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PROVA ORAL - SCAPS 6 (casos)

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PROVA ORAL – SCAPS 6
CASO 1
Bianca é ACS e sua micro área tem 580 pessoas. Uma das famílias atendidas por Bianca é a família da Neiva, composta por 4 membros: Neiva, João Carlos, Fabrício e Leandro. 
Neiva, 54 anos, é obesa, tem diabetes e hipertensão arterial. Dona Neiva nunca fumou, mas observa-se um estilo de vida sedentária, permanecendo em casa, onde faz trabalhos de costura durante todo o dia. Neiva é costureira e, com a crise econômica, perdeu muitos serviços – as clientes não a procuraram mais. Na pandemia, começou a costurar máscaras, as quais são vendidas para um intermediário por 12 centavos cada
máscara. Há três meses, Dona Neiva realizou uma mamografia e detectou um nódulo na mama esquerda, sendo, em seguida, diagnosticada com câncer de mama. 
· Obesidade, DM, HAS e sedentarismo fatores de risco para agravos cardiovasculares (DCNT – doença crônica não transmissível – multicausal/ multifatorial). 
· Fatores de risco para as DCNTS tabagismo (não é o caso), o consumo alimentar inadequado, a inatividade física e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas (não mencionado).
· DCNT longo período assintomático (latência); silenciosa; evolui lentamente sem a pessoa saber, podendo ser diagnosticada nessa fase; podem ser agudas ou fatais já no primeiro episódio.
· Dentro da prevenção, o monitoramento da prevalência dos fatores de risco para DCV, especialmente os de natureza comportamental, permitem, por meio das evidências observadas, a implementação de ações preventivas com maior custo-efetividade.
· DSS da dona Neiva idade, estilo de vida sedentário, condição socioeconômica precárias, condições de trabalho (trabalha sentada durante o dia todo), comorbidade prévias.
· PROGRAMA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE HIPERDIA: Cadastrar e acompanhar todos os pacientes hipertensos e diabéticos da rede do SUS, a fim de que através do cuidado especial consigamos fazer um controle das doenças e garantir uma melhor qualidade de vida aos pacientes. Gerar informações para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos de forma regular e sistemática a todos os pacientes cadastrados. 
SOBRE O CÂNCER DE MAMA:
· Genética, fatores relacionados à alimentação, obesidade, sedentarismo, etc.
· Promoção da saúde, prevenção, detecção precoce e tratamento de pacientes com a doença.
· FONTES DE DADOS Registros de Câncer de Base Populacional (RCBPs) e Registros Hospitalares de Câncer (RHCs). Os registros possibilitam conhecer os novos casos e realizar estimativas de incidência do câncer, dados fundamentais para o planejamento das ações locais de controle do câncer de acordo com cada região.
· RASTREAMENTO potencial benefício de prevenção secundária através da detecção precoce e do tratamento.
· Pactos pela saúde 2006: Pacto pela Vida Controle do CA de Colo de Útero e de Mama.
· SISCAN (Sistema de Informação de Câncer no âmbito do SUS) dá prioridade aos indivíduos de acordo com a evolução do câncer.
· Estudos demonstram que populações com baixos níveis socioeconômicos apresentam maior incidência de câncer em geral, uma maior proporção de diagnóstico tardio, maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde e por consequência um pior prognóstico, menor sobrevida após o diagnóstico e maior risco de óbito.
	João Carlos é o marido de Neiva, tem 57 anos e é auxiliar de pedreiro. Atualmente, conseguiu uma vaga na construção de um grande prédio, na região central da cidade. Para chegar ao trabalho, João Carlos pega dois ônibus até o centro, onde pega o metrô. No total, ele demora, em média, 2h15 neste deslocamento de casa para o trabalho. Desde que iniciou o novo serviço, João Carlos tem sentido dores na região lombar e desenvolveu uma rinite alérgica, com sintomas persistentes e intensidade moderada. Ele alega nunca ter fumado.
· Grande tempo de deslocamento Lembrara do Mapa da desigualdade e do Desigualtômetro: distância socioeconômica entre os moradores das regiões com os melhores e piores indicadores (mobilidade/ tempo de deslocamento é uma das variáveis analisadas). É uma ferramenta para a gestão e o planejamento municipal.
· Trabalho como um DSS O TRABALHO que um indivíduo exerce influencia diretamente o seu estilo de vida e a sua condição de vida O trabalho pode determinar ou influenciar a saúde das populações.
· Rinite alérgica Agravo respiratório, doença pulmonar ocupacional: Os serviços de saúde, frequentemente, realizam abordagens restritas ao tratamento sintomático das exacerbações. Como consequência temos elevado número de internações desnecessárias, alta morbidade, visitas frequentes a serviços de urgência, além de recorrentes faltas ao trabalho e à escola, resultando em um enorme custo econômico e social. Associa-se a isso o subdiagnóstico e a falta de controle dos sintomas.
