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Imunologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Norton Claret Levy Junior Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Brites Imunização • Vacina; • Tipos e Composição das Vacinas; • Resposta Imunológica das Vacinas; • Vacinas Virais Atenuadas; • Tipos de Imunizações; • Soro Hiperimune. · Explicar como são confeccionados as vacinas e os soros hiperimunes e quais são os seus tipos; · Mostrar como funciona o sistema imunológico ao agir contra um antígeno; · Associar a resposta imune primária e secundária ao efeito da vacinação; · Diferenciar as imunizações passiva/ativa e natural/artificial, associan- do-as à vacina e ao soro. OBJETIVO DE APRENDIZADO Imunização Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Imunização Vacina Edward Jenner observou no século XVIII que ordenhadores de vacas com smallpox, um tipo de varíola bovina com sintomas mais brandos, adoeciam, sobre- viviam e tornavam-se imunes à varíola humana, cuja taxa de letalidade era muito mais alta. Fez então uma experiência inoculando secreção de uma pessoa com varíola bovina em uma pessoa saudável, a qual desenvolveu sintomas muito mais brandos e tornou-se imune à patologia em si, ou seja, ficou protegida (imunizada). A palavra vacina significa “de vaca”, em latim, e hoje é usada para denominar todo o inóculo que nos estimula à produção de anticorpos. Lembre-se que a vacina é uma substância preparada com o objetivo de esti- mular a nossa memória imunológica, ou seja, deixar o sistema imune alerta para ataques de anticorpos contra os agentes invasores, sejam eles vírus, bactérias, fungos ou parasitas. A vacina atua de forma preventiva, melhorando os efeitos do organismo frente a uma futura infecção ou impedindo completamente que a infecção ocorra. Ainda em estudos, temos as vacinas terapêuticas para o câncer. Nesta unidade, estudaremos as vacinas preventivas, aquelas cujas substâncias utilizadas são denominadas de antígenos, os quais estimulam a produção de anti- corpos e células de memória imunológica. Os antígenos virais também podem cau- sar uma resposta imunológica celular, a exemplo do linfócito T citotóxico (ou CD8). A relação antígeno-anticorpo (Ag/Ac) é altamente específica, do tipo chave- -fechadura (Figura 1A). Anticorpos produzidos para um determinado antígeno não reagem com outro tipo de antígeno – e quando reagem o fazem de maneira muito fraca e ineficaz (Figura 1B). (1A) Anticorpo Anticorpo ESPECIFICIDADE (1B) Antígeno Antígeno viral Epitopo do antígeno viral Anticorpos Antígeno Vírus (1A) Anticorpo Anticorpo ESPECIFICIDADE (1B) Antígeno Antígeno viral Epitopo do antígeno viral Anticorpos Antígeno Vírus Figuras 1A e 1B – Esquema mostrando o modelo chave-fechadura do anticorpo pelo antígeno, em que se explica a alta especificidade Ag/Ac. Em 1B, podemos ver que, dos três anticorpos presentes no esquema, apenas um deles é capaz de se ligar e fixar ao epítopo do antígeno viral Fonte: Adaptado de iStock/Getty Images Os antígenos estão presentes nas superfícies de vírus, bactérias, fungos e pa- rasitas. Na maioria das vezes, são proteínas, mas também podem ser lipídios e carboidratos, como os encontrados em cápsulas bacterianas. Substâncias nocivas produzidas pelos microrganismos, tais como as toxinas, também são antígenos. O 8 9 local do antígeno atacado pelo anticorpo é denominado de determinante antigêni- co ou epítopo, ou ainda epítope (Figuras 1B, 2 e 3). Figura 2 – Esquema mostrando as cadeias pesadas e leves e as regiões variáveis e constantes um anticorpo. No detalhe o epítopo, região do antígeno que se une ao anticorpo. Fonte: Amabis e Martho, 2006 Figura 3 – Esquema mostrando uma bactéria com diferentes epítopos em sua superfície e diferentes anticorpos aderindo-se a esses epítopos Fonte: Amabis e Martho, 2006 9 UNIDADE