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ESCOLA BRASILEIRA DE MEDICINA CHINESA – EBRAMEC 
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSU EM ACUPUNTURA 
 
JULIANA CHAVES GASTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: 
ACUPUNTURA AURICULAR 
VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
JULIANA CHAVES GASTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho apresentado a EBRAMEC – Escola 
Brasileira de Medicina Chinesa, como requisito 
parcial para obtenção do certificado de Pós 
Graduação Latu Sensu, sob orientação do prof. 
Rodrigo Bairros Alves e co-orientação do prof. Dr. 
Reginaldo de Carvalho Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2010 
 
 
 
 
 
JULIANA CHAVES GASTAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
_______________________________________ 
 
 
_______________________________________ 
 
 
_______________________________________ 
 
 
 
 
RODRIGO BAIRROS ALVES 
Orientador 
 
 
JULIANA CHAVES GASTAL 
 
 
SÃO PAULO, 23 de dezembro de 2010 
 
 
 
RESUMO: 
Acupuntura é um recurso terapêutico milenar da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e 
consiste na inserção de agulhas e/ou transferência de calor em áreas definidas da pele, chamadas de 
acupontos. É uma técnica terapêutica empírica desenvolvida em uma cultura Oriental, baseada em 
tentativa e erro e que utiliza linguagem mágica (pensamento pré-científico). Ou seja, sua 
fundamentação é um raciocínio causal não-científico e mítico. 
A acupuntura auricular foi desenvolvida para um extraordinário sistema diagnóstico e 
terapêutico pelo médico francês Dr. P. M. F. Nogier, de Lyon, que descobriu o método durante a 
década de 50. Em 1956 ele tornou público os seus conhecimentos pela primeira vez no Congresso 
de Acupuntura em Marseille e criou o nome Auriculoterapia. Em 1957, ocorreu a tradução alemã e 
sua publicação através de D.G. Bachmann na Revista Alemã para Acupuntura. 
 
 
ABSTRACT: 
Acupuncture is an ancient therapeutic of Traditional Chinese Medicine (TCM) and involves 
inserting needles and / or heat transfer in defined areas of skin, called acupoints. Empirical therapy 
a technique developed in an Oriental culture, based on trial and error and using magical language 
(pre-scientific thinking). That is, its foundation is a non-scientific causal reasoning and mythical. 
 Ear acupuncture was developed to an extraordinary system diagnostic an therapeutic toll by 
French physician Dr. P. M. F Nogier of Lyons, who discovered the method during the 50s. In 1956 
he made public their knowledge for the first time in Marseille Congress of Acupuncture and 
Auriculotherapy creating the name. In 1957, there was the German translation and publication by 
DG Bachmann in the German Journal for Acupuncture. 
. 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO: 
 
1) INTRODUÇÃO................................................................................................................... ................................07 
2) OBJETIVOS.........................................................................................................................................................08 
3) METODOLOGIA.................................................................................................................. ..............................08 
4) RESULTADOS...................................................................................................................................... ..............08 
4.1) ACUPUNTURA SISTÊMICA......................................................................................................... ............08 
4.1.1) HISTÓRICO DA ACUPUNTURA..................................................................................... ...08-09 
4.1.1.1) NA CHINA............................................................................................................ 09-10 
4.1.1.2) NO OCIDENTE................................................................................................ .....10-11 
4.1.2) HISTÓRICO DA ACUPUNTURA VETERINÁRIA............................................................11-14 
4.1.3) PRÁTICA CORRENTE DA ACUPUNTURA VETERINÁRIA...............................................15 
4.1.4) BASES NEUROFISIOLÓGICAS E ACUPUNTURA..........................................................15-17 
4.1.4.1) SISTEMA NERVOSO CENTRAL E ACUPUNTURA............................................17 
4.1.5) MECANISMO DE AÇÃO....................................................................... ...................................17 
4.1.5.1) ACUPONTOS.......................................................................................................17-18 
4.1.6) METODOLOGIA E INSTRUMENTAL DE ESTIMULAÇÃO...........................................18-19 
4.1.6.1) VARIAÇÃO DA PRESSÃO FÍSICA.........................................................................19 
4.1.6.2) AGULHAMENTO......................................................................................................19 
4.1.6.3) VARIAÇÃO DE TEMPERATURA.....................................................................19-20 
4.1.6.4) ELETROACUPUNTURA..........................................................................................20 
4.1.6.5) IMPLANTE...........................................................................................................20-21 
4.1.6.6) ULTRASSOM, LASER, INDUÇÃO MAGNÉTICA................................................21 
4.1.6.7) INJEÇÃO...............................................................................................................21-22 
4.1.6.8) SANGRIA............................................................................................................. ......22 
4.1.7) TÉCNICA....................................................................................................................................22 
4.1.8) DIAGNÓSTICO........................................................................................................... ..........22-23 
4.1.9) DEFINIÇÃO DO PROTOCOLO DE TRATAMENTO........................................................23-24 
4.1.10) O AGULHAMENTO DE ANIMAIS........................................................................................24 
4.1.11) INDICAÇÕES......................................................................................................................24-25 
4.1.12) CONTRA INDICAÇÕES.................................................................................................... ......25 
4.1.13) REAÇÕES ADVERSAS...........................................................................................................26 
4.2) ACUPUNTURA AURICULAR.................................................................................................... ..........26-27 
4.2.1) HISTÓRICO............................................................................................................. ...................27 
4.2.2) COMPARAÇÃO ENTRE ACUPUNTURA AURICULAR E ACUPUNTURA CORPORAL.28 
4.2.2.1) SUBSTRATO.............................................................................................................28 
4.2.2.2) PROPRIEDADE DIAGNÓSTICA DOS PONTOS AURICULARES......................28 
4.2.2.3) SOMATOTOPIA..................................................................................................28-29 
4.2.3) SUBSTRATO ANATÔMICO DA ACUPUNTURA AURICULAR....................................29-31 
4.2.4) CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS NO CÃO E NO GATO...............................................31 
4.2.4.1) RELEVO INTERNO DO PAVILHÃO DA ORELHA DO CÃO E DO GATO..31-32 
4.2.4.2) VASOS SANGUÍNEOS E INERVAÇÃO...........................................................33-354.2.4.3) PONTO DE ACUPUNTURA NA ORELHA........................................................... .35 
4.2.5) MECANISMOS FISIOLÓGICOS DA ACUPUNTURA AURICULAR..............................36-37 
4.2.6) ACUPUNTURA AURICULAR NA MEDICINA VETERINÁRIA.....................................37-38 
4.2.7) PROJEÇÕES DE ZONAS DE REFLEXO NA ORELHA DO CÃO E DO GATO..............38-39 
4.2.8) AURICULODIAGNÓSTICO................................................................................................39-44 
4.2.8.1) SENSIBILIDADE À PRESSÃO................................................................................39 
4.2.8.2) CONDUTIVIDADE ELÉTRICA...............................................................................39 
4.2.8.3) ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS..........................................................................39 
4.2.8.4) ALTERAÇÕES DA ONDA DO PULSO...................................................................40 
4.2.9) AURICULOTERAPIA.................................................................................................. .........44-45 
4.2.10) INDICAÇÕES........................................................................................................... ................46 
4.2.11) CONTRA INDICAÇÕES........................................................................ ..................................46 
4.2.12) SELEÇÃO DE PONTOS.................................................................................................... .......47 
4.2.13) TÉCNICAS DE ESTIMULAÇÃO............................................................................................47 
4.2.14) DURAÇÃO DO TRATAMENTO.......................................................................................47-48 
4.2.15) COMPLICAÇÕES DA ACUPUNTURA AURICULAR.........................................................48 
5) CONCLUSÃO................................................................................................................. .........................................48-49 
6) BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................................................50-51 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS E FIGURAS: 
 
TABELA 01...............................................................................................................................................................13-14 
 
FIGURA 01.................................................................................................................................................................... 29 
FIGURA 02........................................................................................................................................................................30 
FIGURA 03........................................................................................................................................................................32 
FIGURA 04................................................................................................ ....................................................................38 
FIGURA 05.............................................................................................................. ..........................................................38 
FIGURA 06...................................................................................... ..................................................................................40 
FIGURA 07..................................................................................................... ...................................................................43 
FIGURA 08......................................................................................................................................... ..............................43 
 
 
 
 
7 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
1) INTRODUÇÃO: 
A acupuntura é uma especialização dentro da Medicina Veterinária. Nos últimos anos cada vez 
mais proprietários procuram a acupuntura para tratar doenças de seus animais. A acupuntura 
auricular ainda é muito pouco estudada pelos profissionais, sendo assim, muito pouco utilizada na 
prática. 
O objetivo central da Medicina Tradicional Chinesa e, portanto, da acupuntura, é a idéia de 
equilíbrio, tanto no que se refere às funções orgânicas quanto à relação do corpo com o meio 
externo. Em outras palavras, a acupuntura preconiza que a saúde é dependente das funções psico-
neuroendócrinas, sob influência do código genético e de fatores extrínsecos como nutrição, hábitos 
de vida, clima, qualidade do ambiente, entre outros (SCOGNAMILLO-SZABO & BECHARA, 2001; 
SCHOEN, 2006; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007). 
As bases filosóficas da acupuntura estão contidas nas teorias gerais do taoísmo como Yin e Yang e 
Cinco Movimentos ou Wu XinG. As particularidades do funcionamento orgânico também são 
analisadas através das teorias das substâncias Vitais ou Fundamentais (Qi, Xue, Jing e Jing Ye), e 
dos Sistemas Internos (Zang Fu). Diferentemente da prática médica científica, que prioriza a 
identificação precisa do agente e a compreensão dos mecanismos das enfermidades, a acupuntura 
prioriza o enfoque nas respostas orgânicas individuais, produzindo uma abordagem particular para 
cada paciente. Em termos práticos, pode-se dizer que a medicina científica usa intervenções que 
mimetizam ou bloqueiam a ação da bioquímica. A acupuntura, por sua vez, visa afetar os níveis de 
atividade funcional nos órgãos e sistemas. Pequeno ou nenhum efeito da acupuntura ocorre sobre as 
funções que estão normais. É somente na disfunção que “o mecanismo de equilíbrio” mostra 
resultados claros (KARST et al., 2002; KARST et al, 2003; SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2004). 
A auriculoterapia é indicada nas doenças agudas e reversíveis, para analgesia e adjuvante nas 
doenças crônicas (DRAEHMPAHEL & ZOHMANN, 1997). ALIMI et al. (2003) comprovaram a 
eficácia da auriculoterapia como tratamento auxiliar na dor crônica neuropática em pacientes 
oncológicos. 
 
