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Manual de Auriculoterapia Acupuntura Auricular Francesa e Chinesa Alessandra Maria Porto Scavone 2016 Dedicado ao Dr. Raphael Nogier, que me influenciou totalmente a amar essa maravilhosa terapia. A minha querida amiga Martine Ribes (Sedatelec) que sempre me motivou a escrever esse livro. Aos meus pais Claudio e Maria Lucia que sempre me apoiaram com sua firmeza e dedicação, sem me deixar esmaecer em nenhum momento. À minha filha Natasha, que está sempre ao meu lado, com sua alegria, me impulsionando. Ao meu marido Fernando, companheiro de todas as horas e meu norte, que ao conhecer a Auriculoterapia, se tornou um fã incondicional. À minha grande amiga Keila, que sem a crítica construtiva dela sobre esse livro, ele não seria esse resultado que eu espero que sirva de apoio no dia-a-dia do trabalho de todo Auriculoterapeuta. Sumário PARTE I Introdução Conceito Breve História da Auriculoterapia PARTE II Organização Mundial da Saúde (OMS) Padronização da Anatomia da Orelha Padronização da Nomenclatura dos Pontos da Orelha Sobre os sistemas de localização na orelha PARTE III Reflexoterapia Cartografia Auricular Pontos Auriculares Comparação entre a Acupuntura Tradicional Chinesa e a Acupuntura Auricular PARTE IV Fundamentos científicos da Acupuntura e da Auriculoterapia A Neuroanatomia e a Neurofisiologia A Anatomia da orelha Projeções e representações Modos de ação A Auriculoterapia e o Sistema Nervoso Relação entre a Acupuntura e o Sistema Nervoso Central Locais de Ação Modulação da dor PARTE V Indicações Contraindicações Materiais Materiais de estímulo bioenergético Aspectos a considerar Reações Equipamentos elétricos requeridos Tratamentos Complementares usados com a Auriculoterapia PARTE VI Diagnósticos Relação entre as reações positivas e o tipo de enfermidade Diagnóstico através da palpação Diagnóstico através da exploração elétrica Escalas de valores de dor à exploração palpatória Classificação das reações positivas na exploração elétrica Características diagnósticas dos pontos de alta condutibilidade Regras gerais das reações nos pontos de alta condutividade Métodos de exploração Diferenças na exploração das duas orelhas Diagnóstico através da diferenciação de síndromes Método de determinação diagnóstica Medicina Tradicional Chinesa PARTE VII O exercício da Auriculoacupuntura Auriculoterapia ou Acupuntura Auricular? Acupuntura Auricular Auriculoterapia Auriculopuntura Auriculomedicina RAC VAS Pesquisas avançadas em Auriculomedicina pelo Dr. Nogier Regiões embriológicas da Orelha identificadas por Paul Nogier Relação das regiões embriológicas com os nervos periféricos Frequências características de cada região embriológica PARTE VIII Pontos Mestres Pontos Franceses Pontos Chineses Mapas PARTE IX Programas de tratamento Tratamentos em destros e canhotos Tratamentos sintomáticos Tratamentos etiológicos Tratamentos sequenciais Protocolos Parte X Pesquisa Científica de Alessandra Scavone sobre Depressão apresentada no Congresso Internacional de auriculoterapia, Lyon, França, 2006. Parte XI Bibliografia Referência Bibliográfica Parte I INTRODUÇÃO Este é um manual de Auriculoterapia/Acupuntura Auricular brasileiro que contém os pontos auriculares descobertos pelos Chineses, os pontos Reflexos Auriculares da Auriculoterapia descobertos na França pelo trabalho pioneiro do Dr. Paul Nogier e protocolos de tratamento, resultados de pesquisas e estudos desenvolvidos por mim no Brasil e, como será visto, apresentado na França, no Congresso Internacional. Espero que esse livro seja útil e que possa levar conhecimento e compreensão desse maravilhoso método que é a Auriculoterapia. CONCEITO A auriculoterapia é a ativação de zonas do pavilhão auricular, onde um ponto é reconhecido como anormal ou patológico. Consiste em tratar diferentes afecções com a ajuda de picadas ou outras estimulações efetuadas sobre o pavilhão da orelha, além do seu efeito de analgesia. Baseado no conceito de que nas orelhas, uma região ricamente inervada e amplamente conectada ao sistema nervoso central (SNC), existem pontos reflexos que correspondem a todos os órgãos e funções do corpo. Ao se estimular esses pontos, o cérebro recebe impulsos que desencadeiam fenômenos físicos e químicos, promovendo o reequilíbrio de áreas e funções do corpo. Seu auxilio no tratamento de diversas patologias é reconhecido em muitos países. Os seguintes trabalhos exemplificam a eficácia terapêutica, bem como a evolução da técnica nas últimas décadas: Nogier (1980), Oleson (1980), Durinyan (1980), Borzeix (1981), Bossy (1983), Senelar (1989), A. de Souza (1994 e 2001), Vulliez (1994), Timochevsky (1994), Terral e Rabischong (1997, 2003, 2006), Marignan (1998 e 2003), Ikezono (2000), Magnin(2001), Alimi (2001,2002,2003), Narongpunt (2005), Piquemal (2006), Scavone (2006), Van Wijk e Ackerman(2006). Para muitos casos seus efeitos são rápidos, eficientes e são sentidos logo após sua aplicação, em outros o mesmo acontece após algumas sessões. A auriculoterapia é um tipo de terapia que tem valor reconhecido pela OMS como método auxiliar nas terapêuticas, potencializando seus efeitos. BREVE HISTÓRIA DA AURICULOTERAPIA Na China antiga ( 475 a.C.), todo o sistema de acupuntura se estruturou sobre o principal texto médico chinês, o Huang Di Nei Jing, o “Clássico da Medicina Interna do Imperador Amarelo”, cuja antiguidade se remonta a 2000 anos. Nesse texto, todos os 6 meridianos Yang foram considerados conectados diretamente à orelha, enquanto que os 6 meridianos Yin estão indiretamente conectados à orelha. Esses pontos auriculares chineses antigos não foram organizados somatotopicamente na cartografia auricular chinesa, formavam um conjunto de pontos distribuidos aleatoriamente pela orelha. Em outro texto clássico, o Ling Shu, feito aproximadamente entre 475 e 221 a.C., menciona- se pela primeira vez uma somatotopia da orelha, estudada mais amplamente pelo medico chinês Pian Que. Em tempos mais recentes, na época da dinastia Tang, difundiu- se amplamente o uso da estimulação do pavilhão auricular para controlar o curso das enfermidades internas. No Egito antigo, Grécia e Roma (400 a.C.), médicos antigos como Hipócrates, o pai da Medicina, durante anos de sua estadia no Egito tiveram acesso a esse conhecimento, como se deduz de algumas de suas publicações. Em seu livro “Sobre a geração” afirma que “os que sofreram incisões ao lado das orelhas usam, verdadeiramente do coito e ejaculam, mas a sua ejaculação é pouco abundante, inativa e infecunda.” Em outro livro “ Dos ares, das águas e dos lugares”, menciona também que a agressividade dos Escitas poderia estar relacionada com a frequente impotência que constituia uma autêntica praga no povo. Cita “ Eles se tratam da seguinte forma: no começo do mal, abrem a veia colocada atrás de uma e outra orelha.” Esta intervenção dedicada a remediar este problema permitia a realização de um coito normal, mas reduzia o conteúdo espermático no líquido seminal. No Egito antigo se encontram referências à utilização do pavilhão auricular com intenções médicas. Um reconhecido egiptólogo, Alexandre Varilla, afirma que as mulheres que não desejavam ter mais filhos agulhavam um local do pavilhão da orelha. Há uma antiga obra de arte mostrando uma rainha com uma agulha na orelha. Igualmente na antiga Grécia, eles tratavam a ciática queimando um ponto determinado sobre o antihélix da orelha. No livro dedicado às epidemias, refere- se ao tratamento pela orelha dos estados inflamatórios: “Para as inflamações das partes inferiores, abrir as veias nas orelhas”. Também Galeno fez uso clínico de anéis auriculares e outras formas de estimulação de orelha para vários problemas, particularmenteo tratamento de desordens sexuais e menstruais. Os árabes usavam não somente a cauterização na orelha para o tratamento de ciática, como também para o tratamento da hipertensão, moléstias abdominais, renais ou de espalda. Os antigos chineses praticavam em comum com outros povos como os árabes, ciganos, hindus e europeus uma técnica que consistia em agulhar um ponto determinado no lóbulo da orelha para tratar problemas oculares, tais como o olho vermelho, a miopia e a catarata. Na Pérsia antiga, após a queda do Império Romano, se conservaram antigos achados médicos, em que se mencionava um tratamento para ciática pelas cauterizações na orelha. Na Europa, na Idade Média (1500), a Companhia Holandesa da Índias Orientais, que desenvolveu um grande intercâmbio comercial com a China, trouxe os primeiros conhecimentos sobre a Acupuntura à Europa. Incluida nessas descobertas estava a Acupuntura Auricular, assim como o desenvolvimento das agulhas hipodérmicas a partir das agulhas chinesas de acupuntura. Na Renascença (1700), fatos clínicos esporádicos na Europa discutiam o uso das cauterizações para aliviar a dor ciática. No século XVII, um médico português, Zacutus Lusitanus, descreveu a utilização das cauterizações auriculares no tratamento da neuralgia ciática. Ele afirma: “Hipócrates recomenda frequentemente em suas obras a secção das veias situadas atrás das orelhas para curar as dores ciáticas”. Também neste século, Jerônimo Bosch, um pintor , em seu quadro intitulado “ O jardim das delícias”, nos mostra um diabo que está situado na orelha, na zona de projeção hormonal, hipofisária e sustentando uma lanceta que marca na orelha um ponto sobre uma zona específica para aumentar a libido, ponto este que Nogier chamou de “Ponto de Jerome” ou “Ponto de Bosco”. Este quadro encontra-se no Museu do Prado em Madrid. No século XVIII, o anatomista italiano Valsalva, em sua obra “ De aura humana tractatus” precisa em suas páginas 11 e 12 a região do pavilhão que se cauterizava nas dores dentárias. Mais modernamente, em 1810, o Professor Ignaz Colla, de