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Alterações musculoesqueléticas na gestação

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O período gestacional é conhecido por provocar diversas alterações 
físicas e biomecânicas no corpo da mulher. Parte dessas alterações 
advém do aumento do útero gravídico, das mamas, pelo acúmulo 
de líquidos, aumento da circunferência abdominal e ganho de peso. 
Essas alterações fisiológicas podem gerar repercussões biomecânicas 
que alteram desde o centro de gravidade até o desempenho da 
marcha – e por isso afeta diretamente as atividades de vida diária. 
 
FROUXIDÃO LIGAMENTAR 
A RELAXINA é um hormônio polipeptídio 
pertencente à superfamília 
insulina/relaxina. Por volta da 12ª 
semana gestacional começa a ser 
secretada pelo corpo lúteo, reduzindo 
esses valores a partir da 17ª semana, 
onde se mantém estável em até 50% do 
valor de pico registrado. 
A relaxina age diretamente sobre o tecido 
conjuntivo, ativando fibroblastos na 
síntese de colágeno e aumentando a água 
no tecido – promovendo assim a 
frouxidão ligamentar. 
Em virtude dessa frouxidão ocorre um 
aumento da motilidade das articulações 
pélvicas, principalmente as sacroilíacas, 
sacrococcígeas e púbicas. 
 
CONTROLE POSTURAL E EQUILIBRIO 
O controle postural é a capacidade de se 
manter, atingir ou restaurar o equilíbrio, 
promovendo para isso alterações 
posturais. Durante a gestação o corpo das 
gestantes sofre alterações 
musculoesqueléticas que alteram o 
centro de gravidade, exigindo mais das 
estruturas envolvidas na manutenção do 
equilíbrio. 
Para promover esse controle postural 
algumas adaptações são percebidas 
durante a gestação: 
• aumento da base de apoio com 
afastamento dos pés, em 
ortostáse ou sedestação. 
• Maior estabilidade dinâmica e 
menor oscilação corporal no 
terceiro trimestre, resultado de 
uma maior rigidez corporal, o que 
pode aumentar o risco de quedas. 
• Diminuição do equilíbrio estático 
e consecutivo aumento da 
oscilação anteroposterior, 
principalmente no terceiro 
trimestre. 
• Menor mobilidade em 
sedestação, diminuindo as 
alterações posturais nessa 
posição – resultando em maiores 
quadros álgicos na coluna lombar 
por hipomobilidade. 
Há também a possibilidade de alterações 
posturais em região de coluna, como 
aumento da cifose torácica e lordose 
lombar. 
 
São essas alterações, juntamente com o 
aumento do útero e das mamas, que 
deslocam para a frente o centro de 
gravidade. Para compensar esse 
deslocamento o corpo se projeta para 
trás e aumenta a curvatura da coluna 
lombar. 
 
FORÇA MUSCULAR 
A força muscular também é alvo de 
estudos durante a gestação. Algumas 
pesquisas demonstram que gestantes 
com dor lombopélvica apresentam 
menor endurance dos músculos flexores e 
extensores de tronco quando comparado 
a gestantes sem dor. 
O Assoalho Pélvico é uma das estruturas 
musculares de extrema importância, 
sobretudo na gestação, pois é o 
responsável pela sustentação dos órgãos 
pélvicos e do útero gravídico. Estudos 
demonstram que quando comparado a 
nulíparas, as primíparas obtiveram uma 
redução da força muscular. As 
consequências dessa fraqueza podem 
levar a Incontinência Urinária de Esforço, 
prevalência de distopias urogenitais e 
incoordenação da contração – o que 
interfere negativamente no preparo para 
o parto vaginal. 
Os músculos abdominais são os que 
sofrem diretamente a maior alteração 
fisiológica durante a gestação por conta 
do estiramento. O músculo reto 
abdominal aumenta em 115% o seu 
comprimento total, em virtude disso, a 
partir da 30ª semana gestacional, a flexão 
de tronco se torna mais deficitária. 
 
 
A distância entre os músculos retos 
abdominais também aumenta durante a 
gravidez, podendo modificar a projeção 
da linha alba, resultando em uma diástase 
gestacional e a sua possível persistência 
patológica após o parto. 
Por volta da 26ª semana há uma redução 
da capacidade de estabilização da pelve 
pela musculatura abdominal em 
estiramento constante. 
MARCHA 
A MARCHA ANSERINA é a marcha 
característica da gestante, e é 
representada por: 
• aumento da base de apoio; 
• oscilação da pelve; 
• hiperlordose lombar; 
• rotação e obliquidade pélvica; 
• rotação externa de quadril. 
O aumento da base de apoio é 
acompanhado pelo aumento da largura 
pélvica. 
Para manter cadencia, largura e 
velocidade do passo, há maior ativação 
de abdutores e extensores do quadril e 
flexores plantares de tornozelo. Ainda 
assim, algumas gestantes apresentam 
menor velocidade da marcha, com o 
objetivo de reduzir as forças de reação do 
solo na massa corporal. 
Também se observa, durante a marcha, 
uma redução do tempo de apoio unipodal 
e um aumento do tempo de apoio bipodal 
– o que indica um ajuste compensatório 
do corpo para evitar maior tempo em 
instabilidade postural. 
Outro achado dos estudos é que desde o 
primeiro trimestre gestacional ocorre o 
aumento do tempo de apoio de calcanhar 
e redução da força de propulsão, o que 
ocorre para favorecer uma melhor 
absorção de impacto durante a marcha. 
Quanto a pressão plantar, estudos 
sugerem que as gestantes no terceiro 
trimestre apresentam uma maior 
descarga de peso em região lateral do pé 
e retropé. 
Um estudo observou que em relação ao 
tamanho dos pés o comprimento e 
largura permanecem inalterados, 
enquanto o volume aumenta em até 57,2 
mL, diminuindo 8,42 mL pós-parto.

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