8 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
2) OBJETIVOS: 
O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre auriculoterapia veterinária 
através da busca de artigos científicos, teses e livros científicos especializados no tema. 
 
3) MATERIAIS E MÉTODOS: 
A revisão bibliográfica foi usada utilizando capítulos em livros especializados em acupuntura 
veterinária, artigos científicos, teses, consulta na internet e base de dados contido no SciELO Brasil 
e Lilacs. 
A revisão mostra um pouco da história da acupuntura geral, acupuntura veterinária e 
auriculoterapia. 
 
4) RESULTADOS: 
Os resultados da revisão bibliográfica são mostrados a seguir: 
 
4.1 Acupuntura Sistêmica: 
4.1.1. Histórico da Acupuntura: 
Segundo HAYASHI & MATERA (2005), a acupuntura é um recurso terapêutico milenar da 
Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e consistem na inserção de agulhas e/ou transferência de 
calor em áreas definidas da pele, chamadas de acupontos. É uma técnica terapêutica empírica 
desenvolvida em uma cultura Oriental, baseada em tentativa e erro e que utiliza linguagem mágica 
(pensamento pré-científico). Ou seja, sua fundamentação é um raciocínio causal não-científico e 
mítico. 
9 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
Restabelece o equilíbrio de estados funcionais alterados e atinge a homeostase, pela influência sobre 
determinados processo fisiológicos. É derivada do latim acus e pungere, respectivamente agulha e 
puncionar, mas atualmente outros meios de estímulo dos pontos são utilizados. A expressão chinesa 
Zhen Jiu (espetar e queimar) traduz de forma mais completa o método que utiliza comumente o 
calor como fonte de estímulo. 
Considera-se também uma terapia reflexa, em que o estímulo de uma região age sobreoutras. Para 
essa finalidade, utiliza principalmente o estímulo nociceptivo, que são receptores específicos para a 
dor e terminações nervosas livres de fibras aferentes A, delta e C. Estas transformam os estímulos 
mecânico, térmico ou químico em impulso nervoso. 
Tem aceitação de seu uso médico e também no campo da Medicina Veterinária. 
A origem da acupuntura remonta à pré-história, precedendo a criação da escrita (4000 a.C.). 
Múmias humanas pré-históricas encontradas na Sibéria, Peru e Chile portando tatuagens circulares 
não ornamentais contendo partículas de carvão e localizadas paralelamente e ao longo da coluna 
vertebral, sugerem o conhecimento da localização dos pontos de acupuntura e o uso do estímulo 
térmico dos mesmos, para além do continente asiático. Sem sombra de dúvida, a sistematização de 
conhecimentos e o amadurecimento da técnica se deram na China das grandes Dinastias 
(VETERINARY ACUPUNCTURE, 1992; DORFER et al.,1999). 
4.1.1.1 Na China 
Escavações nas ruínas Yang-Shao, na província chinesa de Henan, mostram o uso de um 
instrumento de pedra polida e afiada denominada Bian-Shi (agulha de pedra) para drenagem de 
abscessos e o estímulo de áreas específicas do corpo, no período neolítico (MA, 1992; CHAN et al., 
1994; MA, 2000). Em tubas da Dinastia Han do Oeste (206 a.C. a 22 d.C.) contém textos que se 
referem à utilização de moxabustão (bastões incandescentes de Artemísia vulgaris), sugerindo que a 
técnica de estímulo térmico do ponto precedeu a utilização de inserção de agulhas. Ao longo de sua 
história, instrumentos de bambu, ossos, jade e metais têm sido utilizados para estímulo do ponto de 
acupuntura (CHEN, 1997). Durante o período Zhou (772 a.C. a 480 d.C.), o confucionismo vem 
somar-se ao Taoísmo, trazendo o conceito de que a saúde está diretamente relaciona aos atos 
praticados pelo indivíduo e afastando assim a idéia da origem demoníaca para as doenças. Após a 
unificação da China (século III a.C.), a acupuntura experimenta um desenvolvimento notável, 
10 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
quando adquire uma sistemática de teorias e princípios e a substituição gradual da Bian-Shi por 
agulhas de bronze, ferro, prata e ouro, acompanhando o progresso da metalurgia. Um dos livros de 
acupuntura mais antigos é o Huang di Ney Jing: “Clássico do Imperador Amarelo sobre Medicina 
Interna” ou “Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo”, escrito na Dinastia Han (206 
a.C. a 220 d.C.) e atribuído ao mítico Imperador Amarelo, Huang Di (2698 a 2598 a.C.), criador da 
escrita chinesa e unificador da China. Esse texto é, até os dias atuais, a base da Medicina 
Tradicional Chinesa e trazem informações sobre anatomia, fisiologia, patologia, diagnóstico e 
tratamento de doenças. Esse tratado já afirma que o sangue flui continuamente por todo o corpo, sob 
controle do coração, cerca de 2000 anos antes de Sir Willian Harvey propor sua teoria da circulação 
sanguínea em 1628 (MA, 1991; CHAN et al., 1994; RISTOL, 1997). 
 A Medicina Tradicional Chinesa permaneceu como forma exclusiva de terapia exercida na China 
até as práticas médicas ocidentais fossem introduzidas durante a Dinastia Ching (1644 a 1911), 
quando a acupuntura foi rejeitada pela elite e chegou a se banida pelo governo. Na década de 1940, 
Mao Tsé-Tung, líder da Revolução Chinesa, estimula uma política de integração entro os dois 
sistemas médicos, incrementando o ensino e pesquisa com a Medicina Tradicional Chinesa, 
declarando que “a Medicina e a Farmacologia chinesas são um palácio de grandes tesouros, 
devendo ser feitos todos os esforços para sua exploração, e para sua ascensão a níveis mais 
elevados”. Os baixos custos dessa prática colaboraram nessa decisão, permitindo à população maior 
acesso à saúde. A china faz uso da acupuntura para promoção da hipoalgesia cirúrgica em pacientes 
humanos desde o fim da década de 1950 e em animais, desde 1970 (VETERINARY ACUPUNCTURE, 
1973; TAYLOR, 1974; MA, 1992; PALMEIRA, 1990; MA, 2000; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007). 
Desconhecendo experiências prévias com eletro acupuntura na França, o Professor Jisheng Han 
inicia em Pequim, em 1965, pesquisas com eletro acupuntura e seus mecanismos de ação 
(MACDONALD, 1993). 
4.1.1.2 No Ocidente 
 Na Europa, o primeiro relato sobre a Medicina Tradicional Chinesa foi feito no século XVI, durante 
as atividades da Companhia das Índias Ocidentais, pelo jesuíta Franciscus Xavier, quando esse 
chegou do Japão em 1549. Esse paradoxo, o contato com a Medicina Chinesa no Japão, se deve aos 
senhores feudais japoneses terem sido mais receptivos ao intercâmbio com ocidentais. A introdução 
11 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
da acupuntura se dá de fato a partir do século XVII com publicações de relatos de jesuítas e 
médicos, tendo o dinamarquês Jacob de Bondt (1642), o holandês Willen Ten Rhijne (1683), e os 
alemães Andreas Cleyer (1682) e Engelbert Kaempfer (1712) realizados os primeiros escritos 
médicos da acupuntura na Europa, com ilustrações dos pontos e canais e relatos de resultados que 
“superam mesmo os milagres”. Em 1825, Sarlandiere adapta a técnica do Galvanismo, aplicando a 
corrente elétrica direta em agulhas de acupuntura para tratamento de dores articulares, marcando o 
início precoce da eletro acupuntura (MACDONALD, 1993). Nos Estados Unidos, o médico 
canadense Sir Willian Ostler, considerado “Pai da Medicina Moderna” inclui o tratamento com 
acupuntura para lombalgia e dor ciática no livro “Princípios e Prática da Medicina”, em 1892 
(HOLMDAHL, 1993; WHITE & ERNST, 2004). 
 Os registros oficiais sobre a introdução da acupuntura no Brasil são raros. De qualquer modo, sua 
história se confunde com a chegada dos primeiros imigrantes chineses (1812), japoneses (1908) e 
outros povos orientais ao nosso país. Na primeira metade do século XX, grande parte da acupuntura 
praticada por orientais ficou restrita às suas comunidades, devido a dificuldades com a língua. Sua 
difusão na sociedade brasileira é incrementada na década de 1950 quando o fisioterapeuta Friedrich 
Johann Spaeth, nascido em Luxemburgo e naturalizado brasileiro, funda a Sociedade Brasileira de 
Acupuntura e Medicina Oriental (1958). Em 1961, juntamente com os médicos Ermelino Pugliesi e 
Ary Telles Cordeiro, Sapeth funda o Instituto Brasileiro de Acupuntura (IBRA), primeira clínica 
institucional de acupuntura do Brasil. A partir de 1995 os Conselhos Federais de Biomedicina, 
Enfermagem, Fisioterapia, Medicina e Medicina Veterinária reconhecem a acupuntura como uma 
especialidade. (WORLD FEDERATION OF ACUPUNTURE AND MOXABUSTION SOCIETIES, 2006). 
 
