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Jaylton Lopes Jr. MANUAL DE PROCESSO CIVIL (1)

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2021
MANUAL DE 
PROCESSO 
CIVIL
Jaylton Lopes Jr.
CAPÍTULO III
JURISDIÇÃO
1. INTRODUÇÃO
Nas sociedades mais remotas, a resolução dos conflitos ocorria pelo uso da força. Não é pre-
ciso muito esforço para concluir que, em regra, a pretensão do mais forte acabava predominando 
sobre a do mais fraco. Chegou um momento, porém, em que o Estado percebeu a necessidade 
de avocar para si esse poder de resolver os conflitos sociais, a fim de garantir maior estabilidade 
às relações sociais e previsibilidade às consequências jurídicas dos comportamentos humanos. 
Nesse momento, nasce a jurisdição.
2. CONCEITO
Talvez a forma mais remota de solução de conflitos seja a autotutela, por meio da qual, 
mediante o uso de violência, se impõe a prevalência de um interesse em detrimento do sacrifício 
do interesse de outrem. Contudo, tendo em vista que a solução do conflito por violência põe 
em risco a própria manutenção da sociedade – a qual necessita do convívio, de certo modo, 
harmonioso entre os seus membros para se desenvolver e para que as pessoas, de uma forma 
geral, satisfaçam os seus interesses pessoais e coletivos –, percebeu-se que era necessário encon-
trar um meio capaz de eliminar a solução violenta para os conflitos1 e manter a sociedade viva. 
É nesse contexto que se identifica o surgimento da figura do Estado, como estrutura de 
poder concentrada nas mãos de um único homem ou de uma assembleia de homens, capaz de 
defender a todos de agressões externas e manter o convívio pacífico entre todos, pois, em última 
análise, o próprio homem estaria outorgando o seu poder de autogovernar-se para o Estado, o 
qual receberia a legitimidade para agir na salvaguarda do bem comum2.
Para que o Estado, uma vez instituído, pudesse manter não somente a sua existência como 
estrutura de poder, mas também a prometida pacificação social, foi instituída a Lei, a qual, se-
gundo Jean-Jacques Rousseau, é a “condição da associação civil”3. Com isso, o Estado passou 
1. CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil. 1ª edição. São Paulo: Classic Book, 2000, v. I, p. 
62-63.
2. HOBBES, Thomas. Leviatã. 4ª edição. [sl]. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2009, p. 143-148.
3. ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 48.
96 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
não apenas a regular o convívio social, como também a resolver os seus respectivos conflitos, 
através de uma função pública, conferida a certas pessoas4, de dizer o direito a um caso concreto.
A monopolização da atividade jurisdicional pelo Estado se intensificou a partir do renasci-
mento e se consolidou, em definitivo, com o advento do iluminismo5. A Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão de 1789, ao dispor, em seu art. 3º, que “o princípio de toda a soberania 
reside, essencialmente, na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autori-
dade que dela não emane expressamente”6, serviu como fundamento para o fortalecimento da 
jurisdição como função eminentemente pública7. 
Dentro dessa perspectiva, a jurisdição pode ser compreendida como o poder-dever de dizer 
e realizar o direito no caso concreto, mediante decisão justa, efetiva e tempestiva. O resultado 
do exercício desse poder-dever será a norma jurídica individualizada construída para o caso.
A jurisdição, como poder, representa uma das manifestações da soberania estatal. O estado 
resolve os conflitos mediante decisão imperativa com eficácia em todo o território nacional 
(princípio da aderência ao território). Ao avocar para si o poder de dizer e realizar o direito 
no caso concreto, esse mesmo poder acaba por traduzir-se em um dever, na medida em que 
a todos são assegurados o acesso à justiça e a obtenção de uma tutela jurídica justa, efetiva e 
tempestiva. A jurisdição, como dever, decorre do direito fundamental de acesso à justiça (art. 
5º, XXXV, da CF).
A jurisdição como poder exclusivo do Estado é uma ideia ultrapassada. Isso porque, atual-
mente, a arbitragem também é compreendida como uma das formas de exercício de uma função 
jurisdicional, porém uma jurisdição não estatal. O tema será oportunamente abordado.
3. OBJETIVOS DA JURISDIÇÃO
De uma forma geral, é possível visualizar três grandes objetivos da jurisdição, os quais se 
aproximam dos escopos do processo. Vejamos:
	 Pacificação social: como meio de solução de conflitos que é, a jurisdição substitui a 
vontade dos litigantes para dizer, no caso concreto, quem tem direito. Isso permite uma 
maior estabilidade nas relações sociais. Aproxima-se do escopo social do processo. 
	Afirmar o poder: a jurisdição é manifestação de poder. Tal poder pode decorrer da 
própria soberania do Estado (jurisdição como função típica do Poder Judiciário) ou 
4. O exercício da função jurisdicional, conforme o período da história e do respectivo espaço geográfico, foi de-
sempenhado por pessoas diversas e conforme a sua relação com a estrutura de poder dominante. No direito 
romano, o juiz exercia a jurisdictio, função pública de dizer o direito. Com a invasão dos bárbaros, houve forte 
influência do processo germânico (período romano-barbárico). Nesse período, em um primeiro momento, a 
função jurisdicional foi exercida pelo duque (fase longobarda, 568 a 774); em um segundo momento, a auto-
ridade judiciária foi o conde (fase franca, 744 a 900). A partir do ano 900 (fase feudal), houve um aumento da 
jurisdição eclesiástica (MARQUES, José Frederico. Instituições de direito processual civil. 1ª edição atualizada. 
Campinas: Millennium Editora, 2000, v. I, p.95-108; ALVIM, Arruda. Manual de direito processual civil: teoria 
geral do processo, processo de conhecimento, recursos, precedentes. 18ª edição. São Paulo: Thompson Reuters 
Brasil, 2019, p. 53-97).
5. CAMPOS, Diogo Leite de. A arbitragem voluntária nas relações tributárias. O modelo Português. Revista de 
Arbitragem e Mediação. São Paulo: Revista dos Tribunais. Vol. 50. Ano 13 (jul-set. 2016), p. 467-473.
6. Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 [Consult. 20 ago. 2019]. Disponível em https://
br.ambafrance.org/A-Declaracao-dos-Direitos-do-Homem-e-do-Cidadao.
7. CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. 2ª edição. Campinas: Bookseller, 2000, v. II, p. 
9-10.
CAPÍTULO III • JURISDIÇÃO 97
mesmo da outorga conferida pelos particulares a um árbitro (jurisdição não estatal). 
Aproxima-se do escopo político do processo.
	Dizer e realizar o Direito: para que a jurisdição se realize plenamente, é preciso que 
o seu escopo vá além da construção de uma norma jurídica individualizada (dizer o 
direito); é preciso que haja concretização da norma no mundo empírico (realização 
do direito). Aproxima-se do escopo jurídico do processo.
4. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
A jurisdição possui uma série de características que a distingue das demais funções do Esta-
do. Tais características, contudo, devem ser compreendidas em conjunto, pois, individualmente, 
são insuficientes para identificar determinada atividade como jurisdicional. É importante desta-
car ainda que não se pode confundir características da jurisdição com princípios da jurisdição. 
Na presente obra, opta-se por distingui-las.
São características da jurisdição:
4.1. Substitutividade
No momento em que o Estado avocou para si o poder de solucionar os conflitos, uma pri-
meira característica da jurisdição se revelou: a substitutividade. O Estado, por meio da jurisdição, 
substitui a vontade das partes no tocante à resolução do litígio. Lembra Giuseppe Chiovenda que 
“na sentença, o juiz substitui para sempre a todos no afirmar existente uma obrigação de pagar, 
de dar, de fazer ou não fazer; no afirmar existente o direito à separação pessoal ou à resolução 
dum contrato, ou que a lei quer uma punição”.8
A ideia de substitutividade defendida por Chiovenda não se sustenta mais. Não é a vontade 
do Estado ou do juiz que substitui a vontade das partes, mas a norma jurídica individualizada 
produzida noprocesso. É a norma jurídica solucionadora do conflito que substitui uma possível 
resolução forçada por qualquer das partes. A autotutela dá lugar à jurisdição.
Essa substitutividade, contudo, sofre uma importante mitigação nas chamadas ações cons-
titutivas necessárias, que são aquelas em que somente por meio da jurisdição estatal é possível 
constituir, modificar ou extinguir uma situação ou relação jurídica. Em outras palavras, nas 
ações constitutivas necessárias, os efeitos almejados pelas partes/interessados somente podem 
ser alcançados por meio de processo judicial. Logo, não há, verdadeiramente, substitutividade.
Imagine, inicialmente, um contrato de compra e venda celebrado entre dois particulares. 
A resolução desse negócio jurídico depende, necessariamente, da atividade jurisdicional do 
estado? É evidente que não, pois se não houver qualquer controvérsia, as próprias partes podem 
entabular um distrato, cujos efeitos serão idênticos aos produzidos em eventual processo judicial. 
Imagine, agora, a dissolução de casamento pelo casal que possui filho incapaz. A dissolução 
pretendida depende, necessariamente, da atividade jurisdicional do estado? Nesse caso, sim. 
Apenas por meio da ação de divórcio (ainda que consensual) será possível a dissolução da 
sociedade conjugal. Trata-se, portanto, de uma ação constitutiva necessária. É o que também 
ocorre, por exemplo, na interdição.
8. CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil, v. II, Op. cit., p.17.
98 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
Vê-se, assim, que somente é possível falar em substitutividade quando a vontade que se está 
substituindo pode, também, concretizar-se, bem ou mal, sem a atividade estatal.
4.2. Inércia
À luz do princípio dispositivo, consagrado no art. 2º do CPC, “o processo começa por inicia-
tiva da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”. Isso significa 
que o exercício da função jurisdicional do Estado depende de provocação do interessado, não 
podendo o processo iniciar-se, ex officio, pelo órgão jurisdicional (ne procedat iudex ex officio).