Parma, expõe a observação de um homem que havia sido picado por uma abelha no nível do antihélix, o que lhe havia causado uma incapacidade passageira para caminhar de um lado para o outro. Também relata cauterizações retro-auriculares realizadas, com evidente êxito, por um companheiro cirurgião seu, Dr. Cecconi, para tratar dores ciáticas. Em 1850, o “Journal des Connaissances Medico-Chirurgicales” em seu número de primeiro de maio, publica um conjunto de observações e documentos facilitados pelo Dr. Lucciani, de Bastia, recomendando a cauterização da orelha como tratamento radical da ciática. A zona que se estimulava era a raiz do hélix. Na França Moderna (1951), Dr. Paul Nogier, um neurologista e neurocirurgião de Lyon (França), observou a ocorrência de uma cicatriz na orelha dos pacientes, devido a uma cauterização na raiz do antihélix, o qual haviam sido tratados com sucesso por uma curandeira, de nome Madame Barrin. Quando perguntados por ele, os doentes diziam ter tido um alívio muito rápido da dor, em poucas horas ou até minutos , o que tornava, sem sombra de dúvida, a existência de uma relação entre a cauterização da orelha e a sedação da dor. Nogier pensou então, como muitas vezes uma ciática é a causa de um bloqueio lombo-sacral, que a cauterização dessa zona no pavilhão atuava ao nível vertebral, e assim foi como apareceu o antihélix representativo do raquis, porém, invertido. De tal modo que se tudo estava invertido, o lóbulo corresponderia ao encéfalo e as extremidades superior e inferior ficariam na parte superior do pavilhão, lembrando a imagem típica de um feto no útero materno. Então ele desenvolveu o mapa somatotópico da orelha, baseado no conceito de uma orientação de um feto invertido. Se expuseram numerosos mecanismos de ordem neurofisiológica que explicavam a projeção puntiforme dos transtornos periféricos sobre o pavilhão e, inversamente, a ação recíproca da orelha sobre o corpo. Seu trabalho foi primeiro apresentado na França, então comunicado a sociedade alemã de acupuntura, e finalmente traduzido na China. Na verdade, realizou esse trabalho em etapas sucessivas: a descoberta em 1951, a compilação de fatos anedóticos, a idéia para explicar os fatos, a confrontação dos fatos de maneira empírica e depois experimental. Nogier sempre foi um apaixonado pelas pesquisas, mesmo com as limitações da época. Os riscos eram grandes para essa técnica médica inovadora e alternativa. Porém, ao mesmo tempo, ele dizia que o rigor deveria dominar a fantasia. Na China moderna (1960), a Equipe de Pesquisa de Acupuntura Auricular do Exército de Nanking, verificou a precisão clinica da Orelha Homunculus de Nogier. Eles empiricamente acessaram esses pontos auriculares com mais de 2000 pacientes utilizando o “Barefoot Doctors” como parte do Mao Tse Tung. Nos Estados Unidos (1980), um estudo duplo cego da University of California, Los Angeles (UCLA) , verificou estatisticamente a precisão do Diagnóstico Auricular. Um nivel estatístico significante de 75% de precisão foi achado no diagnóstico dos problemas da dor musculoesquelética de 40 pacientes. Pela evolução de áreas específicas de temperatura e aumento da atividade elétrica na orelha, áreas do corpo com alguma disfunção puderam ser corretamente identificadas, enquanto áreas do corpo livres de patologias foram corretamente identificadas como pontos não patológicos na orelha. Subsequentemente, a pesquisa da UCLA focou sobre a comparação dos pontos auriculares Chineses e Franceses, o uso da eletro-acupuntura auricular para dor crônica de pacientes com medicações do tipo ópio, e a reversibilidade do naloxone na analgesia dental produzida pela auriculoterapia. Portanto como podemos comprovar, através da história, a auriculoterapia é uma prática muito antiga, que tem acompanhado o ser humano em sua busca da cura de patologias e do alivio da dor, desde a antiguidade, tanto no mundo oriental quanto ocidental. (Dados do histórico compilados dos livros de Oleson, Rouxeville, Meas, Bossy e Figuereo) PARTE II ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) Reunião da OMS em LYON – 1990 Sob a direção de Olayiwola Akérélé, a OMS desenvolveu um programa relativo às medicinas tradicionais, para estudar a veracidade das mesmas. Para a auriculoterapia, uma primeira reunião foi realizada em 1987, em Séoul, a qual participaram Jean Bossy e Raphael Nogier. Em seguida, um grupo de trabalho de 40 membros se reuniram ao final de novembro de 1990 em Lyon (França). Encarregados de tentar conciliar os Franceses e Chineses e normatizar a nomenclatura da acupuntura auricular, esses experts vindos de todos os continentes ouviram Hiroshi Nakajima (diretor geral da OMS) reconhecer a paternidade indiscutível de Paul Nogier na descoberta e no desenvolvimento da auriculoterapia e agradecê-lo, considerando-o como um benfeitor da humanidade. Desde 1982, a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization) coordena ações a fim de conduzir à um consenso internacional sobre uma linguagem comum em acupuntura, com o objetivo de facilitar o ensinamento, a pesquisa e a prática clínica, quer dizer, estabelecer uma nomenclatura padronizada da acupuntura. Esses esforços consistiram em grupos de trabalho e em diversas consultas regionais convocadas pelo Escritório Regional da Organização Mundial da Saúde para o Pacífico Oeste e as reuniões de um Grupo Científico da Organização Mundial da Saúde (Grupo de Trabalho sobre uma Nomenclatura Padronizada da Acupuntura, Manille, 1982; Reunião de Consulta Regional por uma Nomenclatura Padrão da Acupuntura, Tokyo, 1984; Segundo Grupo de Trabalho por uma Nomenclatura Padrão em Acupuntura, Hong Kong, 1985; Terceiro Grupo de Trabalho por uma Nomenclatura Padrão em Acupuntura, Séoul, 1987; Reunião Cientifica da Organização Mundial da Saúdeafim de adotar uma Nomenclatura Padrão em Acupuntura, Genève, 30 Outubro - 3 Novembro 1989). Ao final dessa última reunião, foi aprovado por unanimidade a proposta de uma Nomenclatura Padronizada em Acupuntura para uso internacional. Os grandes traços dessa proposta relacionam-se a utilização da tradução inglesa do nome de cada meridiano e de um código alfanumérico derivado dos nomes ingleses, a utilização dos nomes do alfabeto fonético Chinês (Pinyin), assim como os caracteres Han para os nomes dos pontos e dos meridianos de acupuntura. Uma das recomendações feitas pelo Grupo Científico da Organização Mundial da Saúde foi de completar essa padronização da acupuntura pelos pontos de acupuntura da orelha (ou auriculoterapia) de valor terapêutico reconhecido e cuja localização anatômica é geralmente aceita. Foi imposta a necessidade de constituir um grupo de trabalho reunindo os especialistas mundiais no domínio da auriculoacupuntura. A primeira sessão ocorreu em Lyon em 28, 29 e 30 de novembro de1990. Eis aqui a ata resumida: HISTÓRICO A acupuntura, sistema único de tratamento e de alívio da dor, foi e ainda é constantemente utilizada desde, aproximadamente, 2500 anos. Apareceu na dinastia de Zhou (1º milênio a.C.) e sua teoria e prática já estavam bem sistematizadas sobre os Han anteriores (século II a.C.). Os princípios da acupuntura são imortalizados no Huang Ti Nei Ching ("Clássico da Medicina Interna" do lmperador Huang Ti), que é constituido de duas partes, o Su Wen (século II a.C.) e o Ling Shu (século I a.C.). Esses textos descrevem os doze meridianos de acupuntura e seus pontos de entrada e saída. No decorrer de sua longa história na China, no Japão e no Extremo-Oriente, a prática da acupuntura conheceu períodos de declínio; foi tanto rejeitada como também negligenciada com o advento da medicina ocidental moderna. Entretanto, há quarenta anos, as autoridades chinesas dão uma grande importância aos Médicos Tradicionais e à acupuntura em particular. Ao mesmo tempo, no Ocidente, nos interessamos cada vez mais pelas aplicações terapêuticas da acupuntura, pesquisa e explicação dos seus modos de ação à luz dos conhecimentos cientificos modernos. No decorrer dos últimos vinte anos, numerosos novos pontos de acupuntura foram reconhecidos e, particularmente em auriculoterapia, sob a impulsão e graças aos numerosos trabalhos tanto clínicos como fundamentais do Doutor Paul NOGIER, médico francês. Dado o interesse sem precedente que se manifesta pela acupuntura e acupuntura auricular, essa última técnica, saída da ciência moderna, sendo uma forma de micro- sistema de acupuntura limitado ao pavilhão da orelha, e agora com a evolução objetiva dos seus efeitos fisiológicos em termos terapêuticos, tornou-se cada vez mais clara e indispensável a necessidade de uma nomenclatura internacional. Uma primeira abordagem frutuosa dessa padronização mundial da acupuntura auricular ("Working Group Meeting on Auricular Acupuncture Nomenclature”, Lyon, France, 28 - 30 Novembre 1990) foi definida em um padrão que fornece as bases indispensáveis à todos os trabalhos clinicos ou fundamentais de porte internacional. Veja aqui a ata resumida do Grupo de Trabalho e a padronização, ainda não completa, que foi adotada. RECORDAÇÃO DAS METAS E OBJETIVOS QUE GUIARAM ESSE GRUPO DE TRABALHO: A meta global foi de propor uma nomenclatura padrão em auriculoacupuntura. Os objetivos foram: - elaborar um quadro geral dos progressos realizados pela auriculoacupuntura, - trazer a termo as discussões e proposições já evocadas por outras reuniões anteriores concernentes a padronização dos pontos de auriculoacupuntura, - recomendar e aconselhar as atividades futuras da Organização Mundial da Saúde concernentes à acupuntura como um todo. SESSÃO DE ABERTURA E DISCURSOS Essa reunião foi aberta pelo Doutor Raphaël NOGIER, em seu próprio nome mas também em nome do Groupe Lyonnais d'Etudes Médicales, autores principais com a Organização Mundial da Saúde, desse trabalho. A elocução de