4.1.2. Histórico da Acupuntura Veterinária: 
Estima-se que a acupuntura veterinária é tão antiga quanto à história da acupuntura humana. Para 
tanto, destaca-se a descoberta de um tratado com idade aproximada de 3000 anos, relatando a 
aplicação de tal prática em elefantes indianos. 
A acupuntura veterinária iniciou seu marco quando, em 1974, foi fundada a Sociedade Internacional 
de Acupuntura Veterinária (IVAS). Em 1996, a Médica Veterinária Americana (AVMA) aprovou a 
acupuntura veterinária como procedimento médico e/ou cirúrgico, fazendo parte integrante da 
12 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
Medicina Veterinária. No Brasil, foi fundada em 1999 a Associação Brasileira de Acupuntura 
Veterinária (ABRAVET). Assim, a exemplo da Medicina Humana, a acupuntura foi recentemente 
considerada uma das especialidades da área Veterinária. 
A história da acupuntura veterinária remete a lendas antigas que relacionam o Imperador Fusi, há 
cerca de 10000 anos, à formação da civilização chinesa a partir das sociedades primitivas, assim 
como à domesticação de animais, incluindo o tratamento de animais doentes. A importância dos 
animais na sociedade agrária ganha mais destaque no Período das Guerras durantea Dinastia Chou 
(475 a.C. a 221 a.C.) quando os exércitos necessitavam de médicos para seus cavalos (LIN et al., 
2003). Durante a Dinastia Zhou (1027 a 221 a.C.) o General Sun-Yang (também chamado Pao Lo, 
659 a.C.), considerado “pai” da Medicina Veterinária na China e o primeiro praticante totalmente 
dedicado à acupuntura em animais, escreveu o “Cânone da Medicina Veterinária”. Considerada 
registro histórico marcante uma escultura em rocha da Dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.) mostra 
soldados fazendo acupuntura com flechas em seus cavalos para estimulá-los antes das batalhas (KIM 
et al., 2005; PITTER & ERNST, 2006; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007). 
No Brasil, um dos principais incentivadores do estudo da acupuntura veterinária foi o Professor 
Tetsuo Inada, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que, em meados da década de 1980, 
ensinava a transposição da técnica a partir de humanos para animais. O I Simpósio Brasileiro de 
Acupuntura Veterinária ocorreu em 1994, com a vinda do Professor Oswald Kothbauer, pioneiro da 
hipoalgesia cirúrgica na Faculdade de Veterinária da Universidade de Viena, Áustria, e do Professor 
Wang Qing Lan, Vice Reitor da Faculdade de Veterinária, da Universidade de Pequim, China. E em 
1999, durante o I Congresso Brasileiro de Acupuntura Veterinária foi fundada a Associação 
Brasileira de Acupuntura Veterinária (ABRAVET), com o escopo de agregar médicos veterinários 
acupunturistas e promover seu aperfeiçoamento técnico (SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2006). 
A tabela 01, abaixo, mostra os principais eventos e livros históricos da acupuntura veterinária. 
 
 
 
 
13 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
TABELA 1: EVENTOS HISTÓRICOS E LIVROS: 
DATA 
TÍTULO DO LIVRO 
(CHINÊS) 
TÍTULO DO LIVRO (TRADUÇÃO) NOTAS OU AUTORES 
Séculos XVI a 
XI a.C. (período 
shang). 947 a 
928 a.C 
 
 
Domesticação de gado de fazenda. 
Desenvolvimento das agulhas de sangria 
em cavalos desenvolvida por Zhao Fu 
659 a 621 a.C. 
(período 
Chunqiu) 
Bai-le Zhen Jing Cânon da Medicina Veterinária 
Um lendário relato escrito por Sun-Yang, 
vulgo Bai-le 
Século II a.C 
(possivelmente) 
Huangdi Nei Jing 
Clássico de Medicina Interna do 
Imperador Amarelo 
Livro fundamental de terapia para seres 
humanos, que também influenciou a 
acupuntura e moxabustão em animais. 
200 a.C. a 220 
d.C (períodos 
Qin e Han) 
 
 
Desenvolvimento de agulhas de ferro, 
ouro e prata. 
265 a 316 d.C. 
(período Jin do 
Oeste) 
Lie Xian Zhuan A Lenda sos Imortais Descreve terapias para animais. 
 Zhen Jiu Jia Yi Jing 
Tratado de Acupuntura Clássica e 
Moxabustão 
Livro influente de terapias para seres 
humanos, com 12 volumes. 
 Zhou-hou Bei-ji Fang Manual de Terapias de Emergência 
Escrito por Ge Hong. Inclui descrição de 
sangria do ponto Wei-jian para tratar 
insolação em cavalos. 
Século VI Qi-min Yao Shu Técnica Básica para Fazendeiros 
Relaciona muitos tratamentos veterinários 
com acupuntura. 
581 a 618 
(período Sui) 
Ma Jing Kong-xiue Tu 
Atlas dos Canais e Acupontos em 
Equinos 
 
618 a 907 
(período Tang) 
 
Estabelecimento de um sistema 
abrangente de formação em veterinária. 
 Si-mu An-ji Ji 
Uma Coleção de Maneiras para 
Cuidar e Tratar Cavalos 
Escrito por Li Shi. 
960 a 1279 
(período Song) 
Fan-mu Chuan-yan Fang 
Prescrições Provadas de Origem 
Nômade 
Escrito por Wang Yu. Possui apêndices 
sobre acupuntura veterinária. 
 Ming-tang Jiu Mi Jing 
Cânon de Moxabustão em Equinos 
de Ming-tang 
Escrito por Ming-tang 
1279 a 1368 
(período Yuan 
[mongol]) 
Quian Ji Tong-xuan Lun 
Uma Dissertação sobre o 
Tratamento de Cavalos Doentes 
Descreve o tratamento de cavalos com 
acupuntura e moxabustão. 
1594 (durante o 
período Ming) 
Ma Shu O Livro dos Cavalos 
Editado por Yang Shi. Possui um capítulo 
sobre acupuntura. 
1601 (durante o 
período Ming) 
Zhenjiu Dacheng 
Compêndio de Acupuntura e 
Moxabustão 
Escrito por Yang Ji-zhou. Um livro de 
terapias para seres humanos, que 
influenciou a acupuntura veterinária. 
14 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
1608 (durante o 
período Ming) 
Yuan-Heng Liao-ma Ji 
Tratado Terapêutico de Cavalos de 
Yuan e Heng 
Escrito por Yu Bem-yuan e Yu Bem-heng, 
os irmãos Yu. Tornou-se o texto de 
acupuntura veterinária mais importante. 
1644 a 1840 
(durante o 
período Qing) 
 
 
Yuan-Heng Liao-ma Ji foi reinterpretado e 
anotado. 
 Yang Gen Ji Antologia de Cultivo e Agricultura 
Escrito pr Fu Shu-feng, com detalhes de 
acupuntura e moxabustão em gado. 
 Niu-yi Jin Han 
Guia de Ouro para Veterinários de 
Bovinos 
Relaciona 35 acupontos. 
 Da Wu Jing Clássico sobre Gado Relaciona 36 acupontos. 
1840 a 1911 
(no final do 
período Qing) 
 
 
A colonização na China afetou 
gravemente outros desenvolvimentos. 
1873 (período 
Qing) 
Huo-shou Ci-zhou Assistência Humanitária de Animais 
Autor autônomo, mas contém uma seção 
sobre acupuntura em um texto sobre 
medicina herbácea. 
1947 (antes da 
fundação da 
República) 
 
 
Fundação da Faculdade Agrícola da 
Universidade do Norte incorporando a 
medicina veterinária tradicional. 
1949. 
 
 
Estabelecimento da república Popular da 
China. 
A partir de 
1949 
 
Muitos livros (mais de 30) sobre medicina 
veterinária tradicional e acupuntura foram 
escritos. 
1955. Hsing Yue Ma Ching Novo Tratado sobre Cavalos e Gado 
Escrito por Kim Chung Tze. É o primeiro 
livro de veterinária chinesa a usar 
terminologia moderna. 
1956. 
 
 
Primeiro Congresso Nacional sobre 
Medicina Veterinária Popular, Beijing. 
 
 
Jornal Chinês de Medicina 
Veterinária e Boiadeiro e Medicina 
Veterinária 
Esses dois jornais sobre veterinária foram 
publicados pela primeira vez. 
1958. 
 
 
Desenvolvimento da hipoalgesia por 
acupuntura, na China. 
1969. 
 
 
Hipoalgesia por acupuntura aplicada pela 
primeira vez em cavalos e burros. 
1981. 
 
 
Conferência Internacional sobre 
Acupuntura Veterinária, Beijing. 
 
Mod i f i cad o d e : Yu C , Ed : Han d b ook on Ch in es e v e t er i n a r y acu p u n c tu re an d mo xi b u s t i on , Ban gk ok , Th a i lan d , 
1 9 9 0 , Food an d Agr i cu l t u ra l Organ i za t i on Region a l O f f i ce f or As i a an d t h e Pac i f i c ; an d Kl id e AM, Ku n g SH : 
Vet e r i n a r y acu n p u tu re , Ph i la d elp h i a , 1 9 7 7 , Un iver s i t y of Pen n s ylvan i a Pr e ss . 
 
