status de homem perfeito e só assim pode ter a dignidade de ser nosso Salvador. Em segundo lugar, ao lado da obediência de Cristo, está o seu sacrifício. Paulo diz: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). E em outro lugar ele diz: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1 Coríntios 15.3). Pela sua obediência ele conquistou como homem o direito de ser o nosso Salvador, mas somente pela sua própria morte que ele, de fato, nos salva do pecado e da morte. Cristo, de fato, foi até a cruz pelos nossos pecados, ele morreu em nosso lugar. Portanto, a morte de Jesus foi um sacrifício substitutivo: quando ele recebeu a morte, nós pela fé, 53 recebemos o cancelamento da morte. Os teólogos chamam esse cancelamento da nossa pena de morte de justificação, isto é, diante de Deus somos declarados justos por meio do sangue de Jesus (Romanos 5.9) Como escreveu John Owen “a nossa morte morreu na morte de Cristo”17. Em terceiro lugar, por meio da sua ressurreição. Se na cruz Jesus cancelou a necessidade da nossa morte, em sua ressurreição ao terceiro dia ele nos deu o direito e possibilidade de vivermos uma nova vida, para sempre. Note como Paulo resume esse conceito: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Romanos 6.4). Ele morreu para cancelar a nossa morte e ressuscitou para nos devolver a verdadeira vida. É por isso que a obediência de Cristo, sua morte e ressurreição são tão essenciais para a fé cristã, ao passo que sem essas três coisas, não existe fé cristã genuína, como diz Paulo: “se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé [...] E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Coríntios 15.14, 17-19). A LINGUAGEM COMERCIAL DA SALVAÇÃO Você irá perceber que ao longo de sua leitura bíblica que existem várias maneiras de falar a respeito de nossa salvação. Além da linguagem jurídica da salvação (justificação, substituição, condenação, sentença etc.) que já vimos acima, há também uma linguagem “comercial” no Novo 17 OWEN, John. Por quem Cristo morreu? São Paulo: PES. 54 Testamento, Cristo nos “comprou” com o seu sangue e nos libertou do império de Satanás. Isso tudo está em Colossenses 1.13-14: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”. Vamos analisar isso com mais profundidade. O texto deixa claro que Cristo nos libertou do reino das trevas e nos transportou para o reino do seu amor. Esse ato de salvação se chama redenção. Redenção significa, literalmente, “comprar alguém de volta”. Quando uma nação perdia a guerra para outra, os guerreiros perdedores tornavam-se prisioneiros e escravos dos inimigos vencedores. Como alguém poderia ficar livre desta escravidão? Era possível desde que alguém da própria família da pessoa, que fosse livre, comprasse-o de volta para o seu país. Em outras palavras, para haver libertação, essa pessoa tinha que ser: 1. Livre; 2. Parente da pessoa; 3. Ter os recursos; 4. Vontade. O que isso tem a ver com Cristo e nós pecadores? Nós estávamos presos e escravizados pelo reino do pecado e pelo diabo. Não podíamos alcançar a liberdade por nós mesmos. Porém, Jesus Cristo, que é totalmente livre de pecado, nos adotou para Deus Pai, pagando o preço dos nossos pecados, por sua própria vontade. O nosso salário era a morte, por isso ele nos comprou de volta, morrendo na cruz. Suas feridas ganharam a nossa cura. Sua tristeza, a nossa alegria. Sua morte, a nossa vida. Chamamos a morte de Cristo por nós de “sacrifício substitutivo”, pois o Salvador nos substituiu na cruz: a morte que era para ser nossa, Deus depositou na conta dele, e a vida que era para ser dele, Deus creditou em nós. Assim, Cristo nos liberta do reino das trevas e nos compra de volta para o reino do seu amor. Isso é Redenção. Ninguém pode ser realmente livre nesta vida sem receber a liberdade de Jesus Cristo. 55 5. QUAIS SÃO OS RESULTADOS PRÁTICOS DA SALVAÇÃO? Quando qualquer pecador se aproxima de Jesus, arrependendo dos seus pecados e depositando inteiramente sua fé nele, as coisas começam a mudar dentre dele. Quando não apenas entendemos, mas cremos de todo o coração na morte e ressurreição de Jesus, imediatamente entramos num processo de mortificação da nossa velha natureza e nascimento da nova. Quais foram as áreas de nossa vida distorcidas pelo pecado? 1. A nossa relação com Deus foi quebrada; 2. Nossa relação com o próximo foi quebrada; 3. Nossa relação com o mundo foi quebrada; 4. Nossa relação com a vida eterna
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