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Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli Autores: Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 19 de Abril de 2021 35881692373 - Batista Lima Souza Sumário 1 – Considerações Gerais ......................................................................................... 2 2 – Introdução ......................................................................................................... 2 3 – A Interação da Criminologia com outras Ciências ............................................... 4 3.1 – A criminologia c/c ciência penal ................................................................................... 7 3.2 – A Criminologia c/c a Psicanálise ................................................................................. 14 4 – Delinquentes por sentimento de culpa ............................................................. 17 5 – Delinquentes que se creem justificados de seus atos ....................................... 18 6 – Delinquentes porque não desenvolveram metas nem inibições morais ........... 20 7 – Síndromes criminológicas pensadas a partir da psicanálise .............................. 21 ▪ Vitimologia ................................................................................................................................................ 22 ▪ Vitimização ................................................................................................................................................ 25 7.1 – Síndrome da Barbie .................................................................................................... 28 7.2 – Síndrome da Mulher de Potifar .................................................................................. 29 Destaques à Legislação e Jurisprudência ............................................................... 31 Resumo ................................................................................................................. 42 Considerações Finais .............................................................................................. 52 Questões Comentadas ........................................................................................... 53 Lista de Questões .................................................................................................. 62 Gabarito ............................................................................................................................... 68 Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 2 68 NOÇÕES INICIAIS SOBRE PSICOPATIA E PSICANÁLISE 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS Trabalharemos na aula de hoje as Noções iniciais de Psicologia e Psicanálise. Destaque-se que nossas aulas são fundamentadas em várias doutrinas modernas e consagradas. O nível teórico do nosso material exige uma bibliografia robusta. Por esta razão, ao longo desta aula utilizaremos inúmeras citações de doutrinadores consagrados. Dentre eles, destacamos em especial as bibliografias do Mestre JUAN PABLO MOLLO, traduzido por Yellbin Morete Garcia. Além disso, também foram fontes especiais de consultas as obras do Prof. e Mestre, Eduardo Viana e também do Mestre José Cesar Naves de Lima Júnior. Nos apoiaremos também em doutrinas mais resumidas como a dos Professores Eduardo Fontes, Henrique Hoffmann, Natacha Alves de Oliveira, além da clássica e moderna doutrina escrita por Christiano Gonzaga, entre outros doutrinadores. Isso é feito com propósito único: trazer a vocês as diversas correntes existentes além dos posicionamentos adotados pelas Bancas Examinadoras (que podem ser divergentes). O estudo dessa parte é totalmente teórico e conceitual, afinal, são diversas as correntes de pensamentos que, ao longo da História, moldaram a Criminologia, a Psicologia e o próprio Direito. Portanto, aproveite o curso e atente-se aos destaques. As provas de Carreiras Jurídicas cobram exaustivamente posicionamentos doutrinários. 2 – INTRODUÇÃO Guerreiros, Uma das grandes discussões que ainda prevalece no ramo da Criminologia é sua interação com os outros ramos das ciências do saber. Polêmicas à parte, não se pode desprezar que essa interação é real e que a Criminologia possui íntima relação com outros grandes campos de investigação, como por exemplo, as ciências criminais e também com a Psicanálise. Veremos neste módulo que a aplicação das ciências criminais somada à Criminologia funciona como um tripé que produz inúmeros impactos no mundo legislativo – foi o que aconteceu em nosso Código Penal. Demonstraremos esses impactos nas alterações feitas Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 3 68 na reforma penal de 1984, tendo como principal justificativa aplicação conjunta da tríplice: Direito Penal, Política Criminal e, sobretudo, o estudo da Criminologia. Obviamente, isso não é tudo. Outra ligação imprescindível da Criminologia com a ciência do saber que merece destaque é sua ligação com o comportamento humano, diga-se de passagem, com a Psicanálise. É, com toda certeza, uma conditio sine qua no, considerando as inúmeras síndromes que são estudadas pela Criminologia, mas que foram inicialmente pensadas na Psicanálise. É que a Psicanálise possibilita que o investigador visite as entranhas da mente criminosa sendo possível que, a partir disso, entenda as motivações que cercam o crime e, principalmente, as vontades que estão sendo satisfeitas. A partir dessas informações, pode a psicanálise desvendar inúmeras questões relacionadas a criminalidade. Noutro giro, a Criminologia, ao contrário do Direito Penal, é mais ampla e menos afeta à rigidez da dogmática penal, permitindo-se uma exploração mais livre de vários fenômenos criminosos. No Direito Penal, como se vê dos estudos básicos de qualquer doutrina, a análise é fechada em três categorias imutáveis para a imposição final de uma sanção, quais sejam: fato típico, antijurídico e culpável. Nada pode ser ampliado fora desses limites sob pena de violar o já citado princípio da legalidade e toda a estática dogmática penal. De outro lado, a Criminologia permite uma gama infindável de atuação em vários outros ramos dos saberes, notadamente a Psicanálise1. No cenário da Criminologia nacional, Salo de Carvalho2, destaca: “A Criminologia, porém, em decorrência da fragmentação interna e do desenvolvimento de inúmeros discursos com matrizes epistemológicas distintas (v.g. Antropologia, Sociologia, Psicologia, Psiquiatria, Psicanálise), diferente do Direito Penal, não logrou delimitar unidade de investigação. A pluralidade de discursos criminológicos, com a consequente diversidade de objetos e de técnicas de pesquisa, tornou ilimitadas as possibilidades de exploração, podendo voltar sua atenção ao criminoso, à vítima, à criminalidade, à criminalização, à atuação das agências de punitividade, aos desvios não criminalizados e, inclusive, ao delito e ao próprio discurso dogmático”. Note que a Criminologia trabalha de forma livre no estudo de seus objetos, porém adota a Psicanálise como referente influente para seu método de estudo, uma vez que ela proporciona uma análise crítica e sem amarras dogmáticas aos mais variados fenômenos criminosos, ofertando, inclusive, inúmeras síndromes que podem facilmente ter aplicação no estudo do criminoso, como exemplo: Delinquentes por sentimento de culpa, 1 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. SãoPaulo: Editora Saraiva. 2018. p. 26. 2 CARVALHO, Salo de. Antimanual de Criminologia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 46-4. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 4 68 Delinquentes justificados, Delinquentes por ausência de metas ou inibições morais, Síndrome da Mulher de Potifar, Síndrome da Barbie etc. É o que veremos no decorrer da aula de hoje. Vamos lá! 3 – A INTERAÇÃO DA CRIMINOLOGIA COM OUTRAS CIÊNCIAS Guerreiros, Alguns pontos relacionados à disciplina da Criminologia ainda são muito controvertidos na doutrina, como a Vitimologia e as funções da Criminologia, por exemplo. Além disso, outra atual e principal controvérsia sobre a Criminologia, versa sobre as disciplinas que compõem ou não o campo da Criminologia e sua interdisciplinaridade. No tocante à Vitimologia, como pode ser conferido no capítulo específico, não se questiona a sua pertinência à Criminologia, mas sim o seu maior ou menor grau de autonomia no seio daquela. Já em relação às polêmicas relacionadas às funções da Criminologia, tem-se uma posição mais fundamentada que vai dizer que a função prioritária da Criminologia é apontar um âmago de conhecimentos não apenas seguro, mas também fundamentado sobre seus objetos de estudo, quais sejam: o crime, criminoso, vítima e o controle social. Assim, após o condensar desse âmago de pensamentos, a Criminologia, é capaz de fornecer um diagnóstico mais real sobre o fato criminal, ofertando respostas seguras para a solução dos problemas indicados. Não é demais destacar que todo esse conjunto de respostas ofertado pela Criminologia é resultado de um método interdisciplinar e empírico, já que o estudo concreto sobre o fenômeno social só pode ser alcançado se feito a partir da dimensão do problema. Por outro lado, a moderna doutrina vai dizer que, a Criminologia, tem tríplice função. Neste sentido, posicionam-se Luiz Flávio Gomes e García-Pablos de Molina afirmando que a Criminologia, é fundamentada em: i. Explicar e prevenir o crime; ii. Intervir na pessoa do infrator; e iii. Avaliar os diferentes modelos de resposta ao crime. Sobre a primeira função, esta é implícita quando se analisa o crime numa perspectiva sociológica, conforme visto acima, sendo a prevenção a forma como ele será evitado. Em relação à segunda função, é especial, pois atua diretamente na pessoa do delinquente, podendo neutralizá-lo, reprimi-lo ou ressocializá-lo. Alguns doutrinadores vão afirmar que, Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 5 68 esta segunda função, proporciona o estudo da prevenção especial da pena, apontada em Direito Penal, mas com enfoque na disciplina de Criminologia. Não é demais lembrá-lo que, nesses casos, há a prevenção especial que pode ter efeitos positivos quando busca a reinserção do criminoso no seio social - fenômeno da ressocialização -, e efeitos negativos, quando apenas neutraliza o criminoso, colocando-o numa prisão, por exemplo, com a finalidade apenas de evitar novos crimes. Finalmente, na terceira função, os modelos de reação ao crime são apontados como aqueles que, na análise criminológica, são eficazes para evitar ou parar ou reduzir o nascimento da delinquência. Finalmente e, de forma resumida, em relação à divergência sobre as disciplinas que compõem ou não o campo da Criminologia, podemos destacar duas concepções sobre o tema. De um lado, tem-se um entendimento amplo sobre o referido sistema, patrocinado pela Escola Austríaca também conhecida como enciclopédica. Para esta corrente, pertencem à Criminologia todas as disciplinas que se ocupam do estudo da realidade criminal em suas diversas fases ou momentos, tanto no estritamente processual, como no político- preventivo ou no repressivo. (MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia – Introdução a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, 1997. p. 39). Noutras palavras, significa dizer que a posição enciclopédica, em virtude do próprio nome, aceita muitas disciplinas como uma extensão da Criminologia, sendo que, neste caso não há uma autonomia daquelas em relação a esta. De outro lado, a ideia estrita prevalece. Ao contrário do que afirmam os defensores da Escola Austríaca, para a tese estrita algumas disciplinas devem ficar excluídas, em especial, ascendem maiores polêmicas as disciplinas de Penologia, a Criminalística, e a Profilaxia. Isso significa que, para esta tese, há uma autonomia das referidas disciplinas em relação à Criminologia. ▪ Quais disciplinas integram o campo da Criminologia? Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 6 68 ▪ E agora Bilynskyj, em prova, qual posicionamento devo adotar? Considerando a existência consolidada de duas vertentes sobre o tema, caso o tema seja explorado em eventual questão dissertativa, o ideal é que o candidato demonstre ambos os posicionamentos do sistema em vigor. Assim, ficará demonstrado o domínio sobre o assunto. Neste sentido, sobre a interdisciplinaridade, não é demais esclarecer que a Criminologia se relaciona com várias áreas do saber, é o que prevalece, portanto é sim INTERDISCIPLINAR. Pode-se dizer que isto é resultado da interação nas várias soluções propostas para problemas sociais que surgem da criminalidade. Que fique claro! Não se busca a multidisciplinaridade: - reunião de vários conhecimentos que, embora se encontrem, não guardam reciprocidade de informações. Ao contrário, busca-se na Criminologia a troca de informações e de saberes entre as várias ciências existentes, sem desprezar qualquer que seja a ciência. São exemplos das ciências aproveitáveis recorrentemente ao campo da Criminologia: Escola Austríaca/ Enciclopédica Pertencem à Criminologia todas as disciplinas que se ocupam do estudo da realidade criminal Ideia estrita Deve-se excluir do campo da Criminologia algumas disciplinas. Dentre elas, em especial, a penologia, a criminalística e a Profilaxia Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 7 68 Biologia Criminal, Sociologia Criminal, Direito Penal, Política Criminal, Psicanálise etc. Vale dizer que a finalidade precípua é oferecer resposta adequada ao fenômeno da criminalidade. 3.1 – A CRIMINOLOGIA C/C CIÊNCIA PENAL Muito se pergunta sobre a relação entre o Direito Penal, a Política Criminal e a Criminologia. Nas palavras de Christiano Gonzaga [Criminologia, 2018, p. 21]: “A Política Criminal é como se fosse um filtro das inúmeras soluções apresentadas pela Criminologia, de forma a escolher aquelas que sejam as mais viáveis em dado momento histórico e implementá-las legalmente, no combate à criminalidade. É a consubstanciação das experiências alcançadas pela Criminologia, ou seja, transformar pensamentos em realidades, escolhendo aquelas que sejam mais adequadas para aquele tipo de sociedade, permitindo-se a transformação social. Por meio da Política Criminal, os legisladores escolhem as soluções ofertadas pelos criminólogos e votam as leis penais, criando-se a regra social a ser seguida por todos, com o famosoefeito erga omnes. Assim, o processo de criminalização de uma conduta sempre irá passar pela Política Criminal, pois a escolha daquilo que vem a ser proibido deverá passar pelo crivo dos legisladores após uma longa maturação de pensamentos. Mais à frente, será tratado de forma especificada o processo de criminalização, que pode ser dividido em primário, secundário e terciário, com especial atenção para o fenômeno da criminalização primária que tem especial relevo para a atuação do legislador penal na elaboração das leis penais. Na mesma linha de pensamento, a transformação das ideias da Criminologia em realidade, isto é, o saber positivado, constitui o próprio Direito Penal. Esse é o resultado final da Criminologia, passando-se pela Política Criminal, que é a forma de se tornar lei aquilo que a Criminologia experimentou. Significa dizer que, de um lado, a Política Criminal é a resposta mais viável que os formadores de leis terão para aquele tipo de situação vivenciada e estudada pela Criminologia, enquanto o Direito Penal é estabelecido como um esboço de condutas que, de um lado, prescrevem determinadas