	Os dois filhos do casal, Fabrício e Leandro, precisaram abandonar a escola – antes de chegar ao ensino médio – para ajudar os pais no sustento da casa. Fabrício, o mais velho, tem 28 anos e é vendedor ambulante. Fabrício tem uma filha, de 9 anos, que mora com a mãe em outra cidade e com quem tem pouco contato.
	O irmão mais novo, Leandro, tem 26 anos e encontra-se no sistema carcerário, privado de liberdade, sob acusação de tráfico de drogas. Leandro estava desempregado havia 3 anos e, neste período, ganhava dinheiro como guardador de carros. Ele ainda não foi julgado, sendo considerado preso provisório. A prisão de Leandro afetou muito a saúde mental e a dinâmica da família. Uma das principais preocupações de Neiva é o fato de Leandro ser asmático. Ela não sabe se como funciona o acesso à saúde dentro da prisão e tem medo do filho não receber atendimento quando precisar.
· Droga é caso/objeto de política pública.
· Wicked problems (Problemas “complexos” ou “perversos”) Desigualdades que afetam públicos particularmente vulneráveis – como crianças na primeira infância vivendo em condições precárias, população em situação de rua e/ou em contextos de drogadição. 
- São fenômenos multidimensionais e multideterminados, com efeitos persistentes e sem solução fácil.
· 2006 Lei de Drogas: Diferenciou o traficante do usuário, com o objetivo de penalizar mais o traficante; porém, ela não deixa clara essa distinção (abre margem para interpretações distintas, ao não estabelecer critérios objetivos).
- usuário: pena mais branda, ações voltadas ao tratamento.
- traficante: pena mais dura.
- essa Lei gerou um super encarceramento.
· 2019 Política Nacional sobre Drogas (PNAD):
- Não faz menção à redução de danos (re-integrar o indivíduo na dinâmica social – resultados a médio/longo prazo).
- Ressalta políticas que focam na abstinência.
- Inclui as comunidades terapêuticas (organizações não governamentais - terceirização) como possíveis responsáveis por tratar, recuperar e inserir socialmente usuários.
- Unidades básicas de saúde e hospitais gerais também têm responsabilidade em relação aos usuários.
· Estudos mostraram que a guerra às drogas não resultou na redução do consumo das substâncias, ao passo que favoreceu a escalada da violência em diversos países e aumentou as taxas de encarceramento no país de pessoas negras e pobres. 
· No Brasil, 30% das pessoas presas ainda não foram julgadas.
· De 2005 a 2016 houve aumento da população carcerária incriminada por tráfico.
· SAÚDE NAS PRISÕES: 
- Lei de Execução Penal (1984): Assegura atendimento médico, farmacêutico e odontológico às pessoas presas.
- Constituição Federal (1988): É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.
- Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (2003): Organizou o acesso da população privada de liberdade aos serviços de saúde no âmbito do SUS.
- Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (2014): estabelece que as unidades prisionais passem a ser “portas de entrada” e “ponto de atenção”. 5 diretrizes: intersetorialidade, integralidade, descentralização, hierarquização e humanização.
- EABP - Equipes de Atenção Básica Prisional: Equipes multiprofissionais com diferentes composições,a depender de critérios (por exemplo: o número de pessoas custodiadas e seus perfis epidemiológicos); qualificar a atenção básica e realizar a articulação territorial (acesso aos serviços de urgências e emergências, à atenção especializada e hospitalar na rede extramuros, sempre que houver necessidade de atenção de maior complexidade). 
· Patologias mais comuns no sistema penitenciário Tuberculose, HIV, Hepatite, Sífilis (todas doenças transmissíveis).
	Bianca tem notado que, principalmente depois do início da pandemia, a família de Dona Neiva tem encontrado dificuldades para se alimentar. Nem sempre sabem se terão alimentos para a refeição do dia seguinte. Estão devendo o aluguel há alguns meses: moram em um espaço de dois cômodos, alugado por R$ 380,00 por mês. O espaço é pouco ventilado e com pouca iluminação externa.
· INSEGURANÇA ALIMENTAR Falta de acesso à alimentação, fator este que depende, predominantemente da relação entre a renda e o preço dos alimentos. 
· Déficits nutricionais são problemas de saúde pública quase que exclusivamente restritos à população de baixa renda. Sempre que há fome, há também pobreza e desnutrição. 
CASO 2
O Jardim das Oliveiras está localizado no município de Osasco (com uma população atual de 699.950 habitantes). 
A origem da comunidade (atualmente/2021 com uma população de 18.228 habitantes, sendo 10.253 mulheres e 7.975 homens) se deu a partir da invasão e construção irregular de moradias em uma área extensa de um grande terreno pertencente à prefeitura local. Atualmente, a grande maioria das construções é de alvenaria, no entanto, existem ainda alguns “barracos” feitos de madeira e outros materiais reutilizados. Há abastecimento de água e energia no local, no entanto, devido às condições socioeconômicas locais, existem muitas instalações irregulares, os conhecidos “gatos” na rede de energia, o que frequentemente esteve associado a incêndios vivenciados pela comunidade ao longo dos anos.
