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Vacinas O princípio fundamental da vacinação consiste em administrar a forma morta ou atenuada de um agente infeccioso ou um de seus componentes, que não causa doença, mas deflagra uma resposta imune que confere proteção contra a infecção. A vacinação é um tipo de imunização ativa, que confere uma proteção não imediata, mas de longa durabilidade. Ela fornece memória e pode ser reforçada por injeções repetidas do antígeno. Uma vacina ideal deve propiciar imunidade eficaz e prolongada, não pode apresentar efeitos colaterais adversos, deve ser barata e estável, mas tudo isso é muito difícil. História Mary Wortley Montagu (1717) inoculou pústulas de pessoas doentes com varíola em pessoas saudáveis através de pequenos cortes nos pulsos e tornozelos. Essas pessoas adoeciam de forma leve, mas não contraiam mais futuras infecções. Entretanto, esse procedimento era muito perigoso. Em 1796, Edward Jenner demonstrou que o material de lesões da varíola bovina poderia substituir o material humano na variolação. Ele descobriu isso ao observar que ordenhadoras que tinham se recuperado da varíola bovina nunca contraíram varíola humana. Desse modo, Jenner injetou o material de uma pústula de varíola bovina no braço de um menino, o qual não desenvolve mais varíola humana. Jenner deu o nome desse processo de vacinação (do latim vacca, vaca). Em 1880, Louis Pasteur projetou uma vacina contra o cólera aviário. Pasteur possuía uma cultura da bactéria causadora do cólera (Pasteurella multocida) que acidentalmente envelheceu. Ao infectar as galinhas com essa cultura envelhecida, ele notou que as aves não ficaram doentes. Posteriormente, Pasteur injetou uma cultura fresca da bactéria nessas galinhas, as quais ficaram resistentes à infecção. Com essa descoberta, Pasteur propôs o princípio geral da vacinação: na vacinação, a exposição de um animal a uma cepa avirulenta não causará a doença, podendo desencadear uma resposta imune que o protegerá contra a infecção pela cepa virulenta da doença. Pasteur ainda desenvolveu uma vacina contra o antraz (Bacillus anthracis) para ovinos, ao cultivar o patógeno em altas temperaturas e uma vacina contra a raiva ao utilizar a medula espinal desidratada de coelhos infectados com o vírus. Mecanismo de Ação As vacinas contêm os antígenos do microrganismo que induzem uma resposta imune primária. Esse antígeno vai ser capturado pelas APCs, as quais vão processá-lo e apresenta-lo para linfócitos T CD4+ e CD8+. Os linfócitos T CD4+ vão estimular a produção de anticorpos pelos linfócitos B, os quais vão iniciar a produção de IgG e IgM, onde IgM > IgG. Há também a produção de células B de memória e plasmócitos de longa vida (permanecem na medula por bastante tempo produzindo anticorpos). Por um desafio antigênico ou por uma segunda dose da vacina, se dá a resposta secundária, também com a produção de IgG, IgM (IgG > IgM) e ativação das células de memória. Vacinas Vivas e Inativadas As vacinas vivas modificadas infectam as células do hospedeiro e sofrem replicação viral, sendo processadas como antígeno endógeno, portanto, sua resposta predominante é de linfócitos T CD8+ e Th1. Porém, esse processo pode ser prejudicial em imunossuprimidos, podendo causar doença ou uma infecção persistente (virulência residual). Já as vacinas inativadas atuam como antígenos exógenos, estimulando uma resposta Th2 e humoral, sendo mais segura. As vacinas vivas (atenuadas) são aplicadas em menos doses, não necessitam de adjuvantes, tem menores chances de hipersensibilidade, são relativamente baratas, podem ser administradas pelas vias naturais de infeção, estimulam a resposta imune humoral e celular, e sua proteção é mais duradoura. As vacinas inativadas são estáveis para armazenamento, são improváveis de causar doença devido a virulência residual, não se replicam no organismo receptor, não se disseminam para outros animais, são seguras em pacientes imunodeficientes, são mais fáceis de armazenar e requerem menores custos de desenvolvimento, além disso têm ausência de risco de reversão de virulência. Inativação As vacinas inativadas sofrem diferentes mecanismos de inativação, os quais não podem desnaturar a proteína imunogênica. A inativação pode danificar o ácido nucleico por meio de agentes químicos ou algumas proteínas podem ser levemente desnaturadas pelo tratamento com acetona ou álcool. Com isso o microrganismo não consegue mais se replicar. Atenuação A atenuação da vacina consiste em reduzir a virulência do microrganismo, para que este não seja capaz de causar a doença. Porém, uma atenuação insuficiente resulta em virulência residual, levando à doença e uma atenuação excessiva pode ser ineficaz. Tradicionalmente, os vírus são atenuados pelo cultivo em células ou em espécies às quais não são adaptados. Como o vírus da peste bovino, que foi atenuado ao ser isolado em coelhos. Desse modo ele adquiriu mutações que permitissem o seu crescimento em células de coelho, mas não em células de bovino, sendo assim ideal para a vacinação. Do mesmo modo, os vírus que afetam mamíferos podem ser atenuados pela passagem prolongada em ovos embrionados. Outro método semelhante é cultivar