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ESCOLA BRASILEIRA DE MEDICINA CHINESA – EBRAMEC CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSU EM ACUPUNTURA JULIANA CHAVES GASTAL REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA SÃO PAULO 2010 JULIANA CHAVES GASTAL REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA Trabalho apresentado a EBRAMEC – Escola Brasileira de Medicina Chinesa, como requisito parcial para obtenção do certificado de Pós Graduação Latu Sensu, sob orientação do prof. Rodrigo Bairros Alves e co-orientação do prof. Dr. Reginaldo de Carvalho Silva. SÃO PAULO 2010 JULIANA CHAVES GASTAL REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA BANCA EXAMINADORA: _______________________________________ _______________________________________ _______________________________________ RODRIGO BAIRROS ALVES Orientador JULIANA CHAVES GASTAL SÃO PAULO, 23 de dezembro de 2010 RESUMO: Acupuntura é um recurso terapêutico milenar da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e consiste na inserção de agulhas e/ou transferência de calor em áreas definidas da pele, chamadas de acupontos. É uma técnica terapêutica empírica desenvolvida em uma cultura Oriental, baseada em tentativa e erro e que utiliza linguagem mágica (pensamento pré-científico). Ou seja, sua fundamentação é um raciocínio causal não-científico e mítico. A acupuntura auricular foi desenvolvida para um extraordinário sistema diagnóstico e terapêutico pelo médico francês Dr. P. M. F. Nogier, de Lyon, que descobriu o método durante a década de 50. Em 1956 ele tornou público os seus conhecimentos pela primeira vez no Congresso de Acupuntura em Marseille e criou o nome Auriculoterapia. Em 1957, ocorreu a tradução alemã e sua publicação através de D.G. Bachmann na Revista Alemã para Acupuntura. ABSTRACT: Acupuncture is an ancient therapeutic of Traditional Chinese Medicine (TCM) and involves inserting needles and / or heat transfer in defined areas of skin, called acupoints. Empirical therapy a technique developed in an Oriental culture, based on trial and error and using magical language (pre-scientific thinking). That is, its foundation is a non-scientific causal reasoning and mythical. Ear acupuncture was developed to an extraordinary system diagnostic an therapeutic toll by French physician Dr. P. M. F Nogier of Lyons, who discovered the method during the 50s. In 1956 he made public their knowledge for the first time in Marseille Congress of Acupuncture and Auriculotherapy creating the name. In 1957, there was the German translation and publication by DG Bachmann in the German Journal for Acupuncture. . SUMÁRIO: 1) INTRODUÇÃO................................................................................................................... ................................07 2) OBJETIVOS.........................................................................................................................................................08 3) METODOLOGIA.................................................................................................................. ..............................08 4) RESULTADOS...................................................................................................................................... ..............08 4.1) ACUPUNTURA SISTÊMICA......................................................................................................... ............08 4.1.1) HISTÓRICO DA ACUPUNTURA..................................................................................... ...08-09 4.1.1.1) NA CHINA............................................................................................................ 09-10 4.1.1.2) NO OCIDENTE................................................................................................ .....10-11 4.1.2) HISTÓRICO DA ACUPUNTURA VETERINÁRIA............................................................11-14 4.1.3) PRÁTICA CORRENTE DA ACUPUNTURA VETERINÁRIA...............................................15 4.1.4) BASES NEUROFISIOLÓGICAS E ACUPUNTURA..........................................................15-17 4.1.4.1) SISTEMA NERVOSO CENTRAL E ACUPUNTURA............................................17 4.1.5) MECANISMO DE AÇÃO....................................................................... ...................................17 4.1.5.1) ACUPONTOS.......................................................................................................17-18 4.1.6) METODOLOGIA E INSTRUMENTAL DE ESTIMULAÇÃO...........................................18-19 4.1.6.1) VARIAÇÃO DA PRESSÃO FÍSICA.........................................................................19 4.1.6.2) AGULHAMENTO......................................................................................................19 4.1.6.3) VARIAÇÃO DE TEMPERATURA.....................................................................19-20 4.1.6.4) ELETROACUPUNTURA..........................................................................................20 4.1.6.5) IMPLANTE...........................................................................................................20-21 4.1.6.6) ULTRASSOM, LASER, INDUÇÃO MAGNÉTICA................................................21 4.1.6.7) INJEÇÃO...............................................................................................................21-22 4.1.6.8) SANGRIA............................................................................................................. ......22 4.1.7) TÉCNICA....................................................................................................................................22 4.1.8) DIAGNÓSTICO........................................................................................................... ..........22-23 4.1.9) DEFINIÇÃO DO PROTOCOLO DE TRATAMENTO........................................................23-24 4.1.10) O AGULHAMENTO DE ANIMAIS........................................................................................24 4.1.11) INDICAÇÕES......................................................................................................................24-25 4.1.12) CONTRA INDICAÇÕES.................................................................................................... ......25 4.1.13) REAÇÕES ADVERSAS...........................................................................................................26 4.2) ACUPUNTURA AURICULAR.................................................................................................... ..........26-27 4.2.1) HISTÓRICO............................................................................................................. ...................27 4.2.2) COMPARAÇÃO ENTRE ACUPUNTURA AURICULAR E ACUPUNTURA CORPORAL.28 4.2.2.1) SUBSTRATO.............................................................................................................28 4.2.2.2) PROPRIEDADE DIAGNÓSTICA DOS PONTOS AURICULARES......................28 4.2.2.3) SOMATOTOPIA..................................................................................................28-29 4.2.3) SUBSTRATO ANATÔMICO DA ACUPUNTURA AURICULAR....................................29-31 4.2.4) CARACTERÍSTICAS ANATÔMICAS NO CÃO E NO GATO...............................................31 4.2.4.1) RELEVO INTERNO DO PAVILHÃO DA ORELHA DO CÃO E DO GATO..31-32 4.2.4.2) VASOS SANGUÍNEOS E INERVAÇÃO...........................................................33-354.2.4.3) PONTO DE ACUPUNTURA NA ORELHA........................................................... .35 4.2.5) MECANISMOS FISIOLÓGICOS DA ACUPUNTURA AURICULAR..............................36-37 4.2.6) ACUPUNTURA AURICULAR NA MEDICINA VETERINÁRIA.....................................37-38 4.2.7) PROJEÇÕES DE ZONAS DE REFLEXO NA ORELHA DO CÃO E DO GATO..............38-39 4.2.8) AURICULODIAGNÓSTICO................................................................................................39-44 4.2.8.1) SENSIBILIDADE À PRESSÃO................................................................................39 4.2.8.2) CONDUTIVIDADE ELÉTRICA...............................................................................39 4.2.8.3) ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS..........................................................................39 4.2.8.4) ALTERAÇÕES DA ONDA DO PULSO...................................................................40 4.2.9) AURICULOTERAPIA.................................................................................................. .........44-45 4.2.10) INDICAÇÕES........................................................................................................... ................46 4.2.11) CONTRA INDICAÇÕES........................................................................ ..................................46 4.2.12) SELEÇÃO DE PONTOS.................................................................................................... .......47 4.2.13) TÉCNICAS DE ESTIMULAÇÃO............................................................................................47 4.2.14) DURAÇÃO DO TRATAMENTO.......................................................................................47-48 4.2.15) COMPLICAÇÕES DA ACUPUNTURA AURICULAR.........................................................48 5) CONCLUSÃO................................................................................................................. .........................................48-49 6) BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................................................50-51 LISTA DE TABELAS E FIGURAS: TABELA 01...............................................................................................................................................................13-14 FIGURA 01.................................................................................................................................................................... 