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Brue sobre Bentham

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1775 1800 1825
TY
siocracia
ESNAY
URGOT
Precursores: NORTH, CANT1LLON, HUME
Classicism°
SMITH, MALTHUS, RICARDO, BENTHAM,
SAY SENIOR, MII L
Socialismo Utopico
OVVEN, FOURIER, SAINT-SIMON
CAPiTULO 8
 
A ESCOLA CLASSICA - BENTHAM,
SAY, SENIOR E MILL
Varios pensadores importantes, alem de Smith, Malthus e Ricardo, contribufram para a aria-
use da economia classica. Examinaremos quatro deles neste capftulo. Desse grupo, ha urn
consenso de que o Ultimo, John Stuart Mill, fez as contribuicoes mais significativas para a
economia.
JEREMY BENTHAM
Jeremy Bentham (1748-1832) viveu o suficiente para acompanhar a publicacao dos ensaios eco-
nornicos de David Hume, de The wealth of nation de Adam Smith, dos trabalhos de David Ri-
cardo e de Thomas Malthus e dos primeiros manuscritos de John Stuart Mill. Bentham nao foi
apenas urn adepto entusiasta da escola classica, mas tambem deu algumas contribuicaes validas
para sua filosofia e economia. Ele se gabou:
Eu fui o pai espiritual de [James] Mill, e Mill foi o pai espiritual de Ricardo: entao, Ricardo
era meu neto
A Escola Classica — Bentham, Say, Senior e Mill 1 123
Bentham, uma crianca precoce, leu histOria e estudou latim aos 4 anos de idade. Matricu-
lou-se no Queen's College, em Oxford, aos 12 anos e formou-se aos 15. Depois, estudou direi-
to como seu pai desejava. Logo abandonou a advocacia para iniciar sua vida academica, depen-
dendo de seu generoso e adorado pai para sustenta-lo. Bentham reuniu à sua volta um circulo
agradavel de amigos e discipulos entusiastas que promoveram suas ideias; entretanto, a maioria
de seus manuscritos proliferos nao foi publicada ate bem depois de um seculo da sua morte.
Como era seu desejo, o corpo de Bentham foi dissecado em beneficio da ciencia. Ele dei-
xou todos os seus bens para a College University, em Londres, com a condicao de que seu cada-
ver estivesse presente em todas as reuniOes do conselho. Seu esqueleto, empalhado e vestido, es-
ta em exposicao pUblica em uma redoma de vidro. Esta sentado em uma cadeira, com uma
bengala e luvas nas maos. A cabeca do corpo e de cera, mas a cabeca verdadeira de Bentham,
conservada no estilo dos cacadores de animais sul-americanos, esta apoiada sobre um prato en-
tre seus pes.
Utilitarismo
0 tema central do pensamento de Bentham e chamado utilitarismo ou principio da felicidade
maior. Sua fdosofia basica, o hedonismo 2 , remonta aos gregos da Antigilidade'. Essa ideia e a de
que as pessoas perseguem as coisas que dao prazer e evitam as que provocam o sofrimento; todos
os individuos procuram alcancar seu prazer total. 0 utilitarismo 4 se sobrepOs ao hedonismo, a
doutrina etica que dizia que a conduta deveria ser direcionada para promover a maior felicidade
do maior nUmero de pessoas. Assim, ao reconhecer uma funcao positiva para a sociedade, o uti-
litarismo moderou a perspectiva extremamente individualista do hedonismo. Se um individuo
persegue apenas o prazer pessoal, sua acan promovera uma felicidade geral? Nao necessariamen-
te, pensou Bentham. A sociedade, porem, tem seus prOprios metodos de obrigar os individuos a
promover a felicidade geral. 0 dominio da lei estabelece sancOes para punir os individuos que, na
busca de seu prOprio prazer, prejudicam os outros excessivamente. As sancOes morais ou sociais
tambem existem, das quais o ostracismo e um exemplo. Ate mesmo as sancOes teolOgicas, tal co-
mo o medo da punicao no futuro, ajudariam a reconciliar o interesse prOprio individualista do
hedonismo com o principio utilitario da maior felicidade para o maior nUmero de pessoas.