· Lembrara do Mapa da desigualdade e do Desigualtômetro: distância socioeconômica entre os moradores das regiões com os melhores e piores indicadores (HABITAÇÃO/ FAVELAS é uma das variáveis analisadas).
A comunidade possui um amplo comércio local, com mercados de pequeno porte, quitandas, padarias, açougues, pequenas lojas de roupas e utilidades, vários bares e algumas igrejas.
Um aspecto positivo, é que devido a comunidade ter surgido por movimentos sociais, sua representatividade ainda se mantém ativa, por meio da “Associação dos Moradores Jardim das Oliveiras”, na qual toda a comunidade tem espaço para participação nos encontros que ocorrem mensalmente em sua sede, onde também graças aos voluntários dispõe de acesso à internet, cursos de corte, costura, artesanato, aulas de dança, judô e capoeira, e onde também realiza-se o recolhimento de doações de roupas, produtos de higiene, limpeza e alimentos que são destinados às famílias de maior vulnerabilidade na comunidade.
A presença da criminalidade é uma triste realidade, com o aliciamento de muitos jovens que trabalham como traficantes nos pontos de venda existentes. Tal fato está relacionado à alta taxa de mortalidade por violência na comunidade. Só no ano de 2020 foram registrados 22 mortes violentas na comunidade do Jardim das Oliveiras, todas correlacionadas ao crime local, sendo que 18 foram óbitos em homens e 4 em mulheres. Para todo o município de Osasco foram notificados 136 mortes com o mesmo perfil no período. 
GUERRA ÀS DROGAS não resultou na redução do consumo das substâncias, ao passo que favoreceu a escalada da violência em diversos países:
· Danos causados a brasileiros e brasileiras que habitam regiões periféricas das cidades, por conta das ações repressivas do Estado.
· Aumento das taxas de encarceramento no país, de pessoas negras e pobres, apenas supostamente ligadas ao tráfico de drogas.
· Empoderamento econômico-financeiro de organizações criminosas, inclusive daquelas cujas lideranças permanecem presas no sistema penitenciário.
Algumas moradias de maior risco, os “barracos” improvisados, estão localizados em uma área mais alta de morro, a qual apresenta alerta constante para deslizamento de terras especialmente nos períodos chuvosos, fator este bastante preocupante para os moradores, líderes comunitários e autoridades locais.
Outro motivo de grande preocupação dos moradores locais é um córrego a céu aberto que atravessa o bairro, de onde provêm muitos roedores e insetos, e no qual um grande volume de lixo e entulhos dispensados de modo irregular pelos próprios moradores (mesmo com coleta de lixo regular que ocorre todas as segundas, quartas e sextas feiras, realizada pela prefeitura). Tal fato tem contribuído constantemente para o acúmulo de água e da grande incidência de dengue na comunidade.
No primeiro semestre de 2020 foram registrados 128 casos de dengue na comunidade, e no segundo semestre do mesmo ano 119 novos casos (em todo o município foram registrados 568 casos no mesmo ano). Além disso, nos períodos de chuvas o córrego transborda e somado a dificuldade de escoamento das águas na comunidade que foi construída de forma irregular, contribui para os inúmeros alagamentos que prejudicam todas as famílias da região. Comum aos períodos chuvosos, também são os casos de leptospirose, em 2020 foram 52 casos entre os moradores da comunidade, um número bem expressivo considerando que para todo o município de Osasco no mesmo período foram registrados 260 casos.
· Dengue e leptospirose Doenças infecto-parasitárias.
· Estratégias de prevenção primária (pré-patogênese) PROMOÇÃO A SAÚDE: Saneamento, controle de vetores e moradias adequadas. 
· Habitação, água e esgoto são DSS. 
A comunidade conta com a existência de uma escola do ensino (do fundamental ao médio) que fica há 3 quarteirões de distância dali, e uma creche há aproximadamente 3 quilômetros que atende 132 crianças, com idade a partir dos 3 meses de vida a 5 anos de idade. A creche apresenta impacto importante para as comunidades da região, no entanto não dá conta de atender toda a demanda de crianças que aguardam por uma vaga na fila de espera, são cerca de 82 crianças em tal situação atualmente. Os colaboradores afirmam que o quadro atual de 28 funcionários é insuficiente para atender um número maior de crianças, assim como a capacidade de infraestrutura do local. Tal situação representa grande preocupação dos moradores e gestores da própria creche, diante da grande natalidade da comunidade, especialmente devido à gestação precoce.
Em 2019, por exemplo, só no Jardim das Oliveiras nasceram 57 crianças, sendo 38 delas em mulheres com idade entre 16 e 18 anos de idade. Em 2020, houve uma discreta redução da natalidade, para 41 nascidos vivos, sendo que 23 eram filhos de mulheres na mesma faixa etária.