29 FIGURA 02........................................................................................................................................................................30 FIGURA 03........................................................................................................................................................................32 FIGURA 04................................................................................................ ....................................................................38 FIGURA 05.............................................................................................................. ..........................................................38 FIGURA 06...................................................................................... ..................................................................................40 FIGURA 07..................................................................................................... ...................................................................43 FIGURA 08......................................................................................................................................... ..............................43 7 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 1) INTRODUÇÃO: A acupuntura é uma especialização dentro da Medicina Veterinária. Nos últimos anos cada vez mais proprietários procuram a acupuntura para tratar doenças de seus animais. A acupuntura auricular ainda é muito pouco estudada pelos profissionais, sendo assim, muito pouco utilizada na prática. O objetivo central da Medicina Tradicional Chinesa e, portanto, da acupuntura, é a idéia de equilíbrio, tanto no que se refere às funções orgânicas quanto à relação do corpo com o meio externo. Em outras palavras, a acupuntura preconiza que a saúde é dependente das funções psico- neuroendócrinas, sob influência do código genético e de fatores extrínsecos como nutrição, hábitos de vida, clima, qualidade do ambiente, entre outros (SCOGNAMILLO-SZABO & BECHARA, 2001; SCHOEN, 2006; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007). As bases filosóficas da acupuntura estão contidas nas teorias gerais do taoísmo como Yin e Yang e Cinco Movimentos ou Wu XinG. As particularidades do funcionamento orgânico também são analisadas através das teorias das substâncias Vitais ou Fundamentais (Qi, Xue, Jing e Jing Ye), e dos Sistemas Internos (Zang Fu). Diferentemente da prática médica científica, que prioriza a identificação precisa do agente e a compreensão dos mecanismos das enfermidades, a acupuntura prioriza o enfoque nas respostas orgânicas individuais, produzindo uma abordagem particular para cada paciente. Em termos práticos, pode-se dizer que a medicina científica usa intervenções que mimetizam ou bloqueiam a ação da bioquímica. A acupuntura, por sua vez, visa afetar os níveis de atividade funcional nos órgãos e sistemas. Pequeno ou nenhum efeito da acupuntura ocorre sobre as funções que estão normais. É somente na disfunção que “o mecanismo de equilíbrio” mostra resultados claros (KARST et al., 2002; KARST et al, 2003; SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2004). A auriculoterapia é indicada nas doenças agudas e reversíveis, para analgesia e adjuvante nas doenças crônicas (DRAEHMPAHEL & ZOHMANN, 1997). ALIMI et al. (2003) comprovaram a eficácia da auriculoterapia como tratamento auxiliar na dor crônica neuropática em pacientes oncológicos. 8 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 2) OBJETIVOS: O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre auriculoterapia veterinária através da busca de artigos científicos, teses e livros científicos especializados no tema. 3) MATERIAIS E MÉTODOS: A revisão bibliográfica foi usada utilizando capítulos em livros especializados em acupuntura veterinária, artigos científicos, teses, consulta na internet e base de dados contido no SciELO Brasil e Lilacs. A revisão mostra um pouco da história da acupuntura geral, acupuntura veterinária e auriculoterapia. 4) RESULTADOS: Os resultados da revisão bibliográfica são mostrados a seguir: 4.1 Acupuntura Sistêmica: 4.1.1. Histórico da Acupuntura: Segundo HAYASHI & MATERA (2005), a acupuntura é um recurso terapêutico milenar da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e consistem na inserção de agulhas e/ou transferência de calor em áreas definidas da pele, chamadas de acupontos. É uma técnica terapêutica empírica desenvolvida em uma cultura Oriental, baseada em tentativa e erro e que utiliza linguagem mágica (pensamento pré-científico). Ou seja, sua fundamentação é um raciocínio causal não-científico e mítico. 9 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica Restabelece o equilíbrio de estados funcionais alterados e atinge a homeostase, pela influência sobre determinados processo fisiológicos. É derivada do latim acus e pungere, respectivamente agulha e puncionar, mas atualmente outros meios de estímulo dos pontos são utilizados. A expressão chinesa Zhen Jiu (espetar e queimar) traduz de forma mais completa o método que utiliza comumente o calor como fonte de estímulo. Considera-se também uma terapia reflexa, em que o estímulo de uma região age sobreoutras. Para essa finalidade, utiliza principalmente o estímulo nociceptivo, que são receptores específicos para a dor e terminações nervosas livres de fibras aferentes A, delta e C. Estas transformam os estímulos mecânico, térmico ou químico em impulso nervoso. Tem aceitação de seu uso médico e também no campo da Medicina Veterinária. A origem da acupuntura remonta à pré-história, precedendo a criação da escrita (4000 a.C.). Múmias humanas pré-históricas encontradas na Sibéria, Peru e Chile portando tatuagens circulares não ornamentais contendo partículas de carvão e localizadas paralelamente e ao longo da coluna vertebral, sugerem o conhecimento da localização dos pontos de acupuntura e o uso do estímulo térmico dos mesmos, para além do continente asiático. Sem sombra de dúvida, a sistematização de conhecimentos e o amadurecimento da técnica se deram na China das grandes Dinastias (VETERINARY ACUPUNCTURE, 1992; DORFER et al.,1999). 4.1.1.1 Na China Escavações nas ruínas Yang-Shao, na província chinesa de Henan, mostram o uso de um instrumento de pedra polida e afiada denominada Bian-Shi (agulha de pedra) para drenagem de abscessos e o estímulo de áreas específicas do corpo, no período neolítico (MA, 1992; CHAN et al., 1994; MA, 2000). Em tubas da Dinastia Han do Oeste (206 a.C. a 22 d.C.) contém textos que se referem à utilização de moxabustão (bastões incandescentes de Artemísia vulgaris), sugerindo que a técnica de estímulo térmico do ponto precedeu a utilização de inserção de agulhas. Ao longo de sua história, instrumentos de bambu, ossos, jade e metais têm sido utilizados para estímulo do ponto de acupuntura (CHEN, 1997). Durante o período Zhou (772 a.C. a 480 d.C.), o confucionismo vem somar-se ao Taoísmo, trazendo o conceito de que a saúde está diretamente relaciona aos atos praticados pelo indivíduo e afastando assim a idéia da origem demoníaca para as doenças. Após a unificação da China (século III a.C.), a acupuntura experimenta um desenvolvimento notável, 10 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica quando adquire uma sistemática de teorias e princípios e a substituição gradual da Bian-Shi por agulhas de bronze, ferro, prata e ouro, acompanhando o progresso da metalurgia. Um dos livros de acupuntura mais antigos é o Huang di Ney Jing: “Clássico do Imperador Amarelo sobre Medicina Interna” ou “Tratado de Medicina Interna do Imperador Amarelo”, escrito na Dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.) e atribuído ao mítico Imperador Amarelo, Huang Di (2698 a 2598 a.C.), criador da escrita chinesa e unificador da China. Esse texto é, até os dias atuais, a base da Medicina Tradicional Chinesa e trazem informações sobre anatomia, fisiologia, patologia, diagnóstico e tratamento de doenças. Esse tratado já afirma que o sangue flui continuamente por todo o corpo, sob controle do coração, cerca de 2000 anos antes de Sir Willian Harvey propor sua teoria da circulação sanguínea em 1628 (MA, 1991; CHAN et al., 1994; RISTOL, 1997). A Medicina Tradicional Chinesa permaneceu como forma exclusiva de terapia exercida na China até as práticas médicas ocidentais fossem introduzidas durante a Dinastia Ching (1644 a 1911), quando a acupuntura foi rejeitada pela elite e chegou a se banida pelo governo. Na década de 1940, Mao Tsé-Tung, líder da Revolução Chinesa, estimula uma política de integração entro os dois sistemas médicos, incrementando o ensino e pesquisa com a Medicina Tradicional Chinesa, declarando que “a Medicina e a Farmacologia chinesas são um palácio de grandes tesouros, devendo ser feitos todos os esforços para sua exploração, e para sua ascensão a níveis mais elevados”. Os baixos custos dessa prática colaboraram nessa decisão, permitindo à população maior acesso à saúde. A china faz uso da acupuntura para promoção da hipoalgesia cirúrgica em pacientes humanos desde o fim da década de 1950 e em animais, desde 1970 (VETERINARY ACUPUNCTURE, 1973; TAYLOR, 1974; MA, 1992; PALMEIRA, 1990; MA, 2000; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007). Desconhecendo experiências prévias com eletro acupuntura na França, o Professor Jisheng Han inicia em Pequim, em 1965, pesquisas com eletro acupuntura e seus mecanismos de ação (MACDONALD, 1993). 