A característica da inércia se manifesta não apenas por meio do princípio dispositivo (art. 
2º do CPC), mas também através de dois outros importantes princípios: princípio da demanda 
(art. 141 do CPC) e princípio da congruência (art. 492 do CPC). Em regra, a atuação do juiz 
deve se adstringir aos limites dos pedidos formulados pelas partes. Decidir sobre o que não foi 
pedido é o mesmo que decidir de ofício.
Nos termos do art. 141 do CPC, “o juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, 
sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da 
parte” (princípio da demanda). Por sua vez, o art. 492 do CPC dispõe que “é vedado ao juiz 
proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade 
superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado” (princípio da congruência).
Há, contudo, mitigações ao princípio da inércia. Podem ser citados os seguintes exemplos: 
a) possibilidade de o juiz agir de ofício no campo probatório (art. 370 do CPC); b) arrecadação 
dos bens no caso de herança jacente (arts. 738 e seguintes do CPC); c) restauração de autos 
(arts. 712 e seguintes do CPC).
4.3. Lide
A jurisdição, em regra, pressupõe a existência de uma lide, de um litígio. É preciso, portanto, 
que a pretensão que tenha sido levada ao conhecimento do Poder Judiciário tenha sido resistida 
ou, ao menos, insatisfeita por alguém. 
 Para Francesco Carnelutti, “o litígio está presente no processo, como a enfermidade 
o está na cura”9. A lide, nesse sentido, é pressuposto necessário para a atividade jurisdicional, 
ou seja, elemento que sempre deve estar presente para se apontar determinada atividade es-
tatal como sendo jurisdicional. Atualmente, há de se reconhecer a possibilidade de exercício 
de atividade jurisdicional sem que haja necessariamente um litígio em sentido estrito. É o que 
ocorre, por exemplo, nas ações constitutivas necessárias e nas ações de controle concentrado 
de constitucionalidade.
4.4. Manifestação de poder
Por meio da função jurisdicional, o Estado manifesta o seu poder de compor os conflitos. 
E como manifestação de poder, ela é imperativa e inevitável. 
Imperativa porque impõe ao jurisdicionado a vontade do direito. A jurisdição diz e realiza 
o direito ainda que contra a vontade da parte. Inevitável porque às pessoas não é dada a escolha 
de se submeter ou não à jurisdição. Uma vez proposta a ação, o réu não pode simplesmente dizer 
9. CARNELUTTI, Francesco. Sistema de direito processual civil: composição do processo, v. II, Op. cit., p. 25.
CAPÍTULO III • JURISDIÇÃO 99
que não aceita se submeter à atividade jurisdicional. Ao final do processo, sendo ou não favorável 
a decisão judicial, a parte se submeterá aos seus efeitos. Trata-se de uma situação de sujeição.
4.5. Atividade criativa
Um dos grandes desafios do processo civil é a busca por maior unidade do Direito e se-
gurança jurídica. Isso porque toda proposição normativa (texto de lei) comporta mais de uma 
interpretação. É possível ainda que uma determinada proposição normativa, interpretada de 
forma literal, seja injusta em um dado caso concreto. 
No exercício da função jurisdicional, cabe ao juiz atribuir sentido aos preceitos normati-
vos, tendo, evidentemente, a Constituição como paradigma interpretativo. Nessa perspectiva, 
ao atribuir sentido aos enunciados normativos, o juiz desenvolve uma verdadeira atividade 
criativa, reveladora, portanto, da norma jurídica. Há, portanto, uma acentuada distinção entre 
enunciado (ou preceito) normativo e norma jurídica. Aquele (o enunciado) nada mais é do que 
o imperativo abstrato previsto em um documento. Esta (a norma) é o sentido do preceito, o 
comando normativo revelado pelo texto.
Não é nova a ideia de que texto de lei não se confunde com norma jurídica. Para Kelsen, 
a proposição jurídica é um enunciado formulado pela ciência do Direito, visando à descrição 
do seu objeto, ou seja, um juízo hipotético da ciência jurídica, portanto, predominantemente 
descritivo. Já a norma jurídica é um comando de produção do Direito, que pode ser emanado 
do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do próprio Poder Judiciário10.
Com efeito, é a partir da interpretação que o juiz manifesta a atividade criativa da jurisdição, 
ou seja, de revelação da norma jurídica a partir de enunciados legislativos. 
Vejamos um exemplo emblemático.
O art. 1.723 do CC reconhece, de forma expressa, a união estável constituída entre homem 
e mulher. Aplicando-se literalmente este dispositivo, não seria possível, em tese, o reconheci-
mento, como entidade familiar, da união entre pessoas do mesmo sexo. Contudo, o Supremo 
Tribunal Federal, na ADI 4277-DF, interpretando o art. 1.723 do CC à luz do texto constitucional, 
firmou entendimento no sentido de que qualquer interpretação dada ao aludido dispositivo que 
impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo mostra-se inconstitucional. 
A partir de uma interpretação conforme a Constituição, o Supremo Tribunal Federal extraiu 
do texto do art. 1.723 do CC a norma jurídica mais consentânea com a Constituição, qual seja, 
o reconhecimento, como entidade familiar, de pessoas do mesmo sexo.
4.6. Definitividade
A jurisdição é a única forma de solução de conflitos capaz de tornar imutável e indiscutível 
a decisão de mérito. A essa estabilidade conferida a algumas decisões judiciais dá-se o nome de 
coisa julgada. O tema será estudado em capítulo próprio.
4.7. Decisão proferida por terceiro imparcial
A decisão que resolve o conflito e revela o exercício da jurisdição deve se dar por um ter-
ceiro imparcial. Foi dito no capítulo anterior que o princípio do juízo natural, além de conferir 
10. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6 ed. São Paulo: M. Fontes, 1999.
100 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
maior previsibilidade ao direito,garante a aplicação do princípio da imparcialidade do juiz. 
Tal característica significa que a atividade jurisdicional deve ser exercida por pessoa estranha 
ao conflito; imparcial; e cuja competência foi previamente prevista pelas normas de regência. 
Fala-se, assim, em heterocomposição.
Contudo, é importante registrar que essa característica não é exclusiva da jurisdição. Cite-se, 
como exemplo, as decisões proferidas por terceiros imparciais em processos administrativos no 
âmbito dos poderes executivo e legislativo (função atípica desses poderes).
5. PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
5.1. Princípio da investidura
O exercício da atividade jurisdicional pressupõe prévia investidura do julgador nesta função. 
Regra geral, a investidura decorre de aprovação em concurso público de provas e títulos, com a 
participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em 
Direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem 
de classificação (art. 93, I, da CF). Contudo, a própria Constituição Federal estabelece outras 
formas de investidura, como a decorrente do chamado quinto constitucional para os Tribunais 
Regionais Federais, Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e Territórios (art. 94 da CF), 
bem como de livre nomeação do Presidente da República para tribunais superiores (arts. 101, 
parágrafo único, 104, parágrafo único, 111-A, 119 e 123 da CF). 
A investidura, além de princípio da jurisdição, é um dos pressupostos de existência do pro-
cesso (órgão investido de jurisdição). Isso significa que a sua violação gera um vício de existência 
do processo. Em outras palavras, decisão proferida por um não-juiz é uma não-decisão judicial.
5.2. Princípio da territorialidade (ou aderência ao território)
A jurisdição é una e, portanto, exercida em todo o território nacional. No entanto, por 
uma questão de funcionalidade do sistema, a Constituição e as leis limitam espacialmente o 
seu exercício, o que se dá por meio de regras de competência. Tal limitação, porém, refere-se ao 
exercício da função jurisdicional, e não à produção dos efeitos da decisão. Assim é que uma de-
cisão proferida em Natal/RN, por exemplo, projeta os seus efeitos para todo o território nacional. 
À luz do princípio da territorialidade, a jurisdição será exercida por cada juiz nos limites 
do estado ou da região ao qual está vinculado. Todavia, é possível que a lei preveja a prática de 
atos fora dos limites territoriais do juízo, como é o caso, por exemplo, da previsão contida no 
art. 255 do CPC (“Nas comarcas contíguas de fácil comunicação e nas que se situem na mesma 
região metropolitana, o oficial de justiça poderá efetuar, em qualquer delas, citações, intimações, 
notificações, penhoras e quaisquer outros atos executivos”).
5.3. Princípio da indelegabilidade
A atividade jurisdicional não pode ser delegada, ainda que o delegatário também tenha sido 
investido nesta função. Caso fosse possível a delegação, um juiz que não tivesse muita afinidade 
com a matéria discutida no processo poderia simplesmente delegar sua função a outro juiz, em 
evidente violação ao princípio do juízo natural. Há, porém, algumas mitigações a esse princípio, 
ou seja, hipóteses em que a própria Constituição ou a lei permite a delegação. São elas:
CAPÍTULO IV
COMPETÊNCIA
1. CONCEITO DE COMPETÊNCIA E ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO
Conforme já estudado, a jurisdição é una e exercida em todo o território nacional. Contu-
do, por uma questão de funcionalidade do sistema, a Constituição e as leis limitam, no âmbito 
interno, o seu exercício, o que se dá por meio de regras de competência. Nesse sentido, a com-
petência pode ser conceituada como o limite, estabelecido pela Constituição ou pela lei, para o 
exercício da jurisdição. Tal limite pode decorrer de critérios diversos, os quais serão estudados 
neste capítulo.
A compreensão das regras de competência pressupõe o conhecimento da própria estrutura 
do Poder Judiciário. À luz do quanto estabelecido no Capítulo IV do Título III da Constituição 
Federal de 1988, o Poder Judiciário pode ser estruturado da seguinte forma: 
Nos termos do art. 44 do CPC, “obedecidos os limites estabelecidos pela Constituição Fede-
ral, a competência é determinada pelas normas previstas neste Código ou em legislação especial, 
pelas normas de organização judiciária e, ainda, no que couber, pelas constituições dos Estados”. 