· Lembrara do Mapa da desigualdade e do Desigualtômetro: distância socioeconômica entre os moradores das regiões com os melhores e piores indicadores (GESTAÇÃO PRECOCE é uma das variáveis analisadas).
· Gestação precoce Relação com os DSS: Condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais; condições de vida. Induz a um ciclo vicioso de pobreza e baixa escolaridade (tentem a abandonar os estudos para criar os filhos).
· Dados do IBGE confirmam que 7 em 10 meninas grávidas ou com filhos, são negras e 6 de 10 não trabalham e não estudam. 
· Causas da maternidade precoce extrema pobreza, violência sexual e falta de acesso aos métodos anticoncepcionais. 
· A gravidez nesse grupo pode estar mais associada a problemas de saúde, emocionais e sociais para as meninas, cuja maturidade para a maternidade ainda não está formada, acarretando problemas psíquicos para toda a vida, pois se encontra intimamente relacionada à violência sexual.
Os indicadores de mortalidade materna e infantil da comunidade preocupam. Associada a baixa faixa etária das mulheres gestantes da região, estão os óbitos. Em 2019 foram 3 óbitos maternos ocorridos entre 16 e 18 anos de idade (Osasco 2019: 8 óbitos) e em 2020, 2 óbitos na mesma faixa etária na comunidade(Osasco 2020: 6 óbitos). Quanto aos óbitos infantis foram notificados 4 óbitos infantis em um total de 82 nascidos vivos em 2019, e 3 óbitos infantis entre 68 nascidos vivos em 2020.
Toda a assistência oferecida pela creche produz impacto importante para a situação de saúde das crianças, pois devido a alta vulnerabilidade das famílias locais, muitas crianças só têm acesso a refeições completas e com variedades de alimentos durante o horário em que estão no serviço.
· INSEGURANÇA ALIMENTAR Falta de acesso à alimentação, fator este que depende, predominantemente da relação entre a renda e o preço dos alimentos.
- insegurança leve: abre mão da QUALIDADE pela quantidade da refeição. 
- insegurança moderada: é preciso COMER MENOS e esporadicamente falta comida. 
- insegurança grave: restrição MAIS SEREVA dos alimentos. 
Apesar de todos os protocolos de cuidado e atendimento adotados pela creche municipal, a precariedade do saneamento básico e das condições de vida e moradia da comunidade, tem contribuído para a transmissão de algumas doenças entre as crianças da comunidade. Em fevereiro de 2020, 18 crianças após apresentarem mal estar geral, febre, dores no corpo, náuseas, vômitos, dores abdominais e diarreias, foram diagnosticadas com hepatite A. Dentre todos os contatos familiares das crianças que adoeceram, um total de 92 contactantes, 24 também apresentaram sinais e sintomas e foram diagnosticados com hepatite A no período. No segundo semestre de 2020, houveram 12 novos casos de hepatite entre as crianças da mesma creche, com 18 casos entre seus familiares.
Um levantamento feito pela equipe da creche junto aos agentes comunitários de saúde da UBS a respeito da cobertura vacinal na época constatou baixa cobertura vacinal entre os doentes e familiares.
Ainda em 2020, mais precisamente em maio, após o período de chuvas de verão, também foi registrado um surto de esquistossomose entre as crianças da mesma creche. Neste caso, 16 crianças adoeceram. Em setembro do mesmo ano, foram registrados 14 novos casos.
· Doenças relacionadas com ingestão de água contaminada ou pelo contato da pele ou mucosas com a própria água, lixo ou solo infectados. Muitas têm ciclo de transmissão fecal-oral.
· Apesar da multiplicidade de fatores, não é difícil estabelecer uma relação entre a precariedade do saneamento e as moléstias que acometem a população.
A comunidade é assistida por uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família (UESF) Jardim das Oliveiras. Em meio à atualização da territorialização da área de abrangência da unidade de saúde e das visitas domiciliares de rotina, a agente comunitária de saúde (ACS) Fabiana, toma conhecimento da uma nova família residente em sua microárea, e realiza seu primeiro contato e cadastro familiar e individual de seus integrantes.
Trata-se da família Braga que mudou-se há um mês para a comunidade local. A família é formada por sete membros, um casal de idosos, dona Aparecida de 65 anos, aposentada, hipertensa e diabética há aproximadamente 12 anos, e o sr. Antônio de 68 anos, também aposentado, fumante há 45 anos, hipertenso há 17,com obesidade grau II. O casal chega à comunidade para somar-se ao total de 1.432 hipertensos e 1.362 diabéticos existentes no bairro Jardim das Oliveiras em 2021. Destes totais, além de dona Aparecida e do sr. Antônio, outros 72 hipertensos e 84 diabéticos foram casos novos registrados no decorrer do ano.
· Obesidade, DM, HAS e sedentarismo fatores de risco para agravos cardiovasculares (DCNT – doença crônica não transmissível – multicausal/ multifatorial). 