boas vindas do Doutor NOGIER foi seguida por um discurso pronunciado pelo Doutor O. AKERELE, responsável pelo Programa de Estudos dos Médicos Tradicionais no seio da Organização Mundial da Saúde. Ele particularmente insistiu sobre a importância não somente de construir uma nomenclatura padrão internacional em auriculoacupuntura, mas também de promover seu uso de tal modo que pudesse ser desenvolvido e corrigido à luz da experiência, gradualmente e à medida de sua utilização. Os participantes e observadores foram então convidados a apresentar-se. Os oficiais da reunião foram em seguida designados: Doutor Raphaël NOGIER: Presidente Doutor T. TSIANG: Relator oficial No decorrer da tarde da segunda jornada, o Doutor Hiroshi NAKAJIMA, Diretor Geral da Organização Mundial da Saúde, veio especialmente do Japão, dirigiu-se ao conjunto do Grupo de Trabalho. Entre os pontos notáveis que levantou, o Doutor NAKAJIMA rendeu honras ao papel efetuado pelo Doutor Paul NOGIER no desenvolvimento da teoria e das aplicações clinicas da auriculoterapia. Ele renovou igualmente o seguro, feito pela Organização Mundial da Saúde através de seu Programa de Estudos das Medicinas Tradicionais, de promover e recomendar para uso internacional a utilização de uma nomenclatura da auriculoacupuntura padronizada, a fim de facilitar o ensino, a pesquisa e as aplicações clinicas. Em resposta, o Doutor Paul NOGIER sublinhou algumas mudanças ocorridas durante sua longa carreira na Medicina, e bem particularmente aos espetaculares avanços tecnológicos na proteção da saúde, mas também a emergência cada vez mais popular das medicinas naturais e notadamente, a importância crescente da auriculoterapia e da auriculomedicina. Ele exprimiu seu perfeito acordo com a necessidade de desenvolver uma nomenclatura padrão da auriculoterapia e dirigiu os seus agradecimentos pela contribuição que isso trará no futuro, no reconhecimento dos pontos da orelha e ao ensinamento e pesquisa, tendo por consequência, certamente, atribuir um papel crescente da auriculoterapia e da auriculomedicina na proteção eficaz e melhora da saúde de cada um. Enfim o Doutor T. TSIANG retraçou o histórico da implicação da Organização Mundial da Saúde desde 1982 no centro dos esforços para padronizar a nomenclatura da acupuntura e os sucessos que resultaram desses esforços. O Doutor TSIANG sublinhou igualmente a intenção do Grupo e a particularidade dos pontos da orelha que não são encontrados na acupuntura clássica. Para uma Nomenclatura Padrão em Auriculoterapia Padronização da Anatomia da Orelha Referindo-se a padronização da anatomia da orelha, o Grupo de Trabalho estabeleceu um consenso sobre as áreas anatômicas e propôs a seguinte classificação, que utilisa um codigo alfabético MA (M derivado de "micro-sistema" e A de "auricular point"). CÓDIGO ALFABÉTICO ÁREA ANATÔMICA DO PAVILHÃO DA ORELHA MA-HX Hélix 1 MA-SF Fossa escafóide MA-AH Anthélix 2 MA-TF Fossa triangular MA-TG Tragus MA-AT Antitragus MA-IC Concha inferior MA-SC Concha superior MA-LO Lóbulo MA-IT Incisura intertrágica MA-PP2 Zona posterior periférica MA-PI2 Zona posterior intermediária MA-PC2 Zona posterior central MA-PL2 Zona posterior lobular 1: O hélix e o anthélix são mais divididos em muitos segmentos, mas de um comum acordo não nomeados. 2: Após algumas discussões, concordou-se que a face posterior da orelha seria dividida em quatro partes. Padronização da Nomenclatura dos Pontos da Orelha Uma nomenclatura padrão foi adotada, com respeito a cada ponto, seguindo os três critérios fundamentais seguintes: 1 - os pontos devem possuir os nomes comuns de uso internacional, 2 - os pontos devem ter um valor terapêutico bem provado, 3 - a localização desses pontos sobre as áreas auriculares deve ser aceita por todo o mundo. Assim, 39 pontos foram discutidos e depois adotados pelo Grupo de Trabalho.Todos os nomes marcados com um asterisco (*) são pontos de Medicina Tradicional Chinesa, que não correspondem necessariamente à um local anatômico como é compreendido na medicina moderna. A Propósito das Tabelas de Auriculoterapia O Grupo de Trabalho considerou que os desenhos das tabelas de auriculoterapia contidos no relatório do terceiro Grupo de Trabalho Regional (boletim da Organização Mundial da Saúde, 68 (4):425-429, 1990) continha numerosos pontos onde as localizações precisas ainda permaneciam abertas à discussão. O Grupo por conseguinte decidiu que essas tabelas não seriam consideradas como referência de localização dos pontos auriculares, notadamente ao olhar da insuficiente padronização da anatomia de áreas da orelha. Trabalhos e projetos posteriores Durante o curso, emergiram discussões de numerosos pontos de vista divergentes, concernentes as localizações dos pontos da orelha. Sobre a base dessa livre troca de idéias e opiniões, o Grupo de Trabalho concordou que seja uma prioridade para as atividades futuras desenvolver uma cartografia padrão de referência da orelha para sua utilização em auriculoacupuntura. Essa cartografia padrão deverá responder às necessidades seguintes: - Corrigir a ilustração anatômica da orelha, - Colocar o ponto em uma cartografia apropriada das diferentes zonas anatômicas, à construir com a ajuda de experts da anatomia e da acupuntura da orelha, - Ilustrar a projeção dessas zonas, - Localizar e reconhecer de maneira precisa os pontos, cada vez que isso seja possível. Recomendações de ordem geral Devido a importância e a necessidade urgente de desenvolver uma padronização e uma nomenclatura da auriculoacupuntura aceita internacionalmente para facilitar o ensinamento, a prática e a pesquisa, o Grupo de Trabalho fez as seguintes recomendações: 1 – A Organização Mundial da Saúde pede que se considere de maneira urgente a implementação de um sub-comitê encarregado de estudar uma cartografia anatômica do pavilhão da orelha, com o objetivo de nomear as zonas e os pontos de auriculoacupuntura, 2 – A Organização Mundial da Saúde estabelecerá os contatos necessários com as associações, grupos de pesquisa, instituições, etc... em todo o país, incluindo a República Popular da China e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que foram implicadas no ensinamento e na prática da auriculoacupuntura, e faremos uma ação para resumir e traduzir os trabalhos selecionados dos quais foram os autores. Essa informação será difundida às Sociedades interessadas, etc... em uma meta de pesquisa, prática e ensinamento de auriculoacupuntura. 3 - Com a intenção de tornar acessível toda a informação de atualizações concernentes à auriculoacupuntura, este relatório do Grupo de Trabalho deverá ser editado e disseminado tão largamente quanto possível às sociedades de acupuntura e de auriculoacupuntura no mundo inteiro. Conclusões e perspectivas para o futuro Eis por conseguinte a primeira padronização de nivel mundial da auriculoacupuntura. Embora incompleta, é importante que todo trabalho, seja ele fundamental ou clínico, respeite essa nomenclatura, porque ele dá à todos os pesquisadores e práticos uma linguagem clara e comum à todos. Muitas escolas tem até o presente ignorado essas normas, preferem ensinar seu próprio modelo, se bem que seus trabalhos permanecem inoperacionais. No futuro, as novas reuniões convocadas pela Organização Mundial da Saúde terão lugar, não somente para completar essa nomenclatura e clarificar os pontos acima mencionados, mas também provavelmente concernente às indicações da auriculoacupuntura. SOBRE OS SISTEMAS DE LOCALIZAÇÃO NA ORELHA (1) A necessidade de dispor de um sistema de localizaçaõ no pavilhaõ auricular conduziu muitas escolas à apresentar suas proposições. O Sectograma de Marco Romoli foi avaliado favoravelmente por 385 colegas. Por este motivo tem a nossa preferência atual, já que integra o ponto zero, centro geográfico do pavilhaõ auricular. Uma nova nomenclatura auricular? David Alimi desenvolve mesmo uma " Argumentação cientı́fica de uma proposição de Nomenclatura Internacional para a Auriculoterapia proposta à W.F.C.M.S. para submissão à O.M.S .". Ora, um inı́cio de nomenclatura foi realizado no âmbito da O.M.S. em 1987, depois em 1990 [1]. Foi o objeto de um acordo com quórum mı́nimo entre quarenta experts no plano mundial. Surpreende-me que este texto taõ importante naõ tenha sido citado por David Alimi. Certamente, ele cita Paul Nogier ( � ), mas em nenhum lugar de seu texto li a mı́nima referência aos primeiros textos [2-5] do reconhecido descobridor da Auriculoterapia, o que permitiria fazer pensar numa atitude parcial, por omissaõ. Na França, existe um certo grau de reconhecimento das medicinas alternativas e complementares. Este fato é a consequência do engajamento do Dr. Jacques Niboyet ( � ) [6] e do Prof. Jean Bossy ( � ) [7,8]. É sempre elegante naõ omitir o trabalho dos antigos praticantes, do qual somos beneficiários! As partes da orelha saõ mais ou menos vastas. Em 1990, o trabalho da O.M.S. constituiu-se na definiçaõ dos códigos para as áreas: MA-AH para anti-hélice, MA-LO para o lóbulo, MA- PI para o sulco posterior da anti-hélice, etc. [9]. Esta base consensual mı́nima foi estabelecida no plano mundial, inclusive pelos chineses. Um trabalho iniciado em conjunto justifica continuar também em conjunto e naõ de maneira solitária! Uma utilidade de simples localização? A inacreditável variabilidade morfológica da orelha impõe encontrar uma forma de localizaçaõ simples. Diversas escolas propuseram diferentes sistemas. O quadriculado auricular pode assim se tornar a imagem de seu autor: pode ser mais ou menos claro, complicado ou simples, útil ou inútil. O sectograma de Romoli foi avaliado; é a ferramenta que me parece ser a mais adaptada por ser fácil de compreender, prático e dentro da lógica que governa a auriculoterapia há 50 anos (figura 1) [10, 11]. Figura1 . O Sectograma