15 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
4.1.3. Prática Corrente da Acupuntura Veterinária: 
 No final do século XX os veterinários puderam ser classificados em três grupos, de acordo com 
seus padrões de prática da acupuntura veterinária: 
GRUPO 01 – Estão dispostos a aceitar apenas os padrões médicos veterinários científicos mais 
rigorosos. Esses indivíduos aprovam apenas os procedimentos de acupuntura veterinária que 
demonstram, de maneira convincente, ser válidos e eficazes, sendo também econômicos e eficazes 
em comparação com opções mais convencionais. 
GRUPO 02 – Acredita que as terapias auxiliares, como a acupuntura veterinária, quando 
concebidas como um tipo de medicina individualizada e baseada na energia, não podem ser 
adequadamente pesquisadas pelos métodos científicos ocidentais e, portanto, preferem ignorar os 
argumentos para padrões médicos veterinários científicos rigorosos. Esses veterinários 
fundamentam a acupuntura veterinária que exercem somente na teoria na teoria tradicional chinesa 
– nas teorias dos Oito Princípios ou dos Cinco Elementos -, assim como ocorre na MTC em 
humanos. Existem poucas pesquisas que documentem a eficácia desse método até agora. 
Atualmente, esse método baseia-se totalmente em relatos e experiência clínica. 
GRUPO 03 – Muitos acupunturistas veterinários adotam uma postura mais moderada entre os 
outros dois grupos. Eles valorizam as pesquisas que até agora validaram algumas áreas da prática da 
acupunturaveterinária e que, em alguns casos, demonstraram que a acupuntura é tão eficaz quanto 
às opções farmacêuticas, não obstante as viabilidades dos procedimentos. Entretanto, reconhecem 
as deficiências das opções terapêuticas veterinárias ocidentais para certas condições e, 
fundamentando-se nas teorias da acupuntura, crêem em pelo menos uma base teórica para tentar a 
acupuntura. Esse grupo também aprova a acupuntura veterinária fundamentada na teoria médica 
veterinária tradicional chinesa, tendo como base razões supostamente empírica. 
 
4.1.4. Bases Neurofisiológicas e Acupuntura: 
Estudos foram realizados para elucidar os mecanismos biológicos de acupuntura e envolvimento de 
peptídeos opióides endógenos na analgesia por acupuntura. PULLAN et al. (1983), relacionaram a 
liberação de hormônio de crescimento após eletro acupuntura em pacientes portadores de dores 
16 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
crônicas. O processo foi mediado por peptídeos opióides endógenos, sugerindo o envolvimento 
desses opióides no controle de secreção de hormônios pituitários. 
Diversos estudos demonstraram que a estimulação provocada pela acupuntura aumenta a liberação 
de neuropeptídeos de terminações nervosas o que provoca efeitos semelhantes aos do exercício 
físico. 
Modelos explicam os mecanismos de ação que provocam analgesia através de um modelo neuro-
humoral onde a agulha de acupuntura estimula os nervos aferentes A-delta de um neurônio 
periférico, o qual, que termina no corno dorsal da medula espinhal, transfere o impulso a outro 
neurônio no mesmo segmento espinhal, ativando três níveis do sistema nervoso. 
Em ordem ascendente, esses níveis são: medula espinhal dentro do mesmo segmento, região supra-
espinhal – substância cinzenta periaquedutal -, núcleo magno da rafe e o complexo hipófise-
hipotálamo. 
Quando cada um desses níveis é estimulado, endorfinas, monoaminas, serotonina e adrenalina 
atuam inibindo a dor. Baseado nesses mecanismos, o uso conjunto de triptofano para aumentar os 
níveis de serotonina e D-fenilalanina e de bacitracina para inibir o metabolismo de endorfinas, pode 
aumentar analgesia por acupuntura. 
Assim a acupuntura pode ser definida como um método de estimulação neural periférica que leva à 
neuromodulação. 
Ocorrem efeitos locais como vasodilatação. Verificou-se também aumento na perfusão sanguínea, 
estímulo à regeneração de tecidos, relaxamento muscular, restauração da força muscular, e 
restauração da função articular. 
A neuromodulação na medula espinhal ativa a modulação do sistema aferente sensorial, 
promovendo a normalização do tônus e da função muscular, além de normatização da atividade 
autonômica simpática e parassimpática. 
A neuromodulação atinge a região do tronco cerebral, em nível supra-espinhal, ativando o sistema 
que inibe a dor. A neuromodulação cerebral atinge o sistema límbico, controlando as respostas 
afetivo-emocionais. 
17 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
O estímulo neural periférico ativa repetidamente os sistemas fisiológicos de inibição da dor e 
regulação autonômica e estimula o organismo a continuar com essa atividade, prolongando os 
efeitos. 
Os resultados da acupuntura estão relacionados à intensidade, duração e freqüência do estímulo que 
é feito no acuponto. Segundo SMITH (1992), as baixas freqüências, menores do que 05 Hz 
promovem a liberação de metaencefalinas na medula espinal, com estimulação de fibras A-delta; 
frequências altas, maiores do que 100 Hz liberam dinorfina na medula espinal e estimulam 
principalmente fibras C. Freqüências ainda mais altas, ao redor de 200 Hz, estimulam analgesia 
relacionada com serotonina e noradrenalina. 
Diversas linhas de evidências relacionam a participação de receptores tipo polimoidais no 
mecanismo periférico da acupuntura e moxabustão. Esses receptores polimoidais respondem a 
estímulos mecânicos, químicos e térmicos. Consistem em terminações nervosas livres e localizam-
se em diversos tecidos, podendo estar sensibilizados e presentes nos denominados pontos-gatilho. 
Muitos pontos-gatilho correspondem a pontos de acupuntura. 
4.1.4.1 Sistema Nervoso Central e Acupuntura 
 A influência da acupuntura no sistema nervoso tem sido investigada em diferentes espécies animais 
e em humanos. O estímulo da acupuntura afeta partes distintas do sistema nervoso, tanto o sistema 
motor e sensorial do SNC como o Sistema Nervoso Autônomo. 
 Estudo utilizando tomografia computadorizada mostrou ativação do hipotálamo com eletro 
acupuntura a 02 Hz no acuponto IG4 em pacientes humanos. Estudo com ressonância magnética 
funcional revelou ativação do córtex visual com laserpuntura no acuponto B67, descrito já para uso 
em desordens visuais ou dor ocular. 
 
4.1.5. Mecanismo de Ação: 
4.1.5.1 Acupontos 
 O sistema de meridianos ou canais, onde são distribuídos os acupontos, conduz energia pelo 
organismo. Os canais principais recebem as designações de Pulmão, Intestino Grosso, Estômago, 
18 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
Baço-Pâncreas, Coração, Intestino Delgado, Bexiga, Rim, Pericárdio, Triplo-Aquecedor, Vesícula 
Biliar e Fígado. A necessidade de uma linguagem única para troca de informações mundialmente 
levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a estabelecer uma nomenclatura internacional 
padrão. 
 A ação da acupuntura começa no acuponto. O acuponto é uma área cutânea que apresenta baixa 
resistência elétrica e grandes concentrações de terminações nervosas sensoriais, feixes e plexos 
nervosos, mastócitos, linfócitos, capilares e vênulas. O acuponto apresenta relação estreita com 
nervos, vasos sanguíneos, tendões, periósteos e cápsulas articulares, localizando-se entre músculos 
ou entre um músculo e um tendão ou osso. 
 Os acupontos dos membros estão situados nos meridianos que correspondem ao trajeto de nervos 
principais e vasos sanguíneos; os da região do tronco relacionam-se com a inervação segmentar e 
local de penetração de nervos e vasos sanguíneos na fascia muscular. Os da cabeça e face estão 
próximos aos nervos cranianos e cervicais superiores. As agulhas de acupuntura têm propriedades 
biofísicas com as quais desenvolvem um potencial elétrico na ponta, isoladamente, de 1800mv. 
Dessa forma, o estímulo da acupuntura é transmitido do acuponto para a medula espinhal pelos 
nervos periféricos aferentes. 
 Segundo LANGEVIN et al. (2001), a manipulação da agulha de acupuntura provoca uma 
deformação do tecido conjuntivo, transmissão de sinal mecânico dentro de fibroblastos e outras 
células aderidas às fibras de colágeno, estimulando variados sensores mecano-receptores ou 
nociceptores. Este efeito é importante, pois não se restringe ao local da agulha, podendo se estender 
para planos do tecido conjuntivo intersticial. 
 Podem ser responsáveis, também, por alterações no fluxo sanguíneo, resultando na modulação de 
longo prazo da informação sensorial e do efeito da acupuntura, que podem durar períodos de horas 
ou mesmo de dias. 
 