· Fatores de risco para as DCNTS tabagismo, o consumo alimentar inadequado, a inatividade física e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
· PROGRAMA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE HIPERDIA: Cadastrar e acompanhar todos os pacientes hipertensos e diabéticos da rede do SUS, a fim de através do cuidado especial consigamos fazer um controle das doenças e garantir uma melhor qualidade de vida aos pacientes. Gerar informações para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos de forma regular e sistemática a todos os pacientes cadastrados.
O casal tem 3 filhos, Pedro de 36 anos, tabagista, pai de 2 filhos (Patrícia de 17 anos e João Victor de 13 anos – ambos estudantes). Pedro ficou viúvo ao perder sua esposa no parto de seu filho mais novo devido a complicações por eclâmpsia, e após isso, desenvolveu um quadro de depressão e tornou-se etilista. Ele trabalha durante o dia em uma cooperativa de recicláveis ali mesmo na comunidade, mas gasta grande parte de sua renda com o vício em álcool.
O tabagismo de pai e filho (sr. Antônio e Pedro), também contribuem para uma estatística preocupante da comunidade geral, a qual possui atualmente além deles outros 8.698 fumantes ativos.
· TABAGISMO Fator de risco para agravos cardiovasculares, oncológicos e respiratórios. De acordo com o CID-10, o tabagismo integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais em razão do uso de substância psicoativa. Além de estar associado às doenças crônicas não transmissíveis, o tabagismo também contribui para o desenvolvimento de outras enfermidades, tais como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, entre outras.
· DEPRESSÃO Necessário acompanhamento médico para diagnóstico e tratamento adequado. 
Valdirene, irmã de Pedro, tem 29 anos, e descobriu recentemente, especificamente há 3 dias, sua primeira gestação, com seu companheiro Fábio de 32 anos, servente de pedreiro autônomo, com o qual vive em um relacionamento um tanto conturbado há cerca de quatro anos. As discussões do casal são frequentes, Valdirene trabalha como balconista na padaria do bairro, e lida com um público diverso, inclusive com muitos homens, motivo pelo qual Fábio justifica suas crises de ciúmes que são normalmente a causa das frequentes brigas, caracterizadas por agressões verbais e físicas à Valdirene. A violência doméstica, entretanto, não é exclusividade da rotina de Valdirene, na comunidade são comuns casos de brigas com agressões entre casais.
· Lembrara do Mapa da desigualdade e do Desigualtômetro: distância socioeconômica entre os moradores das regiões com os melhores e piores indicadores (VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER é uma das variáveis analisadas).
· VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Violência interpessoal familiar (violência física, sexual e psicológica). É uma doença/agravo de NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA (NOTIFICAÇÃO SEMANAL). 
· VIOLÊNCIA SEXUAL É uma doença/agravo de NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA (NOTIFICAÇÃO IMEDIATA).
· A violência física por parceiros íntimos, aponta o padrão da iniquidade de gênero entre regiões do país revelando o efeito da cultura patriarcal mais evidente nas regiões norte e nordeste em contraste com as demais regiões. Mulher negras são as maiores vítimas. 
Em conversa com a ACS, dona Aparecida informa que desde que mudaram-se para a comunidade, não têm conseguido obter seus medicamentos na farmácia, pois ela e seu esposo estão com as prescrições vencidas, e, portanto, não estão usando os medicamentos regularmente. A ACS esclarece à família sobre o funcionamento da UESF, e os orienta a agendar uma primeira consulta, especialmente para o casal de idosos para acompanhamento de seus agravos crônicos e Valdirene, para dar início ao seu pré-natal. 
No dia seguinte, mãe e filha vão à UESF. Dona Aparecida não conseguem agendar a consulta, pois segundo o atendente na recepção, não havia vagas disponíveis para o agendamento, devido a equipe verde (correspondente a microárea da ACS Fabiana), não ter médico vinculado no momento, e estar dependente do suporte por outros profissionais das demais equipes, e por estes estarem no momento atendendo apenas casos mais urgentes. 
Mãe e filha voltam para casa descontentes, e encontram a ACS no meio do caminho. Elas então relatam o ocorrido, explicam que não conseguiram agendar a consulta no posto. Fabiana fica preocupada e volta à unidade para conversar com a enfermeira da equipe e esclarecer a necessidadeda família. Porém, é orientada que o casal precisará esperar encaixe para a consulta médica com um profissional de outra área ou a chegada de novo médico de equipe. 
Quanto ao pré-natal, a enfermeira orienta que Valdirene deverá procurar o atendimento no acolhimento, para ser acolhida pela enfermeira. No dia seguinte, Valdirene retorna à UESF, e após algum período de espera, ela finalmente é atendida. A enfermeira de sua equipe, Clara dá início ao pré-natal, solicita alguns exames, faz orientações gerais como a atualização da carteira de vacinação, o uso de multivitamínicos, e ao final a orienta agendar o retorno na recepção para continuidade do acompanhamento. 