de Romoli (2003). Paul Nogier considerava-o como um centro geográfico cômodo para a determinação precisa [3]. Está situado no nı́vel onde a raiz da hélice se torna um ramo ascendente, no local preciso onde o relevo se eleva fora da concha... É possı́vel localizá-lo graças à uma incisura cartilaginosa que faz uma saliência quando exploramos a região com uma protuberância transversal ou com a unha [4]. “ A orelha apresenta um ponto central, situado na raiz da hélice. Ele representa o umbigo e o plexo solar. Chamei-o de ponto zero [5]”. Mais tarde, ele nos ensina ter observado: Seu papel é realmente singular. Ele comanda efetivamente toda a orelha e sua energia. Permite isolar certos pontos até então silenciosos, quando estimulado por inserção de agulha ou por corrente elétrica [5]. René Bourdiol ( � ), cita também o ponto zero do pavilhão, que sabemos ser a projeção umbilical e solar [12]. Partir do ponto zero Em junho de 1987, Paul Nogier nos dizia que na sua opiniaõ o ponto zero representa o centro de equilı́brio do corpo humano, de seu dinamismo [13]. Alguns de meus alunos de Nantes deram-lhe o nome de " o ponto da Auriculo para os ignorantes "! O ponto zero é detalhado, em particular para os alinhamentos, no recente livro de Marco Romoli [11]. Raios e alinhamentos de pontos Os raios provenientes do ponto zero Paul Nogier descreve [3] um sistema geométrico proveniente do ponto zero, que consideramos como essencial, quarenta anos após a primeira descriçaõ. Este centro geográfico é igualmente um centro fisiológico, e os raios que se originam dele podem ser considerados como verdadeiras linhas de força unindo os pontos que os compõem... Tudo se passa como se todo o pavilhaõ dependesse deste ponto zero, verdadeira comporta cuja abertura e fechamento se desencadeariam à vontade sob a influência de uma picada de agulha ou de uma corrente elétrica. Os alinhamentosde pontos [14] René Bourdiol descreveu os alinhamentos de pontos sobre um raio proveniente do ponto zero, indicando o valor capital do ponto de borda e do ponto zero [12]. Paul Nogier observou que após a picada de um ponto, pode-se detectar, na superfı́cie do pavilhaõ da orelha, até doze raios fazendo entre eles um ângulo de 30° centrados sobre este ponto [14]. Na figura 2, o ponto zero emite raios. Considera-se que os pontos cinza observados sobre os raios saõ secundários ao ponto central branco (o ponto zero). Figura 2. Os doze raios à 30° Os sistemas de localização já descritos [9] O importante é uma transcriçaõ correta daquilo que é observado. Uma má transcriçaõ é um viés importante na realizaçaõ dos estudos terapêuticos ou dos estudos multicêntricos, mas também para anotar corretamente no prontuário de um paciente, para solicitar o parecer de um colega mais qualificado pela Internet, ou ainda para que o estudante copie corretamente o esquema do professor. O sistema de R. A. Durinyan (1983) Obra do soviético R. A. Durinyan ( � ), o que explica seu desconhecimento no mundo ocidental. Formado de doze setores de 30° provenientes do ponto zero (figura 3), permite comparar facilmente vários pacientes apresentando a mesma patologia, assim como identificar o diagnóstico metamérico (músculo, osso, vı́scera, etc.). Figura 3 . O sistema de R. A. Durinyan. O sistema de René Kovacs (1983) É um quadriculado trazendo em abcissas as letras de A à O, e em ordenadas os números de 1 à 26 (figura 4); trata-se de coordenadas ortogonais (à 90°). Seu interesse essencial é didático, no papel, pois seu inconveniente maior é naõ se adaptar aos diferentes formatos de orelha. Isto explica o porque do sistema de Kovacs ( � ) ter sido rapidamente abandonado por Paul Nogier. As áreas de Terrence Oleson (1990) Esta cartografia apresenta superfı́cies numeradas de forma variável e adaptando-se aos relevos do pavilhaõ (figura 5). Detalha áreas essenciais (o muro da concha e outras áreas ocultas), mas a grande variabilidade de morfologia das orelhas me leva à considerar esta proposiçaõ mais como uma teoria filosófica muito interessante do que um auxı́lio médico prático. Figura 5 . As áreas de Oleson. O Sectograma de Marco Romoli (1981 - 2003) Em 1981, Romoli inventa um primeiro Sectograma de vinte setores recobrindo o pavilhaõ. Em 1986, conhece o sistema de R. A. Durinyan. Estas duas proposições integram o ponto zero como centro. Mais tarde, M. Romoli apresenta uma nova versaõ que comporta 40 setores (de 8° à 11°) somente sobre a face lateral (externa) do pavilhaõ (figura 1). Romoli avaliou em 2003 o Sectograma junto a 152 colegas em aprendizado: os erros de transcriçaõ foram em número de 19 (12,5%), sobretudo para a anti-hélice, muito pouco para o lóbulo. Romoli fez uma avaliaçaõ de seu Sectograma (SG) [10], de 2004 à 2007. Em 2010, os 152 se tornaram 385 médicos com formaçaõ de auriculoterapia. A utilizaçaõ do SG permite uma ótima precisaõ de transcriçaõ correta dos pontos (P<0,001) [11]. Por este motivo o Conselho Cientı́fico da Auriculo. Sans Frontières fixou o Sectograma de Romoli como sistema de trabalho para nossos estudos terapêuticos e multicêntricos. A única imperfeiçaõ desta ferramenta é o fato das faces posteriores (mastoı́deas) das orelhas estarem excluı́das. Além do mais, cada setor corresponde à um nı́vel metamérico. O Prof. Jean Bossy sabia insistir em nos fazer lembrar que um dermátomo tem como área de influência dois nı́veis acima e abaixo, devido aos inter- neurônios segmentares! O ponto zero, que naõ é descrito pelos chineses, é retomado por Romoli. Marca o inı́cio do enrolamento da hélice, contemporâneo do enrolamento do telencéfalo [12]. Às vezes ponto fonte, centro geográfico e ponto central do pavilhaõ auricular, este ponto mestre é o local mais importante! O Segmentograma de David Alimi (2010) David Alimi criou o Segmentograma para a sua Nomenclatura (figura 6). Ela compreende um 1° ábaco que divide o pavilhão auricular em 189 áreas sobre a face lateral (externa) e um 2° ábaco dividindo o pavilhão em 89 áreas sobre a parte medial (interna). O conjunto completa um divisor recobrindo a totalidade da superfı́cie auricular, permitindo estabelecer um Auriculograma preciso. David Alimi diz basear-se na neurofisiologia. Apresenta sua cartografia como universal, como um modelo biomatemático da neuroanatomia cerebral onde os pavilhões são um holograma. Seu epicentro é o ponto zero linha (no centro do trago), que seria para ele a representaçaõ do corpo caloso. Estas duas proposições interrogam, e de modo legı́timo: o sistema nervoso pode representar a si mesmo na orelha? A cartografia da O.M.S. (1990) naõ comporta pontos sobre o lóbulo: o Prof. Jean Bossy ( � ) refutava a possibilidade de que o S.N.C. fosse ali representado. É verdade que o cérebro é interpretativo, e naõ receptor. O tratamento destas áreas sendo eficaz em certos sintomas e em certas funções, pode-se legitimamente estimar agir naõ diretamente sobre os órgaõs nervosos, mas indiretamente sobre seus vasos. O trago representando as comissuras inter-hemisféricas, onde se situa o corpo caloso, parece ser somente uma teoria. Em 6 de outubro de 2006, no V Simpósio (do qual eu, Alessandra Scavone, participei), o Prof. Rabischong se colocou contra esta interpretação pessoal, este conceito perigoso, esta derrapagem semântica difı́cil de se propagar . A experiência nos confirma que o trago é uma espécie de sı́ntese do pavilhaõ auricular; mas esta constataçaõ é somente fruto da observaçaõ, e portanto uma simples teoria explicativa! As respostas a estas duas questões, que apresentamos como plausı́veis no plano didático, dependem dos competentes pareceres dos Especialistas em Neurologia, únicos habilitados à confirmá-las ou anulá-las. Figura 6. O Segmentograma de Alimi. Em direção à uma nova torre de Babel? O Segmentograma de Alimi é uma descoberta interessante, um avanço que detalha sem poder ser unanimidade hoje. Arrisca igualmente engendrar um certo número de outras proposições bastante legı́timas, tendo por centro: • O fı́gado para aqueles que consideram primordial este órgaõ, fábrica quı́mica que produz proteı́nas, gera vários metabolismos e desintoxica nosso corpo, O pé (e mesmo o olho) para os praticantes da posturologia que tem toda legitimidade por esta escolha, O útero para as mulheres (" tota mulier un utero "), A amı́dala cerebral, que regula nossas emoções e medos relativos ao sistema lı́mbico, O intestino delgado ou o pâncreas, cujas insuficiências engendram tantas disfunções, O ponto de Bosch, se consideramos que o sexo dirige o mundo, Ora, o sexo é somente um pequeno detalhe, se posso me expressar assim, pois a hipófise regula em grande parte as secreções das gônadas, Etc., etc., etc., em funçaõ das concepções ou das hipóteses de cada um! Na realidade, o ideal naõ seria uma orelha em três dimensões sobre a qual cada escola colocaria suas próprias localizações, seu Sectograma ou seu Segmentograma?... Pode-se sempre sonhar! Deve-se privilegiar Descartes? David Alimi apresenta as "coordenadas cartesianas dos pontos de auriculoterapia". Ora, o adjetivo cartesiano corresponde ao cérebro esquerdo, aquele da razaõ, mais analı́tico em relaçaõ ao cérebro direito, aquele da emoçaõ, mais global. Antonio Damásio, autor de "O Erro de Descartes" [15], mostrou que as emoções saõ indispensáveis à validade dos nossos raciocı́nios. Demonstra que as recentes descobertas em neurofisiologia contradizem a oposiçaõ tradicional entre razaõ e emoçaõ. O importante para nós é que os dois hemisférios cerebrais tenham juntos um bom funcionamento, a fim de produzir uma consciência correta (consciência sendo empregada no sentido de um estado do organismo, cujo objetivo seria a manutençaõ a melhor possı́velda vida). Naõ desejando estar implicado num sistema ultrapassado, rejeito as "coordenadas cartesianas". As diferentes correntes da Auriculoterapia