Ao utilizar o utilitarismo como base, Bentham desenvolveu uma serie sistematica de dou-
trinas filosOficas e econOmicas apontando para a reforma. Vejamos o que diz Bentham sobre o
principio da utilidade, como o fez no primeiro capitulo de An introduction to the principles of
morals and legislation, i mpresso pela primeira vez em 1780:
A natureza tem colocado a humanidade sob o controle de dois poderosos senhores, o sofii-
mento e oprazer. Isoladamente, eles deveriam indicar o que devemos fazer e, tambem, deter-
1.N.R.T. Embalsamada — mumificada.
2. N.R.T. Hedonismo: doutrina moral que considerava o prazer a finalidade da vida.
3. Por exemplo, S. Todd Lowry mostra que a teoria do valor quantitativo subjetivo foi detalhada em Protago-
ras de Plat'ao. Veja Lowry. The roots of hedonism: an ancient analysis of quantity and time. History of Politi-
cal Economy, n. 13, p. 812-823, inverno de 1981.
4. N.R.T. Filosofia utilitarista. Bentham afirma que todo ato humano e moralmente vThdo, desde que traga
felicidade.
Biblioteca Regional
CUR/UFMT
Rondont5polis/ W
HISTORIA DO PENSAMENTO ECONOMIC°
minar o que vamos fazer. De urn lado, o padrao do certo e do errado, do outro, a corrente
das causas e efeitos, sao amarrados ao seu trono. Eles nos governam em tudo o que fazemos,
em tudo o que dizemos, em tudo o que pensamos: cada esforco que fazemos para nos livrar
de nossa sujeicao servira apenas para demonstri-la e confirma-la. Em outras palavras, um
homem pode pretender it contra seu imperio: mas, na realidade, ficari sujeito a ele todo o
tempo. 0 principio da utilidade reconhece essa sujeicao e a assume para a base' desse siste-
ma, cujo objeto é levantar a estrutura da felicidade pelas maos da razao e da lei (...)
Pelo principio da utilidade, entende-se o principio que aprova ou desaprova cada acao, se-
ja ela qual for, de acordo corn a direcao que ela parece seguir para aumentar ou diminuir a
felicidade de uma parte cujo interesse esta em questao: ou, em outras palavras, para promo-
vet ou se opor aquela felicidade. Refiro-me a cada acao, seja ela qual for; e, portanto, nao ape-
nas a cada acao de urn indivicluo em particular, mas a cada medida do governo.
Pela utilidade, entende-se a propriedade de qualquer objeto, pelo qual se tende a produ-
zir o beneficio, a vantagem, o prazer, o bem ou a felicidade (...) ou (...) a impedir o aconte-
cimento do prejuizo, do sofrimento, do mal ou da infelicidade para uma parte cujo interes-
se e considerado: se aquela parte é a comunidade em geral, entao, para a felicidade da
comunidade; se é um individuo especifico, entao, para a felicidade desse individuo.
A comunidade ê urn corpo ficticio, composto de individuos considerados tao integrantes
quanto cram seus membros. 0 interesse da comunidade, entao, é o que? A soma de interes-
ses dos varios membros que a compoem.
E intitil falar do interesse da comunidade sem entender qual é o interesse do indivicluo.
Diz-se que uma coisa promove o interesse (...) de urn individuo quando tende a acrescentar
algo ao total de seus prazeres; ou, o que vem a set a mesma coisa, a diminuir o total de seus
sofrimentos.
E possivel dizer, entao, que uma acao pode ser adaptive' ao principio da utilidade (...)
quando a tendencia que tern para aumentar a felicidade da comunidade é major do que qual-
quer uma para diminuir.
Uma medida do governo (...) pode-se dizer adaptive' ou ditada pelo principio da utilida-
de, quando, da mesma maneira, a tendencia que tem para aumentar a felicidade da comuni-
dade é major do que qualquer tendencia que tenha para diminui-1a6.
A utilidade marginal decrescente
Em The philosophy of economic science, Bentham argumentou que a riqueza é uma medida de
felicidade, mas tern uma utilidade marginal decrescente a medida que aumenta.