Imunização Tipos e Composição das Vacinas As vacinas podem ser substâncias derivadas dos microrganismos, de partes deles, substâncias quimicamente semelhantes a eles ou até mesmo o próprio microrganismo atenuado em uma forma tão enfraquecida que se torna incapaz de causar a doença. Vacina Atenuada Por conter o microrganismo enfraquecido, essa vacina pode produzir sintomas semelhantes à doença que previne, mas isso depende da competência do sistema imunológico do indivíduo que recebe a vacina, que pode ter sintomas brandos por um breve período ou ser assintomático. Gestantes e pessoas imunodeprimidas por doença ou medicamentos, ou ainda de nascença, não podem tomar esse tipo de va- cina. Embora se tenha essas restrições, são mais eficazes que as vacinas inativadas. Não precisam de reforços, possuem imunidade duradora e são capazes de induzir forte imunidade celular que corresponde à produção de linfócitos T CD8 (citotóxico). Geralmente são produzidas para os vírus como a febre amarela, varicela (ou ca- tapora), dengue, herpes zoster, rubéola, caxumba, poliomielite (via oral), rotavírus e sarampo; contudo, também foi desenvolvida a BCG para a tuberculose, que é causada por uma bactéria. A vacina da febre amarela é obtida de uma cepa americana denominada 17 D. Ela é atenuada, sendo cultivada por diversas gerações em embriões de galinha, ou seja, fora de seu hospedeiro natural. A vacina para a rubéola é atenuada sendo cultivada por gerações em células embrionárias de pato e a vacina Sabin, para a poliomielite, em células de macaco. Após gerações cultivados em outro ser vivo, os microrganis- mos patogênicos sofrem mutações e perdem a capacidade de causar doença ao ser humano, no entanto, não pedem a antigenicidade e a imunogenicidade. Antigenicidade: capacidade de provocar a formação de um anticorpo. Células APC: significa “célula apresentadora de antígeno”, do inglês “antigen presenting cell”. Citotóxico: tóxico à célula. Colostro: líquido amarelado secretado pelas glândulas mamárias, alguns dias antes e depois do parto, rico em anticorpos. Também corresponde à primeira mamada de recém-nascido. Expansão clonal: refere-se a um aumento rápido no número de células que expressam re- ceptores idênticos para o antígeno e assim pertencem a um clone. Fagócito: células que têm a capacidade de realizar a fagocitose. Imunogenicidade:capacidade de uma substância ou microrganismo em induzir uma res- posta imune. Imunoglobulina: anticorpo. Interferon: cada uma das várias glicoproteínas imunologicamente ativas, liberadas por células vivas infectadas por vírus e que agem reduzindo a atividade viral e ativando células de defesa do organismo. Ex pl or 10 11 Lipossoma: o mais comum dos vetores de transporte não-viral de genes. Pequenas vesícu- las esféricas formadas por bicamadas concêntricas de fosfolipídios que se organizam espon- taneamente ou por ultrassom em meio aquoso. Lonomia: taturanas do gênero Lonomia MHC: signifi ca “complexo principal de histocompatibilidade”, do inglês “major histocompat- ibility complex”. Patogênico: que provoca ou pode provocar, direta ou indiretamente, uma doença. Proteína heteróloga: proteína de outro ser vive. Timo: glândula localizada no pescoço que realiza a maturação dos Linfócitos T. Ex pl or Vacina Inativada Nesse tipo de vacina, os microrganismos são inativados por formaldeídos, ou- tros agentes químicos ou agentes físicos como o calor e a radiação. Por esse mo- tivo, são vacinas seguras e não apresentam a possibilidade de causar a doença contra a qual protegem. No entanto, requerem doses de reforço para induzir uma resposta imunitária adequada e ainda podem causar reações de hipersensibilidade e inflamação. Podem ser compostas por microrganismos inteiros e intactos, no entanto sem a capacidade de se reproduzir e com total capacidade de estimular a produção de