explicam as diferentes abordagens: Desconhecida pelos chineses antes das descobertas de Paul Nogier, a auriculoterapia é praticada no mundo inteiro. Existem duas grandes correntes no mundo: a auriculo-acupuntura à partir da China, e a acupuntura auricular no mundo ocidental. Os paı́ses do antigo bloco soviético praticam um misto das duas técnicas. Na França, dois grupos se afirmam seguindo o exemplo de Paul Nogier: de um lado a escola lionesa que agrupa o GLEM e o EIPN (a referência histórica) recorrendo à medicina experimental, de outro lado o ensino dito unificado (Faculdades de Medicina de Nantes e de Sfax), Universidade de Medicina Tradicional Tibetana em Sarnath na Índia, Auriculo. Sans Frontières (que ensina a auriculoterapia clı́nica utilizando as neurociências). A Faculdade de Medicina de Paris XIII (Bobigny) afirma ser a herdeira de René Kovacs. Propõe uma formaçaõ em neurociências aplicada à auriculoterapia. A potente escola alema,̃ dirigida por Frank Bahr (também aluno de Paul Nogier), se esforça em estabelecer pontes entre a auriculoterapia ocidental e as medicinas tradicionais chinesa e indiana. Em sua abordagem cientı́fica, a Medicina deve muito aos naõ médicos que foram Claude Bernard e Louis Pasteur, no século XIX. Mas, para a medicina do século XXI, as teorias e o empirismo saõ considerados como uma aquisiçaõ. A avaliaçaõ das práticas (nos planos do diagnóstico e dos resultados terapêuticos) associada às publicações, tornou-se uma necessidade, um modelo necessário. Parece ser bem aceito que o futuro da auriculoterapia será determinado pelos trabalhos e publicações das diferentes escolas, e naõ mais através de teorias naõ validadas ou de hipóteses naõ confirmadas. É necessário constatar que existem muitas correntes de Auriculoterapia. Portanto, é perfeitamente lógico que opiniões diferentes se manifestem, e que projetos diferentes se realizem. Enquanto uma questaõ filosófica conduz geralmente a várias respostas (as quais podem ser contraditórias), é habitual ter uma linha diretiva na Medicina do século XXI. PARTE III REFLEXOTERAPIA A reflexoterapia consiste em pesquisar a cura de uma doença pela excitação dos centros nervosos. A acupuntura sistêmica e a acupuntura auricular entram no campo da reflexoterapia, portanto, antes de detalharmos sobre a acupuntura auricular, falaremos sobre a reflexoterapia. A descoberta da reflexologia não pode ser atribuída a nenhuma cultura específica. Sabe-se que diversos povos utilizaram diferentes formas de trabalho de estimulo em diversas regiões do corpo. Essa forma de tratamento era conhecida pelas antigas civilizações. A mais antiga documentação que se tem notícia é proveniente do Egito. Eles eram grandes estudantes do corpo humano. Isto ficou registrado pelos artistas da época nas inscrições dos túmulos e nos murais. A acupuntura surgiu dessa mesma raiz. Há pontos reflexos no corpo todo. Existem microssistemas como o pavilhão auricular, as plantas dos pés, o crânio e outras regiões onde esses pontos estão presentes, que podem ser estimulados através de vários meios: • pelo calor: moxa • por agulhas: acupuntura e auriculoterapia francesa • por sementes: acupuntura auricular chinesa • por massagem: Tui Na (China); massagem Ayurvédica (Índia); • por pressão: Shiatsu ( Japão) • por ventosas CARTOGRAFIA AURICULAR As cartografias são a representação das informações transmitidas pela via espino- talâmica (Y. Rouxeville). Um caminho complexo (que está explicado posteriormente), religa as terminações nervosas da pele e da orelha. A orelha, assim como a pele, é um espelho dos órgãos (segundo a expressão do Professor Rabischong). As cartografias descrevem a representação dos órgãos sobre o pavilhão da orelha sob a forma de pequenas zonas. O ponto a detectar será pesquisado nas suas pequenas zonas. Diferentes cartografias existem. As zonas correspondentes as distintas partes corporais em proporções similares: a zona da cabeça ocupando uma grande extensão, os braços e as pernas ocupando porções menores. Um certo número de pontos tem uma grande importância: são os pontos mestres. Cartografias auriculares, de acordo com os trabalhos de Paul Nogier (1956,1969,1977,1987,1989). A cartografia do pavilhão auricular foi criada em 1952 pelo Dr. Paul Nogier. Tem finalidade tanto diagnóstica como terapêutica e veio a criar o corpo da doutrina que conhecemos como auriculoterapia. Na cartografia do Dr. Paul Nogier, os órgãos são representados sobre o pavilhão da orelha por zonas : o tórax e o abdômen na concha, o aparelho locomotor no pavilhão, os músculos na face posterior. No lóbulo foram descritas as zonas correspondentes às funções cerebrais. Nessa cartografia encontra-se algo parecido com as estruturas anatômicas de um embrião humano. Os folhetos embrionários dão origem aos diferentes tecidos, órgãos, sistemas e aparelhos do corpo humano. Através de estudos e pesquisas, Nogier associou o endoderma, o mesoderma e o ectoderma a diferentes partes da orelha externa. Regiões embriológicas da orelha identificadas por Nogier: Nogier notou que a orelha é uma de muitas estruturas anatômicas que é composta de cada um dos 3 primeiros tipos de tecido do desenvolvimento embrionário. Ele teorizou que cada tipo do tecido embrionário da orelha tem diferentes funções somatotópicas relacionadas com a área auricular. a. Tecido mesodérmico (tecido mediano): é representado sobre a hélice, a antihélice, a fossa escafóide e a fossa triangular, inervados pelo trigêmeo. Essas áreas representam desordens musculoesqueléticas, dor muscular, inervações somestésicas e tônus simpático. b. Tecido endodérmico (tecido profundo): é representado na concha, inervado pelo pneumogástrico Essa área representa desordens viscerais, dores profundas, inervação vagal e tônus parassimpático. c. Tecido ectodérmico (tecido superficial): é representado sobre a parte inferior do pavilhão, sobre o antitragus e sobre o lóbulo da orelha. Essas áreas representam desordens de pele, desordens neurológicas e disfunções endócrinas. Figuras abaixo Dr. Raphael Nogier: PONTOS AURICULARES O Dr. Paul Nogier chegou à conclusão que os pontos só poderiam ser percebidos e detectados quando determinada região ou função do corpo estava de alguma forma alterada, quando em um experimento em que prendendo o dedo de um voluntário com um prendedor, após algum tempo apareceu uma grande sensibilidade dolorosa no ponto do pavilhão auricular correspondente ao dedo preso. Como os pontos auriculares só existem em situações de alterações patológicas, facilita para que possam ser utilizados com uma intenção terapêutica, como também diagnóstica, permitindo às vezes aclarar casos difíceis naqueles pacientes em que existe uma sintomatologia obscura e pouco definida (Figuereo-2006). Os órgãos do corpo são representados nas zonas da orelha. No centro de uma zona, um ponto será particularmente implicado. É uma microestrutura organizada inconstante, isto é, ele deve ser pesquisado em uma zona preferencial, de acordo com a cartografia, mas ele pode estar ausente. Não precisa estar obrigatoriamente sobre a orelha homolateral à afecção, nem sobre a orelha da lateralidade da pessoa. O ponto comporta filetes nervosos e de vasos (o complexo neurovascular). Pode ser doloroso à pressão. As características elétricas dos pontos de acupuntura foram estudados nos anos 1950. É essencialmente à Jacques Niboyet que temos um trabalho de grande valor científico. Suas descobertas são o suporte de nossos conhecimentos atuais: tanto os pontos de acupuntura clássica chinesa, como os pontos auriculares tem a propriedade de apresentar uma resistênciaelétrica completamente diferente de seu contorno imediato. No pavilhão da orelha, somente alguns pontos mestres (ponto zero e ponto ômega) são detectáveis em baixa de impedância em todas as pessoas. A detecção em baixa de impedância dos pontos dos órgãos acontece nos casos onde o funcionamento desse órgão está perturbado. Essa descoberta permitiu o desenho dos aparelhos que baseados na velha lei de OHM permitiam a localização dos pontos ativos com toda precisão. A manifestação do ponto poderá ser ligado a uma hipóxia e a uma isquemia do órgão correspondente, consecutivas a uma degradação . O pavilhão é dividido em três territórios. Os órgãos são representados em função de sua correspondência embriológica, mas um ponto pode ter uma característica plurifocal, ou seja , um mesmo ponto pode ser usado para diversos tratamentos. Dado o tamanho limitado do pavilhão auricular, os pontos tem tamanhos que variam de 0,1 a 0,3 mm. Ao se efetuar a sensibilização desses pontos por agulhas de acupuntura, essas agulhas criam uma micro-inflamação onde o efeito é transmitido pelo sistema nervoso cérebro-espinhal e vegetativo; essas ações são moduladas pelo sistema límbico ( Y. Rouxeville). A auriculoterapia é um método diagnóstico, pois os pontos auriculares são percebidos através de diagnóstico visual, palpatório (fica doloroso à palpação) e eletrônico (pois sofre alterações em suas constantes elétricas). Se esses pontos estiverem alterados, identifica-se a zona ou função representada no pavilhão da orelha em desequilíbrio. Portanto, um determinado ponto só aparecerá se o individuo estiver doente. Um exemplo: se houver uma lesão no joelho, o ponto representado no pavilhão auricular poderá apresentar alterações que podem ser vistas (ex: vermelhidão), pode ser sentida por dor a palpação ou ter alterações de resistência elétrica que pode ser localizada por um aparelho de detecção eletrônico (Ex:Diascope- Sedatelec) e consequentemente tratado. Mediante esses estímulos por complexos mecanismos neurológicos e bioquímicos reflexos, que serão explicados no decorrer deste livro, auxilia-se a modificação dos padrões em desequilíbrio, chegando à melhora dos transtornos observados no organismo. A