Nesse cenário, a própria Constituição tratou de distinguir a chamada justiça especial da deno-
minada justiça comum. A justiça especial é formada pela Justiça do Trabalho, Justiça Militar e 
Justiça Eleitoral. Por sua vez, a justiça comum é formada pela Justiça Federal e Justiça Estadual.
122 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
2. PRINCÍPIO DA KOMPETENZ-KOMPETENZ (COMPETÊNCIA DA COMPETÊNCIA)
Segundo o princípio da kompetenz-kompetenz (competência da competência), todo juízo 
possui um núcleo mínimo de competência. Isso significa dizer que ao reconhecer, por exemplo, 
a sua incompetência absoluta, o juízo, neste ato, exerce uma parcela mínima de competência 
que lhe é atribuída pelo sistema, qual seja, a de examinar a sua própria competência.
Questão interessante é saber se o princípio da kompetenz-kompetenz se aplica à arbitragem. 
E a resposta depende da natureza jurídica atribuída a esse meio adequado de solução de con-
flitos. Conforme estudado no capítulo referente à jurisdição, o entendimento que prevalece na 
atualidade é o de que a arbitragem tem natureza jurisdicional. Por conseguinte, há de ser reco-
nhecida a parcela mínima de competência do árbitro para examinar a sua própria competência.
O princípio da kompetenz-kompetenz pode ser extraído do parágrafo único do art. 8º, pa-
rágrafo único, da Lei nº 9.307/1996, segundo o qual “caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por 
provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de 
arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória”. Nesse sentido, decidiu a 
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça que “a controvérsia acerca da existência, validade 
e eficácia da cláusula compromissória deve ser resolvida, com primazia, pelo juízo arbitral, não 
sendo possível antecipar essa discussão perante a jurisdição estatal”1.
3. PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO (PERPETUATIO JURISDICTIONIS)
3.1. Introdução
Uma vez proposta a ação perante o juízo competente, surge o fenômeno da perpetuação da 
jurisdição (perpetuatio jurisdictionis), que impede que modificações supervenientes no estado 
de fato ou de direito afastem a competência do juízo. Isso significa dizer que as regras de com-
petência devem ser aferidas no exato momento em que se propõe a ação, ou seja, no momento 
do registro ou da distribuição da petição inicial. Proposta a ação, perpetua-se a competência, 
ainda que posteriormente sobrevenha alguma modificação no estado de fato ou de direito. 
Contudo, não haverá perpetuação da jurisdição em duas hipóteses: a) quando a mudança 
superveniente implicar supressão do órgão judiciário; e b) quando a mudança superveniente 
alterar a competência absoluta. É o que dispõe o art. 43 do CPC (“Determina-se a competência 
no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modifica-
ções do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão 
judiciário ou alterarem a competência absoluta”).
Fala-se em registro da petição inicial quando no foro houver um único juízo (ex.: comarca 
com uma única vara cível) e em distribuição quando no foro houver mais de um juízo (ex.: foro 
com três varas cíveis, podendo a ação ser distribuída a qualquer um deles).
O fenômeno da perpetuação da jurisdição, como se vê, apresenta-se como importante 
mecanismo de promoção do postulado da segurança jurídica e do princípio do juízo natural, 
evitando-se que a competência do juízo fique à mercê de circunstâncias fáticas ou jurídicas 
supervenientes.
1. STJ, REsp 1598220/RN,Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/06/2019, 
DJe 01/07/2019.
CAPÍTULO IV • COMPETÊNCIA 123
A título de exemplo, imagine que determinada ação fundada em direito pessoal tenha sido 
proposta no foro de Foz do Iguaçu/PR (domicílio do réu) e distribuída ao juízo da 2ª vara cível 
daquela comarca. Três meses após a distribuição da petição inicial, o réu se muda para a cidade 
(e comarca) de Cascavel/PR. Nesse caso, não há falar em remessa dos autos à comarca (foro) 
de Cascavel/PR, justamente em razão da perpetuação da jurisdição. Isso porque, quando a ação 
foi proposta, o réu tinha domicílio em Foz do Iguaçu/PR, sendo a mudança de domicílio uma 
mera alteração superveniente no estado de fato, insuscetível, portanto, de gerar alteração da 
competência.
Contudo, é preciso ficar atento às exceções do art. 43 do CPC. São elas:
	 Supressão do órgão judiciário: se após a propositura da ação o próprio órgão judici-
ário for suprimido, haverá modificação da competência e, consequente, remessa dos 
autos ao juízo competente. A título de exemplo, imagine que o Tribunal de Justiça de 
determinado estado extinga a comarca X, tendo em vista a baixa movimentação de 
processos, deliberando que a área abrangida pela comarca X será abarcada pela comarca 
Y (comarca vizinha com grande movimentação de processos). Note que ao ser extinta 
a comarca X, os juízos daquela comarca (órgãos judiciários), por via consequencial, 
também foram extintos. Nesse caso, houve uma modificação no estado de direito que 
acarretou supressão de órgãos judiciários, razão pela qual as ações que tramitavam nos 
juízos (varas) daquela comarca deverão ser remetidas e distribuídas a um dos juízos 
da comarca Y (novo foro competente);
	Alteração da competência absoluta: é possível que após a propositura da ação haja 
modificação da própria competência absoluta. Por conseguinte, tendo em vista a in-
derrogabilidade da competência absoluta, as ações já distribuídas devem ser remetidas 
ao novo juízo competente. A título de exemplo, imagine que em determinada comarca 
(foro) haja uma única vara (juízo) com competência geral. O Tribunal de Justiça, em 
razão de previsão na Lei de Organização Judiciária, resolve instalar naquela comarca a 
vara de sucessões. A competência desse novo juízo é absoluta, já que se trata de com-
petência em razão da matéria. Logo, as ações de inventário e partilha já distribuídas à 
vara única devem ser remetidas à nova vara, em razão da alteração superveniente da 
competência absoluta. 
3.2. Perpetuação da jurisdição e desmembramento de comarca
O desmembramento de comarca não é causa, por si só, de modificação da competência 
em relação às ações já propostas na comarca originária. A título de exemplo, se no curso do 
processo houver o desmembramento da comarca, em razão da criação de uma nova comarca 
em cidade vizinha, as ações pessoais ajuizadas contra réus domiciliados na cidade que agora 
virou comarca não serão remetidas a ela. Trata-se de modificação no estado de direito que se 
sujeita à regra da perpetuatio jurisdictionis (art. 43 do CPC). Essa é a regra.
Contudo, se o desmembramento da comarca gerar a modificação da competência absoluta, 
nesse caso, os processos que tramitam na comarca originária deverão ser remetidos à nova 
comarca. É o que ocorre, por exemplo, nas ações reais imobiliárias quando o imóvel litigioso 
estiver situado na cidade que, após a propositura da ação, se tornou comarca.
124 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
Nos termos do art. 47 do CPC, “para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é 
competente o foro de situação da coisa”. Trata-se de regra de competência absoluta. Logo, os 
processos dessa natureza, que até então tramitavam na comarca originária, deverão ser remetidos 
à nova comarca (foro de situação da coisa).
Em síntese, o desmembramento de comarca somente implicará remessa dos autos à nova 
comarca se, com o desmembramento, for alterada a competência absoluta.
3.3. Perpetuação da jurisdição e alteração da competência após a sentença
Se o processo já foi sentenciado, qualquer modificação no estado de fato ou de direito, ainda 
que haja alteração da competência absoluta, não afastará a perpetuação da jurisdição, conforme 
entendimento firmado no Superior Tribunal de Justiça2 (ex.: após a prolação da sentença pelo 
juízo da vara cível, é instalada a vara de família na comarca).
3.4. Perpetuação da jurisdição e princípio do juízo imediato
Imagine uma ação de destituição do poder familiar proposta perante a vara de família do 
foro do guardião da criança. No curso do processo, o guardião da criança muda-se com esta 
para outro estado da federação. Neste caso, considera-se perpetuada a jurisdição do foro onde 
a ação foi proposta ou os autos deverão ser remetidos ao foro do novo domicílio da criança?
Segundo o Superior Tribunal de Justiça, aplica-se na hipótese o princípio do juízo imedia-
to, devendo os autos ser remetidos ao foro do novo domicílio da criança, pois é o local onde o 
infante passou a exercer, com regularidade, o seu direito à convivência familiar e comunitária, 
à luz do art. 147 do ECA3. Com esse entendimento, conclui-se que a competência pelo foro do 
local onde a criança ou o adolescente se encontre tem natureza absoluta, revelando-se como 
verdadeira mitigação à regra da perpetuatio jurisdictionis4.
4. COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA
Ao estabelecer os critérios de distribuição da competência, o legislador entendeu por bem, 
em alguns casos, primar pelo interesse público, preservando não apenas a funcionalidade do 
Poder Judiciário como também a segurança jurídica. Nessas hipóteses, a competência é inder-
rogável pela vontade das partes, assumindo, portanto, o status de competência absoluta. Em 
outros casos, privilegiou-se a autonomia da vontade (interesse privado), permitindo-se, assim, 
quer seja pela lei, quer seja pela vontade das partes, a modificação da competência. Fala-se, 
aqui, em competência relativa.
A identificação de uma regra de competência como absoluta ou relativa é muito importante 
para o desenvolvimento do processo, sobretudo por se tratar a competência de pressuposto 
processual de validade. 
2. Nesse sentido: REsp 1209886/DF, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/10/2016, 
DJe 17/10/2016.