4.1.6. Metodologia e Instrumental de Estimulação: 
Tão relevante quanto à seleção dos pontos é a técnica de estímulo. Existem inúmeras alternativas 
para o estímulo do ponto e, a cada dia, mais opções surgem em função da incorporação de novas 
19 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
tecnologias à acupuntura. Os métodos tradicionais persistem e se destacam como os mais utilizados. 
(ERNST & WHITE, 1999; HIELM-BJORKMAN et al., 2001; SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001; 
JAEGER et al., 2007; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007; COLBERT et al., 2008). 
Além da técnica tradicional de estimulação manual das agulhas, podem ser utilizados outros 
métodos em pequenos animais, dentre eles, a laserpuntura, moxabustão indireta, aquapuntura, eletro 
acupuntura e implantes, os quais serão descritos a seguir. A auriculoterapiaserá comentada em um 
capítulo a parte. 
4.1.6.1 Variação da pressão física 
 É a massagem do ponto com aplicação da pressão digital ou de massageadores de madeira, como no 
Shiatsu, Do-In, Jun Shin Do Jitsu e Tsubo. Aqui se inclui também a pressão negativa, com a 
aplicação de ventosas. Em animais, o uso de ventosas é dificultado pela presença de pelos. 
4.1.6.2 Agulhamento 
 Existe uma grande variedade no tamanho das agulhas, bem como no procedimento de inserção e de 
manipulação dessas. Atualmente são empregadas agulhas descartáveis filiformes confeccionadas 
em aço inoxidável, de diversos calibres, e os mais usados variam de 0,25 a 0,30 mm. Os 
comprimentos são determinados de acordo com o porte do animal e localização dos acupontos, 
variando de 1,5 até 05 cm. A inserção, profundidade, ângulo adequado, manipulação e remoção das 
agulhas requerem treinamento apropriado e prática. Normalmente o agulhamento atravessa a derme 
atingindo o tecido subcutâneo, podendo alcançar músculos ou ossos. Agulhas intradérmicas são 
utilizadas principalmente em pontos de acupuntura no pavilhão auricular. Após sua colocação, estas 
agulhas são fixadas com esparadrapo e retidas por um período que pode variar de um dia a uma 
semana. Tal técnica é pouco executada em animais. O uso de agulhas hipodérmicas em substituição 
às agulhas de acupuntura é adotado com sucesso em eqüinos e bovinos. 
4.1.6.3 Variação de temperatura 
 A técnica mais praticada é a moxabustão indireta, com aquecimento do ponto com bastões 
incandescentes de Artemísia sinensis. A moxabustão indireta é indicada tradicionalmente em 
patologias crônicas e em alguns processos dolorosos cuja piora ocorre com clima frio e úmido. A 
Artemísia vulgaris, enrolada em forma de bastão, é queimada e colocada sobre a acuponto ou 
20 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
aquecendo a agulha. Deve-se tomar cuidado para não provocar queimaduras no paciente. Para a 
moxabustão direta, a “lã” da erva é colocada sobre o ponto e acesa, deixando-a queimar em 
direção à pele. Outra forma é o uso de luz infravermelha ou ultravioleta para estimulação sobre as 
agulhas já inseridas. A aplicação de frio é também um meio efetivo para promoção da analgesia, 
sendo utilizado gelo ou vaporização tópica de fluorimetano, cloreto de etila, fluoretil ou 
diclorotetrafluoretano. 
 Não é aplicado moxabustão em ponto próximos a vasos sanguíneos e tecido edematoso. Deve-se ter 
cuidado com áreas com sensibilidade cutânea reduzida. 
4.1.6.4 Eletroacupuntura 
 Consiste na passagem de corrente elétrica através da agulha. A escolha do formato da onda, 
freqüência e intensidade da descarga vão definir o tipo de efeito atingido. É, provavelmente, depois 
do agulhamento simples, a técnica mais disseminada e melhor estudada da acupuntura. Aparelhos 
eletrônicos podem ser utilizados nos acupontos com a finalidade de promover estímulos mais 
intensos do que a manipulação manual das agulhas de acupuntura. Os estímulos elétricos através 
dos eletrodos podem ser aplicados nas agulhas previamente inseridas, ou seja, estímulo percutâneo 
ou sobre os acupontos, usando um meio eletrocondutor, denominado de estimulação transcutânea. 
Recomenda-se o uso de aparelhos de corrente alternada e onda tipo quadrada para evitar 
queimaduras por eletrólise. Essa alternativa também possibilita controlar a freqüência do estímulo, 
sendo normalmente alternadas freqüências baixas, de 01 a 50 Hz, e altas, de 100 a 200 Hz. 
 Este método é muito usado para finalidades analgésicas e realização de alguns procedimentos 
cirúrgicos. Contudo, não promove analgesia cirúrgica, mas hipoalgesia, havendo necessidade de 
complementação com outros fármacos. É indicado também para dor crônica, como na osteoartrite. 
4.1.6.5 Implante 
 Trata-se de um procedimento cirúrgico-ambulatorial que objetiva atingir uma estimulação 
prolongada ou mesmo permanente dos pontos. Fragmentos especialmente preparados e 
confeccionados de diversos materiais podem ser utilizados, como categute, aço inoxidável, platina e 
ouro. Esse procedimento é considerado um método cirúrgico, e o paciente após anestesia geral é 
preparado para a inserção de uma agulha hipodérmica de grande calibre no acuponto. Com auxílio 
21 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
de um estilete no lúmen da agulha, a esfera de ouro é inserida no local. Retira-se a agulha 
hipodérmica e, em seguida, o estilete. Dessa forma, as esferas mantêm-se nos planos mais 
profundos. O implante de fragmentos de ouro para o tratamento de displasia coxofemural em cães é 
prática comum entre acupunturistas veterinários, e testes clínicos mostram resultados positivos e 
duradouros. É importante que essa técnica não seja confundida com implante de agulhas 
permanentes, um procedimento que remete a várias complicações. São indicados para tratar dor 
crônica devido à osteoartrose por displasia coxofemural e epilepsia. 
4.1.6.6 Ultrassom, Laser, Indução Magnética 
 São todas técnicas não invasivas, rápidas e indolores. Necessitam de aparelhagem específica e são 
muito utilizadas em pacientes com baixa tolerância ao agulhamento (LIGNON et al., 2002). A 
laserpuntura iniciou-se em 1973, mas não foi aceita por todos os veterinários da área de acupuntura, 
exceto na prática eqüina, caso em que é utilizado laser de baixa intensidade para o estímulo dos 
acupontos. 
 Entretanto, diversas vantagens são citadas, como o método não invasivo, realizado com assepsia. É 
indolor, tem necessidade de mínima contenção e curta duração de aplicação, pois o tempo de 
estímulo por acuponto pode variar de 30 segundos a 1 minuto. Portanto o uso do laser é muito 
vantajoso, como opção de tratamento com acupuntura em animais agressivos ou com processos 
dolorosos agudos em regiões cefálicas, ou pacientes mais sensíveis, como felinos e filhotes. As 
desvantagens incluem alto preço do aparelho, limitações em relação à dosagem ou parâmetros 
ótimos para alcançar os efeitos específicos, além da necessidade de um maior número de aplicações. 
4.1.6.7 Injeção 
 Segundo a teoria da MTC, é capaz de manter o estímulo por período prolongado, além de 
potencializar o efeito da substância utilizada. Aquapuntura, ozôniopuntura, fitopuntura, 
homeopuntura e hemopuntura são as formas mais comuns. A farmacopuntura ou injeção de 
fármacos nos pontos tem sido usada com sucesso em animais. Autores chineses afirmam que, em 
muitas situações, o uso de subdoses produz um efeito longo e similar à dose convencional, com a 
vantagem de causar menos efeitos colaterais (NIE et al., 2001; WANG et al., 2007). Seu uso em 
Medicina Veterinária contribui com a redução do uso indiscriminado de medicamentos, diminuindo 
22 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
os efeitos colaterais, os resíduos nos animais de consumo e o custo dos tratamentos (ALVARENGA et 
al., 1998; WYNN et al., 2001; BOTTECCHIA et al., 2006; LUNA et al., 2008). 
 Pode-se aplicar de 0,25 a 2 ml de produtos medicinais nos pontos de acupuntura, sendo indicados 
em pacientes agitados, como os gatos, pois requer um curto período de contenção. São utilizadas 
agulhas hipodérmicas e as soluções empregadas variam entre água destilada, soluções hipotônicas 
ou hipertônicas, vitaminas, antibióticos, extratos herbais, anestésicos locais, analgésicos e agentes 
antiinflamatórios. 
 Trata-se de um método que pode ser utilizado como um complemento à técnica da inserção de 
agulhas. 
4.1.6.8 Sangria 
 Permanece como um recurso bastante utilizado em Medicina Veterinária, principalmente em 
quadros agudos dolorosos ou febris. O volume de sangue retirado está ligado ao porte do animal e 
varia de algumas gotas a poucos ml. 
 
4.1.7. Técnica: 
Antes de ser aplicada a acupuntura, deve-se realizar a anamnese, um exame físico completo e 
estabelecer um diagnóstico. O proprietário deve estar ciente e optardentre as modalidades de 
tratamento, seja cirúrgico ou medicamentoso, além da acupuntura. Outra forma de tratamento da 
Medicina Tradicional Chinesa é a prescrição por via oral fórmulas herbais chinesas que 
desencadeiam diversos efeitos no organismo. 
Os animais devem ser posicionados adequadamente, em decúbito lateral ou em estação, e contidos 
com ajuda do proprietário, pois raramente é usada a contenção química. Procede-se à inserção das 
agulhas ou escolha de outro método de estímulo, sendo a duração do evento entre 20 e 30 minutos. 
 
4.1.8. Diagnóstico: 
Na Medicina Tradicional Chinesa, como em qualquer sistema médico, a definição do diagnóstico é 
pré-requisito para a determinação do tratamento. O diagnóstico, na Medicina tradicional Chinesa, 
23 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
visa à compreensão de como o paciente se insere dentro do seu contexto de vida e como está 
interagindo com os fatores que o cercam. Esta abordagem é a aplicação prática da filosofia chinesa 
que vê o ser humano (microcosmo) em constante interação com o mundo (macrocosmo). O padrão 
de resposta de cada indivíduo, em dado momento, é categorizada em síndromes. A partir desse 
diagnóstico, é definido o plano de tratamento (WEN, 1989; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007). 
 
4.1.9. Definição do Protocolo de Tratamento: 
A escolha dos pontos de acupuntura é baseada na classificação do desequilíbrio apresentado. A 
estimulação de um determinado ponto possui indicações específicas que são expressas em seu nome 
chinês original. A estimulação simultânea de dois ou mais pontos de acupuntura pode ampliar suas 
indicações específicas. Tradicionalmente, cada ponto de acupuntura tem uma ou mais diversas 
ações, quando estimulado. Quando usado em combinação com outros pontos de acupuntura, os 
resultados são modificados. 
A acupuntura pode ser aplicada a cada dois ou três dias em casos agudos e, em casos crônicos, uma 
vez por semana durante quatro a oito semanas. Quando o quadro se estabiliza, pode-se diminuir a 
freqüência para intervalos quinzenais. Posteriormente, avalia-se a cada três e mais tarde a cada seis 
meses, sendo aconselhado em período de estação mais quente ou fria do ano, dependendo do 
problema do animal. 
A definição do tratamento também deve se basear nas categorias nas quais os pontos de acupuntura 
são divididos: 
1) Efeitos locais; 
2) Efeitos à distância e 
3) Efeitos sistêmicos (WEN, 1989; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007). 
As diferenças entre as espécies também devem ser levadas em consideração, já que existem 
variações na localização e função de alguns pontos. O exemplo mais marcante é o Bai Hui que 
significa “Cem Encontros”. Em humanos, esse ponto corresponde ao VG-20, localizado no ápice da 
cabeça. É considerado como uma “porta ou janela para o céu” e tem como indicações cefaléia 
parietal, falta de memória, epilepsia. Em quadrúpedes, fica no espaço lombossacral e seu estímulo é 
24 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
indicado para desordens lombares e dos membros pélvicos, além de ser tônico geral do Qi e da 
imunidade (BOTTECCHIA, 2005; 2006). Por isso pode ser denominado Yao Bai Hui: “Cem 
Encontros Lombares”. 
 
