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DESENVOLVIMENTO DE MAPAS DE ENERGIA SOLAR PARA O RIO GRANDE DO SUL COMO FERRAMENTA DE PROJETO DE SISTEMAS DE GERAÇÃO DE ENERGIA FLAVIO ALVES MACHADO1, JOÃO CARLOS VERNETTI DOS SANTOS2 Escrito para apresentação no XXXII Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola - CONBEA 2003 Goiânia - GO, 28 de julho a 01 de agosto de 2003 RESUMO: O presente trabalho faz uma análise de dados de radiação solar de diferentes localidades do Rio Grande do Sul, formando uma base de dados voltada para o projeto de sistemas de geração de energia elétrica a partir do aproveitamento da energia solar. Como resultado, foram confeccionados mapas de isolinhas de médias mensais de energia solar por unidade de área no plano horizontal para diferentes regiões do Estado, caracterizando preliminarmente o potencial de energia solar do Rio Grande do Sul. Para fazer destes mapas uma ferramenta de projeto de sistemas de energia solar, os mesmos foram então refeitos, convertendo os dados de energia solar no plano horizontal para um plano de inclinação ótima para cada região do Estado, formando assim um novo conjunto de mapas de isolinhas de médias mensais de energia solar por unidade de área. Os dados empregados são oriundos das estações meteorológicas da FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECÚRIA (FEPAGRO). PALAVRAS-CHAVE: mapas de energia solar, sistemas de energia solar, eletrificação rural DEVELOPMENT OF SOLAR ENERGY MAPS FOR RIO GRANDE DO SUL AS PROJECT TOOL OF SOLAR ENERGY SYSTEMS ABSTRACT: The present work makes an analysis of solar radiation data of different places of Rio Grande do Sul, forming a data base oriented to the project of power plants starting from solar energy. As a result, maps of isolines of monthly averages of solar energy were made in the horizontal plan for different areas of the State, characterizing preliminary the solar energy potential of Rio Grande do Sul. In order to make these maps as a project tool of solar energy systems, the same ones were then redone, converting the data of solar energy in the horizontal plan for a optimized tilted plan for each area of the State, forming a new group of maps of isolines of monthly averages of solar energy . The used data are originated from the meteorological stations of the FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (FEPAGRO). . KEYWORDS: energy solar maps, solar energy systems, rural electrification INTRODUÇÃO: O A energia solar é uma fonte energética renovável e não poluente, utilizável a custo relativamente baixo e disponível em todo o planeta. A energia solar é considerada a mais promissora fonte mundial de energia. Para o Brasil, esta alternativa se torna ainda mais atrativa, devido à sua situação geográfica privilegiada, entre as latitudes de 5o N e 34o S. A radiação solar incidente sobre a superfície terrestre varia de acordo com a época do ano, latitude e condições climatológicas (DUFFIE e BECKMAN, 1992). Portanto, o conhecimento do potencial solar em um dado local é fundamental para a otimização do aproveitamento desta fonte de energia. Por exemplo, o projeto e instalação dos vários tipos de coletores solares requerem o conhecimento da energia solar incidente nos mesmos pelo menos em cada mês do ano, permitindo assim a determinação do melhor ângulo de inclinação dos coletores para atender o mês de menor insolação com a menor área possível de coletores. A disponibilidade dos dados de radiação solar, juntamente com o procedimento de 1 Engenheiro Agrícola, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia: Energia, Ambiente e Materiais (PPGEAM), ULBRA, Campus de Canoas, Rua Miguel Tostes, 101. 92420-280 Canoas (RS), e-mail: ppgeam@ulbra.br 2 Prof. Dr. Departamentos de Engenharia Elétrica, PPGEAM-ULBRA, Núcleo de Energia, Campus de Canoas projeto adotado, possibilita a otimização energética do sistema com minimização de custos (Santos, 1996). O aproveitamento da energia solar é uma importante alternativa para a eletrificação de propriedades rurais distantes da rede elétrica convencional, onde a extensão da rede convencional tem custo elevado. Segundo OCÁCIA e SANTOS (2002), há um grande número de pequenas comunidades isoladas que ainda hoje não são atendidas pela rede elétrica. O presente trabalho faz uma análise de dados de radiação solar de diferentes localidades do Rio Grande do Sul, formando para o Estado uma base de dados voltada para o projeto de sistemas de geração de energia elétrica a partir do aproveitamento da energia solar. MATERIAL E MÉTODOS: A FEPAGRO possui 31 estações distribuídas em todo o Estado, que disponibilizam registros diários de radiação solar há pelo menos duas décadas. O instrumento de medida utilizado pela FEPAGRO para a medição de radiação solar é o actinógrafo, que se baseia no princípio da transformação da energia radiante em energia térmica. Este equipamento é instalado em nível, a 1,5m da superfície do solo e na parte norte da estação meteorológica, evitando que outros aparelhos projetem sombra sobre o