anticorpos e células de memória imunológica. Um exemplo é a bactéria Bordetella pertussis, que é um dos componentes da vacina tríplice contra difteria-tétano- -coqueluche. A vacina contra HPV também é produzida dessa maneira. Outras vacinas inativadas são compostas de subunidades ou frações do agente in- fectante, são denominadas Vacina de Subunidade. Um exemplo é a vacina para he- patite B, que é produzida com o antígeno HBsAG, derivado do plasma de portadores. A Vacina de Subunidade Polissacarídica é produzida com essa substância da cápsula dos agentes infecciosos. Não tem eficácia em menores de dois anos, pois não induzem memória imunológica duradoura. Isso se deve ao fato de que a maioria dos antígenos que depende dos linfócitos T para desencadear a pro- dução de anticorpos é do tipo proteico. Os antígenos T-independentes, ou seja, aqueles que estimulam diretamente os linfócitos B a produzirem anticorpos são compostos de muitas subunidades repetidas, como os da cápsula polissacarídica das bactérias Haemophilus influenzae tipo b, Neisseria meningitidis e Strep- tococos do grupo B. Para aperfeiçoar essa situação, temos a Vacina de Subunidade Polissacarí- dica-Conjugada, à qual adicionamos uma proteína para torná-la T-dependente e torná-la eficaz em menores de dois anos com indução de memória imunológica mais duradora. A vacina para Haemophilus influenzae tipo b é produzida com polissacarídeo da cápsula bacteriana conjugada com um toxóide diftérico, toxóide tetânico (Figura 4) ou outra proteína carreadora que seja T-dependente. 11 UNIDADE Imunização Local relacionado a toxicidade Desintoxicação pela ação de formaldeído e calor Molécula de toxóide tetânico antigênica porém não tóxica Molécula de toxina tetânica Legenda Determinantes antigênicos relevantes a imunidade Figura 4 – Desintoxicação de toxina tetânica em toxóide tetânico inofensivo com perda das propriedades antigênicas Fonte: Adaptado de Moura Filho, 1996 Alguns sintomas de doenças infecciosas são causados pelas toxinas proteicas produzidas pelos microrganismos, a exemplo da coqueluche, da difteria e do té- tano. A vacina para essas enfermidades é o toxóide, que é a toxina inativada por agentes físicos como calor ou raios ultravioleta, ou ainda agentes químicos como o formaldeído ou o álcool. Por serem imunógenos fracos, recebem a adição de adjuvantes que nos toxóides tetânicos e diftéricos é o hidróxido de alumínio. A bactéria Bordetella pertussis inteira morta é utilizada como adjuvante nas Vacinas Toxóides para tétano, difteria e coqueluche. Os adjuvantes aumentam considera- velmente o poder imunogênico dos antígenos. Também temos Vacinas Combinadas, como a DTP, que é a tríplice bacteriana que combate a difteria, o tétano e a coqueluche; e a tríplice viral, que protege con- tra caxumba, rubéola e sarampo. Além dos adjuvantes que potencializam os antígenos e melhoram a eficácia das vacinas, elas podem conter quantidades muito pequenas de outros produtos biológi- cos ou químicos como: conservantes e estabilizantes (por exemplo, albumina, fenóis e glicina), água estéril, soro fisiológico ou fluidos contendo proteínas – e também po- dem conter quantidades muito pequenas do material empregado para fazer crescer o vírus ou a bactéria, como a proteína do ovo de galinha. Algumas vacinas apresentam ainda traços de antibiótico na composição, que são utilizados para evitar o cresci- mento de microrganismos durante a produção e o armazenamento do produto final. Pessoas com histórico de reações alérgicas devem consultar o médico antes de se vacinar. É comum o uso de timerosal, que é uma conservante a base de mercúrio e tem a finalidade de evitar a contaminação e o crescimento de bactérias potencial- mente prejudiciais. Ele é utilizado em frascos de vacinas com mais de uma dose. Embora seja adicionado em quantidades muito