teorias adotadas pelo legislador na Parte Geral, de outro, estabelece as condutas proibidas pelo ordenamento jurídico na Parte Especial, com a consequente aplicação de penas para quem descumpri-las. Não é demais lembrá-los que toda essa sistematização é feita sob o princípio da legalidade, isso significa que somente a lei ordinária federal é que pode tratar de matéria de Direito Penal. É o que estabelece a nossa Carta Magna, in verbis: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 8 68 I – Direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; Autores como Gomes e Molina3 diferenciam práticas entre a Criminologia, a Política Criminal e o Direito Penal, da seguinte forma: “A política criminal é uma disciplina que oferece aos poderes públicos as opções científicas concretas mais adequadas para controle do crime, de tal forma a servir de ponte eficaz entre o direito penal e a criminologia, facilitando a recepção das investigações empíricas e sua eventual transformação em preceitos normativos. Assim, a criminologia fornece o substrato empírico do sistema, seu fundamento científico. A política criminal, por seu turno, incumbe-se de transformar a experiência criminológica em opções e estratégias concretas assumíveis pelo legislador e pelos poderes públicos. O direito penal deve se encarregar de converter em proposições jurídicas, gerais e obrigatórias o saber criminológico esgrimido pela política criminal.” (Grifo nosso) Note que a Criminologia, a Política Criminal e o Direito Penal são vertentes das ciências criminais, sendo, portanto, indispensáveis para o completo e correto estudo da criminalidade. Resultado da aplicação conjunta desta aplicação tríplice do saber muito utilizado pela doutrina é o estudo do comportamento da vítima para fins de dosimetria de pena, por exemplo. É que, se para a Criminologia a vítima é relevante e indispensável, para o estudo do crime a Política Criminal recebe essa preocupação como razoável e, por isso, positiva o comportamento da vítima como algo relevante à dosimetria da pena, por exemplo. É o que ocorre no art. 59, do CP, in verbis: Fixação da pena Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. 3 MOLINA, Antonio García-Pablos de; GOMES, Luiz Flávio. Criminologia – Introdução a seus fundamentos teóricos. 2. ed. São Paulo: RT, 1997. p. 39 Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 9 68 O mesmo ocorreu com o arrependimento posterior, instituto que dá importância ao comportamento do criminoso que, se de forma voluntária reparar o dano que ele causou e, preenchendo outros requisitos, pode ter sua pena diminuída, é o que diz o art. 16 do CP: Arrependimento posterior (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. Perceba que um dos objetos de estudo da Criminologia neste caso (o comportamento do criminoso), foi considerado para criação do tipo penal. Com as atenuantes inominadas, ocorre algo similar. O Art. 66, CP diz que: Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Neste caso, conforme bem destaca o Mestre Christiano Gonzaga (Criminologia, 2018) acerca da atenuante inominada, deve ser feita uma análise mais pormenorizada, uma vez que as ideias previstas nos estudos da Criminologia foram muito bem destacadas para a sua concepção. É que, ao analisar os controles sociais formais, nota-se que o Estado censura inúmeras condutas desviantes, no entanto, ele mesmo cria criminosos ao omitir-se no provimento à sociedade de direitos sociais mínimos como aqueles previstos no rol do art. 6º da Constituição Federal de 1988: CAPÍTULO II DOS DIREITOS SOCIAIS Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Perceba que a ausência do Estado ou a sua omissão em relação a seus deveres, acaba por implicar no fenômeno do determinismo social¸ aquele cujo meio determina o homem. É a partir dessa realidade, por exemplo, que surge a teoria da coculpabilidade, delineada no art. 66 do CP, em que o Estado deve assumir sua parcela de culpa nos casos em que a pessoa entra para o mundo do crime por falta de opção. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 10 68 Zaffaroni alertou para um menor âmbito de autodeterminação por causa de fatores sociais, sendo possível falar numa maior vulnerabilidade por parte de pessoas que povoam os “grotões de pobreza’’. Tais pessoas, por serem mais vulneráveis às causas exógenas, deveriam fazer jus a algum tipo de benefício penal. Nasce, assim, a ideia de coculpabilidade intitulada por Zaffaroni em sua já citada obra, em que afirma que a sociedade deve arcar com a alta vulnerabilidade a que está exposta grande parcela da população. A coculpabilidade permitiria que o Estado-Juiz pudesse conceder algum tipo de benefício penal para os chamados “vulneráveis sociais”, sendo no Direito Penal brasileiro a aplicação da atenuante inominada do art. 66 do Código Penal a sua correta manifestação. Art. 66 - A penapoderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei. Em outras palavras, como o Estado-Executivo não conseguiu prover os direitos sociais citados acima (saúde, educação, moradia etc.), agora, o Estado-Juiz, ao aplicar a pena por algum tipo de infração penal cometida pelo vulnerável- delinquente, deverá arcar com sua parcela de culpa na prática da infração penal, daí o nome coculpabilidade remeter à ideia de concorrência de culpas entre delinquente e Estado-Executivo; este último assume a mea-culpa e, por meio do Estado-Juiz, aplica a atenuante do art. 66 do Código Penal. Deve ser lembrado que a expressão coculpabilidade aqui utilizada está referindo-se à medida de pena que será dividida entre Estado e criminoso, ou seja, culpabilidade não enquanto elemento do crime na visão tripartida ou analítica, mas sim àquela que incide na dosimetria da pena e está inserida no art. 59, caput, do CP, permitindo- se a adequação da pena de forma a compensar a ausência estatal na consecução dos direitos sociais básicos4. Fixação da pena Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível; 4 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 23. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 11 68 Perceba que é como se Estado estivesse assumindo a sua parcela de culpa na criação daquele criminoso e respondendo com ele, mas de forma a diminuir a reprimenda, pois impossível o Estado responder criminalmente por isso, então o próprio Estado aplica a atenuante como forma de dividir a responsabilidade (Christiano Gonzaga, 2018, p. 40). Guerreiros, mas não é só a aplicação conjunta da tríplice: Direito Penal, Política Criminal e Criminologia, que resultou em inserções de dispositivos no Código Penal que merece destaque. Merece menção o fato de alguns dispositivos terem sido retirados do nosso Código, como ocorreu com a retirada do sistema do duplo binário, que foi substituído pelo sistema vicariante, também chamado de alternativo, por influência do estudo da Criminologia. Ambos os sistemas versam sobre a aplicação de medida de segurança, em que, para este, o juiz aplica ao imputável uma sanção criminal e ao inimputável uma medida de segurança detentiva ou ainda um tratamento ambulatorial, na forma do art. 96 do CP: TÍTULO VI DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA Espécies de medidas de segurança Art. 96. As medidas de segurança são: I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial. Parágrafo único - Extinta a punibilidade, não se impõe medida de segurança nem subsiste a que tenha sido imposta. Enquanto para aquele prevalecia a penalidade dupla, ou seja, tanto a aplicação de medida de segurança, quanto a sanção criminal para o inimputável que cometesse fato típico e antijurídico. Vale lembrar que a culpabilidade não é considerada em casos de inimputável, daí porque, este não pratica o crime na acepção