3. Art. 147. A competência será determinada: I - pelo domicílio dos pais ou responsável; II - pelo lugar onde se 
encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou responsável.
4. REsp 1404036/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/02/2017, DJe 24/02/2017.
CAPÍTULO IV • COMPETÊNCIA 125
Vejamos abaixo as principais diferenças entre elas:
	 Interesse protegido: a competência absoluta visa atender a um interesse público; a 
competência relativa visa atender a um interesse privado;
	Conhecimento de ofício: a incompetência absoluta pode ser conhecida de ofício, em 
qualquer tempo e grau de jurisdição; a incompetência relativa não pode ser conhecida 
de ofício (súmula 33 do STJ), devendo ser alegada em preliminar de contestação, sob 
pena de preclusão e prorrogação da competência (arts. 65 e 337, II, ambos do CPC). 
Mas é preciso ter cuidado, pois há uma hipótese excepcionalíssima na qual o juiz acaba 
conhecendo, em tese, a incompetência relativa de ofício. Trata-se da possibilidade de 
reconhecer, de ofício, a abusividade de uma cláusula de eleição de foro, nos termos do 
art. 63, § 3º, do CPC. O tema será melhor estudado mais adiante;
	Derrogabilidade: a competência absoluta não pode ser alterada pela vontade das partes, 
ela é inderrogável. A competência relativa, por sua vez, pode ser alterada pela vontade 
das partes (ex.: cláusula de eleição de foro);
	Modificação por conexão ou continência: a competência absoluta não pode ser alterada 
por conexão ou continência; já a competência relativa pode ser alterada por conexão 
ou continência;
	Mudança superveniente da regra de competência: a mudança supervenientede uma 
regra de competência absoluta acarreta o deslocamento da competência e, consequen-
temente, a remessa dos autos em tramitação ao novo juízo (ex.: instalação de uma vara 
de família em comarca onde, até então, havia uma única vara cível com competência 
geral. Nesse caso, os processos de família em trâmite serão remetidos ao novo juízo, 
haja vista a sua competência absoluta em razão da matéria); a mudança superveniente 
de uma regra de competência relativa não acarreta o deslocamento da competência. 
Aplica-se, nesse caso, a regra da perpetuatio jurisdictionis;
	Consequência do reconhecimento da incompetência: o reconhecimento da incom-
petência, absoluta ou relativa, acarreta a remessa dos autos ao juízo competente (art. 
64, § 3º, do CPC). Contudo, no âmbito dos juizados especiais, o reconhecimento da 
incompetência territorial, absoluta ou relativa, acarreta a extinção do processo sem 
resolução de mérito, nos termos do art. 51, III, da Lei nº 9.099/1995;
	Atos praticados perante juízo incompetente: ainda que reconhecida a incompetência, 
absoluta ou relativa, tanto os atos não decisórios quanto os decisórios deverão ter seus 
efeitos conservados, pelo menos até que outra decisão seja proferida, se for o caso, pelo 
juízo competente (art. 64, § 4º, do CPC). A título de exemplo, imagine que em um de-
terminado processo, o juiz defira uma tutela provisória em favor do autor e determine 
a citação do réu, e que este (réu) apresente contestação, alegando, preliminarmente, a 
incompetência absoluta do juízo. Suponhamos que o juiz acolha a preliminar e determine 
a remessa dos autos ao juízo competente. Nesse caso, a decisão que concedeu a tutela 
provisória, proferida pelo juízo absolutamente incompetente, continuará a surtir os seus 
efeitos enquanto não for revogada pelo juízo competente, ao qual o processo foi remetido. 
126 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
4.1. Tabela para fixação do conteúdo
(in)competência absoluta (in)competência relativa
Interesse protegido Público Privado
Conhecimento de ofício Pode ser conhecida de ofício Não pode ser conhecida de ofí-cio (súmula 33 do STJ)
Modificação pela vontade das 
partes Não é possível É possível
Modificação por conexão ou 
continência Não é possível É possível
Modificação superveniente de 
uma regra de competência
Gera deslocamento da compe-
tência e remessa dos autos ao 
novo juízo competente
Não gera deslocamento de com-
petência. Aplica-se a regra da 
perpetuatio jurisdictionis
Consequência do reconheci-
mento da incompetência
Remessa dos autos ao juízo 
competente
Remessa dos autos ao juízo 
competente
Atos praticados pelo juízo 
incompetente
Serão mantidos, em regra, os 
atos não decisórios e os atos 
decisórios, até que o juízo com-
petente os modifique
Serão mantidos, em regra, os 
atos não decisórios e os atos 
decisórios, até que o juízo com-
petente os modifique
5. COMPETÊNCIA DE FORO E COMPETÊNCIA DE JUÍZO
Foro se refere ao espaço territorial onde o juiz exerce jurisdição. Comumente pode ser 
compreendido como comarca, subseção judiciária ou seção judiciária. Juízo, por sua vez, é a 
unidade judiciária dentro do foro. A título de exemplo, se em determinada comarca há dez varas 
cíveis, a comarca representa o foro; as varas cíveis, os respectivos juízos.
No momento da propositura da ação, a parte autora deve verificar não apenas o foro com-
petente, mas também o juízo. Explico. Mustafá pretende ajuizar ação de divórcio litigioso em 
desfavor de Billa, a qual reside com o filho incapaz do casal na comarca X, onde há três varas cíveis 
e uma vara de família. Nesse caso, a ação deverá ser proposta no foro X (art. 53, I, “a”, do CPC) e 
endereçada ao juízo da vara de família, diante da sua competência absoluta em razão da matéria.
A partir do exemplo acima citado, verifica-se que as regras de competência de foro en-
contram-se previstas na Constituição e nas leis em geral (CPC, ECA, CDC etc.) e as regras de 
competência do juízo encontram-se disciplinadas nas Leis de Organização Judiciária. 
6. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA
O registro e a distribuição da ação têm o condão, como visto, de gerar a perpetuação da 
jurisdição (art. 43 do CPC). Além disso, ambos se apresentam como mecanismos para assegurar 
a observância do postulado da segurança jurídica e do princípio do juízo natural. Nos termos 
do art. 284 do CPC, “todos os processos estão sujeitos a registro, devendo ser distribuídos 
onde houver mais de um juiz”. A distribuição, que poderá ser eletrônica, deverá ser alternada 
e aleatória, obedecendo-se rigorosa igualdade. Além disso, a lista de distribuição deverá ser 
publicada no Diário de Justiça.
Observada a competência de foro, é possível que o juízo para o qual a ação foi distribuída 
se torne competente para outras ações futuras que, de alguma forma, tenham ligação com a 
CAPÍTULO XXXIX
AÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA 
DE TRIBUNAL
1. HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA E CONCESSÃO DO EXEQUATUR 
À CARTA ROGATÓRIA
1.1 Introdução
A jurisdição é una e exercida em todo o território nacional. Constitui, ainda, um dos traços 
marcantes da soberania nacional. Nesse sentido, em regra, somente as decisões judiciais emana-
das da justiça brasileira surtem efeitos imediatos e cogentes no território nacional. Tratando-se 
de decisão judicial estrangeira, sua eficácia no Brasil dependerá da observância de certos re-
quisitos impostos pela lei brasileira e de prévia homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. 
Nos termos do art. 960 do CPC, “a homologação de decisão estrangeira será requerida 
por ação de homologação de decisão estrangeira, salvo disposição especial em sentido con-
trário prevista em tratado”. A ação de homologação de sentença estrangeira é de competência 
originária do Superior Tribunal de Justiça, nos termos do art. 105, I, “i”, da CF, observando-se 
o procedimento previsto no CPC, no regimento interno do Superior Tribunal de Justiça e em 
tratado em vigor no Brasil (art. 960, § 2º, CPC). 
A decisão estrangeira somente terá eficácia no Brasil após a homologação de sentença 
estrangeira ou a concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em sentido con-
trário de lei ou tratado (art. 961 do CPC). Não cabe ao Superior Tribunal de Justiça a análise do 
mérito da decisão estrangeira. Não interessa se a decisão, sob a ótica da justiça brasileira, é justa 
ou injusta. Interessa saber, tão somente, se a decisão estrangeira cumpre os requisitos impostos 
pela lei brasileira para que possa ter eficácia no Brasil. 
1.2. Objeto da homologação
A homologação não se restringe às sentenças estrangeiras. Qualquer que seja a natureza do 
pronunciamento judicial estrangeiro (despacho, decisão, sentença ou acórdão), será possível 
a sua homologação pelo Superior Tribunal de Justiça. É passível de homologação a decisão 
judicial definitiva, bem como a decisão não judicial que, pela lei brasileira, teria natureza ju-
risdicional (art. 961, § 1º, do CPC). A título de exemplo, basta imaginar uma decisão proferida 
por tribunal administrativo estrangeiro, proveniente de país que adota o sistema do contencioso 
1048 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
administrativo1. Embora proferida por órgão não pertencente ao Poder Judiciário, aquela decisão, 
no Brasil, seria judicial, pois o Brasil adota o sistema judiciário (sistema inglês). Assim, no exem-
plo citado, a decisão do tribunal administrativo estrangeiro poderá ser homologada no Brasil.
O Superior Tribunal de Justiça já reconheceu a possibilidade de homologação de sentença 
eclesiástica de anulação de matrimônio, confirmada pelo órgão de controle superior da Santa 
Sé2. Tal possibilidade decorre do § 1º do art. 12 do Decreto federal n. 7.107/2010 (que homolo-
gou o acordo firmado entre o Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica 
no Brasil, aprovado pelo Decreto Legislativo n. 698/2009), que determina que a “homologa-
ção das sentenças eclesiásticas em matériamatrimonial, confirmadas pelo órgão de controle 
superior da Santa Sé, será efetuada nos termos da legislação brasileira sobre homologação de 
sentenças estrangeiras” (art. 12, § 1º).  