4.1.10. O Agulhamento de Animais: 
 Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, a doença é resultado da interação entre o agente causal e 
o indivíduo, resultando em desequilíbrio nos componentes Yin e Yang do organismo. Essa 
desarmonia determina o curso da doença e está relacionada à oposição dos dois fatores citados: 
Energia Correta (Zheng Qi), fator intrínseco que traduz a resistência à doença; e Energia Perversa 
(Xie Qi), o fator patogênico propriamente dito. 
 A prática clínica da acupuntura em animais esbarra em dificuldades inerentes à Medicina 
Veterinária, tais como variação estrutural e funcional entre as espécies, necessidade de contenção 
em pacientes agressivos e manejo adequado de animais agitados ou assustados, dentre outras. 
Porém, o encaminhamento de casos difíceis ou crônicos é prática comum, fazendo a casuística da 
acupuntura veterinária uma seleção de pacientes complicados (SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 
2006). O uso de suportes para manter os animais em posição quadrupedal, assim como de aparelhos 
de fisioterapia, auxilia no tratamento de portadores de paresias e paralisias. 
 
4.1.11. Indicações: 
Segundo a Organização Mundial de Saúde existe uma vasta gama de desordens tratáveis pela 
acupuntura: doenças musculares, ósseas e articulares, dores de cabeça, ansiedade, depressão, asma, 
bronquite, mau posicionamento fetal, acidente vascular cerebral, entre outras. Na Medicina 
Veterinária, disfunções reprodutivas, neurológicas, musculoesqueléticas, dermatológicas, dor, 
emergências anestésicas e discopatias, podem ser tratadas com sucesso com a acupuntura. No 
Brasil, cerca de 70% dos casos encaminhados consistem em quadros nervosos e/ou 
musculoesqueléticos, consideradas as doenças com melhor índice de recuperação quando tratadas 
com acupuntura (BANNERMAN, 1980; SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001; MACIOCIA, 2007; 
SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007). 
25 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
Dentre os objetivos terapêuticos da acupuntura, citam-se a promoção de analgesia; recuperação 
motora; regulação das funções orgânicas; modulação da imunidade, das funções endócrinas, 
autonômicas e mentais; e ativação de processos regenerativos. 
Diversas publicações relatam indicações clínicas da acupuntura veterinária nas desordens 
neurológicas e musculoesqueléticas como paralisias e paresias por patologias de disco intervertebral 
e espondilopatias, síndrome da cauda eqüina, paralisias faciais, epilepsias, osteoartrose, desordens 
reprodutivas e gastrointestinais. Relatam ainda desordens urinárias como nefrites, cistites, uretrites, 
urolitíases e alterações na micção e diurese; além de seqüelas de infecção viral como na cinomose, e 
desordens imunomediadas como alergias, imunossupressões e doenças auto-imunes. Mencionam 
também alterações na cicatrização e regeneração tecidual como em úlceras em pele, fraturas ósseas, 
injúrias musculares e tendíneas e analgesia. 
 
4.1.12. Contra Indicações: 
Há poucas contra-indicações, e se a acupuntura for realizada por profissional qualificado, não 
haverá efeitos negativos. Os conhecimentos básicos da anatomia da região a ser inserida a agulha 
são importantes para evitar traumatismos em estruturas internas. O procedimento não deve ser 
realizado em animais extremamente fracos, em animais assustados, bravos ou agitados e sem 
possibilidade de contenção adequada. É contra-indicado o uso da acupuntura sobre áreas tumorais 
e/ou infectadas. Também deve ser evitado em gestantes, principalmente em pontos abaixo da 
cicatriz umbilical, em animais com discrasias sanguíneas ou deficiências de coagulação a após uma 
vasta refeição. Em pacientes portadores de marca-passo ou condições cardíacas severa deve-se 
evitar o uso de eletro-acupuntura. Outra contra-indicação importante é iniciar o tratamento por 
acupuntura antes de ter sido firmado um diagnóstico adequado, ou antes, que tenha sido feita uma 
tentativa honesta e diligente para determinação da etiologia da condição sob tratamento. Isso é 
contra-indicado porque a acupuntura pode mascarar ou alterar os sintomas clínicos, de modo que 
será difícil, mais tarde, um diagnóstico mais acurado (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1979; 
BANNERMAN, 1980; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1999). 
O uso em conjunto de acupuntura com corticosteróides é controverso. 
 
26 
 
 
ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
4.1.13. Reações Adversas: 
Dentre as reações adversas ao tratamento com acupuntura, podem ser citadas: agulhas quebradas, 
agulhas “presas” ou “congeladas” (agulhas presas no tecido, normalmente na fascia ou também 
devido a espasmos musculares, tornandodifícil sua remoção); injúria a órgãos vitais como coração, 
fígado, rins e baço; hematomas, pneumotórax; infecções secundárias, náuseas, síncope (BERGQVIST, 
2008; LEUNG & ZHANG, 2008). 
 
4.2 Acupuntura Auricular: 
A acupuntura auricular é um interessante ramo da acupuntura geral, que usa pontos específicos na 
aurícula para fins diagnósticos e terapêuticos. Esse método foi desenvolvido recentemente e vem 
ganhando o interesse de clínicos e pesquisadores. A acupuntura auricular veterinária pode ser uma 
técnica complementar valiosa, especialmente na clínica de pequenos animais. 
A acupuntura usa um sistema de pontos de acupuntura gerais (clássicos) espalhados por todo o 
corpo e mais alguns microssistemas. Esses microssistemas podem ser encontrados em partes 
circunscritas e bem definidas do corpo, como aurícula, nariz ou pé. Esses sistemas locais de pontos 
de acupuntura representam órgãos do corpo e suas funções. Agem sinalizando os distúrbios 
funcionais dos órgãos aos quais estão ligados e podem ser usados para estimular os mesmos órgãos 
e harmonizar suas funções. Os pontos auriculares podem, portanto, ser usados tanto para fins de 
diagnóstico como para tratamento, ou seja, auriculodiagnóstico e auriculoterapia. 
De acordo com um antigo texto chinês, a aurícula foi considerada um importante cruzamento dos 
“principais meridianos Yin e Yang dos braços e membros”. Conseqüentemente considerava-se a 
aurícula interconectada com todos os órgãos e sistemas internos. 
A orelha tem um importante papel na Acupuntura Veterinária desde 1980. Pode ser usada como 
diagnóstico, bem como terapia. 
Normalmente a orelha no animal não apresenta resistência elétrica da pele reduzida, isto é, nenhuma 
alta sensibilidade à pressão. Somente quando um órgão está afetado em sua função, apresenta certos 
pontos sensíveis à pressão na orelha, que somente apresentam uma resistência elétrica reduzida da 
pele. Estes pontos podem escamar estar avermelhados e/ou sensíveis à pressão. Essa forma de 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
acupuntura não surgiu na velha China, apesar de que já há 3000 anos tenha surgido na obra da 
medicina do “Imperador Amarelo” HUANGDI NEIJING descrições de pontos de Acupuntura na 
orelha. A orelha é descrita nesta obra como o local onde se encontram todos os meridianos. Já na 
antiguidade (Grécia e Egito) existiam relatos sobre a cura de certas doenças através da estimulação 
de certas regiões da orelha (nervo ciático), porém faltava uma relação direta com as partes 
específicas do corpo e órgãos. 
 
4.2.1. Histórico: 
A acupuntura auricular foi desenvolvida para um extraordinário sistema diagnóstico e terapêutico 
pelo médico francês Dr. P. M. F. Nogier, de Lyon, que descobriu o método durante a década de 50. 
Em 1956 ele tornou público os seus conhecimentos pela primeira vez no Congresso de Acupuntura 
em Marseille e criou o nome Auriculoterapia. Em 1957, ocorreu a tradução alemã e sua publicação 
através de D.G. Bachmann na Revista Alemã para Acupuntura. 
O surgimento deste método de diagnóstico e tratamento também se deve à Nogier. Ele notou que 
em muitos de seus pacientes com as mesmas doenças, certos pontos da orelha apresentavam toda 
vez alta sensibilidade, vermelhidões e escamações, cuja cauterização acarretava, na maioria dos 
casos, uma melhoria até uma cura completa da doença. Após esta descoberta, ele e seu time 
elaboraram um mapa de zonas de somatotopia do pavilhão da orelha, onde todas as regiões do 
corpo estavam registradas. O pavilhão da orelha apresenta um embrião de cabeça para baixo, isto é, 
certos pontos da orelha (Topos = posição) reagem em doenças dos órgãos (Soma = corpo). A base 
da Acupuntura da orelha está na noção de que todo o corpo humano está representado 
somatotopicamente na pele do pavilhão da orelha. De forma idêntica como nos reflexos víscero-
cutâneos, apresentam-se aqui no caso de um adoecimento, zonas de reação no pavilhão da orelha. 
Esta descoberta foi verificada e confirmada por acupunturistas de todo o mundo – também na 
China. Sobretudo, em publicações sobre analgesias de Acupuntura, a Acupuntura auricular Chinesa 
foi reconhecida internacionalmente. Os mapas, ao passar dos anos, tornaram-se cada vez mais 
exatos e detalhados, de forma a apresentar cerca de 150 pontos na orelha humana, os quais são 
usados como diagnóstico e terapia. 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
 