mesmo. Este equipamento registra o valor instantâneo da densidade de fluxo da radiação solar global incidente. A integração da curva diária fornece o total diário de radiação solar global incidente. É importante observar que este tipo de instrumento, devido às suas características, incluindo o próprio registro de dados, pode conduzir a erros na faixa de 15 a 20%. Com calibração mensal, estes erros podem ser reduzidos a valores entre 5 e 10%. FRAIDENRAICH e LYRA (1995) mencionam a possibilidade de melhorar consideravelmente a precisão deste instrumento, reduzindo o erro para cerca de 4%. As localidades abrangidas situam-se em altitudes que vão desde aquelas próximas do nível do mar até altitudes próximas de 1000 metros, o que acrescenta qualidade ao tipo de informação que os mapas solares podem fornecer. Dada a influência da altitude sobre a intensidade da radiação solar, mapas solares com dados oriundos de localidades com latitudes semelhantes, mas com diferentes altitudes, retratam com maior precisão o potencial de energia solar. Como os dados inicialmente disponíveis não se encontravam em uma forma adequada para a análise requerida, algumas medidas foram formuladas e adotadas para preparar os dados para análise. A primeira medida adotada na seleção da base de dados foi identificar as lacunas existentes nas diversas séries de dados por inspeção visual, para posteriormente eliminá-las para formar séries contínuas, sem interrupção. Em segundo lugar, todos os meses com ocorrência de valores nulos foram identificados e separados para posterior análise. Em terceiro lugar, tendo em vista a precisão dos equipamentos e eventuais ocorrências de falha de medição ou registro, foi necessário desenvolver um critério de seleção que detectasse valores acima do que é fisicamente possível de ocorrer. Na prática, isto significa efetuar uma comparação entre o valor registrado a cada dia particular do ano e o valor da radiação extraterrestre para o mesmo dia, já que esta última não sofre a atenuação da atmosfera e, por este motivo, não sofre alterações tão pronunciadas, sendo o seu valor estimado com razoável precisão através de expressões matemáticas ((DUFFIE e BECKMAN, 1992). Para implementar a terceira medida, recorreu-se à definição do chamado índice de claridade, Kt, o qual expressa a razão entre a radiação global com incidência normal à superfície terrestre (Gh) e a radiação solar (Gon) normal à uma superfície horizontal de mesmas coordenadas geográficas situada fora da atmosfera terrestre. O parâmetro Kt fornece valores entre 0 e 1. Porém, de acordo com Liu e Jordan (1960), o valor máximo diário de Kt verificado para diversas estações de medição norte-americanas e de diversos outros países não ultrapassa 0,8. Este limite superior foi adotado no presente trabalho como critério para seleção (e validação) dos dados registrados. A quartamedida refere-se ao comprimento adotado para cada série de dados diários de energia solar, de forma que a média mensal de longo prazo seja efetivamente representativa de uma série de longo prazo para uma dada localidade. Este problema de natureza estatística conduz ao questionamento do comprimento mínimo requerido para que a média e o respectivo desvio padrão representem fielmente as características de variabilidade de longo prazo. VERNICH e ZUANNI (1996) sugerem que seriam requeridos pelo menos 14 anos de dados diários para estabilizar as características estatísticas da radiação solar. Segundo os autores, o período de 14 anos é suficiente para proporcionar distribuições estatisticamente estáveis para qualquer variável climática. Além deste limite, a variabilidade das grandezas climáticas origina-se somente da sua natureza estatística intrínseca, independentemente do tamanho da base de dados utilizada. De qualquer modo, após a adoção das medidas acima mencionadas, resultaram séries com diferentes comprimentos, tendo sido adotado preliminarmente o comprimento mínimo de 8 anos, sem limitar o comprimento máximo. Adotando o comprimento mínimo de 8 anos, restaram, das 31 estações originariamente disponíveis, 25 estações que formam a base de dados considerada no presente estudo. Duas observações adicionais são necessárias: primeiro, as séries contínuas referem-se cada uma a um dado mês. Assim, uma série de 10 anos de comprimento para o mês de janeiro, por exemplo, significa 310 dados diários para este mês, deixando de formar assim séries seqüenciais mês a mês. Isto não representa um problema, pois para a confecção dos mapas solares são consideradas médias mensais de longo prazo, não sendo necessário considerar a natureza seqüencial das mesmas de um mês para outro. A segunda observação refere-se ao fato que, para uma dada estação, certos meses não estão completos, como anteriormente mencionado. Dos meses incompletos, todo aquele possuindo pelo menos 85% dos dias com dados não nulos, foram posteriormente considerados pelas seguintes razões: primeiro, embora incompletos, estes meses contêm importantes informações para caracterizar a variabilidade de longo prazo dos dados; em