Registre-se, ademais, que o CPC não exige que a homologação seja integral. É plenamente 
possível a homologação parcial da decisão estrangeira (art. 961, § 2º, do CPC). É possível, ainda, 
homologação de decisão estrangeira para fins de execução fiscal, desde que prevista em tratado 
ou em promessa de reciprocidade apresentada à autoridade brasileira (art. 961, § 4º, do CPC).
Tratando-se de sentença estrangeira de divórcio consensual, sua eficácia no Brasil não está 
condicionada à prévia homologação. Nos termos do § 5º do art. 961 do CPC, “a sentença es-
trangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação 
pelo Superior Tribunal de Justiça”. Nesse caso, competirá a qualquer juiz examinar a validade 
da decisão, em caráter principal ou incidental, quando essa questão for suscitada em processo 
de sua competência (art. 961, § 6º, do CPC).
Por fim, tratando-se de sentença arbitral estrangeira, sua homologação obedecerá ao disposto 
em tratado e em lei, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do CPC sobre homologação 
de decisão estrangeira (art. 960, § 3º, do CPC).
1.3. Execução de decisão estrangeira concessiva de medida de urgência
Nos termos do art. 962, caput, do CPC, “é passível de execução a decisão estrangeira con-
cessiva de medida de urgência”. A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira 
concessiva de medida de urgência dar-se-á por carta rogatória (art. 962, § 1º, do CPC). A 
decisão estrangeira concessiva de medida de urgência pode ser executada no Brasil, ainda que 
tenha sido proferida sem audiência do réu, desde que garantido o contraditório em momento 
posterior (art. 962, § 2º, do CPC).
Questão interessante diz respeito à competência para análise da situação de urgência. O 
juiz brasileiro, ao receber a carta rogatória, pode deixar de cumpri-la por entender que não está 
presente a situação de urgência? A resposta é não. O CPC é expresso em prever que o juízo sobre 
a urgência da medida compete exclusivamente à autoridade jurisdicional prolatora da decisão 
estrangeira (art. 962, § 3º, do CPC).
1. Estuda-se, no Direito Administrativo, os sistemas administrativos. A doutrina, em geral, elenca dois grandes 
sistemas: o primeiro, denominado sistema inglês (ou judiciário), é aquele no qual todos os litígios, sejam de 
caráter administrativo ou privado, se submetem à apreciação do Poder Judiciário, a quem compete proferir 
decisões definitivas. O segundo, denominado sistema francês (ou contencioso administrativo), estrutura-se 
em uma dualidade de jurisdição, convivendo, no mesmo sistema, a jurisdição administrativa, formada por 
tribunais administrativos, e a jurisdição comum, formada pelos órgãos do Poder Judiciário, que julgarão os 
demais litígios (não administrativos).
2. SEC 11.962-EX, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 4/11/2015, DJe 25/11/2015.
CAPÍTULO XXXIX • AÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DE TRIBUNAL 1049
Quando dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no 
Brasil, a decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter sua 
validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensada 
a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 962, § 4º, do CPC).
1.4. Requisitos
Para que a decisão estrangeira possa ser homologada, o art. 963 do CPC exige o preenchi-
mento dos requisitos elencados a seguir:
1.4.1. A decisão deve ter sido proferida por autoridade competente
Para que a decisão estrangeira seja homologada no Brasil, é preciso que a autoridade pro-
latora da decisão tenha competência para tanto. Não será homologada a decisão estrangeira 
quando, a despeito da competência da autoridade estrangeira no país de origem, a decisão 
recair sobre causa de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira, nos termos do 
art. 23 do CPC. Nesse sentido, dispõe o art. 964, caput, do CPC, que “não será homologada a 
decisão estrangeira na hipótese de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira”. 
Esse dispositivo também se aplica à concessão do exequatur à carta rogatória (art. 964, parágrafo 
único, do CPC).
1.4.2. A decisão deve ter sido precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia
Conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, “não pode ser homologada senten-
ça estrangeira que decrete divórcio de brasileira que, apesar de residir no Brasil em local 
conhecido, tenha sido citada na ação que tramitou no exterior apenas mediante publicação 
de edital em jornal estrangeiro, sem que tenha havido a expedição de carta rogatória para 
chamá-la a integrar o processo”3.
1.4.3. A decisão deve ser eficaz no país em que foi proferida
A decisão somente pode ter eficácia no Brasil se tiver eficácia no país de origem. Isso porque, 
conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, “o procedimento homologatório não acres-
centa eficácia à sentença estrangeira, mas somente libera a eficácia nela contida, internalizando 
seus efeitos em nosso País, não servindo, pois, a homologação de sentença para retirar vícios 
ou dar interpretação diversa à decisão de Estado estrangeiro”4. Considera-se eficaz a decisão 
que possa ser executada no país de origem, ainda que provisoriamente, de modo que haven-
do pronunciamento judicial suspendendo a produção de efeitos da sentença que se pretende 
homologar no Brasil, mesmo que em caráter liminar, a homologação não pode ser realizada5.
1.4.4. A decisão não pode ofender a coisa julgada brasileira
O respeito à coisa julgada é um direito fundamental (art. 5º, XXXVI, da CF). Se a demanda 
decidida no estrangeiro já foi julgada anteriormente no Brasil com decisão transitada em julgado, 
3. SEC 10.154-EX, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 1º/7/2014.
4. SEC 5.782/EX (Rel. Ministro Jorge Mussi, Corte Especial, DJe 16.12.2015.
5. Cf. SEC 14.812/EX, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/05/2018, DJe 23/05/2018.
1050 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
a decisão estrangeira não será homologada. Incumbe ao réu provar eventual coisa julgada bra-
sileira que seja ofendida pela sentença estrangeira homologanda, nos termos do inciso II do 
art. 373 do CPC/15, pois se trata de fato impeditivo do direito do autor à homologação pelo 
Superior Tribunal de Justiça da sentença estrangeira6. 
Não obstante, há certas relações jurídicas que, mesmo após o trânsito em julgado da de-
cisão, podem ser modificadas, como é o caso, por exemplo, da guarda e alimentos no direito 
das famílias. Conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, “a existência de decisão no 
Judiciário brasileiro acerca de guarda e alimentos, ainda que após o trânsito em julgado da sen-
tença estrangeira, impede a sua homologação na parte em que versa sobre os mesmos temas, 
sob pena de ofensa aos princípios da ordem pública e soberania nacional”7.
1.4.5. A decisão deve estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dis-
pense prevista em tratado
No Brasil, é obrigatório, para os atos e termos do processo, o uso da língua portuguesa (art. 
192, caput, do CPC). O documento redigido em língua estrangeira somente poderá ser juntado 
aos autos quando acompanhado de versão para a língua portuguesa tramitada por via diplomá-
tica ou pela autoridade central, ou firmada por tradutor juramentado (art. 192, parágrafo único, 
do CPC). A tradução oficial da decisão é, portanto, requisito formal obrigatório, e somente 
será dispensada quando houver previsão nesse sentido em tratado e, evidentemente, quando a 
decisão estrangeira foi redigida em língua portuguesa (ex.: decisão proveniente de Portugal8).
Importante registrar, ainda, que, para o Superior Tribunal de Justiça, a exigência da tradução 
da sentença estrangeira por meio de tradutor oficial ou juramentado no Brasildeve ser mitigada 
quando o pedido de homologação tiver sido encaminhado pela via diplomática9.
1.4.6. A decisão não pode conter manifesta ofensa à ordem pública
Nos termos do art. 216-F do regimento interno do Superior Tribunal de Justiça, não será 
homologada a decisão estrangeira que ofender a soberania nacional, a dignidade da pessoa 
humana e/ou a ordem pública. A decisão estrangeira não será homologada quando ofender os 
valores, princípios, regras e demais diretrizes constitucionais que revelam a forma de ser do 
Estado brasileiro. A título de exemplo, não será homologada decisão estrangeria que tenha por 
objeto prisão civil de depositário infiel, pois o Estado brasileiro, à luz do Pacto de São José da 
Costa Rica, não a admite.
Para o Superior Tribunal de Justiça, “a prerrogativa da imparcialidade do julgador é uma 
das garantias que resultam do postulado do devido processo legal, matéria que não preclui e é 
aplicável à arbitragem, mercê de sua natureza jurisdicional. A inobservância dessa prerrogativa 
ofende, diretamente, a ordem pública nacional, razão pela qual a decisão proferida pela Justiça 
alienígena, à luz de sua própria legislação, não obsta o exame da matéria pelo STJ”10.
6. Cf. HDE 818/EX, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL, julgado em 04/09/2019, DJe 10/09/2019.
7. SEC 6.485/EX, Rel. Ministro GILSON DIPP, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/09/2014, DJe 23/09/2014.
8. Cf. HDE 465/EX, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 05/12/2018, DJe 12/12/2018.
9. Cf. SEC 13.818/EX, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/12/2015, DJe 
18/12/2015.
10. SEC 9.412/EX, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Rel. p/ Acórdão Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, CORTE ES-
PECIAL, julgado em 19/04/2017, DJe 30/05/2017.
CAPÍTULO XXXIX • AÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DE TRIBUNAL 1051
1.5. Procedimento
1.5.1. Homologação de decisão estrangeira
A homologação da decisão estrangeira será proposta pela parte requerente, devendo a 
petição inicial: a) conter os requisitos indicados na lei processual, bem como os previstos na 
lei e no art. 216-D do RISTJ; b) ser instruída com o original ou cópia autenticada da decisão 
homologanda e de outros documentos indispensáveis, devidamente traduzidos por tradutor 
oficial ou juramentado no Brasil e chancelados pela autoridade consular brasileira competente, 
quando for o caso (art. 216-C do RISTJ).