4.2.2. Comparação entre Acupuntura Auricular e Acupuntura Corporal: 
A acupuntura auricular difere, em vários aspectos, da somática (corporal), a qual usa outros pontos 
localizados na aurícula. 
4.2.2.1 Substrato 
O substrato anatômico dos pontos auriculares é menos complexo, sendo representado apenas pela 
pele e pela subcútis que cobrem a cartilagem auricular. Em comparação, os níveis mais profundos 
dos pontos de acupuntura no resto também incluem o músculo e o periósteo. 
4.2.2.2 Propriedade Diagnóstica dos Pontos Auriculares 
A detecção do ponto por meio da pressão é acompanhada por uma resposta reflexa característica, 
descrita em seres humanos como um solavanco súbito da cabeça ou do pescoço, ou uma “careta” 
(repuxo ou contração facial). Reações análogas também são típicas em cães. Ao contrário dos 
pontos auriculares, nem todos os pontos de acupuntura encontrados no corpo são sensíveis a 
pressão. A reação à palpação dos pontos de acupuntura Ashi (dolorosos) no corpo é diferente, 
provocando mais sinais locais de dor. 
4.2.2.3 Somatotopia 
Inicialmente, Nogier propôs que a superfície do corpo e as estruturas viscerais eram representadas 
na aurícula em uma organização somatotópica parecendo um feto invertido (figura 01). 
Descobertas clínicas posteriores pelo mesmo autor tendem a sugerir que pelo menos três imagens 
somatotópicas são sobrepostas na aurícula humana, dependendo da técnica de detecção. Supõe-se, 
de forma geral, que haja uma conexão funcional entre esses pontos funcionais específicos da 
aurícula e as partes do corpo e órgãos doentes ou de alguma forma alterados. Um sistema de 
meridianos é usado para localizar esses pontos e descrever sua relação com os órgãos e funções do 
corpo, em casos de acupuntura clássica. 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
 
FIGURA 01- Os pontos auriculares em seres humanos estão situados na superfície côncava da aurícula, nas áreas correspondentes ao 
feto imaginário invertido. (De: Nogier PMF: From auriculotherapy to auriculomedicine, Sainte-Ruffine, France, 1983, 
Maissonneuve.) 
 
4.2.3. Substrato Anatômico da Acupuntura Auricular: 
Descobriu-se que os pontos de acupuntura auriculares de coelhos têm vascularização e inervação 
mais intensivas do que as áreas ao redor. O exame microscópio de elétrons desses pontos de 
acupuntura mostrou que a principal estrutura receptora conter feixes de fibras nervosas e seus 
microambientes (vasos sanguíneos, mastócitos, histiócitos). Quando ativadas por pressão ou 
inserção de agulha, essas células contribuem para reações inflamatórias locais, perpetuando a 
estimulação das fibras nervosas sensitivas depois da descontinuação do estímulo mecânico. Essa 
hipótese foi parcialmente confirmada pelo fato de os mastócitos se “desgranularem” depois do 
estímulo da acupuntura dos pontos auriculares. Os mesmo autores também descobriram um 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
aumento da atividade da acetilcolinesterase das fibras nervosas estimuladas por acupuntura no lobo 
da orelha de coelhos. Isso poderia ser explicado teoricamente pelo aumento da atividade neuronal. 
Em cães, a área auricular côncava é inervada por nervo trigêmeo, nervo vago e ramos do primeiro e 
do segundo nervo cervical. Os padrões de distribuição da inervação de cães são bastante diferentes 
daqueles de seres humanos (figura 02). WHALEN e KITCHELL descreveramadicionalmente uma 
extensiva inervação pelo nervo facial de quase toda a área auricular côncava. Os autores sugerem 
que os dois nervos, facial e vago, são responsáveis, em grande parte, pelo suprimento aferente 
somático da superfície côncava da aurícula externa. De acordo com esse e com outro estudo, ambos 
feito por WHALEN e KITCHELL, existe uma grande sobreposição das zonas de inervação 
cutâneas entre os nervos auriculares. A variação individual das áreas de inervação é significativa. 
CHIEN et al. examinaram as projeções centrais dos nervos auriculares em cães. Os autores 
confirmaram que o nervo auricular interno rostral se originava do nervo trigêmeo, com uma 
pequena contribuição do nervo vago e do segundo segmento da medula espinhal cervical. Os nervos 
auriculares internos, médio e caudal, são ramos cutâneos do nervo facial. 
 
FIGURA 02 – Inervação da aurícula em seres humanos (A) e cães (B). 1 = nervo trigêmeo; 2 = nervo vago; 3 = plexo cervical (C1, 
C2). (De: Kropej H: Systematic approach to ear acupuncture, Ed. 3, Heidelberg, Germany, 1977, KF Haug; and Krueger H, Krueger 
P: Ear acupuncture in locomotor disorders of small animals, Prakt Tier 61:119 – 129, 1980). 
 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
Além dos nervos anteriormente mencionados, toda a área auricular côncava é suprida pelos nervos 
simpáticos que acompanham os vasos sanguíneos e linfáticos e os nervos somáticos. Nem a 
inervação, nem os padrões de suprimento sanguíneo explicam satisfatoriamente o grande número e 
a topografia dos pontos auriculares detectados por meio dos estudos clínicos. 
DURINYAN declara que os sinais somáticos e viscerais aferentes da concha auricular se conectam 
com os núcleos do pedúnculo cerebral, especialmente com os núcleos trigeminal e solitário. Existe 
também uma conexão direta dos nervos periféricos com a formação reticular. Essa área cerebral 
envia informações para o hipotálamo, que regula muitas funções autônomas. 
Atualmente, existem evidências experimentais de que os impulsos cutâneos aferentes provenientes 
do ouvido externo e da região periauricular têm uma conexão neural com o tálamo e o cerebelo e 
com os neurônios simpáticos pré-ganglionares da medula espinhal. Essas conexões neurais podem 
ser o substrato anatômico de reflexos viscerossomáticos e somatoviscerais envolvidos com a 
acupuntura auricular diagnóstica e com a acupuntura terapêutica, respectivamente. 
 
4.2.4. Características Anatômicas no Cão e no Gato: 
A orelha é constituída do 1º e 2º arco embrionário. A filogênese já apresenta sinais interessantes na 
importância da orelha em relação à regulagem da circulação e coração. As guelras dos peixes ficam 
próximas aos órgãos da circulação e coração, bem como vísceras, para assim, encurtar os caminhos 
de transporte. 
Como o desenvolvimento para a vida no campo, as vísceras situaram-se mais caudalmente. Assim, 
o vago tornou-se cada vez mais comprido para possibilitar a inervação das vísceras. Porém, 
ramificações distintas nos nervos dos arcos das guelras permaneceram no pavilhão da orelha. 
Formam o ponto de ataque na Acupuntura da orelha. 
4.2.4.1 Relevo Interno do Pavilhão da Orelha do Cão e do Gato 
O relevo interno da orelha externa do cão e do gato, a uma primeira comparação, tem pouco a ver 
com a orelha humana. Somente quando se imagina um prolongamento do pavilhão da orelha 
humana no Tuberculum darwinii, que se assemelha ao ápice da orelha do animal, tem-se 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
rapidamente acesso à anatomia do pavilhão da orelha de animais domésticos. Independente de o cão 
possuir orelhas pendentes ou em pé, a anatomia da escafa não se altera. 
A extremidade externa (margem trágica – rostral – e margem antitrágica – caudal) do pavilhão da 
orelha se assemelha à hélice do humano. Na base da cartilagem da orelha encontram-se 
rostralmente duas estreitas cartilagens, que são denominadas crista da hélice medial e lateral. Uma 
acentuada cartilagem transversal, inconfundível, (anti-hélice com um tubérculo bem desenvolvido) 
na região central da concha auricular é comparável à anti-hélice do humano, porém apenas 
analogamente, não homologamente. Rostralmente à anti-hélice fica uma acentuada dobra 
longitudinal (plica da escafa), que segue em direção à ponta da orelha. Esta pode estar 
acompanhada de dobras paralelas. Na base da concha, na proximidade da entrada do canal auditivo 
externo, as extremidades anteriores e posteriores da concha se encontram, formando o trago e 
antitrago. A incisura entre os dois chama-se incisura intertrágica. No cão e no gato o antitrago se 
reparte em processo antitrágico medial e lateral. 
No terço proximal da extremidade caudal da concha da orelha, encontra-se tanto no cão como no 
gato uma bolsa característica de pele (saco cutâneo marginal), que seria comparável ao lóbulo da 
orelha humana (figura 03). 
 