4.1.1.2 No Ocidente Na Europa, o primeiro relato sobre a Medicina Tradicional Chinesa foi feito no século XVI, durante as atividades da Companhia das Índias Ocidentais, pelo jesuíta Franciscus Xavier, quando esse chegou do Japão em 1549. Esse paradoxo, o contato com a Medicina Chinesa no Japão, se deve aos senhores feudais japoneses terem sido mais receptivos ao intercâmbio com ocidentais. A introdução 11 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica da acupuntura se dá de fato a partir do século XVII com publicações de relatos de jesuítas e médicos, tendo o dinamarquês Jacob de Bondt (1642), o holandês Willen Ten Rhijne (1683), e os alemães Andreas Cleyer (1682) e Engelbert Kaempfer (1712) realizados os primeiros escritos médicos da acupuntura na Europa, com ilustrações dos pontos e canais e relatos de resultados que “superam mesmo os milagres”. Em 1825, Sarlandiere adapta a técnica do Galvanismo, aplicando a corrente elétrica direta em agulhas de acupuntura para tratamento de dores articulares, marcando o início precoce da eletro acupuntura (MACDONALD, 1993). Nos Estados Unidos, o médico canadense Sir Willian Ostler, considerado “Pai da Medicina Moderna” inclui o tratamento com acupuntura para lombalgia e dor ciática no livro “Princípios e Prática da Medicina”, em 1892 (HOLMDAHL, 1993; WHITE & ERNST, 2004). Os registros oficiais sobre a introdução da acupuntura no Brasil são raros. De qualquer modo, sua história se confunde com a chegada dos primeiros imigrantes chineses (1812), japoneses (1908) e outros povos orientais ao nosso país. Na primeira metade do século XX, grande parte da acupuntura praticada por orientais ficou restrita às suas comunidades, devido a dificuldades com a língua. Sua difusão na sociedade brasileira é incrementada na década de 1950 quando o fisioterapeuta Friedrich Johann Spaeth, nascido em Luxemburgo e naturalizado brasileiro, funda a Sociedade Brasileira de Acupuntura e Medicina Oriental (1958). Em 1961, juntamente com os médicos Ermelino Pugliesi e Ary Telles Cordeiro, Sapeth funda o Instituto Brasileiro de Acupuntura (IBRA), primeira clínica institucional de acupuntura do Brasil. A partir de 1995 os Conselhos Federais de Biomedicina, Enfermagem, Fisioterapia, Medicina e Medicina Veterinária reconhecem a acupuntura como uma especialidade. (WORLD FEDERATION OF ACUPUNTURE AND MOXABUSTION SOCIETIES, 2006). 4.1.2. Histórico da Acupuntura Veterinária: Estima-se que a acupuntura veterinária é tão antiga quanto à história da acupuntura humana. Para tanto, destaca-se a descoberta de um tratado com idade aproximada de 3000 anos, relatando a aplicação de tal prática em elefantes indianos. A acupuntura veterinária iniciou seu marco quando, em 1974, foi fundada a Sociedade Internacional de Acupuntura Veterinária (IVAS). Em 1996, a Médica Veterinária Americana (AVMA) aprovou a acupuntura veterinária como procedimento médico e/ou cirúrgico, fazendo parte integrante da 12 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica Medicina Veterinária. No Brasil, foi fundada em 1999 a Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária (ABRAVET). Assim, a exemplo da Medicina Humana, a acupuntura foi recentemente considerada uma das especialidades da área Veterinária. A história da acupuntura veterinária remete a lendas antigas que relacionam o Imperador Fusi, há cerca de 10000 anos, à formação da civilização chinesa a partir das sociedades primitivas, assim como à domesticação de animais, incluindo o tratamento de animais doentes. A importância dos animais na sociedade agrária ganha mais destaque no Período das Guerras durantea Dinastia Chou (475 a.C. a 221 a.C.) quando os exércitos necessitavam de médicos para seus cavalos (LIN et al., 2003). Durante a Dinastia Zhou (1027 a 221 a.C.) o General Sun-Yang (também chamado Pao Lo, 659 a.C.), considerado “pai” da Medicina Veterinária na China e o primeiro praticante totalmente dedicado à acupuntura em animais, escreveu o “Cânone da Medicina Veterinária”. Considerada registro histórico marcante uma escultura em rocha da Dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.) mostra soldados fazendo acupuntura com flechas em seus cavalos para estimulá-los antes das batalhas (KIM et al., 2005; PITTER & ERNST, 2006; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007). No Brasil, um dos principais incentivadores do estudo da acupuntura veterinária foi o Professor Tetsuo Inada, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que, em meados da década de 1980, ensinava a transposição da técnica a partir de humanos para animais. O I Simpósio Brasileiro de Acupuntura Veterinária ocorreu em 1994, com a vinda do Professor Oswald Kothbauer, pioneiro da hipoalgesia cirúrgica na Faculdade de Veterinária da Universidade de Viena, Áustria, e do Professor Wang Qing Lan, Vice Reitor da Faculdade de Veterinária, da Universidade de Pequim, China. E em 1999, durante o I Congresso Brasileiro de Acupuntura Veterinária foi fundada a Associação Brasileira de Acupuntura Veterinária (ABRAVET), com o escopo de agregar médicos veterinários acupunturistas e promover seu aperfeiçoamento técnico (SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2006). A tabela 01, abaixo, mostra os principais eventos e livros históricos da acupuntura veterinária. 13 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica TABELA 1: EVENTOS HISTÓRICOS E LIVROS: DATA TÍTULO DO LIVRO (CHINÊS) TÍTULO DO LIVRO (TRADUÇÃO) NOTAS OU AUTORES Séculos XVI a XI a.C. (período shang). 947 a 928 a.C Domesticação de gado de fazenda. Desenvolvimento das agulhas de sangria em cavalos desenvolvida por Zhao Fu 659 a 621 a.C. (período Chunqiu) Bai-le Zhen Jing Cânon da Medicina Veterinária Um lendário relato escrito por Sun-Yang, vulgo Bai-le Século II a.C (possivelmente) Huangdi Nei Jing Clássico de Medicina Interna do Imperador Amarelo Livro fundamental de terapia para seres humanos, que também influenciou a acupuntura e moxabustão em animais. 200 a.C. a 220 d.C (períodos Qin e Han) Desenvolvimento de agulhas de ferro, ouro e prata. 265 a 316 d.C. (período Jin do Oeste) Lie Xian Zhuan A Lenda sos Imortais Descreve terapias para animais. Zhen Jiu Jia Yi Jing Tratado de Acupuntura Clássica e Moxabustão Livro influente de terapias para seres humanos, com 12 volumes. Zhou-hou Bei-ji Fang Manual de Terapias de Emergência Escrito por Ge Hong. Inclui descrição de sangria do ponto Wei-jian para tratar insolação em cavalos. Século VI Qi-min Yao Shu Técnica Básica para Fazendeiros Relaciona muitos tratamentos veterinários com acupuntura. 581 a 618 (período Sui) Ma Jing Kong-xiue Tu Atlas dos Canais e Acupontos em Equinos 618 a 907 (período Tang) Estabelecimento de um sistema abrangente de formação em veterinária. Si-mu An-ji Ji Uma Coleção de Maneiras para Cuidar e Tratar Cavalos Escrito por Li Shi. 960 a 1279 (período Song) Fan-mu Chuan-yan Fang Prescrições Provadas de Origem Nômade Escrito por Wang Yu. Possui apêndices sobre acupuntura veterinária. Ming-tang Jiu Mi Jing Cânon de Moxabustão em Equinos de Ming-tang Escrito por Ming-tang 1279 a 1368 (período Yuan [mongol]) Quian Ji Tong-xuan Lun Uma Dissertação sobre o Tratamento de Cavalos Doentes Descreve o tratamento de cavalos com acupuntura e moxabustão. 1594 (durante o período Ming) Ma Shu O Livro dos Cavalos Editado por Yang Shi. Possui um capítulo sobre acupuntura. 1601 (durante o período Ming) Zhenjiu Dacheng Compêndio de Acupuntura e Moxabustão Escrito por Yang Ji-zhou. Um livro de terapias para seres humanos, que influenciou a acupuntura veterinária. 14 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 1608 (durante o período Ming) Yuan-Heng Liao-ma Ji Tratado Terapêutico de Cavalos de Yuan e Heng Escrito por Yu Bem-yuan e Yu Bem-heng, os irmãos Yu. Tornou-se o texto de acupuntura veterinária mais importante. 1644 a 1840 (durante o período Qing) Yuan-Heng Liao-ma Ji foi reinterpretado e anotado. Yang Gen Ji Antologia de Cultivo e Agricultura Escrito pr Fu Shu-feng, com detalhes de acupuntura e moxabustão em gado. Niu-yi Jin Han Guia de Ouro para Veterinários de Bovinos Relaciona 35 acupontos. Da Wu Jing Clássico sobre Gado Relaciona 36 acupontos. 1840 a 1911 (no final do período Qing) A colonização na China afetou gravemente outros desenvolvimentos. 1873 (período Qing) Huo-shou Ci-zhou Assistência Humanitária de Animais Autor autônomo, mas contém uma seção sobre acupuntura em um texto sobre medicina herbácea. 1947 (antes da fundação da República) Fundação da Faculdade Agrícola da Universidade do Norte incorporando a medicina veterinária tradicional. 1949. Estabelecimento da república Popular da China. A partir de 1949 Muitos livros (mais de 30) sobre medicina veterinária tradicional e acupuntura foram escritos. 1955. Hsing Yue Ma Ching Novo Tratado sobre Cavalos e Gado Escrito por Kim Chung Tze. É o primeiro livro de veterinária chinesa a usar terminologia moderna. 1956. Primeiro Congresso Nacional sobre Medicina Veterinária Popular, Beijing. Jornal Chinês de Medicina Veterinária e Boiadeiro e Medicina Veterinária Esses dois jornais sobre veterinária foram publicados pela primeira vez. 1958. Desenvolvimento da hipoalgesia por acupuntura, na China. 1969. Hipoalgesia por acupuntura aplicada pela primeira vez em cavalos e burros. 1981. Conferência Internacional sobre Acupuntura Veterinária, Beijing. Mod i f i cad o d e : Yu C , Ed : Han d b ook on Ch in es e v e t er i n a r y acu p u n c tu re an d mo xi b u s t i on , Ban gk ok , Th a i lan d , 1 9 9 0 , Food an d Agr i cu l t u ra l Organ i za t i on Region a l O f f i ce f or As i a an d t h e Pac i f i c ; an d Kl id e AM, Ku n g SH : Vet e r i n a r y acu n p u tu re , Ph i la d elp h i a , 1 9 7 7 , Un iver s i t y of Pen n s ylvan i a Pr e ss . 