auriculoterapia nos permite através da técnica de busca dos pontos, descobrir uma região em forma de rede funcional, isto é, tratando-se uma patologia, identificamos pontos a serem tratados que não tem correspondência direta com essa patologia, porém auxilia o doente no tratamento. Encontramos por exemplo em um paciente deprimido, não somente o ponto antidepressivo, como também o ponto do pulmão, por exemplo. Na medicina chinesa o órgão pulmão está relacionado com a emoção, tristeza e melancolia. Também encontramos esta relação na medicina ocidental, pois Psiquiatras Americanos tem informado que pacientes afetados com depressão melhoram, sem trocar a medicação, quando o paciente começa a ser tratado com a correspondente estimulação do ponto do pulmão (Figuereo). COMPARAÇÃO ENTRE A ACUPUNTURA TRADICIONAL CHINESA E A ACUPUNTURA AURICULAR A acupuntura (somatopuntura) é a técnica que consiste em agir sobre pontos precisos do corpo, às vezes picando-se com finas agulhas, às vezes massageando ou aquecendo esses locais. A acupuntura praticada na China desde milhares de anos é baseada em conceitos tradicionais (a regulação do Yin e do Yang, a lei dos cinco elementos, as leis de circulação de energia, etc.). A acupuntura é uma parte da medicina tradicional chinesa. Alguns médicos tentam compreender e explicar a acupuntura tradicional através dos conhecimentos medicos atuais, realizando teses de mestrado e doutorado para comprovar cientificamente a eficácia da acupuntura, como citado anteriormente. A auriculoterapia se inscreve de maneira legítima no quadro da acupuntura. Porém a auriculoterapia não utiliza as mesmas vias que a acupuntura. A auriculoterapia e a acupuntura entram no campo das reflexoterapias e suas ações acontecem por intermédio do sistema nervoso. Certas regiões do corpo apresentam uma correspondência com os órgãos. Além da orelha, também o crânio, o nariz, o rosto, o pé e a mão são regiões reflexas. Assim, os microssistemas da acupuntura (inclusive a orelha) podem refletir o estado energético geral e permitir sua regulação. Certos acupunturistas descrevem até uma correspondência dos meridianos da acupuntura com a orelha (Y. Rouxeville). O International Council of Medical Acupuncture and Related Techniques (ICMART) é uma associação que agrupa as sociedades médicas de acupuntura. E nela incluem-se também a auriculoterapia e a auriculomedicina. Comparemos agora a acupuntura auricular com a sistêmica: História: Os sistemas de acupuntura sistêmica e auricular tiveram suas origens históricas na antiga China. Entretanto, a Acupuntura Sistêmica manteve-se praticamente inalterada, enquanto a Acupuntura Auricular foi maravilhosamente modificada pelas descobertas do Dr. Paul Nogier, na França. Muitas pesquisas foram desenvolvidas desde então no campo da Auriculoterapia e Auriculomedicina. Meridianos: A Acupuntura Sistêmica é baseada sobre um sistema de 12 meridianos, 6 meridianos Yang e 6 meridianos Yin, que circulam através de ambos lados do corpo, como linhas de força. A Acupuntura Auricular conecta-se a esses meridianos, mas não depende deles. A orelha é um micro sistema que afeta o corpo todo. A Escola Francesa de Auriculoterapia não tem nenhuma relação com as teorias da Medicina Chinesa. Na auriculoterapia não há essa idéia de energia, como na acupuntura auricular Chinesa. Inversão Somatotópica: Na acupuntura somática, os meridianos correm em linhas ao longo do corpo, com uma lógica anatômica não aparente em relação ao órgão do corpo representado pelo meridiano. Na acupuntura auricular, há um arranjo de pontos ordenados, baseados sobre a perspectiva de um Fetus Invertido. As áreas da cabeça são representadas pelo lóbulo da orelha, o pé fica no topo, e o corpo, entre eles. Como o mapa somatotópico no cérebro, o homunculus auricular devota uma área proporcionalmente maior para a cabeça e mão do que para o resto do corpo. O tamanho da área somatotópica é relacionado com a sua importância funcional. Uma parte do corpo como a orelha pode representar o corpo todo e isso foi relatado na Teoria Holográfica, que pode ser aplicada a auriculoterapia tão bem como a reflexologia do pé (vide teoria holográfica). Pontos de acupuntura: Esses pontos são áreas anatomicamente definidas na pele. Eles são estabelecidos em um local fixo e específico na acupuntura somática, e podem ser sempre detectados. Na acupuntura auricular, entretanto, um ponto de acupuntura pode ser detectado somente quando há um problema na área correspondente do corpo que esse ponto representa. Quando as agulhas são bem posicionadas, o paciente deve experimentar uma sensação chamada de Teh Chi pelas escolas de acupuntura tradicional. O Teh Chi tem sido definido como uma sensação subjetiva de totalidade, entorpecimento formigamento e calor com alguns locais doloridos e um sentimento de distensão ao redor do ponto de acupuntura. Não há um consenso entre os acupunturistas sobre a necessidade de alcançar o Teh Chi para a acupuntura ser efetiva. Embora isso não se observe no estimulo dos pontos auriculares, há uma nítida sensação de maciez e penetração que acompanha a estimulação auricular. Resistência da Pele: Nas acupunturas sistêmica e auricular, os pontos de acupuntura são localizados em regiões de baixa resistência da pele, ou em estado inverso, alta condução da pele. Também nos dois sistemas, quando há uma patologia de algumas formas no órgão do corpo representado pelo ponto meridiano ou ponto auricular, a atividade eletrodérmica daquele ponto de acupuntura é ainda maior, e sente-se mais macio ao tocá-lo. Representação Ipsilateral: Nas acupunturas somática e auricular, áreas patológicas do corpo que sãounilaterais, são mais fortemente representadas pelos pontos de acupuntura no mesmo lado do corpo que está patológico, que do lado contralateral do corpo. No cérebro, representações somatotópicas são registradas contralateralmente. As representações ipsilaterais do corpo sobre a orelha podem ser devido às projeções contralaterais, ascendendo da orelha ao cérebro, cruzando de volta para as projeções descendentes do mesmo lado do corpo. Desse modo, a representação ipsilateral na orelha deve-se a duas projeções contralaterais, ascendente e descendente da orelha. Eficácia diagnóstica: A acupuntura auricular provê mais científicamente verificações de áreas identificáveis de dor ou patologias que a acupuntura sistêmica pois a última utiliza o diagnóstico pelo pulso e pela língua; no diagnóstico auricular, pode-se identificar problemas no corpo pela detecção de áreas na orelha que estão descoloridas, ou pela alta condução da pele, ou até mesmo através do Vascular Autonomic Signal (VAS), que será explicado na parte sobre Auriculomedicina. As aproximações dos diferentes tratamentos: As acupunturas do corpo e da orelha podem ser clinicamente utilizadas para aliviar dor e patologias no corpo através do uso da massagem, de acupressura, agulhas de acupuntura, eletroacupuntura, estimulação elétrica transcutânea dos nervos nos pontos de acupuntura e estimulação à laser. As acupunturas do corpo e da orelha podem ser usadas juntas ou independentemente. Locais de tratamentos remotos: Os pontos da orelha são localizados a uma certa distância da área do corpo onde o sintoma está localizado. Isso permite o uso da Auriculoterapia na área do corpo afetada mesmo que esta esteja muito dolorida para se tratar localmente. A acupuntura do corpo também utiliza pontos remotos. Muitos pontos no corpo, entretanto, são localizados diretamente sobre a mesma área do corpo que o sintoma está. Problemas clínicos tratados: As acupunturas do corpo e da orelha são utilizadas para tratar uma variedade de desordens clínicas, incluindo dores de cabeça, dores crônicas das costas, hipertensão, dismenorréia e desordens dentárias. Problemas relacionados a vícios tem resultados melhores com a auriculoterapia, como o controle do cigarro e a desintoxicação de drogas. Eficácia do tratamento clínico: As acupunturas auricular e sistêmica parecem ser procedimentos igualmente efetivos, requerendo algumas sessões de 30 minutos de tratamento , enquanto que os benefícios clínicos duram por dias e semanas. Alguns pacientes reportam completo alívio da dor com a Auriculoterapia. Cura: As acupunturas sistêmica e auricular não simplesmente reduzem a experiência de dor, que é o seu efeito mais imediato, mas também facilitam o processo natural de cura do corpo. É importante tratar a causa e não somente a representação sintomática do problema e tanto a acupuntura auricular quanto a acupuntura somática podem tratar a causa, com mudanças fisiológicas. A Auriculoterapia facilita o mecanismo natural de auto-regulacão homeostática do corpo. A estimulação de um ponto na orelha pode diminuir ou aumentar/ativar as funções corporais ou diminuir o processo fisiológico. É importante dizer que os pacientes tem que passar por uma avaliação de saúde, para não tratar sintomas que precisam de tratamento tradicional, como no caso de doenças incuráveis tais como diabetes, tumores e doenças cardíacas. Nesse caso a acupuntura seria um suporte. Facilidade na aplicação do tratamento: A acupuntura auricular é de muitas maneiras mais econômica e conveniente para se usar em clínicas, hospitais e postos de saúde . A orelha é fácil de se fazer o tratamento enquanto o paciente pode estar sentado numa cadeira ou deitado em uma maca, em suas próprias roupas. Parte IV FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS DA ACUPUNTURA E DA AURICULOTERAPIA A maioria dos cientistas concorda que a acupuntura não age como a hipnose; eles citam que ela tem aliviado a dor nos animais, que não podem ser hipnotizados. A comunidade científica agora aceita amplamente que a acupuntura produz mudanças fisiológicas no corpo humano. Essas mudanças incluem alterações na pressão