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1 MÓDULO III – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ANA LUÍZA A. PAIVA – 4º PERÍODO 2021/2 OBJETIVOS 1- Conceituar a osteoartrite 2-Descrever a osteoartrite (manifestações clínicas, diagnósticos diferenciais, prognóstico, padrão articular, tratamento) 3- Explicar a marcha do paciente com osteoartrite REFERÊNCIAS USP. Clínica médica, volume 5: doenças endócrinas e metabólicas, doenças ósseas, doenças reumatológicas. Barueri, SP: Manole, 2009. Ministério da Saúde. Protocolos de encaminhamento da atenção básica para a atenção especializada. Volume III: Reumatologia e Ortopedia, 2016. REZENDE, Márcia Uchôa; CAMPOS Gustavo Constantino; PAILO, Alexandre Felício. Conceitos atuais em osteoartrite. Acta Ortop Bras. São Paulo, v. 21, n. 2, p.120-2, jan., 2013. DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA A osteoartrite (OA) tem sido considerada uma condição degenerativa da articulação, como consequência do envelhecimento, associado à exposição de fatores de risco. Decorre de uma multiplicidade de fatores causais, desencadeantes e agravantes, devendo, ser encarada como uma síndrome, na qual a perda qualitativa e quantitativa da cartilagem articular acarreta uma significativa remodelação óssea hipertrófica local e uma inflamação secundária. Do ponto de vista fisiopatológico, a osteoartrite é definida como uma insuficiência da cartilagem articular sinovial, decorrente de um predomínio da degradação sobre a síntese, que evolui com inflamação local, proliferação sinovial e enfraquecimento global dos ligamentos e músculos. Essas alterações podem iniciar-se já na idade adulta, mas é mais frequente após os 40 ou 50 anos, tornando-se mais prevalente com o avançar da idade. A osteoartrite afeta 3,5% da população geral e aproximadamente 10% dos indivíduos acima dos 60 anos. Para a caracterização da osteoartrite é obrigatória a presença da dor. No mundo todo, a osteoartrite é identificada como uma das principais causas de afastamento do trabalho, além de gerar altos gastos para o sistema de saúde por meio de internações e cirurgias reparadoras. No Brasil, as doenças osteoarticulares ocupam o 3° lugar das causas de incapacidade laborativa (10,6%). A osteoartrite acomete igualmente ambos os sexos até os 40 anos. Após os 40 anos, as mulheres apresentam uma elevação discretamente superior na incidência da OA das mãos, dos quadris e dos joelhos, e essa tendência se torna marcante após os 50 anos. A incidência tende a se estabilizar após os 70 anos nos homens e 80 anos nas mulheres. ETIOLOGIA Fatores genéticos Algumas formas de osteoartrite estão fortemente vinculadas à transmissão genética, como a forma generalizada e a forma nodal das mãos. A prevalência dos nódulos de Heberden é 2X mais frequente em mães e 3X em irmãs de mulheres que apresentam essa manifestação clínica. Idade Existe um aumento na prevalência e incidência da OA com a idade. Osteoartrite Problema 04 2 MÓDULO III – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ANA LUÍZA A. PAIVA – 4º PERÍODO 2021/2 Devido principalmente a diminuição da atividade metabólica da cartilagem articular com o passar dos anos; Além disso, a carga mecânica sobre a articulação aumenta por causa da perda da propriocepção, redução da congruência articular e instabilidade articular por deficiências musculotendíneas. Traumas Traumas podem ocasionar sequelas na conformação óssea e articular, roturas miotendíneas, capsulares e ligamentares, consolidação viciosa, rotura e descolamento osteocartilaginosos e meniscais e lesões neurovasculares. Obesidade Indivíduos com índice de massa corpórea (IMC) entre 30 e 35 apresentam risco 4,0 a 4,8 vezes maior para OA de joelhos. Deformidades articulares A existência de deformidades pode aumentar a carga sobre a cartilagem e contribuir para o desenvolvimento da OA. O quadril é uma das articulações que mais freqüentemente apresenta alguma anormalidade, como deslocamento congênito, Legg-Perthes e epifisiólise de cabeça femoral. Variações anatômicas como a displasia acetabular e os ângulos anormais do colo femoral também têm sido relacionadas ao aumento do risco de osteoartrite de quadril. Atividade física ocupacional Atividades que requeiram determinadas posturas e carga excessiva sobre alguma articulação podem desencadear ou agravar a OA, pois a integridade da cartilagem depende de um constante ciclo de compressão e descompressão articular. Porém, se essa compressão é extrema ou muito prolongada, o processo osteoartrítico pode ser acelerado, como acontece em joelhos de pessoas cujo trabalho exige agachamento prolongado ou como no quadril de trabalhadores rurais. Atividade física não-ocupacional A frequência de osteoartrite é maior em atletas de elite. Admite-se que os micro e macrotraumas sejam os responsáveis pela doença verificada nesses esportistas. Deficiência de estrógeno Sabe-se que, na mulher, a osteoartrite inicia-se basicamente após os 40 anos, e sua incidência aumenta significativamente após a