Após 20 dias, chegam os resultados de exames de Valdirene. Ao final do expediente da UESF a enfermeira Clara constata que os resultados foram reagentes para sífilis. Imediatamente após isso, ela informa ao médico recém chegado à equipe Dr. Maurício sobre o caso, que solicita a ACS Fabiana convocar a gestante para uma consulta na manhã do dia seguinte, e ainda reforça a importância de que seu esposo a acompanhe na consulta. 
Os casos de sífilis na comunidade do Jardim das Oliveiras têm sido motivo de grande preocupação, em 2019 foram notificados 1.784 casos (população estimada de 18.278 habitantes), e em 2020, 1.978 casos (em uma população de 18. 284 habitantes). Em 2021, sob a população atual, foram notificados 1.971 casos de sífilis até o momento. 
· A transmissão da sífilis ocorre por meio de relação sexual desprotegida com indivíduo contaminado, transmissão vertical em qualquer momento da gestação caso a mãe não receba tratamento adequado, transfusões sanguíneas ou mesmo pelo uso de drogas injetáveis. Medidas que podem quebrar a cadeia da doença incluem: uso de preservativo, realização de pré-natal, não compartilhar seringas e testes de rastreamento em bolsas de doações.
Conforme solicitado, a ACS passa na casa da família antes de encerrar seus trabalhos do dia, e informa dona Antônia sobre a chegada do médico na equipe e sobre a convocação de sua filha para uma consulta com o Dr. no dia seguinte. Dona Aparecida aproveita para reforçar sua necessidade de passar em consulta com seu esposo, devido a necessidade de renovar as prescrições de seus medicamentos. A ACS então diz que irá passar o caso à equipe para ver como serão “encaixados” os pacientes que estão na mesma situação que o casal, agora com a chegada do médico de família. 
No dia seguinte Valdirene vai à consulta, porém desacompanhada de seu esposo, que segundo ela estaria trabalhando, e portanto não poderia faltar devido ao mesmo ser remunerado por dia de serviço. O Dr. a acolhe, examina, orienta quanto às alterações de seus exames, esclarece sobre os riscos da sífilis não tratada tanto para ela, quanto para seu bebê e esposo. Inicia-se então o tratamento com o esquema terapêutico com os antimicrobianos, e ela é orientada a informar seu esposo quanto a necessidade dele realizar alguns exames e também o tratamento para benefício do casal e do bebê que está por chegar, assim como a importância do uso de preservativos em suas relações sexuais para prevenir a reinfecção e do acompanhamento regular nos próximos meses. 
Valdirene se apresenta bastante preocupada com o bebê devido ao diagnóstico de sífilis, mas o Dr. lhe esclarece sobre o acompanhamento de puericultura após o nascimento, e sobre todas as precauções que serão adotadas a partir de então quanto aos cuidados à saúde dela e da criança. Ela ainda demonstra ter desejo por um parto cesárea, o Dr. então acolhe todas as dúvidas sobre tal momento, mas ressalta os benefícios do parto normal diante das condições individuais dela enquanto gestante. 
· Método Clínico centrado na Pessoa atendimento que contempla de maneira mais integral as necessidades, preocupações e vivências relacionadas à saúde ou às doenças.
Naquele mesmo dia, à noite, o sr. Antônio tem um mal estar em casa, e queixa-se de dores de cabeça, sudorese, náuseas, tonturas e dor em aperto no peito. Dona Aparecida o acompanha ao pronto socorro do hospital mais próximo, que fica a 6 quilômetros de distância. O pronto atendimento estava bem cheio, com muitos pacientes aguardando atendimento, e apenas um médico disponível para emergência. 
Um auxiliar administrativo da recepção questiona dona Aparecida sobre o por que não o levou a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Ela então esclarece que não haveria outro serviço de pronto atendimento mais próximo de sua casa do que o hospital (a UPA estaria ainda mais distante, há cerca de 7km de distância). Após o atendimento inicial pelo serviço emergência, é constatado um infarto agudo do miocárdio (IAM) ele então é internado e submetido a uma angioplastia. 
· IAM Sr. Antônio possuía múltiplos fatores de risco: obesidade, hipertensão descontrolada (não estava fazendo uso correto da medicação) e tabagismo. 
· Alta mortalidade pelas DCV está associada em maior magnitude aos estratos sociais mais baixos e baixa escolaridade.
Após 10 dias, seu Antônio recebe alta, com a prescrição de novos medicamentos, dos quais, um anti hipertensivo (propranolol 40mg, duas vezes ao dia), um diurético (hidroclorotiazida 25 mg, uma vez ao dia ao acordar), um antiagregante plaquetário (ácido acetilsalicílico 100 mg, uma vez ao dia após o almoço) e um antilipêmico (sinvastatina 40 mg, à noite). 