pequenas, pode causar reações indesejadas em pessoas sensíveis. Vacina de DNA Também conhecida como vacina genética ou Vacina Recombinante, é muito pro- missora, pois as vacinas convencionais não têm sido eficientes na imunização de uma 12 13 variedade de patógenos e tumores. É capaz tanto de induzir imunidade humoral com a produção de anticorpos como a imunidade celular, ativando os linfócitos T CD8 (cito- tóxico), assim como fazem as vacinas com microrganismos vivos atenuados. Pesquisas mostram a indução da imunidade protetora em cobaias pela imuniza- ção genética contra uma variedade de microrganismos, contra o câncer e algumas doenças autoimunes. Em humanos, a maioria das pesquisas estão direcionadas para o HIV e a Vacina Terapêutica contra o câncer. A utilização da vacinação por DNA na terapia contra tumores tem gerado resultados satisfatórios no controle de crescimento de melanoma. Estudos dessa vacina para hepatite B e C, malária, HPV, tuberculose e raiva estão em andamento e têm tido bons resultados. Essa vacina é produzida por recombinação gênica, utilizando a tecnologia do DNA recombinante. Insere-se o DNA que produz o antígeno imunoestimulador em um plasmídeo. O vetor plasmidial (Figura 5) adentra a célula humana no interior de um lipossoma ou de partículas virais inócuas. Uma vez no interior da célula, se une ao genoma e começa a ser expresso em forma de proteína, que é o antígeno imunoestimulador. Uma grande vantagem é que cada célula que se reproduz con- tém o gene para produção do antígeno e a duração da vacina se torna muito longa. Figura 5 – Representação esquemática das principais características genéticas de um vetor plasmidial utilizado na vacina de DNA Fonte: Vidotto, 2007 Resposta Imunológica das Vacinas Agora vamos analisar as respostas imunológicas que ocorrem em um indivíduo no momento da vacinação e as que ocorrem após a imunização, tais respostas tam- bém são chamadas, respectivamente, de Resposta Imune Primária e Resposta Imune Secundária (Gráfico 1). Observando o Gráfico 1, notamos que, logo após a vacinação, há uma pequena e demorada produção de anticorpos (imunoglobulinas), que é ineficaz para impedir a infecção e o desenvolvimento da doença. Isso reforça o caráter preventivo da vacinação, ela garante uma imunização futura. 13 UNIDADE Imunização Essa demora na resposta imunológica ocorre porque não conhecemos o antí- geno do microrganismo, e o mecanismo de reconhecimento e apresentação de antígeno às células do sistema imunológico que produzem anticorpos pode levar alguns dias, ou até semanas, dependendo do tipo de vacina e daresposta imune própria de cada indivíduo. A resposta imune primária inicia com a fagocitose e apresentação de antí- genos com potencial patogênico aos linfócitos T CD4 (auxiliadores). Os fagócitos podem ser macrófagos ou células dendríticas possuem proteínas receptoras, na membrana plasmática, responsáveis pela apresentação do antígeno, as proteínas MHC de classe II. Os fagócitos que apresentam antígenos aos linfócitos T CD4 são chamados de células APC (Figura 6). Célula T CD4+ APC (Macrófago)Antígeno Peptídeo Lisossomo MHC IIEndossomo CD4 TCR Figura 6 – Esquema mostrando o Macrófago fagocitando o antígeno de um patógeno e expressando-o em sua membrana plasmática com auxílio das proteínas MHC de classe II, para a ativação do Linfócito T CD4 O Linfócito T CD4 ativado pelo antígeno começa a produzir interleucinas (Figura 7), substâncias que estimulam outras células do sistema imune, culminando na expansão clonal e ativação dos linfócitos B, que aumentam consideravelmente de tamanho e começam, enfim, a produzir imunoglobulinas específicas para o an- tígeno com potencial patogênico, fagocitado a dias atrás. Figura 7 – Esquema mostrando o Linfócito T CD4, que depois de ativado pela presença do antígeno produz interleucina que promove