De duas pessoas que tem fortunas desiguais, aquela que tern a major riqueza deve, pot urn legis-
lador, set considerada como tendo a major felicidade. Mas a quantidade de felicidade nao con-
tinuard aumentando, em qualquer coisa, quase na mesma proporcao que a quantidade de
riqueza: dez mil vezes a quantidade de riqueza nao tiara corn ela dez mil vezes a quantidade de
felicidade. Sera ate mesmo assunto de dtivida, se dez mil vezes a riqueza em geral trari corn ela
duas vezes a felicidade. 0 efeito da riqueza na producao de felicidade continua diminuindo,
enquanto a quantidade pela qual a riqueza de um homem excede a daquele outro continua a
aumentar: em outras palavras,a quantidade de felicidade produzida por uma pequena parte da
5. N.R.T. Fundament° . Bentham acreditava que esse seria o fundamento de sua teoria social.
6. Jeremy Bentham. An introduction to the principals of morals and leeislation. Nova York: Hafner. 1948. D. 1-3.
A Escola Class/ca — Bentham, Say, Senior e Mill 1 129
luto para controld-los. John Locke (1632-1704), que nao acreditava que cada bem fosse urn
bem moral, encontrou nas pessoas uma tendencia social e urn sentiment° de obrigacao que as
prenderiam onde nenhuma restricao de lei existisse. Os fascistas modernistas adoravam o gover-
no rigid° como urn bem supremo, e os comunistas colocavam o progresso dos interesses das
classes acima da busca individual pela felicidade. Todos os sistemas de pensamento e crenca afir-
mam que eles, tambem, perseguiam a major felicidade do major mimero de pessoas. A diferen-
ca, é claro, é que esses outros sistemas aproximariam esse objetivo indiretamente, neste mundo
ou no proximo, no presente ou em algum lugar incerto no futuro.
0 legado de Bentham para a economia
0 conceito de Bentham da natureza humana, embora nao seja seu utilitarismo, tornou-se a base
para os sistemas econ6micos de Ricardo, de John Stuart Mill e dos primeiros marginalistas, espe-
cialmente William Stanley Jevons. Os conceitos da maximizacao da utilidade, que assumiam
que cada pessoa compararia a intensidade das satisfacoes recebidas de uma grande variedade de
bens, e a utilidade marginal decrescente estao no coracao da teoria marginalista da demanda. As-
sume-se que as pessoas sejam perfeitamente racionais e cuidadosamente engenhosas. Acredita-se
que o trabalho seja "penoso" e, portanto, exija "recompensa". Para alcancar a felicidade maxima,
as pessoas trabalhariam o mimero de horas em que a utilidade marginal de seus salarios se igua-
lasse a nao-utilidade marginal de seu trabalho. Os empresarios, ao determinar o volume de pro-
dutos, tentariam maximizar seus lucros (utilidade) ao comparar as receitas e os custos.
Prosseguindo a historia da economia, descobriremos que a analise da economia contem-
poranea nao depende do pequeno "calculo da felicidade" de Bentham (calculo sofrimento-pra-
zer) como uma base filosOfica. Atualmente, a teoria econOmica considera outros motivos e ou-
tros padr6es de comportamento. A maioria dos economistas modernos tambem rejeita as
comparacoes de utilidade interpessoal. Apesar disso, poucos observadores negariam que uma
grande parte do pensamento economic° contemporaneo, corn sua enfase sobre a escolha racio-
nal feita pela comparacao dos custos e dos beneficios, tenha suas raizes firmemente plantadas
no conceito do comportamento humano desenvolvido por Jeremy Bentham. De qualquer mo-
do, a maioria dos economistas modernos ye o comportamento humano como uma atividade
intencional. Na realidade, uma tendencia recente na disciplina tern sido procurar e analisar
racionalmente areas pouco comuns, tais como a discriminacao, o casamento, o crime e o vicio.
Bentham estava certo quando afirmou: "Mas, eu plantei a arvore da utilidade. Plantei-a pro-
fundamente e espalhei-a totalmente".
JEAN-BAPTISTE SAY
Jean-Baptiste Say (1767-1832), urn frances que popularizou as ideias de Adam Smith no
continente, teve como principal trabalho A treatise on political economy, publicado em 1803.
A carreira de Say foi temporariamente interrompida, pois Napoleao se irritou corn suas opi-
nioes exageradas sobre o laissez-faire. Depois de algum tempo da derrota de Napoleao em
Waterloo, Say tornou-se professor de economia politica, apos ter ficado varios anos envol-
vido nos negocios.

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