sanguínea, nas atividades elétricas cerebrais e no tálamo (uma parte do cérebro que processa os impulsos nervosos da dor, da temperatura e do tato). Numa conferência, Abass Alavi, diretor de Medicina Nuclear da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, apresentou as imagens resultantes do escaneamento do cérebro dos pacientes agulhados por acupuntura. "Nós medimos o fluxo cerebral antes e imediatamente após o tratamento por acupuntura", disse o parceiro de Alavi, David Mozley. "Nós encontramos um aumento significativo do fluxo sanguíneo para o tálamo após o tratamento... mostrando que a acupuntura produz efeito sobre o cérebro, particularmente sobre o tálamo, que tem um papel importante no processamento da informação sensitiva”, acrescentou ele. Desde 1996, cientistas do mundo todo sentiram a necessidade de investigar o papel da acupuntura na liberação de outros neuropeptídeos, que não os opióides. Em uma assembléia de pesquisadores realizada em 1996, nos Estados Unidos, Candace Pert, professora do departamento de fisiologia e biofísica da Escola de Medicina da Universidade de Georgetown, disse: “cerca de 70 a 90 neuropeptídeos podem ser os responsáveis pela transmissão no tratamento da acupuntura”. "Até agora, o que todo mundo entende é que as endorfinas estão implicadas” (na acupuntura). “Não há dúvida quanto a isso", relatou Daniel Bossut, do Departamento de Neurologia da Universidade de Duke. “Mas os neuropeptídeos têm múltiplas funções e os opióides não irão ser os únicos responsáveis no tratamento da acupuntura", disse Bossut. "Creio que uma lição importante a ser observada, é que a acupuntura pode afetar as serotoninas", segundo o psiquiatra e bioquímico de lipídeos Joseph R. Hibbeln, do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism. “Isso é importante para os psiquiatras porque nós usamos muitas drogas farmacológicas para alterar a serotonina e tratar as desordens da ansiedade e da depressão", disse Hibbeln. Michel O. Smith, diretor da Divisão de Abuso de Substâncias do Hospital Lincoln em Bronx, tem usado a acupuntura por vários anos. Segundo ele, a acupuntura mostra um resultado positivo no auxílio para a recuperação de viciados em drogas, para continuar com seus programas de reabilitação. "A acupuntura em si não irá ajudar essas pessoas. Nada por si só irá ajudar essas pessoas. Mas se você adicionar a acupuntura ao programa, você irá obter vantagens. Há uma maior taxa de aderência (de viciados no programa). As pessoas são mais cooperativas e elas entendem mais." As técnicas de acupuntura e auriculoterapia se baseiam no princípio do reflexo, que é um princípio universal fisiológico, ou seja, a resposta ordenada do organismo a um impulso externo ou interno, que será processado pelo Sistema Nervoso Central (S.N.C.), mas que não se pode reduzir somente à existência de estimulo-reação ou à existência do moderno conceito de um círculo regulador (recepção de uma informação através de um receptor, aferências sensitivas em direção a um neurônio, neurônio eferente e atividade dos efectores). Diferentes tipos de reflexoterapias se realizam mediante a participação de muitas estruturas do S.N.C., sobre a base de uma análise integrativa da informação, com a utilização de uma experiência anterior e também com a consideração de uma motivação sensorial e psíquica. O importante para a reflexoterapia é saber se as mudanças na função produzidos diretamente pelo influxo da informação ascendente se produzem sobre a base de mecanismos determinados pela evolução ao longo do tempo, alcançando-se assim um ótimo nível de atividade. A reflexoterapia demonstra desta forma um caráter de adaptação. A manutenção da homeostase é possível mediante informações específicas de um determinado subsistema ( por exemplo, a manutenção da pressão sanguíneasobre a base de sinais aferentes que procedem de receptores situados na aorta e na carótida), que é um exemplo de regulação automática. Mas no nível da pressão sanguínea depende da atividade da totalidade do organismo e se deve adaptar a novas condições ou necessidades. No mecanismo da homeostase tomam parte não só reflexos automáticos, senão também vários complexos mecanismos do denominado grupo de reflexos de adaptação. As reações de um sistema fisiológico se produzem no nível do S.N.C., como conseqüência dos correspondentes sinais aferentes. O principio da somatotopia - distribuição de uma correspondência localizadora entre as zonas nervosas centrais, talâmicas ou corticais, e territórios somáticos, por exemplo, entre o córtex parietal ascendente, por um lado, e o hemicorpo do lado oposto para as funções sensitivas (H. Piéron, psicólogo francês, 1881-1964), permite localizar lesões nervosas de acordo com os sinais periféricos e, mais especificamente em auriculoacupuntura sendo o conjunto de projeções reflexas no pavilhão auricular e da viscerotopia - se desprende, segundo a acupuntura e a auriculoacupuntura, de todas as reações corretas nos correspondentes órgãos internos, partes corporais e sistemas que estão ligados em primeira linha com um determinado segmento corporal. E tão logo esta informação chegue ao plano do tronco cerebral, influirá, quase sempre, beneficamente sobre a regulação humoral e hormonal. Há aqui também 3 mecanismos básicos que tem valor fundamental para a acupuntura e a auriculoacupuntura, segundo Victorino Martinez Figuereo: 1- O neural que é o mais importante da periferia. 2- O neuro-humoral, que conduz as mudanças do meio interno, dos fluidos corporais. 3- O neuro-hormonal, através de uma ação sobre a hipófise e as glândulas de secreção interna. FUNDAMENTOS CIENTÍFICOS PARA A AURICULOTERAPIA A auriculoterapia é um método que mantém uma relação privilegiada com o território do nervo trigêmeo, relação que compartilha com outros tipos de reflexoterapias e que foi descrita magistralmente pelo Prof. Jean Bossy na sua obra fundamental, “ Bases neurobiológicas das reflexoterapias” Masson 1975, do qual tomamos muitos conceitos dos quais será exposto posteriormente. O pavilhão da orelha dispõe de uma inervação particularmente densa e variada: V par craniano – nervo trigêmeo (controle dos movimentos da mastigação -ramo motor-; percepções sensoriais da face, seios da face e dentes -ramo sensorial-) para o pavilhão da orelha; X par craniano- nervo pneumogástrico (percepções sensoriais da orelha, faringe, laringe, tórax e vísceras, inervação das vísceras torácicas e abdominais) para a concha; nervos cervicais para o lóbulo e a raiz do hélix, assim como o VII par craniano - nervo facial (controle dos músculos faciais, mímica facial, - ramo motor - , percepção gustativa no terço anterior da língua -ramo sensorial-) e o IX par craniano – nervo glossofaríngeo (percepção gustativa no terço posterior da língua, percepções sensoriais da faringe, laringe e palato). A orelha contém relações estreitas e comprometidas com o tronco cerebral. A convergência neuronal sobre as unidades reticulares e suas ligações com a substância cinzenta périaquedutal permitem explicar sua importância no domínio da analgesia. O diagnóstico auricular evoluiu: ele é válido, mas não é infalível. A imagem por ressonância magnética funcional permitiu notar a correlação de uma parte do cérebro e de uma zona da orelha. Os trabalhos em teletermografia dinâmica mostram que a orelha poderia ter um papel termoregulador sobre os órgãos. Os trabalhos de pesquisa clínica não são mais que convincentes. A NEUROANATOMIA E A NEUROFISIOLOGIA – Os trabalhos de Jean Bossy Jean Bossy foi neuroanatomista na Faculdade de medicina Montpellier-Nîmes. Ele sempre tentou explicar a acupuntura e a auriculoterapia da maneira mais precisa, sob a luz da neuroanatomia e da neurofisiologia. Ele recebeu o prêmio da Escola Internacional Paul Nogier (EIPN) em 2000. A seguir será exposto sobre seu trabalho. A ANATOMIA DA ORELHA A orelha externa sempre teve um valor estético e uma significação médica importante nas diferentes culturas, mas seu estudo antropológico deixa ainda numerosos pontos de interrogação. No domínio médico, a medicina legal e a antropología são interessantes. Seu interesse terapêutico ficou marginalizado até o final do século XX. Atualmente, a auriculoacupuntura, que nós podemos chamar de reflexologia auricular, é largamente difundida pelo mundo. As localizações dos pontos e zonas reflexas nos fazem pensar sobre a anatomia da superficie auricular, onde a variabilidade é impressionante, em relação mais ou menos direta com uma embriologia complexa. Entretanto, essa inervação cérebro-espinhal e autônoma permite abrir a via para os mecanismos centrais, explicando seus efeitos assim diversos e às vezes surpreendentes. Superfície anatômica A configuração complexa do pavilhão auricular é explicada em parte pela sua origem embriológica. Apesar da diversidade da morfologia da orelha externa, podemos estabelecer um esquema aplicável à todas. A orelha ou pavilhão é formada por uma lâmina de cartilagem elástica (fibrocartilaginosa) de formato irregular, recoberta por uma fina camada de pele. Possui várias depressões e elevações, sendo a concha a maior depressão. A margem elevada da orelha é chamada de hélice ou hélix e, localizada logo abaixo da hélice se encontra a fossa escafóide, que é uma longa depressão. Abaixo da fossa escafóide se encontra uma elevação chamada anti-hélice, que termina bifurcada em dois ramos, encontrando-se uma fossa entre eles, chamada de fossa triangular. O lóbulo é uma pequena porção de tecido mole que se encontra na região inferior do pavilhão. Localizados superiormente ao lóbulo, encontram-se o tragus e o anti-tragus, o primeiro localizado logo na abertura do meato acústico externo e o segundo, logo acima do lóbulo. A sua face medial está relacionada com a região mastóidea, cujo limite forma o sulco