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Fisioterapia pélvica – Tácia Gabriela Vilar dos Santos Andrade (@taciavilar) FISIOTERAPIA NO TRABALHO DE PARTO HISTÓRICO Tribos primitivas: cócoras, joelhos, quatro apoios e genu-peitoral. Cadeira ou banquinho de parto: postura vertical, porém sentada para diminuir o cansaço. Invenção do fórceps pelos irmãos Chamberlain. Fim do século XVIII: proibida a utilização de banquinhos no parto. Séculos XIX e XX: camas e mesas de parto. PRIMEIRO PERÍODO DO TRABALHO DE PARTO O útero aumenta sua anteflexão durante uma contração. Na posição vertical não existe resistência da gravidade. Nas posições deitada ou semi-sentada, o útero trabalha contra a força da gravidade durante a contração. Ficar em posturas verticais (em pé ou de joelhos) com flexão de tronco facilita o trabalho uterino e diminui a resistência da gravidade por favorecer a biomecânica do órgão. Contrações mais intensas e frequentes; Evitar postura supina (justamente porque o útero apresenta uma anteflexão, cada contração do parto aumenta mais a anteflexão, se esta mulher estiver deitada a ação da gravidade não estará favorecendo as contrações desse útero); Permitir maior mobilidade; Facilitar o trabalho uterino; Posturas verticais (permite que as contrações sejam mais intensas com uma amplitude de contração maior e uma frequência diminuída); Sensação dolorosa mais bem tolerada (útero a favor da gravidade); CAMINHAR NO PRIMEIRO PERÍODO DE PARTO É PERMITIDO? PERMANECER NA VERTICAL E DEAMBULAR PERMITE QUE OCORRA: Maior intensidade das contrações uterinas; Contrações mais regulares e frequentes; Processo de dilatação e abertura do colo do útero são mais eficientes; Relaxamento mais profundo entre as contrações; Pressão muito maior exercida pela cabeça do feto no colo do útero durante o período de repouso, ou seja, entre as contrações uterinas; Menor duração do primeiro e do segundo período do trabalho de parto; Maior disposição, menor estresse e menor dor, resultando em menor necessidade de analgésicos; Menor incidência de sofrimento fetal durante o parto e melhores condições do recém-nascido; As mulheres se sentem mais participativas = boa lembrança desse momento tão importante; MOVIMENTAÇÃO No primeiro período é importante realizar principalmente movimentos de contranutração. Ajudar no mal posicionamento fetal; Aumentar a descida fetal (alterando a forma e o tamanho da pelve); Diminuir dor do parto: melhor cooperação da gestante; Aumentar a participação ativa da gestante: diminui o estresse. POSTURAS EM GERAL Em pé; sentada em uma bola ou em uma cadeira com o tronco inclinado para frente; Fisioterapia pélvica – Tácia Gabriela Vilar dos Santos Andrade (@taciavilar) apoio unipodal com abertura unilateral de membro inferior (em pé com uma perna em cima da cadeira); cócoras, em pé com uma inclinação anterior de tronco. INCLINAÇÕES PÉLVICAS Associadas à postura de quatro apoios ou ortostática: ajuda a rotação de OP para OA; diminui a pressão da cabeça fetal na articulação sacroilíaca. Desvantagem: sobrecarga nos joelhos e punhos. Para se corrigir isso, pode-se colocar a mulher com apoio nos antebraços. ABERTURA ASSIMÉTRICA DOS MEMBROS INFERIORES Pode ser feita em pé (facilita a contranutação, preferencialmente no primeiro período de trabalho de parto) ou semiajoelhada (facilita a nutação, preferencialmente no segundo período de trabalho de parto). O fêmur elevado funciona como uma alavanca na articulação do quadril (ísquio para fora); facilita a rotação do bebê; reduz dor lombar e acelera o processo de trabalho de parto. Desvantagem: necessário um acompanhante; não realizar em gestantes com patologias ortopédicas de membros inferiores. LEVANTAMENTO / LIFTING ABDOMINAL É o levantamento da barriga da gestante, se segura no transverso abdominal, levanta e se mantém, o objetivo é fazer com que o bebê saía da frente do púbis. Indicações: é realizado em gestantes que apresentam o abdome em pêndulo, mais flácido, geralmente em mulheres multíparas; lesão prévia na lombar; diminuição do espaço iliocostal; hiperlordose acentuada. Alinha o eixo do feto com o eixo da entrada da pelve; Melhora a posição fetal; Melhora a eficiência das contrações; MOVIMENTOS RÍTMICOS Evitar realizar em gestantes que apresentam labirintite, os movimentos devem ser lentos e suaves. Devem ser