menopausa. Fisiopatologia A osteoartrite ocorre basicamente por um desbalanceamento entre a síntese e a degradação do tecido cartilaginoso, comprometendo as propriedades físico-químicas normais do tecido. O condrócito é o executor e controlador do processo de renovação da cartilagem Em pacientes com OA, os condrócitos produzem níveis aumentados de citocinas inflamatórias, como a interleucina 1β (IL-1β) e o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), que, por sua vez, diminuem a síntese de colágeno e aumentam mediadores catabólicos, como metaloproteinases (enzimas responsáveis pela quebra de proteoglicanos e colágeno pelos condrócitosólicos - fatores de crescimento), e outras substâncias inflamatórias como interleucina 8 (IL-8), interleucina 6 (IL-6), prostaglandina E2 (PGE2) e óxido nítrico (NO). A IL1 age sobre o condrócito, suprime a produção dos colágenos II e IX, próprios da cartilagem articular, e aumenta a produção dos colágenos I e III, o que gera uma matriz impropriamente reparada e agrava a OA. Os 3 principais tecidos atingidos pelos mecanismos patológicos da OA são o ósseo, o cartilaginoso e o sinovial. Alterações cartilaginosas: Por conta da ação degenerativa, encontra-se uma irregularidade da superfície cartilaginosa por conta da redução de sua espessura, chamada de fibrilações, que podem evoluir para fendas e erosões. Alterações ósseas: Com a diminuição da espessura da cartilagem, o osso subcondral pode ficar exposto e sujeito a cargas anormais, provocando hipertrofia e metaplasia óssea encondral, que leva à formação de exostoses marginais: os osteófitos. 3 MÓDULO III – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ANA LUÍZA A. PAIVA – 4º PERÍODO 2021/2 Alterações Sinoviais: com a evolução do processo, fragmentos de cartilagem destacam-se e ficam soltos no líquido sinovial, sendo fagocitados pelas células da membrana sinovial. Isso provoca inflamação sinovial e liberação de citocinas e enzimas proteolíticas no líquido articular, que agravam o processo de degradação da cartilagem. QUADRO CLÍNICO O principal sintoma da osteoartrite é a dor articular. No início, ela é inconstante e de fraca intensidade. Com a progressão da doença, torna-se contínua e difusa, com característica mecânica, (a dor aparece com o início do movimento e melhora com o repouso), o que permite diferenciá-la da artrite reumatóide (dor é do tipo inflamatória, ou seja, presente mesmo ao repouso). No exame físico, é comum encontrarmos dor à palpação, crepitação aos movimentos e alargamento articular de consistência óssea. Às vezes, estão presentes sinais inflamatórios, derrame articular e comprometimento musculotendíneo. Os casos de evolução mais grave apresentam redução importante da amplitudedo movimento, podendo chegar à anquilose. A rigidez matinal, quando presente, geralmente é de curta duração (menor que 15 minutos). ARTICULAÇÕES MAIS ACOMETIDAS Joelhos A dor que aparece com o início do movimento e melhora com o repouso é um sintoma muito característico da OA de joelhos. Existe uma piora à flexão, como ao subir e descer escadas, e, nos casos mais graves, limitação à amplitude completa de flexão e extensão do movimento. Na artrose do compartimento fêmoro-patelar, verifica-se dor mais intensa à flexão e manobra da compressão patelar (pressão forçando a patela contra o fêmur). Crepitação articular é um importante sinal, pois está quase sempre presente. E edema com derrame articular pode ocorrer. A OA do joelho pode evoluir com deformidade em varo (e com menor frequência, em valgo). Mãos O envolvimento das mãos é mais frequente nas mulheres e tem forte influência genética, associando-se em aproximadamente 85% dos casos com a forma generalizada da osteoartrite. Nas mãos, as articulações mais afetadas são, as interfalangianas distais (IFD), a primeira carpometacarpal e as interfalangianas proximais (IFP). Em muitos pacientes, verifica-se alargamento de consistência rígida nas regiões dorsolateral e dorsomedial das articulações IFD e IFP, denominadas nódulos de Heberden e Bouchard. Essa forma de doença é também chamada de OA nodal. Sua distribuição é, via de regra, poliarticular e simétrica. Os nódulos representam proliferação osteocartilaginosa e constituem uma das manifestações mais comuns e características da AO idiopática. 