tripartida, mas bipartida do delito. Logo, mesmo se doente mental, ainda que recebesse uma medida de segurança e fosse se recuperando, teria de cumprir, em seguida, a sanção criminal determinada na sentença. Hoje, isso não é aplicável! Caso um agente inimputável cometa um latrocínio, por exemplo, este ficará internado, mas será posto em liberdade assim que reestabelecer sua saúde mental, já que no Brasil não se aceita pena perpétua. No caso destes sistemas, os estudos da Criminologia foram fatores determinantes para influenciar na modificação legislativa, pois apontaram para a desnecessidade de uma dupla imputação de pena e medida de segurança para o inimputável, uma vez que seria desumano tratar aquele que era doente mental ao tempo da ação ou omissão e não sabia o que estava fazendo de forma a equipará-lo ao imputável. Após o cumprimento de parte da Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 12 68 medida de segurança, estando restabelecido, ele não se lembrará do que fez e a pena criminal cairia no vazio e não teria nenhum efeito de prevenção criminal, o que não se coaduna com o atual sistema penal. Daí a sua substituição pelo sistema vicariante ou alternativo em que se aplica a medida de segurança para o inimputável (isenção de pena) ou a pena para o imputável, na forma do art. 26, caput, do Código Penal, mas nunca as duas formas de reprimendas conjuntamente. (Christiano Gonzaga, 2018, p. 24). Vale alertar que, embora o sistema duplo binário tenha sido retirado do nosso Código Penal, resquícios do mesmo ainda podem ser encontrados no referido instrumento legislativo. A doutrina destaca que isso ocorre por uma omissão do legislador que fez a Reforma Penal de 1984 da Parte Geral e se esqueceu de alterar o artigo a seguir citado da Parte Especial. Como exemplo, podemos citar o crime mediante violência contra a pessoa, previsto no art. 352, do CP: Art. 352 – Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena – detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência. Ora, se o indivíduo está cumprindo uma medida de segurança e resolve fugir, após a sua recaptura ele será submetido à nova medida de segurança, mas não à pena de detenção de três meses a um ano prevista no preceito secundário do artigo em tela. Isso somente fazia- se possível quando o sistema era do duplo binário, em que o inimputável poderia receber ambas as espécies de reprimendas e cumpri-las sucessivamente. É em virtude dessa omissão do legislador que se diz que há um resquício do sistema já substituído na Reforma Penal de 1984, que, todavia, não tem aplicabilidade, uma vez que o inimputável receberá medida de segurança e ao imputável será determinada uma pena, sem que haja cumulatividade. Assim, infere-se que muitas foram as contribuições da Criminologia para a criação de artigos de lei que positivaram as suas ideias por meio do Direito Penal, em Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 13 68 harmoniosa interação entre outros dois ramos do conhecimento, quais sejam, o Direito Penal e a Política Criminal5. ▪ O Tema em provas CESPE / TJCE Juiz de Direito – 2018 A respeito da política criminal, da criminologia, da aplicação da lei penal e das funções da pena, julgue os itens subsequentes. I- Criminologia é a ciência que estuda o crime como fenômeno social e o criminoso como agente do ato ilícito, não se restringindo à análise da norma penal e seus efeitos, mas observando principalmente as causas que levam à delinquência, com o fim de possibilitar o aperfeiçoamento dogmáticodo sistema penal. II- A política criminal constitui a sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social da criminalidade, com o propósito de sugerir e orientar reformas na legislação positivada. III- O direito penal positivado no ordenamento penal brasileiro corrobora a teoria absoluta, porquanto consagra a ideia do caráter retributivo da sanção penal. IV- Considera-se o lugar da prática do crime aquele onde tenha ocorrido a ação ou omissão, e não onde se tenha produzido o seu resultado. Estão certos apenas os itens a. I e II. b. I e IV. c. II e III. d. I, III e IV. b. II, III e IV. Gabarito: A 5 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 24. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 14 68 3.2 – A CRIMINOLOGIA C/C A PSICANÁLISE Guerreiros, A Psicanálise aplicada ao universo delinquente iniciou-se de forma paulatina junto ao próprio movimento analítico. Alguns autores, ressaltam que, mais especificamente, após as Guerras Mundiais é que a Psicanálise começou a se desenhar. Nos artigos de Freud, vale lembrar que o crime sempre teve destaque. Por outro lado, a delinquência em si não era assunto explorado diretamente – há exceção de um artigo em que o tema foi específico, conforme observa a doutrina –. Importa que Freud tem grande relevância para o estudo deste tema. A Psicanálise pode ser demonstrada com firmeza através de seus artigos. Daí porque, cabe a nós, estudá-los. Um dos primeiros apontamentos de Freud envolve a diferença entre a Psicanálise do neurótico e a reeducação do jovem desemparado de um lado, e o delinquente impulsivo de outro. A distinção foi estabelecida a partir do prólogo à obra de Aichhorn Verwahrloste junged de 1925. Aichhorn teve grande prática com delinquentes juvenis e, sua prática inaugural, foi de grande relevância para a Psicanálise relacionada à terapêutica adolescente. E é exatamente isso que Freud releva em seus apontamentos, embora deixa claro seu posicionamento acerca da impossibilidade da trindade: educar, curar e governar. Noutro giro, numa concepção mais paradoxal, amparada na moral sexual cultural e o nervosismo moderno de 1908, Freud vai dizer que “Quem, em consequência de sua constituição insubmissa, não possa acompanhar esse sufoco do pulsional enfrentará a sociedade como ‘criminoso’, como ‘outlaw’ – fora da lei – toda vez que sua posição social e suas realçadas aptidões não lhe impor-se na condição de grande homem, de herói”6. É a partir dessa concepção não patológica do delinquente que surgem duas teorias de cunho sociológico: 1. Rebelde funcional. O delinquente com aptidões que o transformam em herói, resultando no rebelde funcional de Émile Durkheim ou o “tipo inovação” descrito por Robert Merton; 2. Adequação as teorias da reação social. Quando a compleição subjetiva do “fora da lei” é a mesma, embora existam duas versões: delinquente não herói ou grande homem herói, então, é o julgar do Outro social que determina seu lugar 6 MOLLO, Juan Pablo. Psicanálise e criminologia estudos sobre a delinquência. 1ª. Edição. 2ª tir.: abr./2016. Salvador: Editora JusPodivm, 2015. Pg.126. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 15 68 através do rótulo, adequando-se então as “teorias da reação social” ou de Labelling Approach. 