Se a petição inicial não preencher os requisitos exigidos pela lei e pelo regimento interno, 
ou apresentar defeitos ou irregularidades que dificultem o julgamento do mérito, o Presidente 
do Superior Tribunal de Justiça assinará prazo razoável para que o requerente a emende ou com-
plete (art. 216-E, caput, do RISTJ). Após a intimação, se o requerente ou o seu procurador não 
promover, no prazo assinalado, ato ou diligência que lhe for determinada no curso do processo, 
será este arquivado pelo Presidente (art. 216-E, parágrafo único, do RISTJ).
Admitida a ação, a parte interessada será citada para, no prazo de quinze dias, contestar o 
pedido (art. 216-H do RISTJ). A defesa somente poderá versar sobre a inteligência da decisão 
alienígena e a observância dos requisitos legais. Logo, não é possível discutir o mérito da decisão. 
Se o requerido for revel ou incapaz, ser-lhe-á nomeado curador especial, que será pessoalmente 
notificado (art. 216-I do RISTJ). Apresentada contestação, serão admitidas réplica e tréplica 
em cinco dias (art. 216-J do RISTJ). Contestado o pedido, o processo será distribuído para 
julgamento pela Corte Especial, cabendo ao relator os demais atos relativos ao andamento e à 
instrução do processo (art. 216-K, caput, do RISTJ).
Havendo jurisprudência consolidada da Corte Especial a respeito do tema, o relator poderá 
decidir monocraticamente (art. 216-K, parágrafo único, do RISTJ).
O Ministério Público terá vista dos autos pelo prazo de quinze dias, podendo impugnar o 
pedido (art. 216-L, do RISTJ).
Julgado procedente o pedido, a decisão estrangeira será homologada e executada por carta 
de sentença no Juízo Federal competente, conforme as normas estabelecidas para o cumprimento 
de decisão nacional (art. 216-N do RISTJ e art. 965, caput, do CPC). 
O pedido de execução deverá ser instruído com cópia autenticada da decisão homologa-
tória ou do exequatur, conforme o caso (art. 960, parágrafo único, do CPC). Contra decisões 
proferidas pelo Presidente ou relator cabe agravo interno para a Corte Especial (art. 216-M do 
RISTJ). Contra o acórdão que homologa a decisão estrangeira caberá recurso extraordinário, 
caso haja violação à Constituição Federal.
1.5.2. Concessão de exequatur a cartas rogatórias
A carta rogatória é o instrumento por meio do qual um órgão jurisdicional solicita a um 
órgão jurisdicional estrangeiro um ato de cooperação jurídica internacional, relativo a processo. 
É o que ocorre, por exemplo, com as decisões interlocutórias estrangeiras concessivas de tutela 
provisória de urgência. A execução dessas decisões dar-se-á por carta rogatória (art. 962, § 1º, 
do CPC), não cabendo à autoridade judiciária brasileira a análise quanto à urgência ou não da 
medida (art. 962, § 3º, do CPC).
Será concedido exequatur à carta rogatória que tiver por objeto atos decisórios ou não deci-
sórios (art. 216-O, § 1º, do RISTJ). Os pedidos de cooperação jurídica internacional que tiverem 
1052 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
por objeto atos que não ensejem juízo deliberatório do Superior Tribunal de Justiça, ainda que 
denominados de carta rogatória, serão encaminhados ou devolvidos ao Ministério da Justiça 
para as providências necessárias ao cumprimento por auxílio direto (art. 216-O, § 2º, do RISTJ). 
O cumprimento da carta rogatória estrangeira, pela autoridade judiciária brasileira (Justiça 
Federal) está condicionada à prévia concessão de exequatur pelo Superior Tribunal de Justiça.
É atribuição do Presidente do Superior Tribunal de Justiça conceder exequatur a cartas 
rogatórias (art. 216-O do RISTJ), salvo quando houver impugnação ao pedido de concessão de 
exequatur à carta rogatória de ato decisório, hipótese em que o Presidente poderá determinar a 
distribuição dos autos do processo para julgamento pela Corte Especial (art. 216-T do RISTJ).
Assim como ocorre na homologação de decisão estrangeira, não será concedido exequatur 
à carta rogatória que ofender a soberania nacional, a dignidade da pessoa humana e/ou a ordem 
pública (art. 216-P do RISTJ).
Recebida a carta rogatória, a parte requerida será intimada para, no prazo de quinze dias, 
impugnar o pedido de concessão do exequatur (art. 216-Q, caput, do RISTJ). No processo de 
concessão do exequatur, a defesa somente poderá versar sobre a autenticidade dos documentos, 
a inteligência da decisão e a observância dos requisitos previstos neste Regimento (art. 216-Q, 
§ 2º, do RISTJ).
A medida solicitada por carta rogatória poderá ser realizada sem ouvir a parte requerida, 
quando sua intimação prévia puder resultar na ineficiência da cooperação internacional (art. 
216-Q, § 1º, do RISTJ). Se o requerido for revel ou incapaz, ser-lhe-á nomeado curador especial 
(art. 216-R do RISTJ). O Ministério Público terá vista dos autos nas cartas rogatórias pelo prazo 
de quinze dias, podendo impugnar o pedido de concessão do exequatur (art. 216-S do RISTJ).
Das decisões do Presidente ou do relator na concessão de exequatur a carta rogatória caberá 
agravo (art. 216-U do RISTJ).
Após a concessão do exequatur, a carta rogatória será remetida ao juízo federal competente 
para cumprimento (art. 216-V, caput, do RISTJ). Das decisões proferidas pelo juízo federal 
competente no cumprimento da carta rogatória caberão embargos, que poderão ser opostos 
pela parte interessada ou pelo Ministério Público Federal no prazo de dez dias, julgando-os 
o Presidente deste Tribunal (art. 216-V, § 1º, do RISTJ). Os embargos poderão versar sobre 
qualquer ato referente ao cumprimento da carta rogatória, exceto sobre a própriaconcessão da 
medida ou o seu mérito (art. 216-V, § 1º, do RISTJ). Da decisão que julgar os embargos cabe 
agravo (art. 216-W, caput, do RISTJ).
Cumprida a carta rogatória ou verificada a impossibilidade de seu cumprimento, será de-
volvida ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça no prazo de dez dias, e ele a remeterá, 
em igual prazo, por meio do Ministério da Justiça ou do Ministério das Relações Exteriores, à 
autoridade estrangeira de origem (art. 216-X do RISTJ).
2. AÇÃO RESCISÓRIA
2.1. Conceito
Toda decisão judicial deve pressupor um processo justo e democrático, cujo resultado é a 
criação de uma norma jurídica individualizada. Para corrigir eventuais desacertos no proce-
dimento (error in procedendo) e desacertos no conteúdo das decisões (error in judicando), o 
ordenamento jurídico prevê instrumentos de impugnação de decisões (recursos), a fim de que 
a decisão possa ser reanalisada por um órgão jurisdicional diverso daquele prolator da decisão. 
CAPÍTULO XXXIX • AÇÕES DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DE TRIBUNAL 1053
Esgotadas as vias recursais, a decisão se torna indiscutível e imutável. A coisa julgada material 
– autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso – 
representa um importante fator de segurança jurídica e estabilidade aos jurisdicionados. 
Ainda que o processo contenha algum vício que somente foi observado após o trânsito em 
julgado, a coisa julgada deve prevalecer, sob pena de se admitir discussões ad aeternum, o que 
não faz bem para um sistema processual que prima por segurança jurídica. Há casos, porém, 
em que a decisão que transitou em julgado ofende tão fortemente as estruturas do processo 
democrático, que o ordenamento jurídico permite a sua rediscussão por meio de uma ação 
impugnativa autônoma, denominada ação rescisória.
A ação rescisória, nessa perspectiva, é a ação autônoma de impugnação de decisão judicial 
transitada em julgado, por meio da qual a parte busca a desconstituição da coisa julgada (iudicium 
rescidens) e, em determinados casos, o rejulgamento da causa (iudicium rescissorium). Não se 
trata de recurso. Aliás, conforme prevê o art. 969 do CPC, “a propositura da ação rescisória não 
impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória”.
2.2. Objeto da ação rescisória: decisão rescindível
2.2.1. Decisão de mérito
Em regra, a ação rescisória é cabível contra decisão de mérito transitada em julgado. Por 
decisão de mérito devemos compreender a decisão que acolhe ou rejeita o pedido do autor (art. 
487, I, do CPC) e a decisão que pronuncia a prescrição ou decadência (art. 487, II, do CPC). A 
decisão homologatória de reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na 
reconvenção, de transação ou de renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção 
(art. 487, III, do CPC) não se sujeita à ação rescisória, mas sim à ação anulatória, conforme será 
visto mais adiante.
A ação rescisória pressupõe uma decisão transitada em julgado (art. 966 do CPC). O art. 
966 do CPC não utilizou a palavra sentença justamente porque, como se sabe, é possível que 
uma decisão interlocutória resolva parte do mérito (ex.: art. 356 do CPC), e, por conseguinte, 
fique acobertada pelo manto da coisa julgada.
Algumas decisões de mérito, por expressa disposição legal, não podem ser desconstituídas 
por meio da ação rescisória. A título de exemplo, podem ser citados: a) acórdãos proferidos pelo 
Supremo Tribunal Federal no âmbito do controle concentrado de constitucionalidade (art. 26 
da Lei nº 9.868/1999 e art. 12 da Lei nº 9.882/1999); b) sentença/acórdão proferido nos juizados 
especiais cíveis (art. 59 da Lei nº 9.099/1995). Embora não haja dispositivo expresso na Lei nº 
10.259/2001, entende-se que no âmbito dos juizados especiais federais também não é possível 
a propositura de ação rescisória.