Sabendo de sua alta, o médico de família, acompanhado da ACS e da enfermeira de equipe, realiza uma visita domiciliar a seu Antônio. Chegando na casa, faz seu acolhimento, verifica todas as medicações prescritas na alta hospitalar, e lhe orienta sobre a necessidade de cessar o tabagismo e realizar o controle do peso, para controle do diabetes e da hipertensão, e devido ao seu risco cardiovascular. Ressalta a necessidade de adequar sua alimentação, e da prática de atividade física regular a começar por caminhadas leves, assim que possível. 
A ACS reforça sobre a existência do grupo antitabagismo existente na UESF, o qual o sr. Antônio poderia participar se fosse do interesse. Ele então é orientado sobre a dinâmica do grupo, que trabalha com a associação de intervenções farmacológicas e não farmacológicas para o tratamento do tabagismo, com encontros coletivos e consultas individuais que acontecem regularmente durante o período estabelecido para o tratamento de modo a alcançar resultados positivos. 
No entanto, naquele momento, o Sr. Antônio não mostrou-se claramente sensibilizado e interessado em aderir ao grupo e nem mesmo parar de fumar definitivamente. Segundo ele, com base no histórico de seu pai e avô que fumaram por mais de 50 anos, e não apresentaram problemas de saúde aparentes, não acredita que o tabagismo seria tão prejudicial à sua saúde. 
Internações por complicações devido à hipertensão arterial e ao diabetes são indicadores que merecem a atenção na comunidade. Do total de internações registradas em 2020 no mesmo serviço hospitalar em que o sr. Antônio foi atendido (3.789 internações no total), 648 foram decorrentes de complicações relacionadas à hipertensão arterial e 593 decorrentes de complicações relacionadas ao diabetes. Quanto à mortalidade por estes agravos, sob a população de 2021 especificamente da comunidade do Jardim das Oliveiras, foram registrados 62 óbitos relacionados a complicações da hipertensão e 43 óbitos decorrentes de diabetes. 
· EDUCAÇÃO EM SAÚDE É o campo de prática e conhecimento que tem como objetivo a criação de vínculos entre a ação dos profissionais da saúde, o pensar e o fazer cotidiano da população. Oferece às pessoas letramento em saúde. 
· Busca trabalhar pedagogicamente o homem e os grupos envolvidos no processo de participação popular, traçando formas coletivas de questionamentos, aprendizado e investigação, de modo a promover o crescimento da capacidade de análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento.
· Atividade educativa não é um processo de condicionamento para que as pessoas aceitem, sem perguntar, as orientações que lhes são passadas.
· O saber popularnão pode ser destituído de validez e importância. O saber técnico não deve impor-se ao saber popular (relação de diálogo horizontal).
Ainda durante a mesma visita, o Dr. Maurício estende seu atendimento a dona Aparecida, que estava desassistida há algum tempo. Verifica-se que sua pressão arterial estava elevada (170 x 90 mmHg), assim como seu dextro pós prandial (280 mg/dL), pois ela não estava fazendo uso regular das medicações devido a ausência de prescrição para o acesso gratuito as medicações pela farmácia da UESF, e por impossibilidade de comprar os medicamentos por meio de recursos próprios em uma drogaria. Dr. Maurício faz toda uma avaliação, verifica suas prescrições e exames antigos, prescreve novos antidiabéticos e anti-hipertensivos e solicita novos exames.
A enfermeira Clara, de uma forma reservada, conversa com dona Aparecida sobre a rotina de acompanhamento da saúde da mulher, especialmente sobre a coleta de papanicolaou. Dona Aparecida, surpreendentemente, relata nunca ter colhido, nem mesmo ter feito uma ultrassonografia de mamas. Segundo ela, e suas crenças familiares, imaginava que devido a seu histórico de partos normais e por ter se relacionado ao longo da vida apenas com seu único e atual esposo, estaria protegida de desenvolver câncer de útero ou na mama, e então estaria dispensada a colher tais exames. 
Neste momento, a neta Patrícia, de 17 anos, chega em casa após a aula. A enfermeira Clara aproveita e reforça todas as orientações quanto à importância do acompanhamento regular da saúde da mulher, para a avó e neta. Patrícia aparentemente sem receio ou constrangimento algum refere já ter relações sexuais com seu atual namorado, não utilizar preservativos com regularidade e não ter realizado papanicolaou desde que iniciou sua vida sexual ativa. 
A enfermeira Clara ressalta os riscos da contaminação por infecções sexualmente transmissíveis (IST) em uma relação desprotegida, além dos riscos de gravidez não programada. Patrícia ressalta que o fato de ter um namorado fixo não é motivo de preocupação para IST, e sobre a gravidez, se ocorresse, não seria considerado um problema por ela, e sim mais um motivo pelo qual ela poderia sair de casa para viver sua própria vida e constituir família com seu namorado. A jovem reforça que atualmente, o grande problema seria morar na casa dos avós, conviver com o alcoolismo do pai e a ausência da falecida mãe. 