3.2.1 – O rebelde funcional No primeiro caso, Juan Pablo vai dizer que o rebelde funcional não é delinquente absoluto. Nas palavras do autor (Juan Pablo Mollo, 2015, p. 14), o rebelde funcional é qualificado como tal pelas instituições porque questiona a divisão imposta ao trabalho e as desigualdades sociais que a acompanham. Assim também, a rebelião que instiga é funcional porque ilustra a falta de correspondência entre as capacidades individuais e a assunção de papéis sociais. O protótipo do criminoso herói que abre o caminho das mudanças é Sócrates: um homem que sustenta ideias ilegítimas que Durkheim denomina de “consciência coletiva”. Conforme direito ateniense, Sócrates era um delinquente e sua condenação foi justa; no entanto, para Durkheim é um herói que antecipa uma moral e uma fé nova – a liberdade de pensamento – que se faziam necessárias na Atenas daquela época. Em teoria e estruturas sociais, Merton apresenta o inovador como uma forma de adaptação antissocial a uma estrutura cultural como a norte-americana, no que se promovem imperativamente objetivos exitistas (Seria “elitistas”?) e de trunfo – o sonho americano – mas que distribuiu os meios de realização de forma desigual. Por outro lado, segundo Foucault, o criminoso herói aparece após o ano de 1840 no contexto burguês ou peno burguês junto à constituição de uma estética que faz Lacenaire o protótipo deste novo criminoso. O criminoso herói não é nem popular nem aristocrático, e sim um inimigo das classes pobres. Os pais de Lacenaire fracassaram nos negócios, mas ele foi bem-educado de acordo com os valores da burguesia: foi ao colégio, sabia falar, ler e escrever, era lúcido e inteligente e por isso possuía os recursos para exercer uma liderança. Na nova literatura policial, o criminoso é sempre inteligente e brinca com a polícia num plano de igualdade, já que o criminoso herói representa um novo interesse estético e literário do crime, ou um heroísmo estético do crime e, inclusive, uma metafísica do crime. 3.2.2 – O julgar do outro social determinando rótulos: teorias de reação social Contudo, se a compleição subjetiva do “fora da lei” é a mesma – embora existam duas versões: delinquentes (não herói) ou grande homem (herói) – então, o julgar do outro social que determina o seu lugar através do rótulo. Tal argumentação coincide com as chamadas “teorias de reação social” ou labelling approach. Segundo Howard Becker, nas primeiras Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 16 68 páginas de Outsiders (os de fora), para que um ato seja desviado depende simplesmente de alguém a quem se tem podido aplicar com êxito tal qualificação. Eis aqui um relativismo sociológico implícito – embora nunca puro, pois existem significados sociais impostos -, baseado em que, o atuar “fora da lei” não deve considerar-se uma propriedade inerente ao próprio agir ou à compleição psíquica do infrator, senão que é fabricado a partir das regras sociais que se sancionam desse modo. Da mesma forma, segundo Edwind Lemert, a desviação secundária (a primária surge em uma grande quantidade de contextos, é efeito de uma estigmatização social que serve de apoio à identidade desviada social. Em ambas as versões, o delinquente amoral e egoísta pode vir a ser um herói segundo o “etiquetamento” social, ou seja, o ato de matar pode ser julgado como um comportamento patriótico ou como um homicídio segundo a rotulação do contexto social. Sem embargo, à diferença da Psicanálise, os teóricos do Labbeling Aproach seguem a tradição dos estudos de George Mead, nos quais “o eu” é um produto social e, por conseguinte, a sua ação depende da maneira que os outros agem com relação a ele. O fenômeno do eu e suas identidades acentua o aspecto consciente Freud considera frágil e secundário diante do determinismo inconsciente (Juan Pablo Mollo, 2015, p. 15). Para Durkheim e Merton o delinquente inovador funcional éalguém que se revela contra a sociedade. De outro lado, para Becker e Lemert, teóricos do Labbeling Approach, o desviado é um produto da sociedade, e de certa forma uma “vítima” maltratada por um aparelho burocrático, cujo trabalho de corrigir é ineficaz. Não é exagero destacar que a análise freudiana sobre o indivíduo que age fora da lei é dupla e se aproxima, e muito, conceitualmente dos embasamentos sociológicos de Durkheim. É que ela também se opõe ao positivismo do progresso linear e a criminalidade patológica social e, ao mesmo tempo, supera a limitação etiológica ao envolver os efeitos da repressão social, por esta razão, nas palavras de Raul Zaffaroni, constitui um claro antecedente ou uma primeira expressão da Criminologia da reação social. Veremos a partir de agora as principais teorias freudianas sobre os delinquentes. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 17 68 4 – DELINQUENTES POR SENTIMENTO DE CULPA No campo da moral e, mais precisamente, na Psicanálise de Freud, a expressão “criminoso por sentimento de culpa” é um dos temas mais interessantes trazidos à baila pelo filósofo. Nas palavras de Freud, “O crime dá origem à subjetividade e à estrutura social, assim como, os dois tabus fundamentais do totemismo coincidem com os dois desejos reprimidos do complexo do Édipo”. Embora os campos da mente humana ainda não tenham sido completamente explorados, atribuindo-se, consequentemente, à outras áreas do saber os motivos que levam um indivíduo a cometer crime, é com base no aprofundamento da pesquisa ideia de culpa e alívio que Freud constatou que certos delinquentes praticam crimes a fim de satisfazer um sentimento de culpa. Após a prática da infração, o sentimento o persegue e somente cessa depois do cometimento da infração penal. Numa análise inicial, isso pode parecer loucura, mas não é, pois há pessoas que possuem a necessidade de cometer crimes para sentir-se vivo e também eliminar o sentimento preexistente de culpa. Psicanalistas e estudiosos, como o Professor Salo de Carvalho, relacionam a prática do crime ao fato de ser a conduta proibida e de que sua execução produzia profundo alívio na ordem psíquica. Christiano Gonzaga7 explica: Essa ideia de fazer o proibido está ligada ao subconsciente do ser humano, que é preparado desde a infância a fazer o correto, o que gera nele uma certa vontade de “quebrar as amarras” (sensação de alívio) e realizar aquilo que sempre lhe vedaram, no caso os pais e adultos. Assim, quando chega à adolescência ou até mesmo à idade adulta, ele é dono de si e pode romper com esses limites que lhe foram impostos. Existem muitos dogmas sociais que são assumidos publicamente, como fidelidade conjugal, respeito ao próximo e atuar sempre com ética nos negócios. Não obstante, a sensação de quebrar ou violar dogmas considerados imutáveis traz um poder para quem viola, pois ele se coloca acima do bem e do mal e trata as expectativas sociais como algo que deve ser útil a ele, não o 7 Op. cit., p. 25. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 18 68 contrário. Em algumas negociações do mundo corporativo, o objetivo está muitas vezes em subjugar o outro do que propriamente fazer um bom negócio, sendo praticamente uma competição entre pessoas para ver qual que irá sair ileso após violar o que fora acertado entre eles. Colocar-se acima do outro traz um sentimento de alívio e realização. Quanto à fidelidade conjugal, a vida de uma pessoa casada é praticamente um abandono da liberdade que se tinha quando solteira e passa a ser regida por regras rígidas de convivência, devendo o casal zelar pelo respeito ao próximo e viver para a família. Todavia, essa vida pode tornar-se monótona e transformar-se numa prisão para aqueles que não estão determinados a constituir uma família e viver até o final de suas vidas com a mesma pessoa. Em virtude disso, surgem situações de adultério que bem retratam o rompimento dos dogmas assumidos quando da constituição da família, conferindo certa liberdade e sensação de alívio para quem faz a violação. Vem à tona aquele sentimento de alívio, que antes fora precedido de um sentimento de culpa. Com a prática do proibido, rompe-se com aquele sentimento anterior de culpa e o agente ingressa numa fase de regozijo. Todavia, nessa impulsividade de praticar o proibido, pode-se incorrer em algumas condutas enquadradas no Código Penal, o que ensejará a prática de crime e consequente imposição de sanção criminal, merecendo destaque e análise por parte das mais variadas ciências criminais, ainda que a explicação da motivação do delito esteja na Psicanálise. Note, portanto, que, da mesma forma que ao infringir as regras sociais gera no delinquente a sensação de alívio, o cometimento da infração penal gera, do mesmo modo, influência na pessoa do delinquente. O que se busca é a violação de algo tido como errado ou proibido para afastar o sentimento de culpa, ainda que isso implique a aplicação de uma pena privativa de liberdade. O agente já tem a vontade de violar a norma penal, sendo isso parte dos seus pensamentos, ou seja, no iter criminis, a fase da cogitação já foi vencida. O que se almeja agora é passar para a fase do alívio e praticar logo a infração penal. (GONZAGA, 2018, p. 26) Daí porque, fala-se na atuação conjunta da Psicanálise com a Criminologia. É que aquela, possibilita a esta que uma ida às entranhas da mente criminosa para entender as motivações que cercam o crime e as vontades que estão sendo satisfeitas e, com tais informações, é possível desvendar inúmeras questões que gravitam a criminalidade. 