realizados em bolas, cavalinhos ou cadeira de balanço; Acalmam devido a estimulação labiríntica e parassimpática; Alteram a relação entre feto, pelve e gravidade (o balanço estimulando o parassimpático + postura vertical melhoram a tensão); Promovem progresso no trabalho de parto. SEGUNDO PERÍODO DO TRABALHO DE PARTO POSTURA LITOTOMIA É a mais utilizada, a mulher fica em decúbito dorsal com a coluna elevada em um ângulo menor ou igual a 30º, joelhos flexionados, pés apoiados ou não nos estribos. Essa postura impossibilita a mobilidade, o peso fica mantido no sacro e no cóccix da paciente. Observações: Essa postura até 40º entre tronco e MMII: efeito compressivo aorto-caval; Prolonga o período expulsivo; Índices de episiotomia são mais altos (não existe a ajuda da ação da gravidade). POSTURA DE MCROBERTS’ É uma postura com hiperflexão de quadril e joelhos, geralmente se usa quando a cabeça fetal está abaixo do arco púbico, a mãe não possui mais força durante os momentos de puxo e essa posição fornece uma vantagem Fisioterapia pélvica – Tácia Gabriela Vilar dos Santos Andrade (@taciavilar) mecânica para se empurrar o bebê para fora. A dificuldade que pode ocorrer nessa posição é uma laceração de períneo. É utilizada em bebês que apresentam distocias de ombro. Proporciona uma rotação posterior de pelve; Retifica a lombar; Move o púbis para cima DECÚBITO LATERAL Melhora a perfusão uteroplacentária; Aumenta a percepção maternal da vagina; Melhor controle do puxo; POSTURA DE QUATRO APOIOS Utilizada quando o feto estiver em OP e quando a gestante apresentar dor lombar. Não deve ser utilizada quando a gestante estiver muito cansada; apresentar dor em joelhos, pernas e punhos (caso apresente síndrome do túnel do carpo). Permite a rotação fetal de OP; Reduz dor na coluna; Permite a execução de melhores movimentos pélvicos; Melhora de BCF – descompressão de cordão; Alivia hemorroidas (retira o peso do sacro, cóccix e reto); Fácil acesso para manipulações e massagens; Desvantagem: sobrecarga em joelhos e punhos. POSTURAS NA VERTICAL: VANTAGENS Gravidade; Melhora o ângulo de incidência do útero (aumenta a anteflexão durante as contrações); Ausência de compressão dos vasos; Diminuição da duração do período expulsivo; Melhores resultados ácido-básicos no feto; Menor incidência de parto assistido; Menor incidência de episiotomia; Contração uterina é mais forte e efetiva; Menor compressão dos nervos pélvicos que derivam da parte inferior da coluna e sacro; Liberdade de movimento articular pélvico. PARTO DE CÓCORAS: VANTAGENS A superfície da área transversal do canal de parto pode aumentar em até 30%; Pressões uterinas mais intensas (pressão gerada pelo tronco); Melhores resultados acidobásicos; Menor necessidade do uso do fórceps; Alargamento do estreito inferior (aumenta o diâmetro inter- tuberosidades, favorece retroversão e nutação); Período expulsivo é mais curto; Musculatura do períneo mais relaxada; Menor laceração de períneo, pois a musculatura já está em estiramento; Aumenta o desejodo puxo; Facilita a descida fetal (ação da gravidade). Desvantagens: Compressão de vasos e nervos da área poplítea, causando uma parestesia de membros inferiores; Pressão do tronco no fundo uterino reduz o esforço para o feto girar em sinclitismo. Para a realização da posição de cócoras é necessário um condicionamento adequado, pois existe uma forte flexão das coxas (dos quadris) provocando uma grande retroversão dos ílios, esse movimento causa uma abertura do estreito inferior. Quando não usar a posição de cócoras: Fisioterapia pélvica – Tácia Gabriela Vilar dos Santos Andrade (@taciavilar) Quando o feto estiver em plano alto (estreito superior) e/ou em assinclitismo; Quando o feto não alcançar o nível das espinhas isquiáticas (não está no estreito inferior); Por longos períodos – permitir mudança de posição a cada duas contrações. Musculatura que deverá ser trabalhada: Estiramento de diafragma pélvico e urogenital; Alongamento de tríceps sural; Contração excêntrica de adutores, quadríceps e plantiflexores; Contração concêntrica de ísquios, dorsiflexores e abdutores. POSTURA DE CÓCORAS COM SUPORTE Permite vantagem da gravidade; Permite maior mobilidade nas articulações pélvicas; Pode causar parestesia nos MMSS por uso prolongado (caso seja realizada uma força muito forte no suporte); Alonga