A avó demonstra certa concordância, em que a neta enquanto mulher após terminar seus estudos estaria realmente pronta e “destinada” a formar família e viver para seus filhos e marido. A enfermeira em uma abordagem muito cuidadosa ressalta que Patrícia poderia planejar-se melhor para constituir família com seu namorado, num futuro próximo se fosse esse seu real desejo, e programar sua gestação de modo a não interromper outros projetos pessoais do casal, como a continuidade nos estudos por exemplo. Diante da abordagem da profissional, avó e neta demonstram concordar com a ideia. A enfermeira Clara solicita alguns exames a Patrícia e a convence a ir ao posto para realizar alguns testes rápidos e buscar por preservativos e anticoncepcionais prescritos ali pelo Dr. Maurício. 
Ao despedir-se da visita, dona Aparecida levanta sua preocupação com o filho Pedro, sobre sua relação com a bebida e com o cigarro. Relata que ele fuma cerca de dois maços de cigarros ao dia e tem uma tosse frequente, porém nas últimas 3 semanas a tosse têm aumentado, e não parece seca como de costume, e que além disso, vem apresentando muita indisposição, perda de peso e falta de apetite. Questionada sobre a disponibilidade de horários dele, dona Aparecida ressalta que o filho trabalha das 7hs às 16hs, porém chega em casa tarde da noite, pois ao sair do trabalho fica pela rua, nos bares com os amigos, e chega em casa muito alcoolizado, e devido a isso acredita ser muito difícil dele ir ao posto de saúde. 
· O M. tuberculosis é transmitido por via aérea, de uma pessoa com TB pulmonar ou laríngea, que elimina bacilos no ambiente (caso fonte), a outra pessoa, por exalação de aerossóis oriundos da tosse, fala ou espirro.
· A tuberculose é uma doença curável em praticamente todos os casos, em pessoas com bacilos sensíveis aos medicamentos antituberculose, desde que obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa e que haja a adequada operacionalização do tratamento.
Ao retornarem à UESF, a equipe se reúne para discutir o caso da família, todos compartilham a preocupação devido a complexidade da dinâmica familiar. O Dr. Maurício, levanta a necessidade de contactar Pedro o quanto antes, especialmente para solicitar que faça a coleta de baciloscopia, para descartar ou diagnosticar uma provável tuberculose, e para construir vínculo com ele e ter uma avaliação mais aprofundada de seu quadro emocional e possibilitar o tratamento do etilismo. A ACS levanta a possibilidade de encaminhá-lo imediatamente ao Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) para o tratamento, mas Dr Maurício reforça a importância do tratamento ser iniciado pela equipe da UESF, diante de todo o contexto e impacto familiar relacionado, e que diante das especificidades observadas a referência para o CAPS poderá ser viabilizada no momento oportuno, sem comprometer a continuidade do acompanhamento dele pela equipe no posto de saúde. 
· Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) Destinados às pessoas com problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas. 
O Dr Maurício solicita à ACS que visite Pedro na cooperativa onde trabalha, de maneira discreta e o preservando, solicite que vá ao posto para realizar o exame necessário e conversar com o Dr. logo pela manhã do dia seguinte. A ACS então, conforme solicitado, encontra Pedro ao chegar no trabalho, faz sua abordagem e as devidas orientações. Ele mostra-se receptivo, e promete passar no posto no horário do almoço para colher o exame e falar com Dr. Maurício. 
Na tarde do dia seguinte Pedro cumpre o prometido, encontra com Dr. Maurício na consulta e realiza baciloscopia. O médico aproveita o atendimento para conversar com Pedro a respeito da sua relação com a bebida alcóolica, e sobre a preocupação de sua família a respeito disso. Pedro nega ser viciado, e de maneira descontraída e bem humorada diz ter total controle sobre a bebida, e que suas saídas diárias para o bar são apenas para descontração junto a seus colegas e companheiros de trabalho. Na manhã do dia seguinte a equipe recebe resultado positivo para tuberculose no exame de Pedro. Imediatamente a equipe entra em contato com ele. No final do dia, ao sair do trabalho, ele passa na UESF para nova consulta médica, onde é então iniciado seu tratamento. Ele é atendido pela equipe multidisciplinar com o médico, enfermeira, psicóloga e farmacêutico da unidade. 
Os casos de tuberculose têm sido crescentes ao longo dos anos na comunidade do Jardim das Oliveiras, em 2019 foram registrados 129 casos, em 2020 um total de 145 casos e já em 2021 foram notificados um total de 152 casos diagnosticados. 
Logo após encerrar o atendimento de Pedro, em reunião de equipe, o médico de família informa sobre a necessidade de realizar nova visita domiciliar, e sobre a importância de realizar o monitoramento dos demais familiares para descartar outros casos de tuberculose entre eles. 
Todos da equipe concordam, que, além disso, a família necessita de um acompanhamento regular e uma atenção especial, devido a grande complexidade observada, da situação clínica de todos, das crenças e das implicações da relação familiar entre todos os integrantes da família.
VITÓRIA CORREIA MOURA - T4C

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