5 – DELINQUENTES QUE SE CREEM JUSTIFICADOS DE SEUS ATOS Outro destaque de Freud diz respeito aos delinquentes que “creem justificados de seus atos”. Estes são apontados sob duas vertentes; 1. A do Amo Hegeliano e 2. A do que atua baseando-se em códigos – de prisão ou de rua. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza ==1bd1c7== 19 68 No que tange ao amo hegeliano apontada por Lacan, o delinquente é estudado a partir de uma ponte que vai desde a posição do amo até a ação espiritual do jovem que delinque ou jovem delinquente. Atualmente, Molina destaca que não é difícil situar o sujeito amo em sua posição de apostas das distintas bandeiras. Insígnias, religiões, terrorismos ou fundamentalismo políticos que a cada dia tem mais força. Sob a outra vertente, refere-se aos criminosos que atestam suas ações a partir de ideais delituosos baseados em códigos, estes podem ser “códigos da prisão” ou da “rua”. Conforme explica Molina (2015, p.38), desde esta perspectiva, à margem da legalidade jurídica, um assassinato pode funcionar como símbolo e exibição de um triunfo para o homicida. Com efeito, o criminoso que atua por códigos está imerso em uma legalidade grupal fora da convenção social e que ratifica seu delito. Isto explica, por exemplo, porque muitos delinquentes e criminosos que não se consideram responsáveis pelos seus atos frente às instâncias judiciais, a fim de evitar o castigo social, consideram-se sim dentro do grupo ao que pertencem, onde por exemplo, um homicídio começa a funcionar como um valor. Em reforço, é notório que esses códigos de conduta supõem, nos sujeitos que incorporam como organizadores,fundadores e como justificação do seu agir, um registro de norma e um sistema compartilhado de identificações, funcionando mais ou menos assim: Os grupos de delinquentes racionalizam sua posição no grupo desenvolvem uma justificação de sua atividade desviada, e tendem repudiar as regras morais convencionais. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 20 68 Não é demais lembrá-los que algumas teorias das “subculturas” consideram que os atos delituosos e a sua justificação não necessariamente supõem uma oposição direta aos valores do contrato social (MOLINA, 2015, p. 38). Freud, portanto, vai indicar um ponto de vista fundamentado a partir do positivismo social quando apresenta uma certa contracultura de viés revolucionário ao tomar partido pelos que se creem justificados de seus atos a partir dos que lutam contra a sociedade”. O positivismo social está no fato de o delinquente ser um ser antissocial cuja patologia mora no modo de justificação de seus atos desviados a partir da luta contra a sociedade contratual. 6 – DELINQUENTES PORQUE NÃO DESENVOLVERAM METAS NEM INIBIÇÕES MORAIS Uma das maiores descrições de Freud gravita em “aqueles que não desenvolveram metas nem inibições morais”. Embora tais descrições não localizem os indivíduos em nenhuma nosologia (parte da medicina que se dedica ao estudo e classificação das doenças) científica definida, o problema vai surgir, de fato, na adesão implícita aos pressupostos monistas do contrato social e a moral. É que, partindo do delinquente amoral como uma figura contrária à ordem simbólica, caminhando para um debate mais geral relacionado à época, chegaremos à mesma ideia amoral que se desbota junto ao senso de contrato social quando o Outro social se mostra cada vez mais inconsistente. Aqui vale assinalar uma consequência imediata do declínio social dos valores e da norma, por exemplo, tornando ainda mais difícil e incerta a ambígua caracterização do indivíduo amoral e a específica forma de delinquente por sentimento de culpa. Noutras palavras, é dizer que nem o crime, tampouco o criminoso são objetos que se possam conceber fora de sua referência sociológica. – Lacan, 1991, p. 118 Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 21 68 Daí porque, o declínio social da norma, ao tempo em que coloca em xeque o lugar da culpabilidade na subjetividade contemporânea, indaga de forma veemente a vigência dos delinquentes por sentimento de culpa. 7 – SÍNDROMES CRIMINOLÓGICAS PENSADAS A PARTIR DA PSICANÁLISE Guerreiros, Antes de adentrarmos ao tema das síndromes criminológicas que surgem a partir da psicanálise, é necessário que façamos uma breve remissão ao capítulo da Vitimologia para melhor compreensão sobre o tema. No campo da Vitimologia, disciplina que tem por objeto o estudo da vítima, de sua personalidade, de suas características, de suas relações com o delinquente e do papel que assumiu na gênese do delito8, inúmeras teorias foram desenvolvidas a fim de se verificar o comportamento da vítima na origem do crime e do criminoso. Daí atenção! Não se confunde Vitimologia com vitimização. 8 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 189. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 22 68 ▪ Vitimologia No que tange à Vitimologia, tema desenvolvido por Benjamin Mendelsohn, advogado e professor de Criminologia da Universidade Hebraica de Jerusalém que, em 1947, inúmeras podem ser as classificações que levam em conta a participação da vítima ou sua provocação no cometimento do crime. A. Classificações sobre o comportamento da vítima na origem do crime e do criminoso De acordo com o professor Benjamin Mendelsohn, há três (03) grupos principais de vítimas: Vitimologia Ciência que estuda o comportamento da vítima no surgimento do crime Vítima inocente Vítima provocadora Vítima Agressora Vitimização Própria condição de vítima diante da prática de uma infração penal. Vitimização Primária Vitimização Secundária Vitimização terciária Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 23 68 Para o Professor Christiano Gonzaga9: 1. As vítimas inocentes, ou ideais, são aquelas que não têm participação ou, se tiverem, será ínfima na produção do resultado. 2. A vítima provocadora é responsável pelo resultado e pode ser caracterizada como provocadora direta, imprudente, voluntária ou ignorante. 