o tronco; Ajuda no reposicionamento do assinclitismo; Permite mais espaço para renegociar o ângulo da cabeça na pelve. POSTURA DE CÓCORAS NO COLO Permite vantagem da gravidade; Descanso entre as contrações; Aumenta passivamente o estreito inferior; Requer menos esforço expulsivo; Relaxa o assoalho pélvico; Facilita a descida no feto em OA; Maior pressão do tronco no fundo uterino; Menos efetiva em um feto com assinclitismo ou OP. POSTURA ERETA E INCLINADA PARA FRENTE Permite vantagem da gravidade; Pode promover flexão da cabeça fetal; Pode aumentar a rotação de OP, com combinação de movimentos de balanço; Contrações menos dolorosas e mais eficientes; Alivia dor na lombar por redução da pressão da apresentação no sacro; Maior facilidade de manutenção; Pode aumentar o desejo de puxo no 2º período. POSIÇÃO SEMI-SENTADA Precisa da utilização das cadeiras específicas para o parto. Permite vantagem da gravidade; Aumenta dimensões da entrada da pelve; Melhora oxigenação do bebê; Fácil de adotar; Prejuízo no movimento de sacro e cóccix. POSTURA SENTADA Estimula a separação das tuberosidades isquiáticas; Aumento da pressão uterina; Encurtamento do período expulsivo; Laceração de períneo (maior dificuldade em relaxar a musculatura); Desvantagens: Índice superior de hemorragia (por conta da laceração de períneo); Edema vulvar mais severo; Diminui a mobilidade. POSTURA SENTADA E INCLINADA PARA FRENTE Sentada, tronco inclinado para frente e apoio dos MMSS. Permite vantagem da gravidade; Fisioterapia pélvica – Tácia Gabriela Vilar dos Santos Andrade (@taciavilar) É confortável, se com bom suporte; Alivia dor da coluna; Pode aumentar a rotação de OP (comparado com supino e semi- sentada); Alinha o reto com a pelve; Aumenta o estreito superior; Facilita o acesso para aplicação de massoterapia ou uso de compressas. POSTURA JOELHOS E INCLINADA PARA FRENTE COM SUPORTE Permite vantagem da gravidade; Melhor abertura da pelve (decúbito lateral, supina ou sentada); Alinha o feto com a pelve; Facilita o acesso para procedimentos na coluna; Facilita o movimento da pelve; Alivia a compressão de cordão; Sobrecarrega os joelhos. POSTURA ERETA ASSIMÉTRICA Permite um alongamento dos adutores da perna elevada; Movimento lateral do ísquio: aumenta o estreito inferior; Permite rotação fetal de OP; Reduz dor na coluna; Permite vantagem da gravidade. ALÍVIO DA DOR E RELAXAMENTO NO PARTO PRESSÃO PÉLVICA É realizada uma pressão nos ilíacos da paciente com o intuito de diminuir o estreito superior, aumentar os diâmetros do estreito médio e inferior. É utilizada no momento de expulsão do bebê (2º período do trabalho de parto) para facilitar o movimento de nutação, realizada durante 3 ou 4 contrações. Indicada quando a paciente apresentar severa dor lombar e atraso na descida do bebê. Melhor efeito associado a postura de quatro apoios, não utilizar com epidural. Formas de realizar: Pressão para o centro da pelve; Durante a contração; Observações: Não facilita rotação; Alivia a dor na lombar; Muda a forma da pelve para facilitar a nutação; Reduz levemente o alongamento na sacroilíaca/tensão nos ligamentos. PRESSÃO NO JOELHO É realizada uma pressão direta no joelho para a articulação do quadril, a sensação é de liberação da articulação sacroilíaca devido à alteração da configuração da pelve. Variação: paciente em decúbito lateral. CONTRAPRESSÃO É realizada uma pressão no sacro e no ilíaco de maneira unilateral durante a contração. A gestante orienta o local e a pressão, eficaz para aliviar a dor lombar. Para a realização da técnica pode ser utilizada uma bola de tênis. TENS PARA DOR NO PARTO Pode ser utilizado no primeiro período do trabalho de parto na região da musculatura dos paravertebrais e coluna lombar. MASSOTERAPIA Na região do sacro e coluna lombar, sendo realizada nos seguintes movimentos: circulares, sobe e desce, vai e vem. MASSAGEM PERINEAL – THIELE É recomendada a fazer nos últimos 15 dias antes do parto e no primeiro período da hora Fisioterapia pélvica – Tácia Gabriela Vilar dos Santos Andrade (@taciavilar) do parto. Massagem realizada em “U” com os dedos polegares no períneo. DUCHAS Sentada na bola embaixo da ducha, principalmente caindo na coluna lombar. VENTILAÇÃO NO TRABALHO DE PARTO Sempre evitar hiperventilação fazendo freno labial para não ocorrer desmaios. As estratégias