15 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 4.1.3. Prática Corrente da Acupuntura Veterinária: No final do século XX os veterinários puderam ser classificados em três grupos, de acordo com seus padrões de prática da acupuntura veterinária: GRUPO 01 – Estão dispostos a aceitar apenas os padrões médicos veterinários científicos mais rigorosos. Esses indivíduos aprovam apenas os procedimentos de acupuntura veterinária que demonstram, de maneira convincente, ser válidos e eficazes, sendo também econômicos e eficazes em comparação com opções mais convencionais. GRUPO 02 – Acredita que as terapias auxiliares, como a acupuntura veterinária, quando concebidas como um tipo de medicina individualizada e baseada na energia, não podem ser adequadamente pesquisadas pelos métodos científicos ocidentais e, portanto, preferem ignorar os argumentos para padrões médicos veterinários científicos rigorosos. Esses veterinários fundamentam a acupuntura veterinária que exercem somente na teoria na teoria tradicional chinesa – nas teorias dos Oito Princípios ou dos Cinco Elementos -, assim como ocorre na MTC em humanos. Existem poucas pesquisas que documentem a eficácia desse método até agora. Atualmente, esse método baseia-se totalmente em relatos e experiência clínica. GRUPO 03 – Muitos acupunturistas veterinários adotam uma postura mais moderada entre os outros dois grupos. Eles valorizam as pesquisas que até agora validaram algumas áreas da prática da acupunturaveterinária e que, em alguns casos, demonstraram que a acupuntura é tão eficaz quanto às opções farmacêuticas, não obstante as viabilidades dos procedimentos. Entretanto, reconhecem as deficiências das opções terapêuticas veterinárias ocidentais para certas condições e, fundamentando-se nas teorias da acupuntura, crêem em pelo menos uma base teórica para tentar a acupuntura. Esse grupo também aprova a acupuntura veterinária fundamentada na teoria médica veterinária tradicional chinesa, tendo como base razões supostamente empírica. 4.1.4. Bases Neurofisiológicas e Acupuntura: Estudos foram realizados para elucidar os mecanismos biológicos de acupuntura e envolvimento de peptídeos opióides endógenos na analgesia por acupuntura. PULLAN et al. (1983), relacionaram a liberação de hormônio de crescimento após eletro acupuntura em pacientes portadores de dores 16 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica crônicas. O processo foi mediado por peptídeos opióides endógenos, sugerindo o envolvimento desses opióides no controle de secreção de hormônios pituitários. Diversos estudos demonstraram que a estimulação provocada pela acupuntura aumenta a liberação de neuropeptídeos de terminações nervosas o que provoca efeitos semelhantes aos do exercício físico. Modelos explicam os mecanismos de ação que provocam analgesia através de um modelo neuro- humoral onde a agulha de acupuntura estimula os nervos aferentes A-delta de um neurônio periférico, o qual, que termina no corno dorsal da medula espinhal, transfere o impulso a outro neurônio no mesmo segmento espinhal, ativando três níveis do sistema nervoso. Em ordem ascendente, esses níveis são: medula espinhal dentro do mesmo segmento, região supra- espinhal – substância cinzenta periaquedutal -, núcleo magno da rafe e o complexo hipófise- hipotálamo. Quando cada um desses níveis é estimulado, endorfinas, monoaminas, serotonina e adrenalina atuam inibindo a dor. Baseado nesses mecanismos, o uso conjunto de triptofano para aumentar os níveis de serotonina e D-fenilalanina e de bacitracina para inibir o metabolismo de endorfinas, pode aumentar analgesia por acupuntura. Assim a acupuntura pode ser definida como um método de estimulação neural periférica que leva à neuromodulação. Ocorrem efeitos locais como vasodilatação. Verificou-se também aumento na perfusão sanguínea, estímulo à regeneração de tecidos, relaxamento muscular, restauração da força muscular, e restauração da função articular. A neuromodulação na medula espinhal ativa a modulação do sistema aferente sensorial, promovendo a normalização do tônus e da função muscular, além de normatização da atividade autonômica simpática e parassimpática. A neuromodulação atinge a região do tronco cerebral, em nível supra-espinhal, ativando o sistema que inibe a dor. A neuromodulação cerebral atinge o sistema límbico, controlando as respostas afetivo-emocionais. 17 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica O estímulo neural periférico ativa repetidamente os sistemas fisiológicos de inibição da dor e regulação autonômica e estimula o organismo a continuar com essa atividade, prolongando os efeitos. Os resultados da acupuntura estão relacionados à intensidade, duração e freqüência do estímulo que é feito no acuponto. Segundo SMITH (1992), as baixas freqüências, menores do que 05 Hz promovem a liberação de metaencefalinas na medula espinal, com estimulação de fibras A-delta; frequências altas, maiores do que 100 Hz liberam dinorfina na medula espinal e estimulam principalmente fibras C. Freqüências ainda mais altas, ao redor de 200 Hz, estimulam analgesia relacionada com serotonina e noradrenalina. Diversas linhas de evidências relacionam a participação de receptores tipo polimoidais no mecanismo periférico da acupuntura e moxabustão. Esses receptores polimoidais respondem a estímulos mecânicos, químicos e térmicos. Consistem em terminações nervosas livres e localizam- se em diversos tecidos, podendo estar sensibilizados e presentes nos denominados pontos-gatilho. Muitos pontos-gatilho correspondem a pontos de acupuntura. 4.1.4.1 Sistema Nervoso Central e Acupuntura A influência da acupuntura no sistema nervoso tem sido investigada em diferentes espécies animais e em humanos. O estímulo da acupuntura afeta partes distintas do sistema nervoso, tanto o sistema motor e sensorial do SNC como o Sistema Nervoso Autônomo. Estudo utilizando tomografia computadorizada mostrou ativação do hipotálamo com eletro acupuntura a 02 Hz no acuponto IG4 em pacientes humanos. Estudo com ressonância magnética funcional revelou ativação do córtex visual com laserpuntura no acuponto B67, descrito já para uso em desordens visuais ou dor ocular. 4.1.5. Mecanismo de Ação: 4.1.5.1 Acupontos O sistema de meridianos ou canais, onde são distribuídos os acupontos, conduz energia pelo organismo. Os canais principais recebem as designações de Pulmão, Intestino Grosso, Estômago, 18 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica Baço-Pâncreas, Coração, Intestino Delgado, Bexiga, Rim, Pericárdio, Triplo-Aquecedor, Vesícula Biliar e Fígado. A necessidade de uma linguagem única para troca de informações mundialmente levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a estabelecer uma nomenclatura internacional padrão. A ação da acupuntura começa no acuponto. O acuponto é uma área cutânea que apresenta baixa resistência elétrica e grandes concentrações de terminações nervosas sensoriais, feixes e plexos nervosos, mastócitos, linfócitos, capilares e vênulas. O acuponto apresenta relação estreita com nervos, vasos sanguíneos, tendões, periósteos e cápsulas articulares, localizando-se entre músculos ou entre um músculo e um tendão ou osso. Os acupontos dos membros estão situados nos meridianos que correspondem ao trajeto de nervos principais e vasos sanguíneos; os da região do tronco relacionam-se com a inervação segmentar e local de penetração de nervos e vasos sanguíneos na fascia muscular. Os da cabeça e face estão próximos aos nervos cranianos e cervicais superiores. As agulhas de acupuntura têm propriedades biofísicas com as quais desenvolvem um potencial elétrico na ponta, isoladamente, de 1800mv. Dessa forma, o estímulo da acupuntura é transmitido do acuponto para a medula espinhal pelos nervos periféricos aferentes. Segundo LANGEVIN et al. (2001), a manipulação da agulha de acupuntura provoca uma deformação do tecido conjuntivo, transmissão de sinal mecânico dentro de fibroblastos e outras células aderidas às fibras de colágeno, estimulando variados sensores mecano-receptores ou nociceptores. Este efeito é importante, pois não se restringe ao local da agulha, podendo se estender para planos do tecido conjuntivo intersticial. Podem ser responsáveis, também, por alterações no fluxo sanguíneo, resultando na modulação de longo prazo da informação sensorial e do efeito da acupuntura, que podem durar períodos de horas ou mesmo de dias. 4.1.6. Metodologia e Instrumental de Estimulação: Tão relevante quanto à seleção dos pontos é a técnica de estímulo. Existem inúmeras alternativas para o estímulo do ponto e, a cada dia, mais opções surgem em função da incorporação de novas 19 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica tecnologias à acupuntura. Os métodos tradicionais persistem e se destacam como os mais utilizados. (ERNST & WHITE, 1999; HIELM-BJORKMAN et al., 2001; SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001; JAEGER et al., 2007; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007; COLBERT et al., 2008). Além da técnica tradicional de estimulação manual das agulhas, podem ser utilizados outros métodos em pequenos animais, dentre eles, a laserpuntura, moxabustão indireta, aquapuntura, eletro acupuntura e implantes, os quais serão descritos a seguir. A auriculoterapiaserá comentada em um capítulo a parte. 