3. A vítima agressora pode ser considerada uma falsa vítima em razão de sua participação consciente, casos em que ela cria a vontade criminosa no agente, como os exemplos de legítima defesa. É a partir dessa classificação de Mendelsohn que as vítimas podem ser consideradas como: 9 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 113. R es p o n sa b il id ad e d a v ít im a n a o ri ge m d o c ri m e Vítima inocente ou ideal Vítima provocadora Vítima agressora Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 24 68 ✓ Completamente inocente ou chamada de vítima ideal; neste caso, a vítima não tem nenhuma participação no crime, sendo o criminoso o único culpado ou responsável, como em um roubo, por exemplo. ✓ Menos culpada que o criminoso também conhecida como vítima por ignorância; enquadram-se nesta terminologia aquelas vítimas que contribuem de alguma forma para que ocorra o resultado danoso. Como exemplo, podemos citar a vítima que frequenta locais perigosos ou ainda aquelas que expõem a risco seus objetos de valor em carros ou de qualquer outro modo. ✓ Tão culpada quanto o criminoso ou provocadoras; são assim consideradas pois o crime, sem a participação dela não ocorre. Exemplo, aborto ou rixa. ✓ Mais culpada que o criminoso; São casos em que a vítima foi a maior responsável pela conduta do que o próprio autor. Exemplo muito comum ocorre em homicídio privilegiado após a injusta provocação da vítima. ✓ Única culpada; Casos em que a vítima se constitui a única culpada pelo evento criminoso, seja por seu comportamento negligente, seja pelo comportamento imprudente. Ex. sujeito que, muito alcoolizado, atravessa BR movimentada é atropelado e vem a óbito. Ainda sobre o tema, Hans von Hentig optou pela seguinte classificação vitimológica: ✓ Criminoso-vítima-criminoso (sucessivamente); trata-se do reincidente que é hostilizado no cárcere, vindo a delinquir novamente pela repulsa social que encontra fora da cadeia. É o que ocorre na teoria do Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373- Batista Lima Souza 25 68 etiquetamento, notadamente em razão do estigma que os controles sociais formais e informais empregam na relação sociedade e criminoso10; ✓ Criminoso-vítima-criminoso (simultaneamente); comum ocorrer quando a prática do crime se justifica pela condição de vítima, como nos casos em que o usuário de drogas faz a mercancia ilícita de entorpecentes para sustentar o seu próprio vício. Ele é vítima do traficante, mas também é autor do tráfico para manter o seu próprio vício11; ✓ Criminoso-vítima (imprevisível); Situações em que há o retalhamento pela prática do crime por parte do criminoso, que, de autor, passa a vítima, por exemplo, linchamento pela prática de algum crime grave, podendo ser citado o homicídio do próprio filho. Também pode ser constatado em caso de alcoolismo quando o alcoólatra, com seu comportamento danoso e agressivo, cria no outro a vontade criminosa. Trata-se de tema extremamente relevante, a relação criminoso e vítima, sobretudo quando esta interage no fato típico, de forma que a análise de seu perfil psicológico deve ser fator considerável no desate judicial do delito12. Perceba que todos os temas são apontamentos de extrema relevância entre a relação criminoso e vítima, sobretudo quando esta interage no fato típico, de forma que a análise de seu perfil psicológico, deve ser fator considerável no desate judicial do delito. ▪ Vitimização Por outro lado, é válido destacar que a vitimização é o principal enfoque para a Criminologia. A. Classificações da vitimização De forma resumida, a vitimização que trata da própria condição da vítima diante da prática de uma infração penal, consubstancia-se nas espécies: 10 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 113. 11 Op. cit. 12 Op. cit. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 26 68 Para o Professor Christiano Gonzaga13: 1. A primeira espécie de vitimização, chamada de primária, decorre dos efeitos do crime na vítima, ou seja, os danos que ele causa nela, como físicos, psíquicos e materiais. Quando se tem a prática de um crime, como um estupro, a vítima sofre uma gama de danos em decorrência desse único ato. Há o abalo psíquico, a violação ao seu próprio bem jurídico, consubstanciado na dignidade sexual, e até mesmo danos de ordem material, uma vez que a vítima, em muitas vezes, irá necessitar de um acompanhamento psicológico para afastar os fantasmas daquele dia fatídico em que ela foi violentada, tendo gastos com psicólogo. A vitimização primária seria o primeiro contato da vítima com o crime, em que ela sofre a violação direta ao seu bem jurídico, que pode ser a dignidade sexual, como exemplo no crime de estupro, e o patrimônio, nos casos de roubo. Quando a vítima é forçada a manter relação sexual com outra pessoa, ocorre o crime de estupro e o bem jurídico - dignidade sexual - é destroçado. Diante disso, desencadeia uma série de violações ao patrimônio da pessoa, de ordem material, moral, física, entre outras. Essa espécie de violação traz para a vítima os mais variados transtornos e faz-se presente em 13 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 114. V it im iz aç ão Primária Secundária Terciária Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 27 68 qualquer crime, pois todo tipo penal tutela um determinado bem jurídico. É mais comum as vitimizações serem percebidas em crimes como os citados acima (estupro e roubo), pois há um ataque severo ao bem jurídico tutelado e as consequências nas demais vitimizações são mais nítidas, como se verá a seguir. 2. A vitimização secundária, notoriamente sentida pela atuação das instituições estatais diante de um crime, ocorre quando a vítima vai procurar ajuda estatal diante da prática da infração penal sofrida por ela. Ao chegar à uma Delegacia de Polícia em que os agentes públicos não possuem o necessário preparo para o seu acolhimento, ela é novamente vitimizada, o que é chamado também de sobrevitimização. Toma-se por exemplo o crime de estupro, em que a vítima que acabou de sofrer esse ataque brutal ao seu bem jurídico vai até uma Autoridade Policial pedir ajuda. Todavia, como se estivesse lidando com mais um crime qualquer, manda que ela vá até o Instituto Médico-Legal fazer o exame de corpo de delito para comprovar a prática do crime em tela. Muitas vezes são Delegados de Polícia que não entendem a natureza feminina que fora despedaçada e, em vez de fazer uma acolhida inicial, tratam a vítima como um pedaço de carne. 3. Finalmente, nas palavras do Professor14, a vitimização terciária: consiste no isolamento que a sociedade impõe à vítima diante da prática do crime a que ela foi submetida, como o estupro. Nesse tipo de crime, é comum a vítima ser tratada com preconceito e ser alijada do convívio social, uma vez que muitas pessoas tendem a comentar o crime ocorrido e chegam até mesmo atribuir parcela de culpa à vítima. A fim de ilustrar tal espécie de vitimização, cumpre ressaltar o recente episódio ocorrido no Rio de Janeiro, em que uma garota foi vítima do chamado “estupro coletivo”, onde vários homens revezaram entre si durante alguns dias mantendo relações sexuais forçadas com ela, em típico caso de estupro. Após o ocorrido, foi comentário geral nas redes sociais e na comunidade em que a vítima morava de que ela teria sido parcialmente culpada pelo ocorrido, uma vez que já teria feito tal prática anteriormente e não tinha reclamado na Polícia. Ademais, ela também mantinha relacionamento amoroso com um dos envolvidos e de forma sistemática frequentava bailes funk em que tal prática era corriqueira. Ora, esse é o exemplo claro de que a sociedade vitimiza a pessoa, atribuindo a ela a motivação do crime, pois isso já teria sido feito anteriormente com o consentimento dela e agora só pelo fato de ter vazado um vídeo nas redes sociais com cenas de sexo explícito com ela nua era que teria motivado o acionamento dos controles sociais formais (Polícia, Ministério Público e Poder Judiciário). Chega a ser aberrante a colocação de que se a vítima já teria consentido em prática similar no passado ela tinha que aguentar calada a nova situação idêntica. É o total desprezo pela condição humana e relegar a 14 Op. cit. GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 118. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 28 68 segundo plano a dignidade sexual da vítima, que pode muito bem escolher fazer orgias consentidas num dado momento e, posteriormente, não mais aceitar práticas similares. Pensar de forma diferente seria coisificar a pessoa da mulher, tratando-a sem ser sujeito de direito. É sob esse raciocínio que surge à baila famosas síndromes da Criminologia que foram pensadas a partir da Psicanálise, como por exemplo, a Síndrome da Barbie, que bem sintetiza a coisificação da mulher, além da Síndrome da Mulher de Potifar que tem muito impacto no campo da produção probatória na sistemática processual penal. Como demonstraremos a seguir, é possível notar que tais comportamentos vitimológicos, por óbvio, não foram analisados apenas sobas vertentes da Criminologia, mas especialmente, da combinação desta com a Psicanálise. Estes são os exemplos da Criminologia combinada com a Psicanálise no tema da Vitimologia que veremos a seguir. 