o microrganismo em tecidos aos quais ele não está adaptado. Por exemplo, o vírus da cinomose canina ataca células linfoides, portanto, para criação da vacina foi cultivado em células renais. Com isso ele perdeu a habilidade de causar doença grave. Por fim, podemos remover o gene de virulência do microrganismo, tornando-o avirulento, o que é ideal para a vacina. Vacina de Subunidades As vacinas de subunidades são compostas de antígenos purificados ou toxinas inativadas, sendo geralmente administradas com um adjuvante e em várias doses. Nesse caso o DNA que codifica para o antígeno de interesse para vacinação é isolado do patógeno e clivado para conter apenas o gene de interesse. Este gene então é inserido em um plasmídeo de bactéria. Dessa forma, as bactérias vão sintetizar grandes quantidades de antígeno, o qual será purificado e incorporado a vacina. Essa vacina é menos eficaz que a de vírus inativado, porém é muito segura, visto que não temos a presença do microrganismo. Produção de antígeno purificado para fabricar uma vacina de subunidades Vacina Vetorizada Os genes que codificam para antígenos proteicos podem ser clonados em um organismo que servirá de vetor na vacina. Como exemplo de vetores temos adenovírus, herpesvírus e bactérias como BCG. Porém os mais empregados são os poxvírus, pois possuem genomas extensos e estáveis, tornando a inserção do gene fácil. Exemplo de produção de vacina vetorizada Depois da inserção do gene, o vetor é administrado ao animal como uma vacina e ele será capaz de invadir as células do hospedeiro, induzindo o complemento integral de respostas imunes (imunidade humoral e celular). Porém, o problema dessas vacinas é que, ao estimular linfócitos T CD8+, teremos a morte das células hospedeiras infectadas. Vacina de Ácidos Nucleicos Outro método de vacinação envolve a injeção do DNA ou RNA que codifica para antígenos estranhos. No caso do DNA, este é inserido em um plasmídeo modificado e injetado em um animal, sendo incorporado pelas células do hospedeiro. O DNA, então, é transcrito em mRNA e traduzido no antígeno. A incorporação do plasmídeo é aprimorada com adjuvantes, pois quando injetado combinado a um adjuvante oleoso, o plasmídeo penetra nas células, levando-as a expressar a proteína viral. Essa proteína viral é tratada pelas APCs como um antígeno endógeno, estimulando preferencialmente respostas Th1. Vale ressaltar que os plasmídeos bacterianos são reconhecidos por TLR9, causando uma resposta inata que intensifica a imunidade adaptativa.No caso das vacinas de RNA, nós pegamos o mRNA e injetamos ele no animal junto a um veículo lipídico. Depois se seguem os passos da vacina anterior. Mecanismo de ação da vacina de DNA Ambas possuem as vantagens de ser seguras (não possuem o microrganismo) e de serem fáceis de produzir. As desvantagens são a conservação (baixas temperaturas) e a necessidade de adjuvantes. Vacinologia Reversa Com a disponibilidade de genomas microbianos completos é possível identificar todas as proteínas de um patógeno por análise computacional, selecionando assim potenciais antígenos protetores que podem ser testados experimentalmente. Esse é o conceito de vacinologia reversa, onde testamos diferentes epítopos para criar uma vacina. Adjuvantes Para aumentar a eficácia das vacinas (principalmente as inativadas, de subunidades e recombinantes) são utilizados os adjuvantes, os quais podem aumentar a velocidade ou intensidade de resposta do corpo às vacinas. Os adjuvantes pertencem a três grupos: de depósito, particulados ou imunoestimuladores. Tipos de adjuvantes Os adjuvantes de depósito são aqueles que prolongam as respostas imunes ao retardar a eliminação de antígenos. Como exemplo temos os sais de alumínio (hidróxido de alumínio e fosfato de alumínio) e alum (sulfato de alumínio e potássio), os quais formam um granuloma que vai liberando o antígeno lentamente. Outro exemplo é a emulsão de água em óleo (adjuvante incompleto de Freund), onde o óleo forma um granuloma em que o antígeno é liberado lentamente pela fase aquosa da emulsão. Vale ressaltar que os adjuvantes de depósito podem causar irritações significativas. Os adjuvantes particulados (ou microbianos) transportam antígenos às APCs ou estimulam macrófagos. Como exemplo temos o BCG, lipopolissacarídeos, corinebactéria anaeróbia, entre outros. Esses adjuvantes vão incorporar o antígeno e, como são microrganismos, vão ser facilmente fagocitados por APCs, aumentando a apresentação de antígenos e a estimulação de macrófagos. Os imunoestimuladores (como os glicanos e a saponina) estimulam o processamento e apresentação de antígeno e os receptores da resposta inata. Muitos dos imunoestimuladores são PAMPs, sendo desenvolvidos para o reconhecimento por PRRs (como os TLRs), ativando APCs e estimulando a produção de citocinas. Tais citocinas vão promover respostas Th1 ou Th2. As saponinas estimulam seletivamente a resposta Th1, pois promovem o processamento endógeno do antígeno. Além destes adjuvantes também temos os adjuvantes mistos (ou combinados), que podem ser elaborados ao se combinar um adjuvante de depósito ou particulado com um imunoestimulador.
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