4.1.6.1 Variação da pressão física É a massagem do ponto com aplicação da pressão digital ou de massageadores de madeira, como no Shiatsu, Do-In, Jun Shin Do Jitsu e Tsubo. Aqui se inclui também a pressão negativa, com a aplicação de ventosas. Em animais, o uso de ventosas é dificultado pela presença de pelos. 4.1.6.2 Agulhamento Existe uma grande variedade no tamanho das agulhas, bem como no procedimento de inserção e de manipulação dessas. Atualmente são empregadas agulhas descartáveis filiformes confeccionadas em aço inoxidável, de diversos calibres, e os mais usados variam de 0,25 a 0,30 mm. Os comprimentos são determinados de acordo com o porte do animal e localização dos acupontos, variando de 1,5 até 05 cm. A inserção, profundidade, ângulo adequado, manipulação e remoção das agulhas requerem treinamento apropriado e prática. Normalmente o agulhamento atravessa a derme atingindo o tecido subcutâneo, podendo alcançar músculos ou ossos. Agulhas intradérmicas são utilizadas principalmente em pontos de acupuntura no pavilhão auricular. Após sua colocação, estas agulhas são fixadas com esparadrapo e retidas por um período que pode variar de um dia a uma semana. Tal técnica é pouco executada em animais. O uso de agulhas hipodérmicas em substituição às agulhas de acupuntura é adotado com sucesso em eqüinos e bovinos. 4.1.6.3 Variação de temperatura A técnica mais praticada é a moxabustão indireta, com aquecimento do ponto com bastões incandescentes de Artemísia sinensis. A moxabustão indireta é indicada tradicionalmente em patologias crônicas e em alguns processos dolorosos cuja piora ocorre com clima frio e úmido. A Artemísia vulgaris, enrolada em forma de bastão, é queimada e colocada sobre a acuponto ou 20 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica aquecendo a agulha. Deve-se tomar cuidado para não provocar queimaduras no paciente. Para a moxabustão direta, a “lã” da erva é colocada sobre o ponto e acesa, deixando-a queimar em direção à pele. Outra forma é o uso de luz infravermelha ou ultravioleta para estimulação sobre as agulhas já inseridas. A aplicação de frio é também um meio efetivo para promoção da analgesia, sendo utilizado gelo ou vaporização tópica de fluorimetano, cloreto de etila, fluoretil ou diclorotetrafluoretano. Não é aplicado moxabustão em ponto próximos a vasos sanguíneos e tecido edematoso. Deve-se ter cuidado com áreas com sensibilidade cutânea reduzida. 4.1.6.4 Eletroacupuntura Consiste na passagem de corrente elétrica através da agulha. A escolha do formato da onda, freqüência e intensidade da descarga vão definir o tipo de efeito atingido. É, provavelmente, depois do agulhamento simples, a técnica mais disseminada e melhor estudada da acupuntura. Aparelhos eletrônicos podem ser utilizados nos acupontos com a finalidade de promover estímulos mais intensos do que a manipulação manual das agulhas de acupuntura. Os estímulos elétricos através dos eletrodos podem ser aplicados nas agulhas previamente inseridas, ou seja, estímulo percutâneo ou sobre os acupontos, usando um meio eletrocondutor, denominado de estimulação transcutânea. Recomenda-se o uso de aparelhos de corrente alternada e onda tipo quadrada para evitar queimaduras por eletrólise. Essa alternativa também possibilita controlar a freqüência do estímulo, sendo normalmente alternadas freqüências baixas, de 01 a 50 Hz, e altas, de 100 a 200 Hz. Este método é muito usado para finalidades analgésicas e realização de alguns procedimentos cirúrgicos. Contudo, não promove analgesia cirúrgica, mas hipoalgesia, havendo necessidade de complementação com outros fármacos. É indicado também para dor crônica, como na osteoartrite. 4.1.6.5 Implante Trata-se de um procedimento cirúrgico-ambulatorial que objetiva atingir uma estimulação prolongada ou mesmo permanente dos pontos. Fragmentos especialmente preparados e confeccionados de diversos materiais podem ser utilizados, como categute, aço inoxidável, platina e ouro. Esse procedimento é considerado um método cirúrgico, e o paciente após anestesia geral é preparado para a inserção de uma agulha hipodérmica de grande calibre no acuponto. Com auxílio 21 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica de um estilete no lúmen da agulha, a esfera de ouro é inserida no local. Retira-se a agulha hipodérmica e, em seguida, o estilete. Dessa forma, as esferas mantêm-se nos planos mais profundos. O implante de fragmentos de ouro para o tratamento de displasia coxofemural em cães é prática comum entre acupunturistas veterinários, e testes clínicos mostram resultados positivos e duradouros. É importante que essa técnica não seja confundida com implante de agulhas permanentes, um procedimento que remete a várias complicações. São indicados para tratar dor crônica devido à osteoartrose por displasia coxofemural e epilepsia. 4.1.6.6 Ultrassom, Laser, Indução Magnética São todas técnicas não invasivas, rápidas e indolores. Necessitam de aparelhagem específica e são muito utilizadas em pacientes com baixa tolerância ao agulhamento (LIGNON et al., 2002). A laserpuntura iniciou-se em 1973, mas não foi aceita por todos os veterinários da área de acupuntura, exceto na prática eqüina, caso em que é utilizado laser de baixa intensidade para o estímulo dos acupontos. Entretanto, diversas vantagens são citadas, como o método não invasivo, realizado com assepsia. É indolor, tem necessidade de mínima contenção e curta duração de aplicação, pois o tempo de estímulo por acuponto pode variar de 30 segundos a 1 minuto. Portanto o uso do laser é muito vantajoso, como opção de tratamento com acupuntura em animais agressivos ou com processos dolorosos agudos em regiões cefálicas, ou pacientes mais sensíveis, como felinos e filhotes. As desvantagens incluem alto preço do aparelho, limitações em relação à dosagem ou parâmetros ótimos para alcançar os efeitos específicos, além da necessidade de um maior número de aplicações. 4.1.6.7 Injeção Segundo a teoria da MTC, é capaz de manter o estímulo por período prolongado, além de potencializar o efeito da substância utilizada. Aquapuntura, ozôniopuntura, fitopuntura, homeopuntura e hemopuntura são as formas mais comuns. A farmacopuntura ou injeção de fármacos nos pontos tem sido usada com sucesso em animais. Autores chineses afirmam que, em muitas situações, o uso de subdoses produz um efeito longo e similar à dose convencional, com a vantagem de causar menos efeitos colaterais (NIE et al., 2001; WANG et al., 2007). Seu uso em Medicina Veterinária contribui com a redução do uso indiscriminado de medicamentos, diminuindo 22 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica os efeitos colaterais, os resíduos nos animais de consumo e o custo dos tratamentos (ALVARENGA et al., 1998; WYNN et al., 2001; BOTTECCHIA et al., 2006; LUNA et al., 2008). Pode-se aplicar de 0,25 a 2 ml de produtos medicinais nos pontos de acupuntura, sendo indicados em pacientes agitados, como os gatos, pois requer um curto período de contenção. São utilizadas agulhas hipodérmicas e as soluções empregadas variam entre água destilada, soluções hipotônicas ou hipertônicas, vitaminas, antibióticos, extratos herbais, anestésicos locais, analgésicos e agentes antiinflamatórios. Trata-se de um método que pode ser utilizado como um complemento à técnica da inserção de agulhas. 4.1.6.8 Sangria Permanece como um recurso bastante utilizado em Medicina Veterinária, principalmente em quadros agudos dolorosos ou febris. O volume de sangue retirado está ligado ao porte do animal e varia de algumas gotas a poucos ml. 4.1.7. Técnica: Antes de ser aplicada a acupuntura, deve-se realizar a anamnese, um exame físico completo e estabelecer um diagnóstico. O proprietário deve estar ciente e optardentre as modalidades de tratamento, seja cirúrgico ou medicamentoso, além da acupuntura. Outra forma de tratamento da Medicina Tradicional Chinesa é a prescrição por via oral fórmulas herbais chinesas que desencadeiam diversos efeitos no organismo. Os animais devem ser posicionados adequadamente, em decúbito lateral ou em estação, e contidos com ajuda do proprietário, pois raramente é usada a contenção química. Procede-se à inserção das agulhas ou escolha de outro método de estímulo, sendo a duração do evento entre 20 e 30 minutos. 4.1.8. Diagnóstico: Na Medicina Tradicional Chinesa, como em qualquer sistema médico, a definição do diagnóstico é pré-requisito para a determinação do tratamento. O diagnóstico, na Medicina tradicional Chinesa, 23 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica visa à compreensão de como o paciente se insere dentro do seu contexto de vida e como está interagindo com os fatores que o cercam. Esta abordagem é a aplicação prática da filosofia chinesa que vê o ser humano (microcosmo) em constante interação com o mundo (macrocosmo). O padrão de resposta de cada indivíduo, em dado momento, é categorizada em síndromes. A partir desse diagnóstico, é definido o plano de tratamento (WEN, 1989; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007). 