7.1 – SÍNDROME DA BARBIE A Síndrome da Barbie apresenta a visão social da mulher sob a perspectiva do objeto de desejo. Noutras palavras, nesta síndrome, a mulher é apresentada como um objeto de desejo tal qual uma boneca, daí porque, a remissão à Barbie. Christiano Gonzaga,15 explica: Sabe-se que desde cedo muitas crianças são criadas como se fossem bonecas dos pais, sem vontade própria e sempre visando à subserviência ao futuro marido. Pelos simples brinquedos que os pais dão às meninas isso é claramente percebido, como aqueles utilizados para fazer comida (fogões de plástico que representam uma cozinha), estojos de maquiagem para cuidar do visual (ideia de fazer a 15 Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 29 68 mulher ser objeto de desejo pela beleza) e, principalmente, a boneca Barbie, em que a criança irá pentear, vestir roupa e desfilar como se fosse uma modelo. Tudo isso gera a perspectiva de uma preparação futura para ser objeto, e não sujeito de direitos. Perceba, portanto, que a Síndrome da Barbie retira a imagem da mulher independente, dona de si e de seu próprio corpo, fundamentando então, para o criminoso, crimes como o já citado estupro coletivo, em que a vítima somente reclamou do ocorrido quando o fato ocorrera uma segunda vez, posto que, da primeira vez, houve o medo de alertar as autoridades locais, uma vez que ela já se acostumou e aceitou a sua condição de objeto nas mãos dos homens, sendo quase que uma obrigação implícita servir aos caprichos de seus algozes16. 7.2 – SÍNDROME DA MULHER DE POTIFAR Noutro giro, a Síndrome da mulher de Potifar também é uma das síndromes da Criminologia estudada em conjunto com a Psicanálise com implicações no campo da produção probatória na sistemática processual penal. Vale dizer que a síndrome faz referência ao capítulo Bíblico que conta a história de José, filho de Jacó, que desperta a inveja de seus irmãos que o vendem como escravo, no Egito, ao Capitão Potifar. Ocorre que ainda assim, José prosperou, tornando-se alvo de um desejo lascivo da mulher de Potifar, como relata em Genesis (39:7 - vide história completa no capítulo de “destaques a legislação e jurisprudência”). Ao recusar atender aos anseios da mulher, a mulher reporta à Potifar, acusando falsamente José de tê-la violentado sexualmente, fato que o condenou ao cárcere. É a partir deste capítulo bíblico que a síndrome é baseada. Para Christiano Gonzaga: A análise desse episódio demonstra que houve uma prova forjada de um suposto crime de estupro. Trazendo o fato para os dias atuais e abordando o Código Penal, pode-se dizer que, quando alguém imputa falsamente um crime a outro gerando um procedimento ou processo penal contra ele, tem-se o crime de denunciação caluniosa, previsto no art. 339 do CP. 16 Op. cit. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 30 68 Em reforço: Denunciação caluniosa Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. Nas palavras de Cleber Masson, para análise da verossimilhança das palavras da vítima, especialmente nos crimes sexuais, a Criminologia desenvolveu a teoria da “síndrome da mulher de Potifar”, que consistente no ato de acusar alguém falsamente pelo fato de ter sido rejeitada, como na hipótese em que uma mulher abandonada por um homem vem a imputar a ele, inveridicamente, algum crime de estupro (MASSON, 2013, p. 27). ▪ O tema em provas CESPE/MPE GO Promotor de Justiça Substituto - 2014 O Procurador de Justiça Rogério Greco preconiza que “no que diz respeito às ciências criminais propriamente ditas, serve a criminologia como mais um instrumento de análise do comportamento delitivo, das suas origens, dos motivos pelos quais se delinque, quem determina o que se punir, quando punir, como punir, bem como se pretende, com ela, buscar soluções que evitem ou mesmo diminuam o cometimento das infrações penais”. No contexto da seara criminológica, aponte a alternativa incorreta: a. Stalking é um termo que designa a forma de violência na qual o sujeito ativo invade repetidamente a esfera de privacidade da vítima, empregando táticas de perseguição e meios diversos de atuação, resultando dano à sua integridade psicológica e emocional, restrição à sua liberdade de locomoção ou lesão à sua reputação, configurando, deste modo, uma modalidade de assédio moral. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 31 68 b. A teoria de anomia, a teoria da associação diferencial e a escola de Chicago são consideras teorias de consenso. c. A figura criminológica conhecida como “síndrome da mulher de potifar” pode ser utilizada como técnica de aferição da credibilidade da palavra da vítima nos crimes de conotação sexual. d. A “síndrome de Londres” se evidencia quando a vítima, como instinto defensivo, passa a apresentar um comportamento excessivamente lamurioso, demasiadamente submisso e com pedido contínuo de misericórdia. Gabarito: D DESTAQUES À LEGISLAÇÃO E JURISPRUDÊNCIA ▪ Competências Art. 21. Compete à União: I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; II - declarar a guerra e celebrar a paz; III - assegurar a defesa nacional; IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico; VII - emitir moeda; VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada; IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 32 68 XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamentoenergético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária; d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão; XVII - conceder anistia; XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação; XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 33 68 a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional; b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa. Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II - desapropriação; III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V - serviço postal; VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII - comércio exterior e interestadual; IX - diretrizes da política nacional de transportes; X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI - trânsito e transporte; XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV - populações indígenas; XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 34 68 XX - sistemas de consórcios e sorteios; XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares; XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; XXIII - seguridade social; XXIV - diretrizes e bases da educação nacional; XXV - registros públicos; XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza; XXVII - normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III; XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional; XXIX - propaganda comercial. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; IX - promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; X - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 11 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 35 68 XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; XII - estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II - orçamento; III - juntas comerciais; IV - custas dos serviços forenses; V - produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da
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