multiplicação e desenvolvimento dos Linfócitos B Fonte: Adaptado de Amabis e Martho, 2006 14 15 Após a expansão clonal, a maioria dos linfócitos B sofre maturação e passa a se chamar Plasmócito, a grande célula produtora de anticorpos. No entanto, al- guns Linfócitos B ativados não se diferenciam em Plasmócitos e, portanto, ficam circulando por anos na corrente sanguínea. A esses Linfócitos B damos o nome de Células de Memória Imunológica (Figura 8). Essas e outras células ativadas pelo antígeno com potencial patogênico constituem o que chamamos de Memo- ria Imunológica. Esquema mostrando o Linfócito B sendo ativado pelo antígeno, entrando em seleção clonal para produção de Plasmócitos produtores e anticorpos e Células de Memória Imunológica: https://goo.gl/vP2FfDE xp lo r A imunização contra a infecção de algumas doenças ocorre após a vacinação ou mesmo pela primeira infecção dessa doença, pois a vacina simula a primeira infecção. O que garante a imunização são as células de memória imunológica, que circulam pelo corpo em número bem maior após o primeiro contato com o antí- geno. Qualquer célula de memória imunológica que entre em contato com o antí- geno com potencial patogênico conhecido imediatamente estimula o organismo a produzir anticorpos, dando início à resposta imune secundária. Observe o Gráfico 1 e note que a resposta imune secundária, a qual ocorre após a imunização, é bem mais rápida e a quantidade de anticorpos produzidos é bem maior, aumentando muito as chances de se impedir a doença infecciosa. Gráfi co 1 – Demonstração da quantidade de anticorpo em relação ao tempo em duas situações. Resposta imune primária antes da imunização, que nesse caso se deu pela vacinação, e resposta imune secundária após a imunização, que nesse caso se deu pela infecção. 0 100 101 102 103 104 1 2 3 4 5 6 7 8 Resposta imune secundária Co nc en tra çã o d e a nt ico rp os (u ni da de ar bi trá ria ) Resposta imune primária Tempo (semanas) InfecçãoVacinação 15 UNIDADE Imunização Vacinas Virais Atenuadas As vacinas virais, como a da febre amarela, possuem vírus atenuados que con- seguem, em baixo número, adentrar células humanas para concluir seu ciclo repro- dutivo. A célula infectada expõe no MHC de sua membrana plasmática antígenos virais que são apresentados para os Linfócitos T CD4, ativando-os a estimular o Linfócito T CD8 (Figura 8) para atacarem células humanas infectadas por vírus, que estão servindo de verdadeiros berçários para os mesmo. Os Linfócitos T CD8 produzem substâncias como perforinas e granzimas (Figura 9) induzindo a apoptose celular (morte celular programada da célula). Os Linfócitos T CD8 ativados pelo antígeno viral permanecem por muitos anos na corrente sanguí- nea constituindo a Memória Imune Celular. Ou seja, as vacinas com vírus atenua- dos estimulam tanto a imunidade humoral, onde os anticorpos se fixaram aos vírus, neutralizando-os e impedindo sua entrada na célula, e também a imunidade celular, com o ataque dos Linfócitos T CD8 ativados às células já infectadas por vírus. Figura 9 – Esquema mostrando o Linfócito T CD8 liberando perforina em uma célula humana infectada por vírus. Perforinas, assim como as granzimas, são substâncias que causam a morte celular programada da célula (apoptose). Fonte: Adaptado de Amabis e Martho, 2006 Figura 8 – Esquema mostrando o Linfócito T CD4, que depois de ativado pela presença do antígeno viral produz interleucina que promove multiplicação e desen- volvimento dos Linfócitos T CD8 (citotóxico ou matador de células) Fonte: Adaptado de Amabis e Martho, 2006 Tipos de Imunizações Lembre-se de que o sistema imunológico conta com um “arsenal” de substân- cias, células, tecidos e órgãos que protegem nosso corpo contra a infecção de microrganismos, a ação de toxinas e outras substâncias nocivas produzidas por 16 17 agentes