4.1.9. Definição do Protocolo de Tratamento: A escolha dos pontos de acupuntura é baseada na classificação do desequilíbrio apresentado. A estimulação de um determinado ponto possui indicações específicas que são expressas em seu nome chinês original. A estimulação simultânea de dois ou mais pontos de acupuntura pode ampliar suas indicações específicas. Tradicionalmente, cada ponto de acupuntura tem uma ou mais diversas ações, quando estimulado. Quando usado em combinação com outros pontos de acupuntura, os resultados são modificados. A acupuntura pode ser aplicada a cada dois ou três dias em casos agudos e, em casos crônicos, uma vez por semana durante quatro a oito semanas. Quando o quadro se estabiliza, pode-se diminuir a freqüência para intervalos quinzenais. Posteriormente, avalia-se a cada três e mais tarde a cada seis meses, sendo aconselhado em período de estação mais quente ou fria do ano, dependendo do problema do animal. A definição do tratamento também deve se basear nas categorias nas quais os pontos de acupuntura são divididos: 1) Efeitos locais; 2) Efeitos à distância e 3) Efeitos sistêmicos (WEN, 1989; MACIOCIA, 2007; XIE & PREAST, 2007). As diferenças entre as espécies também devem ser levadas em consideração, já que existem variações na localização e função de alguns pontos. O exemplo mais marcante é o Bai Hui que significa “Cem Encontros”. Em humanos, esse ponto corresponde ao VG-20, localizado no ápice da cabeça. É considerado como uma “porta ou janela para o céu” e tem como indicações cefaléia parietal, falta de memória, epilepsia. Em quadrúpedes, fica no espaço lombossacral e seu estímulo é 24 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica indicado para desordens lombares e dos membros pélvicos, além de ser tônico geral do Qi e da imunidade (BOTTECCHIA, 2005; 2006). Por isso pode ser denominado Yao Bai Hui: “Cem Encontros Lombares”. 4.1.10. O Agulhamento de Animais: Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, a doença é resultado da interação entre o agente causal e o indivíduo, resultando em desequilíbrio nos componentes Yin e Yang do organismo. Essa desarmonia determina o curso da doença e está relacionada à oposição dos dois fatores citados: Energia Correta (Zheng Qi), fator intrínseco que traduz a resistência à doença; e Energia Perversa (Xie Qi), o fator patogênico propriamente dito. A prática clínica da acupuntura em animais esbarra em dificuldades inerentes à Medicina Veterinária, tais como variação estrutural e funcional entre as espécies, necessidade de contenção em pacientes agressivos e manejo adequado de animais agitados ou assustados, dentre outras. Porém, o encaminhamento de casos difíceis ou crônicos é prática comum, fazendo a casuística da acupuntura veterinária uma seleção de pacientes complicados (SCOGNAMILLO-SZABÓ et al., 2006). O uso de suportes para manter os animais em posição quadrupedal, assim como de aparelhos de fisioterapia, auxilia no tratamento de portadores de paresias e paralisias. 4.1.11. Indicações: Segundo a Organização Mundial de Saúde existe uma vasta gama de desordens tratáveis pela acupuntura: doenças musculares, ósseas e articulares, dores de cabeça, ansiedade, depressão, asma, bronquite, mau posicionamento fetal, acidente vascular cerebral, entre outras. Na Medicina Veterinária, disfunções reprodutivas, neurológicas, musculoesqueléticas, dermatológicas, dor, emergências anestésicas e discopatias, podem ser tratadas com sucesso com a acupuntura. No Brasil, cerca de 70% dos casos encaminhados consistem em quadros nervosos e/ou musculoesqueléticos, consideradas as doenças com melhor índice de recuperação quando tratadas com acupuntura (BANNERMAN, 1980; SCOGNAMILLO-SZABÓ & BECHARA, 2001; MACIOCIA, 2007; SCHOEN, 2006; XIE & PREAST, 2007). 25 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica Dentre os objetivos terapêuticos da acupuntura, citam-se a promoção de analgesia; recuperação motora; regulação das funções orgânicas; modulação da imunidade, das funções endócrinas, autonômicas e mentais; e ativação de processos regenerativos. Diversas publicações relatam indicações clínicas da acupuntura veterinária nas desordens neurológicas e musculoesqueléticas como paralisias e paresias por patologias de disco intervertebral e espondilopatias, síndrome da cauda eqüina, paralisias faciais, epilepsias, osteoartrose, desordens reprodutivas e gastrointestinais. Relatam ainda desordens urinárias como nefrites, cistites, uretrites, urolitíases e alterações na micção e diurese; além de seqüelas de infecção viral como na cinomose, e desordens imunomediadas como alergias, imunossupressões e doenças auto-imunes. Mencionam também alterações na cicatrização e regeneração tecidual como em úlceras em pele, fraturas ósseas, injúrias musculares e tendíneas e analgesia. 4.1.12. Contra Indicações: Há poucas contra-indicações, e se a acupuntura for realizada por profissional qualificado, não haverá efeitos negativos. Os conhecimentos básicos da anatomia da região a ser inserida a agulha são importantes para evitar traumatismos em estruturas internas. O procedimento não deve ser realizado em animais extremamente fracos, em animais assustados, bravos ou agitados e sem possibilidade de contenção adequada. É contra-indicado o uso da acupuntura sobre áreas tumorais e/ou infectadas. Também deve ser evitado em gestantes, principalmente em pontos abaixo da cicatriz umbilical, em animais com discrasias sanguíneas ou deficiências de coagulação a após uma vasta refeição. Em pacientes portadores de marca-passo ou condições cardíacas severa deve-se evitar o uso de eletro-acupuntura. Outra contra-indicação importante é iniciar o tratamento por acupuntura antes de ter sido firmado um diagnóstico adequado, ou antes, que tenha sido feita uma tentativa honesta e diligente para determinação da etiologia da condição sob tratamento. Isso é contra-indicado porque a acupuntura pode mascarar ou alterar os sintomas clínicos, de modo que será difícil, mais tarde, um diagnóstico mais acurado (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 1979; BANNERMAN, 1980; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1999). O uso em conjunto de acupuntura com corticosteróides é controverso. 26 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 4.1.13. Reações Adversas: Dentre as reações adversas ao tratamento com acupuntura, podem ser citadas: agulhas quebradas, agulhas “presas” ou “congeladas” (agulhas presas no tecido, normalmente na fascia ou também devido a espasmos musculares, tornandodifícil sua remoção); injúria a órgãos vitais como coração, fígado, rins e baço; hematomas, pneumotórax; infecções secundárias, náuseas, síncope (BERGQVIST, 2008; LEUNG & ZHANG, 2008). 4.2 Acupuntura Auricular: A acupuntura auricular é um interessante ramo da acupuntura geral, que usa pontos específicos na aurícula para fins diagnósticos e terapêuticos. Esse método foi desenvolvido recentemente e vem ganhando o interesse de clínicos e pesquisadores. A acupuntura auricular veterinária pode ser uma técnica complementar valiosa, especialmente na clínica de pequenos animais. A acupuntura usa um sistema de pontos de acupuntura gerais (clássicos) espalhados por todo o corpo e mais alguns microssistemas. Esses microssistemas podem ser encontrados em partes circunscritas e bem definidas do corpo, como aurícula, nariz ou pé. Esses sistemas locais de pontos de acupuntura representam órgãos do corpo e suas funções. Agem sinalizando os distúrbios funcionais dos órgãos aos quais estão ligados e podem ser usados para estimular os mesmos órgãos e harmonizar suas funções. Os pontos auriculares podem, portanto, ser usados tanto para fins de diagnóstico como para tratamento, ou seja, auriculodiagnóstico e auriculoterapia. De acordo com um antigo texto chinês, a aurícula foi considerada um importante cruzamento dos “principais meridianos Yin e Yang dos braços e membros”. Conseqüentemente considerava-se a aurícula interconectada com todos os órgãos e sistemas internos. A orelha tem um importante papel na Acupuntura Veterinária desde 1980. Pode ser usada como diagnóstico, bem como terapia. Normalmente a orelha no animal não apresenta resistência elétrica da pele reduzida, isto é, nenhuma alta sensibilidade à pressão. Somente quando um órgão está afetado em sua função, apresenta certos pontos sensíveis à pressão na orelha, que somente apresentam uma resistência elétrica reduzida da pele. Estes pontos podem escamar estar avermelhados e/ou sensíveis à pressão. Essa forma de 27 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica acupuntura não surgiu na velha China, apesar de que já há 3000 anos tenha surgido na obra da medicina do “Imperador Amarelo” HUANGDI NEIJING descrições de pontos de Acupuntura na orelha. A orelha é descrita nesta obra como o local onde se encontram todos os meridianos. Já na antiguidade (Grécia e Egito) existiam relatos sobre a cura de certas doenças através da estimulação de certas regiões da orelha (nervo ciático), porém faltava uma relação direta com as partes específicas do corpo e órgãos. 4.2.1. Histórico: A acupuntura auricular foi desenvolvida para um extraordinário sistema diagnóstico e terapêutico pelo médico francês Dr. P. M. F. Nogier, de Lyon, que descobriu o método durante a década de 50. Em 1956 ele tornou público os seus conhecimentos pela primeira vez no Congresso de Acupuntura em Marseille e criou o nome Auriculoterapia. Em 1957, ocorreu a tradução alemã e sua publicação através de D.G. Bachmann na Revista Alemã para Acupuntura. O surgimento deste método de diagnóstico e tratamento também se deve à Nogier. Ele notou que em muitos de seus pacientes com as mesmas doenças, certos pontos da orelha apresentavam toda vez alta sensibilidade, vermelhidões e escamações, cuja cauterização acarretava, na maioria dos casos, uma melhoria até uma cura completa da doença. Após esta descoberta, ele e seu time elaboraram um mapa de zonas de somatotopia do pavilhão da orelha, onde todas as regiões do corpo estavam registradas. O pavilhão da orelha apresenta um embrião de cabeça para baixo, isto é, certos pontos da orelha (Topos = posição) reagem em doenças dos órgãos (Soma = corpo). A base da Acupuntura da orelha está na noção de que todo o corpo humano está representado somatotopicamente na pele do pavilhão da orelha. De forma idêntica como nos reflexos víscero- cutâneos, apresentam-se aqui no caso de um adoecimento, zonas de reação no pavilhão da orelha. Esta descoberta foi verificada e confirmada por acupunturistas de todo o mundo – também na China. Sobretudo, em publicações sobre analgesias de Acupuntura, a Acupuntura auricular Chinesa foi reconhecida internacionalmente. Os mapas, ao passar dos anos, tornaram-se cada vez mais exatos e detalhados, de forma a apresentar cerca de 150 pontos na orelha humana, os quais são usados como diagnóstico e terapia. 