de ventilação devem ser ensinadas durante o pré-natal. No período de dilatação não pode fazer ventilação superficial e rápida, deve ser incentivada a ventilação lenta e mais profunda com ênfase na fase expiratória realizando freno labial para manter o ar mais tempo nos pulmões. Incentivar fase expiratória prolongada, associando a conscientização de relaxamento da cintura escapular, pois isso favorece o relaxamento da paciente e evita a utilização de musculaturas acessórias para a respiração. No período expulsivo não realizar ventilação profunda, iniciar o puxo quando vier a vontade for aumentando (geralmente vem com a contração, porém não vai realizar força durante todas as contrações, visto que são várias contrações durante o segundo período de parto, então ela deve fazer puxo no momento em que se sentir relaxada e tiver vontade). A ventilação deve ser lenta do tipo suspiro, podendo ser várias ventilações desse tipo. Estimular o esforço com a glote aberta para evitar apneia prolongada. Pois, um esforço com apneia prolongada em torno de 7 segundos não apenas reduz o fluxo para a placenta, mas também diminui o conteúdo de O2 no sangue que alcança a placenta, traduzindo hipóxia fetal. Evitar a respiração cachorrinho, pelos seguintes motivos: Ventilação rápida e superficial, pois não ocorre a utilização do diafragma. Períodos de hiperventilação, causando apneia. Aumenta a perda de CO2, levando à alcalose respiratória (pH do sangue fica aumentado), diminuindo a ionização do íon cálcio, fazendo com que afete a condutividade nervosa, tendo como sintomas: tontura, entorpecimento, formigamentode extremidades, espasmos musculares, sudorese, palidez, ansiedade e desmaio. No período de puxo deve inspirar além da CRF (capacidade residual funcional) e aquém da CPT (capacidade pulmonar total), ou seja, não deve fazer uma respiração muito curta e nem uma respiração muito prolongada, na hora da expiração realizar freno labial. Além disso, contrai o transverso do abdômen na hora da contração do útero, “leva o seu umbigo como se fosse levar para a coluna”. Porque se utiliza o freno labial? Para garantir um melhor controle da respiração. Para garantir um aumento da CRF, visto que se aumenta o recrutamento de unidades alveolares. Para distensão de alvéolos latentes (adormecidos), aumentando a ventilação colateral. Manutenção da integridade dos condutos aéreos. Promove uma desinsuflação pulmonar homogênea: mantém a pressão dentro dos brônquios, o que evita o aumento da pressão pulmonar, o que facilita as trocas gasosas e gera um fluxo de ar sem turbulência. O QUE ACONTECE EM CADA FASE DO TRABALHO DE PARTO: 1º PRÓDROMOS: são contrações irregulares do útero que podem durar dias com intensidades variáveis, nem Fisioterapia pélvica – Tácia Gabriela Vilar dos Santos Andrade (@taciavilar) todas as mulheres sentem (não é Braxton-hicks). 2º FASE LATENTE (primeira fase do primeiro período de parto): são contrações ritmadas e muito espaçadas, durante essas contrações as mulheres conseguem falar, rir e organizar os últimos detalhes. Podem durar muitas horas. 3º FASE ATIVA: contrações mais ritmadas e mais fortes. Ocorre aumento da intensidade da dor, já teve rompimento de tampão e bolsa amniótica. É o período da “partolândia”, a mulher não consegue conversar e não interage como antes. FASE DE TRANSIÇÃO: passagem da fase ativa para a fase expulsiva, são dores mais intensas. É um momento tenso, geralmente neste período a mulher desiste do parto vaginal. PERÍODO EXPULSIVO: é o período em que existe a vontade incontrolável de fazer a força, são contrações muito fortes e próximas, é neste momento que ocorre o anel de fogo. FASE DA DEQUITAÇÃO PLACENTÁRIA: é a saída da placenta e do fim de trabalho de parto, não ocorre necessariamente após o parto, pode acontecer 20 ou 30 minutos após a saída do bebê. VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA É qualquer violência que ocorre contra a mulher durante a gestação, parto ou puerpério, inclusive em gestações que não vingaram. Os tipos mais comuns são: Negar atendimento; Falta de informações; Intervenções desnecessárias; Separar mãe e filho após o nascimento; Proibir acompanhante; Agressões verbais e físicas; Manobra de Kristeller (jogar o corpo em cima do útero para forçar o bebê a sair).
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