infecciosos, substâncias alergênicas encontradas no ar, na água e nos ali- mentos e até mesmo de venenos de alguns animais peçonhentos. Nascemos com uma primeira linha de defesa de combate aos microrganismos invasores, tais como a pele e as mucosas que são barreiras físicas e impedem a invasão de agentes infecciosos em nosso meio interno. Também temos barreiras químicas, como a lisozima da lágrima e o baixo pH estomacal, que atrapalham o crescimento microbiano. Existem uma série de fagócitos e o linfócito Natural Kil- ler (matador natural), que atacam todo e qualquer tipo de células e substâncias que não são próprias do organismo, e ainda os mediadores solúveis no plasma sanguí- neo (sistema complemento, linfocinas e interferon), que atuam na potencialização do sistema imunológico, destruição de microrganismos e neutralização de toxinas. Esses recursos são denominados de Imunidade Inata, pois nascemos com ele, também chamados de Resposta Imune Inespecífica, pois ataca qualquer agente invasor que encontrar. Quando os recursos da imunidade inata não conseguem impedir o avanço do agente infeccioso, entra em ação uma “arma mais poderosa”, a Imunidade Ad- quirida, também conhecida como Resposta Imune Específica, ou seja, inicia-se a produção de anticorpos que atacam diretamente o agente infeccioso e as subs- tâncias nocivas por ele produzidas aumentando muito as chances de cura. Não nascemos com essa imunidade, ela só começa a ser produzida após um prévio contato com o agente invasor, daí o nome adquirida; o nome específica se deve ao fato dos anticorpos serem altamente específicos para os antígenos que atacam. Se um indivíduo passa a produzir anticorpos, ou seja, suas células de memória imunológica foram ativadas, ele recebeu Imunidade Ativa. No entanto, se o in- divíduo apenas recebeu anticorpos, mas não tem a capacidade de produzi-los, ele recebeu Imunidade Passiva. A imunidade ativa ou Imunização Ativa é obtida de forma natural após uma do- ença infecciosa. No entanto, ela pode ocorrer de maneira artificial, como no caso das vacinações. Seja Imunização Ativa Natural ou Artificial, elas têm em comum a produção de anticorpos que conferem proteção contra os agentes infecciosos ou contra seus produtos tóxicos. Também estimulam a memória imunológica, que é a geração de linfócitos T e B de memória, que podem perdurar por muitos anos. Já a Imunidade Passiva ocorre de maneira temporária, tem caráter curativo ou preventivo, porem não cria memória imunológica. Também pode ocorrer de maneira natural ou artificial. A primeira Imunização Passiva Natural ocorre no útero com a passagem transplacentária de anticorpos (ou imunoglobulinas) da mãe para o feto, que previne o neonato temporariamente contra os antígenos que a mãe foi exposta. As imunoglobulinas do feto consistem quase quetotalmente de IgG da mãe transferida via placentária. As imunoglobulinas circulam no sangue do bebê por semanas a meses após o nascimento, neutralizando os microrganismos ou marcando-os para serem destruídos por fagócitos. A imunização passiva natural também ocorre com os recém-nascidos lactentes, principalmente para os que ingerem o colostro e recebem uma quantidade alta de 17 UNIDADE Imunização imunoglobulinas, e continuam recebendo imunoglobulinas enquanto amamentado com leite materno. Lembrando que tanto o colostro quanto o leite materno ma- duro, além das imunoglobulinas, possui em sua constituição substâncias químicas como a lactoferrina, lisozima, muscina e outras. A lactoferrina se liga ao íon ferro intestinais indisponibilizando-os, muitas bactérias patogênicas dependem desse íon para a sobrevivência e têm seu crescimento frustrado. A lisozima elimina bactérias rompendo suas paredes celulares. A muscina adere-se a vírus e bactérias, impedin- do tais microrganismos de se ligarem a superfícies mucosas. O leite