28 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 4.2.2. Comparação entre Acupuntura Auricular e Acupuntura Corporal: A acupuntura auricular difere, em vários aspectos, da somática (corporal), a qual usa outros pontos localizados na aurícula. 4.2.2.1 Substrato O substrato anatômico dos pontos auriculares é menos complexo, sendo representado apenas pela pele e pela subcútis que cobrem a cartilagem auricular. Em comparação, os níveis mais profundos dos pontos de acupuntura no resto também incluem o músculo e o periósteo. 4.2.2.2 Propriedade Diagnóstica dos Pontos Auriculares A detecção do ponto por meio da pressão é acompanhada por uma resposta reflexa característica, descrita em seres humanos como um solavanco súbito da cabeça ou do pescoço, ou uma “careta” (repuxo ou contração facial). Reações análogas também são típicas em cães. Ao contrário dos pontos auriculares, nem todos os pontos de acupuntura encontrados no corpo são sensíveis a pressão. A reação à palpação dos pontos de acupuntura Ashi (dolorosos) no corpo é diferente, provocando mais sinais locais de dor. 4.2.2.3 Somatotopia Inicialmente, Nogier propôs que a superfície do corpo e as estruturas viscerais eram representadas na aurícula em uma organização somatotópica parecendo um feto invertido (figura 01). Descobertas clínicas posteriores pelo mesmo autor tendem a sugerir que pelo menos três imagens somatotópicas são sobrepostas na aurícula humana, dependendo da técnica de detecção. Supõe-se, de forma geral, que haja uma conexão funcional entre esses pontos funcionais específicos da aurícula e as partes do corpo e órgãos doentes ou de alguma forma alterados. Um sistema de meridianos é usado para localizar esses pontos e descrever sua relação com os órgãos e funções do corpo, em casos de acupuntura clássica. 29 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica FIGURA 01- Os pontos auriculares em seres humanos estão situados na superfície côncava da aurícula, nas áreas correspondentes ao feto imaginário invertido. (De: Nogier PMF: From auriculotherapy to auriculomedicine, Sainte-Ruffine, France, 1983, Maissonneuve.) 4.2.3. Substrato Anatômico da Acupuntura Auricular: Descobriu-se que os pontos de acupuntura auriculares de coelhos têm vascularização e inervação mais intensivas do que as áreas ao redor. O exame microscópio de elétrons desses pontos de acupuntura mostrou que a principal estrutura receptora conter feixes de fibras nervosas e seus microambientes (vasos sanguíneos, mastócitos, histiócitos). Quando ativadas por pressão ou inserção de agulha, essas células contribuem para reações inflamatórias locais, perpetuando a estimulação das fibras nervosas sensitivas depois da descontinuação do estímulo mecânico. Essa hipótese foi parcialmente confirmada pelo fato de os mastócitos se “desgranularem” depois do estímulo da acupuntura dos pontos auriculares. Os mesmo autores também descobriram um 30 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica aumento da atividade da acetilcolinesterase das fibras nervosas estimuladas por acupuntura no lobo da orelha de coelhos. Isso poderia ser explicado teoricamente pelo aumento da atividade neuronal. Em cães, a área auricular côncava é inervada por nervo trigêmeo, nervo vago e ramos do primeiro e do segundo nervo cervical. Os padrões de distribuição da inervação de cães são bastante diferentes daqueles de seres humanos (figura 02). WHALEN e KITCHELL descreveramadicionalmente uma extensiva inervação pelo nervo facial de quase toda a área auricular côncava. Os autores sugerem que os dois nervos, facial e vago, são responsáveis, em grande parte, pelo suprimento aferente somático da superfície côncava da aurícula externa. De acordo com esse e com outro estudo, ambos feito por WHALEN e KITCHELL, existe uma grande sobreposição das zonas de inervação cutâneas entre os nervos auriculares. A variação individual das áreas de inervação é significativa. CHIEN et al. examinaram as projeções centrais dos nervos auriculares em cães. Os autores confirmaram que o nervo auricular interno rostral se originava do nervo trigêmeo, com uma pequena contribuição do nervo vago e do segundo segmento da medula espinhal cervical. Os nervos auriculares internos, médio e caudal, são ramos cutâneos do nervo facial. FIGURA 02 – Inervação da aurícula em seres humanos (A) e cães (B). 1 = nervo trigêmeo; 2 = nervo vago; 3 = plexo cervical (C1, C2). (De: Kropej H: Systematic approach to ear acupuncture, Ed. 3, Heidelberg, Germany, 1977, KF Haug; and Krueger H, Krueger P: Ear acupuncture in locomotor disorders of small animals, Prakt Tier 61:119 – 129, 1980). 31 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica Além dos nervos anteriormente mencionados, toda a área auricular côncava é suprida pelos nervos simpáticos que acompanham os vasos sanguíneos e linfáticos e os nervos somáticos. Nem a inervação, nem os padrões de suprimento sanguíneo explicam satisfatoriamente o grande número e a topografia dos pontos auriculares detectados por meio dos estudos clínicos. DURINYAN declara que os sinais somáticos e viscerais aferentes da concha auricular se conectam com os núcleos do pedúnculo cerebral, especialmente com os núcleos trigeminal e solitário. Existe também uma conexão direta dos nervos periféricos com a formação reticular. Essa área cerebral envia informações para o hipotálamo, que regula muitas funções autônomas. Atualmente, existem evidências experimentais de que os impulsos cutâneos aferentes provenientes do ouvido externo e da região periauricular têm uma conexão neural com o tálamo e o cerebelo e com os neurônios simpáticos pré-ganglionares da medula espinhal. Essas conexões neurais podem ser o substrato anatômico de reflexos viscerossomáticos e somatoviscerais envolvidos com a acupuntura auricular diagnóstica e com a acupuntura terapêutica, respectivamente. 4.2.4. Características Anatômicas no Cão e no Gato: A orelha é constituída do 1º e 2º arco embrionário. A filogênese já apresenta sinais interessantes na importância da orelha em relação à regulagem da circulação e coração. As guelras dos peixes ficam próximas aos órgãos da circulação e coração, bem como vísceras, para assim, encurtar os caminhos de transporte. Como o desenvolvimento para a vida no campo, as vísceras situaram-se mais caudalmente. Assim, o vago tornou-se cada vez mais comprido para possibilitar a inervação das vísceras. Porém, ramificações distintas nos nervos dos arcos das guelras permaneceram no pavilhão da orelha. Formam o ponto de ataque na Acupuntura da orelha. 4.2.4.1 Relevo Interno do Pavilhão da Orelha do Cão e do Gato O relevo interno da orelha externa do cão e do gato, a uma primeira comparação, tem pouco a ver com a orelha humana. Somente quando se imagina um prolongamento do pavilhão da orelha humana no Tuberculum darwinii, que se assemelha ao ápice da orelha do animal, tem-se 32 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica rapidamente acesso à anatomia do pavilhão da orelha de animais domésticos. Independente de o cão possuir orelhas pendentes ou em pé, a anatomia da escafa não se altera. A extremidade externa (margem trágica – rostral – e margem antitrágica – caudal) do pavilhão da orelha se assemelha à hélice do humano. Na base da cartilagem da orelha encontram-se rostralmente duas estreitas cartilagens, que são denominadas crista da hélice medial e lateral. Uma acentuada cartilagem transversal, inconfundível, (anti-hélice com um tubérculo bem desenvolvido) na região central da concha auricular é comparável à anti-hélice do humano, porém apenas analogamente, não homologamente. Rostralmente à anti-hélice fica uma acentuada dobra longitudinal (plica da escafa), que segue em direção à ponta da orelha. Esta pode estar acompanhada de dobras paralelas. Na base da concha, na proximidade da entrada do canal auditivo externo, as extremidades anteriores e posteriores da concha se encontram, formando o trago e antitrago. A incisura entre os dois chama-se incisura intertrágica. No cão e no gato o antitrago se reparte em processo antitrágico medial e lateral. No terço proximal da extremidade caudal da concha da orelha, encontra-se tanto no cão como no gato uma bolsa característica de pele (saco cutâneo marginal), que seria comparável ao lóbulo da orelha humana (figura 03). FIGURA 03 – Orelha esquerda do gato, na qual se pode observar a incisura intertrágica. 