segundo lugar, é possível recuperar os dados ausentes com precisão aceitável, se for considerado o fato que para estas mesmas localidades são disponíveis registros de insolação para as mesmas datas de registro. FONTANA e OLIVEIRA (1996) comprovam que há uma relação estreita entre insolação e radiação solar, expressa através de parâmetros conhecidos como coeficientes de Ångstron, apresentando estes parâmetros validados para o Rio Grande do Sul. Aqueles meses incompletos da base de dados (com pelo menos 85% dos dados) foram complementados através de estimativas obtidas com a aplicação destas correlações de Ångstron. Com a adoção desta medida, o comprimento mínimo das séries consideradas passa para 10 anos. Este foi o comprimento mínimo adotado para todas as séries para fazer as estimativas de longo prazo. Com a nova base de dados, as médias de longo prazo foram calculadas para cada mês do ano para cada estação meteorológica. Os mapas de energia solar foram então confeccionados a partir de médias mensais diárias de longo prazo. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Conforme o objetivo proposto do trabalho, foram construídos mapas para o Rio Grande do Sul de isolinhas de energia solar global no plano horizontal e inclinado, usando um Software para a formação de isolinhas chamado Surface Mapping System, Versiom 6.01. Este software possibilita o traçado de linhas de níveis constantes de determinada variável para pontos identificados através das coordenadas geográficas em um mapa. Assim, foi possível formar mapas com isolinhas de valores médios mensais de energia solar a partir dos valores médios determinados para cada estação meteorológica considerada. Os mapas para o plano horizontal totalizam 12 mapas. Os mapas para o plano inclinado totalizam 60 mapas, para as inclinações de 0, 10, 20, 30, 40 e 50, todos obtidos para superfícies inclinadas voltadas para o Norte. As figuras 1 e 2 exemplificam estes mapas, mostrando as médias mensais para o plano horizontal e inclinado, respectivamente, para o Estado no mês de junho. A superfície de captação solar é voltada para o Norte com inclinação de 50 graus. Observando a Figura 2, nota-se que há um ganho considerável de até 50% da energia no plano inclinado em relação à horizontal. Junho -57.00 -56.00 -55.00 -54.00 -53.00 -52.00 -51.00 -50.00 -33.00 -32.00 -31.00 -30.00 -29.00 -28.00 FIGURA 1. Mapa do RGS de Energia Solar Horizontal, em KWh/m2, para o mês de Junho. Junho -57.00 -56.00 -55.00 -54.00 -53.00 -52.00 -51.00 -50.00 -33.00 -32.00 -31.00 -30.00 -29.00 -28.00 FIGURA 2. Mapa do RGS de Energia Solar incidente em uma superfície com inclinação de 50 graus Norte, em kWh/m2 para o mês de Junho. CONCLUSÕES: No presente trabalho realizou-se uma análise de dados de radiação solar de diferentes localidades do Rio Grande do Sul a partir de uma base de dados oriunda de 31 estações da FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA ( FEPAGRO ). Embora os resultados sejam oriundos de uma base apreciável de dados, abrangendo medições por mais de duas décadas, devem ser considerados resultados preliminares por dois motivos: primeiro, tendo em vista que o comprimento mínimo de uma série de dados climáticos deveria ser de 14 anos para que o resultado apresentasse uma distribuição estatística estável, o conjunto de mapas aqui confeccionado representa uma estimativa preliminar do potencial de energia solar no Estado do Rio Grande do Sul. Em segundo lugar, as estações aqui utilizadas não estão distribuídas de maneira uniforme sobre todas as regiões do Estado, deixando de retratar, eventualmente, características importantes de radiação solar de determinada região ou localidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DUFFIE, J. A., BECKMAN, W. A. Solar engineering of thermal processes. John Wiley & Sons, New York, 1992 FONTANA, D.C. e OLIVEIRA, D. Relação Entre Radiação Solar Global e Insolação para o Estado do Rio Grande do Sul”, Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, 1996. Vol. 04, n.1 pg. 87-91 FRAIDENRAICH, Naum e LYRA, Francisco. Energia Solar: Fundamentos e Tecnologias de Conversão Heliotermoelétrica e Fotovoltaica. Editora Universitária da UFPE. Recife, 1995. 471p. LIU, B.Y.H. and JORDAN, R.C.; “The Interrelationship and Characteristic Distribution of Direct, Diffuse and Total Solar Radiation”, Solar Energy, 1960. Vol. 04, pg. 01 – 19 OCÁCIA, G. C. e SANTOS, J. C. V. Sistemas Fotovoltaicos e Sistemas Híbridos para Eletrificação Residencial Rural. IN: 4O. ENCONTRO DE ENERGIA NO MEIO RURAL - AGRENER 2002, 2002, Campinas. Anais ... Campinas, 2002. 1 CD SANTOS, J. C. Vernetti dos. PV-Systeme zur dezentralen Energieversorgung – Auslegungskriterien und Anforderungen na Solarstrahlungs- und Verbrauchsdaten. Tese de Doutorado. Universität Gesamthochschule Kassel, Kassel,1996 VERNICH (1996), Lucio E ZUANNI, Ferruccio. About the Minimum Number of Years Required to Stabilize the Solar Irradiation Statistical Estimates. Solar Energy, Vol. 57, No. 6, p. 445-447
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