FIGURA 03 – Orelha esquerda do gato, na qual se pode observar a incisura intertrágica. 
 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
4.2.4.2 Vasos Sanguíneos e Inervação 
Anatomicamente, a orelha sob ponto de vista motor e sensível é muito interessante. Já apenas a 
mímica e assim quaisquer expressões de sentimentos (conexão com o sistema vegetativo) de um 
animal são expressas através da posição das orelhas. 
Desta forma, quatro nervos cerebrais com qualidades parassimpáticas próprias, bem como os vasos 
sanguíneos com os seus nervos simpáticos próprios participam da inervação do pavilhão externo da 
orelha. 
a) Nervo Trigêmio – como o 3º ramo do trigêmio, o nervo mandibular produz o nervo 
auriculotemporal. Surge entre a extremidade posterior do músculo masseter e do fundo da concha 
da orelha. 
Cujo ramo auricular (contendo fibras parassimpáticas do gânglio ótico) segue sobre a extremidade 
anterior do conduto auditivo externo até a concha da orelha e supre com os nervos auriculares 
rostrais do nervo facial a pele na base da concha e sua superfície interna anterior. 
Através do núcleo do trato solitário, o núcleo sensorial do vago está conectado com o nervo 
trigêmeo por vias parassimpáticas e simpáticas. 
b) Nervo Facial – o 1º ramo do nervo facial, do ramo auricular interno, inerva pequenos 
músculos no verso da concha da orelha. Supre em conjunto com um ramo do nervo vago (ramo 
auricular do nervo vago) e pequenas partes do nervo intermédio, a maior parte do lado interno da 
orelha. Os ramos chegam à parte interna da concha através de aberturas individuais. Inervam, de 
acordo com König (1980), uma região mista relativamente grande, a qual no cão, em relação ao 
homem, tem o dobro do tamanho. Abrange a pele do conduto auditivo externo, o trago, o antítrago, 
a incisura intertrágica, a maior parte da concha e a anti-hélice. 
Pós-rostral, o nervo facial produz o nervo auriculopalpebral, cujos ramos auriculares rostrais são 
responsáveis pelos músculos rostrais e dorsais da orelha. Estes ramos faciais conectam-se aos do 
nervo trigêmeo (nervo auriculotemporal, nervo lacrimal, nervo frontal) ao plexo auricular rostral. 
Fibras motoras chegam assim até os músculos das pálpebras. Surgindo dos ramos do nervo facial, 
os ramos para a parótida, o músculo parotidoauricular e para os músculos da pele da região do 
pescoço fecham este circuito. 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
Do nervo auricular caudal, que circunda caudalmente o fundo da concha da orelha, inerva 
motoramente os músculos caudais da concha da orelha, para então, juntamente com os primeiros e 
segundos nervos do pescoço, suprir sensivelmente a pele do verso da concha da orelha. 
Estes ramos do nervo facial contêm partes parassimpáticas próprias do gânglio proximal. 
c) Nervo Glossofaríngeo – o nervo glossofaríngeo é um nervo misto e participa da 
inervação da parte horizontal do meato acústicoexterno. Este nervo contém, também, partes 
parassimpáticas próprias do gânglio petroso. Cujo ramo do seio carotídeo continua transmitindo 
como sensor de CO2 e pressão sanguínea, impulsos ao centro vasomotor da medula oblonga. 
d) Nervo Vago – o nervo vago dos nervos cerebrais é aquele que, fora das áreas da cabeça, 
também possui uma extensa região de suprimento na área das vísceras. Também assume fibras 
motoras do nervo acessório. Os gânglios sensíveis ficam no gânglio jugular. Emitem suas fibras 
aferentes para regiões de núcleos sensíveis da medula oblonga. As células parassimpáticas de raízes 
ficam no núcleo parassimpático do nervo vago, que se conecta imediatamente de forma caudal ao 
nervo glossofaríngeo na medula oblonga. 
O ramo auricular do nervo vago inerva juntamente com um ramo do nervo facial a pele na 
superfície interior da concha da orelha. 
Somente aqui na concha da orelha é que aparece o nervo vago na superfície, tanto no homem, cão 
ou gato. 
e) Ramos do plexo do pescoço – aqui, continuam a participar ramos do plexo do pescoço, 
bem como o nervo occipital menor e o nervo auricular magno da inervação sensível e motora da 
parte posterior da concha externa da orelha. Acrescentam-se aí ainda as fibras simpáticas aferentes e 
eferentes, que acompanham os vasos sanguíneos da concha da orelha na adventícia e os inervam. 
Todos são originários do gânglio cervical cranial. 
Os seguintes vasos sanguíneos têm um importante papel na orelha do cão e do gato: 
A artéria auricular rostral é um ramo da artéria temporal superficial. É relativamente fina e surge 
rostralmente à base da orelha. Supre (de acordo com KÖNIG, 1980) a Cura helicis, o trago e o 
antítrago. Na região de ramificação existem pontos que possuem uma imediata conexão com o 
sistema nervoso vegetativo e influenciam sobremaneira a região dos órgãos. São estes os pontos das 
glândulas endócrinas: hipófise, supra-renais, tireóide e linfonodos. 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
A artéria auricular caudal é a maior das duas artérias da orelha externa. Estas vão surgir da mesma 
forma como a artéria temporal superficial, diretamente da artéria carótida externa. De acordo com 
König (1980), a artéria auricular caudal se divide em três ramos. O ramo rostral e o ramo caudal 
correm ao longo da extremidade da concha da orelha. Do ramo rostral surge à artéria auricular 
profunda. Ela supre a anti-hélice e a pele em torno do conduto auditivo externo. Na ramificação 
dessa artéria encontram-se os pontos da região dos órgãos do pulmão, do estômago e do fígado. 
O ramo central da artéria auricular caudal segue externamente à cartilagem da concha da orelha até 
a ponta da escafa. Dorsalmente à anti-hélice, ele forma diversos ramos perfurantes, que atravessam 
a cartilagem da concha para dentro e suprem a pele da superfície interna dorsal da anti-hélice. Nas 
ramificações desses ramos perfurantes encontram-se pontos de regiões de outros órgãos, como: 
estômago, rins, bexiga, coração e as regiões de pontos da coluna (KÖNIG, 1980; LAYROUTZ, 
1994). 
Assim, parece-se confirmar que as regiões de pontos para os órgãos encontram-se em ramificações 
de artérias na região de inervação mista do nervo facial e do nervo vago, enquanto que as regiões 
externas do corpo são controladas pelas ramificações de ambos os nervos na região da concha da 
orelha. 
4.2.4.3 Ponto de Acupuntura na Orelha 
HEINE (1993) examinou a estrutura morfológica dos pontos de Acupuntura da orelha, os quais se 
diferenciam de sua vizinhança por sua condutibilidade elétrica. Ele não encontrou nenhuma 
formação final nervosa típica, como (corpúsculos de Valter-Pacine, placas táteis de Merkel, 
corpúsculos de Ruffini), dentre outros, como são conhecidos em cortes normais de pele. Ao 
contrário, encontrou conjuntos em formato de ovo de estruturas de colágeno no limite do cório ao 
subcutâneo, que são atravessados por finas fibras nervosas e pequenos vasos sanguíneos. Finos 
axônios terminais do mesmo nervo cercam o colágeno como uma rede nestas formações. Pode-se 
encontrar até cinco pequenos corpúsculos entremeados de colágeno por mm². O autor parte do 
princípio de que tais conjuntos regionais de fibras de colágenos correspondem aos pontos de 
acupuntura na orelha. 
 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
4.2.5. Mecanismos Fisiológicos da Acupuntura Auricular: 
À semelhança dos pontos de acupuntura corporais, o aspecto funcional dos pontos auriculares foi 
explicado pela primeira vez por meio de reflexos viscerocutâneos, o que deu um enfoque 
neurológico à acupuntura. Afirma-se que esses reflexos são mediados por fibras simpáticas. Existe 
uma conexão bidirecional entre os órgãos internos e suas zonas de projeção somática periférica. 
Isso é classicamente documentado pelas chamadas zonas cutâneas da Cabeça. São áreas de dor 
referida das vísceras para os segmentos espinais correspondentes do tronco. Uma alteração na 
função de um órgão interno pode se manifestar por alterações cutâneas na zona segmentar 
correspondente (vasodilatação e redução concomitante da impedância/resistência elétrica da pele). 
Por outro lado, a estimulação da zona pode afetar as funções do órgão. 
Ao contrário das zonas da Cabeça de sensibilidade cutânea, os pontos de acupuntura auriculares não 
estão nos dermátomos espinais correspondentes, mas na aurícula, distantes de muitos órgãos 
internos. A acupuntura auricular deve teoricamente tirar vantagem dos reflexos supra-espinais em 
vez de reflexos segmentares. Os pontos de acupuntura auriculares tendem a estar localizados em 
áreas auriculares específicas e não se estendem a grandes zonas, ao contrário das zonas da Cabeça. 
Um estudo comparando as possibilidades diagnósticas do auriculodiagnóstico com palpação 
abdominal em cães com gastrite aguda ou gastrenterite sugeriu um diagnóstico auricular 
significativamente mais preciso. A palpação abdominal tira vantagem das zonas reflexas 
segmentares cutâneas e musculares. 
STILL descobriu que os pontos auriculares sensíveis à pressão surgiram em certos locais na maioria 
dos cães, quando suas patas dianteiras foram comprimidas, provocando ligeira dor local na pata. 
Entretanto, o ponto da “pata” não surgiu quando se fizeram um bloqueio com procaína a 2%, 
injetada na área imediatamente proximal da pata comprimida antes da aplicação da pressão. Esses 
achados tendem a sugerir que o reflexo somatocutâneo hipotético entre a pata e a aurícula é 
mediado pelo sistema nervoso periférico. Como a anestesia local bloqueia tanto os nervos 
somáticos aferentes quanto os nervos autônomos, outra experiência foi realizada bloqueando 
especificamente a inervação simpática do quadrante do corpo entre a pata e a aurícula ipsilateral. 
Usando um bloqueio com procaína do gânglio cervicotorácico ipsilateral (estrelado), a compressão 
subsequente da pata não foi seguida pelo surgimento do ponto auricular sensível à pressão. Esse 
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ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 
 
 
achado tende a sugerir que o sistema nervoso simpático desempenha um papel significativo na 
acupuntura auricular. 
O ouvido externo assume, de acordo com esses resultados de exames, a função de um biossensor, 
que registra e avalia centro-nervosamente o meio ambiente (ponto de ataque através da acupuntura), 
bem como os estímulos internos (manifestações na concha da orelha). 
KÖNIG (1980) e ZOHMANN (1989) descrevem o efeito da acupuntura na redução da dor como 
segue: através da aplicação objetiva de contra-estímulos, a sensibilidade à dor através de ações 
inibidoras nos diversos caminhos de condução é enfraquecida no caminho para o córtex cerebral. 
No caso da concha da orelha, os contra-estímulos são aplicados em regiões de inervação da pele de 
nervos da cabeça, os quais são interligados através da formação reticular. A proximidade da orelha

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