33 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 4.2.4.2 Vasos Sanguíneos e Inervação Anatomicamente, a orelha sob ponto de vista motor e sensível é muito interessante. Já apenas a mímica e assim quaisquer expressões de sentimentos (conexão com o sistema vegetativo) de um animal são expressas através da posição das orelhas. Desta forma, quatro nervos cerebrais com qualidades parassimpáticas próprias, bem como os vasos sanguíneos com os seus nervos simpáticos próprios participam da inervação do pavilhão externo da orelha. a) Nervo Trigêmio – como o 3º ramo do trigêmio, o nervo mandibular produz o nervo auriculotemporal. Surge entre a extremidade posterior do músculo masseter e do fundo da concha da orelha. Cujo ramo auricular (contendo fibras parassimpáticas do gânglio ótico) segue sobre a extremidade anterior do conduto auditivo externo até a concha da orelha e supre com os nervos auriculares rostrais do nervo facial a pele na base da concha e sua superfície interna anterior. Através do núcleo do trato solitário, o núcleo sensorial do vago está conectado com o nervo trigêmeo por vias parassimpáticas e simpáticas. b) Nervo Facial – o 1º ramo do nervo facial, do ramo auricular interno, inerva pequenos músculos no verso da concha da orelha. Supre em conjunto com um ramo do nervo vago (ramo auricular do nervo vago) e pequenas partes do nervo intermédio, a maior parte do lado interno da orelha. Os ramos chegam à parte interna da concha através de aberturas individuais. Inervam, de acordo com König (1980), uma região mista relativamente grande, a qual no cão, em relação ao homem, tem o dobro do tamanho. Abrange a pele do conduto auditivo externo, o trago, o antítrago, a incisura intertrágica, a maior parte da concha e a anti-hélice. Pós-rostral, o nervo facial produz o nervo auriculopalpebral, cujos ramos auriculares rostrais são responsáveis pelos músculos rostrais e dorsais da orelha. Estes ramos faciais conectam-se aos do nervo trigêmeo (nervo auriculotemporal, nervo lacrimal, nervo frontal) ao plexo auricular rostral. Fibras motoras chegam assim até os músculos das pálpebras. Surgindo dos ramos do nervo facial, os ramos para a parótida, o músculo parotidoauricular e para os músculos da pele da região do pescoço fecham este circuito. 34 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica Do nervo auricular caudal, que circunda caudalmente o fundo da concha da orelha, inerva motoramente os músculos caudais da concha da orelha, para então, juntamente com os primeiros e segundos nervos do pescoço, suprir sensivelmente a pele do verso da concha da orelha. Estes ramos do nervo facial contêm partes parassimpáticas próprias do gânglio proximal. c) Nervo Glossofaríngeo – o nervo glossofaríngeo é um nervo misto e participa da inervação da parte horizontal do meato acústicoexterno. Este nervo contém, também, partes parassimpáticas próprias do gânglio petroso. Cujo ramo do seio carotídeo continua transmitindo como sensor de CO2 e pressão sanguínea, impulsos ao centro vasomotor da medula oblonga. d) Nervo Vago – o nervo vago dos nervos cerebrais é aquele que, fora das áreas da cabeça, também possui uma extensa região de suprimento na área das vísceras. Também assume fibras motoras do nervo acessório. Os gânglios sensíveis ficam no gânglio jugular. Emitem suas fibras aferentes para regiões de núcleos sensíveis da medula oblonga. As células parassimpáticas de raízes ficam no núcleo parassimpático do nervo vago, que se conecta imediatamente de forma caudal ao nervo glossofaríngeo na medula oblonga. O ramo auricular do nervo vago inerva juntamente com um ramo do nervo facial a pele na superfície interior da concha da orelha. Somente aqui na concha da orelha é que aparece o nervo vago na superfície, tanto no homem, cão ou gato. e) Ramos do plexo do pescoço – aqui, continuam a participar ramos do plexo do pescoço, bem como o nervo occipital menor e o nervo auricular magno da inervação sensível e motora da parte posterior da concha externa da orelha. Acrescentam-se aí ainda as fibras simpáticas aferentes e eferentes, que acompanham os vasos sanguíneos da concha da orelha na adventícia e os inervam. Todos são originários do gânglio cervical cranial. Os seguintes vasos sanguíneos têm um importante papel na orelha do cão e do gato: A artéria auricular rostral é um ramo da artéria temporal superficial. É relativamente fina e surge rostralmente à base da orelha. Supre (de acordo com KÖNIG, 1980) a Cura helicis, o trago e o antítrago. Na região de ramificação existem pontos que possuem uma imediata conexão com o sistema nervoso vegetativo e influenciam sobremaneira a região dos órgãos. São estes os pontos das glândulas endócrinas: hipófise, supra-renais, tireóide e linfonodos. 35 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica A artéria auricular caudal é a maior das duas artérias da orelha externa. Estas vão surgir da mesma forma como a artéria temporal superficial, diretamente da artéria carótida externa. De acordo com König (1980), a artéria auricular caudal se divide em três ramos. O ramo rostral e o ramo caudal correm ao longo da extremidade da concha da orelha. Do ramo rostral surge à artéria auricular profunda. Ela supre a anti-hélice e a pele em torno do conduto auditivo externo. Na ramificação dessa artéria encontram-se os pontos da região dos órgãos do pulmão, do estômago e do fígado. O ramo central da artéria auricular caudal segue externamente à cartilagem da concha da orelha até a ponta da escafa. Dorsalmente à anti-hélice, ele forma diversos ramos perfurantes, que atravessam a cartilagem da concha para dentro e suprem a pele da superfície interna dorsal da anti-hélice. Nas ramificações desses ramos perfurantes encontram-se pontos de regiões de outros órgãos, como: estômago, rins, bexiga, coração e as regiões de pontos da coluna (KÖNIG, 1980; LAYROUTZ, 1994). Assim, parece-se confirmar que as regiões de pontos para os órgãos encontram-se em ramificações de artérias na região de inervação mista do nervo facial e do nervo vago, enquanto que as regiões externas do corpo são controladas pelas ramificações de ambos os nervos na região da concha da orelha. 4.2.4.3 Ponto de Acupuntura na Orelha HEINE (1993) examinou a estrutura morfológica dos pontos de Acupuntura da orelha, os quais se diferenciam de sua vizinhança por sua condutibilidade elétrica. Ele não encontrou nenhuma formação final nervosa típica, como (corpúsculos de Valter-Pacine, placas táteis de Merkel, corpúsculos de Ruffini), dentre outros, como são conhecidos em cortes normais de pele. Ao contrário, encontrou conjuntos em formato de ovo de estruturas de colágeno no limite do cório ao subcutâneo, que são atravessados por finas fibras nervosas e pequenos vasos sanguíneos. Finos axônios terminais do mesmo nervo cercam o colágeno como uma rede nestas formações. Pode-se encontrar até cinco pequenos corpúsculos entremeados de colágeno por mm². O autor parte do princípio de que tais conjuntos regionais de fibras de colágenos correspondem aos pontos de acupuntura na orelha. 36 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica 4.2.5. Mecanismos Fisiológicos da Acupuntura Auricular: À semelhança dos pontos de acupuntura corporais, o aspecto funcional dos pontos auriculares foi explicado pela primeira vez por meio de reflexos viscerocutâneos, o que deu um enfoque neurológico à acupuntura. Afirma-se que esses reflexos são mediados por fibras simpáticas. Existe uma conexão bidirecional entre os órgãos internos e suas zonas de projeção somática periférica. Isso é classicamente documentado pelas chamadas zonas cutâneas da Cabeça. São áreas de dor referida das vísceras para os segmentos espinais correspondentes do tronco. Uma alteração na função de um órgão interno pode se manifestar por alterações cutâneas na zona segmentar correspondente (vasodilatação e redução concomitante da impedância/resistência elétrica da pele). Por outro lado, a estimulação da zona pode afetar as funções do órgão. Ao contrário das zonas da Cabeça de sensibilidade cutânea, os pontos de acupuntura auriculares não estão nos dermátomos espinais correspondentes, mas na aurícula, distantes de muitos órgãos internos. A acupuntura auricular deve teoricamente tirar vantagem dos reflexos supra-espinais em vez de reflexos segmentares. Os pontos de acupuntura auriculares tendem a estar localizados em áreas auriculares específicas e não se estendem a grandes zonas, ao contrário das zonas da Cabeça. Um estudo comparando as possibilidades diagnósticas do auriculodiagnóstico com palpação abdominal em cães com gastrite aguda ou gastrenterite sugeriu um diagnóstico auricular significativamente mais preciso. A palpação abdominal tira vantagem das zonas reflexas segmentares cutâneas e musculares. STILL descobriu que os pontos auriculares sensíveis à pressão surgiram em certos locais na maioria dos cães, quando suas patas dianteiras foram comprimidas, provocando ligeira dor local na pata. Entretanto, o ponto da “pata” não surgiu quando se fizeram um bloqueio com procaína a 2%, injetada na área imediatamente proximal da pata comprimida antes da aplicação da pressão. Esses achados tendem a sugerir que o reflexo somatocutâneo hipotético entre a pata e a aurícula é mediado pelo sistema nervoso periférico. Como a anestesia local bloqueia tanto os nervos somáticos aferentes quanto os nervos autônomos, outra experiência foi realizada bloqueando especificamente a inervação simpática do quadrante do corpo entre a pata e a aurícula ipsilateral. Usando um bloqueio com procaína do gânglio cervicotorácico ipsilateral (estrelado), a compressão subsequente da pata não foi seguida pelo surgimento do ponto auricular sensível à pressão. Esse 37 ACUPUNTURA AURICULAR VETERINÁRIA – Revisão Bibliográfica achado tende a sugerir que o sistema nervoso simpático desempenha um papel significativo na acupuntura auricular. O ouvido externo assume, de acordo com esses resultados de exames, a função de um biossensor, que registra e avalia centro-nervosamente o meio ambiente (ponto de ataque através da acupuntura), bem como os estímulos internos (manifestações na concha da orelha). KÖNIG (1980) e ZOHMANN (1989) descrevem o efeito da acupuntura na redução da dor como segue: através da aplicação objetiva de contra-estímulos, a sensibilidade à dor através de ações inibidoras nos diversos caminhos de condução é enfraquecida no caminho para o córtex cerebral. No caso da concha da orelha, os contra-estímulos são aplicados em regiões de inervação da pele de nervos da cabeça, os quais são interligados através da formação reticular. A proximidade da orelha
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