A ação rescisória pode ter por objeto apenas um ou todos os capítulos da decisão rescin-
denda, conforme prevê o § 3º do art. 966 do CPC (“A ação rescisória pode ter por objeto apenas 
1 (um) capítulo da decisão”). Aliás, para o Superior Tribunal de Justiça, é cabível o ajuizamento 
de ação rescisória para discutir exclusivamente honorários advocatícios, independentemente 
de a decisão ter enfrentado o mérito da ação11.
11. Cf. REsp 1.217.321-SC, Rel. originário Min. Herman Benjamin, Rel. para acórdão Min. Mauro Campbell Marques, 
julgado em 18/10/2012.
CAPÍTULO XL
PROCESSO ESTRUTURAL
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, houve um crescimento significativo do estudo do processo civil à luz dos 
denominados litígios estruturais (ou litígios estruturantes). O Poder Judiciário vem enfrentando 
desafios cada vez maiores, que transcendem o mero reconhecimento e efetivação de direitos 
individuais ou metaindividuais clássicos. Há determinadas pretensões que buscam romper 
estruturas fáticas, jurídicas, políticas ou institucionais já consolidadas.
A necessidade de ruptura de estruturas consolidadas pode decorrer de diversos fatores, 
sendo que nem sempre estarão relacionados à existência de atos ilícitos. Basta imaginar, por 
exemplo, a necessidade de reforma estrutural em países confessionais, para permitir o ensino 
e propagação de outras religiões; ou ainda uma demanda judicial objetivando implementar 
uma nova política pública de prevenção de surtos, pandemias e epidemias. O campo dos 
litígios estruturais é imenso (ex.: saúde, educação, meio ambiente, sistema penitenciário etc.).
A complexidade dos litígios estruturais – especialmente por envolver compreensões que não 
se restringem unicamente ao direito positivo e por envolver interesses multipolares e multifa-
cetados – exige um processo judicial adequado não apenas para o reconhecimento dos direitos 
suscitados, mas, especialmente, para a efetiva transformação estrutural, o que demanda tempo, 
múltiplos esforços, políticas públicas e, quase sempre, recursos públicos.
O presente capítulo não tem a pretensão de aprofundar o estudo dos processos estruturais, 
mas apenas traçar algumas linhas de compreensão desse instigante tema que tem ganhado cada 
vez mais espaço nos debates jurídicos.
2. ANTECEDENTE HISTÓRICO: BROWN V. BOARD OF EDUCATION
No final do século XIX, uma lei do Estado de Louisiana (EUA), conhecida como “lei dos 
vagões separados” (separate car act) determinava que as companhias ferroviárias separassem as 
pessoas por vagões conforme a cor da pele (vagões para negros e vagões para brancos), porém 
as acomodações deveriam ser as mesmas. Homer Plessy, passageiro de uma companhia ferro-
viária, após ser preso e condenado a pagar uma multa pelo magistrado John Howard Ferguson, 
questionou nos tribunais a constitucionalidade da lei1, até o caso chegar à Suprema Corte nor-
te-americana (caso Plessy v. Ferguson). 
1. A tese dos advogados de Plessy era a de que a lei de Louisiana era inconstitucional, pois violava a Décima Ter-
ceira Emenda (fim da escravidão e da servidão involuntária) e a Décima Quarta Emenda (garante a igualdade 
perante a lei) à Constituição.
1084 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
Ao julgar o caso, em 1896, os Justices da Suprema Corte norte-americana rejeitaram o 
pedido de Plessey para, lamentavelmente, considerar a lei de Louisiana constitucional, sob o 
fundamento de que a separação de vagões entre brancos e negros não seria inconstitucional, já 
que as acomodações eram as mesmas. Ratifica-se, àquela altura, a doutrina do “separado, mas 
igual” (separate but equal). Como não poderia ser diferente, diante da força dos precedentes nos 
EUA, a referida decisão da Suprema Corte passou a ser aplicada a outras áreas da sociedade, 
tais como sistema de ensino, sistema de saúde e sistema prisional, legitimando, ainda mais, a 
segregação racial e durando aproximadamente cinquenta e oito anos.
Já na década de 1950, Linda Brown, uma criança negra, percorria um longo caminho de casa 
à sua escola, na cidade de Topeka, Estado de Kansas, embora houvesse outras escolas públicaspróximas à sua residência. Esse longo caminho percorrido devia-se ao fato de as escolas mais 
próximas à sua residência não aceitarem crianças negras. Linda Brown, então, demandou contra 
o Conselho de Educação estadual exigindo sua matrícula em escolas próximas à sua residência.
A questão chegou à Suprema Corte norte-americana (caso Brown v. Board of Education). A 
sociedade não tolerava mais a segregação racial. Os Justices perceberam que eventual decisão no 
sentido da não-segregação geraria um enorme impacto na sociedade e nas instituições públicas, 
pois a decisão transcenderia, evidentemente, a temática da segregação no ensino, projetando-se 
para todos os segmentos da sociedade. Em decisão unânime, os Justices da Suprema Corte, à luz 
da Décima Quarta Emenda2, reconheceram a inconstitucionalidade da segregação racial nas 
escolas, porém não estabeleceram a forma de implementação desse novo modelo educacional 
de não-segregação racial. Tal tarefa coube às instâncias inferiores da justiça.
O caso Brown v. Board of Education demonstra bem o drama do chamado litígio estrutu-
rante (structural litigation), o qual é timbrado pela necessidade de modificação de uma estrutura 
institucional consolidada, a exigir do Poder Judiciário a adoção de um procedimento adequado 
para a solução desse tipo de litígio e, sobretudo, medidas de ingerência vocacionadas à modi-
ficação da estrutura institucional.
3. CONCEITO DE LITÍGIO ESTRUTURAL (STRUCTURAL LITIGATION)
Não há na doutrina um conceito fechado de litígio estrutural. Há, contudo, determinadas 
características que, uma vez reunidas, revelam a natureza estrutural do litígio. Nesse sentido, o 
litígio estrutural tem como principais características:
	Relevância do tema: o litígio transcende o caso concreto, de modo a atingir a sociedade 
de forma total ou parcial. Em regra, envolve a necessidade de promoção de direitos 
fundamentais;
	Complexidade da causa: a solução do litígio exige uma acentuada atividade cognitiva 
e interpretativa, pois os efeitos do litígio atingem pessoas, grupos de pessoas ou seg-
mentos da sociedade de forma diferente;
2. Dispõe a Décima Quarta Emenda que “todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e 
sujeitas à sua jurisdição, são cidadãos dos Estados Unidos e do estado onde residem. Nenhum Estado poderá 
aprovar ou fazer executar leis restringindo os privilégios ou imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos, nem 
poderá privar qualquer pessoa de sua vida, liberdade ou propriedade sem o devido processo legal, nem negar 
a qualquer pessoa sob sua jurisdição a igualdade de proteção perante a lei”. 
CAPÍTULO XL • PROCESSO ESTRUTURAL 1085
	Necessidade de políticas públicas para a implementação da solução dada ao litígio: o 
litígio estrutural tem como ponto central a necessidade de uma reforma estrutural em 
sistemas (ou modelos) institucionais, o que demanda adoção de políticas públicas; 
	 Existência de múltiplos interesses: o litígio reflete na sociedade de forma difusa. Atinge 
parcelas da sociedade de forma diferente, gerando, assim, interesses variados; 
	Necessidade de ruptura com um sistema ou estrutura institucional consolidada: o 
litígio estrutural decorre da desconformidade do estado atual de coisas com a realidade 
social, a exigir uma verdadeira reforma institucional. 
 Segundo Edilson Vitorelli, nos litígios estruturais, “a lesão afeta, de modo desigual e variável, 
tanto em intensidade, quanto em natureza, uma sociedade que se subdivide em vários grupos. 
Essas pessoas não têm laços de identidade entre si, não compartilham dos mesmos interesses 
e, por isso, compõem uma sociedade que é a decorrência da superposição de interesses apenas 
parcialmente coincidentes e, em alguns casos, antagônicos”3. 
4. PROCESSO ESTRUTURAL
4.1. Processo estrutural e a necessidade de um procedimento adequado
Os litígios estruturais estão intimamente ligados a ações ou omissões advindas do poder 
público, notadamente dos poderes legislativo e executivo. Quando o Poder Judiciário é instado 
a resolver litígios estruturais, é porque os demais poderes não cumpriram o seu papel consti-
tucional. Portanto, o Poder Judiciário é provocado para intervir no campo político. Nada há de 
inconstitucional na atuação do Poder Judiciário em litígios estruturais envolvendo políticas públi-
cas. O caso Brown v. Board of Education ilustra bem essa constatação. Litígios estruturais exigem 
processos estruturalmente adequados para o reconhecimento e implementação dos direitos.
Os litígios estruturais são incompatíveis com um sistema procedimental fechado. O sistema 
processual pensado e desenvolvido para solucionar litígios bipolares clássicos (autor v. réu) é 
insuficiente para resolver litígios estruturais. A necessidade de se romper com os arquétipos 
procedimentais legais não torna o processo menos democrático, mas, ao revés, permite que o 
processo alcance os seus escopos. Amarrar o juiz e todos os envolvidos nos litígios estruturais 
a um rito legal predefinido põe em xeque a legitimidade do processo, da decisão final e das 
consequentes medidas de implementação. Dizendo por outras palavras, a construção de um 
processo estrutural demanda a desconstrução dos modelos processuais formais abstratos.
Nessa perspectiva, podem ser identificadas, dentre outras, as seguintes características de 
um processo estrutural: a) fortalecimento do poder-dever de gestão do processo do juiz; b) 
flexibilização dos princípios da demanda e da congruência; c) necessidade de participação 
adequada no processo estrutural; d) saneamento comparticipativo; e) construção adequada da 
decisão estrutural; f) decisão de mérito como decisão com múltiplo conteúdo.
As linhas seguintes serão dedicadas à análise sucinta de cada uma dessas características.