humano tam- bém contém células do sistema imunológico, principalmente fagócitos que atacam diretamente os microrganismos. Lembre-se que as imunoglobulinas apresentam cinco formas básicas, designadas como IgG, IgA, IgM, IgD e IgE. Todas são encontradas no leite humano, mas, de longe, a mais abundante é a IgA, especificamente a forma conhecida como IgA secretora, a qual é encontrada em grandes quantidades ao longo dos sistemas res- piratório e gastrointestinal dos adultos. Leite materno é injeção de imunidade para a vida toda: https://goo.gl/rscKLU Ex pl or Imunização Passiva Artificial foi desenvolvida com intuito curativo, para ser utilizada quando o sistema imunológico não consegue produzir imunoglobulinas em tempo hábil para combater o antígeno, que podem ser toxinas microbianas, infecções virais ou venenos de animais peçonhentos. Esse tipo de imunização tam- bém é utilizado para pacientes com defeito na formação de anticorpos ou imu- nodeprimidos. A transfusão sanguínea também é considerada imunização passiva artificial, pois, junto com os eritrócitos, o transfundido recebe, embora em pequena quantidade, os leucócitos, que são as células do sistema imune, e também recebe as proteínas plasmática, dentre as quais estão os anticorpos. Vacinas e Soros: https://youtu.be/ra_ebPTgzzw Ex pl or Soro Hiperimune Também chamado de Antissoro, esse medicamento contém anticorpos pro- duzidos por animais hiperimunizados. Como são produzidos em outros animais, geralmente o cavalo, também denominados de soros heterólogos. Desde sua descoberta, o método de preparação do soro antiveneno sofreu pou- ca alteração. Historicamente, o soro preparado do sangue dos animais hiperimu- nizados era a base da soroterapia antiveneno, mas, atualmente, o plasma é usado quase que exclusivamente como material de partida que sofre várias etapas de preparação e purificação. A purificação de plasma visa minimizar os efeitos causa- 18 19 dos pela administração de proteínas heterólogas contidas no soro hiperimune no organismo do paciente, as quais podem causar manifestações clínicas importantes, tal como a reação de hipersensibilização tipo III, também conhecida como a doença do soro. Geralmente, a produção dos soros hiperimunes pode ser dividida em cinco gran- des fases: 1) obtenção do antígeno; 2) preparo da solução de antígeno; 3) obtenção do plasma hiperimune; 4) transformação do plasma em soro hiperimune; e 5) em- balagem do produto (Figura 10). Obtenção do Antígeno Preparo da Solução de Antígeno Obtenção do Plasma Hiperimune Embalagem do Produto Transformação do Plasma em Soro Hiperimune Figura 10 – Principais fases do processo produtivo do soro hiperimune. A obtenção do antígeno ocorre de diferentes maneiras, dependendo do soro a ser produzido. No caso de produção e soros antiveneno de cobras, aranhas, escor- piões e lonomia, a fase de obtenção do antígeno se dá pela extração e o preparo do veneno do animal peçonhento, com exceção do veneno do escorpião, que não precisa de preparo. A produção de soro para doenças causadas por intoxicações bacterianas como a difteria, o tétano e o botulismo ocorre pela obtenção da toxina por meio de cultivo bacteriano. Já a produção de soros antivirais, como o antirrá- bico, inicia-se com o recebimento do vírus rábico atenuado pronto para o uso, sem a necessidade de extração e/ou preparo. O antígeno então neutralizado e/ou diluído, sem perder a capacidade imunogê- nica e antigênica inicial, é inoculado no cavalo. Outros animais, porém em menor escala, são utilizados para a produção de soros hiperimunes, tais como: mulas, jumentos, vacas, bois, carneiros, cabras e coelhos. Após um período de vinte e um dias da inoculação do antígeno, cerca de 15 a 18 L de sangue são coletados do cavalo e sedimentados, separando-se os eritróci- tos, que retornam ao cavalo, do plasma sanguíneo. O