retro-auricular. Sua face lateral apresenta as seguintes saliências e depressões: A orelha externa consiste em: uma cartilagem elástica única, coberta por fina camada de pele, penugem, glândulas sebáceas e sudoríparas, inervada vascularizada o lóbulo da orelha é a única região do pavilhão que não apresenta cartilagem a orelha externa é formada pelo meato auditivo e pelo pavilhão. O pavilhão da orelha é formado por várias saliências e depressões: Concha (concha superior e concha inferior): a saliência mais profunda. É limitada principalmente pelo anti-hélix e pelo trago. Raiz do hélix : divide a concha em 2 partes: uma superior e estreita denominada concha cimba e outra inferior muito mais larga, que é contínua com o conduto auditivo externo, chamada concha cava. A margem superior e proeminente da orelha é denominada hélix ou hélice, que começa na cavidade da concha do pavilhão da orelha e segue circundando o pavilhão até encontrar o lóbulo. O lóbulo da orelha é a região inferior do pavilhão auditivo, formada por tecido gorduroso, fibroso e vasos sanguíneos cobertos por pele. A saliência mais interna e central da orelha constitui o anti-hélix, que se bifurca na parte superior formando a cruz superior e a cruz inferior, cuja depressão formada é denominada fossa triangular. Entre o hélix e o anti-hélix situa-se a fossa escafóide, região localizada em uma depressão curvilínea que acompanha o formato do hélix. O tubérculo auricular é uma proeminência relativamente pequena, localizada na região superior do hélix. A proeminência localizada na região anterior da concha, abaixo do hélix, é denominada trago. Ele se projeta a partir do meato auditivo externo para frente, protegendo o orifício. Na concha cava encontra-se o meato acústico ou meato auditivo; na sua região anterior encontra-se uma estrutura denominada trago; e, posteriormente ao meato auditivo e à concha cava, encontra-se o antitrago.antitrago é uma pequena proeminência triangular de pontas abauladas. A fossa superior do antitrago consiste em uma depressão relativamente pequena que se forma entre o antitrago e o anti-hélix. Distribuindo-se, resumidamnente, da seguinte forma: • lóbulo da orelha – região cefálica e facial. • Antitrago – cabeça e cérebro • Trago – laringe, faringe, nariz externo e interno, supra renais, nervo tempoauricular, etc. • Anti-hélix – tronco, na cruz inferior do anti-hélix se localiza a região glútea e na cruz superior os membros inferiores. • Fossa escafóide – membros superiores. • Raiz do hélix – diafragma e em torno do hélix distribui-se o aparelho digestório. • Incisura do intertrago – glândulas endócrinas. • Concha cimba – pontos da cavidade abdominal. O pavilhão auricular possui formato oval, com a extremidade maior voltada para cima e a superfície lateral levemente côncava e inclinada para frente. Está localizado nos dois lados da cabeça, posteriormente à articulação têmporomandibular (ATM) e à região parotídea, anterior à região mastóide e abaixo da temporal. O pavilhão auricular é formado de tecido fibrocartilaginoso, ligamentos, músculos e tecido adiposo. A parte inferior do pavilhão é rica em vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Já os terços superiores são formados essencialmente por cartilagem. O lóbulo da orelha apresenta, na maior parte de sua constituição, tecido adiposo e conjuntivo. O sistema sanguíneo da orelha é abundante, sendo o suprimento arterial realizado principalmente através da artéria temporal superficial, auricular posterior e da carótida externa. As veias acompanham as artérias e possuem a mesma designação, com exceção da veia jugular posterior que drena as áreas irrigadas pela artéria carótida. Os vasos linfáticos da face anterior desembocam nos gânglios linfáticos da parótida e muitos dos vasos linfáticos da face posterior desembocam em linfonodos retroauriculares. A inervação do pavilhão auricular é rica. Os nervos motores se originam do nervo facial e os nervos sensitivos possuem origem dupla. Os ramos do nervo auriculotemporal vão para a parte anterior do hélix e para o trago e o ramo auricular do plexo cervical superficial inerva o restante do pavilhão auricular. O pavilhão auricular apresenta várias depressões e saliências cartilaginosas. Nas partes mais profundas estão localizados pontos relacionados aos órgãos internos e as partes salientes apresentam pontos que se relacionam principalmente as estruturas ósseas do corpo. O estudo anatômico da orelha facilita a localização dos pontos e das áreas correspondentes. A NEUROANATOMIA DA ORELHA Bossy descreveu a inervação sensitiva da orelha. Suas dissecações foram reprisadas (tese de M. Séouane, Montpellier 1974). Ele identificou a existência de frequentes variações anatômicas individuais e admitiu a possibilidade da inervação pelo nervo facial (VII par craniano) e pelo nervo glossofaríngeo (IX par craniano). O pavilhão da orelha é o único lugar do corpo que dispõe de uma inervação tripla: - o nervo auriculo-temporal, ramo do trigêmeo (V par craniano) , ortosimpático, no pavilhão (suporta as representações músculo-esqueléticas) e ramo ascendente do hélix; - um ramo auricular do pneumogástrico (X par craniano), parasimpático, na concha ( suporta a representação das vísceras); - o grande nervo auricular (nervos cervicais C1-C2-C3), ortosimpático, no lóbulo (suporta as localizações ectodérmicas) e a raiz do hélix. Ademais, a periferia do conduto auricular é inervada pelo VII par craniano (nervo facial), e o tragus pelo IX par craniano (glossofaríngeo). Figura Dr. Raphael Nogier A NEUROFISIOLOGIA NA AURICULOTERAPIA Bossy sempre insistiu sobre os fenômenos de convergência sobre as unidades neurais da formação reticular. Ele precisou e detalhou o papel fundamental dessas estruturas nervosas particulares ao tronco cerebral e ao subcórtex. A formação reticular é como uma “teia de aranha” religando entre eles diretamente os centros hipotalâmicos, rinencefálicos e o tronco cerebral. Os nervos do pavilhão auricular são implicados, a orelha sendo derivações em relação às vias nervosas. A formação reticular tem uma relação estreita com o tônus, com o sistema vegetativo (centros respiratórios e circulatórios), assim como com as funções de atenção e de sono. É uma relação estreita com o núcleo vermelho, o cerebelo, o hipotálamo e o córtex. A formação reticular bulbar pode explicar as interações somático-auriculares que se exploram nas técnicas da auriculoacupuntura. Funções da Formação Reticular: Controle de sono e vigília Centro respiratório e vasomotor Controle eferente de sensibilidade Controle da motricidade somática Controle neuroendócrino Controle do sistema nervoso autônomo A formação reticular tem um papel capital e não específico: “Não é possível dar uma explicação aos microsistemas da acupuntura, à auriculopuntura, à partir da organização dos centros primários...Assim é indispensável se fazer uma chamada aos centros supra segmentários...A formação reticular aparece como um só centro permitindo se compreender os mecanismos de ação.” (Bossy J., Pradal-Prat D., Taillandier J. 1984 - Les microsystèmes de l’acupuncture). O pavilhão da orelha recolhe as informações periféricas passando pelos nervos cranianos e a formação reticular. Sobre as unidades reticulares convergem por sua vez os influxos vindo do corpo e os influxos vindos do pavilhão auricular. O fenômeno de convergência pode ser compreendido da seguinte maneira. Sobre uma mesma unidade reticular de influxo proveniente dos órgãos doentes e das zonas cutâneas da orelha, numerosas informações afastadas umas das outras chegam sobre a mesma unidade nervosas serão associadas, combinadas e traduzidas em uma informação única. Esse fenômeno permite explicar duas anomalias aparentes das cartografias: muitos órgãos podem ter a mesma localização na orelha. Portanto, as cartografias diferentes não serão obrigatoriamente falsas. PROJEÇÕES E REPRESENTAÇÕES É preciso insistir sobre o fato que os pontos ou zonas auriculares não são jamais projeções, mas representações da inervação de um órgão ou de um território. Falamos de projeção quando a estimulação de uma estrutura somática ou nervosa permite evocar todos os potenciais nervosos ao longo da via nervosa que pode atingir o córtex. Em contrapartida, dois territorios, A e B, mais ou menos afastados, podem se projetar sobre a mesma unidade neural, para seguir uma via nervosa central idêntica, e atingir as mesmas zonas talâmicas ou corticais, evocando-se os potenciais nervosos em cada uma de suas estruturas. Entretanto, a estimulação de A não pode jamais evocar os potenciais em B, ou inversamente. Por conseguinte é falso falar de projeção de A em B. Trata-se somente de uma representação de A em B. Dada que a supressão completa da inervação cérebro-espinhal e autônoma suprime o efeito da estimulação do ponto, não pode tratar-se da representação do órgão ou da região, mas da inervação. Isso é para coroar a necessidade de se ter em conta por um lado, a densidade da inervação e, por outro lado, para certos órgãos, de uma dupla representação cérebro-espinhal e autônoma ainda que essas inervações não sejam coerentes. Ocorre que dois órgaos diferentes, tendo a mesma inervação segmentar podem ter uma representação superposta. Assim, um ponto doloroso auricular pode aparecer como o sinal de disfunção de um território segmentar . Portanto, assim como na medicina tradicional, um só sinal não é suficiente para o diagnóstico do paciente, ou seja, não basta encontrar um só ponto doloroso auricular; é preciso reunir um conjunto de sintomas convergentes. MODOS DE AÇÃO Pela auriculoterapia, podemos conseguir diversos efeitos. A agulha cria uma micro- inflamação onde o efeito é transmitido pelo sistema nervoso cérebro-espinhal e neurovegetativo;
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