3. VITORELLI, Edilson. Litígios estruturais: decisão e implementação de mudanças socialmente relevantes pela 
via processual. Processos Estruturais. 2ª edição, rev., atual. e ampl. Salvador: Juspodivm, 2019, p. 272.
1086 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
4.2. Fortalecimento do poder-dever de gestão do processo do juiz
O desenvolvimento de um processo estrutural exige maior autonomia do juiz na gestão do 
processo. Ao magistrado incumbe adotar a forma mais adequada para os atos processuais prati-
cados. O modelo cooperativo de processo adotado pelo CPC/15 é compatível com tal exigência. 
O princípio da adaptabilidade (ou flexibilização) do procedimento pode ser extraído da norma 
constante no inciso VI do art. 139 do CPC, que permite ao juiz “dilatar os prazos processuais e 
alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de 
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito”.
A maior autonomia do juiz na gestão do processo, porém, não confere a ele um poder dis-
cricionário. A gestão processual é um poder-dever. Nas palavras de Paulo Ramos de Faria, “a 
atividade desenvolvida pelo juiz com significado externo constitui sempre uma manifestação 
de poder – do poder judicial. Todavia, em momento algum este exercício do poder está na 
disponibilidade do seu titular, para o exercer de acordo com a sua livre vontade. Todo poder 
exercido pelo juiz – quer surja no âmbito de uma atividade apelidada de jurisdicional, quer seja 
de mero expediente; quer seja tido por discricionário, quer seja marcadamente vinculado – é 
um poder funcional”, apenas sendo legítimo o seu exercício quando orientado para servir os 
fins que justificaram a sua outorga”4.
O poder-dever de gestão do processo permite ao juiz combinar procedimentos e institu-
tos processuais. O processo estrutural, assim como ocorre nos processos coletivos em geral, 
demanda um maior intercâmbio entre diplomas normativos processuais (ex.: aplicação, no 
mesmo processo, de regras previstas na lei da ação civil pública, lei da ação popular, código de 
defesa do consumidor etc.). 
4.3. Flexibilização dos princípios da demanda e da congruência
Uma das características da jurisdiçãoé a inércia. Isso significa que a função jurisdicional 
depende de provocação (ne procedat iudex ex officio). Nos termos do art. 2º do CPC, “o processo 
começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas 
em lei” (princípio dispositivo). O princípio dispositivo se relaciona intimamente com dois outros 
princípios: princípio da demanda (art. 141 do CPC) e princípio da congruência (art. 492 do CPC) 
Nos termos do art. 141 do CPC, “o juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, 
sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da 
parte”. Por sua vez, o art. 490 do CPC dispõe que “o juiz resolverá o mérito acolhendo ou rejei-
tando, no todo ou em parte, os pedidos formulados pelas partes”.
A hipercomplexidade de um litígio estrutural gera enormes dificuldades para a correta 
identificação dos pedidos e delimitação da controvérsia. Embora haja uma certa certeza quanto 
à reforma que se pretende implementar em uma determinada estrutura social ou institucional, 
dificilmente será possível determinar, de antemão, as consequências do ato ou do fato ensejador 
do litígio estrutural, exigindo-se, por conseguinte, a formulação de um pedido genérico (art. 
324, § 1º, II, do CPC). 
A resolução de um litígio estrutural, por romper estruturas preestabelecidas e afetar uma 
parcela da sociedade, deve ocorrer de forma dialógica, mediante atuação comparticipativa, 
4. FARIA, Paulo Ramos. Regime processual civil experimental comentado. Coimbra: Almedina. 2010, p. 38.
CAPÍTULO XL • PROCESSO ESTRUTURAL 1087
razão pela qual a delimitação do objeto não pode se concentrar nas mãos do postulante. Por 
conseguinte, o juiz não estará vinculado aos limites do pedido inicial.
A despeito da necessária flexibilização dos princípios da demanda e da congruência, a de-
cisão judicial final, por outro lado, não pode representar inovação, sob pena de ofensa ao art. 10 
do CPC. Em outras palavras, embora a decisão final não esteja adstrita aos limites objetivos do 
pedido inicial, não pode ultrapassar os limites da controvérsia estabelecida no curso do processo. 
Não apenas em relação aos pedidos, mas também à própria causa de pedir. Circunstâncias 
fáticas não apresentadas pelo postulante, mas relevantes para a compreensão do litígio devem 
ser consideradas nos debates e nas futuras decisões. Isso decorre do fato de que o processo estru-
tural não se volta ao restabelecimento do status quo, mas sim à construção de um novo modelo 
institucional. É possível que fatos pretéritos não mencionados pelo autor sejam relevantes para 
a compreensão do litígio e projeção das reformas necessárias. 
4.4. Necessidade de participação adequada no processo estrutural
Os litígios estruturais são predominantemente coletivos e multipolarizados. Essa multipo-
larização reflete diretamente no campo da legitimidade para agir e na representatividade dos 
atores processuais. A representatividade adequada (adequacy of representation) do postulante 
é um critério proveniente das class actions norte-americana. Por meio desse critério, o autor da 
ação coletiva deve demonstrar, de antemão, reunir as condições necessárias para postular em 
nome do grupo. O postulante há de ser um efetivo “porta-voz” do grupo (ou parte do grupo) 
detentor da pretensão; deve ter autoridade suficiente para falar em nome do grupo. Trata-se de 
um requisito de admissibilidade da ação coletiva. 
A jurisprudência norte-americana tem estabelecido alguns filtros para a aferição da repre-
sentatividade adequada. São eles: a) o autor deve demonstrar o interesse e a habilidade para 
representar a classe de forma mais completa possível (vigorous prosecution test); b) o autor deve 
demonstrar a inexistência de conflito de interesse entre ele e os membros grupo; c) o autor deve 
demonstrar a existência de motivação adequada para demandar em nome do grupo (motives 
of representative)5.
No campo do processo coletivo, o sistema jurídico brasileiro adota um modelo que con-
fere a certos entes a legitimidade para, em nome próprio, defender interesses metaindividuais 
independentemente de demonstração da efetiva representatividade adequada. É o que ocorre, 
por exemplo, com o Ministério Público, tendo em vista o seu perfil constitucional de defensor 
da ordem jurídica, do regime democrático, dos interesses sociais e individuais indisponíveis 
e do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos 
(arts. 127, caput, e 129, III, da CF). 
Para alguns outros legitimados, o controle da representatividade adequada decorre de requi-
sitos previamente definidos na lei. É o que ocorre, por exemplo, com as associações (arts. 5º, V, 
da Lei nº 7.347/1985 e 82, IV, da Lei nº 8.078/1990), as quais devem preencher, como regra, os 
seguintes requisitos: a) constituição há pelo menos um ano; b) tenham como fim institucional 
a defesa dos interesses e direitos que constituam o objeto da demanda.
Para o Superior Tribunal de Justiça, “a qualidade moral e técnica necessária para a configura-
ção da pertinência temática e da representatividade adequada tem íntima relação com o respeito 
5. Cf. DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes. Curso de direito processual civil. 11ª edição, revista, ampliada e 
atualizada. Salvador: Juspodivm. 2017, v. 4, p.205-206. 
1088 MANUAL DE PROCESSO CIVIL • Jaylton Lopes Jr.
das garantias processuais das pessoas substituídas, a legitimidade do provimento jurisdicional 
com eficácia ampla e a própria instrumentalização da demanda coletiva, evitando o ajuizamento 
de ações temerárias, sem fundamento razoável, ou propostas por motivos simplesmente políticos 
ou emulatórios. Em relação ao Ministério Público e aos entes políticos, que tem como finalidades 
institucionais a proteção de valores fundamentais, como a defesa coletiva dos consumidores, 
não se exige pertinência temática e representatividade adequada”6.
Nos processos coletivos, os postulantes são, quase sempre, legitimados extraordinários. 
Atuam em nome próprio na defesa de interesses alheios (grupo). O grande problema é que, 
não raras vezes, os interesses defendidos pelo legitimado em juízo não são os reais interesses 
da coletividade. Nos processos estruturais, tendo em vista o maior impacto que há na tessitu-
ra social, os problemas da representatividade adequada são ainda mais dramáticos. Segundo 
Sérgio Cruz Arenhart, “o que se observa nos processos coletivos é que a ‘representação’ – pelo 
legitimado coletivo – dos interesses metaindividuais e individuais de massa postos em discussão 
é (ou pode ser), em grande medida, fictícia. Prevalece, em suma, a vontade do autor coletivo, 
tanto na determinação da lide, como na condução do processo. E essa vontade, obviamente, 
pode ser bastante diversa daquela que de fato é manifestada pela sociedade ou pelo grupo em 
favor de quem se atua”7. 
Com efeito, ainda que o legislador tenha optado por conferir, de forma prévia e abstrata, 
legitimidade a um grupo restrito de sujeitos ou entes (arts. 1º da Lei nº 4.717/1965, 5º da Lei nº 
7.347/1985 e 82 da Lei nº 8.078/1990), o processo estrutural não pode se desenvolver única e 
exclusivamente a partir dos pedidos formulados pelo postulante, pois nem sempre eles corres-
ponderão aos reais anseios da coletividade. A ilegitimidade democrática do postulante contribui 
para uma ilegitimidade democrática da decisão. Nesse sentido, a participação de amicus curiae 
e a realização de audiências públicas para oitiva de pessoas, instituições, grupos e segmentos 
da sociedade, especialmente representativos de todos os grupos afetados, são mecanismos efi-
cientes para a correta delimitação do litígio estrutural e construção de uma decisão mais justa 
e democrática8.
O problema não é só a falta de filtro para a aferição da representatividade adequada. É 
possível que a ausência de representatividade adequada só seja percebida no curso do processo, 
ou, ainda, que o legitimado ativo perca sua

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