plasma então é submetido a uma série de processos para a sua purificação, ou seja, extração de proteínas sanguíneas do cavalo que não precisam compor o soro hiperimune e que, se nele estiverem presentes, podem causar a “doença do soro” (hipersensibilidade tipo III). O plasma possui fibrinogênio, que é um fator coagulante, já o soro está livre dessa proteína e não corre o risco coagular. Entre os soros antivenenos produzidos, temos os antiofídicos (antibotrópico: para acidentes com jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca, cotiara; anticrotálico: para acidentes com cascavel; e antilaquético: para acidentes com surucucu; antielapí- dico: para acidentes com coral; antibotrópico-laquético: para acidentes com jara- raca, jararacuçu, urutu, caiçaca, cotiara ou surucucu). Para os artrópodos, temos o antiaracnídico: para acidentes com aranhas do gênero Phoneutria (armadeira), Loxosceles (aranha marrom) e escorpiões brasileiros do género Tityus; e o an- tiescorpiônico: para acidentes com escorpiões brasileiros do gênero Tityus. Ainda temos o soro antilonomia para acidentes com taturanas do gênero Lonomia. 19 UNIDADE Imunização Para o tratamento de vírus, temos o antirrábico para o tratamento da raiva. Para o tratamento de toxinas bacterianas, temos o antitetânico para o tratamento do té- tano e o antidiftérico para o tratamento da difteria. Por fim, temos o antibotulínico para o tratamento do botulismo. O Soro Antitimocitário destina-se a pacientes recém-transplantados e tem como objetivo de reduzir as possibilidades de rejeição de certos órgãos. Esse soro pode ser produzido por hiperimunização animal com células obtidas do timo ou ainda a partir de células obtidas em equipamentos especiais chamados bioreatores. Por que as vacinas são denominadas de terapia preventiva e os soros de terapia curativa? Ex pl or 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Bio https://goo.gl/WDkuav Infobibos https://goo.gl/Jhouff Vacinas.org https://goo.gl/wkmvnb Vídeos Aula: Imunologia - Antígenos e Anticorpos | Imunologia #7 https://youtu.be/2WCn-bkaogU Aula: Imunologia - MHC (HLA) | Imunologia #6 https://youtu.be/89RHIuSma0U Aula: Imunologia - Imunidade Adaptativa (Específica ou Adquirida) | Imunologia #3 https://youtu.be/5_vU_GWYhWM Aula: Imunologia - Introdução e Imunidade Inata (Inespecífica) | Imunologia #1 https://youtu.be/EDN5qPl9GPE Leitura Biotecnologia aplicada ao desenvolvimento de vacinas https://goo.gl/nuu7E3 Efeito protetor da lactoferrina humana no trato gastrintestinal https://goo.gl/eHxxVa Avaliação dos efeitos de vacinas: mudanças na suscetibilidade, infectividade, contatos e efeitos diretos e indiretos https://goo.gl/2XBNhi 21 UNIDADE Imunização Referências ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. AMABIS, J. M.; MARTHO, G. R. Fundamentos da Biologia Moderna. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2006. BALLALAI, I.; BRAVO, F. Imunização: tudo o que você sempre quis saber. SociedadeBrasileira de Imunizações. Rio de Janeiro: RMCOM, 2017. (Edição Digital). CANTER, H. M. C.; PEREZ JUNIOR, J. A., HIGASHI, H. G., GUIDOLIN, R. R. Soros e vacinas. 2008. Disponível em: <http://www.infobibos.com/ Artigos/2008_2/SorosVacinas/index.htm>. Acesso em: 19 jun. 2018. KANO, F. S.; VIDOTTO, O.; VIDOTTO, M. C. Vacina de DNA: aspectos gerais e sua aplicação na medicina humana e veterinária. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 28, n. 4, p. 709-726, out./dez. 2007. MESQUITA, J. R. D.; ARAÚJO, J. A. P.; ATELAN, T. T. T. ; SOUZA, A. W. S.; CRUVINEL, W. M.; ANDRADE, L. E. C.; SILVA, N. P. Sistema Imunitário – Parte II Fundamentos da resposta imunológica mediada por linfócitos T e B. 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Dissertação (Mestrado) – CEFET/RJ, Rio de Janeiro. 2012. 22
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