4 MÓDULO III – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ANA LUÍZA A. PAIVA – 4º PERÍODO 2021/2 Existem nódulos interfalangianos com um padrão mais agressivo, cursando com maior destruição da cartilagem e do osso subcondral, com formação de múltiplos cistos e erosões ósseas (osteoartrite nodal erosiva). O envolvimento da primeira carpometacarpal engloba principalmente o trapézio com o primeiro metacarpal e está relacionada ao uso do polegar, no seu movimento de pinça, principalmente se houver aplicação de força excessiva. A formação de osteófitos no local acarreta o aspecto de “mão quadrada”. Muitas vezes, o envolvimento dessa região traz sérios prejuízos funcionais. Quadril É mais frequente em homens e pode ser uni ou bilateral. O envolvimento bilateral é o mais frequente, porém, mesmo quando unilateral do ponto de vista clínico, ambos os quadris podem estar comprometidos. Em muitos casos, a doença evolui para incapacidade total com indicação cirúrgica (substituição por prótese ortopédica) Coluna Na coluna, a dor se apresenta bastante correlacionada aos movimentos e às posturas (caráter mecânico), e melhora com o repouso e durante o sono. Com frequência, ela também está relacionada à presença de espasmo muscular paravertebral. A radiografia simples da coluna normalmente mostra a presença de osteófitos nas articulações que estão sob forças de compressão A dor à flexão geralmente indica um comprometimento dos discos intervertebrais, e a dor à extensão, o envolvimento das articulações interapofisárias. O surgimento de complexos disco-osteofitários decorrentes de acometimento mais avançado dessas articulações pode provocar síndrome da estenose do canal raquimedular, na qual o paciente, normalmente idoso, apresenta dor mecânica na coluna, com piora à extensão e claudicação neurogênica. A claudicação ocorre de forma lenta e progressiva, podendo ocasionar dificuldade para deambulação, por causa da compressão medular, a qual também pode causar dor irradiada para os membros inferiores, do tipo radicular ou atípica. No envolvimento cervical, pode haver dor na região do trapézio e na nuca e cefaléia occipital. Na região lombar, a dor piora com a permanência em pé ou sentado. Hiperostose senil anquilosante, ou doença de Forestier: calcificações e ossificações dos ligamentos ântero-laterais da coluna, afetando mais comumente a coluna torácica e a lombar. É mais evidente do lado direito da coluna. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito através da história clínica do paciente, colhida durante a anamnese junto do exame físico osteoarticular e de exame complementares(de imagem e laboratoriais). A dor é o sintoma de presença obrigatória. Critério de classificação da osteoartrite de joelhos, (American College of Rheumatology) Critério de classificação da osteoartrite de mãos, (American College of Rheumatology) 5 MÓDULO III – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ANA LUÍZA A. PAIVA – 4º PERÍODO 2021/2 Critério de classificação da osteoartrite de quadris. Exames de imagem Os exames de imagem têm uma importância essencial para o diagnóstico por avaliarem se há ou não alguma deformidade na cartilagem. No entanto, pacientes com achados radiológicos de OA podem se apresentar assintomáticos, justamente por esse tecido não ser inervado. Dessa forma, não podemos relacionar a intensidade do quadro sintomatológico com o grau de AO pelos exames!!! A radiografia é o padrão-ouro, podendo encontrar as seguintes características radiológicas: • Osteófitos: Protuberância óssea radiopaca na borda da articulação; • Redução do espaço articular: Menor área radiotransparente no espaço articular; • Esclerose óssea: Aumento radiopaco na região acometida; • Cistos subcondrais: Formações arredondadas radiotransparente na região subcondral afetada. Exames laboratoriais Não existe um exame específico para OA. Na prática clínica, solicitamos: hemograma; testes imunológicos (ex.: exame FAN, fator reumatoide) para eliminar diagnósticos de outras causas de dor articular reumatológica); pesquisa marcadores inflamatórios (VHS e PCR); etc. Além disso, podemos pesquisar, através de uma artrocentese, se há ou não presença de leucocitose no líquido sinovial. O derrame articular na OA é de caráter não inflamatório, com menos de 2.000 leucócitos por mm3. Presença desses elementos pode indicar artrite reumatoide. Já de cristais, sugerem gota. TRATAMENTO O tratamento da osteoartrite tem por objetivos básicos o alívio dos sintomas, a recuperação da função e o retardo da evolução da doença e regeneração dos tecidos lesados. O tratamento da OA pode ser dividido em farmacológico, não-farmacológico e cirúrgico. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Tratamento sintomático de curta duração Acetaminofeno: fármaco inicial na terapia de pacientes com dor média a moderada. Outros analgésicos, como a codeína e o tramadol, tiveram sua eficácia comprovada na OA. No nosso meio, recomenda-se também a dipirona. 6 MÓDULO III – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ANA LUÍZA A. PAIVA – 4º PERÍODO 2021/2 TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO TRATAMENTO CIRÚRGICO Geralmente é utilizado quando o tratamento clínico falhou. Inclui irrigação, debridamento artroscópico, fenestração do osso subcondral, remoção de osteófitos, osteotomia, colocação de próteses e artrodese. Transplante de cartilagem e condrócitos, uso de matriz artificial e aplicação de fatores de crescimento apresentam resultados aceitáveis apenas nos casos de lesões focais, em indivíduos mais jovens. Mais recentemente, vários pesquisadores têm tentado desenvolver uma cartilagem in vitro baseada na engenharia tecidual tridimensional.
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